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Aula nº 14

Sumário: O Impressionismo: Claude Debussy (1862-1918); Maurice


Ravel (1875-1937)

O Impressionismo recebe a sua designação com o quadro de Monet


Impression, soleil levant (Impressão: Nascer do Sol) de 1872. O novo movimento
vai contrapor-se ao desenho linear, uma vez que são os seus valores cromáticos
que vão criar a impressão de um ambiente.

Claude-Achille Debussy (1862-1918) vem afirmar que “os músicos foram


escolhidos para captar toda a magia de uma noite ou de um dia, da terra ou do
céu. Só eles conseguem fazer despertar a sua atmosfera ou o seu permanente
pulsar”
Inicio da alteração dos padrões estéticos com a aplicação do
IMPRESSIONISMO na música - captar a impressão do artista num
impressionismo figurativo dado este estar ligado à pintura.
Debussy é dos músicos mais revolucionários da História e o primeiro do
advento do Modernismo na Música. É o protótipo do “enfant-terrible”, do
cabotino – contraria por contrariar: se é branco, ele diz que é preto.
O termo ACADEMIA é tido como “obsceno”pois pressuponha regras e isso não
era aceite.
Jeux e Estudos para Piano são as suas obras de lançamento. A
importância do jogo tímbrico inerente a estas, que para si é essencial na música
e não acessório, vai contra o academicismo da forma-sonata, da dança, etc.
Continua na senda dos pressupostos de evolução orgânica, que aponta para o
timbre, altura e dinâmica como geradores de uma forma.

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Nascido em Saint-Germain en Laye, tem no Conservatório de Paris uma


formação clássica. Contudo acaba por se torna num antiacadémico e classifica a
música do seu tempo como retrógrada – diz-se sem paciência para ouvir música
de César Frank – e rejeita tudo o que é megalómano – Romantismo tardio –,
dando maior importância a uma economia de meios.
1885-87 – Estadia em Roma onde tem como professor Ernest Guiraud,
um norte-americano que traz bagagem no JAZZ, induzindo Debussy a este género
deixando-o extasiado. Rejeita a herança clássica da Antiguidade Grega, estando
virado de corpo e alma para o Modernismo. Aqui compõe Printemps (1887), obra
classificada como impressionismo vago e rejeitada por isso.
Só quem consome a sua música lhe reconhece o traço musical – expressão
pictórica.
1888-89 – Visita Bayreuth e entra em contacto com a música de Wagner,
e gosta do que ouve, e com outras realidades musicais como o nacionalismo
russo, o gamelão javanês (orquestra tradicional das Ilhas de Java e Bali) na
Exposição Mundial de Paris em 1889, que o inspirará na composição de Images
I e II (1905 e 1907 respectivamente), e os Monges de Solesmes – Debussy é,
no início dos anos 90, um apaixonado pelo canto gregoriano.
Ao poucos torna-se um grande orquestrador. Utiliza todos os
instrumentos, mas nunca ao mesmo tempo demonstrando delicadeza na
mistura tímbrica e um elevado sentido estético. Rejeita o orquestral
Beethoveniano e harmonicamente utiliza de tudo um pouco: modalismo, escalas
de tons inteiros, escalas pentatónicas, sobreposição de tonalidade, etc. O que deixa
de existir é a nocção tónica ou dominante – cada grau é um grau e vale por si. A
obra não resolve – criação de um suspenso – e é rica em dissonâncias e a
noção de acorde é transcendida em função de um agregado tímbrico

OBRAS ORQUESTRAIS
3 Nocturnos para Orquestra; Tríptico Sinfónico – Nuages; Fêtes; Sirenes ; La
Mer – 3 esquissos sinfónicos (1905); Trois images (1910-12); Jeux (1912)
Poema dançado

Inovações a nível do Piano:


Libertação dos constrangimentos da barra de compasso; flexibilidade rítmica;
Fluidez sonora – diluição da pontuação cadencial; noção de timbre essencial no
aspecto composicional; pedal determinante na abordagem de planos sonoros.

Obras para piano:


Estampes; Ballade; Rêverie; Children’s Corner; Images I e II

O 1º caderno de Images (I) contem 3 peças, estreadas no Sindicato de


Agricultores de Paris, pelo grande amigo de Debussy Ricardo Uiñes:
I. Reflets dans l’eau – busca dos elementos da Natureza; surge do
reflexo de um bosque numa barragem; II. Homages à Rameau – é feita à
imagem de uma Sarabanda “mas sem rigor” (dito assim na partitura); III.
Mouvement – moto perpetuo: tercinas obsessivas em frenesim giratório, uma
prefiguração do minimalismo de Steve Reich e Phil Glass.

Privilegia a técnica de 8 dedos, cortando com a ideia de polegar como pivot,


como em Chopin, e aproximando-se, em termos de homenagem, a Rameau ou
Couperin

O 2º caderno (Images II) também contém 3 peças:


I. Cloches à travers les feuilles – propagação de enarmonias; “química”
sonora; II Et la lune descend sur le temple qui fût – descrição do sono de uma
vasta paisagem através de uma grande melodia; Alfred Cortot descreve-a como

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“Nirvana em Música”; III. Poisson d’or – Inspirada num painel japonês lacrado,
que transmitia esses reflexos dourados. Sugestão do ziguezaguear dos peixes.
Neste caderno aborda as questões de timbre e do plano sonoro
Arpejos compostos e agregação de notas estranhas

MAURICE RAVEL (1875-1937)

Tal como Debussy, é considerado um compositor impressionista e um dos


principais vultos da música orquestral e música para piano de início do século
XX. Começa a aprender piano com 6 anos, e em 1889 entra para o Conservatório
de Paris, onde tem como professor de piano CHARLES BÊRIOT e como professor
de composição GABRIEL FAURÉ.
Destaca-se em 1901 ao receber o 2º Prémio de Roma, dos principais e
mais prestigiados prémios europeus.
Obras que o celebrizam, mas que o deixaram conotado como um imitador
de Debussy: Jeux d’eau (1901); Quarteto de Cordas (1902); Pavane pour une
infante défunte (1899).

Em termos técnicos vai beber na fonte impressionista de Debussy diferindo


deste pela sua enorme simplicidade em termos composicionais - Contornos
melódicos claros e estruturas que apelam ao classicismo vienense: Sonatina
para piano (1905) e Quarteto de cordas (1913) ou mesmo do Barroco francês:
Le Tombeau de Couperin (1914), obra para piano e homenagem póstuma mas não
religiosa; e Menuet Antique (1895), na senda da suite francesa.
Dentro do impressionismo, obras como Jeux d’eau (1901), Miroirs (1905)
e Gaspard de la nuit (1908)
Existem também influências espanholas vincadas em Ravel, dado ser
oriundo de um local bem próximo da fronteira espanhola (Ciboure) e a mãe era de
origem basca: - Valses nobres et sentimentales (1911) – obra para piano que é
orquestrada posteriormente por Ravel; Rapsódia Espanhola e L’heure espagnole
(ópera), ambas de 1911; e o célebre Bolero (1928) cuja importância a nível
orquestral é a que mais sobressai, pois o próprio Ravel a classificou como um
“simples exercício de orquestração”. É actualmente das obras mais tocadas em todo
o mundo.
Antes da I Grande Guerra, celebriza-se como compositor de orquestra
com Daphnis et Chloé, obra muito associada a MIKHAIL FOKINE que, na senda
do “faz-tudo” iniciada por Wagner, será o autor de toda a coreografia bem como
do “libreto”.
Fokine começa por ser bailarino e mais tarde coreógrafo. Ensina no
TEATRO MARINSKY, em Sanpetersburgo. Em 1904, com 24 anos, tinha como
objectivo a reforma do bailado clássico. Para ele, o bailarino tem de ser um
actor e a coreografia deve contar uma história através da comunicação corporal.
Em 1909 é convidado por Diaghilev a fazer parte dos seus “Ballets Russes” e
Fokine aceita com entusiasmo este convite. Propõe a Diaghilev uma grande
coreografia sobre o mito grego de Daphnis et Chloé - história amorosa de dois
pastores da ilha de Lesbos, com o lado pastoril e rural e com todo um leque de
personagens (ninfas, faunos, piratas) que Fokine vê como mais-valias coreográficas
-, apontando Maurice Ravel como o único compositor capaz de a trabalhar
musicalmente.
Ravel aplica os leitmotiv tal como Wagner os idealizou – como motivo
condutor, e a música é revestida de um ponto de vista sinfónico fora do vulgar.
Ravel apelida a obra de “Sinfonia Coreográfica”. Em 1911, Ravel só tinha 3
fragmentos do bailado completos, que são apresentados em concerto no Théâtre
du Châtelet. A obra final foi dirigida por Pierre Monteux com cenários de Léon
Bakst em 1912-13.

L’enfant et ler sortileges (1925) – ópera num acto

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