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História da Música III

CMU 350

Módulo VII

A ópera na Itália e na França


Prof. Diósnio Machado Neto
O estilo aristocrático da ópera francesa:
Jean Baptiste Lully (1632 – 1687)
• França resiste às influências italianas – tanto das óperas sérias quanto da bufa do século
XVIII.
– A ópera francesa tendia a glorificação do sistema absolutista, que era realizada por alegorias
extravagantes.
• Passou a existir uma divisão menos rígida de ária e recitativo; invalidação da violência e da paixão;
inclusão de bailados e a maior importância conferida à orquestra.
– A ópera francesa fundamenta-se na força do recitativo, inclinando-se para o coro, o balé e os
grandes efeitos cênicos, ao contrário da ópera italiana que tinha uma alta densidade de árias.
• O antecessor da ópera francesa era o ballet de cour, nelas haviam partes narradas entre as cenas,
chamadas de récits.
– Importância dos textos poéticos
– Na sua estada na França, Caccini imprimiu um pouco do estilo italiano ao récit, o que enfraqueceu a unidade do drama.
– No entanto, com o passar do tempo, o récit retomou um pouco da antiga forma. A poesia e o drama ficaram menos
subserviente à música sem, no entanto, retomar à antiga declamação.
• Os franceses chamavam esse estilo de ópera de “le merveilles”
– Reflete o ambiente faustoso do florescente absolutismo de Luiz XIV
» Chamado de “o grande século” da França, onde trabalharam, entre outros, Molière, Racine, La Fontaine e La
Rochefoucauld
» Nenhum setor da vida pública é poupado da intervenção do Estado
» A Académie Royale de Peinture et de Sculpture, que surgiu em 1648, se tornou uma instituição do Estado,
principalmente após a nomeação de Colbert para ministro de belas-artes e Le Brun pra o cargo de primeiro
pintor do Rei
» Na música, Lully é o agraciado como o regulador da arte.
– Principais compositores de ballet: Guéron, Boësset, Combefort, e o maior de todos: Lully.
Le Brun
A Tragédie Lyrique
• Em 1684, Lully consegue o estanco da ópera, na França inteira.
– Lully contraria as tendências da ópera italiana coeva:
• Utiliza os elementos presentes em Orfeu de Monteverdi, e não nas posteriores óperas
– Recitativo como centro das ações e o coro em um papel secundário. As airs ou pequenas canções são apenas decorativas
» Na ópera veneziana o recitativo havia sido rebaixado em favor das árias
• Maior importância do libreto
– O que privilegia o recitativo seco (quase declamado) e árias simples e com poucos melismas, o arioso italiano
– Em comparação com os recitativos franceses, os italianos preferem mais o arioso, assim, existe pouca diferença entre os recitativos
e árias.
» récitatif simple, - caracteriza-se pela troca entre ternário e binário
» récitatif mesuré, também conhecido como Air
– A precisão da declamação, para menter a “racionalidade” vinda com os versos, faz com que a artificialidade da ária seja descartada
– Nas tragédias de Lully a malha orquestral ganha realce com novas sonoridades.
• Cria a abertura francesa.
– Primeira seção: homofônica, lenta, majestosa; freqüentemente com ritmos com duplo pontilhado
– Segunda seção: normalmente começa com uma textura fugada; tempo mais rápido
– Terceira seção: repetição abreviada da primeira seção ou recorrente a ela.
– Trabalha a música de acordo com as cenas a serem desenvolvidas; geralmente batalhas, sonhos com
presságios, etc.
– A dança era elemento vital na elaboração da obra, até mesmo encadeando-as numa espécie de suíte.
• Principais óperas de Lully:
– Teseu (1675), Atys (76), Isis (77), Facton (83) e a mais importante, Armid et Renaud (86). Todos os
libretos são de Quinault
   
O estilo recitativo de Lully
A ópera napolitana
• A distinção de um estilo napolitano começa a emergir no final do século XVII
– Características
• A textura musical é mais simples se comparada ao estilo heróico da ópera veneziana
• Ênfase na beleza dda linha melódica do bel canto no lugar do virtuosismo vocal
– Apesar disso não é raro ver passagens vistuosísticas
• Atenção menor ao valor dramático, simplicidade dos enredos
• Grande concentração de árias
– A ação dramática era interrompida a introspecção lírica das árias
• Característica das árias, a chamada ária siciliana
– Melodias “folclóricas, usualmente no modo menor
– Uso frequente da forma ária “da capo”
– Uso frequente dos acordes de Sexta Napolitana
• Nova distinção entre diferentes tipos de recitativos
– Recitativo secco: usado em dialogos rápidos, acompanhado somente por um instrumento de
teclado e um instrumento grave
– Recitativo accompagnato ou stromentato: mais dramático, caracteriza-se pelo
acompanhamento e intervenção da orquestra
– Fequente uso do "Arioso,"
• Abertura
– Poderia ocorrer tanto uma abertura francesa como italiana (sinfonia – rápido, lento, rápido)
• Maior compositor: Alessandro Scarlatti (1660-1725)
Alessandro Scarlatti (1660-1725)
• A escola napolitana é representada em todo seu esplendor na obra de Alessandro Scarlatti; que
foi aluno de Carissimi, em Roma.
– Incorpora as trompas na orquestra, consolida a abertura italiana (allegro, adagio e fuga).
• Scarlatti introduz, nas suas óperas sérias, cenas bufas. Surgem as Óperas Bufas
– Pressão de uma arte genuinamente popular
– Desde o século XVII os melodramas italianos tinhas partes cômicas. Existiam partes bufas tanto em
Monteverdi como em Francesco Cavalli. No entanto, somente no início do século XVIII elas se
tornam um gênero bem determinado.
• Em 1708, é montada uma comédia realista em língua napolitana, composta por Antônio Orefice (1690 –
1733) – Patró Calienno de la Costa
• Os temas abandonam os personagens mitológicos, assim como as montagens deixam a grandiosidade, as
pesadas maquinárias, para tratarem de assuntos "domésticos e citadinos".
– Alessandro Scarlatti – Il trionfo dell’onore (1718)
– Giovanni Baptista Pergolesi – La serva padrona (1733)
– As poesias pomposas e os vocalizes insensatos saem de cena.
• Esse gênero subsistirá até Mozart.
• Padronização da ópera
– Houve uma padronização das óperas, no que diz respeito a presença das árias. Elas deveriam ter de
cinco a seis cantores principais que deveriam cantar uma ária patética, uma ária de bravura, uma ária
parlante etc. Ademais, todas as cenas deveriam terminar em árias.
– Nesse sentido é que se encaixa o "método" de Benedetto Marcello que ensinava como "compor e
executar 'fielmente' as óperas italianas".
O melodrama francês x italiano
• Melodrama francês era tradicionalmente mais sério e austero.
– A abordagem mitológica se acomodou ao gosto áulico e clássico das cortes aristocráticas.
– A palavra e a razão não poderiam ser abandonadas pela pura expressão lírica.
• Precisão da declamação
• Em contrapartida o melodrama italiano era muito mais popular
– Logo, a música pôde se desenvolver com muito mais liberdade, fomentando o virtuosismo e
sendo muito mais flexível em relação ao drama. Essa flexibilidade deu origem à ópera bufa,
que era estritamente um gênero burguês
• Com Raguenet fica delimitado definitivamente as diferenças entre os partidários da
ópera classicista-racionalista dos franceses, encarnada nas obras de Lully, e os amantes
do bel canto italiano.
– Raguenet diz que a ópera francesa é mais racional (afirma que mesmo que se representasse
sem música, a ópera francesa ainda assim manteria sua unidade).
– Já as italianas são pobres e não possuem uma linha dramática, o que salva é a beleza das
árias; para Raguenet, o maior valor das óperas italianas é a musicalidade
Surgem novas propostas melodramáticas
• Os estilos italiano e francês dividiram os gostos no final do século XVII. Sem embargo, as
estruturas de ambos foram flexibilizadas por alguns compositores e libretistas
• Purcell
– Purcell não recusa os coros e o recitativo da ópera francesa, porém não se fecha para a força das
árias
• Como toda a música inglesa, mostra uma variedade de influências
– França: estilo da abertura e corais homofônicos escritos com ritmos de danças
– Itália: clara diferenciação entre recitativo e ária, fazendo seu recitativo um intermediário entre o estilo seco italiano e
o declamatório francês
• As reformas de Metastasio e Apostolo Zeno
– Os “libretti” de Metastasio e Zeno eram uma reação contra os enredos desorganizados de
muitas óperas sérias da segunda metade do século XVIII.
• O novo tipo de libretto era estritamente organizado e formalmente previsível: cada cena consistiria
principalmente uma série alternada de recitativos e árias (normalmente árias da capo), depois de
qual os personagens principais saiam de cena.
• Nesse esquema se subvertia a predileção pela ária ou pelo recitativo na fluição da emoção. O
recitativo ficou atrelado unicamente à ação e a ária a emoção lírica da cena
– Eliminava o recitativo comop elemento lírico. Metastasio transformou o recitativo numa forma de discurso
– Os elementos líricos são rigorosamente separados dos elementos de ação
– Cada cena percorre o caminho marcado até a “ária de saída”, ou seja, as árias que seguem os recitativos e neles
culminam.
» Compartimentação entre ação de enredo e reação lírica.
» Fragmentação da ação dramática global
Dido e Eneias
Rameau e a ópera francesa
• Rameau
– Na produção operística, Rameau é considerado o sucessor de Lully. Apesar de que seus contemporâneos o acusavam de ser um
destruidor da Tragédia Lírica de Lully.
– Rameau não modifica o plano estético da ópera de Lully.
• Técnica para o recitativo é semelhante a Lully, mas mais expressiva e ritmicamente flexível.
• Pequenas árias entrelaçadas com recitativo, freqüentemente na forma rondeau como no estilo de Lully
• Usa mais árias da capo em estilo italiano estilo, isso pode ter sido o motivo da contrariedade dos partidários de Lully
• Linhas melódicas mais corajosas e harmonias cromáticas incomuns
• Como Lully, usa coros freqüentemente baseados em Chaconas, interlúdios instrumentais e cenas de ballet.
– Uma das principais inovações de Rameau foi tornar a abertura um prólogo da ópera, tanto no sentido temático como no afetivo.
• As aberturas de Rameau abandonam o formalismo de Lully, por exemplo, em prol de um discurso descritivo.
– Sua contribuição alcançou, também, as técnicas de orquestração
• Em1749, introduziu o clarinete.
• Aplicou aos instrumentos de arco as cordas duplas
• Confiou às trompas e às madeiras algumas melodias
• Oposição dos iluministas
– A temática usada por Rameau e a textura musical levam a fortes oposições dos iluministas, como Rousseau, partidários de um
gênero mais acessível
• O gosto pela ópera bufa iniciou-se, na França, a partir da execução de La Serva Padrona. O gênero se mostrou alinhado com as
ideologias dos enciclopedistas a tal ponto que o próprio Rousseau compôs uma obra (Le dévin du village - representada em 1752).
Mais tarde Rousseau escreveu Pygmalion, um monólogo com ilustrações musicais nos intermédios. A esse novo gênero se deu o
nome de comédia musical francesa.
Bach e Haendel
• Haendel e a tradição italiana
– Primeira ópera – Almira , de 1705
• Não usa corais
• Reflete as obras dos compositores italianos que trabalham na Alemanha (Steffani)
– Demonstra interesse pelo acompanhamento no estilo concerto
– Buscava incorporar os princípios da ópera séria italiana. Busca libretos de Metastasio e Zeno.
– Lentamente adere a algumas características típicas alemãs, como o uso de elaborados corais acompanhados de uma
rica textura instrumental
• Em Agrippina usa árias de coloratura, recitativos seccos e acompanhados e canções baseadas em danças populares
• Maiores óperas: Ottone (1723), Giulio Cesare (1724), Tamerlano (1724), Rinaldo (rev. 1731)
– Características:
• Arias
– Várias formas: preferência pela “da capo” (algumas vezes com recitativos na seção central), bipartite, compõem arias com contraste de
tempos, árias em forma de rondó, árias ostinatos
– Algumas árias estão em um estilo contrapontístico com elaborado acompanhamento orquestral e estilo concerto com instrumento obligatto
– Arias frequentemente baseadas em pautas rítmicas conhecidas como ritmos de dança: sarabande, minueto, bouree, allemande, courante; ou repetição
"abstrata" de figuras rítmicas
– Uso de bel canto e outras já dentro do estilo “galante”, ou seja, articulando reiterações de pequenas frases
• Bach
– Gênero dramático se concentra nas paixões e cantatas. Bach não escreve óperas
• Bach, porém, tem uma grande capacidade dramática, como pode-se notar na Paixão Segundo São Mateus e na Cantata nº78
– Esquema metastasiano de contraposição de árias e recitativos. Porém, Bach articula o coro como elemento dramático
• Essa concepção foi estranha aos seguidores da ópera séria italiana
• Grande capacidade de escrever recitativos, somente comparada aos de Monteverdi

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