O período da história da música europeia conhecido como o Tonalismo, começou no início
do século XVII e vai até o final do século XIX. Como principal característica do tonalismo, vale a pena esclarecer a passagem de uma abordagem horizontal (vozes livres) a um pensamento vertical (acordes, condução de vozes). O primeiro período do Tonalismo foi chamado o Barroco, onde as tendências já vistas no final do Renascimento foram consolidadas como regras, tais como as vozes em acordes triádicos e as frases finalizadas com cadências (na produção musical renascentista já existiam movimentos cadenciais, mas caracterizados por uma resolução diferente da tensão). Um elemento importante para entender a produção artística do Barroco e a influência de Johannes Kepler, Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes, Isaac Newton, entre outros; que repercutiu numa menor influência da igreja e dos antigos filósofos. A arte e a ciência passaram a estar focadas no “homem” e na sua relação com o entorno, na música passa prevalecer a observação e os sentidos, ao invés da teoria e as ideias (como acontecia previamente). Um exemplo do anterior é o conceito definido pelo Claudio Monteverdi, chamado “segunda prática”, que consistiu na quebra das regras do contraponto do Flux em razão de aumentar a capacidade expressiva da música, assim como favorecer a representação do texto através da música (“pintar o texto com a música”). Nessa etapa do drama, do dinamismo e de dramaturgos como Shakespeare, Cervantes, etc, surge o conceito do “público” no sentido moderno, que é alvo das música (músicos inspirados na filosofia do Aristoteles, buscavam criar peças que inspirassem as paixões no ouvinte). Na Europa é preciso ressaltar três ambientes importantes para a música: a igreja (uso litúrgico, principalmente grupos vocais), a câmara (ambientes mais privados) e o concertante (público e com grupos instrumentais mais generosos). Também foi relevante o surgimento do Oratório, gênero musical religioso não litúrgico, executado em reuniões não oficiais de fiéis, caracterizada por ter recitativos, árias, duetos, prelúdios e ritornelos instrumentais. Embora uma das principais invenções vistas no Barroco foi a ópera (união de poesia, drama e encenação que começou como uma tentativa por recriar a tragédia grega e que era reconhecida por um estilo recitativo ou “fala cantada”), a música instrumental também teve um importante desenvolvimento, marcado pela independência dela em relação à música vocal. A música instrumental da época tinha diferentes critérios para ser classificada, por exemplo: a instrumentação (solo, camara, obras de grande porte), função ou ambiente social (igreja, câmara ou teatro), nacionalidade (caracterizadas por elementos identitários e, em ocasiões, hibridações) e género composicional (com características não totalmente estáveis). Os géneros que vale a pena mencionar são: 1) toccata, fantasia ou prelúdio 2) ricercare, fantasia, fancy, capriccio ou fuga 3) canzona ou sonata 4) verso para órgão ou prelúdio coral 5) peças de dança. No que se refere à música para teclado (órgão e cravo), o repertório para esses instrumentos era formado por peças que não precisavam ser tocadas de início ao fim, tendo um caráter mais prático, e não considerados como textos fixos, rígidos e até sagrados (somado ao fato de que os tecladistas não eram instrumentistas especializados, e era esperado que tivessem domínio de todos os instrumentos de teclado). Dos músicos relevantes no repertório para teclado é importante destacar o Dietrich Buxtehude, quem tornou o órgão num instrumento sujeito de um repertório virtuosístico, além de ser uma importante influência para o J. S. Bach. No Barroco, dois géneros composicionais importantes a ser mencionados foram a suíte na França e a sonata na Itália. Na França, as suítes eram compostas por danças, onde as mais comuns foram allemande, sarabande, courante e gigue. Uma técnica de performance, comum na música francesa barroca, foi a incorporação das “notes inégales”, que de forma similar ao swing do jazz, tocava notas de igual duração de forma desigual, alternando notas curtas e longas. Já na Itália, a sonata barroca (peça para ser “sonada” ou peça instrumental) ainda não era igual às sonatas de períodos posteriores, mas foi a origem do estilo, com uma forma similar a uma canzona. Na segunda metade do século XVII, as sonatas barrocas começaram a ser estendidas pelos compositores, até que foram separadas em movimentos distintos, similar às suítes de dança francesa (cada movimento representa um afeto diferente). Um compositor muito importante na segunda metade do século foi o Arcangelo Corelli, que foi o primeiro em utilizar a ordem lento - rápido - lento - rápido, convenção que foi seguida por outros compositores do Barroco tardio. O motivo da relevância do Corelli é o seguinte: sua obra evidencia a chegada no tonalismo completo com senso de direção e progressão (ao contrário do modalismo que parecia “dar voltas”), e sua música foi utilizada para descrever as regras básicas da música tonal. Passando à virada dos séculos XVII e XVIII, vale a pena mencionar o Jean Baptiste Lully na França (que teve relevância no governo do Rei Luís IV, considerado patrono das artes pelo valor outorgado por ele ao investimento cultural), Henry Purcel na Inglaterra, e Alessandro Scarlatti e Antonio VIvaldi na Itália (vale a pena ressaltar a obra do Vivaldi como uma mostra da evolução da música instrumental no Barroco). Chegando ao chamado Barroco tardio, destacam-se François Couperin, Jean-Philippe Rameau, Georg Philip Telemann, George Frederic Handel e Johann Sebastian Bach, sendo o último um dos músicos mais relevantes da história. Contrário a sua reputação nos séculos posteriores a sua morte, em sua época, o Bach era um músico relativamente conhecido por sua maestria na execução do cravo, mas grandemente criticado pela sua obra como compositor, considerada extremamente complexa, confusa, difícil de tocar e que, no geral, “tirava a beleza natural da música”. Com a exceção da ópera, ele criou obras em todos os gêneros da época, e seu trabalho como compositor é considerado o exemplo mais sofisticado da síntese entre os estilos francês, alemão e italiano, e da maestria do contrapondo e das técnicas imitativas. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é o “O Cravo Bem-Temperado” (Das wohltemperierte Clavier), composto por 24 pares de Prelúdios e Fugas cada, abarcando todas as tonalidades maiores e menores, que funciona como uma proposta didática (aprimoramento do jovem músico ansioso por aprender, e para o deleite daqueles já experimentados nesta disciplina). Também destaca-se sua produção para música de câmara, orquestral e vocal. Dentro da sua produção vocal encontram-se as cantatas, compostoas vários movimentos em gêneros e estilos diversos, para datas litúrgicas específicas, e em ocasiões também compostas para eventos fora da igreja. Apesar de estar fora de moda na sua época, no século XIX ocorreu um “renascimento” do Bach, onde após um relativo desconhecimento. Bach se torna um exemplar do “gênio” e um no símbolo do nacionalismo alemão (apesar de sua obra não estar marcada pelo nacionalismo mas pela estética cosmopolita). A obra do Bach, pouco reconhecida na sua época, teve um grande papel como inspiração para compositores de épocas posteriores, consolidando-se o Bach como um dos músicos mais influentes do período Barroco, do tonalismo e, no geral, de toda a história da música.