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Nº 52570
Índice
Resumo ......................................................................................................................................... 2
Abstract ......................................................................................................................................... 2
Introdução .................................................................................................................................... 2
As influências de Gluck ................................................................................................................. 3
A tradição musical na infância e educação de Gluck............................................................... 3
Influência italiana em Gluck ..................................................................................................... 4
A ópera séria ......................................................................................................................... 4
Gluck e Viena ............................................................................................................................ 5
A produção de opéra comique de Gluck.................................................................................. 6
A ópera francesa e a sua resistência à influência italiana ...................................................... 6
A contribuição de Gluck na ópera francesa ............................................................................. 7
A reforma operática de Gluck ...................................................................................................... 8
Don Juan ................................................................................................................................... 8
A reforma como produto de vários agentes e fatores ............................................................ 8
Características da ópera reformada de Gluck e o prefácio de Alceste ................................... 9
As óperas reformadas ............................................................................................................ 10
Orpheu ed Euridice ............................................................................................................. 10
Alceste ................................................................................................................................. 10
Iphigénie en Aulide e Iphigénie en Tauride ....................................................................... 11
Armide................................................................................................................................. 11
Écho et Narcisse .................................................................................................................. 11
Conclusão .................................................................................................................................... 12
Bibliografia .................................................................................................................................. 13
Anexos......................................................................................................................................... 14
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Resumo
A reforma operática de Gluck é um ponto de viragem na história da música. Esta
mudança de paradigma conta com a contribuição significativa da opera seria italiana e
da tragédie lyrique, uma vez que, a ópera reformada nasce da fusão destas duas
correntes estilísticas. Quais são então, as propriedades de cada uma destas disciplinas
que se irão sobrepor e perpetuar dentro da nova reforma? E, apesar destas duas
correntes serem as mais evidentes patrocinadoras da reforma operática, que outros
fatores ou agentes contribuíram para a mesma? Quais são, então, as características
inovadoras desta reforma?
A discussão deste tema é especialmente relevante, uma vez que, esta reforma
possibilitou uma nova abordagem à ópera e esta foi extremamente influente em
compositores como Mozart e outros seus contemporâneos. É, ainda, responsável por
uma certa antecipação daquilo que viria a ser a reforma dramática de Wagner.
Palavras-chave: Reforma operática; opera seria; tragédie lyrique; Gluck.
Abstract
Gluck's operatic reform is a turning point in music's history. In this change of
scenery, the Italian opera seria and French Tragédie Lyrique are relevant elements since
the new and improved reformed opera is a consequence of their fusion. Bearing that in
mind, which characteristics do each of these disciplines force upon the new operatic
format? Even though these two are the most prominent sponsors of the opera reform,
what are other agents or factors that have contributed to this switch? And, what are the
innovative features presented in this reform?
The discussion of this topic is especially relevant because this reform allowed a
new approach to opera and it was extremely influential in composers such as Mozart
and other contemporaries. It is also responsible for a certain anticipation of what would
become Wagner's dramatic reform.
Key-words: Operatic reform; opera seria; tragédie lyrique; Gluck.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo principal expor as principais
características da reforma operática veiculada por Christoph Willibald Gluck. Para tal,
serão apresentadas as influências mais relevantes na vida e obra deste compositor cuja
acumulação e síntese irá contribuir para a supracitada mudança de paradigma. Os
eventos que desempenham papeis relevantes nesta restruturação da ópera serão,
ainda, contextualizados historicamente e surgirão, preferencialmente, por ordem
cronológica.
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As influências de Gluck
A tradição musical na infância e educação de Gluck
Hans Joachim Moser, autor da biografia de Christoph Willibald Gluck, atesta ter
encontrado documentos que comprovam a matrícula do famoso compositor na
universidade de Praga em 1731 no curso de matemática e filosofia, o qual não
completou presumivelmente a fim de dedicar uma maior porção do seu tempo à
atividade musical. Em 1734 instala-se em Viena onde é empregado pela supradita
família Lobkowitz como músico de câmara. Supõe-se que a família tenha sido o elo de
ligação entre o compositor e o Príncipe Antonio Maria Melzi e que este tenha sido o
responsável pela integração de Gluck na sua orquestra privada em Milão. É nesta
orquestra que Gluck contacta pela primeira vez com Sammartini, uma figura relevante
na música italiana.
A ópera séria
Na geração de Gluck, a ópera era o estilo musical mais popular conferindo
especial destaque para a opera seria. As monarquias absolutas predominavam e a alta
nobreza via na opera seria uma excelente oportunidade para celebrar os seus ideais e
valores.
Apesar de existirem alguns centros de resistência, nomeadamente em França, a
ópera séria italiana dominava. Itália valorizava a magnificência e a sumptuosidade. As
temáticas dos deuses e da Grécia antiga eram recorrentes e os personagens que
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Gluck e Viena
De 1747 a 1750, Gluck associou-se a diversas companhias operáticas através das
quais teve a possibilidade de viajar por várias cidades europeias. Após este período de
tempo, Gluck fixa-se em Viena onde adquire, pela primeira vez, o estatuto de
reformador.
Foi nesta cidade que o compositor se casou com a herdeira de um abastado
mercador, Marianne Bergin. Graças à fortuna da esposa, Gluck adquiriu uma maior
independência na sua carreira. No entanto, foi no palácio do príncipe Joseph Friedrich
von Sachsen-Hildburghausen que o compositor se insere no competitivo mercado
musical de Viena. Torna-se diretor artístico, regente da orquestra do nobre e,
posteriormente, é condecorado com o cargo de mestre de capela.
Os motivos que levaram Gluck a procurar um novo local para prosperar são
ambíguos, mas muitos afirmam estar relacionado com a frustração do músico por falta
de influência nos músicos locais. De Viena, Gluck partiu para Paris onde esta
problemática desapareceu por completo. O compositor havia de voltar à cidade de
Viena, a fim de desfrutar dos últimos anos da sua vida.
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foi apresentando. Orpheu ed Euridice, por exemplo, foi muito bem recebida pelo público
parisiense.
1-Apresentada no anexo A
2-Apresentado no anexo B
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As óperas reformadas
Orpheu ed Euridice
Em colaboração com Gasparo Angiolini (coreógrafo), Giovanni Maria Quaglio
(cenógrafo) e o supracitado Calzabigi (libretista), Gluck apresentou a público a sua
primeira ópera reformada em outubro de 1762 nos festejos de homenagem ao
imperador Francisco I. O libretista confessou ter-se inspirado no teatro clássico para a
sua escrita e sobre a obra disse: “Reduzido à forma da tragédia grega, o drama tem o
poder de despertar a piedade e o terror e atuar sobre a alma da mesma forma que as
tragédias faladas”. Esta sua versão distanciava-se das restantes anteriormente
realizadas pois, aquando do início da ópera, Euridice já se encontrava morta. Outro fator
que vai de encontro aos ideais defendidos pela reforma operática depreende-se com o
número de personagens em palco, reduzido a três.
Em 1774, Gluck estreou a versão francesa da ópera intitulada “Orphée et
Eurydice” no Palais Royal com o libreto de Pierre Louis Moline. Para além da mudança
no nome, o compositor teve de realizar algumas outras alterações a fim de agradar ao
público francês. Na versão italiana da ópera, o papel de Orpheu foi atribuído a Gaetano
Guadagni, um castrato. Já na versão francesa, tal papel teve de ser adaptado para a voz
de um tenor com registo de falsetto (haute-contre) que ia de encontro ao papel de herói
característico da ópera francesa. Houve, ainda, modificações na orquestração e
acréscimo de algumas árias e cenas de dança, nomeadamente uma dança retirada do
supracitado bailado “Don Juan” (1761, Gluck). Estes esforços revelaram-se bastante
proveitosos, uma vez que, a ópera foi muito bem recebida pela crítica parisiense.
Alceste
A acrescentar ao famoso prefácio desta obra, a esta também lhe deve ser
atribuída mérito pela sua abertura sinfónica. Isto porque, é a primeira abertura que se
apresenta como premonição da história que se irá desenrolar em palco. As personagens
desta ópera são donas de uma grande densidade psicológica por comparação ao que
era habitual nas óperas anteriormente apresentadas. Alceste aproxima-se de Orpheu ed
Euridice, uma vez que, também nesta obra existe um grande sacrifício que deve ser
exercido a fim de salvar alguém amado.
“Indeed, to an extent far greater even than in Orfeo, chorus and solo song are
intermingled in Alceste. There was precedent in French tragédie lyrique for the manner
in which Gluck knitted together the various tableaux in Alceste, with choral refrains
returning in subsequent scenes, after intervening material (whether sung or danced).
But as Petrobelli (G1987) has noted, Gluck himself was responsible for many subtle but
telling musical and rhetorical changes (affecting the structure of Calzabigi's original
libretto), which helped forestall tedium and permitted him to extend his scene
complexes to unheard-of lengths. In these large musical edifices the solo interjections
of the two confidants, Ismene and Evander, provided worthy musical occupation for a
type of character all too often employed for amorous intrigues in Metastasian dramas.”
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(Sadie, S., & In Grove, G. (1980). The New Grove Dictionary of Music and Musicians)
Um ano após a sua estreia em Viena, também Alceste foi adaptada para os palcos
franceses. Apesar de atualmente ser uma ópera bastante aclamada pela crítica, obra é
“musicalmente mais rica, mais flexível, dramaticamente mais persuasiva e mais
profunda no tratamento das emoções dos protagonistas” (Sadie, S & In Grove, G.
(1980). The New Grove Dictionary of Music and Musicians). Contudo, a receção à
mesma nem sempre foi tão aprazível mas após algumas sessões da mesma o génio de
Gluck teve a capacidade de alterar a opinião do público.
Armide
No que se depreende como um esforço para homenagear Lully, a ópera Armide
reutiliza o libreto de Philippe Quinault. Contudo, esta nova adaptação apenas veio
evidenciar os contrastes entre a nova corrente de Gluck e aquela que se praticava
anteriormente. Por este motivo, uma grande polémica surgiu seguida à estreia desta
mesma ópera. Na obra, o compositor confessa o desejo pela criação de música
supranacional. Evidentemente, esta sua vontade não foi muito bem aceite pelo público
francês que sempre se havia revelado extremamente patriota.
Écho et Narcisse
Écho et Narcisse, com libreto de Louis-Théodore de Tschudi, foi a sexta e última
ópera escrita por Gluck para os palcos franceses. Esta obra aproxima-se dos ideais
pastorais e pode ser considerada um verdadeiro fiasco, uma vez que, após doze
apresentações a público esta foi descontinuada. Motivado pelo insucesso da mesma e
entristecido pela morte da sobrinha que havia adotado, Gluck viajou para Vienna no ano
de 1776 para nunca regressar a Paris.
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Conclusão
Em suma, Gluck não só é o principal agente naquela que atualmente
denominamos de reforma operática como acaba mesmo por se aproximar do estatuto
de reformador da opera seria e da tragédie lyrique. Na primeira, introduz coros e ballet
conservando o melodismo italiano. Já na segunda, é acrescentado um novo idioma
musical (o italiano) preservando o estilo declamatório francês. No fundo, Gluck alcança
a unificação e fusão de ambas correntes, algo bastante ambicionado por seus
antecessores, mas cuja execução exímia apenas é atingida por este compositor.
Podemos, ainda, inferir que a sua educação e o meio onde o compositor estava inserido
foram importantes fatores dentro da temática.
Por fim, é possível apresentar a música reformada de Gluck como uma reação
adversa aos excessos do barroco que pretendia uma maior aproximação ao real através
da simplicidade e naturalidade.
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Bibliografia
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Borges, M. J. & Cardoso, J. P. (2008), História da Música, volume II. Lisboa: Sebenta
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Sternfeld, F. W. (1988). Orpheus, Ovid and Opera. Journal of the Royal Musical
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Grout, D. & Palisca, C. (1988). História da Música Ocidental. 5a edição, Gradiva –
Publicações Lda. Lisboa
Sadie, S., & In Grove, G. (1980). The New Grove Dictionary of Music and Musicians
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Anexos
A- Prefácio de Alceste
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Anexo B- Excerto Musical nº1 Gluck, Orfeo ed Euridice, aria Deh Placatevi com me
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