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Análise Rítmica de um excerto do Concerto Grosso No. 1 em Sol M


Análise Musical II
2021/2022
Maria da Graça Oliveira Antunes Nº51570

Contextualização:
Este trabalho tem como principal objetivo realizar a análise rítmica (ritmo qualitativo)
de um excerto do iv andamento do Concerto Grosso No.1 em Sol M de Handel utilizando os
conceitos desenvolvidos por C. Bochman e G. Cooper e L. Meyer.
O período barroco, onde esta obra se encontra inserida, é notável pelo
“desenvolvimento progressivo da ideia de harmonia (…); aparecimento e evolução de obras
dramáticas (…) ” e “afirmação da música instrumental” (Borges, M. J. & Cardoso, J. P. (2008)).
Handel é uma das figuras mais relevantes do barroco quer pelas inovações que acrescentou
ao mesmo como pelo legado de repertório que nos deixou.
Handel nasceu no ano de 1726 em Halle, Alemanha mas ao longo da sua vida passa por
Hamburgo, Itália e Londres. É nesta última cidade que Handel se fixa e acaba mesmo por se
naturalizar britânico. Apesar de ter a sua formação baseada no barroco germânico, a sua
passagem por diversos países contribuiu para a síntese de diversos estilos que cunham e
tornam única a sua linguagem musical. Conhecido pela sua aptidão contrapontística e no ramo
da polifonia, Handel é, também, uma figura de destaque não só no repertório vocal (ópera e
oratória) como no instrumental onde se encontra evidentemente o experimentalismo,
capacidade de inovação e liberdade formal.
Nos anos de 1739-1740, Handel compôs uma série de doze concertos entitulada
“Twelve Grand Concertos” a fim de serem apresentados no “Lincoln’s Inn Fields Theatre”
durante os intervalos de outras obras, por exemplo oratória, como mecanismo de atração do
público. O excerto que será analisado neste trabalho, insere-se no primeiro concerto desta
série e a sua estreia deu-se a 29 de setembro de 1739. Este conta com cinco andamentos (i. A
tempo giusto – ii. Allegro – iii. Adagio – iv. Allegro – v. Allegro) e encontra-se na tonlidade de
sol maior.
O quarto movimento do Concerto Grosso No.1 em Sol M é de natureza fugal. Contudo,
distancia-se ligeiramente do género quando se desfaz de algumas convenções
contrapontísticas e opta por uma abordagem menos padronizada, como é o caso do contraste
concertino/ripieno instrumento utilizado pelo compositor para surtir um efeito de surpresa
no público.
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Análise do ritmo qualitativo:


Para análise do ritmo qualitativo selecionei os compassos 17-21 do quarto andamento
da a cima referida obra: Concerto Grosso No.1 em Sol M.
Na linha da flauta transversal encontramos três distintos agrupamentos rítmicos,
segundo os conceitos de G. Cooper e L. Meyer. O primeiro, como podemos observar na figura
1, é o anfíbraco que se repete três vezes e, no fim, um iambo.

Figura 1- Análise rítmica flauta transversal

As pausas de colcheia presentes no primeiro, segundo e terceiro compasso do excerto,


assim como, a ligadura existente no quarto compasso fazem com que nenhuma nota seja
articulada no início do terceiro tempo dos respetivos compassos. Este é, então, um fator que
contribui para a separação dos agrupamentos rítmicos.
Podemos corroborar esta classificação se analisarmos o excerto segundo os conceitos
veiculados por C. Bochmann. Através destes podemos identificar a função de anacruse
quando “a subdivisão fraca gera uma tensão (…) que se resolve na respetiva subdivisão forte
seguinte” e ricochete que “funciona como uma espécie de "eco" imediato do tempo forte”
(Bochmann, C. (2006)).

Figura 2- Análise ritmo qualitativo flauta segundo C. Bochmann


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Nesta análise, a função anacruse estará representada com o símbolo e a função


ricochete com . A cor azul está associada à divisão à semínima, cor-de-rosa à colcheia e
verde à semicolcheia.
No início dos compassos 2 a 4 encontramos a função ricochete e na transição entre
compassos deparamo-nos com anacruses, isto ao nível da semínima. Já ao nível da colcheia,
podemos identificar uma sucessão de anacruses.
O contorno rítmico das linhas referentes ao violino 1 e 2 é na sua maioria igual e
corresponde à melodia, pelo que estas poderão ser analisadas em conjunto, como podemos
ver na figura 3.

Figura 3- Análise rítmica violino 1 e 2

No primeiro compasso, os dois violinos exibem o mesmo agrupamento: anfíbraco. Este


repete-se no segundo e terceiro compassos, apesar de, no segundo violino podermos ainda
identificar um iambo quando agrupamos o último tempo do terceiro compasso com o
primeiro do quarto. Isto porque estas duas notas apresentam uma relação de oitava (duas
notas Lá). Já nos últimos dois compassos, o primeiro violino apresenta-nos o agrupamento
iambo, um por compasso.
Assim como o que acontece linha da flauta, também aqui as pausas são um fator
determinante para o agrupamento apresentado. Assim como, a ligadura presente do terceiro
para o quinto compasso que impede articulação no primeiro tempo do último compasso.
Na figura 4, encontra-se analisada a linha do violino 1 segundo os conceitos de C.
Bochmann. Uma vez mais, a análise realizada para esta pode ser extrapolada para o violino 2,
uma vez que, estas são iguais. Ao nível das semicolcheias e colcheias estamos somente
perante anacruses enquanto que ao atentarmos ao nível da semínima encontramos a função
anacruse e ricochete.
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Figura 4- Análise ritmo qualitativo violinos segundo C. Bochmann

A linha da viola d’arco é bastante simples. Esta é composta, como se pode ver na figura
5, por três torqueos ou, segundo os conceitos veiculados por Bochmann, três anacruses
(visível na figura 6). A proximidade em termos de altura, assim como a distância provocada
pelas pausas são ambos aspetos que contribuem para este agrupamento.

Figura 5- Análise rítmica viola d'arco

Figura 6- Análise ritmo qualitativo viola d'arco segundo C. Bochmann

O contorno rítmico do violoncelo é bastante coeso ao longo dos quatro compassos,


como podemos ver na figura 7 e 8.
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Figura 7- Análise ritmo qualitativo do violoncelo i

Figura 8- Análise ritmo qualitativo do violoncelo segundo C. Bochmann

Esta apresenta uma sucessão de iambos, assim como anacruses, motivados


principalmente pelas diferenças duracionais que tendem a produzir agrupamentos
acentuados no fim, como é o caso do iambo.
Contudo, podemos ainda identificar neste excerto um outro tipo de agrupamento: o
anfíbraco. Como podemos inferir pela figura 9, podemos admitir este agrupamento nos
primeiros três compassos deste excerto. Apesar de existirem diferenças duracionais o facto
de as últimas duas notas de cada um destes compassos se encontrarem à distância de uma
oitava contribui para a formação deste agrupamento.
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Figura 9- Análise ritmo qualitativo do violoncelo ii

Bibliografia:
Borges, M. J. & Cardoso, J. P. (2008), História da Música, volume II. Lisboa: Sebenta Editora
COOPER, G. & MEYER, L. B. (1960). The Rhythmic Structure of Music. London: The University
of Chicago Press.
Bochmann, C. (2006), Para uma formação actualizada

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