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Neoclassicismo ou neobarroco
Quando Stravinsky, na sua segunda fase, se voltou para os melodismos de
Handel e Pergolesi e para as formas da primeira metade do século XVIII, muitos
seguiram-lhe o caminho ou o acompanharam, como, por exemplo, o grupo dos Six
na França (Arthur Honegger, Darius Milhaud, Francis Poulenc, Louis Durey,
Germaine Tailleferre e Geoges Auric) e muitos alemães, como Hindemith.
Foi a ressureição da música antiga. Começou-se com Bach. Depois foi a vez de
Monteverdi, Purcell, Couperin, Vivaldi, Dominico Scarlatti, Telemann,
Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Mendelssohn, Chopin, Franck, Brahms,
Wagner, e outros.
A "renascença" do passado musical foi algo como uma saída da rotina do
academismo, que se limitava a escrever sinfonias, quartetos e dramas musicais.
A certa altura, preferia-se os concertos grossos às sinfonias, as suites no lugar
das sonatas, as cantatas em vez dos dramas musicais. E mais: exigia-se a execução
historicamente exata das obras antigas. Em vez da orquestra sinfônica, as
orquestras de câmara do século XVIII. Em vez do piano, o cravo. Em vez das
cordas modernas, a viola d’amore, a viola de gamba e outros instrumentos já em
desuso.
Mas essas formas antigas, em vez de produzirem os efeitos sonoros que sentiram
os ouvintes dos séculos XVII e XVIII, produziram dissonâncias e asperezas
inevitáveis.
Visto que o estilo romântico ou pré-romântico dos clássicos vienenses (Haydn,
Mozart, Beethoven e Schubert) era considerado, então, como obstáculo à
evolução de uma música "objetiva", na verdade, o neoclassicismo musical é um
"pré-classicismo", pois segue, como modelos, a música de Bach ou Pergolesi, o
concerto grosso, as tocatas, suítes, chaconas e partitas. E como essa música é a do
Barroco, fala-se, também, em neobarroco.
Erik Satie (1866-1925), defensor do anti-romantismo, evitou a tradição,
pretendeu extirpar todos os ornamentos e enfeites da música. Foi o precursor dos
"modernistas" musicais de 1919 (os Six). Sua música é estática, sem cromatismo e
sem harmonia. É deliberadamente pobre, com aspecto arcaico. Não obstante, suas
peças são sempre encantadoras e algumas possuem uma grave beleza que se eleva
muito acima da pura excentricidade.
Les six
Jean Cocteau, poeta vanguardista, pintor, cineasta, teatrólogo, romancista,
coreógrafo e mistificador-mor da época, publicou em 1919 um panfleto, onde
condenava a arte romântica, o subjetivismo de Beethoven, as "névoas" de Debussy
e toda e qualquer música "que se ouve com a cabeça reclinada na mão".
Exaltou a música de circo, de music hall. Exigiu uma arte leve, mediterrânea,
especificamente francesa "ou transparente como a de Bach".
À sua volta, atraídos pela linguagem brilhante daquele panfleto, reuniram-se os
Six.
Na verdade, para a história e para o público, os "seis" são apenas três: Poulenc,
Milhaud e Honegger.
Francis Poulenc (1899-1963) é o representante mais típico dos princípios dos Six
e das idéias de Cocteau de 1919. Nas décadas de 20 e 30 escreveu peças brilhantes
e ligeiras que serviam ao gosto frívolo da alta sociedade parisiense da época.
Depois dedicou-se a obras sérias e solenes, sobre temas católicos, como Quatro
Motetos para um Tempo de Penitência (1939), além de compôr mais de uma
centena de emocionantes lieder, classicamente franceses. Sua música de câmara,
geralmente com o uso de instrumentos de sopro, são espirituosas paródias da
música de câmara clássica, com recursos do jazz.
Darius Milhaud (1892-1974), antes de participar do grupo dos Six, viveu no
Brasil no período 1914-18.
Arthur Honegger (1892-1955) tornou-se famoso pela peça orquestral Pacific
231 (1924). Como adepto do neoclassicismo de Stravinsky, compôs, com libreto
de Cocteau, Antigone (1924). Com inspiração religiosa, compôs vários oratórios,
entre eles o consagrado Jeanne au Bûcher (1935).
O neobarroco
Paul Hindemith (1895-1963) começou escandalizando os alemães pelos ataques
contra Wagner e contra o romantismo. Nessa época tocava os quartetos de Mozart
que, então, eram considerados "pouco filosóficos". Fez experimentos de polifonia
linear e empregou ritmos e instrumentos de jazz em concertos. Sonhava em
restabelecer a "função" da música, nos moldes dos séculos XVII e XVIII, quando o
compositor só escrevia por encomenda. Segundo ele, o compositor teria de tornar-
se, novamente, artesão, fazendo Gebrauchsmusik (música funcional) para fins bem
determinados, para acabar com a irresponsabilidade subjetiva e reconquistar o
público. Escreveu muita música funcional para o ensino musical, para associações
musicais, para organizações culturais de sindicatos operários, etc. Numa segunda
fase, seus modelos já são Reger, Brahms, Bach, os velhos mestres flamengos. Nos
Estados Unidos escreveu o Tratado de Composição, que é o manual do
neoclassicismo. O manual prático do estilo é o Ludus tonalis, para piano (1942). A
influência de Hindemith na Alemanha ajudou na volta de Bach e do Barroco. Sua
lição de música funcional foi livremente interpretada em sentido neobarroco.
Na Alemanha, o neobarroco estava nas obras de Heinrich Kaminski (1886-
1946), Karl Holler (1907- ), Johann Nepomuk David (1895-1977) e Werner
Egk (1901-1983).
Benjamin Britten (1913-1976), representou o neobarroco na Inglaterra. Sua obra
revela a angústia diante da miséria da condição humana, um pessimismo que só
encontra paralelo em Mahler e Shostakovitch.
Bohuslav Martinu (1890-1959) foi o representante do neobarroco na
Tchecoslováquia. No princípio seguiu as modas musicais predominantes. Depois
começou a ennriquecer seus trabalhos com reminiscências da música folclórica e
dos ritmos das músicas camponesas de sua terra natal, o que fez mudar
completamente seu estilo.
Oliver Messiaen (1908-1992), organista e professor de composição, foi, na
França, um representante do autêntico neobarroco. O catolicismo romano serviu de
inspiração para uma parte de suas obras. Usou, em muitas de suas composições, o
canto dos pássaros, orquestrado para instrumentos.