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1 Introdução

No texto “Entre o Uno e o Diverso: Introdução à Literatura


Comparada”, de Claudio Guillén faz uma breve delimitação da área de
estudos que dá título ao artigo. Com uma perspectiva de abordar o que
não é a literatura comparada, suas divergências e pluralidades, o autor
percorre a história literária durante os séculos e como se chegou e
desenvolve a disciplina atualmente.
A presente recensão tem como objetivo fazer uma síntese do texto
a partir das suas seções: 1. Primeiras definições; 2. O local e o universal;
3. O uno e o diverso; com alguns apontamentos e, por fim, uma breve
análise.
2 Síntese

2.1 Primeiras definições


Na introdução ao texto, Guillén procura delimitar de maneira muito
geral sobre que tipo de estudo se debruça a literatura comparada –
“estudo sistemático dos conjuntos supranacionais”. A definição ampla,
reconhece o autor, leva a diversas reflexões sobre o que é a disciplina em
si. A partir disso, constrói-se um caminho pelo qual o comparatista deve
passar para começar o seu processo de investigação: tendo em vista o
objeto (ainda não definido) investigado, em sua singularidade, sem perder
de vista as condições trans/supranacionais e o dinamismo que a história
literária impõe. Nesse sentido, o autor segue para duas problematizações
(complementares) sobre os estudos de literatura comparada.

2.2 O local e o universal


Nesta seção, Guillén introduz duas perspectivas que o
comparatista se depara em suas análises: o local e o universal. Estes
conceitos servem como chave para entender as funções e condições em
que se produzem as diferentes literaturas ao longo da história,
identificando-se mais facilmente onde se encontram as tensões dentro do
espaço/tempo, como afirma o autor: “Do lugar inicial concreto parte a
força que nos empurra irresistivelmente para outros lugares – ou talvez
fora de qualquer lugar”. Guillén também se utiliza do trabalho do crítico
literário para traçar uma linha paralela com o comparatista, pois, de
certa forma, os dois se deparam, muitas vezes, com as mesmas
indagações. Entretanto, o objeto, para o estudioso de literatura
comparada, seria as tensões que se configuram em razão do
local/universal, citando, o autor, vários exemplos: raízes
linguísticas/culturais, os géneros ligados aos diferentes movimentos
literários/artísticos, influências de escritores que leram outros escritores,
relações de poder no dinamismo territorial americano e europeu. Claudio
adiciona, ainda, que os grandes escritores são aqueles que, na
singularidade da sua cultura materna, conseguem transcender o
nacional “entrando assim em contacto com formas estranhas e temas
novos” e cita o específico caso da América Latina, com um dinamismo de
território e cultura muito grande: o choque entre a cultura dos povos
europeus e dos povos nativos causa grandes pontos de tensão entre o
local e o universal.

2.3 O uno e o diverso


Guillén abre esta seção evidenciando as divergências enquanto ao
conceito de universo e como funciona a multiplicidade em razão deste.
Traçando um paralelismo entra as ciências socias e as ciências humanas,
o autor cita Ilya Preigogine, ganhador do Prêmio Nobel da Química,
procurando demonstrar que, assim como nos sistemas moleculares, o
equilíbrio (das tensões, no caso da literatura) é afetado pela influência de
outros sistemas – poderíamos colocar como as relações de poder que
existem entre os discursos literários dentro da sua localidade,
universalidade e tempo – e deste modo, mesmo com sua diversidade,
criar-se-ia uma unidade de literatura. Porém, essa “universalidade”,
como afirma o autor, “vai inquietar alguns dos fundadores dos estudos
de Literatura Comparada”. A partir desta perspectiva, pressupõe-se
regularidades que criam “valores universais e até eternos”. Como se
observa bem, a literatura, assim como as outras manifestações artísticas,
pode e deve ser investigada das mais diversas perspectivas – um tipo de
literatura pode funcionar de um jeito e não de outro dependo do espaço
e tempo em que aparece –, não cabendo lugar para uma lei universal.
Posto isso, Guillén afirma que “a tarefa do comparatista é de ordem
dialéctica” e, portanto, a partir das análises que se faz, interessa não um
grupo concreto de conceitos e respostas, mas sim, a procura por
indicações que nos façam compreender melhor o que é/são a/as
literaturas.
Ainda dentro da seção “o uno e o diverso”, o autor transcende os
exemplos que, até o momento, haviam sido todos de uma literatura
ocidental, para ir á outra parte do hemisfério. O contato que os estudos
de Literatura Comparada permitiram entre as culturas ocidental e
oriental evidenciam ainda mais a função de dialética desta disciplina.
Pois, apesar de os povos orientais terem uma tradição de literatura
milenar e, por muito tempo, pouco influenciada pela cultura europeia,
pode-se encontrar paralelismos – ou melhor dizendo, tensões – entre uma
literatura e outra. E isto se ressalta pelas diferentes relações de poder
das diferentes sociedades. Enquanto na américa podíamos encontrar
fortes influências europeias – tendo de, o comparatista, possuir um
aparato de conhecimento maior para observar os traços das culturas
nativas – no Oriente, mais especificamente na Ásia, as tensões são mais
facilmente identificáveis, enquanto as possíveis influências da cultura
europeia (onde, por muito tempo, se concentrou o estudo da disciplina)
são mais sutis. E isto, segundo Guillén, é um terreno fértil para “o diálogo
entre a unidade e a diversidade”.
Não podemos, no entanto, renegar o comparatismo entre
literaturas de localidades próximas. Aqui, os mesmos ou diferentes
discursos literários podem criar tensões transnacionais dentro das
relações de poder que podem haver numa mesma sociedade. E investigar
este pontos, afirma o autor, “amplia decididamente o que podemos
exprimir, aprofundando a nossa própria humanidade”
Ainda, a perspectiva temporal é também de suma importância,
pois “a Literatura Comparada foi uma disciplina resolutamente
histórica”. O tempo demonstra o dinamismo dos diferentes gêneros
literários, por exemplo, que geram um novo debate: o devir e a
continuidade. Algumas coisas param no seu tempo (não somem, apenas
congelam em um período) e outras juntam-se a novos processos que
geram diferenças e influenciam o tensionamento de certos
conceitos/estruturas. O autor exemplifica isto com a literatura do exílio
e como este discurso perpassa diferentes tempos/localidades gerando
processos de significação diferentes em cada vez que aparece (porém,
mantendo coerência e unidade do conceito). Aqui, o autor questiona,
então, como o comparatista trabalha nestes casos.
Não há um método nem objeto específico. Entretanto, cita o
Guillén, poderíamos utilizar do mesmo método para analisar o romance
realista europeu e o romance pastoril espanhol, pois “os instrumentos
concpetuais são os mesmos”. Então, o que caracteriza e onde acontece o
trabalho do comparatista é sobre “o conjunto de problemas” ocorrente
dos tensionamentos entre as literaturas. A origem deste conjunto é
demonstrada através de uma breve perspectiva história que o autor dá.
Com o fim da hegemonia dos clássicos, diz Glauco Cambon, iniciou-se
«um processo que transformou o que tinha sido antigamente um universo
apreensível num ‘multiverso’ cultural». Com este «multiverso», quer
queiram quer não, quer saibam quer não, confrontam-se todos os críticos
e historiadores da literatura.

E desta maneira, os efeitos das influências de uma sociedade sobre


outra – as relações do eu com o outro, escreve Machado (Machado, 1957,
1134, apud Guillén) – causam uma pluralidade de processos para
mesmos ou diferentes tipos de literatura, como é evidente na literatura
contemporânea, na qual se observa certa liquidez entre tempo e espaço,
ao mesmo tempo que se geram questões de busca de identidade e de
problemas universais. Afirma Guillén: “A história literária é irredutível
[...] a uma só teoria totalizadora”, e por este motivo o comparatista deve
ser conhecedor da maior quantidade de literaturas quanto for possível.
Dividida, coroada de estrelas, desde os finais do século XVIII, a literatura
reparte-se, dispersa-se, desagrega-se e até certo ponto, apesar de tudo,
reconstitui-se; e com o passar das gerações, dos sistemas, das teorias,
das histórias, das antologias, tem tendência, cada vez, para se reordenar.
(Guillén, )

Levanta-se, em razão disto, cada vez mais problemáticas e pontos


de tenção entre esta arte, sendo a literatura comparada, afirma o autor,
“uma metatentiva, de reunir, descobrir ou confrontar as criações
produzidas nos lugares e nos momentos mais díspares e dispersos: o uno
e o diverso”.
3 Análise e conclusão

Apesar de ser um texto de introdução a Literatura Comparada, o


autor traz poucos conceitos objetivos sobre a área de estudo. Apesar das
divergências entre os métodos e objetos, ao invés de citar diversos
exemplos (alguns deles desnecessariamente repetitivos) do que não é
literatura comparada, Guillén poderia ter feito alusão a alguns tipos de
comparação, de forma a demonstrar caminhos possíveis para o
comparatismo.
A subjetividade com a qual o autor descreve suas ideais, em muitos
momentos, incomoda de certa forma. Se por um lado realizamos um
esforço para entender a pluralidade do campo de estudo, por outro,
acabamos o texto com diversas dúvidas (algumas das quais o próprio
autor propõe e não chega a uma resposta ou oferece poucos meios para
responde-las). Desta forma, para alguém que ainda não adquiriu
conhecimento suficiente para ser um comparatista, pode ficar muito
confuso e se demonstrar frustrante por ser um texto de introdução a um
assunto. Por consequência, também ficou pouco claro como se dá o
caráter científico da disciplina.
Apesar disso, a forma natural como a perspectiva histórica
perpassa o texto é positiva. Mesmo sem uma seção específica para
abordar os fatos temporalmente, é possível traçar uma linha de
acontecimentos. Os exemplos históricos e de localidade que demonstram
os tensionamentos, tanto de mesmas nacionalidades quanto de
nacionalidades diferentes, foram bem colocados. Alguns conceitos, ainda
que em uma relação meio confusa (universal, individual, local,
multiversos culturais, pluralidades e singularidades), ajudam a entender
o caminho que percorreu a Literatura Comparada até os dias atuais.
Concluo que, apesar de ser uma leitura relativamente fácil e fluída,
só consegui absorver a maior parte da informação pelo meu prévio
contato com as teorias do discurso literário, que me possibilitaram ter
uma visão mais objetiva de algumas relações específicas que ficaram, na
minha perspectiva, um pouco abstratas no texto.

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