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HISTÓRIA DA MÚSICA – O BARROCO.

Prof. Moacir José Dondelli Paulillo

Barroco é uma palavra provavelmente de origem portuguesa que significa


pérola ou jóia imperfeita. Primeiramente, o termo foi usado de maneira
pejorativa para designar o estilo da arquitetura e da arte do Século XVII na
Europa, que tinha como característica o emprego exagerado de
ornamentação. Só no Século XX é que o termo ” Barroco” passa a ser
aceito para se referir à música produzida entre 1600 até 1750.

Durante o Século XVII o sistema modal perde a sua importância. Os


compositores se acostumaram a colocar sustenidos e bemóis nas notas
musicais, resultando na perda da identidade dos antigos modos, que
ficaram reduzidos a apenas dois: Modo Jônio e Modo Eólio. Desenvolve-se
a partir daí o sistema tonal com o Modo Maior e o Modo Menor, sobre os
quais a harmonia irá se basear nos próximos séculos.

Uma das características a se notar no Barroco Musical é que os


compositores procuravam representar em suas obras, ideias e
sentimentos de modo muito evidente. Contrastes de intensidade, acordes
e tonalidades específicas, cromatismos, diferentes movimentos rítmicos e
melódicos, serviam para expressar estados de alegria, ira, tristeza,
heroísmo e outros estados da alma.

O baixo perde a sua independência em relação às outras vozes e começam


a ser escritos sob sua linha números e sinais de alteração, indicando ao
executante os acordes a serem tocados (cifras). Este procedimento
chamou-se baixo cifrado que era realizado por um cravista, um organista
ou um alaudista. Poderia ser utilizado um instrumento como um
violoncelo ou um fagote, por exemplo, para evidenciar continuamente a
linha melódica mais grave. É o baixo contínuo.

Os compositores passam a aderir à idéia de que o texto deveria conduzir a


música. O que fez com que a polifonia, tão desenvolvida nos séculos
anteriores, deixasse de corresponder às novas tendências de expressão
dramática. O texto deveria estar presente na voz superior, acompanhada
de alguns instrumentos, tornando-a mais evidente, cuja linha melódica
deveria acompanhar o ritmo natural das palavras: monodia
acompanhada. Levada à prática de cena, passa a ser chamada de
melodrama , que mais tarde dará origem à Ópera. Esse estilo dramático
meio falado, meio cantado denominou-se recitativo ou stile
rapresentativo (estilo representativo). Nos recitativos em que o cantor era
acompanhado apenas pelo baixo contínuo, deu-se o nome de“recitativo
secco”.

O compositor Jacopo Peri ( 1561 – 1633 ), com a sua obra


“Dafne”composta em 1597, foi o primeiro a experimentar no teatro esse
novo estilo dramático, entre a declamação e o canto, chamado recitativo.
Esta obra está desaparecida, mas o seu segundo trabalho, “Euridice”, de
1600, chegou à atualidade.

Porém, a obra “Orfeo” de Claudio Monteverdi ( 1567 – 1643 ), podemos


hoje chamar de ópera, pelo seu tamanho em cinco atos e quase duas
horas de duração. Outras óperas mais conhecidas de Monteverdi: “L
´Ariana” (1608), “Il Ritorno d´Ulisse in Patria”(1641), “L´Incoronazione de
Popea”(1642).

Na Itália, no começo do século XVII, os espetáculos de ópera eram


restritos aos ambientes palacianos, à aristocracia. Porém, começam a se
popularizar com o passar do tempo, sendo inaugurado em Veneza o
primeiro teatro público para ópera, o Teatro “San Cassiano”, em 1637,
onde foram encenadas mais de trezentas óperas até o final do século. Em
1700 já somavam dezessete teatros destinados à apresentações
operísticas.

Merecem ser mencionados outros compositores que fizeram sucesso com


suas óperas em Veneza, além de Monteverdi que havia se estabelecido na
cidade em 1613 e lá permaneceu até sua morte:

Francesco Cavalli ( 1602 – 1676 ): foi aluno de Monteverdi. Compôs


quarenta e duas óperas. A mais famosa é “Giasone”.

Antonio Cesti ( 1623 – 1669 ): Alcançou muito sucesso, principalmente


com as óperas “Orontea” e “Il Pomo d´Oro”, na qual utilizou recursos de
maquinaria de cenário, para conseguir o que chamamos hoje de “efeitos
especiais”. Ele também começa a dividir as óperas entre sérias ( dramma
per musica ) e bufas ( cômicas ). tem uma orquestração mais rica, com
maior número de instrumentos.

Também podemos mencionar Antonio Lotti ( 1667 – 1740 ) e seu aluno


Baldassare Galuppi (1706 – 1785), que fez sucesso com suas óperas bufas.

Em Roma o primeiro teatro público de ópera foi inaugurado em 1671. Lá


se destacaram: Domenico Mazzochi (1592- 1665), Luigi Rossi ( 1597-
1653) e Jacopo Melani (1623 1676). Restou pouco da produção de óperas
romanas, graças à oposição da Igreja que considerava esses espetáculos
profanos, inibindo o financiamento dos mesmos.

Em Nápoles, a ópera se desenvolveu principalmente no fim do século XVII.


Caracterizava-se por possuir uma textura musical simples, privilegiando a
voz solista. Estabeleceu-se aqui a afirmação do “bel canto”que se define
como o virtuosismo técnico do canto, caracterizado pela transição suave
das notas mais graves para as mais agudas e muita agilidade nos
ornamentos e fraseados, concebendo a voz humana como um
instrumento.

Em Nápoles surge o recitativo accompagnato, também chamado de


obligato, onde o cantor é acompanhado pela orquestra. Difere do
recitativo secco, usado em longos monólogos. O recitativo accompagnato
era usado nas situações mais dramáticas da ópera. Os napolitanos tinham
preferência pelas óperas bufas, influenciando mais tarde W. A. Mozart e o
teatro lírico em geral.

Compositores: Francesco Provenzale (1627- 1704), o primeiro compositor


napolitano de ópera. Alessandro Scarlatti (1660-1725), um dos mais
importantes. Compôs cinqüenta e nove óperas. Foi quem definiu a
“abertura italiana” de ópera ( iniciada por Cesti ). A abertura italiana é
constituída de três partes: rápida – lenta - rápida. Depois essas seções
começaram a ser executadas independentemente das óperas, vindo a ser
a base da sinfonia. Alessandro Stradella (1642 – 1682), apesar de ter
nascido no norte da Itália, seu estilo é napolitano. Giovanni Batista
Pergolesi (1710 – 1736), aluno de A. Scarlatti. Desenvolveu a ópera
cômica, destacando-se “La serva padrona” e “Flaminio”.

A maioria dos países da Europa adotou a ópera italiana como modelo, mas
na França foi criada a partir de 1670, uma ópera própria, baseada na
tradição do ballet .

O compositor Robert Cambert ( 1627 – 1677 ), produziu as primeiras obras


nesse sentido, mas pouco restou delas.

Jean Baptiste Lully ( 1632 – 1687 ), é a principal figura da ópera barroca


francesa. Nasceu na Itália, mas aos quatorze anos transferiu-se para a
França e lá estudou música e dança. Caiu nas graças do rei Luis XIV, que o
nomeou compositor oficial da corte. A partir de 1660 começou a trabalhar
com o famoso dramaturgo francês Jean Baptiste Poquelin, mais conhecido
como Moliére. Lully e Moliére criaram um estilo denominado comédie
ballet, que misturava música e dança numa mesma ação. A primeira obra
dentro desse modelo foi “Les Fâcheux”. A parceria foi desfeita em 1671.

Enquanto a ópera italiana privilegiava o canto solista ( bel canto ), a ópera


francesa buscava um espetáculo em que elementos como texto, música,
cenário, figurino, etc. fossem igualmente importantes. Tais características
ficaram conhecidas como “tragédie lyrique”, diferenciando do termo
ópera. Constituíam-se, geralmente, de uma abertura e cinco atos, com
coros, árias, recitativos e partes instrumentais com danças. Os temas eram
baseados em mitologia e poemas épicos renascentistas, tendo a
infelicidade amorosa como fundo. Lully compôs quatorze tragédie lyrique,
sendo a mais famosa “Armide”.

As aberturas ( overture ) de Lully, se tornaram o modelo da “abertura


francesa”, de caráter festivo, com duas seções contrastantes: a primeira
lenta, ritmicamente marcada e a segunda mais rápida, em estilo fugato.

Outro nome importante, além de Lully, foi Marc Antoine Carpentier (1643
– 1704). Foi também parceiro de Moliére, embora o seu estilo se
aproximasse mais da ópera italiana.

No século XVIII o mais importante compositor francês foi Jean-Philippe


Rameau (1683 – 1764). Também foi um grande teórico e escreveu o
primeiro tratado de harmonia em 1722, além de desenvolver a técnica
para o estudo do cravo. Dentre suas óperas pode-se citar “Hippolyte et
Aricie” (tragédie lyrique) e “Les Indes Galantes” (opéra ballet).

Na Espanha desenvolveu-se a zarzuela que tinha semelhanças com a


ópera italiana, mas continha partes faladas, de caráter cômico, sem
acompanhamento instrumental. Compositores: Juan Hidalgo (1614-1685),
Sebastián Durón (1660-1716) e Antonio de Literes (1673-1747).

Na Alemanha, a cidade de Hamburgo foi o maior centro de ópera. Eram


obras que tratavam de temas bíblicos, religiosos e de caráter moral,
representadas por estudantes. Mais tarde essa rigidez foi abandonada e
passaram a adotar diálogos falados em lugar de recitativos. Assemelhadas
às zarzuelas, esse estilo de espetáculo foi chamado de singspiel, que
marcará as óperas de Mozart depois. O principal compositor de ópera
barroca alemã: Reinhard Keiser (1674- 1739).

Na Inglaterra, desde o reinado de Henrique VIII, a ópera se desenvolveu a


partir de um espetáculo musical chamado masque, que se parecia com os
bailes da corte francesa. Constituia-se de canto, carros alegóricos, dança e
música instrumental. Os temas visavam homenagear o rei.

Compositores: John Blow (1649-1708) que com a ópera “Venus and


Adonis” é quem inaugura o gênero.

Henry Purcell (1659-1695), aluno de Blow, compôs a ópera “Dido and


Aeneas”, que é considerada uma das mais bonitas músicas daquela época.
Foi compositor de música de cena para teatro, mas merecem destaque as
obras dramáticas, as quais os ingleses consideram como óperas:
“Dioclecian”, “King Arthur”, “The Fairy Queen” e “The Tempest”.

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