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Marinha Campos
Julho de 2022
Concerto para Viola
Béla Bartók / Compl. T. Serly
Este trabalho consistiu numa análise do Concerto para Viola de Béla Bartók, que
interpretei na minha prova repertório de final de curso, a 18 de maio de 2022.
Introdução ..................................................................................................................................1
1. Béla Bartók .........................................................................................................................2
1.1 O nacionalismo e o folclorismo na Hungria....................................................................2
1.2 Biografia e estilo musical .................................................................................................3
2. Bartók / Compl. T. Serly, Concerto para Viola ................................................................6
2.1 Contextualização ..............................................................................................................6
2.2 Análise musical .................................................................................................................8
Conclusão ..................................................................................................................................12
Bibliografia ...............................................................................................................................13
Anexos .......................................................................................................................................14
Introdução
Neste trabalho, irei abordar o Concerto para Viola do compositor Béla Bartók.
Contextualizarei a obra com uma explicação do que foi o nacionalismo na Hungria e com
uma breve biografia do compositor, Béla Bartók, que foi umas das principais figuras da
segunda fase do nacionalismo na música. O concerto referido inicialmente é uma das
obras mais emblemáticas do repertório de viola, sendo tocado frequentemente em recitais
e concertos.
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1. Béla Bartók
1 O nacionalismo é uma ideologia sustentada no princípio de que a nação, a etnia e a identidade nacional são uma
“unidade fundamental” da sociedade humana. Constituindo uma das “bandeiras” do Romantismo, as ideias
nacionalistas centram-se na defesa dos valores culturais e étnicos muito definidos, como a língua, os costumes, as
tradições, o folclore, o artesanato, etc., característicos da identidade nacional.
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Grout et Palisca (2014): “Béla Bartók criou um idioma modernista individual sintetizando
elementos da música camponesa húngara, romena, eslovaca e búlgara com elementos da
tradição clássica alemã e francesa. Ele só alcançou esta síntese depois de uma base sólida
na música clássica e folclórica e de ter contactado com várias tendências modernas”.
Assim começou uma relação artística, académica e pessoal duradoura, que às vezes
rivalizava com a da escola Segunda Escola de Viena em intensidade, mas carecia das suas
características de mestre-aluno. Kodály detinha o conhecimento etnológico, que Bartók,
apesar de todo o seu entusiasmo, carecia então. Bartók tinha habilidades musicais mais
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práticas e capacidades auditivas fenomenais. Posteriormente, tornaram-se colegas, a
ensinar na Academia de Música, colaboradores em muitos projetos etnomusicológicos e
os críticos mais francos das composições um do outro. (New Grove Dictionary of Music
and Musicians).
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e pelos modernistas Igor Stravinsky e Arnold Schoenberg. Bartók atinge um estilo vital e
variado, animado ritmicamente, no qual elementos diatónicos e cromáticos são
justapostos sem incompatibilidade. Durante estas duas décadas, Bartók compôs dois
concertos para piano e orquestra e um para violino; a Cantata Profana (1930), a sua única
obra coral de grande escala; a Música para Cordas, Percussão e Celesta (1936) e outras
obras orquestrais; e várias importantes obras para música de câmara, incluindo a Sonata
para Dois Pianos e Percussão (1937). Durante a mesma época Bartók fez concertos como
pianista na Europa Ocidental, nos Estados Unidos da América e na União Soviética.
Na década de 1930, com a expansão da Alemanha Nazi e a possibilidade perigosa de
capitulação da Hungria, Bartók vê-se incapaz de permanecer em Budapeste. Após uma
segunda tour pelos Estados Unidos em 1940, Bartók e a sua esposa imigram para lá.
Torna-se assistente de pesquisa em música na Universidade de Columbia, em Nova
Iorque, o que lhe permite continuar a trabalhar com música folclórica. Bartók conseguiu
dar alguns concertos com a sua mulher, a pianista Ditta Pásztory. No entanto a sua saúde
nunca tinha sido muito forte e tinha começado a deteriorar-se mesmo antes da sua chegada
aos EUA.
Os seus últimos anos de vida foram marcados pelos efeitos da leucemia, que o
impediam muitas vezes de ensinar, palestrar e atuar. Mesmo com leucemia, foi capaz de
compor o Concerto para Orquestra (1943), a Sonata para violino solo (1944) e o
Concerto para Piano Nº3 (1945), com a exceção dos últimos 17 compassos deste último,
que o seu colega Tibor Serly rapidamente completou.
O seu Concerto para Viola, no entanto, ficou apenas em esboço, a parte solo sugerindo
um trabalho de lucidez e contenção harmónica comparáveis ao concerto para piano, mas
com incompletos e detalhes menos conclusivos sobre instrumentação, textura e até
mesma sobre a forma final.” (New Grove Dictionary of Music and Musicians).
Em 1945, Bartók havia escrito numa carta a William Primrose – violetista que tinha
encomendado o concerto a Bartók e a quem o concerto é dedicado – sobre uma obra em
quatro andamentos, interligados por passagens em ritornello, mas o manuscrito deixado
pelo compositor não sugere o mesmo. O manuscrito evidencia um concerto com três
andamentos, interligados por passagens não-ritornello. Desde 1945 que várias tentativas
de completar o concerto foram feitas, tendo duas das versões o estatuto de ‘autorizadas’:
a edição de T. Serly, com contribuições adicionais de W. Primrose, que foi publicada em
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1950; e uma ‘versão revisada’ de 1995, preparada por Péter Bartók – filho de B. Bartók
– e Nelson Dellamaggiore.
2.1 Contextualização
O último período de composição de Béla Bartók ocorreu entre a sua emigração para
os Estados Unidos em outubro de 1940 e a sua morte em setembro de 1945. Em 1942
Bartók começou a sofrer graves problemas de saúde, mas em 1945 a sua saúde tinha
melhorado e ele tinha ofertas para várias comissões. Bartók tinha começado a compor um
concerto para piano, tinha aceitado um adiantamento para o seu Sétimo Quarteto de
Cordas do seu editor, Ralph Hawkes, e tinha aceitado a comissão para compor um
concerto para o virtuoso violetista William Primrose.
Primrose tinha primeiro abordado Stravinsky acerca da composição de um concerto
para viola, mas o compositor estava demasiado ocupado com outras obras. Inspirado pela
gravação de Y. Menuhin do Segundo Concerto para Violino, pede então a Bartók para
compor um concerto para viola. Bartók hesitou em aceitar a comissão dada a sua falta de
familiaridade com o instrumento, mas após ouvir Primrose tocar o Concerto para Viola
de William Walton acaba por aceitar.
Numa carta não acabada e nunca enviada a Primrose, Bartók menciona “várias
dificuldades” na composição, mas diz que “por volta de meados de julho… surgiram
algumas ideias para o concerto para viola que se gradualmente cristalizando.” A carta de
Bartók fala da conclusão de uma partitura de piano até ao final de outubro e descreve a
forma do Concerto para Viola – quatro andamentos com uma breve introdução tipo
ritornello a preceder pelo menos três dos andamentos. (Rascunho de uma carta de Béla
Bartók para William Primrose, 5 de agosto de 1945, cit. in Maurice, 1997, p.189.)
Numa carta enviada a Primrose em setembro, Bartók diz que o concerto está pronto
em rascunho, faltando apenas escrever a partitura, e descreve que a parte de viola solo
está concebida num estilo virtuoso, muito provavelmente com algumas passagens
desconfortáveis ou até mesmo impossíveis de tocar. Como se viria a ver mais tarde,
Bartók ou sobrestimou o estágio de conclusão do concerto, ou tinha planos para a sua
estrutura formal e orquestração que ele ainda não tinha escrito.
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Bartók é hospitalizado a 21 de setembro e acaba for morrer de leucemia cinco dias
depois. De acordo com P. Bartók, estas últimas obras de Bartók – Concerto para
Orquestra, Concerto para Violino, Concerto para Violino e Terceiro Concerto para
Piano – indicavam o início de um novo período de composição de Bartók.
Em outubro de 1945, Serly é confiado com as partituras do Terceiro Concerto para
Piano e do Concerto para Viola. Serly, para além de amigo e aluno de Bartók, era também
um talentoso violetista e compositor. Tinha trabalhado com Bartók entre 1940 e 1942,
então, o seu conhecimento do estilo musical de Bartók, juntamente com o seu
conhecimento do instrumento solista, tornavam-no na pessoa ideal para completar este
concerto. Serly demorou dois anos a completar o concerto, de outubro de 1946 até ao
outono de 1948.
Em dezembro de 1949 Primrose estreia o Concerto para Viola com a Orquestra
Sinfónica de Minneapolis, sob a direção de Antal Dorati. Após a estreia e publicação do
concerto, a obra tornou-se rapidamente famosa, mas à medida que a história da conclusão
do concerto se tornou mais conhecida foram surgindo dúvidas sobre quanto do concerto
era da autoria de Bartók e quanto era da de Serly. Em resposta ao criticismo, Serly escreve
um artigo a justificar o seu trabalho no concerto. Serly diz que o seu objetivo foi
apresentar uma versão coerente e tocável do concerto, incluindo o máximo possível da
música de Bartók e adicionando o mínimo possível da sua própria música. Serly afirma
que a parte de viola solo é apresentada exatamente como aparece nos esboços de Bartók,
no entanto isto não é totalmente verdade: Serly alterou a parte de viola em vários locais,
repetindo material e alterando a oitava de algumas passagens.
Infelizmente, os anos de trabalho árduo de Serly no concerto podem ter deixado uma
cicatriz permanente na sua própria reputação. O sucesso do Concerto para Viola, que
ofusca toda a produção composicional de Serly, é atribuído a Bartók, enquanto as dúvidas
sobre a sua autenticidade se refletem em Serly.” (Asbell, 2001).
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2.2 Análise musical
Os compassos 1 a 4 são o motivo principal, que aparece várias vezes durante todo o
andamento com poucas alterações. Entre os compassos 52 e 54 é apresentado o segundo
tema. A exposição termina no compasso 80 e o desenvolvimento encontra-se entre os
compassos 81 e 145. A recapitulação está presente entre os compassos 146 e 204 e a coda
entre os compassos 205 e 244. Por último, entre os compassos 245 a 249, são a secção de
attaca.
Exposição Compassos 1 a 80
Desenvolvimento Compassos 81 a 146
Reexposição Compassos 147 a 204
Coda Compassos 205 a 245
Attaca Compassos 246 a 249
Figura 2 – Compassos 1 a 4
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No compasso 14, o motivo principal aparece novamente, mas com algumas alterações
rítmicas, e as semicolcheias têm um caráter folclórico.
Entre os compassos 73 e 74, a viola toca sozinha, pelo que esta subida, extremamente
difícil tecnicamente, pode ser vista como uma pequena cadência que o solista pode tocar
livremente, como ad libitum. Do segundo tempo do compasso 102 até ao primeiro tempo
do compasso 108 a viola acompanha a orquestra (ou o piano), numa passagem que,
embora seja acompanhamento, é extremamente difícil tecnicamente. Do compasso 136
com anacruse ao 143 há uma cadência da viola solista. A cadência começa de uma forma
muito lírica e a partir do terceiro compasso começa um crescendo, com cordas dobradas
que tornam a passagem mais enérgica.
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Figura 5 – Compassos 135 a 144.
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Entre os compassos 228 e 230, a música vai “morrendo”, ficando a viola a tocar um
dó corda solta em piano durante dois compassos. No compasso 231, Lento (parlando),
inicia-se uma nova frase em forte, que deve ser tocada agressivamente, com o arco todo
e acentuando o início das notas longas.
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Conclusão
Em suma, podemos verificar que o Concerto para Viola de Béla Bartók é, de facto,
extremamente importante no repertório de viola, principalmente no repertório do século
XX, e um dos concertos mais conhecidos e tocados.
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Bibliografia
ASBELL, Stephanie Ames. Béla Bartók’s Viola Concerto: A Detailed Analysis and
ÇAGLARCAN, Deniz. Analysis of the First Movement of Bela Bartok Viola Concerto.
https://www.britannica.com/biography/Bela-Bartok
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Anexos
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