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UFAL - ICHCA

Graduação em Música
História da Música 1
Prof. Dr. Eduardo Xavier
12ª aula
A ópera
A ópera - A ópera, termo italiano que significa obra, é a forma vocal mais complexa e
Primórdios completa quando se trata de espetáculos musicais. Tem uma história rica e
cheia de altos e baixos – quanto à solidez do tratamento musical e de
argumento – em toda a sua história. O marco como estreia da primeira
ópera, em 1600, foi Euridice, com versos de Ottavio Rinuccini (1562 –
1621), inicialmente musicados por Jacopo Peri (1561 – 1633) e depois por
Giulio Caccini (1551 – 1618). Euridice é considerada um grande avanço no
campo da música cênica que, aliás, chamava-se ora melodrama, festa
teatrale, dramma musicale, tragedia musicale ou attione in musica, não
ainda ópera. Na verdade, Euridice era um drama teatral entremeado de
números musicais, se se quiser fazer justiça à história e à ópera como a
conhecemos na atualidade. No entanto, Rappresentazione di Anima e Corpo
[Representação da Alma e do Corpo], espécie de oratório ou mistério
musical, foi composto por Emilio de Cavalieri (1550 - 1602) e apresentada,
em 1600, como uma forma cênica. Seguia o modelo do teatro cantado em
Dafne (1594), obra cênico-musical de Ottavio Rinuccini e Jacopo Peri,
infelizmente perdida – apresentada em estilo recitato ou recitativo:
consistia de uma quase-melodia entre os limites da voz falada, cantada e
declamada, resultado dos estudos dos compositores e teóricos de então – e
L’Amfiparnaso (1597), obra de Orazio Vecchi (1550 – 1605). Depois
daquelas óperas compostas na segunda metade do século XVI até os dias
atuais, com ressalvas a muitas daquelas do século XX, existia, muitas vezes,
um caráter experimental que lembrava as dos primórdios da sua história,
segundo Riding e Downer (2010).
As modalidades A opera buffa [ópera bufa], nascida na Itália, tratou de temas cômicos e
leves e é, certamente, uma herdeira dos intermezzi ou das personagens
cômicas inseridas nas óperas sérias do século XVII. Em 1733, Giovanni
Battista Pergolesi (1710 – 1736) levou à cena La Serva Padrona [A Serva
Patroa], ópera para duas personagens, na qual patrão e empregada travam
um engraçado “duelo” de forças. Il filosofo de campagna [O filósofo do
campo] (1754), com texto de Carlo Goldoni (1707 – 1793), um dos
dramaturgos mais festejados de todos os tempos, e música de Baldassare
Galuppi (1706 – 1785), tornou-se muito popular à época, mas, como muitas
das nascentes óperas cômicas, perdeu o vigor ou desapareceu totalmente.
A grand opéra A grand opéra é mais uma criação francesa e surgiu no início do século
XIX. Jakob Liebermann Beer, conhecido como Giacomo Meyerbeer (1791
– 1864), é considerado o seu fundador. Soube aliar a fluência da melodia
italiana à melodia francesa e à harmonia alemã, além da declamação
consistente no ritmo variado dos franceses. Por suas grandes dimensões e
seu aparato espetaculoso, a grand opéra teve poucos seguidores, mas foi
capaz de influenciar até na criação da Aida, de Verdi. De Meyerbeer,
salientam-se Les Huguenots [Os Huguenotes] (1836) e Le Prophète [O
Profeta] (1849), ambas as obras com cinco atos, grandes coros e aparato
cênico que se comparariam, no século XX, às épicas montagens
cinematográficas hollywoodianas. De Berlioz, Les Troyens [Os Troianos]
(estreou a parte II em 1863 e a obra só seria apresentada na íntegra vinte e
um anos após a morte do compositor) é a sua obra prima nesse estilo
(Kobbé, 1991).
A opéra comique e Ainda na França, a opéra comique não equivalia, no conjunto, à ópera bufa
o Singspiel italiana, tendo como uma de suas características, inusuais na Itália, o texto
tanto cantado como também declamado, possuindo estreito parentesco com
o Singspiel austríaco-alemão. De Bizet, Carmen é, na França, típica
representante desse gênero. Na Alemanha, Fidelio, de Beethoven, e, na
Áustria, A Flauta Mágica, de Mozart, entre outras. Uma forma aparentada
na Espanha foi a zarzuela, mais dinâmica, porque incluía danças, além do
canto e da declamação. Como ópera cômica francesa, a equivalente italiana
opera buffa se chamou opéra bouffe, mais de enredos farsescos e partituras
de música rápida, como nas operetas de Jacques Offenbach (1819 – 1880).
A opera seria A ópera séria, opera seria, em italiano, de origem napolitana, representou a
categoria das óperas nas quais o drama e o sofrimento, pela expiação das
faltas, dominaram o Seiscentos e parte do Setecentos. Na França, a tragédie
lyrique ou tragédie en musique era, na verdade, um equivalente dramático,
pelo argumento, à opera seria italiana, contudo, mais contida nos arroubos
espalhafatosos das árias mirabolantes para o primo uomo (o castrato) e à
prima donna. A França não tinha apreço nenhum pela figura dos castrati e
lhes vedava qualquer entrada nos seus palcos.
O recitativo O recitativo expressa as falas entre as personagens, como, se no fundo, elas
pretendessem confessar algo à plateia, (como se a ária também não o
fizesse!). Ele é a fala explícita dita em alto e bom som, enquanto que a ária
desenvolve o pensamento da personagem que fala para si (com a conivência
da plateia). A ação precisa avançar e tanto o recitativo secco (seco) ou
semplice (simples) como o accompagnato (acompanhado) possuem a
função de quebrar o ritmo às vezes onírico, às vezes heroico das árias. No
recitativo seco, a voz é acompanhada por um cravo ou violoncelo, o mais
das vezes, ou até mesmo por ambos. Podemos encontrar o recitativo
acompanhado em algumas cantatas e oratórios (e, por óbvio, nas óperas
barrocas), nem sempre com os tutti orquestrais, mas com algum instrumento
extraordinário, como o órgão.
A ária A ária é, antes de tudo, o ápice da cena dramática, seguindo-lhe, por grau de
importância, os ensembles. Ela surgiu a partir das longas partes sustentadas
que serviam para exibir todo o potencial vocal dos cantores, no início da
história da ópera. Ela é a canção inserida no roteiro musical da cena lírica
para lhe dar mais dinamismo. É na ária que o compositor aposta muitas das
suas fichas para conquistar o público e fazer de sua ópera um sucesso
duradouro, capaz de entrar no circuito de todas as temporadas. Embora a
ária congele a ação e a personagem fale de si e para si e mitigue suas dores
ou exalte seus feitos, ela é o encanto da ópera.
Um dos tipos de ária mais comum, principalmente no século XVII e parte
do XVIII, foi a ária da capo, ária ABA’, ou ária no formato tripartite ou
ternário. Este tipo consiste na primeira parte ou seção A contrastando, tanto
em tonalidade como em clima psicológico, por uma B, retornando à anterior
A, com leves variações (por isso volta como A’), como muito convém, ainda
nos dias atuais, ao gosto e à inventividade do intérprete. Geralmente, ao
final da parte B, em emendando com a A’, existe um leve rallentato,
característica barroca por excelência. As variações em A’ consistem em
acréscimos de notas extras àquelas originalmente escritas, com passagens e
demonstrações de virtuosismo e de dificuldade técnica na execução.
As árias, no Barroco, passaram a ser denominadas de acordo com sua
função na ação dramática, como ária do sono, ária de fúria, ária de brinde,
ária de sombra, etc. Para cada ação, um tipo de ária específica que se tornou
um padrão, abandonado pouco a pouco e discretamente a partir do
Classicismo.
O arioso O arioso está presente em todas as óperas, mesmo que seja numa breve
passagem. Do Barroco ao Romantismo, ele serve para quebrar a monotonia
do recitativo e equilibrar o cantabile das árias. No longo recitativo
acompanhado na Cena 3 de A Flauta Mágica, o Orador (Sprecher) canta o
arioso “Sobald dich fürht der Freudschaft Hand ins Heiligtum zum ew’gen
Band” [Tão rapidamente como a mão da amizade a te conduzir para o
santuário do eterno vínculo].
Referências
KOBBÉ, Gustave. O Livro Completo de Ópera. (Ed.) Conde de Harewood. Trad. Clóvis Marques.
Rio de Janeiro: Zahar. 1991.
RIDING, Alan e DUNTON-DOWNER, Leslie. Guia Ilustrado Zahar de Ópera. Trad. Clóvis
Marques. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
XAVIER, Eduardo. Apreciação Musical: apontamentos e discussões. Maceió: Viva: 2017.

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Graduação em Música
História da Música 1
Prof. Dr. Eduardo Xavier
13ª aula
Apresentação da ópera Don Giovanni, de Wolfgang Amadeus Mozart
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Graduação em Música
História da Música 1
Prof. Dr. Eduardo Xavier
14ª aula
O Classicismo
Antecedentes O Rococó é um período de transição entre o Barroco e
o Classicismo. Acontece entre a primeira e a quinta
décadas do século XVIII, aproximadamente.
Caracteriza-se por uma música galante na qual os
sentimentos são encobertos e a vida parece ser
eternamente alegre e bela. Os concerti grossi (plural de
concerto grosso) dão lugar ao concerto propriamente
dito e a sonata barroca, de um só movimento e
unitemática, vai cedendo espaço à sonata de três
movimentos e bitemática no primeiro movimento. É no
Rococó que se sedimenta a forma-sonata e é neste
período que a Escola de Mannheim inaugura um novo
tipo de orquestra e modo de tocar, com a invenção do
crescendo e do diminuendo. Os compositores mais
importantes do período pertenceram à chamada Escola
de Mannheim, como Franz Xaver Richter (1709 –
1789), Johann Stamitz (1717 – 1757), Carl Ditters von
Dittersdorff (1739 – 1799) e Anton Stamitz (1750 -
1809). Eles impulsionaram a criação do movimento em
forma-sonata junto com o filho de Johann Sebastian
Bach, Carl Philipp Emanuel Bach (1714 – 1788).
Outros dois filhos de J.S. Bach também foram
importantes para a sedimentação da transição do
Barroco para o que viria a ser o Classicismo, Wilhelm
Friedmann Bach (1710- 1784) e Johann Christian Bach
(1735 – 1782).

A forma -sonata Técnica utilizada em um dos movimentos


(geralmente o primeiro ou até mesmo o último) da
sonata propriamente dita, da sinfonia e do concerto
clássicos. O tema A ou primeiro tema e o Tema B ou
segundo tema são contrastantes entre si em caráter. Se o
primeiro é mais doce, o segundo, mais enérgico e vice-
e-versa. A sonata clássica nada tem a ver com a barroca,
assim como o concerto e a sinfonia clássicos não têm a
ver com essas formas barrocos.. A forma-sonata
consiste, no primeiro movimento em:
EXPOSIÇÃO(A) DESENVOLVIMENTO(B) RECAPITULAÇÃO(A’) CODA
Tema A x Tema B novas tonalidades, os temas Tema A x Tema B final
tônica ↨ dominante em forma de variação tônica ↨ tônica ponte (mudança de
tonalidade) ponte (tonalidade alterada)
As forma musicais do Classicismo
A sonata Geralmente escrita para piano, composta de quase
sempre três movimentos, um allegro inicial, também
chamado de allegro-sonata, um movimento lento e um
allegro ou presto final. A sonata clássica tem a
oportunidade de ampliar as discussões temáticas, assim
como demonstrar os sentimentos contrastantes entre os
movimentos.
O concerto Possui no primeiro movimento a forma-sonata ou o
allegro-sonata seguido de um movimento lento e um
último allegro ou presto. Só a partir do Romantismo
pós-Beethoven o concerto chegou a ter quatro
movimentos, como o Concerto N. 2 para piano e
orquestra em si bemol maior, opus 83, de Johannes
Brahms, entre outros. É uma das características do
concerto clássico que ao final do primeiro e do último
movimento, ou apenas de um desses, aconteça a
cadenza (cadência, em italiano). Esta consiste na parada
da orquestra cedendo espaço para que o solista
demonstre suas habilidades técnicas. Geralmente a
cadenza é escrita pelo compositor ou este deixa a cargo
do instrumentista fazê-lo. Nela, muito dos materiais
temáticos são reapresentados de forma brilhante e
virtuosística. Após a cadenza, vem a coda (cauda, em
italiano) que encerra a peça. O concerto clássico se
diferencia do concerto grosso italiano porque neste o
instrumento recebe o apoio da orquestra e naquele o
solista (ou solistas) dialogam com a orquestra.
A sinfonia Composta de quatro movimentos, um primeiro em
forma sonata ou em allegro-sonata, um segundo lento,
o terceiro em forma de minueto (compasso ¾) e o
último allegro ou presto. Ao contrário da sinfonia
barroca que era a Abertura de uma ópera ou oratório no
formato ABA’
(rápido-lento-rápido na forma italiana e lento-rápido-
lento na forma francesa), a sinfonia clássica dá mais
espaço para a exposição de sentimentos contrastantes na
obra.
Compositores mais importantes
Carl Philipp Emanuel Bach (1714 Escreveu muitas sinfonias e muitas cantatas e os
– 1788) famosos oratórios “Die Israeliten in der Wüste” (Os
israelitas no deserto) e “Die Auferstehung und
Himmelfahrt Jesu” (A Ressureição e
Ascenção de Jesus). Era tido em alta consideração por
Haydn (que estudou sua obra), Mozart e Beethoven e no
século XIX por Brahms. Possui uma obra magistral para
cravo que serviu de inspiração para os métodos de
piano de Muzio Clemente e Cramer, o Versuch über die
wahre Art das Clavier zu spielen, o Ensaio sobre a
verdadeira Arte de tocar o cravo.
Joseph Haydn (1732 – 1809) Foi a grande ponte, depois de Carl Philipp
Emanuel Bach para o Classicismo. Ordenou o
movimento em forma-sonata (ou allegro-sonata) e criou
o quarto de cordas como o conhecemos atualmente, dois
violinos, uma viola e um violoncelo. Escreveu mais
sessenta nessa forma musical, além de óperas e sonatas
para pianos, entre outras obras. Esteve a serviço da
família principesca Esteházy por quase três décadas e
foi um dos pioneiros a se libertar de um tutor, assim
como Mozart. As obras de Haydn são catalogadas não
com o tradicional opus, mas com Hob. Seguido da
numeração, em referência ao historiador musical e
catalogador Anthony van Hoboken. Por exemplo,
Sinfonia em sol maior, Hob. I: 88. A catalogação de
Hoboken vai do numeral I ao XXXI. Desse modo,
sempre se manterá a fórmula Hob. I seguida do número
arábico, como
Hob. II etc etc.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756- Não foi um reformador no sentido de que foram C. Ph.
1791) E. Bach e principalmente Haydn, mas foi um prolífico
compositor de sinfonias (41), concertos para piano (27),
e um de cada um dos instrumentos que seguem: flauta,
clarinete, oboé e fagote. Escreveu 18 sonatas para piano.
São dele as óperas mais importantes do século XVIII e
das mais importantes na história desse gênero:
Idomeneo, Don Giovanni, O Rapto no Serralho e As
Bodas de Fígaro. Mozart foi dos primeiros
compositores a prestigiar a voz de barítono nas óperas.
As obras de Mozart são designadas na catalogação pela
letra K ou IK, referentes ao historiador musical Ludwig
Koechel (ou Köchel). Na Europa é comum encontrar a
referência KV para Koechel-Verzeichnis ou Lista de
Koechel. Por exemplo, Sinfonia N. 40 em sol menor,
KV 550 ou k 550 ou ainda Sinfonia N. 41em dó maior,
KV 550 ou K 550, “Júpiter”.
Ludwig van Beethoven (1770 – Escreveu 32 sonatas para piano, 9 sinfonias, 5 concertos
1827) para piano e orquestra, um Concerto para violino em ré
maior, op. 61 e o Concerto triplo para violino,
violoncelo e piano em dó maior, opus 56. Foi a grande
ponte entre o século XVIII Clássico e o XIX
Romântico, do qual foi o inaugurador. Ao contrário da
música barroca e clássica que não mostram os
sentimentos com clareza, Beethoven os expôs sem
nenhum pudor. Sua música está cheia tanto de ternura
como de raiva ou sentimentos fortes, impulsionados
pela veia libertária do compositor. Dos concertos para
piano, os três últimos são os mais importantes,
salientando-se o de N. 5 em mi bemol maior, opus 73
conhecido como “Imperador”. As sinfonias são de
grande importância na história da música, salientando-
se as últimas 5, a de N. 5 em dó menor, opus 67, a de N
6 em fá maior, opus 68, a “Pastoral”, a de N. 7 em lá
maior, opus 92, a de N. 8 em fá maior, opus 93 e a de N
9 em ré menor, opus 125, “Coral”.
Referências
CARPEAUX, Otto Maria. Uma Nova História da Música. 6ª ed. Brasília: Alhambra, 1977.
HERZFELD, Friedrich . Nós e a Música. Trad. Luiz de Freitas Branco. Lisboa: Livros do Brasil,
s.d.
UFAL - ICHCA
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História da Música 1
Prof. Dr. Eduardo Xavier
15ª aula
Audição de obras do Classicismo

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