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Resenha, historia da música III:

Juan Diego Bello Herrera

O período da história da música europeia conhecido como o Tonalismo, começou no início


do século XVII e vai até o final do século XIX. Como principal característica do tonalismo,
vale a pena esclarecer a passagem de uma abordagem horizontal (vozes livres) a um
pensamento vertical (acordes, condução de vozes).
O primeiro período do Tonalismo foi chamado o Barroco, onde as tendências já vistas no
final do Renascimento foram consolidadas como regras, tais como as vozes em acordes
triádicos e as frases finalizadas com cadências (na produção musical renascentista já
existiam movimentos cadenciais, mas caracterizados por uma resolução diferente da tensão).
Um elemento importante para entender a produção artística do Barroco e a influência de
Johannes Kepler, Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes, Isaac Newton, entre outros;
que repercutiu numa menor influência da igreja e dos antigos filósofos. A arte e a ciência
passaram a estar focadas no “homem” e na sua relação com o entorno, na música passa
prevalecer a observação e os sentidos, ao invés da teoria e as ideias (como acontecia
previamente). Um exemplo do anterior é o conceito definido pelo Claudio Monteverdi,
chamado “segunda prática”, que consistiu na quebra das regras do contraponto do Flux em
razão de aumentar a capacidade expressiva da música, assim como favorecer a representação
do texto através da música (“pintar o texto com a música”). Nessa etapa do drama, do
dinamismo e de dramaturgos como Shakespeare, Cervantes, etc, surge o conceito do
“público” no sentido moderno, que é alvo das música (músicos inspirados na filosofia do
Aristoteles, buscavam criar peças que inspirassem as paixões no ouvinte).
Na Europa é preciso ressaltar três ambientes importantes para a música: a igreja (uso
litúrgico, principalmente grupos vocais), a câmara (ambientes mais privados) e o concertante
(público e com grupos instrumentais mais generosos). Também foi relevante o surgimento do
Oratório, gênero musical religioso não litúrgico, executado em reuniões não oficiais de fiéis,
caracterizada por ter recitativos, árias, duetos, prelúdios e ritornelos instrumentais.
Embora uma das principais invenções vistas no Barroco foi a ópera (união de poesia, drama e
encenação que começou como uma tentativa por recriar a tragédia grega e que era
reconhecida por um estilo recitativo ou “fala cantada”), a música instrumental também teve
um importante desenvolvimento, marcado pela independência dela em relação à música
vocal. A música instrumental da época tinha diferentes critérios para ser classificada, por
exemplo: a instrumentação (solo, camara, obras de grande porte), função ou ambiente social
(igreja, câmara ou teatro), nacionalidade (caracterizadas por elementos identitários e, em
ocasiões, hibridações) e género composicional (com características não totalmente estáveis).
Os géneros que vale a pena mencionar são: 1) toccata, fantasia ou prelúdio 2) ricercare,
fantasia, fancy, capriccio ou fuga 3) canzona ou sonata 4) verso para órgão ou prelúdio coral
5) peças de dança.
No que se refere à música para teclado (órgão e cravo), o repertório para esses instrumentos
era formado por peças que não precisavam ser tocadas de início ao fim, tendo um caráter
mais prático, e não considerados como textos fixos, rígidos e até sagrados (somado ao fato de
que os tecladistas não eram instrumentistas especializados, e era esperado que tivessem
domínio de todos os instrumentos de teclado). Dos músicos relevantes no repertório para
teclado é importante destacar o Dietrich Buxtehude, quem tornou o órgão num instrumento
sujeito de um repertório virtuosístico, além de ser uma importante influência para o J. S.
Bach.
No Barroco, dois géneros composicionais importantes a ser mencionados foram a suíte na
França e a sonata na Itália. Na França, as suítes eram compostas por danças, onde as mais
comuns foram allemande, sarabande, courante e gigue. Uma técnica de performance,
comum na música francesa barroca, foi a incorporação das “notes inégales”, que de forma
similar ao swing do jazz, tocava notas de igual duração de forma desigual, alternando notas
curtas e longas. Já na Itália, a sonata barroca (peça para ser “sonada” ou peça instrumental)
ainda não era igual às sonatas de períodos posteriores, mas foi a origem do estilo, com uma
forma similar a uma canzona. Na segunda metade do século XVII, as sonatas barrocas
começaram a ser estendidas pelos compositores, até que foram separadas em movimentos
distintos, similar às suítes de dança francesa (cada movimento representa um afeto diferente).
Um compositor muito importante na segunda metade do século foi o Arcangelo Corelli, que
foi o primeiro em utilizar a ordem lento - rápido - lento - rápido, convenção que foi seguida
por outros compositores do Barroco tardio. O motivo da relevância do Corelli é o seguinte:
sua obra evidencia a chegada no tonalismo completo com senso de direção e progressão (ao
contrário do modalismo que parecia “dar voltas”), e sua música foi utilizada para descrever as
regras básicas da música tonal.
Passando à virada dos séculos XVII e XVIII, vale a pena mencionar o Jean Baptiste Lully na
França (que teve relevância no governo do Rei Luís IV, considerado patrono das artes pelo
valor outorgado por ele ao investimento cultural), Henry Purcel na Inglaterra, e Alessandro
Scarlatti e Antonio VIvaldi na Itália (vale a pena ressaltar a obra do Vivaldi como uma mostra
da evolução da música instrumental no Barroco).
Chegando ao chamado Barroco tardio, destacam-se François Couperin, Jean-Philippe
Rameau, Georg Philip Telemann, George Frederic Handel e Johann Sebastian Bach, sendo o
último um dos músicos mais relevantes da história. Contrário a sua reputação nos séculos
posteriores a sua morte, em sua época, o Bach era um músico relativamente conhecido por
sua maestria na execução do cravo, mas grandemente criticado pela sua obra como
compositor, considerada extremamente complexa, confusa, difícil de tocar e que, no geral,
“tirava a beleza natural da música”. Com a exceção da ópera, ele criou obras em todos os
gêneros da época, e seu trabalho como compositor é considerado o exemplo mais sofisticado
da síntese entre os estilos francês, alemão e italiano, e da maestria do contrapondo e das
técnicas imitativas. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é o “O Cravo Bem-Temperado”
(Das wohltemperierte Clavier), composto por 24 pares de Prelúdios e Fugas cada, abarcando
todas as tonalidades maiores e menores, que funciona como uma proposta didática
(aprimoramento do jovem músico ansioso por aprender, e para o deleite daqueles já
experimentados nesta disciplina). Também destaca-se sua produção para música de câmara,
orquestral e vocal. Dentro da sua produção vocal encontram-se as cantatas, compostoas
vários movimentos em gêneros e estilos diversos, para datas litúrgicas específicas, e em
ocasiões também compostas para eventos fora da igreja. Apesar de estar fora de moda na sua
época, no século XIX ocorreu um “renascimento” do Bach, onde após um relativo
desconhecimento. Bach se torna um exemplar do “gênio” e um no símbolo do nacionalismo
alemão (apesar de sua obra não estar marcada pelo nacionalismo mas pela estética
cosmopolita). A obra do Bach, pouco reconhecida na sua época, teve um grande papel como
inspiração para compositores de épocas posteriores, consolidando-se o Bach como um dos
músicos mais influentes do período Barroco, do tonalismo e, no geral, de toda a história da
música.

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