Você está na página 1de 130

Temporada Lírica 2010-2011 Carmen

Georges Bizet
CARMEN
Carmen
Georges Bizet

2011

Teatro Nacional de São Carlos

Sábado, 11 Junho, 20h00


Terça-feira, 14 Junho, 20h00
Quinta-feira, 16 Junho, 20h00
Sábado, 18 Junho, 16h00
Terça-feira, 21 Junho, 20h00
Sexta-feira, 24 Junho, 20h00
Domingo, 26 Junho, 16h00

Esta produção tem dois intervalos:


um com cerca de 25 minutos a seguir ao Acto II
e outro com cerca de 20 minutos a seguir
ao Primeiro Quadro do Acto III.
Índice

Nota do director artístico 6

Ficha artística 8

Carmen in breve
por João Pedro Cachopo 12

Argumento 20

Libreto 32

A morte como destino,


por Bruno Caseirão 101

Biografias 108

Ficha técnica 120

Carmen 5
Caros amigos,

Carmen. É um nome que de imediato nos acelera a pulsação. Carmen, uma das óperas mais populares
alguma vez escritas, fecha esta temporada com chave de ouro.

Stephen Medcalf estreou esta produção em 2005, em Cagliari (Itália), com a qual recolheu um enorme
êxito e lhe valeu a atribuição do prestigiado Prémio Abbiati. Quando o convidei a trazer esta produção a
Portugal, veio a Lisboa com o cenógrafo Jamie Vartan; assim que viram a belíssima sala do São Carlos
e se aperceberam do seu ambiente único, ambos decidiram imediatamente rever o conceito original.
Assim, orgulho-me de apresentar uma nova produção, construída em Lisboa segundo o conceito e
desenho originais.

Esta produção também assinala a última ópera dirigida por Julia Jones, que supervisionou tantas outras
durante o seu trabalho no cargo de maestro titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Nos últimos anos,
dirigiu no São Carlos A (pequena) Flauta Mágica (versão adaptada para crianças), La Bohème, Salome,
Die Fledermaus, Le nozze di Figaro e Katiá Kabanová, e quando lhe perguntei que ópera das grandes
páginas do repertório lírico ela gostaria de dirigir para celebrar a sua passagem no São Carlos, não
hesitou um segundo antes de escolher a Carmen. Todos os maestros vêem nesta ópera a conciliação da
paixão, do drama e de uma belíssima música que fazem de Carmen uma opção irresistível. Em nome do
São Carlos, agradeço o trabalho que Julia Jones desempenhou, a sua energia e entusiasmo, e desejamos-
-lhe uma carreira repleta de êxitos e felicidade.

Orgulho-me também de apresentar um elenco de grande qualidade. Rinat Shaham, no papel titular, tem
vindo a conquistar e deslumbrar as plateias de todo o mundo. Esta é a sua 28.ª produção de Carmen.
Andrew Richards (Don José) também é senhor de uma carreira internacional florescente na interpretação
de papéis protagonistas. Yanni Yannissis (Escamillo) faz agora um feliz regresso ao São Carlos, depois
do retrato magnético que fez de Gianni Schicchi no início deste ano, e Adriana Damato (Micaëla), que
também regressa ao São Carlos depois da sua participação em La clemenza di Tito (2008) e que completa
o quarteto de estrelas internacionais. O elenco integra ainda alguns dos melhores cantores portugueses
da actualidade, para além dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música, a Orquestra
Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, o todo atribuindo a esta produção um
carácter único.

O nosso próximo grande acontecimento será o Festival ao largo, com a sua atmosfera e vitalidade muito
especiais. Estou certo de que muitos de vós, muito em breve, aproveitarão a oportunidade de usufruir
de um bom concerto no Largo. Durante o período das récitas de Carmen, a programação da próxima
Temporada será anunciada. Será um ano repleto de pontos altos, em termos de óperas e de concertos,
e espero que tenham muitas oportunidades de regressar ao nosso magnífico teatro depois da pausa
do Verão.

Com renovados votos de felicidades,

Director Artístico do Teatro Nacional de São Carlos

6
Post Scriptum
Depois de ter escrito a minha mensagem há cerca de um mês atrás, todos nós,
no São Carlos, sofremos um profundo desgosto com a morte inesperada do
nosso querido colega e amigo, Kenneth Frazer. Foi uma tragédia que nos afectou
a todos e desejamos, por isso, dedicar à sua memória a récita desta noite.
Carmen
Georges Bizet

Opéra-comique em três actos


Libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy baseado
no romance homónimo de Prosper Mérimée

Edição
Fritz Oeser/ Georges Bizet
Alkor Edition Kassel GmbH

Estreia em Portugal
Teatro de São Carlos a 4 de Abril de 1885,
em língua italiana

Estreia absoluta
Opéra Comique de Paris a 3 de Março de 1875

Coro de Pequenos Cantores da


Academia de Amadores de Música
Maestro titular Vítor Paiva

Coro do Teatro Nacional de São Carlos


Maestro titular Giovanni Andreoli
Maestro convidado Emanuele Pedrini

Orquestra Sinfónica Portuguesa


Maestro titular Julia Jones

Produção
Fundação Teatro Lirico de Cagliari (2005)

Nova encenação para o Teatro Nacional


de São Carlos baseada na produção premiada
da Fundação Teatro Lirico de Cagliari

8
Direcção musical Personagens e intérpretes
Julia Jones
Carmen, uma cigana
Rinat Shaham
Encenação
Stephen Medcalf Don José
Andrew Richards
Cenografia e figurinos
Jamie Vartan Escamillo, o toureiro
Yanni Yannissis [11, 14, 16, 18, 21]
Coreografia Luís Rodrigues [24, 26]
Maxine Braham
Zuniga, o tenente
Nuno Dias
Desenho de luz
Simon Corder Moralès, o sargento
Luís Rodrigues [11, 14, 16, 18, 21]
João Merino [24, 26]

Micaëla
Adriana Damato

Frasquita, uma cigana


Joana Seara

Mercédès, uma cigana


Luisa Francesconi

Remendado, um contrabandista
Carlos Guilherme

Dancaïre
Mário João Alves

Um vendedor
Daniel Paixão

Uma vendedora
Natália Brito

Papéis falados

Lillas Pastia/Guia
João Vaz

Andrès
Miguel Coelho

Carmen 9
Assistente do director musical Cenário
Moritz Gnann Teatro Nacional de São Carlos
Carpintauto (execução)

Assistente do encenador Adereços


Luca Ricci Teatro Nacional de São Carlos
Fundação Teatro Lirico de Cagliari
Assistente do cenógrafo e figurinista
Joana Dias
Guarda-roupa
Assistência linguística (francês) Teatro Nacional de São Carlos
Florence Daguerre De Hureaux Fundação Teatro Lirico de Cagliari
Maria Gonzaga

Cabeleiras
Teatro Nacional de São Carlos

Director musical de cena


João Paulo Santos
Caracterização
Maestros co-repetidores Fátima Sousa
Joana David
Nuno Lopes

Agradecimentos
Museu do Regimento de Sapadores
Bombeiros de Lisboa

Bailarinos
Bruno Alves, Joana Manaças, Mónica Almeida,
Rafaela Salvador, Ricardo Bonança, Sofia Loureiro

Figuração
Patrícia Milheiro, Felix Lozano, Nuno Leão,
Máximo Zequeira, Miguel Silveira

Rinat Shaham (Carmen) e Andrew Richards (Don José)


Fotografia de ensaio

10
João Pedro Cachopo nenhuma destas obras teve o impacto no público e na
crítica almejado pelo compositor. Já Carmen, tivesse
Carmen in breve Bizet vivido mais alguns meses, talvez superasse as
suas expectativas e, em todo o caso, teria decerto
assinalado o início de uma nova etapa, provavelmente
O compositor mais feliz, na curta carreira do compositor.
Como outros compositores de ópera do século XIX –
pense-se, desde logo, em Gounod e no seu Faust –,
Bizet (1838-1875) deve a sua reputação póstuma, em A obra
larga medida, a uma única ópera. Referimo-nos, como Foi Bizet quem sugeriu que a segunda ópera que
é óbvio, a Carmen. No caso de Bizet, no entanto, o comporia para a Opéra Comique, Carmen, se baseasse
mau acolhimento inicial desta pouco convencional na novela homónima de Prosper Mérimée. A ideia
opéra-comique parece ter afectado a tal ponto o entusiasma de imediato os libretistas – Henri Meilhac
compositor que, cada vez mais deprimido, morre e Ludovic Halévy – mas enfrenta, desde o início, o
poucos meses depois (com apenas trinta e seis anos), cepticismo e a incompreensão dos directores deste
sem assistir ao início da fulgurante carreira do seu teatro. Com efeito, quer Du Locle, quer De Leuven
magnum opus. Será da ordem da especulação supor esperavam que Bizet compusesse uma ópera cómica
que outras obras com um estatuto semelhante se de carácter ligeiro, o que dificilmente se coadunava
seguiriam a Carmen; contudo, o carácter promissor com a perspectiva de ver Carmen apunhalada na cena
desta ópera é indiscutível. final de uma tragédia de moral duvidosa. Em todo o
caso, apoiado pelos libretistas, o projecto segue em
Nascido em Paris, em 1838, o futuro compositor frente – Bizet começa a compor em 1873 – e, apesar
beneficiou de circunstâncias favoráveis à prática do crescente exaspero de Du Locle, já na fase de
musical no seio da sua existência familiar. Quer o pai ensaios, e da resistência do coro e da orquestra,
e a mãe, quer o tio – um professor de canto com uma contrabalançados pelo entusiasmo dos cantores
certa reputação no meio musical parisiense – eram principais, o meio-soprano Célestine Galli-Marié e o
músicos, e foi da mãe, na verdade, que recebeu as tenor Paul Lhérie (nos papéis, respectivamente, de
primeiras lições de piano. É, portanto, com o incentivo Carmen e D. José) –, a concepção inicial dos
da família que ingressa no Conservatório de Paris, onde libretistas e do compositor prevalece e poucas
rapidamente se destaca como intérprete – ganhando concessões são feitas. Após um longo e atribulado
prémios de piano e de órgão – e compositor. São desta período de ensaios, Carmen estreia finalmente, na
fase as suas primeiras composições para piano e a sua Salle Favard da Opéra Comique, a 3 de Março de 1875.
Primeira Sinfonia (1855), em que transparece a
influência de Gounod. Em 1857, vence o célebre Prémio Convenhamos que, apesar do mau acolhimento da
de Roma, com a cantata Clovis et Clotilde, partindo para crítica e do escândalo que representou a sua estreia
aquela cidade nesse mesmo ano, onde beneficia de no meio musical parisiense – e também um pouco,
uma estadia prolongada na Villa Medici. Os cerca de paradoxalmente, graças a este último – Carmen não
três anos que passa em Itália revelar-se-ão decisivos no foi propriamente um fracasso, estando ainda em cena
amadurecimento artístico do compositor; a singulari- aquando da morte de Bizet, a 3 de Junho de 1875.
dade do seu estilo parece remontar a este período. Vários compositores, entre os quais Saint-Saëns,
Tchaikovski, Brahms, Wagner – uma lista estetica-
De volta a Paris, Bizet dedica-se não só à composição, mente heterogénea, como facilmente se verifica –
mas também ao ensino e, apesar de desejar expressaram grande admiração pela ópera. Nietzsche
concentrar-se exclusivamente na criação musical, é a – porventura o mais célebre entusiasta de Carmen –,
segunda actividade que lhe permite, a par de outros reconhece nela uma tragédia musical que, na sua
trabalhos para editores, subsistir materialmente ao crueza anti-metafísica, alia o reconhecimento do
longo dos anos seguintes. A situação não se altera já trágico a uma sua apresentação plenamente afirmativa.
depois do casamento com Geneviève Halévy (filha do Pela sua limpidezza, pelo ar enxuto que nela se
seu antigo professor, Jacques Fromental Halévy), em respira, pelo seu estado de ânimo afirmativo que
1869, apesar da influência desta família no meio contagia o espectador, a ópera de Bizet representaria
cultural parisiense. Com efeito, apesar dos sucessos o verdadeiro antídoto contra o que este filósofo
relativos de obras como Les Pêcheurs de perles (1863) considerava ser, a páginas tantas do seu percurso
– de que Berlioz escreve uma crítica elogiosa –, La intelectual, o pathos grandiloquente e entorpecedor da
jolie fille de Perth (1867) ou L’Arlésienne (1872), música de Wagner.

12
O tom da ópera encarna na sua personagem central. N.º 5 – Cena (Coro)
Sedutora, envolvente, esquiva, Carmen – que não – Carmen, sur tes pas nous nous pressons tous
podia não ter escandalizado o público da Opéra Diálogo (Don José, Micaëla)
Comique em 1875 – canta a boémia, a liberdade e a – Quelle effronterie !
paixão. No entanto, esta caracterização parece ficar
aquém da força que pressentimos ser a de Carmen: N.º 6 – Dueto (Don José, Micaëla)
esta furta-se-nos, quando procuramos identificá-la, – Parle-moi de ma mère
deslizando como a linha melódica da «Habanera», em Diálogo (Don José, Micaëla)
que o amor se nos apresenta como um pássaro – Attends un peu maintenant...
rebelde que seria vão tentar aprisionar. Nele, a
inocência e a crueldade parecem confundir-se. N.º 7 – Coro (Coro, Zuniga)
Independentemente de ser ou não forçado o paralelo – Au secours ! Au secours
com Don Giovanni – e de não ser possível elidir a Diálogo (Zuniga, Don José, Carmen)
questão do género na análise da ópera de Bizet –, – Voyons, brigadier...
certo é que, como aquele, Carmen recusa a um só
tempo idealismo e pragmatismo: assim, se é certo N.º 8 – Canção e melodrama (Carmen, Zuniga)
que Carmen cede, aparentemente sem remorsos, à – Tra la la la la la la la
paixão por Escamillo, também o é que lhe permanece Diálogo (Zuniga, Carmen)
fiel – à verdade da paixão e à liberdade de que é – Avez-vous quelque chose à répondre ?
inseparável –, recusando voltar atrás na sua decisão
de pôr fim à relação que mantivera com D. José, N.º 9 – Canção e dueto (Carmen, Don José)
mesmo quando a aproximação deste último adquire o – Près des remparts de Séville
tom de uma ameaça de morte. Seria vão distinguir
paixão e amor – talvez seja este o cerne do fatalismo N.º 10 – Final (Zuniga, Carmen)
de Carmen –, mas disto convence-nos imediatamente – Voici l’ordre
a música, antes de qualquer palavra o sugerir.
Interlúdio

A ópera de relance Acto II

Prelúdio N.º 11 – Canção (Carmen, Frasquita, Mercédès)


– Les tringles des sistres tintaient
Diálogo (Lillas Pastia, Zuniga, Andrès, Carmen,
Acto I Frasquita, Mercédès)
– Pardon, pardon, messieurs
N.º 1 – Introdução (Moralès, Micaëla, coro)
– Sur la place, chacun passe N.º 12 – Coro e conjunto (Coro, Zuniga, Andrès, Frasquita,
Mercédès, Carmen)
N.º 2 – Marcha e coro dos miúdos (Coro infantil, Moralès, – Vivat ! Vivat le toréro
Don José, Zuniga) Diálogo (Zuniga, Escamillo)
– Avec la garde montante – Qu’est ce que c’est que ça ?
Diálogo (Moralès, Don José)
– Il y a une jolie fille… N.º 13 – Couplet (Escamillo, Frasquita, Mercédès,
Carmen, Andrès, Zuniga, coro)
N.º 3 – Coro e cena – Votre toast, je peux vous le rendre
– La cloche a sonné (Coro, Carmen, Don José) Diálogo (Lillas Pastia, Escamillo, Carmen, Zuniga,
Diálogo (Zuniga, Don José) Andrès, Frasquita, Mercédès)
– Dites-moi, brigadier ? – Messieurs les officiers, je vous en prie.

N.º 4 – Habanera (Carmen, coro) N.º 13 bis – Coro


– L’amour est un oiseau rebelle Diálogo (Frasquita, Mercédès, Carmen, Lillas Pastia,
Dancaïre, Remendado)
– Pourquoi nous as-tu fait signe…

Carmen 13
N.º 14 – Quinteto (Frasquita, Mercédès, Carmen, N.º 23 – Final (Frasquita, Mercédès, Carmen, Don José,
Remendado, Dancaïre) Escamillo, Dancaïre, Remendado, Micaëla, coro)
– Nous avons en tête… – Holà ! Holà ! José
Diálogo (Dancaïre, Frasquita, Mercédès, Carmen,
Remendado) Interlúdio
– En voilà assez...
Segundo Quadro
N.º 15 – Canção (Don José, Frasquita, Mercédès,
Carmen, Dancaïre, Remendado) N.º 24 – Coro (Coro, Zuniga, Andrès, vendedores,
– Halte-là ! Qui va là ? ciganos)
Diálogo (Mercédès, Carmen, Lillas Pastia, Frasquita, – A deux cuartos !
Dancaïre, Remendado, Don José) Diálogo (Zuniga, Frasquita, Mercédès, Andrès)
– C’est un dragon, ma foi... – Qu’avez vous donc fait de la Carmencita ?

N.º 16 – Dueto (Carmen, Don José) N.º 25 – Coro e cena (Coro, coro infantil, Escamillo,
– Je vais danser en votre honneur Carmen, Frasquita, Mercédès)
– Les voici ! Les voici !
N.º 17 – Final (Carmen, Don José, Zuniga, Frasquita,
Mercédès, Dancaïre, Remendado, coro) N.º 26 – Dueto-Final (Carmen, Don José)
– Holà ! Carmen ! – C’est toi !
– C’est moi !

Acto III

Primeiro Quadro

Prelúdio
No São Carlos
N.º 18 – Introdução (Frasquita, Mercédès, Carmen,
Don José, Dancaïre, Remendado, coro) A produção vienense de Carmen – a segunda após a
– Écoute, compagnon, écoute estreia na Opéra Comique – tem lugar poucos meses
Diálogo (Dancaïre, Remendado, Don José) depois, em Outubro de 1875, e foi como que uma
– Ceux qui ont sommeil… segunda estreia após a qual o sucesso da ópera
alastra rapidamente a outras cidades: Bruxelas, São
N.º 19 – Trio (Frasquita, Mercédès, Carmen) Petersburgo, Londres, Nova Iorque, Nápoles contam-
– Mêlons ! Mêlons ! -se entre as cidades em que a ópera é levada à cena
Diálogo (Mercédès, Carmen, Dancaïre, Remendado, ainda na década de 70.
Frasquita, Don José) A estreia em Portugal dá-se no Teatro de São Carlos,
– Eh bien ?... em língua italiana, a 4 de Abril de 1885. O facto de
Carmen ter voltado ao palco deste teatro mais uma
N.º 20 – Conjunto (Frasquita, Mercédès, Carmen, dezena de vezes ainda no século XIX, em temporadas
Dancaïre, Remendado, coro) praticamente consecutivas, é representativo do
– Quant au douanier, c’est notre affaire estatuto que alcançou. No cômputo geral, foram mais
Diálogo (Guia, Micaëla) de trinta as produções no São Carlos.
– Nous y sommes.

N.º 21 – Ária (Micaëla)


– Je dis que rien ne m’épouvante
Diálogo (Micaëla, Escamillo, Don José)
– Mais... c’est Don José...

N.º 22 – Dueto (Escamillo, Don José)


– Je suis Escamillo

14
Carmen in breve beyond the composer’s expectations and it would
have, surely, marked the beginning of a new stage,
The composer most probably a happier one in the composer’s short
Like other 19th century opera composers – it career life.
immediately springs to our mind Gounod and his Faust
–, Bizet (1838-1875) owes much of his posthumous
reputation to a single opera. We are obviously referring The work
to Carmen. However, in what concerns Bizet, the poor It was Bizet who suggested that the second opera that
initial reception of this minimally conventional opéra- he was going to compose for the Opéra Comique,
-comique seems to have affected the composer to such Carmen, should be based on the homonymous novel
an extent, that increasingly depressed, he dies a few by Prosper Mérimée. The idea was enthusiastically
months later (he was only thirty six years old), without received by the librettists – Henri Meilhac and Ludovic
witnessing the blazing success of his magnum opus. Halévy – but faced, from the start, the scepticism and
With some speculation we could suppose that other incomprehension of the directors of that theatre.
works with the same quality would follow Carmen; In fact, both Du Locle and De Leuven expected Bizet
however, the promising character of this opera is to compose a light comic opera, which hardly could
unquestionable. accept the perspective of seeing Carmen being
stabbed in the final scene of a tragedy of doubtful
Born in Paris, in 1838, the future composer benefited moral. However, the project moved on, supported by
from favourable conditions for the practice of music in the librettists – and Bizet started to compose in 1873
his family. Both his parents and an uncle – a singing – despite the increasing exasperation of Du Locle,
teacher with a certain reputation in Paris musical already in the rehearsal stage, and of the choir and
milieu – were musicians and the first piano lessons he orchestra resistance, offset by the main singers’
had were given by his mother. Therefore, encouraged enthusiasm, the mezzo Célestine Galli-Marié and the
by his family, he enters the Paris Conservatory of tenor Paul Lhérie (singing, respectively, the roles of
Music, where he rapidly stands out as a performer – Carmen and Don José) –, the composer’s and
receiving awards for piano and organ playing – and librettists’ initial concept prevails and few concessions
composer. His earliest compositions for piano were were made. After a long and troubled rehearsing
created during this period and his First Symphony period, Carmen finally is premièred at Salle Favard of
(1855), in which it’s clearly visible Gounod’s influence. Opéra Comique, on 3 March 1875.
In 1857, he won the famous Prix de Rome, with the
cantata Clovis et Clotilde, and went to live in that city However, we should say that despite the bad criticism
in that same year, where he benefited from a long stay and the scandal that its première represented in Paris
in Villa Medici. The period of approximately three musical milieu – paradoxically, it is also due to the
years that he spent in Italy would be decisive for the latter – Carmen was not really a failure, being still on
composer’s artistic maturity; the singularity of his scene when Bizet died on 3 June 1875. Several
style seems to have appeared then. composers, among which Saint-Saëns, Tchaikovsky,
Brahms, Wagner – an aesthetically heterogeneous list,
Back in Paris, Bizet dedicates himself not just to as it is easy to see – expressed their great admiration
composition, but also to teaching and despite wanting for the opera. Nietzsche – maybe the most famous
to focus exclusively in music writing, it is the second Carmen fan –, recognizes a musical tragedy in it that
activity that allows him, together with other works for due to its metaphysical rawness, allies the recognition
publishers, to make a living during the next years. The of the tragic to a fully affirmative presentation. Due to
situation does not change even after his marriage to its limpidezza, it’s like a breath of clean air, and its
Geneviève Halévy (daughter of his former professor, affirmative feeling that grabs at the spectator, Bizet’s
Jacques Fromental Halévy), in 1869, despite her opera would represent the true antidote against what
family’s influence in the Paris cultural milieu. In fact, this philosopher considered to be, at a certain time of
despite the relative success of works such as Les his intellectual development, the grandiloquent and
Pêcheurs de perles (1863) – about which Berlioz writes numbing pathos of Wagner’s music.
a praising critical review –, La jolie fille de Perth (1867)
or L’Arlésienne (1872), none of these works had the The tone of the opera is embodied in its main
impact in the public and in the critics that the character. Seductive, involving, elusive, Carmen – who
composer yearned for. But in relation to Carmen, if had all the requirements to scandalize the public of
Bizet had lived a few more months, it might have gone the Opéra Comique in 1875 – sings the Bohemian life,

Carmen 15
freedom and passion. However, this characterization No. 6 – Duet (Don José, Micaëla)
seems to be short of the force that we feel that – Parle-moi de ma mère
Carmen is: it eludes us, when we try to identify it, Dialogue (Don José, Micaëla)
sliding like the melodic line of «Habanera», in which – Attends un peu maintenant...
love is shown to us as a rebel bird which would be
useless to try to cage. Innocence and cruelty seem to No. 7 – Choir (Choir, Zuniga)
merge. Independently of forcing or not the similarity – Au secours ! Au secours
with Don Giovanni – and of not being possible to Dialogue (Zuniga, Don José, Carmen)
suppress the gender issue in Bizet’s opera analysis – – Voyons, brigadier...
what is sure is that, like him, Carmen refuses idealism
and pragmatism at the same time; thus, although No. 8 – Song and melodrama (Carmen, Zuniga)
Carmen gives in, apparently remorseless, to her – Tra la la la la la la la
passion for Escamillo, she remains also faithful – to Dialogue (Zuniga, Carmen)
true passion and freedom which is her true essence –, – Avez-vous quelque chose à répondre ?
refusing to go back on her decision to put an end to
the relationship that she had had with Don José, even No. 9 – Song and duet (Carmen, Don José)
when his approach becomes death threatening. It – Près des remparts de Séville
would be useless to make the difference between love
and passion – maybe this is the core of Carmen’s No. 10 – Final (Zuniga, Carmen)
fatalism –, but the music convinces us immediately – Voici l’ordre
about that, even before any word being uttered.
Interlude

Act II
The opera at a glance
No. 11 – Song (Carmen, Frasquita, Mercédès)
Prelude – Les tringles des sistres tintaient
Dialogue (Lillas Pastia, Zuniga, Andrès, Carmen,
Frasquita, Mercédès)
Act I – Pardon, pardon, messieurs

No. 1 – Introduction (Moralès, Micaëla, choir) No. 12 – Choir and ensemble (Choir, Zuniga, Andrès,
– Sur la place, chacun passe Frasquita, Mercédès, Carmen)
– Vivat ! Vivat le toréro
No. 2 – Street kids’ march and choir (Children’s choir, Dialogue (Zuniga, Escamillo)
Moralès, Don José, Zuniga) – Qu’est ce que c’est que ça ?
– Avec la garde montante
Dialogue (Moralès, Don José) No. 13 – Couplet (Escamillo, Frasquita, Mercédès,
– Il y a une jolie fille… Carmen, Andrès, Zuniga, choir)
– Votre toast, je peux vous le rendre
No. 3 – Choir and scene Dialogue (Lillas Pastia, Escamillo, Carmen, Zuniga,
– La cloche a sonné (Choir, Carmen, Don José) Andrès, Frasquita, Mercédès)
Dialogue (Zuniga, Don José) – Messieurs les officiers, je vous en prie.
– Dites-moi, brigadier ?
No. 13 bis – Choir
No. 4 – Habanera (Carmen, choir) Dialogue (Frasquita, Mercédès, Carmen, Lillas Pastia,
– L’amour est un oiseau rebelle Dancaïre, Remendado)
– Pourquoi nous as-tu fait signe…

No. 5 – Scene (Choir) No. 14 – Quintet (Frasquita, Mercédès, Carmen,


– Carmen, sur tes pas nous nous pressons tous Remendado, Dancaïre)
Dialogue (Don José, Micaëla) – Nous avons en tête…
– Quelle effronterie !

16
Dialogue (Dancaïre, Frasquita, Mercédès, Carmen, Interlude
Remendado)
– En voilà assez... Second Tableau

No. 15 – Song (Don José, Frasquita, Mercédès, Carmen, No. 24 – Choir (Choir, Zuniga, Andrès, merchants,
Dancaïre, Remendado) Bohemians)
– Halte-là ! Qui va là ? – A deux cuartos !
Dialogue (Mercédès, Carmen, Lillas Pastia, Frasquita, Dialogue (Zuniga, Frasquita, Mercédès, Andrès)
Dancaïre, Remendado, Don José) – Qu’avez vous donc fait de la Carmencita ?
– C’est un dragon, ma foi...
No. 25 – Choir and scene (Choir, children’s choir,
No. 16 – Duet (Carmen, Don José) Escamillo, Carmen, Frasquita, Mercédès)
– Je vais danser en votre honneur – Les voici ! Les voici !

No. 17 – Final (Carmen, Don José, Zuniga, Frasquita, No. 26 – Final Duet (Carmen, Don José)
Mercédès, Dancaïre, Remendado, coro) – C’est toi !
– Holà ! Carmen ! – C’est moi !

Act III

First Tableau

Prelude
At São Carlos
No. 18 – Introduction (Frasquita, Mercédès, Carmen,
Don José, Dancaïre, Remendado, choir) The Vienna production of Carmen – the second after
– Écoute, compagnon, écoute the première at Opéra Comique – took place a few
Dialogue (Dancaïre, Remendado, Don José) months later, in October 1875, and it was like a
– Ceux qui ont sommeil… second première, after which the success of the opera
quickly spread out to other cities: Brussels, Saint
No. 19 – Trio (Frasquita, Mercédès, Carmen) Petersburg, London, New York, Naples are some of the
– Mêlons ! Mêlons ! cities where the opera was performed in the 70’s.
Dialogue (Mercédès, Carmen, Dancaïre, Remendado, The première in Portugal took place in Teatro de São
Frasquita, Don José) Carlos, performed in Italian, on 4 April 1885. The fact
– Eh bien ?... that Carmen came back to this theatre more than ten
times still in the 19th century, in practically successive
No. 20 – Ensemble (Frasquita, Mercédès, Carmen, seasons, clearly evidences the status it achieved. On
Dancaïre, Remendado, choir) balance, there were more than thirty productions at
– Quant au douanier, c’est notre affaire São Carlos.
Dialogue (Guia, Micaëla)
– Nous y sommes.

No. 21 – Aria (Micaëla)


– Je dis que rien ne m’épouvante
Dialogue (Micaëla, Escamillo, Don José)
– Mais... c’est Don José...

No. 22 – Duet (Escamillo, Don José)


– Je suis Escamillo

No. 23 – Final (Frasquita, Mercédès, Carmen, Don José,


Escamillo, Dancaïre, Remendado, Micaëla, choir)
– Holà ! Holà ! José

Carmen 17
Nesta página: Luís Rodrigues (Moralès) e Adriana Damato (Micaëla); elementos
femininos do Coro do Teatro Nacional de São Carlos (cigarreiras); página seguinte:
Luisa Francesconi (Mercédès), Rinat Shaham (Carmen), Joana Seara (Frasquita) e coro;
Andrew Richards (D. José) e Adriana Damato.
Fotografias de ensaio
Carmen Carmen

Argumento Synopsis

Acto I Act I

Praça de Sevilha, para a qual dá umas das portas da Square of Seville, where one of the tobacco factory
fábrica de tabaco. Alguns militares, dragões do doors opens to. Some soldiers, dragoons of the
regimento de Almanza, encontram-se em grupos Almanza regiment are standing in groups in front of the
defronte do corpo da guarda e observam os guard corps and watching the passers-by. A girl,
transeuntes. Surge uma rapariga, Micaëla, que vem Micaëla, approaches them looking for a brigadier,
procurar um brigadeiro de nome D. José. Informada whose name is Don José. She is informed that he will
de que este só estará presente ao render da guarda, only be present at the change of the guard; she moves
afasta-se. Ao render da guarda, chegam o tenente away. At the change of the guard, lieutenant Zuniga and
Zuniga e D. José. Zuniga fica a sós com D. José, que Don José arrive. Zuniga stays alone with Don José, who
lhe explica que na fábrica do tabaco trabalham explains to him that there are many women working at
muitas mulheres. O tenente interessa-se por saber se the tobacco factory. The lieutenant is interested to find
há mulheres novas e bonitas, mas D. José não o out if theu are young and beautiful women, but Don
consegue esclarecer, pois nunca olhou para elas, José is unable to give this information as he never
desconfiando sempre das mulheres andaluzas. No looked at them, always distrustful of Andaluzian
seguimento da conversa, D. José conta ao tenente women. During the conversation, Don José tells the
como chegou a Sevilha, com a mãe, que vive agora lieutenant how he arrived at Seville, with his mother,
a dez léguas da cidade na companhia da jovem who now lives ten leagues away from the city, with a
órfã, Micaëla. young orphan girl, Micaëla.

Ouve-se o sinal de recomeço de trabalho, as mulheres The factory’s signal for the beginning of work is heard
dirigem-se à fábrica e, entre elas, está a mais popular and the women head back. Among them, is the most
de todas, Carmen, que povoa o sonho de muitos popular one, Carmen, about whom many men in Seville
sevilhanos. Antes de entrar, Carmen aproxima-se de dream about. Before going in, Carmen approaches Don
D. José e, achando a sua inocência divertida, atira-lhe José and finding his naiveté amusing, throws him one of
uma das flores que traz ao peito. D. José fica perturbado; the flowers that she is wearing at her bosom. The
nesse instante, aparece Micaëla com uma carta da gesture makes Don José feel very nervous; in that
mãe. A leitura da carta deixa Micaëla um pouco moment Micaëla appears before him with a letter from
nervosa, pois sabe que a mãe de D. José sugere his mother. Micaëla gets a bit uneasy while he reads the
ao filho que se case com ela e, sob pretexto de umas letter for she knows that the mother is suggesting her
compras que lhe faltam, afasta-se do local, prome- son to get married to her. Under the pretext of needing
tendo vir buscar a resposta mais tarde. to go and do some shopping she leaves, promising in
the meantime, to pass by later on to get an answer.

Ouve-se grande algazarra na fábrica do tabaco. Deu-se Uproar is heard coming from the factory. There was
a desordem entre as operárias e a culpada sendo turmoil among the workers and Carmen is the culprit;
Carmen, D. José tem que intervir e levá-la presa. Don José has to intervene and arrest her. Dazzled by
Deslumbrado por Carmen, D. José torna-se cúmplice Carmen, Don José becomes her accomplice in a plan
do plano que facilita a fuga da cigana, por entre as that enables the gypsy to escape, among the tobacco
gargalhadas das cigarreiras. workers’ laughter.

20
Acto II Act II

Na estalagem de Lillas Pastia. Militares e ciganas In Lillas Pastia’s inn. Soldiers and gypsies are
formam grupos. Zuniga fala baixo a Carmen e standing in groups. Zuniga speaks in a low voice with
informa-a que D. José foi preso como castigo de a ter Carmen and informs her that Don José was arrested
deixado fugir e, para além disso, foi despromovido a as punishment for having let her escape and besides
soldado raso. Ouvem-se exclamações à chegada do that, he was demoted to private. Voices are heard
toureiro Escamillo, que se notabilizou nas touradas when the famous bullfighter Escamillo, who became
de Granada. Enquanto os militares se preparam para well known at the bullfights in Granada, arrives at the
sair, a instâncias de Lillas Pastia, o famoso toureiro inn. While the soldiers prepare themselves to leave,
começa a cortejar Carmen. Saem todos, excepto the famous bullfighter starts to woo Carmen,
Carmen, Lillas Pastia e as duas ciganas, Frasquita e encouraged by Lillas Pastia. Everybody leaves, except
Mercédès. Pastia explica qual o motivo por que Carmen, Lillas Pastia and two gypsies, Frasquita and
precisava que todos os militares se fossem embora: Mercédès. Pastia explains the reason why he needed all
estão de volta os dois contrabandistas, Dancaïre e the soldiers to leave the tavern: two smugglers, Dancaïre
Remendado, e é preciso combinar com eles alguns and Remendado, have returned and it is necessary to
negócios. Estes entram e explicam que têm de partir meet them and to talk about some business. The
imediatamente com as raparigas cuja ajuda é smugglers enter and explain that they have to leave
necessária. Carmen recusa e confessa estar immediately with the girls whose help is needed.
enamorada. Carmen refuses and confesses that she is in love.

Ouve-se a voz de D. José que se aproxima da Don José’s voice is heard while he approaches the inn
estalagem, a cantar. Um dos contrabandistas sugere singing. One of the smugglers suggests Carmen to
a Carmen que convença D. José a partir consigo. convince Don José to leave with her. Don José is still
Este não perdeu o fascínio por Carmen, apesar do fascinated by the gypsy, despite the punishment he
castigo que sofreu. E Carmen explora os sentimentos received because of her. And Carmen takes advantage
do jovem soldado até ao ponto de não o querer of the young soldier’s feelings not wanting him to
deixar voltar à porta de armas para cumprir o seu return to his headquarters to carry out his duties as
dever de militar. Quando está para partir, D. José é soldier. When he is about to leave, Don José is
surpreendido pela chegada dos ciganos e contraban- surprised by the arrival of the gypsies and smugglers.
distas. Carmen obriga-o a ficar para não correr o risco Carmen forces him to stay so that he does not tell on
de serem denunciados; a D. José resta apenas um them. Don José is left with just one choice: to follow
caminho: seguir a irresistível cigana e tornar-se num the irresistible gypsy and to become a smuggler. The
contrabandista. O hino à liberdade cantado por hymn to freedom sung by Carmen is received with a
Carmen recolhe apenas uma exclamação rude e rude and resigned exclamation from Don José, which
resignada da parte de D. José, o que muito a aborrece. displeases her.

Carmen 21
Nesta página: Nuno Dias (Zuniga) e Rinat Shaham; Nuno Dias, Coro do Teatro Nacional de São Carlos (cigarreiras, soldados,
multidão) e Coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música; página seguinte: Andrew Richards e Rinat
Shaham; Rinat Shaham, Luisa Francesconi, João Vaz (Lillas Pastia) e bailarinos.
Fotografias de ensaio
Nesta página: Joana Seara, Yanni Yannissis (Escamillo), Luisa Francesconi, e
bailarinos; Rinat Shaham, Luisa Francesconi, Mário João Alves (Dancaïre), Carlos
Guilherme (Remendado), Joana Seara e, em segundo plano, João Vaz; página seguinte:
Rinat Shaham e Andrew Richards.
Fotografias de ensaio
Acto III Act III

Primeiro quadro First tableau

É noite cerrada. A pouco e pouco vão aparecendo os It is dark. The smugglers start arriving in small
contrabandistas. Entre eles, encontram-se Carmen e groups. With them come Carmen and Don José. While
D. José. Enquanto uns vão observar a muralha da some of them go and watch the ramparts, which are
cidade, que está guardada por um cúmplice, outros guarded by an accomplice, others start a fire and
ateiam uma fogueira; Mercédès e Frasquita vêm Mercédès and Frasquita come and sit close to Carmen
sentar-se perto de Carmen e de D. José. Carmen, and Don José. Carmen is annoyed with Don José, she
ainda irritada com D. José, diz-lhe que já gosta menos tells him that she doesn’t like him so much anymore
dele e, a continuar assim, nenhum sentimento and at this rate all feelings will disappear and it would
restará, e que o melhor será ele voltar para junto da be better if he returned to his mother, as the life of a
mãe, pois não serve para a vida de contrabandista. smuggler is not fit for him. Don José answers that he
D. José responde-lhe que insurgir-se-á caso Carmen will take a strong stand if Carmen does not behave as
não se comporte como ele quer. he wants.

Entretanto, Frasquita e Mercédès começam a ler o In the meantime, Frasquita and Mercédès start to flip
destino nas cartas, e para Carmen a resposta é cards to find out about the future and for Carmen the
sempre a mesma: a morte. Carmen, porém, afasta answer is always the same: death. However, Carmen
os maus pressentimentos. Regressam os três waves away all the bad hunches. The three smugglers
contrabandistas, preocupados — o cúmplice que return and they are worried – the accomplice who had
ficara de guardar a muralha, despareceu, e viram três stayed to guard the rampart has disappeared and they
guardas aduaneiros em plena vigilância. As mulheres saw three custom guards fully vigilant. The women calm
tranquilizam-nos, pois conhecem bem os aduaneiros. them down, as they know the custom guards quite well.

Afastam-se todos e, logo a seguir, chega um guia All of them move away and right afterwards a guide
acompanhado por Micaëla. Ao ficar só, a jovem órfã arrives with Micaëla. When he leaves her alone, the
não consegue deixar de sentir medo, mas resiste, pois young orphan is frightened but fights it down for she
tem por missão livrar D. José das garras da maldita. has a mission: to free Don José from that damned
Ao longe, avista a figura de D. José; este, tem uma gypsy. She sees Don José far away; he has a carbine
carabina e abre fogo. Micaëla, aterrorizada, foge por and opens fire. Micaëla, terrified, runs away among
entre os rochedos. Escamillo, o toureiro de Granada, the rocks. Escamillo, the bullfighter from Granada,
que D. José não tinha reconhecido, por pouco perdia who D. José had not recognized, almost lost his life.
a vida. Escamillo explica que se aproximou do Escamillo explains that he came to the camp
acampamento porque está loucamente apaixonado because he is madly in love with a gypsy named
por uma cigana, de nome Carmen; conta ainda a Carmen; he also tells Don José that Carmen had a
D. José que Carmen tinha por amante um soldado que lover who was a soldier who had deserted for her, and
desertou por ela, mas os seus amores não duram seis he added, before finding out that he was talking
meses, acrescenta ele, antes de descobrir que é de about Don José, that her love never lasts more than
D. José que se trata. Dá-se o inevitável duelo entre os six months. The inevitable duel takes place between
rivais. Chegam Carmen, Mercédès, Frasquita e os the two rivals. Carmen, Mercédès, Frasquita and
contrabandistas que interrompem a luta. Entretanto, the smugglers arrive at the camp and stop the fight.
Micaëla é trazida por um dos contrabandistas; a In the meantime, Micaëla is brought by one of the
jovem entrega uma mensagem a D. José: a sua mãe smugglers; the young girl delivers a message to Don
está moribunda. No momento da partida, D. José José: his mother is dying. When Don José leaves
despede-se de Carmen, mas com palavras repletas he says farewell to Carmen, but with words full
de subentendidos. of innuendo.

26
Segundo quadro Second tableau

Praça de Sevilha. É dia de touros. Multidões de The Bullring of Seville. There’s a bullfight on that day.
vendedores e crianças encontram-se por toda a praça. Crowds of tradesmen and children fill up the arena.
Chega Escamillo acompanhado de Carmen, trocando Escamillo enters with Carmen, exchanging vows of
juras de amor. Entretanto, Frasquita avisa Carmen que love. In the meantime, Frasquita warns Carmen that
é melhor partir, pois D. José encontra-se por perto. she better leave as Don José is near by. However,
Carmen, porém, assume-se mulher destemida e Carmen is not afraid and refuses to leave. Don José
recusa. Entretanto, surge D. José, que suplica a sees her and begs her to leave together so they can
Carmen que partam, a fim de recomeçarem uma nova start a new life. Cruelly, Carmen replies that her heart
vida. Carmen responde-lhe cruelmente que o seu already belongs to another.
coração já pertence a outro.

Na praça, o alarido da multidão entusiasmada In the square the cheering of the crowd reflect’s that
denuncia o triunfo de Escamillo. Carmen não esconde Escamillo has triumphed. Carmen does not hide her
a sua satisfação. Acicatado pelo ciúme, D. José atinge satisfaction. Driven by jealousy, Don José gets to the
o cúmulo do desespero quando Carmen lhe joga aos maximum depth of his despair when Carmen throws a
pés uma jóia que ele lhe havia oferecido. Cego pela dor, jewel he had offered her to his feet. Blinded by pain,
D. José avança para ela e vibra-lhe uma facada mortal. Don José moves towards her and stabs her fatally.
Quando o público sai da praça, D. José confessa o When the crowd leaves the arena, Don José confesses
crime; lança-se então sobre o corpo da mulher amada: his crime; then he throws himself over the body of his
«Ó minha Carmen! Minha Carmen adorada!» loved one: «Oh my Carmen! My beloved Carmen!»

Carmen 27
Nesta página: Coro do Teatro Nacional de São Carlos (ciganos); Luisa Francesconi,
Rinat Shaham e Joana Seara; página seguinte: Yanni Yannissis e Andrew Richards;
Luisa Francesconi, Mário João Alves, Joana Seara, Carlos Guilherme, Andrew Richards,
Rinat Shaham e Coro.
Fotografias de ensaio
Nesta página: Coro do Teatro Nacional de São Carlos (multidão); Joana Seara, Rinat Shaham,
Yanni Yannissis, Coro do Teatro Nacional de São Carlos (multidão) e Coro dos Pequenos Cantores
da Academia de Amadores de Música; página seguinte: Andrew Richards e Rinat Shaham.
Fotografias de ensaio
Carmen Carmen

Livret Libreto

Prélude Prelúdio

Acte Premier Acto I


Une place, à Séville. À droite, la porte de la Uma praça em Sevilha. À direita, a porta da fábrica
manufacture de tabac. À gauche, au premier plan, le de tabaco. À esquerda, em primeiro plano, a porta
corps de garde. Moralès et les soldats sont groupés de armas. Moralès e os soldados estão reunidos
devant le corps de garde. em frente da porta de armas.

Nº 1 – Introduction N.º 1 – Introdução

Chœur des soldats Coro de soldados


Sur la place Nesta praça,
chacun passe, todos passam,
chacun vient, chacun va ; todos chegam, todos partem...
drôles de gens que ces gens-là ! Que estranha é esta gente!
Drôles de gens ! Drôles de gens ! Que gente mais estranha!

Moralès (avec nonchalance) Moralès (despreocupadamente)


À la porte du corps de garde, À porta de armas,
pour tuer le temps, fuma-se e tagarela-se
on fume, on jase, para matar o tempo...
l’on regarde Olha-se para
passer les passants. quem passa.
Sur la place Nesta praça,
chacun passe, todos passam,
chacun vient, chacun va; todos chegam, todos partem...

Chœur des soldats Coro de soldados


Sur la place Nesta praça,
chacun passe, todos passam,
chacun vient, chacun va; todos chegam, todos partem...
drôles de gens que ces gens-là ! Que estranha é esta gente!
Drôles de gens! Drôles de gens ! Que gente mais estranha!

(Micaëla paraît ; hésitante, embarrassée, elle regarde (Aparece Micaëla; hesitante e embaraçada, olha para
les soldats, avance, recule.) os soldados, avança e recua.)

Moralès (aux soldats) Moralès (aos soldados)


Regardez donc cette petite Olhem para aquela rapariga
qui semble vouloir nous parler... que parece querer falar-nos...
Voyez, voyez !... Elle tourne... elle hésite... Reparem, reparem... Ela volteia, hesita...

Chœur des soldats Coro de soldados


A son secours il faut aller ! Temos de a socorrer!

Neste libreto, os diálogos estão assinalados


com uma linha vertical.

32
Moralès (galamment) Moralès (galanteador)
Que cherchez-vous, la belle ? Que procuras, minha beldade?

Micaëla (simplement) Micaëla (num tom simples)


Moi, je cherche un brigadier. Procuro um brigadeiro...

Moralès (avec emphase) Moralès (enfático)


Je suis là... ! Sou eu!
Voilà ! Estou aqui!

Micaëla Micaëla
Mon brigadier, à moi, s’appelle O meu brigadeiro chama-se D. José.
Don José... le connaissez-vous ? Conhece-o?

Moralès Moralès
Don José ? Nous le connaissons tous. D. José? Todos o conhecemos!

Micaëla (avec joie) Micaëla (com alegria)


Vraiment ! Est-il avec vous, je vous prie ? É verdade? Por favor, digam-me... Ele está convosco?

Moralès (avec élégance) Moralès (com elegância)


Il n’est pas brigadier dans notre compagnie. Ele não é brigadeiro na nossa companhia.

Micaëla (désolée) Micaëla (desolada)


Alors, il n’est pas là. Então, não está aqui?

Moralès Moralès
Non, ma charmante, il n’est pas là. Não, menina encantadora, não está aqui.
Mais tout à l’heure il y sera. Mas estará daqui a pouco.
Il y sera quand la garde montante Estará quando a guarda de dia
remplacera la garde descendante. render a guarda da noite.

Chœur des soldats Coro de soldados


Mais tout à l’heure il y sera, Mas estará daqui a pouco.
quand la garde montante Estará quando a guarda de dia
remplacera la garde descendante. render a guarda da noite.

Moralès (très galant) Moralès (muito galanteador)


Mais en attendant qu’il vienne, Mas enquanto esperas que chegue,
voulez-vous, la belle enfant, não quererás, bela donzela,
voulez-vous prendre la peine dar-te ao incómodo de entrar
d’entrer chez nous un instant? nem que seja por um instante?

Micaëla (effrayée) Micaëla (assustada)


Chez vous ? Em vossa casa?

Moralès, chœur des soldats Moralès, soldados


Chez nous. Sim, em nossa casa.

Micaëla (finement) Micaëla (delicadamente)


Non pas, non pas, Não, não, senhores soldados,
grand merci, messieurs les soldats. muito obrigada!

Carmen 33
Moralès Moralès
Entrez sans crainte, mignonne, Donzela, entra sem receio.
je vous promets qu’on aura, Prometo-te que teremos
pour votre chère personne, pela tua pessoa
tous les égards qu’il faudra. todo o respeito que nos mereces.

Micaëla Micaëla
Je n’en doute pas, cependant je reviendrai, Não duvido. Porém, eu volto,
je reviendrai, c’est plus prudent! eu volto mais tarde... É mais prudente!
(finement) (delicadamente)
Je reviendrai quand la garde montante Voltarei quando a guarda de dia
remplacera la garde descendante. render a guarda da noite.

Moralès, chœur des soldats Moralès, coro de soldados


Il faut rester, car la garde montante Tens de ficar, pois a guarda de dia
va remplacer la garde descendante. vai render a guarda da noite.

Moralès (retenant Micaëla) Moralès (retém Micaëla)


Vous resterez ! Fica!

Micaëla (cherchant à se dégager) Micaëla (tenta desembaraçar-se)


Non pas, non pas ! Não, não!

Moralès, chœur des soldats Moralès, coro de soldados


Vous resterez ! Vous resterez ! Fica! Fica!

Micaëla Micaëla
Au revoir, messieurs les soldats ! Adeus, senhores soldados!
(elle s’échappe et se sauve en courant) (esquiva-se e desata a correr)

Moralès Moralès
L’oiseau s’envole, O passarinho bateu a asa,
on s’en console !... paciência!
Reprenons notre passe-temps Retomemos o nosso passatempo
et regardons passer les gens ! e observemos as pessoas que passam!

Chœur des soldats Coro de soldados


Sur la place Nesta praça,
chacun passe, todos passam,
chacun vient, chacun va… todos chegam, todos partem...
Drôles de gens que ces gens-là ! Que estranha é esta gente!
Drôles de gens ! Drôles de gens ! Que gente mais estranha!

Moralès Moralès
Drôles de gens ! Que gente mais estranha!

Chœur des soldats Coro de soldados


Drôles de gens ! Drôles de gens ! Que gente mais estranha! Que gente mais estranha!

Nº 2 – Marche et chœur des gamins N.º 2 – Marcha e coro de miúdos


Clairon de loin derrière la scène. Un officier sort du Ouve-se uma trompeta ao longe. Um oficial sai do seu
poste. Les soldats du poste vont prendre leurs lances et posto. Os soldados da porta de armas retomam as suas
se rangent en ligne devant le corps de garde. Les lanças e perfilam-se frente à porta de armas.

34
passants forment un groupe pour assister à la parade. Os transeuntes formam um grupo para assistir ao
De petits gamins entrent en courant de tous les côtés. desfile. Vindos de todos os lados, entram miúdos a
La garde montante paraît : deux fifres et un clairon correr. Surge a guarda de dia; primeiro, pífaros seguidos
d’abord, puis Zuniga, Don José et les soldats de de uma corneta; depois Zuniga, D. José e os soldados
la garde montante. Les petits gamins marchent au da guarda de dia. Os miúdos marcham ao passo
pas des dragons. dos dragões.)

Chœur des gamins Coro de miúdos


Avec la garde montante Eis-nos chegados
nous arrivons, nous voilà ! com a guarda de dia!
Sonne, trompette éclatante ! Soa, trombeta brilhante!
Ta ra ta ta ta ra ta ta. Ta ra ta ta, ta ra ta ta.
Nous marchons, la tête haute Marchamos de cabeça erguida
comme de petits soldats, como pequenos soldados,
marquant, sans faire de faute, e marcamos o passo sem nos enganarmos,
(crié) (gritado)
une, deux, marquant le pas ! um, dois, marcamos o passo!
Les épaules en arrière Ombros para trás,
et la poitrine en dehors, peito para a frente,
les bras de cette manière, os braços postos assim,
tombant tout le long du corps. caídos ao longo do corpo.
Avec la garde montante Eis-nos chegados
nous arrivons, nous voilà ! com a guarda de dia!
Sonne, trompette éclatante ! Soa, trombeta brilhante!
Ta ra ta ta ta ra ta ta Ta ra ta ta, ta ra ta ta!
Ta ra ta ta ra ta ta. Ta ra ta ta, ta ra ta ta!
Nous arrivons, nous voilà ! Chegámos! Chegámos!

Zuniga Zuniga
Halte ! Repos ! Alto! Destroçar!

A. Mélodrame A. Melodrama

On relève les sentinelles As sentinelas são rendidas

Moralès (à Don José) Moralès (para D. José)


Il y a une jolie fille qui est venue te demander. Elle a Esteve aqui uma bela rapariga a perguntar por ti.
dit qu’elle reviendrait... Disse que voltaria...

Don José D. José


Une jolie fille ?... Uma bela rapariga?...

Moralès Moralès
Oui, et gentiment habillée : une jupe bleue, des Sim, e muito bem vestida, com uma saia azul,
nattes tombant sur les épaules... tranças compridas por sobre os ombros...

Zuniga (aux soldats) Zuniga (aos soldados)


Relève ! Marche ! Render! Marchar!

Don José D. José


C’est Micaëla ! Ce ne peut être que Micaëla. Micaëla! Só pode ser Micaëla.

Moralès Moralès
Elle n’a pas dit son nom. Não disse o nome.

Carmen 35
Zuniga Zuniga
Allons ! Allons ! Em frente, marche!

(La garde descendante sort. Les gamins suivent derrière (Partida da guarda de noite. Os miúdos agrupam-se por
les soldats.) detrás dos soldados.)

Chœur des gamins Coro de miúdos


Et la garde descendante E a guarda da noite
rentre chez elle et s’en va. regressa à caserna.
Sonne, trompette éclatante ! Soa trombeta fulgurante!
Ta ra ta ta ta ra ta ta. Ta ra ta ta ta...
Nous marchons la tête haute Marchamos de cabeça erguida
comme de petits soldats, como pequenos soldados,
marquant, sans faire de faute, e marcamos o passo sem nos enganarmos,
(crié) (gritado)
une, deux, marquant le pas. um, dois, marcamos o passo!

(Les soldats sortent de scène peu à peu, les gamins (Os soldados abandonam gradualmente a cena e as
disparaitront sur la dernière note du chœur. Les curieux crianças desaparecem à ultima nota do coro; os
s’éloignent par le fond ; Zuniga autorise ses soldats à curiosos afastam-se pelo fundo. O tenente dá ordem
rompre les rangs. Il reste seul avec Don José.) de destroçar aos soldados. Fica sozinho com D. José.)

Nº 3 – Chœur et scène Nº 3 – Coro e cena


On entend la cloche de la manufacture Ouve-se o sino da tabaqueira

Zuniga Zuniga
Dites-moi, brigadier? Diz-me, brigadeiro.

Don José (se levant) D. José (levantando-se)


Mon lieutenant. Meu tenente.

Zuniga Zuniga
Je ne suis dans le régiment que depuis deux jours. Estou no regimento apenas há dois dias.
Qu’est-ce que c’est que ce grand bâtiment? O que é aquele grande edifício?

Don José D. José


C’est la manufacture de tabacs... É a fábrica de tabaco...

Zuniga Zuniga
Ce sont des femmes qui travaillent là ?... E são mulheres que lá trabalham?

Don José D. José


Oui, mon lieutenant. Sim, meu tenente.

Zuniga Zuniga
Il y en a des jeunes ? E algumas são novas?

Don José D. José


Mais oui, mon lieutenant. Mas claro, meu tenente.

Zuniga Zuniga
Et des jolies ? E algumas são bonitas?

36
Don José (en riant) D. José (rindo)
Je le suppose... mais je ne les ai jamais beaucoup Acho que sim… mas nunca olhei para elas com
regardées... muita atenção...

Zuniga Zuniga
Allons donc !... Como se eu acreditasse!...

Don José D. José


Ces Andalouses me font peur. Je ne suis pas fait Estas andaluzas metem-me medo. Não me habituo
à leurs manières, toujours à railler… jamais un aos modos delas, sempre a barafustar… e nunca
mot de raison… uma palavra razoável…

Zuniga Zuniga
Et puis nous avons un faible pour les jupes bleues, et Além do mais, temos um fraquinho pelas saias azuis
pour les nattes tombant sur les épaules... e pelas tranças compridas por sobre os ombros...

Don José D. José


Je ne le nierai pas. Ça me rappelle le pays... Não o nego. Faz-me lembrar a minha terra...

Zuniga Zuniga
Vous êtes Navarrais? É navarro?

Don José D. José


Don José Lizzarabengoa, c’est mon nom... On voulait Chamo-me D. José Lizzarabengoa. Queriam que eu
que je fusse d’église mais j’aimais trop jouer à la entrasse para a Igreja, mas eu gostava muito mais
paume... Un jour que j’avais gagné, un gars de de jogar à péla. Num dos dias em que ganhei, um
l’Alava me chercha querelle ; j’eus encore l’avantage, fulano de Alava provocou-me; também ganhei a luta,
mais cela m’obligea de quitter le pays. Je me fis mas isso obrigou-me a deixar a minha terra. Tornei-
soldat ! Ma mère vint s’établir à dix lieues de -me soldado! A minha mãe estabeleceu-se a dez
Séville... avec la petite Micaëla... c’est une orpheline léguas de Sevilha... com a pequena Micaëla... uma
que ma mère a recueillie... órfã acolhida pela minha mãe.

Zuniga Zuniga
Et quel âge a-t-elle, la petite Micaëla ?... E que idade tem, a pequena Micaëla...?

Don José D. José


Dix-sept ans... Dezassete anos...

Zuniga Zuniga
Je comprends maintenant pourquoi vous ne pouvez Agora compreendo porque não me pode dizer se as
pas me dire si les ouvrières de la manufacture sont operárias da fábrica são bonitas ou feias...
jolies ou laides...

(la cloche sonne) (ouve-se o sino da fábrica)

Don José D. José


Voici la cloche qui sonne, mon lieutenant, et vous Eis que toca o sino, meu tenente, e vai poder julgar
allez pouvoir juger par vous-même... com os seus próprios olhos...

(La place se remplit de jeunes gens qui viennent se (A praça enche-se de jovens que se colocam junto
placer sur le passage des cigarières. Les soldats sortent ao caminho das cigarreiras. Os soldados abandonam
du poste. Don José est assis, s’occupant avec son o seu posto. D. José está sentado, ocupado com a sua
épinglette, et indifférent à se qui ce passe autour de lui. insígnia e indiferente ao que se passa à sua volta.
La cloche cesse.) O sino deixa de tocar.)

Carmen 37
Jeunes gens Os jovens
La cloche a sonné. Nous, des ouvrières, Tocou o sino! Viémos até aqui
nous venons ici guetter le retour ; para espreitar a saída das operárias,
et nous vous suivrons, brunes cigarières, e vamos seguir-vos cigarreiras morenas,
en vous murmurant des propos d’amour ! e murmurar-vos propostas de amor!

(les cigarières paraissent et descendent lentement (as cigarreiras aparecem e descem lentamente
en scène) a cena)

Les soldats Os soldados


Voyez-les ! Regards impudents, Reparai nelas... Olhares descarados,
mine coquette ! caras larocas !
Fumant toutes, du bout des dents, Todas fumando um cigarro preso
la cigarette. entre os lábios.

Les cigarières As cigarreiras


Dans l’air, nous suivons des yeux Seguimos o fumo no ar,
la fumée com o olhar,
qui vers les cieux o fumo perfumado
monte, monte, parfumée. que sobe em direcção ao céu.
Cela monte gentiment Sobe à cabeça
à la tête, docemente
tout doucement e põe-vos a alma em festa
cela vous met l’âme en fête ! lentamente!
Le doux parler des amants, O doce falar dos amantes,
c’est fumée ! não passa de fumo!
Leurs transports et leurs serments, Os seus êxtases e as suas juras,
C’est fumée. não passam de fumo!
Oui, c’est fumée, c’est fumée ! Sim, tudo não passa de fumo!

Les jeunes gens (aux cigarières) Os jovens (às cigarreiras)


Sans faire les cruelles, Não vos façais cruéis,
écoutez-nous les belles, e escutai-nos, beldades,
ô vous que nous adorons, vós que adoramos
que nous idolâtrons ! e idolatramos!

Les cigarières As cigarreiras


Le doux parler des amants O doce falar dos amantes,
et leurs transports et leurs serments, os seus êxtases e as suas juras,
c’est fumée, c’est fumée! Sim, tudo não passa de fumo!

Les soldats Os soldados


Mais nous ne voyons pas la Carmencita ! Mas não vemos a bela Carmencita!

(entrée de Carmen) (entrada de Carmen)

Les cigarières, jeunes gens As cigarreiras, jovens


La voilà ! Ei-la!
La voilà, Ei-la!
voilà la Carmencita ! Chegou a Carmencita!

38
Les jeunes gens (entourant Carmen) Os jovens (rodeiam Carmen)
Carmen ! Sur tes pas nous nous pressons tous! Carmen! Apressamo-nos a seguir os teus passos!
Carmen ! Sois gentille, au moins réponds-nous, Carmen! Sê gentil e pelo menos responde-nos:
et dis-nous quel jour tu nous aimeras ! diz-nos o dia em que nos amarás!
Carmen, dis-nous quel jour tu nous aimeras ! Carmen, diz-nos o dia em que nos amarás!

Carmen (gaîment) Carmen (com alegria)


Quand je vous aimerai ? Ma foi, je ne sais pas... Quando vos amarei? Sinceramente, não sei...
Peut-être jamais !... peut-être demain !... Talvez nunca! Talvez amanhã!
(résolument) (decidida)
Mais pas aujourd’hui... c’est certain. Mas hoje não, isso é certo!

Nº 4 – Havanaise Nº 4 – Habanera

Carmen Carmen
L’amour est un oiseau rebelle O amor é um pássaro rebelde
que nul ne peut apprivoiser, que ninguém consegue aprisionar;
et c’est bien en vain qu’on l’appelle, é em vão que o chamamos
s’il lui convient de refuser ! se lhe convém recusar!
Rien n’y fait, menace ou prière, De nada servem ameaças ou orações,
l’un parle bien, l’autre se tait; um fala bem, o outro cala-se;
et c’est l’autre que je préfère, e é o outro que prefiro,
il n’a rien dit, mais il me plaît. nada disse, mas agrada-me.

Les cigarières, jeunes gens As cigarreiras, jovens


L’amour est un oiseau rebelle O amor é um pássaro rebelde
que nul ne peut apprivoiser, que ninguém consegue aprisionar;
et c’est bien en vain qu’on l’appelle, é em vão que o chamamos
s’il lui convient de refuser ! se lhe convém recusar!

Carmen Carmen
L’amour… L’amour… L’amour… O amor! O amor! O amor!
L’amour est enfant de Bohème, O amor é filho da Boémia,
il n’a jamais, jamais connu de loi, filho que nunca conheceu lei;
si tu ne m’aimes pas, je t’aime, se não me amas, amo-te eu,
si je t’aime, prends garde à toi! se eu te amo, tem cuidado!

Les cigarières, jeunes gens, soldats As cigarreiras, jovens, soldados


Prends garde à toi ! Tem cuidado!

Carmen Carmen
Mais si je t’aime, Mas se eu te amo,
si je t’aime, prends garde à toi ! se eu te amo, tem cuidado!

Jeunes gens, cigarières, soldats Jovens, cigarreiras, soldados


Prends garde à toi ! Tem cuidado!

Carmen Carmen
L’oiseau que tu croyais surprendre O pássaro que pensavas apanhar,
battit de l’aile et s’envola ; bateu a asa e voou;
l’amour est loin, tu peux l’attendre, O amor está longe, bem podes esperar por ele;
tu ne l’attends plus, il est là. mas quando menos esperares, ele aí está!

Carmen 39
Tout autour de toi, vite, vite, Tudo à tua volta, depressa, depressa,
il vient, s’en va, puis il revient ; ele vem, vai-se embora para depois voltar,
tu crois le tenir, il t’évite, quando pensas tê-lo agarrado, ele evita-te,
tu crois l’éviter, il te tient ! quando pensas tê-lo evitado, ele agarra-te!
L’amour ! L’amour ! O amor, o amor!
Si tu ne m’aimes pas, je t’aime, Se não me amas, eu amo-te
si je t’aime, prends garde à toi! se te amo, cuidado comigo!

Les cigarières, jeunes gens, soldats As cigarreiras, jovens, soldados


Prends garde à toi ! Tem cuidado!

Nº 5 – Scène N.º 5 – Cena

Les jeunes gens Os jovens


Carmen ! Sur tes pas nous nous pressons tous ! Carmen! Apressamo-nos a seguir os teus passos!
Carmen ! Sois gentille, au moins réponds-nous ! Carmen! Sê gentil e pelo menos responde-nos!
Réponds-nous, ô Carmen ! Responde-nos, ó Carmen!

(Les jeunes gens entourent Carmen, celle-ci les regarde (Os jovens rodeiam Carmen; ela olha-os um a um
l’un après l’autre, et s’en va droit à Don José; il lève les e vai direita a D. José; ele ergue o olhar e vê Carmen
yeux et voit Carmen devant lui. Carmen arrache une diante de si. Carmen arranca uma flor da blusa e
fleur de son corsage et la lance à Don José. Il se lève atira-a a D. José. Ele levanta-se repentinamente.)
brusquement.)

Les cigarières (riant entre elles) As cigarreiras (rindo-se entre si)


L’amour est enfant de Bohème, O amor é filho da Boémia,
il n’a jamais, jamais connu de loi, filho que nunca conheceu lei;
si tu ne m’aimes pas, je t’aime, se não me amas, amo-te eu,
si je t’aime, prends garde à toi ! se eu te amo, tem cuidado!

(Cloche de la manufacture. Les cigarières sortent en (Sino da fábrica. As cigarreiras partem a correr. Carmen
courant; Carmen sort la première. Les jeunes gens é a primeira a partir. Os jovens saem pela direita e pela
sortent à droite et à gauche. Les soldats et Zuniga esquerda. Os soldados e Zuniga regressam aos seus
rentrent au poste. Don José a les yeux fixés sur la fleur postos. D. José tem os olhos fixos na flor que caiu por
qui est tombée par terre devant lui. Il la ramasse.) terra à sua frente. Apanha-a.)

Don José D. José


Quelle effronterie !... Que descaramento!
(en souriant) (sorrindo)
Tout ça parce que je ne faisais pas attention à elle !... Tudo porque não lhe prestei atenção!
(il respire le parfum de la fleur) (aspira o perfume da flor)
Comme c’est fort !... Certainement s’il y a des Como é intenso! Se na verdade existem feiticeiras,
sorcières, cette fille-là en est une. aquela rapariga é uma delas!

(entre Micaëla) (entra Micaëla)

Micaëla Micaëla
Monsieur le brigadier ? Senhor brigadeiro?

Don José (cachant précipitamment la fleur) D. José (escondendo precipitadamente a flor)


Quoi ?... Qu’est-ce que c’est ?... Micaëla !... C’est toi... O quê? O que se passa? Micaëla! És tu...!

40
Micaëla Micaëla
C’est moi ! Sou eu!
C’est votre mère qui m’envoie... Foi a vossa mãe quem me enviou...

Don José D. José


Ma mère… A minha mãe…

Nº 6 – Duo N.º 6 – Dueto

Don José (ému) D. José (emocionado)


Parle-moi de ma mère ! Fala-me da minha mãe!
Parle-moi de ma mère ! Fala-me dela!

Micaëla (simplement) Micaëla (de um modo simples)


J’apporte de sa part, fidèle messagère, Trago da sua parte, fiel mensageira,
cette lettre... esta carta...

Don José (joyeux) D. José (feliz)


Une lettre ! Uma carta!

Micaëla Micaëla
Et puis un peu d’argent, E um pouco de dinheiro
pour ajouter à votre traitement. para juntar ao vosso pré.
Et puis... E ainda...

Don José D. José


Et puis ?... E ainda...?

Micaëla Micaëla
Et puis... vraiment je n’ose... E ainda... Na verdade, não me atrevo...
Et puis... encore une autre chose E ainda... e ainda uma outra coisa
qui vaut mieux que l’argent ! Et qui, pour un bon fils que vale mais que dinheiro, e que para um bom filho
aura sans doute plus de prix. terá certamente outro preço.

Don José D. José


Cette autre chose, quelle est-elle ? O que é essa outra coisa?
Parle donc... Vá, diz-me...

Micaëla Micaëla
Oui, je parlerai. Sim, di-lo-ei.
Ce que l’on m’a donné, je vous le donnerai. O que me foi dado ser-vos-á entregue.
Votre mère avec moi sortait de la chapelle, A vossa mãe saía comigo da capela
et c’est alors qu’en m’embrassant : e foi quando me abraçou e me disse:
« Tu vas, » m’a-t-elle dit, « t’en aller à la ville ; «Vais à cidade. O caminho não é longo;
la route n’est pas longue; une fois à Séville, uma vez chegada a Sevilha,
tu chercheras mon fils, mon José, mon enfant ! procuras o meu filho, o meu José, o meu filho!
Et tu lui diras que sa mère Dir-lhe-ás que a mãe
songe nuit et jour à l’absent, pensa noite e dia na sua ausência;
qu’elle regrette et qu’elle espère, que ela sofre por ele e que tem esperança,
qu’elle pardonne et qu’elle attend. que lhe perdoa e que o espera.
Tout cela, n’est-ce pas, mignonne, Minha linda, tudo isto lhe dirás
de ma part tu le lui diras ; et ce baiser que je te da minha parte, e o beijo que agora te dou,
donne, de ma part tu le lui rendras.» dá-lho da minha parte!»

Carmen 41
Don José (très ému) D. José (muito emocionado)
Un baiser de ma mère ! Um beijo de minha mãe!

Micaëla Micaëla
Un baiser pour son fils ! Um beijo para o seu filho!
José, je vous le rends comme je l’ai promis ! José, entrego-lho como o prometi!

(Micaëla se hausse un peu sur la pointe des pieds et (Micaëla ergue-se um pouco mais na ponta dos pés e
donne à Don José un baiser bien franc, bien maternel.) dá um beijo a D. José, muito sincero e muito maternal.)

Don José (très ému) D. José (muito emocionado)


Ma mère, je la vois !... A minha mãe! Estou a vê-la!
Oui, je revois mon village ! Sim, revejo a minha aldeia!
O souvenirs d’autrefois! Ó recordações de outrora!
Doux souvenirs du pays ! Doces recordações da minha terra!

Micaëla Micaëla
Sa mère, il la revoit ! Ele revê a mãe!
Il revoit son village ! Ele revê a aldeia!
O souvenirs d’autrefois ! Ó recordações de outrora!
Souvenirs du pays ! Recordações da sua terra!
Vous remplissez son cœur Que lhe preenchem o coração
de force et de courage ! de força e de coragem!
O souvenirs chéris ! Ó ternas recordações!
Sa mère, il la revoit, il revoit son village ! Ele revê a mãe, revê a sua terra!

Don José (très ému) D. José (muito emocionado)


O souvenirs chéris, Ternas recordações
vous remplissez mon cœur que enchem o meu coração
de force et de courage ! de força e de coragem!
O souvenirs chéris! Ternas recordações!

Micaëla Micaëla
Sa mère, il la revoit ! A sua mãe, ele revê-a!
Il revoit son village ! Ele revê a sua aldeia!

Don José (à lui-même) D. José (para si)


Qui sait de quel démon j’allais être la proie ! Quem sabe de que demónio eu seria a presa!
(recueilli) (para si)
Même de loin, ma mère me défend, Mesmo de longe, a minha mãe defende-me,
et ce baiser qu’elle m’envoie, e o beijo que me envia
(avec élan) (veemente)
écarte le péril et sauve son enfant ! afasta o perigo e salva-lhe o filho!

Micaëla (vivement) Micaëla (vivamente)


Quel démon ? Quel péril ? Je ne comprends pas bien... Que demónio? Que perigo? Não percebo bem...
Que veut dire cela? Que quer isso dizer?

Don José D. José


Rien ! Rien ! Nada, nada!
Parlons de toi, la messagère ; Falemos de ti, a mensageira;
tu vas retourner au pays ? vais regressar à terra?

42
Micaëla Micaëla
Oui, ce soir même... Sim, ainda esta noite...
demain je verrai votre mère. amanhã estarei com a vossa mãe.

Don José (vivement) D. José (com vivacidade)


Tu la verras ! Eh bien ! tu lui diras: Vais vê-la! Pois bem, dir-lhe-ás
que son fils l’aime et la vénère que o filho a adora, a venera,
et qu’il se repent aujourd’hui. e que já está arrependido.
Il veut que là-bas sa mère Que ele quer que a mãe
soit contente de lui ! se sinta feliz por ele!
Tout cela, n’est-ce pas, mignonne, Tudo isto, minha linda,
de ma part, tu le lui diras ! dir-lhe-ás da minha parte, não é verdade?
Et ce baiser que je te donne, E o beijo que agora te dou,
de ma part, tu le lui rendras ! dá-lo-ás da minha parte!

Micaëla (simplement) Micaëla (num tom simples)


Oui, je vous le promets. De la part de son fils, Sim, prometo-vos... da parte de seu filho,
José, je le rendrai, comme je l’ai promis. José, entregar-lho-ei tal como o prometi.

Don José D. José


Ma mère, je la vois !... Minha mãe, eu vejo-a!
Oui, je revois mon village ! Sim, revejo a minha aldeia!
O souvenirs d’autrefois ! Ó recordações de outrora!
Doux souvenirs du pays ! Doces recordações da minha terra!

Micaëla Micaëla
Sa mère, il la revoit ! Il revoit son village ! Ele revê a mãe! Ele revê a aldeia!
O souvenirs d’autrefois ! Souvenirs du pays ! Ó recordações de outrora! Recordações da terra!
Vous remplissez son cœur de force et de courage ! Que lhe preenchem o coração de força e de coragem!

Don José D. José


Attends un peu maintenant... je vais lire sa lettre. Agora espera um momento... vou ler a carta...

Micaëla (l’interrompant) Micaëla (interrompendo-o)


Il vaut mieux que je ne sois pas là !... É melhor eu não ficar aqui...

Don José D. José


Mais Micaëla… la réponse… Mas Micaëla… a resposta…

Micaëla Micaëla
Non, non... je reviendrai, je reviendrai… Não, não... eu volto, eu volto...
(elle sort) (sai)

Don José (lisant) D. José (lendo)


«Il n’y en a pas de plus sage ni de plus gentille... «Não encontrarás ninguém mais atinado ou mais
il n’y en a pas surtout qui t’aime davantage... amável... sobretudo não existe ninguém que te ame
et si tu voulais...» mais do que ela... e se tu quisesses...»
Oui, ma mère, oui, je ferai ce que tu désires... Sim, minha mãe, farei o que desejas... casarei com
j’épouserai Micaëla, et quant à cette bohémienne, Micaëla, e quanto àquela cigana com as suas flores
avec ses fleurs qui ensorcellent... que enfeitiçam...

Carmen 43
Nº 7 – Chœur N.º 7 – Coro
Grande rumeur dans l’intérieur de la manufacture. Entre Grande comoção no interior da fábrica. Entra Zuniga
Zuniga suivi des soldats. seguido dos soldados.

Zuniga Zuniga
Eh bien, eh bien, qu’est-ce qui arrive ? Então, então? O que se passa?

(les cigarières entrent en courant) (as cigarreiras entram a correr)

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


Au secours ! Au secours ! N’entendez-vous pas ? Socorro! Socorro! Não ouvem?

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Au secours ! Au secours ! Messieurs les soldats ! Socorro! Socorro! Senhores soldados!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


C’est la Carmencita ! É a Carmencita!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Non, non, ce n’est pas elle ! Não, não, não é ela!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


C’est elle ! Si fait, si fait, c’est elle ! É ela! Não há dúvida!
Elle a porté les premiers coups ! Foi ela quem desferiu os primeiros golpes!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Ne les écoutez pas ! Não lhes dêem ouvidos!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


Monsieur, écoutez-nous ! Ouça-nos a nós, meu senhor!
Écoutez-nous ! Ouça-nos a nós!

Les cigarières {mezzo} (tirant l’officier de leur côté) As cigarreiras {meios-sopranos} (puxam o oficial)
La Manuelita disait A Manuelita disse
et répétait à voix haute, e repetiu em voz alta
qu’elle achèterait sans faute que compraria sem falta
un âne qui lui plaisait… um burro que lhe agradasse...

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


Alors la Carmencita, Então, Carmencita,
railleuse à son ordinaire, trocista como é seu costume,
dit : « un âne, pour quoi faire ? respondeu: «Um burro, para quê?
Un balai te suffira. » Serve-te uma vassoura!»

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Manuelita riposta Manuelita respondeu
et dit à sa camarade : à sua camarada:
« Pour certaine promenade, «Para certos passeios que dás,
mon âne te servira ! » o meu burro serve para ti!»

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


« Et ce jour-là tu pourras E nesse dia, poderás
à bon droit com toda a razão
faire la fière ! sentires-te uma rainha!

44
Deux laquais suivront derrière, Atrás de ti, dois lacaios seguirão
t’émouchant à tour de bras. » afugentando as moscas com todo o vigor!

Toutes les femmes Todas


Là-dessus, toutes les deux Foi quando as duas
se sont prises aux cheveux ! se agarraram pelos cabelos uma da outra!

Zuniga (avec humeur) Zuniga (com humor)


Au diable tout ce bavardage ! Pró diabo toda esta conversa!
Prenez, José, deux hommes avec vous José, leve dois homens consigo
et voyez là dedans qui cause ce tapage ! e veja lá dentro qual a causa desta barulheira!

(Don José prend deux hommes avec lui, et entre dans la (D. José leva dois homens consigo e entra
manufacture) na fábrica)

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


C’est la Carmencita ! É a Carmencita!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Non, non, ce n’est pas elle ! Não, não, não é ela!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


Si fait, si fait ; c’est elle ! Não há dúvida! É ela!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Pas du tout ! Nem pensar!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


Elle a porté les premiers coups ! Foi ela quem desferiu o primeiro golpe!

Zuniga (aux soldats) Zuniga (para os soldados)


Holà ! Éloignez-moi toutes ces femmes-là ! Eh lá! Afastai de mim todas estas mulheres!

Les cigarières As cigarreiras


Monsieur ! Monsieur ! Meu senhor! Meu senhor!

Les soldats (repoussant les femmes) Os soldados (tentam afastar as mulheres)


Tout doux ! Acalmem-se!
Et taisez-vous ! E calem-se!

Les cigarières As cigarreiras


Monsieur ! Meu senhor!
Ne les écoutez-pas ! Não lhes dêem ouvidos!
Monsieur ! Meu senhor,
Ne les écoutez-pas ! não lhes dêem ouvidos!

Les soldats Os soldados


Tout doux ! Éloignez-vous ! Devagar! Afastai-vos!

Zuniga Zuniga
Holà ! Soldats ! Ei, soldados!

(Les soldats font évacuer la place – cris des femmes – (Os soldados evacuam a praça. Gritos das mulheres
elles sont malmenées par les soldats et repoussées maltratadas pelos soldados e empurradas para

Carmen 45
jusqu’à la rue à la droite. Carmen paraît à l’entrée a rua à direita. Carmen surge à entrada da fábrica
de la manufacture, amenée par Don José et suivie trazida por D. José e seguida de dois soldados.
de deux soldats. Voyant Carmen devant elles, les Vendo Carmen à frente delas, as mulheres da
femmes à droite et à gauche s’échappent et reprennent direita e da esquerda escapam-se e retomam
leur dispute.) a discussão.)

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


C’est la Carmencita Foi a Carmencita
qui porta les premiers coups ! quem desferiu os primeiros golpes!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


C’est la Manuelita Foi a Manuelita
qui porta les premiers coups ! quem desferiu os primeiros golpes!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


La Carmencita ! A Carmencita!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


La Manuelita ! A Manuelita!

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


Si ! Si ! Si ! Sim, sim, sim!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meios-sopranos}


Non ! Non ! Non ! Não, não, não!

Les soldats Os soldados


Tout doux ! Tout doux ! Éloignez-vous ! Calma! Calma! Afastem-se!
Éloignez-vous et taisez-vous ! Afastem-se e calem-se!

(La place est enfin dégagée. Les femmes sont (Finalmente, a praça fica desimpedida; as mulheres
maintenues à distance.) são mantidas à distância.)

Zuniga Zuniga
Voyons, brigadier... qu’est-ce que vous avez Então, brigadeiro... o que encontrou
trouvé là-dedans ?... lá dentro...?

Don José D. José


Cents femmes, criant, hurlant, gesticulant... D’un Cem mulheres que gritavam, berravam,
côté il y en avait une qui criait : «Confession ! gesticulavam... De um lado, uma gritava: «Confissão!
Confession ! Je suis morte ! » En face de la blessée Confissão! Estou morta!» Em frente à mulher
j’ai vu... ferida vi...
(il s’arrête sur un regard de Carmen) (pára perante um olhar de Carmen)

Les cigarières {sopranos} As cigarreiras {sopranos}


C’est elle! Foi ela!

Les cigarières {mezzo} As cigarreiras {meio-sopranos}


Ce n’est pas elle! Não, não foi ela!

Zuniga Zuniga
Eh bien ?... Então?

46
Don José D. José
J’ai vu mademoiselle... Vi esta donzela...

Carmen Carmen
On m’avait provoquée... je n’ai fait que me Tinham-me provocado...não fiz mais do que
défendre… defender-me...
(à Don José) (para D. José)
N’est-ce pas, monsieur le brigadier ? Não é, meu brigadeiro?

Don José (après un moment d’hésitation) D. José (após um momento de hesitação)


Une discussion s’était élevée entre ces deux dames, Surgiu uma discussão entre estas duas mulheres,
et mademoiselle a commencé à dessiner des croix e esta donzela começou a desenhar cruzes na cara
sur le visage de sa camarade... da companheira...

(Zuniga regarde Carmen : celle-ci, après un regard à (Zuniga olha para Carmen; esta, após um olhar dirigido
Don José et un très-léger haussement d’épaules, est a D. José e um muito ligeiro encolher de ombros, voltou
redevenue impassible.) a ficar impassível.)

Cigarières Cigarières
Garce ! Sorcière ! Salope ! Cabra! Bruxa! Puta!

Zuniga (à Carmen) Zuniga (para Carmen)


Eh bien, la belle, vous avez entendu Pois bem, minha beldade, ouviu o que disse
le brigadier ?... o brigadeiro...?
(à Don José) (para D. José)
Je n’ai pas besoin de vous demander si vous avez dit Não preciso de perguntar-lhe se me contou a
la vérité. verdade.

Don José D. José


Foi de Navarrais, mon lieutenant ! Palavra de navarro, meu tenente!

(Carmen se retourne brusquement et regarde encore (Carmen vira bruscamente as costas e volta a olhar
une fois Don José) para D. José)

Zuniga (à Carmen) Zuniga (para Carmen)


Eh bien... vous avez entendu ?... Pois bem... ouviu...?

Nº 8 – Chanson et mélodrame N.º 8 – Canção e melodrama

Zuniga Zuniga
Avez-vous quelque chose à répondre ?... Parlez, Tem qualquer coisa a responder? Fale! Estou à
j’attends ! espera...

Carmen (fredonnant) Carmen (cantarolando)


Tra la, la, la, la, la, la, la, Tra la, la, la, la,...
coupe-moi, brûle-moi, je ne te dirai rien ! Corta-me, queima-me, nada te direi!
Tra la, la, la, la, la, la, la, Tra la, la, la, la...
je brave tout, le feu, le fer et le ciel même ! Tudo enfrento, o fogo, o ferro e até o céu!

Zuniga Zuniga
Ce ne sont pas des chansons que je te demande, Não te peço canções,
c’est une réponse. peço-te uma resposta.

Carmen 47
Carmen (chantant) Carmen (cantarolando)
Tra la, la, la, la, la, la, la, Tra, la, la, la, la...
mon secret, je le garde et je le garde bien ! O meu segredo guardo e guardo-o bem...
Tra la, la, la, la, la, la, la, Tra, la, la, la, la...
J’aime un autre et meurs en disant que je l’aime ! Amo outro, e morro dizendo que o amo!

Zuniga Zuniga
Ah ! Ah ! Nous le prenons sur ce ton-là !... Ha! Ha! Se é esse o tom que queres dar à conversa...!
(à Don José) (para D. José)
Ce qui est sûr, n’est-ce pas, c’est qu’il y a eu des O que temos a certeza é que houve facadas e foi ela
coups de couteau et que c’est elle qui les a donnés ! quem as desferiu.

(À ce moment, cinq ou six femmes à droite réussissent (Nesse momento, cinco ou seis mulheres à direita,
à forcer la ligne des factionnaires et se précipitent sur conseguem romper a barreira dos guardas da alfândega
la scène en criant.) e precipitam-se para a cena gritando:)

Des femmes Algumas mulheres


Oui, oui, c’est elle !... Sim, sim, foi ela!

Autres femmes Outras mulheres


Elle a été provoquée !... Ela foi provocada!

(Une de ces femmes se trouve près de Carmen. Celle-ci (Uma das mulheres encontra-se ao lado de Carmen;
lève la main et veut se jeter sur la femme. Don José esta levanta a mão e quer atirar-se a ela. D. José
arrête Carmen. Les soldats écartent les femmes et les detém-na. Os soldados afastam as mulheres e, desta
repoussent cette fois tout à fait hors de la scène.) vez, empurram-nas até desaparecerem de cena.)

Zuniga (à Carmen) Zuniga (a Carmen)


Eh ! Eh ! Vous avez la main leste décidément. Ei! Ei! Decididamente, tens a mão leve.

Carmen (fredonnant avec impertinence, Carmen (cantarolando com impertinência e olhando


en regardant Zuniga.) para Zuniga)
Tra la, la, la, la... Tra, la, la, la, la...

Un soldat (apportant une corde) Um soldado (trazendo uma corda)


Voilà, mon lieutenant. Aqui tem, meu tenente.

Zuniga (à Don José) Zuniga (para D. José)


Attachez-moi ces deux jolies mains. Prenda-me essas duas belas mãos.

(Carmen, sans faire le moindre résistance, tend en (Carmen sem oferecer a menor resistência, sorrindo,
souriant ses deux mains à Don José.) estende as mãos a D. José.)

Zuniga Zuniga
C’est dommage, vraiment, car elle est gentille ; vous É pena, realmente, pois ela é gentil; mas não a livra
n’en irez pas moins faire un tour à la prison. Vous de ir passar uns tempos à prisão. Lá poderá cantar
pourrez y chanter vos chansons de bohémienne. Je as suas canções ciganas. Vou emitir a ordem de
vais écrire l’ordre. prisão.

(Les mains de Carmen sont liées. On la fait asseoir sur (As mãos de Carmen estão atadas. Obrigam-na a
un banc devant le corps-de-garde. Elle reste là, sentar-se num banco diante da porta de armas. Ela
immobile, les yeux à terre.) permanece imóvel, os olhos postos no chão.)

48
Zuniga (à Don José) Zuniga (para D. José)
C’est vous qui la conduirez... Será você a levá-la até lá...
(il sort) (sai)

(Un petit moment de silence. Carmen lève les yeux et (Um pequeno momento de silêncio. Carmen ergue o
regarde Don José. Celui-ci se détourne, s’éloigne de olhar e observa D. José. Este vira as costas, afasta-se
quelques pas, puis revient à Carmen, qui le regarde alguns passos, e regressa depois a Carmen que
toujours.) continua a observá-lo.)

Carmen Carmen
Où me conduirez-vous ? Para onde me leva?

Don José D. José


A la prison, ma pauvre enfant... Para a prisão, pobre criatura...

Carmen Carmen
Hélas ! Que deviendrai-je ? Seigneur officier, ayez Ai de mim! O que será de mim? Senhor oficial, tenha
pitié de moi !... Vous êtes si jeune, si gentil !... piedade de mim... sois tão jovem, tão gentil...

(Don José ne répond pas, s’éloigne et revient, toujours (D. José não responde, afasta-se e regressa, sempre
sous le regard de Carmen.) seguido pelo olhar de Carmen.)

Carmen (bas) Carmen (em voz baixa)


Laisse-moi m’échapper, je te donnerai une petite Deixa-me escapar, dou-te uma pequena pedra que te
pierre qui te fera aimé de toutes les femmes. fará amado por todas as mulheres.

Don José (s’éloignant) D. José (afastando-se)


Nous ne sommes pas ici pour dire des balivernes... Não estamos aqui para dizer disparates...
il faut aller à la prison. C’est la consigne, et il temos de ir para a prisão. É a ordem,
n’y a pas de remède. não há outra solução.

(silence) (silêncio)

Carmen Carmen
Tout à l’heure vous avez dit : foi de Navarrais... vous Ainda há pouco disse: palavra de navarro... veio da
êtes des Provinces ?... província?

Don José D. José


Je suis d’Elizondo... Sou de Elizondo...

Carmen Carmen
Et moi d’Etchalar... E eu de Etchalar...

Don José D. José


Vous êtes Navarraise, vous ?... Mas és navarra?

Carmen Carmen
Sans doute. Sem dúvida.

Don José D. José


Allons donc... Il n’y a pas un mot de vrai… Vos yeux Ora, ora... Não acredito numa única palavra… os
seuls, votre bouche, votre teint… Tout vous dit vossos olhos, a vossa boca, a vossa tez… Tudo indica
bohémienne. que és cigana.

Carmen 49
Carmen Carmen
Bohémienne, tu crois ? Cigana, achas?

Don José D. José


J’en suis sûr... Tenho a certeza...

Carmen Carmen
Oui, je suis Bohémienne, mais tu n’en feras pas Sim, sou cigana, mas acabarás por fazer
moins ce que je te demande. Tu le feras parce que tu aquilo que eu te disser. Fá-lo-ás porque
m’aimes. me amas...

Don José D. José


Moi ! Eu!

Carmen Carmen
Eh ! Oui, tu m’aimes. Ne me dis pas non, Sim, tu amas-me! Não me digas que não, sei
je m’y connais ! Tes regards, la façon dont do que falo! Os teus olhares, o modo como
tu me parles. Et cette fleur que tu as gardée. me falas! E essa flor que guardaste! Ah !
Oh ! Tu peux la jeter maintenant... Agora podes deitá-la fora... isso já não terá
cela n’y fera rien. Le charme a opéré. importância. O feitiço já fez o seu trabalho.

Don José (avec colère) D. José (colérico)


Ne me parle plus, tu entends, je te défends Nem mais uma palavra, ouves-me? Proíbo-te
de me parler. que me fales...

Carmen Carmen
C’est très-bien, seigneur officier, c’est très-bien. Vous Pois bem, senhor oficial, pois bem. Proibiste-me de
me défendez de parler, je ne parlerai plus. falar, eu não volto a falar...

Nº 9 – Chanson et duo N.º 9 – Canção e dueto

Carmen (avec intention en regardant souvent Don José Carmen (com intenção e olhando frequentemente para
qui se rapproche peu à peu) Don José que, lentamente, se vai aproximando dela.)
Près des remparts de Séville Perto das muralhas de Sevilha,
chez mon ami Lillas Pastia, na taberna do meu amigo Lillas Pastia,
j’irai danser la Séguedille vou dançar a seguidilla
et boire du Manzanilla, e beber manzanilla
j’irai chez mon ami Lillas Pastia. na taberna do meu amigo Lillas Pastia.
Oui, mais toute seule on s’ennuie, Sim, mas sozinha é um tédio,
et les vrais plaisirs sont à deux ; e os verdadeiros prazeres têm-se a dois;
donc pour me tenir compagnie, por isso, levarei o meu amor
j’emmènerai mon amoureux ! para me fazer companhia!
Mon amoureux !... il est au diable ! O meu amor! Foi para o diabo!
Je l’ai mis à la porte hier ! Pu-lo à porta ontem.
Mon pauvre cœur, très consolable, O meu pobre coração é muito consolável,
mon cœur est libre comme l’air ! o meu coração é livre como o ar!
J’ai des galants à la douzaine ; Tenho pretendentes às dúzias,
mais ils ne sont pas à mon gré. mas nenhum deles me agrada!
Voici la fin de la semaine : Chegou o fim da semana;
qui veut m’aimer ? Je l’aimerai ! quem me quer amar? Eu amá-lo-ei.
Qui veut mon âme ? Elle est à prendre ! Quem quer a minha alma? Ela está à disposição!
Vous arrivez au bon moment ! Vocês chegam no momento certo.
Je n’ai guère le temps d’attendre, Não tenho muito tempo para esperar,

50
car avec mon nouvel amant pois com o meu novo apaixonado,
près des remparts de Séville, perto das muralhas de Sevilha,
chez mon ami Lillas Pastia, na casa do meu amigo Lillas Pastia,
j’irai danser la Séguedille vou dançar a seguidilla,
et boire du Manzanilla ; e beber manzanilla;
dimanche, j’irai chez mon ami Pastia ! domingo, irei à casa do meu amigo Pastia!

Don José D. José


Tais-toi, je t’avais dit de ne pas me parler ! Cala-te! Disse-te para não me voltares a falar!

Carmen (simplement) Carmen (muito simples)


Je ne te parle pas, je chante pour moi-même ! Não estou a falar contigo. Estou a cantar para mim.
Et je pense! Il n’est pas défendu de penser ! E estou a pensar! Não é proibido pensar!
Je pense à certain officier qui m’aime Penso num certo oficial que me ama,
et qu’à mon tour, oui, e que por sua vez, sim,
je pourrais bien aimer ! eu poderia amá-lo também!

Don José (ému) D. José (emocionado)


Carmen ! Carmen!

Carmen Carmen
Mon officier n’est pas un capitaine, O meu oficial não é general,
pas même un lieutenant, il n’est que brigadier ; nem sequer coronel. Não é mais que tenente;
mais c’est assez pour une bohémienne mas chega para uma cigana
et je daigne m’en contenter ! e não me importo de me contentar.

Don José D. José


Carmen, je suis comme un homme ivre, Carmen, sinto-me como se estivesse embriagado,
si je cède, si je me livre, se eu ceder, se me entregar a ti,
ta promesse, tu la tiendras. cumprirás a tua promessa?
Ah ! Si je t’aime, Carmen, Ah! Se eu te amar Carmen,
Carmen, tu m’aimeras ! Carmen, amar-me-ás?

Carmen Carmen
Oui. Sim.

Don José D. José


Chez Lillas Pastia… Na taberna de Lillas Pastia…

Carmen Carmen
…nous danserons la Séguedille …dançaremos a seguidilla
en buvant du Manzanilla. enquanto bebemos manzanilla.

Don José D. José


Tu le promets ! Prometes!
(déliant la corde qui attache les mains de Carmen) (desata a corda que prende as mãos de Carmen)
Carmen... Tu le promets... Carmen... prometes...

Carmen Carmen
Ah ! Près des remparts de Séville, Perto das muralhas de Sevilha,
chez mon ami Lillas Pastia, na taberna do meu amigo Lillas Pastia,
nous danserons la Séguedille vou dançar a seguidilla
et boirons du Manzanilla, e beber manzanilla
tra la la la la la la… Tra, la, la, la, la...

Carmen 51
Nº 10 – Final N.º 10 – Final
Entre Zuniga Entra Zuniga

Don José D. José


Le lieutenant ! O tenente!
Prenez garde ! Cuidado!

(Don José s’éloigne de Carmen qui va se replacer sur (D. José afasta-se de Carmen que se senta novamente
son banc, les mains derrière le dos.) no banco, com as mãos atrás das costas.)

Zuniga (à Don José) Zuniga (para D. José)


Voici l’ordre ; partez, et faites bonne garde. Está aqui a ordem, parta e vigie-a bem.

Carmen (bas à Don José) Carmen (em voz baixa para D. José)
En chemin Durante o caminho,
je te pousserai empurro-te com toda
aussi fort que je le pourrai ; a minha força;
laisse-toi renverser... le reste me regarde ! Deixa-te cair... o resto é comigo.

(Carmen se place entre les deux dragons, Don José (Carmen posiciona-se entre os dois dragões com
derrière elle. Les femmes et les jeunes gens rentrent D. José atrás dela. Lentamente, as mulheres
en scène peu à peu.) e os jovens regressam a cena.)

Carmen (fredonnant et riant au nez de Zuniga) Carmen (cantarolando e rindo na cara de Zuniga)
L’amour est enfant de Bohème, O amor é filho da Boémia,
il n’a jamais, jamais connu de loi ; filho que nunca conheceu lei;
si tu ne m’aimes pas, je t’aime ; se não me amas, amo-te eu,
si je t’aime, prends garde à toi ! e se eu te amo, tem cuidado!

(Carmen traverse la scène alors elle pousse Don José (Carmen atravessa a cena; a um dado momento,
qui se laisse renverser. Confusion, désordre, Carmen empurra D. José que se deixa cair. Confusão,
s’enfuit et se sauve pendant que sur la scène, avec de desordem; Carmen foge enquanto em cena, com
grands éclats de rire, les cigarières entourent Zuniga.) grandes gargalhadas, as cigarreiras rodeiam o tenente.)

Rideau Cai o pano

Entr’acte Entreacto

Acte II Acto II
Chez Lillas Pastia Na estalagem de Lillas Pastia
Mercédès, Frasquita et Carmen sont attablées avec Mercédès, Frasquita e Carmen estão sentadas a uma
Zuniga, Andrès et d’autres officiers. Des bohémiennes mesa com Zuniga, Andrès e outros oficiais. Ciganas
dansent. dançam.

Nº 11 – Chanson N.º 11 – Canção

Carmen Carmen
Les tringles des sistres tintaient Os címbalos dos sistros tilintavam
avec un éclat métallique, com um clamor metálico,
et sur cette étrange musique e ao som dessa música estranha
les zingarellas se levaient. levantavam-se as zingarellas.

52
Tambours de basque allaient leur train, Ressoavam os tamborins
et les guitares forcenées e guitarras furiosas rangiam
grinçaient sous des mains obstinées, sob mãos obstinadas,
même chanson, même refrain. a mesma canção, o mesmo refrão.
Tra la la la la la la… Tra, la, la, la, la...

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mercédès


Tra la la la la la la... Tra, la, la, la,la...

Carmen Carmen
Les anneaux de cuivre et d’argent Anéis de prata e cobre
reluisaient sur les peaux bistrées ; reluziam sobre peles morenas;
d’orange ou de rouge zébrées listrados de laranja e vermelho,
les étoffes flottaient au vent. tecidos esvoaçavam ao vento.
La danse au chant se mariait ; A dança unia-se ao canto,
d’abord indécise et timide, primeiro indecisa e tímida,
plus vive ensuite et plus rapide, mais viva e rápida a seguir...
cela montait ! tudo ascendia!
Tra la la la la la la… Tra, la, la, la,la...

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mercédès


Tra la la la la la la… Tra, la, la, la, la...

Carmen Carmen
Les bohémiens, à tour de bras, Incansavelmente, os ciganos,
de leurs instruments faisaient rage, levavam os instrumentos a um frenesim
et cet éblouissant tapage e o barulho ensurdecedor
ensorcelait les Zingaras. enfeitiçava as ciganas!
Sous le rythme de la chanson, Ao ritmo da canção,
ardentes, folles, enfiévrées, ardentes, loucas, febris,
elles se laissaient, enivrées, elas, embriagadas, deixavam-se transportar
emporter par le tourbillon ! pelo turbilhão!
Tra la la la la la la... Tra, la, la, la, la...

Frasquita, Mercédès Mercédès, Frasquita


Tra la la la la la la… Tra, la, la, la, la,...

(Mercédès, Frasquita et Carmen prennent part (Mercédès, Frasquita e Carmen participam


à la danse.) na dança.)

Lillas Pastia Lillas Pastia


Pardon, pardon, messieurs. Desculpem, senhores, desculpem.

Zuniga (à Lillas Pastia qui se met à tourner autour des Zuniga (para Lillas Pastia que, com um ar de embaraço,
officiers d’un air embarassé) começa a rondar os oficiais.)
Vous avez quelque chose à nous dire, maître Mestre Lillas Pastia, tem alguma coisa
Lillas Pastia ? para nos dizer?

Lillas Pastia Lillas Pastia


Mon Dieu, messieurs... Meu Deus, meus senhores...

Andrès Andrès
Parle, voyons... Fala, por quem és...

Carmen 53
Lillas Pastia Lillas Pastia
Il commence à se faire tard. Et je suis, plus que Começa a ficar tarde... e eu sou, mais do que
personne, obligé de respecter les règlements. ninguém, obrigado a respeitar a lei.

Andrès Andrès
Tu nous mets à la porte !... Estás a mandar-nos embora?

Lillas Pastia Lillas Pastia


Oh ! Non messieurs les officiers... oh ! Non... je vous Oh! Claro que não, senhores oficiais, nada disso...
fais seulement observer que mon auberge devrait Faço-vos notar apenas que a minha estalagem já
être fermée depuis dix minutes… devia estar fechada há dez minutos.
(à Carmen) (para Carmen, à parte)
Dix minutes! (Dez minutos!)

Zuniga Zuniga
Dieu sait ce qui s’y passe dans ton auberge Só Deus sabe o que se passa na tua estalagem
une fois qu’elle est fermée. mal se fecham as portas.

Lillas Pastia Lillas Pastia


Oh ! Mon lieutenant... Oh, meu tenente...

Zuniga Zuniga
Enfin ! Nous avons encore, avant l’appel, le temps Enfim! Antes do toque para a formatura ainda temos
d’aller passer une heure au théâtre. Vous y viendrez tempo para passar uma hora no teatro. Vocês vêm
avec nous, n’est-ce pas, les belles ? connosco, não é verdade ó beldades?

Frasquita Frasquita
Oui, oui au théâtre ! Sim, sim, vamos ao teatro!

(Lillas Pastia fait signe aux Bohémiennes de refuser) (Lillas Pastia faz um gesto às ciganas para recusarem)

Frasquita Frasquita
Non, messieurs les officiers, nous restons ici, nous. Não, senhores oficiais, nós ficamos aqui...

Zuniga Zuniga
Comment, vous ne viendrez pas... Como assim? Não vêm connosco?

Mercédès Mercédès
C’est impossible... É impossível...

Andrès Andrès
Mercédès ! Mércedès!

Mercédès Mercédès
Je regrette... Lamento...

Andrès Andrès
Frasquita ! Frasquita!

Frasquita Frasquita
Je suis désolée... Tenho muita pena...

54
Zuniga Zuniga
Mais toi, Carmen... je suis bien sûr que tu ne Mas tu, Carmen... tenho a certeza de que não
refuseras pas. recusarás.

Carmen Carmen
C’est ce qui vous trompe, mon lieutenant... je refuse. Pois engana-se, meu tenente. Recuso.

(Pendant que Zuniga parle à Carmen, Andrès et les (Enquanto o Zuniga fala com Carmen, Andrès e os dois
deux autres lieutenants essaient de fléchir Frasquita et outros tenentes tentam demover Frasquita e Mércèdes.)
Mercédès.)

Zuniga Zuniga
Tu m’en veux ? Guardas-me rancor?

Carmen Carmen
Pourquoi vous en voudrais-je ? E porque haveria eu de lhe guardar rancor?

Zuniga Zuniga
Parce qu’il y a un mois j’ai eu la cruauté de t’envoyer Porque há um mês atrás tive a crueldade de te
à la prison... mandar para a prisão...

Carmen (comme si elle ne se rappelait pas) Carmen (como se não se lembrasse)


À la prison ? Para a prisão?
À la prison... je ne souviens pas d’être allée Para a prisão... não me lembro de ter ido para
à la prison... a prisão...

Zuniga Zuniga
Je sais bien, pardieu, que tu n’y es pas allée. Le Sei muito bem que não foste, caramba! O brigadeiro
brigadier qui était chargé de te conduire ayant jugé à destacado para te acompanhar achou por bem
propos de te laisser échapper et de se faire dégrader deixar-te escapar, ser despromovido e ir para a
et emprisonner pour cela. prisão por causa disso.

Carmen Carmen
Mais il en est sorti? Mas já saiu?

Zuniga Zuniga
Depuis hier seulement ! Só ontem!

Carmen Carmen
Tout est bien puisqu’il en est sorti, tout est bien. Então, se já saiu, tudo está bem...

Nº 12 – Chœur et ensemble N.º 12 – Coro e ensemble

Amis d’Escamillo (derrière la scène) Amigos de Escamillo (fora de cena)


Vivat ! Vivat le torero ! Viva, viva, toureiro!
Vivat ! Vivat Escamillo ! Viva, viva, Escamillo!
Vivat ! Vivat ! Vivat ! Viva! Viva!

Zuniga Zuniga
Qu’est-ce que c’est que ça ? O que se passa?

Carmen 55
Amis d’Escamillo Amigos de Escamillo
Jamais homme intrépide Nunca homem tão intrépido
n’a par un coup plus beau, liquidou o touro
d’une main plus rapide, de um golpe tão belo,
terrassé le taureau ! de um golpe tão rápido!

Mercédès Mercédès
Une promenade aux flambeaux... É um cortejo triunfal com tochas...

Andrès Andrès
Et qui promène-t-on ? E quem festejam?

Amis d’Escamillo Amigos de Escamillo


Vivat ! Viva le torero ! Viva, viva Toureiro!
Viva, Escamillo, viva ! Viva, Escamillo, viva!

Frasquita Frasquita
Je le reconnais... C’est Escamillo... un torero qui s’est Estou a reconhecê-lo... É Escamillo... um toureiro
fait remarquer aux dernières courses de Grenade. que brilhou nas últimas corridas de Granada.

Andrès Andrès
Nous boirons en son honneur ! Vamos brindar em sua honra!

Zuniga Zuniga
C’est cela, je vais l’inviter. Isso mesmo! Vou convidá-lo.
(il va à la fenêtre) (dirige-se à janela)
Monsieur le torero... voulez-vous nous faire l’amitié Senhor toureiro... quer ter a gentileza de subir?
de monter ici ? Vous y trouverez des gens qui aiment Encontrará aqui pessoas que muito gostam
fort tous ceux qui, comme vous, ont de l’adresse de todos aqueles que, tal como vós, têm destreza
et du courage... e coragem.
(quittant la fenêtre) (deixando a janela)
Il vient... Ele vem aí.

Lillas Pastia (suppliant) Lillas Pastia (suplicante)


Messieurs, les officiers, je vous avais dit... Senhores oficiais, já vos tinha dito...

Zuniga Zuniga
Maître Lillas Pastia faites-nous apporter Mestre Lillas Pastia traga-nos qualquer coisa
de quoi boire... para beber...

(entrée d’Escamillo et de ses amis) (entrada de Escamillo e dos seus amigos)

Zuniga, officiers et amis d’Escamillo Zuniga, oficiais e amigos de Escamillo


Vivat ! Vivat le torero ! Viva, viva, toureiro!

Frasquita, Mercédès, Carmen, Andrès, Zuniga, chœur Frasquita, Mercédès, Carmen, Andrès, Zuniga, coro
Vivat ! Vivat le torero ! Viva o toureiro! Viva Escamillo!
Vivat ! Vivat Escamillo ! Viva! Viva Escamillo!

Nº 13 – Couplets N.º 13 – Couplets

56
Escamillo Escamillo
Votre toast, je peux vous le rendre, Senhores, posso retribuir o vosso brinde,
señors, car avec les soldats pois toureiros e soldados
oui, les toreros peuvent s’entendre ; entendem-se bem!
pour plaisirs ils ont les combats ! Ambos combatem pelo prazer!
Le cirque est plein, c’est jour de fête ! A praça de touros está cheia, é dia de festa!
Le cirque est plein du haut en bas ; A praça está a abarrotar!
les spectateurs perdant la tête, Os espectadores, fora de si,
les spectateurs s’interpellent à grands fracas ! gritam a plenos pulmões.
Apostrophes, cris et tapage Provocações, gritos e barulho
poussés jusques à la fureur ! levados ao furor!
Car c’est la fête du courage ! Pois é a festa da coragem!
C’est la fête des gens de cœur ! É a festa das gentes de coração aguerrido!
Allons ! En garde ! Vamos, en garde!
Allons ! Allons ! Ah ! Vamos, vamos!
Toréador, en garde ! Toureiro, en garde!
Toréador ! Toréador ! Toureiro! Toureiro!
Et songe bien, oui, songe en combattant E pensa, sim, pensa bem, que durante o combate
qu’un œil noir te regarde um olho negro espreita
et que l’amour t’attend ! e o amor espera por ti!

Tous Todos
Toréador, en garde ! Toureiro, en garde!
Toréador ! Toréador ! Toureiro, toureiro!
En combattant, songe qu’un œil noir te regarde E pensa que durante o combate, um olho negro espreita
et que l’amour t’attend ! e o amor espera por ti!

Escamillo Escamillo
Tout d’un coup, on fait silence. Subitamente, faz-se silêncio.
... Ah ! Que se passe-t-il ? Ah! O que se passa?
Plus de cris, c’est l’instant ! Cessam os gritos, chegou o momento!
Le taureau s’élance en bondissant hors du toril ! O touro atira-se aos saltos surgido do touril!
Il s’élance ! Il entre, il frappe !... un cheval roule, Investe, entra, ataca! Cai um cavalo,
entraînant un picador. cai arrastando um picador.
« Ah ! Bravo ! Toro ! » hurle la foule, «Ah, bravo touro!», ruge a multidão,
le taureau va... il vient... il vient et frappe encor! o touro recua... regressa... e volta a atacar!
En secouant ses banderilles, Agitando as bandarilhas,
plein de fureur, il court !... enfurecido, ele corre!
le cirque est plein de sang ! A arena fica cheia de sangue!
On se sauve, on franchit les grilles !... Todos fogem pela vida, trepam para o curro!
C’est ton tour maintenant ! Chegou agora a tua vez!
Allons ! En garde ! Vamos! En garde!
Allons ! Allons ! Ah ! Vamos! Vamos!
Et songe bien, oui, songe en combattant E pensa, sim, pensa bem, que durante o combate
qu’un œil noir te regarde um olho negro espreita
et que l’amour t’attend. e o amor espera por ti!

(on boit, on échange des poignées de main avec le torero) (todos bebem e cumprimentam o toureiro)

Lillas Pastia Lillas Pastia


Messieurs les officiers, je vous en prie. Senhores oficiais, peço-vos...

Carmen 57
Zuniga Zuniga
C’est bien, c’est bien, nous partons. Pronto, está bem, vamo-nos embora.

(Les officiers commencent à se préparer à partir. (Os oficiais prepararam-se para partir. Escamillo está
Escamillo se trouve près de Carmen.) perto de Carmen.)

Escamillo Escamillo
Dis-moi ton nom, et la première fois que je frapperai Diz-me como te chamas e quando voltar a matar
le taureau, ce sera ton nom que je prononcerai. um touro será o teu nome que pronunciarei.

Carmen Carmen
Je m’appelle Carmen. Chamo-me Carmen.

Escamillo Escamillo
La Carmencita? La Carmencita?

Carmen Carmen
Carmen, la Carmencita, comme tu voudras. Carmen, la Carmencita, como quiseres.

Escamillo Escamillo
Et bien, Carmen, ou la Carmencita, si je m’avisais Pois bem, Carmen, ou la Carmencita, se me
de t’aimer et de vouloir être aimé de toi, qu’est-ce dispusesse a amar e querer ser amado por ti,
que tu me répondrais ? qual seria a tua resposta?

Carmen Carmen
Je répondrais que tu peux m’aimer tout à ton aise, Responderia que és livre de me amar, mas quanto a
mais que quant à être aimé de moi pour le moment, seres amado de volta, neste momento será melhor
il n’y faut pas songer ! não pensares nisso.

Escamillo Escamillo
Ah ! Ah!

Carmen Carmen
C’est comme ça. É assim mesmo.

Escamillo Escamillo
J’attendrai alors et je me contenterai d’espérer... Resta-me portanto esperar e não perder a esperança...

Carmen Carmen
Il n’est pas défendu d’attendre et il est toujours Não é proibido esperar e é sempre agradável
agréable d’espérer. ter esperança.

Andrès (à Frasquita et Mercédès) Andrès (para Frasquita e Mercédès)


Vous ne venez pas décidément ? Decididamente, não vêm?

Mercédès et Frasquita (sur un nouveau signe de Lillas Mercédès e Frasquita (De novo, avisadas por Lillas
Pastia) Pastia.)
Mais non, mais non... Claro que não, claro que não...

Andrès (à Zuniga) Andrès (para Zuniga)


Mauvaise campagne. Má estratégia...

58
Zuniga Zuniga
Bah ! La bataille n’est pas encore perdue. Ora! Mas a batalha ainda não está perdida.
(bas à Carmen) (Para Carmen, em voz baixa.)
Écoute-moi, Carmen, puisque tu ne veux pas venir Escuta-me, Carmen, uma vez que não queres vir
avec nous, c’est moi qui dans une heure reviendrai ici. connosco, eu voltarei aqui dentro de uma hora.

Carmen Carmen
Je ne vous conseille pas de revenir... Aconselho-vos a não vir...

Zuniga (riant) Zuniga (rindo)


Je reviendrai tout de même. Mesmo assim, voltarei.
(haut) (em voz alta)
Nous partons avec vous, torero, et nous nous Toureiro, iremos contigo, e juntar-nos-emos ao
joindrons au cortège qui vous accompagne. cortejo que te acompanha.

Escamillo Escamillo
C’est un grand honneur pour moi. Para mim será uma grande honra!

Nº 13 bis Chœur N.º 13 bis Coro


Tout le monde sort, à l’exception de Carmen, Frasquita, Saem todos à excepção de Carmen, Frasquita,
Mercédès et Lillas Pastia. Carmen suit Escamillo Mercédès e de Lillas Pastia. Durante muito tempo,
longtemps des yeux. Carmen segue Escamillo com o olhar.

Frasquita (à Lillas Pastia) Frasquita (a Lillas Pastia)


Pourquoi nous as-tu fait signe de ne pas les suivre ?... Por que nos fizeste sinal para não irmos com eles?

Lillas Pastia Lillas Pastia


Dancaïre et Remendado viennent d’arriver... Dancaïre e Remendado acabam de chegar...

Carmen Carmen
Dancaïre et Remendado ?... Dancaïre e Remendado?

Lillas Pastia (ouvrant une porte et appelant du geste) Lillas Pastia (abrindo uma porta e chamando-os
Oui, les voici... tenez... com um gesto)
Sim, cá estão eles! Vejam...

(Entrent Dancaïre et Remendado. Lillas Pastia ferme les (Entram Dancaïre e Remendado. Lillas Pastia fecha as
portes, met les volets.) portas, baixa as cortinas.)

Frasquita Frasquita
Eh bien, les nouvelles ? Então, quais são as novidades?

Dancaïre Dancaïre
Pas trop mauvaises les nouvelles, nous arrivons As novidades não são muito más; chegámos
de Gibraltar... de Gibraltar...

Remendado Remendado
Jolie ville, Gibraltar !... On y voit des Anglais, Bela cidade, Gibraltar! Vêem-se ingleses, muitos
beaucoup d’anglais, de jolis hommes les anglais : ingleses... belos homens, os ingleses; um tanto frios,
un peu froids, mais distingués. mas distintos.

Carmen 59
Dancaïre Dancaïre
Et les femmes ?... E as mulheres?

Remendado Remendado
Patron... Patrão...

Dancaïre (mettant la main sur son couteau) Dancaïre (levando a mão à faca)
Taisez-vous ! Cale-se!

Remendado (imitant Dancaïre) Remendado (imitando Dancaïre)


«Taisez-vous !» «Cale-se!»

Dancaïre Dancaïre
Taisez-vous alors. Nous avons arrangé avec un patron Então, cala-te. Já tratámos do embarque das
de marchandises. Nous irons les attendre près de la mercadorias. Vamos esperá-las perto da costa,
côte, nous en cacherons une partie dans la esconder uma parte na montanha e fazer passar
montagne et nous ferons passer le reste. Tous nos o resto. Todos os nossos camaradas foram
camarades ont été prévenus mais c’est de vous trois prevenidos, mas é acima de tudo de vocês
surtout que nous avons besoin. as três que precisamos.

Nº 14 – Quintette N.º 14 – Quinteto

Dancaïre Dancaïre
Nous avons en tête une affaire ! Temos em mente um negócio!

Frasquita Frasquita
Est-elle bonne, dites-nous ? E é bom? Digam-nos...

Mercédès Mercédès
Est-elle bonne, dites-nous ? E é bom? Digam-nos...

Dancaïre Dancaïre
Elle est admirable, ma chère; Admirável, minha querida;
mais nous avons besoin de vous. mas precisamos de vocês.

Remendado Remendado
Oui, nous avons besoin de vous. Sim, precisamos de vocês!

Carmen Carmen
De nous ? De nós?

Dancaïre Dancaïre
De vous ! De vós!

Mercédès Mercédès
De nous ? De nós?

Remendado Remendado
De vous ! De vós!

Frasquita Frasquita
De nous ? De nós?

60
Remendado, Dancaïre Remendado, Dancaïre
De vous ! De vós!

Frasquita, Mercédès, Carmen Frasquita, Mercédès, Carmen


De nous ? De nós?
Quoi, vous avez besoin de nous ? O quê? Precisam de nós?

Remendado, Dancaïre Remendado, Dancaïre


Oui, nous avons besoin de vous ! Sim, precisamos de vocês.
Car nous l’avouons humblement Confessamo-lo com humildade
et fort respectueusement, e muito respeito,
quand il s’agit de tromperie, quando se trata de enganar,
de duperie, de volerie, de ludibriar e de roubar,
il est toujours bon, sur ma foi, é sempre conveniente, sem dúvida,
d’avoir les femmes avec soi. ter mulheres a nosso lado.
Et sans elles, E, sem elas,
mes toutes belles, as minhas belas,
on ne fait jamais rien nunca se faz nada
de bien! de bom!

Frasquita, Mercédès, Carmen Frasquita, Mercédès, Carmen


Quoi, sans nous jamais rien O quê? Sem nós nada se faz
de bien ? de bom?

Remendado, Dancaïre Remendado, Dancaïre


N’êtes-vous pas de cet avis ? Não são dessa opinião?

Frasquita, Mercédès, Carmen Frasquita, Mercédès, Carmen


Si fait, je suis Claro que somos
de cet avis. da vossa opinião.

Dancaïre Dancaïre
C’est dit, alors vous partirez ? Assim será! Vêm connosco?

Mercédès Mercédès
Quand vous voudrez. Quando quiserem.

Frasquita Frasquita
Quand vous voudrez. Quando quiserem.

Dancaïre Dancaïre
Mais... tout de suite... Mas é para já!

Carmen Carmen
Ah ! Permettez... permettez! Se me dão licença... Desculpem!
(à Mercédès et à Frasquita) (para Mercédès e Frasquita)
S’il vous plaît de partir... partez ! Se vos apetece partir, isso é convosco...!
Mais je ne suis pas du voyage. Mas não vos farei companhia.
Je ne pars pas, je ne pars pas ! Não parto... e não parto mesmo!

Dancaïre, Remendado Remendado, Dancaïre


Carmen, mon amour, tu viendras, Carmen, minha querida, virás connosco
et tu n’auras pas le courage e não terás coragem
de nous laisser dans l’embarras ! de nos deixar mal!

Carmen 61
Carmen Carmen
Je ne pars pas, je ne pars pas ! Não irei, não irei!

Le Dancaïre Dancaïre
Mais au moins la raison, Carmen, tu la diras. Mas, Carmen, poderás, ao menos, explicar-nos qual a razão...

Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre


La raison ! La raison ! La raison ! Qual é? Qual é?

Carmen Carmen
Je la dirai certainement... Mas claro que vos explicarei...

Dancaïre, Remendado, Mercédès, Frasquita Dancaïre, Remendado, Mercédès, Frasquita


Voyons ! Voyons ! Voyons ! Somos todos ouvidos!

Carmen Carmen
La raison, c’est qu’en ce moment... A razão é que neste momento...

Remendado, Dancaïre, Frasquita, Mercédès Remendado, Dancaïre, Frasquita, Mercédès


Eh bien ? Eh bien ? Eh bien ? Então? Então? Então?

Carmen Carmen
… je suis amoureuse ! ... estou apaixonada!

Remendado, Dancaïre (stupéfaits) Remendado, Dancaïre (estupefactos)


Qu’a-t-elle dit ? Que disse ela?

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mércèdes


Elle dit qu’elle est amoureuse ! Disse que estava apaixonada!

Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre


Amoureuse ! Apaixonada!

Carmen Carmen
Oui, amoureuse ! Sim, apaixonada!

Dancaïre Dancaïre
Voyons, Carmen ! Sois sérieuse. Carmen, então! Não brinques...

Carmen Carmen
Amoureuse à perdre l’esprit ! Apaixonada... perdidamente!

Remendado, Dancaïre (un peu ironiques) Remendado, Dancaïre (algo irónicos)


La chose, certes, nous étonne, Certamente que a notícia nos espanta,
mais ce n’est pas le premier jour mas não é a primeira vez que tu,
où vous aurez su, ma mignonne, minha querida, saberás
faire marcher de front le devoir et l’amour. dar a primazia ao dever e aliar o dever ao amor.

Carmen (franchement) Carmen (num tom sincero)


Mes amis, je serais fort aise Meus amigos, bem gostaria
de partir avec vous ce soir ; de partir convosco esta noite;
mais cette fois, ne vous déplaise, porém, perdoar-me-ão desta vez,
il faudra que l’amour passe avant le devoir. mas o amor está primeiro que o dever.
Ce soir l’amour passe avant le devoir ! Esta noite, o amor está primeiro que o dever!

62
Dancaïre Dancaïre
Ce n’est pas là ton dernier mot ? É a tua última palavra?

Carmen Carmen
Absolument ! Absolutamente!

Remendado Remendado
Il faut que tu te laisses attendrir ! Deixa que te convençamos.

Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre


Il faut venir, Carmen, il faut venir ! É preciso que venhas, Carmen, é preciso que venhas!
Pour notre affaire, É necessário
c’est nécessaire ; para o nosso negócio,
car entre nous... pois entre nós...

Carmen Carmen
Quant à cela, j’admets bien avec vous… Quanto a isso, admito que convosco...

Tous les cinq Os cinco


… quand il s’agit de tromperie, …quando se trata de enganar,
de duperie, de volerie, de ludibriar e de roubar,
il est toujours bon, sur ma foi, é sempre bom, palavra de honra,
d’avoir les femmes avec soi. ter mulheres a nosso lado.
Et sans elles, les toutes belles, E sem elas, sem essas beldades,
on ne fait jamais rien de bien ! nunca se faz nada bem!

Dancaïre Dancaïre
En voilà assez ; je t’ai dit qu’il fallait venir, et tu Basta; já te disse que é preciso que venhas,
viendras... ! Je suis le chef... ! e vens mesmo! Eu sou o chefe!

Carmen Carmen
Comment dis-tu ça ? Como podes dizer isso?

Dancaïre Dancaïre
Je te dis que je suis le chef... ! Já te disse que o chefe sou eu!

Carmen Carmen
Et tu crois que je t’obéirai ?... E achas que te obedecerei?

Dancaïre (furieux) Dancaïre (furioso)


Carmen !... Carmen!

Carmen (très-calme) Carmen (muito calma)


Eh bien !... Pois bem...!

Remendado (se jetant entre Dancaïre et Carmen) Remendado (interpondo-se entre Dancaïre e Carmen)
Je vous en prie... des personnes si distingués... Então, por favor... pessoas tão distintas...

Le Dancaïre (envoyant un coup de pied que Dancaïre (dando um pontapé a que Remendado
Remendado évite) consegue escapar)
Attrape ça, toi... Toma lá...!

Carmen 63
Carmen Carmen
Partez sans moi... j’irai vous rejoindre demain ; Partam sem mim... irei ter convosco amanhã...
mais pour ce soir je reste. mas esta noite, fico aqui.

Frasquita Frasquita
Je ne t’ai jamais vue comme cela ; Nunca te vi assim; afinal,
qui attends-tu, donc ?... estás à espera de quem?

Carmen Carmen
Un pauvre diable de soldat qui m’a rendu service... De um pobre soldado que me prestou um serviço...

Mercédès Mercédès
Ce soldat qui était en prison ? O soldado que estava na prisão?

Carmen Carmen
Oui !... Sim.

Frasquita Frasquita
Et à qui le geôlier a remis de ta part un pain dans E a quem o carcereiro entregou da tua parte um pão
lequel il y avait une pièce d’or et une lime ? com uma moeda de ouro e uma lima?

Carmen (remontant vers la fenêtre) Carmen (dirigindo-se para a janela)


Oui. Sim.

Dancaïre Dancaïre
Il s’en est servi de cette lime ?... E ele utilizou essa lima...?

Carmen Carmen
Non. Não.

Dancaïre Dancaïre
Tu vois bien ! Ton soldat aura eu peur ; ce soir Estás a ver? O teu soldado deve ter tido medo; e terá
encore il aura peur... je parie qu’il ne viendra pas. medo também esta noite. Aposto que não vem.

Carmen Carmen
Ne parie pas, tu perdrais... Não apostes que perdes...

Nº 15 – Chanson N.º 15 – Canção

Don José (dans la coulisse de très loin) D. José (Nos bastidores, de muito longe.)
Halte-là ! Alto!
Qui va là ? Quem vem aí?
« Dragon d’Alcala ! » «Dragão de Alcalá!»
Où t’en vas-tu par là, Por onde vais por esse caminho,
dragon d’Alcala ? dragão de Alcalá?
« Moi, je m’en vais faire, «Vou fazer
mordre la poussière morder o pó
à mon adversaire. » ao meu adversário.»
S’il en est ainsi, Se assim é,
passez, mon ami. passa meu amigo.
Affaire d’honneur, Questões de honra,
affaire de cœur, questões do coração,
pour nous tout est là, eis o lema
dragons d’Alcala ! dos dragões de Alcalá!

64
(Carmen, Dancaire, Remendado, Mercédès et Frasquita (Carmen, Dancaïre, Remendado, Mercédès e Frasquita
regardant, par les volets entrouverts, venir Don José.) vêem chegar D. José pelas frinchas das persianas)

Mercédès Mercédès
C’est un dragon, ma foi. Mas afinal é um dragão!

Frasquita Frasquita
Et un beau dragon. E que belo dragão.

Dancaïre (à Carmen) Dancaïre (para Carmen)


Eh bien, puisque tu ne veux pas venir que demain tu Pois bem, já que só queres ir amanhã,
devrais décider ton dragon à venir avec toi et à se terás de convencer o teu dragão a ir contigo
joindre à nous. e juntar-se a nós.

Carmen Carmen
Il est trop niais. Ele é demasiado simplório.

Dancaïre Dancaïre
Pourquoi l’aimes-tu puisque tu conviens toi-même... Porque é que o amas se tu própria concordas que...

Carmen Carmen
Parce qu’il est joli garçon donc et qu’il me plaît. Porque é um belo rapaz e me agrada.

Remendado (avec fatuité) Remendado (com fatuidade)


Le patron ne comprend pas ça, lui... qu’il suffise O patrão não compreende isso... que basta ser um
d’être joli garçon pour plaire aux femmes. belo rapaz para agradar às mulheres.

(Remendado se sauve et sort. Dancaïre le poursuit et (Remendado foge e sai. Dancaïre segue-o e leva com
sort à son tour entraînant Mercédès et Frasquita qui ele Mercédès e Frasquita que tentam acalmá-lo.)
essaient de le calmer.)

Chanson Canção

Don José (la voix se rapproche peu à peu) D. José (a voz aproxima-se cada vez mais)
Halte-là ! Alto!
Qui va là ? Quem vem aí?
« Dragon d’Alcala ! » «Dragão de Alacalá!»
Où t’en vas-tu par là, Por onde vais por esse caminho,
dragon d’Alcala ? dragão de Alcalá?
« Exact et fidèle, «Fiel e verdadeiro,
je vais où m’appelle vou para onde
l’amour de ma belle ! » me chama o amor da minha beldade!»
S’il en est ainsi, Se assim é,
passez, mon ami. passa meu amigo.
Affaire d’honneur, Caso de honra,
affaire de cœur, caso do coração,
pour nous tout est là, eis o lema
dragons d’Alcala ! dos dragões de Alcalá!

(entre Don José) (entra D. José)

Don José D. José


Carmen ! Carmen!

Carmen 65
Carmen Carmen
C’est toi enfin... Tu! Finalmente...
(mettant ses deux mains dans les mains de José) (Segurando com ambas as mãos, as mãos de D. José.)
Je paie mes dettes... c’est notre loi à nous autres Pago sempre as minhas dívidas... é a nossa lei, a lei
bohémiennes. Je paie mes dettes. dos ciganos. Pago sempre as minhas dívidas.

Don José D. José


Mademoiselle, je crois que j’ai à vous remercier d’un Donzela, creio que tenho de agradecer-lhe um
présent que vous m’avez envoyée quand j’étais en prison. presente que me mandou quando estive preso.

Carmen Carmen
Oui, je t’avais envoyé un pain avec une lime pour Sim, mandei-te um pão com uma lima para serrares
scier le plus gros barreau de la prison, et deux a barra mais grossa da prisão e duas piastras para
piastres pour acheter un habit bourgeois. comprares um fato de burguês.

Don José D. José


J’ai mangé le pain, la lime je la garde comme un Comi o pão; a lima guardo-a como
souvenir de vous. recordação vossa.
(lui tendant la pièce d’or) (estendendo-lhe a moeda de ouro)
Quant à l’argent… Quanto ao dinheiro...

Carmen Carmen
Tiens, il l’a gardé !... Não acredito! Guardou-a!
Holà !... Lillas Pastia !... Holà ! Holà !... Ei, Lillas Pastia! Ei! Ei!

(entre Lillas Pastia) (entra Lillas Pastia)

Lillas Pastia (l’empêchant de crier) Lillas Pastia (impedindo-a de gritar)


Prenez donc garde... Cuidado...

Carmen (lui jetant la pièce) Carmen (atirando-lhe a moeda)


Tiens, attrape et apporte-nous des fruits confits ; Toma, apanha! E traz-nos frutas cristalizadas,
apporte-nous des bonbons, apporte-nous des rebuçados, traz-nos laranjas, traz-nos Manzanilla...
oranges, apporte-nous du Manzanilla. Apporte-nous traz-nos de tudo o que tiveres, de tudo, de tudo!
de tout ce que tu as, de tout, de tout...

Lillas Pastia Lillas Pastia


Tout de suite, mademoiselle Carmencita. É para já, Carmencita!
(il sort) (sai)

Carmen Carmen
Je paie mes dettes ! Je paie mes dettes. Eu pago sempre as minhas dívidas! Eu pago sempre
as minhas dívidas!

Don José D. José


Ah ! Carmen ! Carmen… Ah, Carmen! Carmen...

66
Carmen (à Lillas Pastia) Carmen (para Lillas Pastia)
Ça ne fait rien, sauve-toi. Deixa lá, some-te.
(Lillas Pastia sort) (Lillas Pastia sai)
Mets-toi là et mangeons de tout ! De tout ! De tout ! Põe-te ali e vamos comer de tudo! De tudo! De tudo!

(Elle est assise ; Don José s’assied en face d’elle.) (Ela senta-se; D. José senta-se à frente dela.)

Don José D. José


Tu croques les bonbons comme un enfant Tu comes rebuçados como uma criança
de six ans... de seis anos...

Carmen Carmen
C’est que je les aime. Ton lieutenant était ici tout à É porque gosto muito! Ainda há momentos, o teu
l’heure, avec d’autres officiers, il m’a fait danser la tenente esteve aqui com outros oficiais e obrigou-me
Romalis. a dançar a Romalis1...

Don José D. José


Carmen !... Carmen!

Carmen Carmen
Qu’est-ce que tu as ?... Est-ce que tu serais jaloux, O que se passa…? Estás por acaso
par hasard ?... com ciúmes?

Don José D. José


Mais certainement, je suis jaloux... Claro que tenho ciúmes...

Carmen Carmen
Pourquoi es-tu jaloux ? Parce que j’ai dansé tout à E por que tens ciúmes? Porque dancei há momentos
l’heure pour ces officiers ? Eh bien, si tu le veux, je para aqueles oficiais? Pois bem, se quiseres, posso
danserai pour toi maintenant, pour toi tout seul. dançar agora para ti, só para ti.

Don José D. José


Si je le veux, je crois bien que je le veux. Sim, quero! Claro que quero!

Carmen Carmen
Où sont mes castagnettes... ? Qu’est-ce que j’ai fait Onde estão as minhas castanholas? Que fiz eu às
de mes castagnettes ? (en riant) minhas castanholas? (rindo)
C’est toi qui me les a prises, mes castagnettes ? Foste tu que lhes mexeste, nas minhas castanholas?

Don José D. José


Mais non ! Nem pensar!

Carmen (tendrement) Carmen (ternamente)


Mais si ! Mais si ! Ah ! Bah ! En voilà des Ai foste tu, foste! Pronto! Já temos
castagnettes... ! castanholas...!
(Elle casse une assiette, avec deux morceaux de (Parte um prato, e com os cacos faz umas castanholas
faïence, se fait des castagnettes et les essaie.) e experimenta-as.)

1
Dança flamenca de inspiração árabe acompanhada de
canto. É oriunda da província da Andaluzia e antecessora
das suas variantes mais próximas: o ole e o polo.

Carmen 67
Don José D. José
Ah, que je t’aime Carmen, que je t’aime. Ah, Carmen, como te amo, como te amo!

Carmen Carmen
Je l’espère bien. Assim o espero.

Nº 16 – Duo N.º 16 – Dueto

Carmen (avec une solennité comique) Carmen (com uma solenidade cómica)
Je vais danser en votre honneur, Vou dançar em tua honra
et vous verrez, seigneur, e verás, senhor,
comment je fais claquer ces morceaux de faïence ! como eu própria sei acompanhar a minha dança.
(faisant asseoir Don José) (obrigando D. José a sentar-se)
Mettez-vous là, Don José ; je commence ! Don José, senta-te ali. Vou começar!
(Dansant et fredonnant en s’accompagnant des (Dança e cantarola fazendo-se acompanhar pelas
castagnettes. Don José regarde Carmen en extase.) castanholas. D. José olha extasiado para Carmen.)
La la la la la la la la La, la, la, la, la...
la la la la la la la la… La, la, la, la, la...

(On entend au loin des clairons. Don José prend les (De muito longe, ouve-se o toque das cornetas. D. José
bras de Carmen et l’oblige à s’arrêter.) agarra um braço de Carmen e obriga-a a parar.)

Don José D. José


Attends un peu, Carmen, rien qu’un moment... arrête… Carmen, um momento, um momento apenas, pára!

Carmen (étonnée) Carmen (surpreendida)


Et pourquoi, s’il te plaît ? E dir-me-ás porquê?

Don José D. José


Il me semble... là-bas... Pareceu-me... ao longe...
Oui, ce sont nos clairons qui sonnent la retraite. Sim, são as nossas cornetas que tocam o recolher!
(les clairons se rapprochent) (o toque das cornetas aproxima-se)
Ne les entends-tu pas ? Não as ouves?

Carmen (avec entrain) Carmen (com entusiasmo)


Bravo! Bravo ! J’avais beau faire. Il est mélancolique Óptimo! Óptimo! Estava a fazer o meu melhor... mas
de danser sans orchestre... Et vive la musique é triste dançar sem orquestra... Viva a música
qui nous tombe du ciel ! que nos cai do céu!
(Dansant et jouant des castagnettes. Don José se remet (Dança e toca castanholas. D. José volta a olhar para
à regarder Carmen. Les clairons passent devant ela. As cornetas passam frente à estalagem; as
l’auberge. Les clairons s’éloignent.) cornetas afastam-se.)

Carmen Carmen
La la la la la la La, la, la, la...
la la la la la la… La, la, la, la...

(Nouvel effort de Don José pour s’arracher à sa (Nova tentativa de D. José para arrancar Carmen
contemplation ; il oblige Carmen à s’arrêter.) do seu estado de concentração. Obriga-a a parar.)

68
Don José D. José
Tu ne m’a pas compris. Carmen... c’est la retraite ! Carmen, não percebeste. Carmen... é o recolher!
Il faut que moi, je rentre au quartier pour l’appel ! Tenho de regressar ao quartel para a formatura!

Carmen (stupéfaite et regardant Don José qui remet sa Carmen (estupefacta, olha para D. José que põe a
giberne et rattache son ceinturon) cartucheira e aperta o cinturão.)
Au quartier !... pour l’appel !... Para o quartel!... Para a formatura!...
(éclatant) (furiosa)
Ah ! J’étais vraiment trop bête! Ah, que ingénua fui!
Je me mettais en quatre et je faisais des frais Desdobrei-me em quatro, resisti às consequências,
pour amuser monsieur ! Je chantais ! Je dansais ! para divertir sua excelência! Eu cantava! Eu dançava!
Je crois, Dieu me pardonne, Acreditava até, Deus me perdoe,
qu’un peu plus, je l’aimais ! que mais um tempo e até o amava!
Ta ra ta ta... c’est le clairon qui sonne ! Ta ra ta ta! É o toque da corneta!
Ta ra ta ta... Il part... il est parti ! Ta ra ta ta! Ele vai-se embora, já partiu!
Va-t’en donc, canari ! Então, vai-te embora, canário2!
(Avec fureur, en lui envoyant son shako à la volée.) (Enfurecida, atirando-lhe o shako pelos ares.)
Tiens ! Prends ton shako, ton sabre, ta giberne, Toma! Pega no capacete, na espada, na cartucheira,
et va-t’en, mon garçon, va t’en ! Retourne à ta caserne! e vai-te daqui, meu rapaz, regressa à tua caserna!

Don José (avec tristesse) D. José (triste)


C’est mal à toi, Carmen, de te moquer de moi ! Quão cruel da tua parte é troçares de mim!
Je souffre de partir, car jamais, Custa-me partir, porque nunca,
jamais femme avant toi nunca uma mulher antes de ti
aussi profondément n’avait troublé mon âme ! perturbou tão profundamente a minha alma!

Carmen (en exagérant le ton passionné de Don José) Carmen (exagerando o tom apaixonado de D. José)
Il souffre de partir, car jamais femme Custa-lhe partir daqui, pois nunca uma mulher
avant moi antes de mim,
aussi profondément n’avait troublé son âme ! perturbou tão profundamente a sua alma!
Ta ra ta ta... mon Dieu ! C’est la retraite ! Ta ra ta ta! Meu Deus! É o recolher!
Ta ra ta ta... je vais être en retard. Ta ra ta ta! Vou chegar atrasado!
Ô mon Dieu ! Ô mon Dieu ! C’est la retraite ! Meu Deus, meu Deus! É o recolher!
Je vais être en retard ! Il perd la tête ! Il court ! Vou chegar atrasado! Ele enerva-se! Corre!
Et voilà son amour ! E é assim o seu amor!

Don José D. José


Ainsi tu ne crois pas É assim que acreditas
à mon amour ? no meu amor?

Carmen Carmen
Mais non ! Claro que sim!

Don José D. José


Eh bien ! Tu m’entendras ! Pois bem, ouve-me!

Carmen Carmen
Je ne veux rien entendre ! Não quero ouvir nada!

2
A cor da farda dos dragões espanhóis era amarela.

Carmen 69
Don José D. José
Tu m’entendras ! Terás de ouvir-me!

Carmen Carmen
Tu vas te faire attendre ! Estão à tua espera!

Don José D. José


Tu m’entendras ! Tens de ouvir-me!

Carmen Carmen
Non ! Non ! Não! Não!

Don José (violemment) D. José (com violência)


Je le veux ! Carmen, tu m’entendras ! Mas eu assim o quero! Carmen, terás de ouvir-me!
(De la main gauche, il a saisi brusquement le bras de (Com a mão esquerda, agarra bruscamente o braço de
Carmen; de la main droite, il va chercher dans sa veste Carmen. Com a mão direita, procura na farda a flor que
d’uniforme la fleur que Carmen lui a jetée au premier Carmen lhe atirou no Primeiro Acto. Mostra a Carmen
acte. Il montre cette fleur à Carmen.) essa flor.)
La fleur que tu m’avais jetée A flor que me atiraste,
dans ma prison m’était restée, conservei-a comigo na prisão;
flétrie et sèche, cette fleur seca e murcha, essa flor
gardait toujours sa douce odeur ; nunca perdeu o seu perfume;
et pendant des heures entières, e durante horas sem fim,
sur mes yeux, fermant mes paupières, os olhos cerrados,
de cette odeur je m’enivrais inebriava-me com a sua fragrância,
et dans la nuit je te voyais ! e via-te durante a noite!
Je me prenais à te maudire, Comecei por amaldiçoar-te,
à te détester, à me dire: por odiar-te, por dizer a mim próprio:
« pourquoi faut-il que le destin «por que razão terá o destino
l’ait mise là sur mon chemin ! » feito com que ela cruzasse o meu caminho?»
Puis je m’accusais de blasphème, Depois, acusava-me de blasfémia
et je ne sentais en moi-même, e sentia dentro de mim
je ne sentais qu’un seul désir, apenas um único desejo, uma só esperança:
un seul désir, un seul espoir : voltar a ver-te, Carmen! Sim, voltar a ver-te!
te revoir, ô Carmen, oui, te revoir ! Pois bastava surgires perante os meus olhos,
car tu n’avais eu qu’à paraître, lançares-me um só olhar,
qu’à jeter un regard sur moi, para que, minha Carmen,
pour t’emparer de tout mon être, possuísses todo o meu ser,
ô ma Carmen ! ó minha Carmen!
Et j’étais une chose à toi ! E não mais seria do que uma coisa tua!
Carmen, je t’aime ! Carmen, amo-te!

Carmen Carmen
Non ! Tu ne m’aimes pas ! Não! Tu não me amas!

Don José D. José


Que dis-tu ? Que dizes tu?

Carmen Carmen
Non ! Tu ne m’aimes pas ! Non ! Não! Tu não me amas! Não...
Car si tu m’aimais, Porque se me amasses,
là-bas tu me suivrais ! seguir-me-ias para bem longe!

70
Don José D. José
Carmen ! Carmen!

Carmen Carmen
Oui ! Là-bas dans la montagne… Sim! Lá bem longe, na montanha...

Don José (troublé) D. José (perturbado)


Carmen ! Carmen!

Carmen Carmen
… là-bas tu me suivrais, ... lá bem longe, seguir-me-ias,
sur ton cheval tu me prendrais, qual corajoso galante,
et comme un brave à travers la campagne, levar-me-ias através dos campos
en croupe, tu m’emporterais ! na sela do teu cavalo!
Là-bas dans la montagne… Lá bem longe, para a montanha...
si tu m’aimais, Se me amasses,
là-bas tu me suivrais. seguir-me-ias para bem longe!
Tu n’y dépendrais de personne ; Não dependerias de ninguém,
point d’officier à qui tu doives obéir, não deverias obediência a nenhum oficial,
et point de retraite qui sonne não haveria toque para o recolher,
pour dire à l’amoureux qu’il est temps de partir ! e não dirias ao teu amor que é hora de partir.
Le ciel ouvert, la vie errante, O céu por nossa conta, a vida errante,
pour pays tout l’univers, et pour loi ta volonté ! teríamos por terra o universo e por lei a nossa vontade!
Et surtout la chose enivrante: Mas, acima de tudo, o mais inebriante:
la liberté, la liberté! a liberdade, a liberdade!

Don José D. José


Mon Dieu ! Meu Deus!

Carmen Carmen
Là-bas dans la montagne, etc. Lá bem longe, na montanha... etc.

Don José (très ébranlé presque vaincu) D. José (muito perturbado, quase vencido.)
Carmen ! Carmen!

Carmen Carmen
Là-bas tu me suivrais ! Lá bem longe, na montanha,
Oui, là-bas si tu m’aimais ! lá bem longe, se me amasses...

Don José D. José


Tais-toi! Cala-te!

Carmen Carmen
Là-bas tu me suivrais, si tu m’aimais, Seguir-me-ias se me amasses,
sur ton cheval tu me prendrais, qual corajoso galante,
et comme un brave à travers la campagne, levar-me-ias através dos campos
en croupe, tu m’emporterais ! na sela do teu cavalo!
Oui, si tu m’aimais, là-bas tu me suivrais. Sim, levar-me-ias se me amasses...

Don José D. José


Ah ! Carmen, hélas ! Tais-toi ! Ah! Carmen, céus! Cala-te!
Tais-toi ! Mon Dieu ! Cala-te! Meu Deus!

Carmen 71
Carmen Carmen
Là-bas tu me suivrais, etc. Seguir-me-ias até bem longe, etc.

Don José D. José


Pitié ! Carmen, pitié ! Tem piedade! Carmen, tem piedade!
Mon Dieu ! Meu Deus!
Tais-toi ! Cala-te!
(s’arrachant violamment des bras de Carmen) (libertando-se violentamente dos braços de Carmen)
Non ! Je ne veux plus t’écouter ! Não! Não te darei mais ouvidos!
Quitter mon drapeau... déserter... Abandonar a minha bandeira... desertar...
C’est la honte... c’est l’infamie !... Seria a vergonha... a infâmia!...
Je n’en veux pas ! Não quero!

Carmen (durement) Carmen (friamente)


Eh bien ! Pars ! Pois bem! Parte então!

Don José (suppliant) D. José (suplicante)


Carmen, je t’en prie ! Carmen, peço-te...!

Carmen Carmen
Non ! Je ne t’aime plus ! Não! Já não te amo!

Don José D. José


Écoute ! Escuta-me...!

Carmen Carmen
Va ! Je te hais ! Vai-te daqui! Odeio-te!

Don José (avec douleur) D. José (dolente)


Eh bien! Soit ! Seja então!
Adieu ! Adieu pour jamais ! Adeus! Adeus para sempre!

Carmen Carmen
Adieu ! Mais adieu pour jamais ! Adeus! Mas adeus para sempre!

(Don José va en courant vers la porte. On frappe. (D. José corre em direcção à porta. Ouve-se bater.
Don José s’arrête. Silence. On frappe encore.) D. José pára. Silêncio. Voltam a bater.)

Nº 17 – Final N.º 17 – Final

Zuniga (au dehors) Zuniga (do exterior)


Holà ! Carmen ! Holà ! Holà ! Estás aí? Carmen? Estás aí?

Don José D. José


Qui frappe ? Qui vient là ? Quem bate? Quem vem aí?

Carmen Carmen
Tais-toi... tais-toi ! Cala-te, cala-te!

Zuniga (entrant après avoir fait sauter la porte) Zuniga (entra após ter arrombado a porta)
J’ouvre moi-même et j’entre. Abro eu a porta e entro.
(Il voit Don José ; à Carmen, légèrement.) (Vê D. José; para Carmen, com leveza.)
Ah! Fi ! Ah ! Fi ! La belle ! Pfiu! Pfiu! Devias ter vergonha, minha beldade.

72
Le choix n’est pas heureux ! C’est se mésallier Podias ter escolhido melhor...! Não faz sentido
de prendre le soldat quand on a l’officier. escolher um soldado quando se pode ter um oficial.
(à Don José) (para D. José)
Allons, décampe ! Vá, põe-te a andar!

Don José (Calme, mais résolu.) D. José (Calmo, mas decidido.)


Non ! Não!

Zuniga Zuniga
Si fait ! Tu partiras. E quem te disse? Fora daqui!

Don José D. José


Je ne partirai pas. Daqui não saio!

Zuniga (le frappant) Zuniga (atacando D. José)


Drôle ! Canalha!

Don José (sautant sur son sabre) D. José (desembainhando o sabre)


Tonnerre !... il va pleuvoir des coups ! Raios! Vamos ter sarilhos!

(Zuniga dégaine) (Zuniga saca da pistola)

Carmen (se jetant entre eux deux) Carmen (interpondo-se entre os dois)
Au diable le jaloux ! Louco ciumento!
(appelant) (gritando)
À moi ! À moi ! Socorro! Socorro!

(Dancaïre, Remendado, Mercédès, Frasquita, les (Dancaïre, Remendado, Mercédès, Frasquita, e os


Bohémiens paraissent de tous les côtés. Sur un geste ciganos surgem vindos de todos os lados. A um gesto
de Carmen, Dancaïre et Remendado désarment Zuniga.) de Carmen, Dancaïre e Remendado desarmam Zuniga.)

Carmen (à Zuniga d’un ton moqueur) Carmen (para Zuniga num tom escarnecedor)
Bel officier l’amour Belo oficial, o amor
vous joue en ce moment un assez vilain tour! está a pregar-te uma bela partida!
Vous arrivez fort mal ! A tua vinda até aqui foi mal planeada!
Hélas! Et nous sommes forcés, Que pena! Para não sermos denunciados,
ne voulant être dénoncés, seremos obrigados a reter-te
de vous garder au moins... pendant une heure. pelo menos... uma hora!

Remendado (À Zuniga, le pistolet à la main, Remendado (delicadamente para Zuniga e com a pistola
gracieusement.) na mão)
Mon cher monsieur ! Caro senhor!

Dancaïre (À Zuniga, le pistolet à la main, Dancaïre (delicadamente para Zuniga e com a pistola
gracieusement.) na mão)
Mon cher monsieur ! Caro senhor!

Dancaïre, Remendado Remendado, Dancaïre


Nous allons, s’il vous plaît, quitter cette demeure ; Vamos, por favor, abandonar esta casa
vous viendrez avec nous. e você vai acompanhar-nos!

Carmen Carmen
C’est une promenade ! É apenas um passeio.

Carmen 73
Le Remendado Remendado
Consentez-vous ? Consente?

Le Dancaïre Dancaïre
Consentez-vous ? Consente?
Répondez, camarade ! Responda, camarada!

Zuniga (avec ironie) Zuniga (irónico)


Certainement. Claro que sim!
D’autant plus que votre argument Tanto mais que o seu argumento
est un de ceux auxquels on ne résiste guère ! é daqueles difíceis de resistir!
(changeant de ton) (mudando de tom)
Mais gare à vous plus tard ! Mas tenha cautela mais tarde!

Dancaïre Dancaïre
La guerre, c’est la guerre ! Guerra é guerra!
En attendant, mon officier, Enquanto espera, meu oficial,
passez devant sans vous faire prier ! passe em frente sem cerimónias!

Remendado, bohémiens Remendado, ciganos


Passez devant sans vous faire prier ! Passe em frente sem cerimónias!

Carmen (à Don José) Carmen (para D. José)


Es-tu des nôtres maintenant ? Agora já és dos nossos?

Don José D. José


Il le faut bien ! Que remédio!

Carmen Carmen
Ah ! Le mot n’est pas galant ! Ah! Que indelicadeza!
Mais, qu’importe ! Va... tu t’y feras Mas que interessa isso? Verás que te habituas
quand tu verras quando vires
comme c’est beau, la vie errante ! como é boa a vida errante!
Pour pays tout l’univers, et pour loi ta volonté ! Teremos por terra o Universo e por lei a nossa vontade!
Et surtout, la chose enivrante : E, acima de tudo, o mais inebriante:
La liberté ! La liberté ! a liberdade! A liberdade!

Frasquita, Mercédès, Carmen, bohémiens, Remendado, Frasquita, Mercédès, Carmen, ciganos, Remendado,
Dancaïre Dancaïre
Suis-nous à travers la campagne, Segue-nos através dos campos,
viens avec nous dans la montagne, vem connosco para a montanha;
suis-nous et tu t’y feras segue-nos e verás que te habituas
quand tu verras, là-bas quando vires
comme c’est beau, la vie errante, como é boa a vida errante!
pour pays tout l’univers, Teremos por terra o Universo,
et pour loi ta volonté ! e por lei a nossa vontade!
et surtout, la chose enivrante : E, acima de tudo, o mais inebriante:
la liberté ! a liberdade! A liberdade!

74
Acte Troisième Acto III
Premier Tableau Primeiro Quadro

Entracte Entreacto

Nº 18 – Introduction N.º 18 – Introdução


Rochers. Site pittoresque et sauvage. Solitude complète. Rochedos. Local pitoresco e selvagem. Solidão total.
Nuit noire. Un contrebandier paraît en haut des rochers Noite negra. Um contrabandista surge no cimo dos
et sonne de la trompe. Des contrebandiers paraissent rochedos e soa a trompa. Contrabandistas aparecem
ça et là, descendent en escaladant les rochers. Les aqui e ali, descendo dos rochedos. Os homens
hommes portent de gros ballots sur les épaules. transportam às costas fardos pesados.

Chœur Coro
Écoute, compagnon, écoute ! Escuta, companheiro, escuta:
La fortune est là-bas ! lá em baixo espera-nos a fortuna!
Mais prends garde, pendant la route, Mas cuidado! Durante o caminho,
prends garde de faire un faux pas ! evita dar um passo em falso!

Frasquita, Mercédès, Carmen, Don José, Remendado, Carmen, Frasquita, Mercédès, D. José, Remendado,
Dancaïre Dancaïre,
Notre métier est bon, mais pour le faire il faut O nosso ofício é bom, mas para o fazer,
avoir une âme forte ! é preciso muita coragem!
Et le péril est en haut, E o perigo paira sobre nós,
il est en bas, il est en haut, está lá em baixo, está por cima de nós,
il est partout, qu’importe ! está por todo o lado, mas que importa?
Nous allons en avant sans souci du torrent, Vamos sempre em frente alheios à torrente,
sans souci de l’orage, alheios à tempestade!
sans souci du soldat qui là-bas nous attend, alheios ao soldado que lá em baixo nos espera
et nous guette au passage ! e observa enquanto atravessamos.
Sans souci nous allons en avant ! Alheios a tudo, seguimos em frente!
Écoute, compagnon, écoute ! Escuta, companheiro, escuta:
La fortune est là-bas ! lá em baixo espera-nos a fortuna.
Mais prends garde, pendant la route, Mas cuidado! Durante o caminho,
prends garde de faire un faux pas ! evita dar um passo em falso!

Dancaïre Dancaïre
Ceux qui on sommeil pourront dormir pendant une Quem tiver sono pode dormir durante meia-hora...
demi-heure.

Remendado (s’étendant avec volupté) Remendado (estirando-se com volúpia)


Ah ! Ah!

Dancaïre Dancaïre
Je vais voir s’il y a moyen de faire entrer les Vou ver se há maneira de fazer entrar
marchandises dans la ville... as mercadorias na cidade...

Don José D. José


Lillas Pastia nous a fait savoir que, cette nuit, le Lillas Pastia disse-nos que esta noite o guarda da
factionnaire serait un homme à nous. alfândega é um dos nossos.

Carmen 75
Le Dancaïre Dancaïre
Oui, mais Lillas Pastia a pu se tromper. Sim, mas Lillas Pastia podia ter-se enganado...
(appelant) (chamando)
Remendado ! Remendado!!!

Remendado (se réveillant) Remendado (acordando)


Hé ? Sim?

Dancaïre Dancaïre
Debout, tu vas venir avec moi... Levanta-te, vens comigo...

Remendado Remendado
Mais, patron... Mas, patrão...

Dancaïre Dancaïre
Qu’est-ce que c’est ? O que foi?

Remendado (se levant) Remendado (levantando-se)


Voilà, patron, voilà !... Pronto, patrão, pronto...

Dancaïre Dancaïre
Allons, passe devant. Passa à frente.

Remendado Remendado
Et moi, qui rêvais que j’allais pouvoir dormir... C’était E sonhava eu que podia dormir... Era um sonho,
un rêve, hélas, c’était un rêve !... nada mais que um sonho, infelizmente...

(Remendado sort suivi de Dancaïre. Pendant la scène (Sai seguido de Dancaïre. Durante a cena seguinte, os
suivante quelques Bohémiens allument un feu près duquel ciganos acendem uma fogueira perto da qual Mercédès
Mercédès et Frasquita viennent s’asseoir, les autres se e Frasquita vêm sentar-se; os restantes, enrolam-se nos
roulent dans leurs manteaux se couchent et s’endorment.) seus casacos, deitam-se e adormecem.)

Don José D. José


Voyons, Carmen... si je t’ai parlé trop durement, je Então, Carmen... se te falei duramente, peço-te
t’en demande pardon, faisons la paix. perdão. Façamos as pazes.

Carmen Carmen
Non. Não.

Don José D. José


Tu ne m’aimes plus alors ? Então já não me amas?

Carmen Carmen
Ce qui est sûr c’est que je t’aime beaucoup moins O certo é que te amo muito menos do que te
qu’autrefois. Je ne veux pas être tourmentée ni amava... não quero ser atormentada e sobretudo
surtout commandée. Ce que je veux, c’est être libre que me dêem ordens. Quero é ser livre e fazer
et faire ce qui me plaît. o que me apetece.

Don José D. José


Tu es le diable, Carmen ? Carmen, és o diabo?

Carmen Carmen
Oui. Qu’est-ce que tu regardes là, à quoi penses-tu ?... Sou. Porque olhas assim? Em que pensas?

76
Don José D. José
Je me dis que là-bas il y a un village, et dans ce Penso que lá em baixo... há uma aldeia, e nessa
village une bonne vielle femme qui croit que je suis aldeia existe uma bondosa velhinha que ainda
encore un honnête homme. acredita que sou um homem honesto.

Carmen Carmen
Une bonne vieille femme ? Uma bondosa velhinha?

Don José D. José


Oui ; ma mère. Sim, a minha mãe.

Carmen Carmen
Ta mère... tu ne ferais pas mal d’aller la retrouver, A tua mãe... Farias bem em ir ter com ela, pois,
car décidément tu n’es pas fait pour vivre avec nous. decididamente, não és feito para viver connosco.

Don José D. José


Carmen... Si tu me parles encore de nous séparer… Carmen... Se voltas a dizer que nos vamos separar…

Carmen Carmen
Tu me tuerais, peut-être ?... Serias capaz de me matar…?
(José ne répond pas) (D. José não responde)
Eh bien, j’ai vu plusieurs fois dans les cartes que Pois bem, vi várias vezes nas cartas que deveríamos
nous devions mourir ensemble. morrer juntos.

Don José D. José


Tu es le diable, Carmen !... Carmen, és o diabo...!

Carmen Carmen
Mais oui, je te l’ai déjà dit... Mas claro, já te tinha dito...

(Elle tourne le dos à Don José. Après un instant (Vira as costas a D. José. Após um instante de
d’indécision, Don José s’éloigne à son tour et va indecisão, D. José afasta-se e vai deitar-se sobre os
s’étendre sur les rochers.) rochedos.)

Nº 19 – Trio N.º 19 – Trio


Carmen s’est assise près du feu. Mercédès et Frasquita, Carmen está sentada junto à fogueira. Mercédès e
accroupies par terre, étalent un jeu de cartes à la lueur Frasquita, deitadas no chão, começam a ler as cartas
du foyer. à luz das chamas.

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mercédès


Mêlons ! Mêlons ! Vamos baralhar! Vamos baralhar!
Coupons ! Coupons ! Vamos partir o baralho! Vamos partir o baralho!
Bien! C’est cela! Isso mesmo! Isso mesmo!

Frasquita Frasquita
Trois cartes ici, Três cartas aqui...

Mercédès Mercédès
Trois cartes ici, Três cartas aqui...

Frasquita Frasquita
quatre là ! ... quatro acolá...

Carmen 77
Mercédès Mercédès
quatre là ! ... quatro acolá!

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mercédès


Et maintenant, parlez, mes belles, E agora, minhas lindas, falem connosco,
de l’avenir, donnez-nous des nouvelles. contem-nos novidades.
Dites-nous qui nous trahira ! Digam-nos quem nos atraiçoará!
Dites-nous qui nous aimera ! Digam-nos quem nos amará!
Parlez, parlez ! Falem! Falem!
Dites-nous qui nous trahira, Digam-nos quem nos atraiçoará,
dites-nous qui nous aimera ! Digam-nos quem nos amará!
Parlez! Parlez! Falem! Falem!

Mercédès Mercédès
Moi, je vois un jeune amoureux Vejo um jovem apaixonado
qui m’aime on ne peut davantage ; que não me poderia amar mais;

Frasquita Frasquita
Le mien est très riche et très vieux ; O meu é muito rico e muito velho;
mais il parle de mariage ! mas fala em casamento!

Mercédès (fièrement) Mercédès (com orgulho)


Je me campe sur son cheval Monto o seu cavalo
et dans la montagne il m’entraîne ! e ele leva-me para a montanha!

Frasquita Frasquita
Dans un château presque royal, Num castelo quase real,
le mien m’installe en souveraine ! o meu coroa-me sua rainha!

Mercédès Mercédès
De l’amour à n’en plus finir, Amor sem fim!,
tous les jours, nouvelles folies ! todos os dias novas loucuras!

Frasquita (avec joie) Frasquita (com alegria)


De l’or tant que j’en puis tenir, Para mim, todo o ouro do mundo,
des diamants, des pierreries ! diamantes, pedras preciosas!

Mercédès Mercédès
Le mien devient un chef fameux, O meu torna-se um chefe famoso,
cent hommes marchent à sa suite ! seguem-no cem homens!

Frasquita Frasquita
Le mien... le mien... en croirai-je mes yeux ?... O meu... o meu... Será que acredito no que vejo?
Oui... Il meurt ! Sim... Ele morre!
(avec ivresse) (inebriada)
Ah ! Je suis veuve et j’hérite ! Ah! Sou viúva e herdeira!

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mercédès


Ah ! Parlez encor, parlez, mes belles, Continuem a falar do futuro, minhas lindas,
de l’avenir, donnez-nous des nouvelles. contem-nos novidades.
Dites-nous qui nous trahira ! Digam-nos quem nos atraiçoará!
Dites-nous qui nous aimera ! Digam-nos quem nos amará!

78
(elles recommencent à consulter les cartes) (recomeçam a consultar as cartas)

Frasquita Frasquita
Fortune ! Fortuna...!

Mercédès Mercédès
Amour ! Amor!

Carmen (qui suivait du regard le jeu de Mercédès Carmen (que seguia com o olhar as cartas de Mercédès
et de Frasquita) e de Frasquita)
Donnez, que j’essaie à mon tour. Agora tento eu...
(elle se met à tourner les cartes) (Carmen começa a virar as cartas)
Carreau ! Pique ! Ouros! Espadas!
(tournant encore les cartes) (continua a virar as cartas)
La mort ! A morte!
J’ai bien lu !...Moi, d’abord, Li bem! Primeiro eu,
ensuite lui… Pour tous les deux, la mort !... em seguida ele! Para os dois, a morte!
En vain, pour éviter les réponses amères, É inútil baralhar as cartas
en vain tu mêleras ! para evitar respostas amargas!
Cela ne sert à rien, les cartes sont sincères É inútil baralhá-las! De nada serve, as cartas são sinceras
et ne mentiront pas ! e não mentem!
Dans le livre d’en haut si ta page est heureuse, Se a tua página no Livro do Céu é feliz,
mêle et coupe sans peur, baralha e parte sem medo,
la carte sous tes doigts se tournera joyeuse, a carta nos teus dedos virar-se-á alegre,
t’annonçant le bonheur. anunciando-te a felicidade.
Mais si tu dois mourir, si le mot redoutable Mas se tens de morrer, se a temível palavra
est écrit par le sort, for escrita pelo destino,
recommence vingt fois, la carte impitoyable então, bem podes recomeçar vinte vezes, pois a
répétera : la mort ! carta impiedosa repetirá: a morte!
Encor !... encor !... toujours la mort ! Outra vez! Outra vez! Sempre a morte!

Frasquita, Mercédès Frasquita, Mercédès


Parlez encor, parlez, mes belles, Minhas lindas, continuem a falar do futuro...
de l’avenir, donnez-nous des nouvelles. Contem-nos novidades.
Dites-nous qui nous trahira ! Digam-nos quem nos atraiçoará...!

Carmen Carmen
Encor ! Outra vez!

Frasquita, Mercédès Fraquita, Mercédès


Dites-nous qui nous aimera! Digam-nos quem nos amará...!

Carmen Carmen
Le désespoir ! O desespero!

Frasquita, Mercédès Frasquita e Mercédès


Parlez encor de l’avenir, Continuem a falar do futuro,
dites-nous qui nous trahira, digam-nos quem nos traírá,
dite-nous qui nous aimera. digam-nos quem nos amará.

Carmen Carmen
La mort ! La mort ! A morte! A morte!
Encor... la mort ! A morte mais uma vez!

Carmen 79
Frasquita Frasquita
Fortune ! Fortuna!

Mercédès Mercédès
Amour ! Amor!

Carmen Carmen
La mort ! Encor... la mort ! A morte! Sempre a morte!

Mercédès Mercédès
Eh bien ?... Então?

Dancaïre Dancaïre
Eh bien, j’avais raison de ne pas me fier aux Pois bem, eu tinha razão em não me fiar nas
renseignements de Lillas Pastia ; nous avons aperçu informações de Lillas Pastia; vimos três guardas de
trois douaniers qui gardaient la brèche. alfândega que guardavam a entrada.

Carmen Carmen
Savez-vous le noms à ces douaniers ?... Sabes o nome desses guardas de alfândega?

Remendado Remendado
Certainement. Il y avait Eusebio, Perez et Bartolomé... Claro que sim. Eusebio, Perez e Bartolomé.

Frasquita Frasquita
Eusebio... Eusebio...

Mercédès Mercédès
Perez... Perez...

Carmen Carmen
Et Bartolomé... E Bartolomé...
(en riant) (rindo)
N’ayez pas peur, Dancaïre, nous vous en répondons Nada temas, Dancaïre, nós respondemos pelos três
de vos trois douaniers. guardas de alfândega.

Don José (furieux) D. José (furioso)


Carmen ! Carmen!

Dancaïre Dancaïre
Ah ! Toi, tu vas nous laisser tranquilles avec ta Vais deixar-nos em paz com os teus ciúmes?
jalousie... nous n’avons pas de temps à perdre. Não temos tempo a perder... A caminho,
En route, les enfants. criaturas!
(Ils commencent à charger les ballots. S’adressant à (Começam a carregar os fardos. Dancaïre dirige-se
Don José.) a D. José.)
Quant à toi, je te confie la garde des marchandises Quanto a ti, confio-te a guarda das mercadorias que
que nous n’emporterons pas... não vamos levar.
(aux contrebandiers) (aos contrabandistas)
Nous y sommes ?... Estão prontos?

(Don José prend son fusil et sort) (D. José pega na espingarda e sai)

Remendado Remendado
Oui, patron. Sim, patrão.

80
Dancaïre Dancaïre
En route alors. Assim sendo, metamo-nos a caminho.
(aux femmes) (para as mulheres)
Mais vous ne vous flattez pas, vous me répondez Mas nada de gracinhas... respondem mesmo por
vraiment de ces trois douaniers ? esses três guardas alfandegários?

Carmen Carmen
N’ayez pas peur, Dancaïre. Podes ficar descansado, Dancaïre.

Nº 20 – Morceau d’ensemble N.º 20 – Morceau d’ensemble

Frasquita, Mercédès, Carmen Frasquita, Mercédès, Carmen


Quant au douanier, c’est notre affaire ! Quanto ao guarda, isso é trabalho nosso!
Tout comme un autre, il aime à plaire, Tal como toda a gente, ele gosta de agradar,
il aime à faire le galant ; gosta de galantear.
Ah! Laissez-nous passer en avant ! Deixem-nos ir à frente!

Frasquita, Mercédès, Carmen, Remendado, Dancaïre, Frasquita, Mercédès, Carmen, Remendado, Dancaïre,
bohémiens ciganos
Il aime à plaire ! Il est galant ! Ele gosta de agradar! Gosta de galantear.

Frasquita Frasquita
Le douanier sera clément ! O guarda será compreensivo.

Carmen Carmen
Le douanier sera charmant ! O guarda será encantador!

Frasquita, Mercédès, Carmen, Remendado, Dancaïre, Frasquita, Mercédès, Carmen, Remendado, Dancaïre,
bohémiens ciganos
Le douanier sera galant ! O guarda será galanteador!

Frasquita Frasquita
Oui, le douanier sera même entreprenant ! Sim, o guarda até colaborará connosco!

Frasquita, Mercédès, Carmen, Remendado, Dancaïre, Frasquita, Mercédes, Carmen, Remendado, Dancaïre,
bohémiens ciganos
Oui, le douanier, c’est notre affaire ! Quanto ao guarda, isso é trabalho nosso!
Tout comme un autre, il aime à plaire, Tal como toda a gente, ele gosta de agradar,
il aime à faire le galant, gosta de galantear.
laissez-nous passer en avant ! Deixem-nos ir à frente!

Frasquita, Mercédès, Carmen, bohémiennes Frasquita, Mercédès, Carmen, ciganas


Il ne s’agit pas de bataille ; Não será uma luta difícil!
non, il s’agit tout simplement Trata-se apenas de deixá-lo
de se laisser prendre la taille pôr o braço à volta da nossa cintura
et d’écouter un compliment. e de ouvirmos um cumprimento seu!
S’il faut aller jusqu’au sourire, E porque não se tivermos de fazer um sorriso?
que voulez-vous! On sourira ! Paciência! Sorriremos!
Et d’avance, je puis le dire, E podemos dizer desde já
la contrebande passera ! que o contrabando passará!
En avant ! Marchons ! En avant ! Em frente! Marchemos! Em frente!

Carmen 81
Tous Todos
Le douanier, c’est notre affaire ! Quanto ao guarda, isso é trabalho nosso!
Tout comme un autre, il aime à plaire ! Tal como toda a gente, ele gosta de agradar!
Il aime à faire le galant ! Gosta de galantear.
Oui, passez en avant ! Marchons ! En avant ! Em frente! Marchemos! Em frente!

(Le guide s’avance avec précaution, puis fait un signe (O guia avança com precaução e depois faz um sinal
à Micaëla que l’on ne voit pas encore.) a Micaëla que ainda não se vê.)

Le guide O guia
Nous y sommes. Chegámos!

Micaëla (entrant) Micaëla (entrando)


C’est ici. É aqui.

Le guide O guia
Eh bien là, vrai, vous pouvez vous vanter d’avoir du É bem verdade que vos podeis vangloriar da vossa
courage. Venir ainsi affronter ces bohémiens... coragem. Vir assim enfrentar estes ciganos...

Micaëla Micaëla
Je ne suis pas facile à effrayer. É difícil assustar-me.

Le guide (naïvement) O guia (ingenuamente)


Si ça ne vous fait rien, j’irai vous attendre là, où vous Se isso não a incomoda, vou esperar-vos onde me
m’avez pris... à l’auberge qui est au bas de la encontrou... na estalagem que está no sopé da
montagne. montanha.

Micaëla Micaëla
C’est cela. Muito bem.

Le guide O guia
Vous restez décidément ? Está mesmo disposta a ficar?

Micaëla Micaëla
Oui, je reste ! Sim, fico.

Le guide O guia
Que tous les saints du paradis vous soient en aide alors. Então, que todos os santos do altar a ajudem...
(il sort) (sai)

Nº 21 – Air N.º 21 – Ária

Micaëla Micaëla
Je dis que rien ne m’épouvante, Digo que nada me assusta,
je dis, hélas ! Que je réponds de moi ; digo, Deus meu, que sou capaz de cuidar de mim;
mais j’ai beau faire la vaillante, mas apesar de pretender ser uma rapariga corajosa,
au fond du cœur, je meurs d’effroi ! sinto-me morrer de medo!
Seule en ce lieu sauvage, Sozinha neste lugar selvagem,
toute seule j’ai peur, sozinha tenho medo,
mais j’ai tort d’avoir peur ; mas não há razão para tal,
vous me donnerez du courage, pois, Senhor, Tu dar-me-ás coragem
vous me protégerez, Seigneur ! e proteger-me-ás!
Je vais voir de près cette femme Verei de perto essa mulher

82
dont les artifices maudits cujos artifícios malditos
ont fini par faire un infâme acabaram por fazer um criminoso
de celui que j’aimais jadis ! daquele que amei um dia!
Elle est dangereuse... elle est belle !... Ela é perigosa... é bela...
Mais je ne veux pas avoir peur ! mas eu não quero ter medo!
Non, non, je ne veux pas avoir peur !... Não, não, não quero ter medo!
Je parlerai haut devant elle... ah ! A minha voz não tremerá perante ela!
Seigneur, vous me protégerez ! Ah ! Senhor, protegei-me! Ah!

Micaëla Micaëla
Mais... c’est Don José. Mas... é D. José...
(appelant) (chamando)
José ! José ! José! José!

(On entend un coup de feu. Micaëla disparaît derrière (Ouve-se um tiro. Micaëla desaparece por detrás dos
les rochers. Au même temps entre Escamillo tenant rochedos. Nesse preciso momento, entra Escamillo
son chapeau à la main.) trazendo o chapéu na mão.)

Escamillo Escamillo
Quelques lignes plus bas... et je n’aurais jamais plus Uns centímetros mais abaixo... e nunca mais voltava
combattu les taureaux que je suis en train de a combater os touros que estou agora a levar para o
conduire. touril...

(entre Don. José) (entra D. José)

Don José (son couteau à la main) D. José (com a faca na mão)


Qui êtes-vous ? Répondez. Quem és tu? Responde...

Escamillo (très calme) Escamillo (muito calmo)


Eh là... doucement ! Ena, ena, calma...!

Nº 22 – Duo N.º 22 – Dueto

Escamillo Escamillo
Je suis Escamillo, torero de Grenade. Sou Escamillo, toureiro de Granada!

Don José D. José


Escamillo ! Escamillo!

Escamillo Escamillo
C’est moi ! O próprio!

Don José D. José


Je connais votre nom. Conheço o seu nome.
Soyez le bienvenu ; mais vraiment, camarade, Seja bem-vindo; mas, francamente, camarada,
vous pouviez y rester. escapou por pouco.

Escamillo Escamillo
Je ne vous dis pas non. Não o nego.
Mais je suis amoureux, mon cher, à la folie ! Mas, meu caro, estou perdidamente apaixonado!
Et celui-là serait un pauvre compagnon E eu seria um mau amante
qui pour voir ses amours ne risquerait sa vie ! se, para ver o meu amor não arriscasse a minha vida!

Carmen 83
Don José D. José
Celle que vous aimez est ici ? Aquela que ama encontra-se aqui?

Escamillo Escamillo
Justement. Precisamente.
C’est une zingara, mon cher... É uma zingara, meu caro...

Don José D. José


Elle s’appelle ? E chama-se?

Escamillo Escamillo
Carmen. Carmen.

Don José D. José


Carmen ! Carmen!

Escamillo Escamillo
Carmen. Oui, mon cher. Sim, Carmen, meu amigo.
Elle avait pour amant Teve por amante um soldado
un soldat qui jadis a déserté pour elle ; que outrora desertou por ela;

Don José (à part) D. José (à parte)


(Carmen !) (Carmen!)

Escamillo Escamillo
Ils s’adoraient ! Mais c’est fini, je crois, Adoravam-se! Mas creio que terminou.
les amours de Carmen ne durent pas six mois. Os amores de Carmen não duram seis meses.

Don José D. José


Vous l’aimez cependant ! E ama-a apesar disso!

Escamillo Escamillo
Je l’aime ! Amo-a!

Don José D. José


Vous l’aimez cependant !... E ama-a apesar disso!

Escamillo Escamillo
Je l’aime, Amo-a
oui, mon cher, je l’aime, sim, amigo, amo-a,
je l’aime à la folie ! amo-a perdidamente!

Don José D. José


Mais pour nous enlever nos filles de Bohême Mas sabe que tem de pagar
savez-vous bien qu’il faut payer ?... se levar uma das nossas ciganas?

Escamillo (gaiment) Escamillo (alegremente)


Soit ! On paiera, soit ! On paiera. Seja! Eu pago, eu pago!

Don José (menaçant) D. José (ameaçador)


Et que le prix se paie à coups de navaja ! E sabe que o preço é pago com golpes de navalha?

Escamillo (surpris) Escamillo (surpreendido)


À coups de navaja ! A golpes de navalha?!

84
Don José D. José
Comprenez-vous ? Compreende?

Escamillo Escamillo
Le discours est très net. As suas palavras não podiam ser mais claras.
(avec une légère teinte d’ironie) (com um leve tom irónico)
Ce déserteur, ce beau soldat qu’elle aime, Esse desertor, esse belo soldado que ela ama,
ou du moins qu’elle aimait, c’est donc vous ? ou pelo menos amou, não será por acaso o senhor?

Don José D. José


Oui, c’est moi-même ! Sim, sou eu!

Escamillo Escamillo
J’en suis ravi, mon cher ! Fico satisfeito, meu caro!
Et le tour est complet ! Era tudo o que precisava de ouvir.

Don José D. José


Enfin ma colère Finalmente a minha cólera
trouve à qui parler, encontra com quem falar!
le sang, oui, le sang, je l’espère, Sangue, sim, sangue, assim espero,
va bientôt couler ! irá em breve correr!

Escamillo Escamillo
Quelle maladresse, Que desajeitado sou,
J’en rirais, vraiment ! isto tem uma certa graça!
Chercher la maîtresse Vir à procura da amada
et trouver l’amant ! e dar de caras com o seu amante!

Don José, Escamillo D. José, Escamillo


Mettez-vous en garde Acautelai-vos
et veillez sur vous ! e cuidado!
Tant pis pour qui tarde Azar para quem se defender dos golpes
à parer les coups ! tarde demais!
Mettez-vous en garde, Acautelai-vos
veillez sur vous ! e cuidado!

(ils se mettent en garde à une certaine distance) (Preparam-se para lutar, conservando uma certa
distância entre si.)

Escamillo Escamillo
Je la connais, ta garde navarraise, Eu conheço a tua guarda navarra
et je te préviens en ami e, como amigo, previno-te
qu’elle ne vaut rien. que não vale nada!
(sans répondre Don José marche sur le torero) (Sem responder, D. José avança em direcção ao toureiro.)
à ton aise ! Faz como bem entenderes!
Je t’aurais du moins averti. Pelo menos, avisei-te.

(Combat ; le torero, très calme, cherche seulement (Luta. O toureiro, muito sereno, tenta apenas
à se défendre.) defender-se.)

Don José D. José


Tu m’épargnes, maudit ! Estás a poupar-me, maldito!

Carmen 85
(Rapide et très-vif engagement corps à corps. Don José (Luta corpo a corpo muito cerrada. D. José encontra-se
se trouve à la merci du torero qui ne le frappe pas.) à mercê do toureiro que não o fere.)

Escamillo Escamillo
Tout beau ! Muito bem!
Ta vie est à moi, mais en somme, A tua vida pertence-me!
(noblement) (com nobreza)
j’ai pour métier de frapper le taureau, Mas em suma, a minha profissão é matar o touro
non de trouer le cœur de l’homme ! e não trespassar o coração de um homem!

Don José D. José


Frappe ou bien meurs ! Ceci n’est pas un jeu ! Mata-me ou morre! Isto não é um jogo!

Escamillo Escamillo
Soit ! Mais au moins, respire un peu ! Seja! Mas, pelo menos, descansa por um instante!

Don José D. José


En garde ! En garde!

Escamillo Escamillo
En garde ! En garde!

Don José, Escamillo D. José, Escamillo


Mettez-vous en garde Acautelai-vos
et veillez sur vous ! e cuidado!
Tant pis pour qui tarde Azar para quem se defender dos golpes
à parer les coups ! tarde demais!
Mettez-vous en garde, Acautelai-vos e cuidado!
veillez sur vous ! Acautelai-vos!

(Escamillo glisse et tombe sur le gazon ; Don José va le (Escamillo escorrega e cai na relva. D. José dispõe-se a
frapper. Carmen et Dancaïre se précipitent.) feri-lo. Carmen e Dancaïre precipitam-se sobre ele.)

Nº 23 – Final N.º 23 – Final

Carmen (arrêtant le bras de Don José) Carmen (imobilizando o braço de D. José)


Holà ! Holà ! José ! Pára, pára, José!

(Remendado, Mercédès, Frasquita et les contrebandiers (Entram Remendado, Mercédès, Frasquita e os


rentrent.) contrabandistas.)

Escamillo (se relève) Escamillo (levanta-se)


Vrai ! J’ai l’âme ravie Carmen, em boa verdade alegro-me
que ce soit vous, Carmen, qui me sauviez la vie ! que tenhas sido tu a salvar-me a vida.

Carmen Carmen
Escamillo ! Escamillo!

Escamillo (À Don José, gai mais fier.) Escamillo (Para D. José, alegre, mas orgulhoso.)
Quant à toi, beau soldat : Quanto a ti, belo soldado,
nous sommes manche à manche, estamos quites
et nous jouerons la belle e voltaremos a disputar a beldade
le jour où tu voudras reprendre le combat. no dia que quiseres voltar a lutar.

86
Dancaïre (s’interposant) Dancaïre (interpondo-se)
C’est bon, c’est bon ! Plus de querelle ! Pronto, pronto... Basta de discussão!
Nous allons partir. Vamos embora daqui.
(à Escamillo) (a Escamillo)
Et toi l’ami, bonsoir ! Amigo, boa noite para ti!

Escamillo Escamillo
Souffrez au moins qu’avant de vous dire au revoir Antes de me despedir, deixai-me pelo menos
je vous invite tous aux courses de Séville, convidar-vos para a tourada em Sevilha.
je compte pour ma part y briller de mon mieux... Espero dar o meu melhor...
(avec intention) (com intenção)
Et qui m’aime y viendra ! E quem me amar assistirá.
(À Don José qui fait un geste de menace, froidement.) (friamente para D. José que faz um gesto ameaçador)
L’ami, tiens-toi tranquille ! J’ai tout dit... Tranquilo, meu amigo! Já disse tudo, sim, tudo!
(regardant Carmen) (olhando para Carmen)
et je n’ai plus ici qu’à faire mes adieux !... E nada mais me resta fazer aqui senão despedir-me.

(Escamillo sort lentement, Carmen, en extase, le suit (Escamillo sai lentamente; Carmen, extasiada, segue-o
des yeux. Don José est tenu en échec par Dancaïre.) com o olhar. D. José é retido por Dancaïre.)

Don José (à Carmen, menaçant, mais contenu.) D. José (Para Carmen, ameaçador, mas contido.)
Prends garde à toi... Carmen, je suis las de souffrir ! Tem cuidado... Carmen, estou cansado de sofrer!

(Carmen répond à Don José par un léger mouvement (Carmen responde a D. José com um ligeiro movimento
d’épaules et s’éloigne.) de ombros e afasta-se)

Dancaïre Dancaïre
En route, il faut partir ! Vamos, a caminho! Temos de partir.

Contrebandiers Contrabandistas
En route, il faut partir ! Vamos, a caminho! Temos de partir.

Remendado Remendado
Halte ! Quelqu’un est là qui cherche à se cacher. Alto! Está ali alguém que tenta esconder-se!
(il amène Micaëla) (traz Micaëla)

Carmen Carmen
Une femme ! Uma mulher!

Dancaïre Dancaïre
Pardieu ! La surprise est heureuse ! Raios! A surpresa é feliz!

Don José D. José


Micaëla ! Micaëla!

Micaëla Micaëla
Don José ! D. José!

Don José D. José


Malheureuse ! Pobre criatura,
Que viens-tu faire ici ? que vens fazer aqui?

Micaëla Micaëla
Moi ! Je viens te chercher ! Eu? Venho procurar-te!

Carmen 87
Là-bas est la chaumière Lá em baixo, está a casinha
où sans cesse priant, onde, uma mãe, a tua mãe,
une mère, ta mère, reza constantemente pelo filho!
pleure, hélas ! Sur son enfant ! Ai dela que chora por ti!
Elle pleure et t’appelle, Chora e chama por ti
elle pleure et te tend les bras ! e de braços abertos, chora por ti!
Tu prendras pitié d’elle José, Tem piedade dela, José!
ah ! José, tu me suivras ! José, vem comigo! Vem comigo!

Carmen Carmen
Va-t’en, va-t’en, tu feras bien, Vai-te daqui, vai-te! É o melhor que tens a fazer,
notre métier ne te vaut rien ! pois o nosso ofício nada significa para ti!

Don José (à Carmen) D. José (para Carmen)


Tu me dis de la suivre ! Estás a dizer-me para partir com ela?

Carmen Carmen
Oui, tu devrais partir ! Sim, devias partir com ela!

Don José D. José


Tu me dis de la suivre Estás a dizer-me para ir com ela
pour que toi tu puisses courir para que possas correr
après ton nouvel amant ! para os braços do teu novo amante!
Non ! Non vraiment ! Não! Nunca!
Dût-il m’en coûter la vie, Mesmo que me custe a vida,
non, Carmen, je ne partirai pas ! não, Carmen, não irei!
Et la chaîne qui nous lie E a corrente que nos une
nous liera jusqu’au trépas !... unir-nos-á até à morte!
Dût-il m’en coûter la vie, Mesmo que isso me custe a vida,
non, non, je ne partirai pas ! não, não, não irei!

Micaëla Micaëla
Écoute-moi, je t’en prie, Escuta-me, peço-te!
ta mère te tend les bras ! A tua mãe estende-te os braços!
Cette chaîne qui te lie, José, quebra a corrente
José, tu la briseras ! que te prende!

Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre, contrebandiers Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre, contrabandistas
Il t’en coûtera la vie, José, se não partires,
José, si tu ne pars pas, pagarás com a tua vida,
et la chaîne qui vous lie e a corrente que vos une,
se rompra par ton trépas ! quebrar-se-á com a tua morte!

Don José (à Micaëla) D. José (para Micaëla)


Laisse-moi ! Deixa-me!

Micaëla Micaëla
Hélas ! José ! José, por Deus!

Don José D. José


Car je suis condamné ! Sou amaldiçoado!

Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre, contrebandiers Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre, contrabandistas
José! Prends garde ! José! Tem cuidado!

88
Don José (avec emportement) D. José (com ímpeto)
Ah ! Je te tiens, fille damnée ! Ah! És minha, mulher amaldiçoada!
Je te tiens, et je te forcerai bien És minha, e obrigar-te-ei
a subir la destinée a aceitar a fortuna
qui rive ton sort au mien ! que une o teu destino ao meu!
Dût-il m’en coûter la vie, Mesmo que pague com a vida,
non, non, je ne partirai pas ! não, não, não partirei!

Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre, contrebandiers Frasquita, Mercédès, Remendado, Dancaïre, contrabandistas
Ah ! Prends garde, prends garde, Don José ! José! Tem cuidado! Tem cuidado!

Micaëla (avec autorité) Micaëla (com autoridade)


Une parole encore ; ce sera la dernière ! José, uma última palavra: Será a última que te dirijo.
(tristement) (tristemente)
Hélas ! Ta mère se meurt... et ta mère Infelizmente... A tua mãe está a morrer... e não quer
ne voudrait pas mourir sans t’avoir pardonné ! partir sem te perdoar primeiro.

Don José D. José


Ma mère ! Elle se meurt ! A minha mãe está a morrer!

Micaëla Micaëla
Oui, Don José ! Sim, D. José!

Don José D. José


Partons ! Ah ! Partons ! Vamos! Ah, vamos!
(à Carmen) (para Carmen)
Sois contente. Je pars... mais... nous nous reverrons ! Alegra-te... Parto, mas voltaremos a ver-nos!

(Micaëla entraîne Don José) (Micaëla leva D. José)

Escamillo (au loin) Escamillo (ao longe)


Toréador, en garde ! Toureiro, en garde,
Toréador ! Toréador ! toureiro! Toureiro!

qu’un ‘il noir te regarde


Et songe bien, oui, songe en combattant E pensa bem, sim, pensa que durante o combate
um olho negro espreita
et que l’amour t’attend, e o amor espera por ti!
Toréador, l’amour t’attend ! Toureiro, o amor espera por ti!

(En entendant la voix d’Escamillo, Don José s’arrête au (Ao ouvir a voz de Escamillo, D. José detém-se ao
fond, dans les rochers. Regardant Carmen qui écoute, il fundo, nos rochedos. Olhando para Carmen, hesita um
hésite un instant puis, résolument.) instante e depois, decidido.)

Escamillo Escamillo
L’amour t’attend ! O amor espera por ti!

(Don José et Micaëla disparaissent. Les bohémiens (D. José e Micaëla partem. Os contrabandistas pegam
prennent leurs ballots et se mettent en marche.) nos fardos e metem-se a caminho.)

Rideau Cai o pano

Entr’acte Entreacto

Carmen 89
Deuxième Tableau Segundo Quadro
L’entrée du cirque est fermée par un long velum. Grand Entrada de uma arena fechada por uma enorme cortina.
mouvement sur la place. Grande movimentação na praça.

Nº 24 – Chœur N.º 24 – Coro

Marchands de programmes, d’eau, de cigarettes et de vins Vendedores de programas, de água, de cigarros e de vinhos
À deux cuartos ! À deux cuartos ! A dois cuartos, a dois cuartos!

Marchands d’éventails, d’oranges, de programmes, d’eau, Vendedores de leques, de laranjas, de programas, de água,
de cigarettes et de vins de cigarros e de vinho
À deux cuartos ! À deux cuartos ! A dois cuartos, a dois cuartos!

Marchandes d’éventails Vendedores de leques


Des éventails pour s’éventer ! Leques para se abanarem!

(Pendant le chœur, paraissent Zuniga et Andrès avec (Durante o coro, surgem Zuniga e Andrès com
Mercédès et Frasquita.) Mercédès e Frasquita.)

Marchandes d’oranges Vendedores de laranjas


Des oranges pour grignoter ! Laranjas para roer!

Marchands de programmes Vendedores de programas


Le programme avec les détails ! O programa com os pormenores!

Marchands de vins Vendedores de vinho


Du vin ! Vinho!

Marchands d’eau Vendedores de água


De l’eau ! Água!

Marchands de cigarettes Vendedores de cigarros


Des cigarettes ! Cigarros!

Tous les marchands Todos os vendedores


Voyez! À deux cuartos ! Vejam! A dois cuartos!
Voyez! À deux cuartos ! Vejam! A dois cuartos!
Señoras et Caballeros ! Señoras e caballeros!

Zuniga (aux marchandes) Zuniga (às vendedoras)


Des oranges... vite. Laranjas, depressa!

(plusieurs marchandes d’oranges se précipitant) (várias vendedoras de laranjas vão ao encontro de Zuniga)

Marchandes d’oranges Vendedoras de laranjas


En voici... Cá estão elas!
Prenez, prenez, mesdemoiselles. Pegai, pegai, minhas donzelas!

Une marchande (à Zuniga qui la paie) Uma vendedora (para Zuniga que paga)
Merci, mon officier, merci ! Obrigada, senhor oficial, obrigada!

Marchandes d’oranges (à Zuniga) Vendedoras de laranjas (para Zuniga)


Celles-ci, señor, sont plus belles ! Señor, estas aqui são mais bonitas!

90
Marchandes d’éventails Vendedoras de leques
Des éventails pour s’éventer ! Leques para se abanarem!

Marchandes d’oranges Vendedoras de laranjas


Des oranges pour grignoter ! Laranjas para roer!

Marchands de programmes Vendedores de programas


Le programme avec les détails ! O programa com os pormenores!

Marchands de vins Vendedores de vinho


Du vin ! Vinho!

Marchands d’eau Vendedores de água


De l’eau ! Água!

Marchands de cigarettes Vendedores de cigarros


Des cigarettes ! Cigarros!

Zuniga Zuniga
Holà ! Des éventails ! Ei! Leques!

Un marchand (à Zuniga) Um vendedor (para Zuniga)


Voulez-vous aussi des programmes ? Deseja também programas?

Marchands d’éventails, d’oranges, de programmes, et d’eau Vendedores de leques, de laranjas, de programas e de água
À deux cuartos ! A dois cuartos!

Tous les marchands Todos os vendedores


À deux cuartos ! À deux cuartos ! A dois cuartos! A dois cuartos!
Señoras et caballeros! Señoras e caballeros!
Voyez! Voyez ! Vejam! Vejam!

Zuniga Zuniga
Qu’avez-vous donc fait de la Carmencita ? Je ne la Mas o que fizeram à Carmencita?
vois pas. Não a vejo...

Frasquita Frasquita
Escamillo est ici, la Carmencita Como Escamillo está aqui, Carmencita
ne doit pas être loin. não deve andar longe.

Andrès Andrès
Ah ! C’est Escamillo, maintenant ?... Ah! Agora é Escamillo?...

Mercédès Mercédès
Elle en est folle... Ela está louca por ele...

Frasquita Frasquita
Et son ancien amoureux Don José, sait-on E sabe-se o que aconteceu a D. José, o seu
ce qu’il est devenu ? antigo amor?

Zuniga Zuniga
Il a reparu dans le village où sa mère habitait. L’ordre Voltou a aparecer na aldeia onde morava a mãe...
avait même été donné de l’arrêter, mais quand les chegou a ser dada ordem de prisão, mas quando os
soldats sont arrivés, Don José n’était plus là... soldados chegaram, D. José já não estava lá...

Carmen 91
Mercédès Mercédès
En sorte qu’il est libre ? Então, anda à solta?

Zuniga Zuniga
Oui, pour le moment. Sim, por ora.

Frasquita Frasquita
Hum ! Je ne serais pas tranquille à la place de Hum... no lugar de Carmen, eu não estaria muito
Carmen, je ne serais pas tranquille du tout. tranquila, não estaria nada tranquila..

Nº 25 – Chœur et scène N.º 25 – Coro e cena


Cris au dehors Gritos de fora

Enfants (au dehors) Crianças (do interior)


Les voici, les voici, Ei-los! Ei-los!
voici la quadrille ! Eis a cuadrilla!

(entrée des enfants) (entram as crianças)

Chœur Coro
Les voici ! Les voici ! Les voici ! Ei-los! Ei-los!
Voici la quadrille ! Eis a cuadrilla!

Enfants, chœur Crianças e coro


Les voici ! Voici Ei-los! Ei-los!
la quadrille des toreros. Eis a cuadrilla dos toureiros!
Sur les lances, le soleil brille ! O sol brilha nas lanças!
En l’air toques et sombreros ! No ar, capas e sombreros!
Les voici, voici la quadrille, Ei-los! Eis a cuadrilla,
la quadrille des toreros ! a cuadrilla dos toureiros!

(Le défilé commence. Entrée des alguazils.) (Inicia-se o desfile; entrada dos aguazis.)

Enfants Crianças
Voici, débouchant sur la place, Eis surgindo na praça,
voici d’abord, marchant au pas, a marchar primeiro,
l’alguazil à vilaine face. o aguazil de cara má!
À bas ! À bas ! À bas ! À bas ! Fora! Fora! Abaixo com ele!

La foule A multidão
À bas l’alguazil ! À bas ! Abaixo o aguazil, fora com ele!
Et puis saluons au passage E depois, saudemos a passagem
les hardis chulos ! dos corajosos chulos!
Bravo! Viva ! Gloire au courage ! Bravo! Viva! Glória À coragem!
Voici les hardis chulos ! Vejam os chulos corajosos
Voyez les banderilleros, Vejam os bandarilheiros,
voyez quel air de crânerie ! reparem no seu ar fanfarrão!
Voyez ! Voyez ! Vejam! Vejam!
Quels regards, et de quel éclat Que olhares! E como brilham
étincelle la broderie de leur costume de combat ! os bordados dos seus trajes de luz!
Voyez ! Voyez ! Vejam! Vejam!
Voici les banderilleros ! Eis os bandarilheiros!
Une autre quadrille s’avance ! Avança outra cuadrilla!

92
Voyez les picadors! Comme ils sont beaux ! Vejam os picadores! Ah! Que belos!
Comme ils vont du fer de leur lance A ponta das suas lanças
harceler le flanc des taureaux ! irá picar o flanco dos touros!
L’Espada ! L’Espada ! O Espada! O Espada!
Escamillo ! Escamillo ! Escamillo! Escamillo!
(paraît enfin Escamillo ayant près de lui Carmen (surge Escamillo acompanhado de uma Carmen
radieuse et très bien nippée) radiante e vestida a rigor)
C’est l’Espada, la fine lame, É o Espada, a fina lâmina,
celui qui vient terminer tout, aquele que vem terminar tudo,
qui paraît à la fin du drame é quem surge no final do drama
et qui frappe le dernier coup ! e desfere o último golpe!
Vive Escamillo ! Bravo ! Viva Escamillo! Viva!
Les voici, voici Ei-los! Ei-los!
la quadrille des toreros ! Eis a cuadrilla de toureiros!

Escamillo (à Carmen) Escamillo (a Carmen)


Si tu m’aimes, Carmen, Carmen, se me amas,
tu pourras, tout à l’heure, em breve terás
être fière de moi ! orgulho em mim!
Si tu m’aimes ! Se me amas!

Carmen Carmen
Ah ! Je t’aime, Escamillo, je t’aime, et que je meure Ah! Amo-te, Escamillo! Amo-te e que morra
si j’ai jamais aimé quelqu’un autant que toi ! se algum dia amei outro tanto como tu!

Carmen, Escamillo Carmen, Escamillo


Ah ! Je t’aime ! Amo-te!
Oui, je t’aime ! Sim, amo-te!

Enfants Crianças
L’Alcade ! O alcaide!

Quatre Alguazils Quatro Aguazis


Place ! Place ! Place au seigneur Alcade ! Deixem passar! Deixem passar o senhor alcaide!

(O alcaide atravessa lentamente a cena precedido e (O alcaide atravessa lentamente a cena precedido e
antecedido dos aguazis Frasquita et Mercédès antecedido dos aguazis. Frasquita e Mercédès
s’approchent de Carmen.) aproximam-se de Carmen.)

Frasquita Frasquita
Carmen, un bon conseil... ne reste pas ici. Carmen, um bom conselho... Não fiques aqui.

Carmen Carmen
Et pourquoi, s’il te plaît ? E porquê, podes dizer-me?

Mercédès Mercédès
Il est là... Ele está ali!

Carmen Carmen
Qui donc ? Quem?

Mercédès Mercédès
Lui ! Ele!
Don José ! Dans la foule il se cache, regarde... D. José! Escondido no meio da multidão, olha...

Carmen 93
Carmen Carmen
Oui, je le vois. Sim, estou a vê-lo.

Frasquita Frasquita
Prends garde ! Tem cuidado!

Carmen Carmen
Je ne suis pas femme à trembler devant lui... Não sou mulher de ter medo dele...
Je l’attends et je vais lui parler. Fico à espera e vou falar com ele.

Mercédès Mercédès
Carmen, crois-moi, prends garde ! Carmen! Ouve-me. Tem cuidado!

Carmen Carmen
Je ne crains rien ! Não tenho medo de nada.

Frasquita Frasquita
Prends garde ! Tem cuidado!

(L’Alcade entre dans le cirque. Derrière lui, le cortège (O alcaide entra na arena; atrás dele, o cortejo da
de la quadrille reprend sa marche. Les populaires cuadrilla retoma a sua marcha; os populares seguem.
suivent. La foule en se retirant dégage Don José. Ao debandar, a multidão deixa D. José a descoberto.
Carmen et Don José restent seuls ; Carmen va D. José e Carmen ficam sós. Carmen dirige-se
résolument à Don José.) resolutamente para D. José.)

Nº 26 – Duo final N.º 26 – Dueto final

Carmen Carmen
C’est toi ! És tu!

Don José D. José


C’est moi ! Sou eu!

Carmen Carmen
L’on m’avait avertie Avisaram-me
que tu n’était pas loin, que tu devais venir ; que não andavas longe... que devias vir...
l’on m’avait même dit de craindre pour ma vie ; Avisaram-me até de temer pela minha vida;
mais je suis brave! Je n’ai pas voulu fuir ! mas sou mulher de coragem e não quis fugir!

Don José D. José


Je ne menace pas ! J’implore... je supplie ! Não ameaço... Imploro... Suplico!
Notre passé, Carmen, O nosso passado, Carmen...
notre passé, je l’oublie !... o nosso passado, eu esqueço-o!
Oui, nous allons tous deux Sim, vamos começar
commencer une autre vie, uma nova vida,
loin d’ici, sous d’autres cieux ! longe daqui, sob outros céus!

Carmen Carmen
Tu demandes l’impossible ! Pedes o impossível!
Carmen jamais n’a menti ! Carmen nunca mentiu!
Son âme reste inflexible ; A sua alma permanece inflexível;
entre elle et toi... c’est fini ! entre ela e tu, tudo acabou!
Jamais je n’ai menti ! Nunca menti!
entre nous c’est fini ! Entre nós, tudo acabou!

94
Don José D. José
Carmen, il est temps encore, Carmen, ainda é tempo...
oui, il est temps encore... sim, ainda é tempo...
Ô ma Carmen, laisse-moi Minha Carmen, deixa-me
te sauver, toi que j’adore, salvar-te, a ti, que eu adoro!
Ah ! Laisse-moi te sauver Ah! deixa-me salvar-te
et me sauver avec toi ! e eu salvar-me contigo!

Carmen Carmen
Non ! Je sais bien que c’est l’heure, Não! Sei bem que chegou a hora,
je sais bien que tu me tueras ; sei bem que chegou a hora de me matares;
mais que je vive ou que je meure, mas quer viva quer morra,
non, non, non, je ne te céderai pas ! não, não, não cederei!

Don José D. José


Ah ! Laisse-moi te sauver, Carmen, Minha Carmen, deixa-me salvar-te,
toi que j’adore ! a ti, que eu adoro!
Et me sauver avec toi ! E eu salvar-me contigo!

Carmen Carmen
Pourquoi t’occuper encore Por que pensas ainda
d’un cœur qui n’est plus à toi ! num coração que já não te pertence!
Non, ce cœur n’est plus à toi ! Não, este coração já não te pertence!
En vain tu dis : « je t’adore ! » Dizes em vão «Adoro-te!»
Tu n’obtiendras rien de moi, Não terás nada de mim, nada!
Ah ! C’est en vain... Ah! É inútil!
Tu n’obtiendras rien de moi ! Nada terás de mim, nada!

Don José (avec anxiété) D. José (ansioso)


Tu ne m’aimes donc plus ? Então já não me amas?

Carmen (simplement) Carmen (simplesmente)


Non ! Je ne t’aime plus. Não! Já não te amo!

Don José (avec passion) D. José (apaixonadamente)


Mais moi, Carmen, je t’aime encore, Mas eu, Carmen, ainda te amo!
Carmen, hélas ! Moi, je t’adore ! Carmen, meu Deus! Eu adoro-te!

Carmen Carmen
A quoi bon tout cela ? Que de mots superflus ! De que vale isso? Tantas palavras vãs!

Don José D. José


Carmen, je t’aime, je t’adore ! Carmen, amo-te, adoro-te!
Eh bien ! S’il le faut, pour te plaire, Pois bem! Se for preciso, para te agradar
je resterai bandit... tout ce que tu voudras... tornar-me-ei bandido, tudo o que quiseres,
Tout ! Tu m’entends... tout ! Mais ne me quitte pas, estás a ouvir-me? Tudo! Mas não me deixes,
ô ma Carmen ! Ah ! Souviens-toi minha Carmen. Ah! Lembra-te
du passé ! Nous nous aimions, naguère ! do passado. Nós amávamo-nos então!
(désespéré) (desesperado)
Ah ! Ne me quitte pas, Carmen… Ah, Carmen, não me deixes...

Carmen Carmen
Jamais Carmen ne cédera ! Carmen nunca cederá!
Libre elle est née et libre elle mourra ! Livre nasceu e livre morrerá!

Carmen 95
Chœur et fanfares (dans le cirque) Coro e fanfarras (na arena)
Viva ! Viva ! Viva ! La course est belle ! Viva! Viva! Viva! Bela corrida!
Sur le sable sanglant Na areia ensanguentada,
le taureau qu’on harcèle o touro que se espicaça
s’élance en bondissant. ataca de um salto!
Viva ! Viva ! Viva! Viva!
Bravo ! Bravo ! Bravo ! Bravo !
Victoire ! Victoire ! Vitória! Vitória!

(En entendant les cris : « Victoire, victoire! » Carmen (Ao ouvir os gritos de vitória, Carmen deixa escapar
laisse échapper une exclamation de joie. Don José ne uma exclamação de alegria. D. José não a perde de
la perd pas de vue, elle fait un pas du côté du cirque.) vista; ela dá um passo para o lado da arena.)

Don José (se plaçant devant elle) D. José (barrando o caminho a Carmen)
Où vas-tu ? Onde vais?

Carmen Carmen
Laisse-moi. Deixa-me passar!

Don José D. José


Cet homme qu’on acclame, Esse homem que aplaudem
C’est ton nouvel amant ! é o teu novo amante!

Carmen (voulant passer) Carmen (querendo passar)


Laisse-moi... laisse-moi... Deixa-me... deixa-me passar...

Don José D. José


Sur mon âme, Pela minha alma, Carmen,
Tu ne passeras pas, não passarás!
Carmen, c’est moi que tu suivras ! É a mim que seguirás!

Carmen Carmen
Laisse-moi, Don José, je ne te suivrai pas. Deixa-me, D. José, não te seguirei...

Don José (avec rage) D. José (enraivecido)


Tu vas le retrouver, dis... tu l’aimes donc ? Vais ter com ele... diz-me... Então, ama-lo?

Carmen Carmen
Je l’aime ! Amo-o!
Je l’aime et devant la mort même, Amo-o e mesmo perante a morte,
je répèterais que je l’aime ! repetirei que o amo!

Chœur et fanfares (dans le cirque) Coro e fanfarras (na arena)


Viva ! Bravo ! Bravo ! Victoire ! Viva! Bravo ! Bravo ! Vitória!
Frappé juste en plein cœur ! Atingido em pleno coração!
Le taureau tombe ! O touro cai!
Gloire ! Gloire au torero vainqueur ! Glória! Glória ao toureiro vitorioso!
Victoire ! Vitória!

96
Don José (avec violence) D. José (com violência)
Ainsi, le salut de mon âme Ia perder eternamente a minha alma
je l’aurai perdu pour que toi, para que tu, mulher infame,
pour que tu t’en ailles, infâme, fosses para os braços dele
entre ses bras rire de moi ! rires-te de mim!
Non, par le sang, tu n’iras pas ! Não, pelo meu sangue, não irás!
Carmen, c’est moi que tu suivras ! Carmen, é a mim que seguirás!

Carmen Carmen
Non, non ! Jamais ! Não, não! Nunca!

Don José D. José


Je suis las de te menacer ! Estou cansado de te ameaçar!

Carmen (avec colère) Carmen (com cólera)


Eh bien ! Frappe-moi donc, ou laisse-moi passer. Pois bem! Mata-me, ou deixa-me passar!

Chœur (au cirque) Coro (na arena)


Victoire ! Victoire ! Vitória! Vitória!

Don José (éperdu) D. José (de cabeça perdida)


Pour la dernière fois, démon, Pela última vez, demónio:
veux-tu me suivre ? queres vir comigo?

Carmen Carmen
Non ! Non ! Não, não!
(À demi voix, avec rage.) (A meia voz, com raiva.)
Cette bague, autrefois, tu me l’avais donnée... Deste-me um dia este anel...
Tiens ! Toma-o!
(elle la jette à la volée) (atira o anel)

Don José (Le poignard à la main, s’avançant sur D. José (Com a faca na mão, avança em direcção
Carmen.) a Carmen.)
Eh bien ! Damnée ! Seja! Maldita!

(Carmen recule. Don José la poursuit. Pendant ce (Carmen recua. D. José persegue-a. Durante este
temps fanfares et ch’ur dans le cirque.) tempo, fanfarras e coro ouvem-se na arena.)

Chœur Coro
Ah ! Toréador, en garde ! Toureiro, en garde, toureiro!
Toréador ! Toréador ! Toureiro! Toureiro!

qu ‘un ‘il noir te regarde


Et songe bien, oui, songe en combattant E pensa bem, sim, pensa que durante o combate
um olho negro espreita
et que l’amour t’attend, e o amor espera por ti!
Toréador, l’amour t’attend ! Toureiro, o amor espera por ti!

Carmen 97
(Donosé a frappé Carmen. Elle tombe morte. Le vélum (D. José desfere uma facada em Carmen; cai morta.
s’ouvre. Escamillo paraît sur les marches du cirque Abre-se a cortina da arena; surge Escamillo rodeado
entouré de la foule qui s’acclame, entr’elle Mercédès, pela multidão que o aclama. Entre a multidão estão
Frasquita, Zuniga, Andrès. Escamillo aperçoit Carmen Mercédès, Frasquita, Zuniga e Andrès. Escamillo
étendue morte par terre.) apercebe-se de Carmen morta, estendida no chão.)

Don José (se levant) D. José (levantando-se)


Vous pouvez m’arrêter... c’est moi qui l’ai tuée ! Podem prender-me... fui eu quem a matou!
Ah ! Carmen ! Ma Carmen adorée ! Ah! Carmen! Minha Carmen adorada!

Rideau Cai o pano

Fin Fim

Tradução do libreto para efeitos de legendagem


e publicação no programa
Rui Esteves

98
Francisco Goya, Paseo por Andalucía o La maja y los
embozados, 1777.
Bruno Caseirão Contudo, a questão que se coloca é se seriam estas
À Mivá, no segundo aniversário da Maria Caetana verdadeiramente as intenções de Georges Bizet, o
compositor de Carmen, que assim criou uma das
óperas de maior sucesso de todo o repertório operático,
sintetizando na mesma, muitos dos arquétipos do
género mas também, como nos diz Dahlhaus 2,
acrescentando um certo toque de «exotismo» pela
música tão sugestivamente espanhola, criada por
Sei bem que é a hora! alguém que nunca esteve em Espanha e muito menos
Carmen, a morte como destino na Andaluzia.

O momento em que me quero deter é o do genial final Georges Bizet, nasceu em Paris, em 1838, e aí
da ópera, em dois planos distintos e, com duas morreu, em 1875, com apenas trinta e seis anos, no
leituras interpretativas também elas díspares. Num mesmo ano em que se estreava Carmen. Na verdade,
deles, na zona dos curros da praça de touros, D. José o compositor dedicou grande parte da sua vida à
assassina Carmen enquanto no outro, na praça de ópera e, nesta, a vários subgéneros. Nesse verdadeiro
touros, Escamillo, toureiro vitorioso, lidando o touro, devir operático, Carmen deve ser compreendida como a
é aclamado pela multidão. Uma possível leitura é brilhante e, quiçá, imprevista conclusão de um processo
a de que ambos, mulher e touro, surgem como heróis que se iniciara anos antes e, ao longo do qual, surgiram
momentâneos e forçados, na medida em que cerca de trinta projectos, muitos incompletos, e apenas
investem para a morte mas, no fundo, não deixam de seis óperas concluídas.
ser vítimas de uma sociedade oitocentista e
estereotipada em que cada um tem o seu lugar, dele Tal facto deve-se provavelmente à volubilidade do
não podendo escapar. Urge reconhecer que D. José, próprio compositor ao longo da sua carreira, da própria
na medida em que se apaixona por quem não deve selecção de temas e libretos e sua transposição para
e por quem na verdade não o ama, pela exclusão música os quais, frequentemente, se revelaram erróneos.
social e pela negação do amor de Carmen, é também Possivelmente por essa razão também, alguns
ele uma vítima inclusive, iniciando desta forma musicólogos, reconhecendo que o compositor terá
um processo de exclusão para uma verdadeira terra atingido a maturidade numa época em que tanto o
de ninguém. Théâtre Lyrique como a Opéra Comique estavam já num
processo de declínio (até pela fortíssima presença do
A segunda leitura, a qual possibilita ela própria drama musical wagneriano) atendendo à dinâmica
variadíssimas interpretações, é a de Carmen própria dos teatros de ópera no século XIX e da
enquanto femme fatale, uma mulher que se liberta do produção operática oitocentista, não compreendem
jugo dos homens e das convenções da época, uma qual a razão ou conjunto de razões que levaram o
verdadeira percursora do movimento feminista e dos compositor a dedicar-se tanto a projectos gorados
direitos da mulher. Aliás, como defende Evlyn Gould 1 como Ivan IV e Don Rodrigue, ou mesmo La jolie fille de
em The Fate of Carmen, a feminilidade, a atracção Perth, em detrimento de outros como La coupe du roi de
fatal sobre os homens, o desafio à autoridade e às Thulé, Clarissa Harlowe ou mesmo Don Quixote, que
convenções sociais que, inicialmente, marcam a poderiam ter tido maior sucesso. Mesmo assim, não
recepção de Carmen e, posteriormente, dão origem a obstante o que anteriormente foi dito, Bizet nunca
uma leitura eminentemente feminista, inspiradora de parou de receber encomendas o que, no mínimo, não
revolta e liberdade. deixa de ser um sinal de reconhecimento.

1 2
Gould, Evlyn, The Fate of Carmen (Parallax: Re-visions of Culture and Dahlhaus, Carl, Nineteenth-Century Music (California Studies in 19th-
Society), The Johns Hopkins University Press, 1996. Century Music), University of California Press, 1991, p. 280.

Carmen 101
Acusado de ser wagneriano, aliás como todos aqueles Mesmo assim, Bizet continua, durante o ano de
que tentavam ser musicalmente inovadores na época, 1873, a trabalhar na composição da ópera de forma
Bizet destaca-se precisamente por ter inovado sem continuada, deixando inclusive inacabado outro
ser à sombra de Wagner. Atente-se na produção projecto, Don Rodrigue. Ainda nesse ano, é contratada
operática do compositor, de Don Procopio a Carmen, Galli-Marié para cantar o papel de Carmen. Segue-se,
nesta o compositor reutiliza constantemente secções durante o Verão de 1874, a orquestração da ópera
do mesmo material de um projecto para outro a ponto e os ensaios iniciam-se em Setembro. Com estes,
de não conseguir atenuar uma certa sensação de nascem também os problemas, a começar pelas
tensão. Repare-se na declamação e versos de D. José dificuldades técnicas e exigências da partitura,
em «La fleur que tu m’avais jetée,» presente no Acto II nomeadamente aos instrumentistas da orquestra,
da Carmen, ou em «Votre toast, je peux vous le que a consideram demasiadamente difícil para as
rendre», de Escamillo. Nestes, o compositor prefere suas capacidades, ou o carácter solista e dramatúr-
salientar o ambiente, estado de alma e mesmo a cor gico do coro, que era convocado, mais do que em
sugerida pelas palavras do que propriamente a grupo, a agir individualmente. Também De Leuven se
métrica das mesmas e, como alguns musicólogos sente no direito de atacar, acusando Bizet de, com a
salientam, neste sentido, aproxima-se de Mozart cujo sua música tão sugestivamente evocadora de
génio para a voz humana é por demais conhecido3. Espanha, destruir as qualidades dramatúrgicas da
obra de Mérimée.
Bizet preocupava-se preferencialmente com o
tratamento dramático da música. Hugh Macdonald4 Felizmente, Bizet não se sentiu pressionado com
chega a afirmar que, possivelmente, tal como aconteceu as inúmeras exigências e comentários que iam
com dois magos da produção operática, Verdi e Wagner, surgindo aqui e ali e, apoiado por Galli-Marié – pois
também o compositor de Carmen, se tivesse vivido mais era ela que iria encarnar Carmen –, não cede, ou
anos, teria desenvolvido a (sua própria) linguagem condescende apenas em realizar pequenos ou
musical e dramatúrgica presentes já nesta ópera. Na mínimos compromissos. Carmen, na verdade, é
verdade, quer Verdi, quer Wagner, tinham também eles surpreendentemente inovadora, livre como a própria
descoberto, na terceira década de vida, a sua própria afirma na Habanera – «L’amour est un oiseau rebelle»
linguagem musical, estando então ainda por surgir o – e portadora de uma sexualidade descaradamente
melhor das suas produções operáticas. sedutora que, quase como Don Giovanni, troca de
amante como quem colhe flores, só lhe faltando
Carmen insere-se no âmbito da ópera cómica, em mesmo um catálogo.
quatro actos e com libreto de Henri Meilhac e Ludovic
Halévy, sendo este baseado no romance de Prosper Como se não chegasse, Bizet estende esta liberdade
Mérimée e que surge após a má recepção aquando da feminina a todas as operárias da fábrica de cigarros,
estreia de Djamileh, em 1872, na Opéra Comique. que brigam e fumam em palco, isto sem falar no tal
Mesmo assim, os seus directores, Du Locle e De aspecto que tanta repulsa criava em De Leuven – a
Leuven, convidam Bizet a compor uma nova ópera em morte da protagonista em palco. Se quiséssemos
três actos. Entre os vários temas possíveis surge, pela dar azo a considerações no feminino poderíamos
mão do próprio compositor, a Carmen de Mérimée a continuar com a própria música, a fragrância
qual é recebida com entusiasmo pelos libretistas. Os espanhola e a orquestração que a serve. Pierre Boulez
directores da Opéra Comique, um pouco receosos, no ensaio intitulado Debussy: Orchestral Works5, alerta-
principalmente De Leuven, que vê no assassínio de -nos que foi com Carmen que se iniciou a influência da
Carmen – no final da ópera e em palco – algo que era música espanhola em França e esta é tão forte como
inapropriado a um teatro de ópera «familiar», ao ponto a de Goya em Manet.
de, mais tarde, acabar por abandonar o projecto.

3 5
Macdonald, Hugh, «Carmen (ii).» In The New Grove Dictionary of Opera, Boulez, Pierre, Debussy: Orchestral Works em Orientations: Collected
edited by Stanley Sadie. Grove Music Online. Oxford Music Online, Writings, Harvard University Press, 1990, p. 318.
www.oxfordmusiconline.com/subscriber/article/grove/music/O008315.
4
Macdonald, Hugh. In, Op., cit.

102
Regressando ao público parisiense oitocentista, a tourada na qual brilha Escamillo e a dor da protago-
estaria ele preparado para tamanha inovação e desta nista e D. José que tornaram Carmen num dos maiores
feita no feminino? Parece que nem tanto. Quando a sucessos do repertório operático. A sua influência é tal
3 de Março de 1875 a ópera se estreou e com esta, que são inúmeros os cantores associados aos principais
simultaneamente, a publicação da partitura vocal papéis da ópera, bem como a adaptação da ópera em
com acompanhamento de piano, houve uma clara suites e outras transformações/transcrições como
recepção e interesse por parte da crítica, não aquelas de Pablo de Sarasate ou Vladimir Horowitz.
passando despercebida, mas também acompanhada
pelo visível desagrado do público. Só nesse ano houve Contudo, durante décadas, Carmen foi levada à cena
quarenta e cinco récitas da ópera e por um acaso do sem ser na versão verdadeiramente ou adequada-
destino, Bizet morre na noite da trigésima terceira mente de opéra-comique, ou seja, sem os recitativos
récita de Carmen a 3 de Junho de 1875. em diálogo de Guiraud, aliás uma tendência que só
muito recentemente se tem vindo a alterar.
Mesmo a recepção da ópera pelos seus colegas, entre (In)felizmente, como uma ópera é quase como um
estes, compositores como Saint-Saëns e Tchaikovski, organismo vivo que se vai transformando de produção
foi encorajadora pois estes reconheceram de imediato para produção, de teatro para teatro, Carmen tem sido
a força e originalidade de Carmen, algo que escapou também uma verdadeira (quase) antevisão da Obra
aos empresários operáticos parisienses que só Aberta6, e está hoje fixada na edição de Fritz Oeser
verdadeiramente a aceitaram em 1883, época em que realizada em 1964. Diz-se que mesmo esta versão,
a ópera era já um enorme sucesso mundial, inclusive acaba também ela por não respeitar as indicações de
reconhecida e admirada também por compositores Bizet, pois inclui secções que tinham sido excluídas
tão díspares esteticamente como Brahms, Wagner e pelo compositor aquando da publicação da partitura
mesmo o filósofo alemão Nietzsche. Este último, para canto e piano.
chegou a pronunciar aquilo que muitos podem
entender como uma boutade que, entretanto, se se No fundo, a questão que se coloca será: o que faz de
celebrizou – Carmen era o perfeito antídoto à neurose Carmen algo tão singular no panorama operático
wagneriana. internacional? A feliz inclusão de cenas convencionais,
cómicas e sentimentais em conjunto com um realismo
Mesmo assim, a afirmação de Nietzsche é uma exacerbado que transpõe os códigos morais de toda
constatação. A alegria e força da música «espanhola» uma época? Um exotismo que ultrapassa em muito a
de Carmen, mesclada com a tensão dramática entre dimensão regional de um certo ambiente andaluz, a
D. José e Carmen, no final da ópera, são tão directas atmosfera de uma praça de touros (verdadeiro
e efectivas que pouco têm de realmente interessante símbolo de vida e morte, desse anel como falava José
e profundo. Mesmo no âmbito da musicologia Saramago) mesclado com uma estalagem de
académica, pouco tem sido produzido sobre esta contrabandistas? Ou será antes o comportamento
ópera. As referências são escassas e até ensaístas e quase lascivo das operárias da fábrica de cigarros?
comentadores mais transversais no âmbito da cultura
ocidental e europeia em particular – quando Na sua essência, a ópera ultrapassa em muito a tal
comparada com óperas como, por exemplo, Don dimensão do exotismo espanhol, inserindo-se também
Giovanni de Mozart – são parcos em alusões ou na dimensão e tradição da opéra-comique. Hugh
comentários à mesma. Macdonald7 argumenta que o facto de os diálogos e as
melodias serem baseadas em conjuntos de dois
Seguramente que é essa força viva, dessa comunhão versos, nos quais o cantor tem a possibilidade de se
entre a alegria de uma Andaluzia – de cenas como apresentar, como acontece na Habanera de Carmen no
aquelas em que surge a população, nomeadamente Acto I e nas Coplas de Escamillo na canção do
crianças, os oficiais e as empregadas da fábrica – ou Toreador, ambas concluídas com a participação do

6
Bondanella, Peter, Umberto Eco and the Open Text: Semiotics, Fiction,
Popular Culture, Cambridge University Press, 2005, e Eco, Umberto, The
Open Work, Harvard University Press, 1989.
7
Macdonald, Hugh, in Op. cit.

Carmen 103
Henri Meilhac, o dramaturgo e libretista francês Ludovic Halévy (c. 1890), também autor,
(1831-1897) que muito colaborou entre outros, do libreto de Orphée aux
com Jacques Offenbach. enfers.
coro em refrão, são a prova dessa filiação. A descrição Escamillo tem também um papel a cumprir. Mais do
dos contrabandistas, Dancaïre e Remendado, como que criar uma cisão entre o bem e o mal, com a sua
figuras cómicas, pertencem também elas a essa virilidade, intensificada pelo facto de ser toureiro e
mesma tradição. Inclusive, a influência do lirismo assim ir enfrentando a morte, acaba por funcionar
francês tão próximo a Gounod, mentor de Bizet, é tão como imagem de Carmen no masculino; também ele,
forte que se faz sentir também ao ponto do primeiro não se preocupa com infidelidades e amores eternos.
afirmar que a ária de Micaëla, no III Acto, «Je dis que O que poderá chocar em Carmen é que também ela se
rien ne m’épouvante», lhe terá sido roubada. Como comporta como um homem e assim torna-se livre.
também afirma Macdonald, esta é como um eco do Avivando assim a questão da diferença entre sexos e,
estilo da ópera de Gounod, Roméo et Juliette, na qual com base nesta, do despertar de um certo feminismo,
Bizet tinha participado como pianista e assistente. Carmen será assim livre, nem que seja (e apenas) no
O mesmo acontece com a já anteriormente mencionada momento de morrer.
ária de D. José que, segundo Macdonald8, não só é genial
como ultrapassa o mestre – Gounod – na capacidade
de incorporar um solo durante um dueto. Até Escamillo Com Carmen, Bizet transfigura-se de um simples
encontra a sua origem em Gounod, pois será segura- (e mortal) compositor lançando-se nos braços de uma
mente um primo de Ourrias, o vaqueiro fanfarrão de intemporalidade e reconhecimento artístico únicos. A
Mireille, que Bizet tão bem conhecia. sua veia melódica e riqueza, harmónica e orquestral,
de um brilhantismo e intensidade estonteantes
Uma leitura, mesmo que fugaz, da Carmen de aproximam-se da perfeição. O que não quer dizer que
Mérimée mostra-nos que Micaëla e Escamillo não têm nos acerquemos dos Himalaias de um Tristão e Isolda,
aí qualquer importância. São, na verdade, introdu- de uma Elektra ou mesmo do já mencionado Don
zidos pelos libretistas de modo a tornarem a acção Giovanni. Como dizia Messiaen11 e, em certa medida,
dramática mais convincente. Funcionando como corroborado por Dahlhaus, o sucesso de Carmen está
opostos, são como contrastes, pois Micaëla ama na sua simplicidade (e riqueza) de verdadeira opereta.
devotamente D. José, sendo pura e afeiçoada à mãe Nunca até então tinha um compositor tido ao seu
deste. A sua função é a de – por contraste – tornar a dispor um libreto tão conseguido, com verdadeira
personagem de Carmen ainda mais radical. Como verve e inspiração.
explica Carl Dahlhaus9, a sua função nos Actos I e III,
é a de lembrar a D. José qual o seu passado e, ao fazê- Próxima do verismo italiano, dos dramas do quotidiano
-lo, acentuar o declínio moral deste. Na realidade, e de ciúmes (momentaneamente desmedidos) das suas
Micaëla e D. José representam na ópera o resquício personagens, Carmen distingue-se por ser a única ou,
das convenções do drame lyrique. Sem o dueto entre pelo menos, uma das pouquíssimas femmes fatales da
ambos e a ária de Micaëla o que restaria de história da ópera. Nem mesmo a Salome de Richard
verdadeiramente lírico? Seria o cantabile apaixonado Strauss ou a enigmática Lulu de Alban Berg o
de D. José no Final da ópera e a conhecida ária/dueto conseguem pois, na sua essência, seja ela de um
«La fleur que tu m’avais jetée» em que o resultado é o feminismo, de novas técnicas musicais ou mesmo de
oposto do esperado, pois Carmen, indiferente ao uma estética quanto baste nacionalista, mescla o
lirismo apaixonado de D. José, apercebe-se que a sua melhor do convencionalismo operático com inovação.
afeição, tão casual como episódica, terá findado e O seu sucesso é o de ser directamente marcante.
decide-se a explorar a fraqueza deste10, o que, de Possivelmente, por essa razão também é um verdadeiro
certa forma, encontra eco no que Escamillo faz com o clássico (e) popular.
touro na arena.

8 11
Macdonald, Hugh, in Op. cit. Boivin, Jean, La classe de Messiaen, Christian Bourgois, 1995.
9
Dahlhaus, in Op. cit.
10
Dahlhaus, Carl, in Op. cit., p. 280.

Carmen 105
Regressando ao momento sobre o qual me queria logo desde o início a morte às mãos de D. José, diz-
deter logo de início, o do genial final da ópera em -lhe «Tu me tuerais… peut-être… Que m’importe? Après
dois planos distintos, pois nele se encerra qualquer tout, le destin est le maître» e, quando chega o momento
possibilidade de remissão ou da procura de Amor. final, afirma «Je sais bien que c’est l’heure…».
Através da expressão musical, pela própria música
que, pela sua disposição em dois planos, e até pela Carmen, ao contrário das restantes personagens,
sua instabilidade, como que nos encaminha para mesmo vocalmente, vai-se transformando ao longo da
um fim em que a morte de Carmen, mais do que ópera. Da forma como interage com as restantes
uma possibilidade – como em Norma, Otello ou personagens e situações, da sua origem cigana,
Tristão em que todos os amantes morrem de amor, à sintonia com o idioma romântico de D. José ao à
Liebestod – é uma necessidade. Há nesta (morte) um vontade com que convive com os contrabandistas,
verdadeiro desfecho do drama. Assim, tal como o Carmen, na habilidade em defender-se e adaptar-se
touro, Carmen tem de morrer pois é essa a sua às situações que a rodeiam, é verdadeiramente
(verdadeira) condição. camaleónica16 sem contudo – sendo este o cerne de
toda a ópera – revelar-se17.
As leituras possíveis do final da ópera são várias. Se
Adorno12 vê em Carmen como uma mulher que
desafia a sociedade burguesa, já Nietzsche13, por
ventura numa leitura mais perspicaz, vê nela o anti-
-romantismo, o oposto mediterrânico à ilusão e
transcendência do destino, do amor sublime e sentir
metafísico do norte da Europa14. Carmen morre
porque não ama D. José e este, segundo Nietzsche, ao
fazê-lo, realça o sentido mais profundo da tragédia,
que o amor, na sua essência, é egoísta.

Dahlhaus, partindo de uma análise musical e não


filosófica, defende que a verdadeira identidade
(musical) de Carmen é a de um verdadeiro protótipo
de realismo operático, quebrando, mesmo nesse
sentido, os laços que a ligam à tradição operática
francesa. Deste modo, o realismo de Bizet consiste
historicamente numa mudança de paradigma: a
música, em toda a sua dimensão quase pictórica,
torna-se o elemento central e o diálogo lírico ou
o monólogo – tão próximo ao universo operático
francês –, tornam-se elementos periféricos15.

A concluir, realçaria que aquilo que nos deslumbra em


Carmen é a sua veracidade enquanto mulher de um
carácter fortíssimo, «Je chante pour moi-même»,
realçada pela telúrica España de Bizet. Pressentindo

12 16
Adorno, Fantasia supra Carmen em Quasi Una Fantasia: Essay on Tomlinson, Gary, in Op. Cit., pp. 124-5 e McClary, Susan, Georges
Modern Music (Verso Classics), Verso, 1998. Bizet: Carmen (Cambridge Opera Handbooks), Cambridge University
13 Press, 1992, p. 57.
Nietzsche, Friedrich, The Case of Wagner, A Musician’s Problem in The 17
Anti-Christ, Ecce Homo, Twilight of the Idols: And Other Writings Nesse sentido também, embora culturalmente distante, aproxima-se
(Cambridge Texts in the History of Philosophy), Cambridge University do Final do Fausto, de Goethe, quando este conclui que O Eterno-
Press, 2005, pp. 231-262. -Feminino/Atrai-nos para si in Goethe, Johann W., Fausto, tradução de
14
João Barrento, Relógio d'Água Editores, Lisboa, 1999, vs. 12110 a
Tomlinson, Gary, Metaphysical Song, Princeton University Press, 1999, 12111.
p. 123 e pp. 172-73.
15
Dahlhaus, in Op. Cit. pp. 282-3.

106
Litografia de uma cena em que a mulher assume o
papel do homem no jogo da sedução (séc. XVIII;
publicada em Berlim, 1855).

Bibliografia consultada e sugerida


Adorno, Fantasia supra Carmen em Quasi Una Fantasia: Essay on Modern Music (Verso Classics), Verso, 1998.
Dahlhaus, Carl, Nineteenth-Century Music (California Studies in 19th-Century Music), University of California Press, 1991
Gould, Evlyn, The Fate of Carmen (Parallax: Re-visions of Culture and Society), The Johns Hopkins University Press, 1996.
McClary, Susan, Georges Bizet: Carmen (Cambridge Opera Handbooks), Cambridge University Press, 1992.
Nicholas, John (Ed.), Carmen: English National Opera Guide 13 (English National Opera Guides), Oneworld Classics, 1982.
Nietzsche, Friedrich, The Case of Wagner, A Musician’s Problem in The Anti-Christ, Ecce Homo, Twilight of the Idols:
And Other Writings (Cambridge Texts in the History of Philosophy), Cambridge University Press, 2005, pp. 231-262.
Solliers, Jean de, Commentaire musical et littéraire sur Carmen de Georges Bizet, L’avant-scène opéra, n.º 26, 2007.
Tomlinson, Gary, Metaphysical Song, Princeton University Press, 1999.

Carmen 107
Julia Jones
Direcção musical

Desde a Temporada de 2008/2009 que ocupa o lugar de maestro titular da Orquestra


Sinfónica Portuguesa, destacando-se a direcção musical de Turangalîla (Messiaen) e
Fidelio (Beethoven) no CCB. Nascida em Inglaterra, vem afirmando cada vez mais uma
carreira de sucesso internacional com apresentações regulares nos principais teatros
líricos da Europa. Os seus compromissos recentes incluem a direcção musical de
Die Fledermaus, Les nozze di Figaro e Katiá Kabanová no São Carlos, Così fan tutte na
Royal Opera, House Covent Garden, La Damnation de Faust, de Berlioz, na Ópera de
Frankfurt, Otello e Macbeth na Staatsoper de Hamburgo, bem como Così fan tutte na
Staatsoper de Munique. Na Staatsoper de Viena dirigiu Così fan tutte, Die Zauberflöte
e La Bohème e, em 2004, estreou-se no Festival de Verão de Salzburgo à frente da
produção de Die Entführung aus dem Serail, título que também dirigiu na Semperoper
de Dresden. Também dirigiu Aïda, Otello e Madama Butterfly na Staastoper de Berlim, La traviata no Gran Teatre
del Liceu em Barcelona, Der fliegende Holländer na Ópera de Estrasburgo, Lohengrin no Teatro Comunale de
Florença, onde obteve grande êxito junto do público e da crítica italiana, destacando-se ainda a sua presença
em Washington, Sydney, Genebra, Lisboa (Die Entführung aus dem Serail), Volksoper de Viena, Melbourne,
Toronto e Teatro Carlo Felice em Génova. Entre 1998 e 2002 ocupou o cargo de maestro titular da Ópera de
Basileia onde foi aclamada na direcção musical das produções de Otello e Macbeth, de Verdi, Idomeneo, de
Mozart, e Der Rosenkavalier, de R. Strauss. Em concerto já dirigiu um vasto número de orquestras incluindo a
Orquestra da Rádio de Viena e Sinfónica de Montreal, Scottish Chamber Orchestra, Filarmónica de Estrasburgo,
Orquestra do Maggio Musicale Fiorentino, Orquestra do Mozarteum de Salzburgo, Orquestra Sinfónica da Nova
Zelândia e Orquestra Nacional da Bélgica, e vários concertos em Copenhaga, Freiburg, Oviedo e Bochum. Para
além dos concertos e óperas agendados nas temporadas do São Carlos, projectos futuros incluem a direcção
musical Madama Butterfly em Bordéus, La traviata na Welsh National Opera, assim como Die Zauberflöte na Royal
Opera House.

Stephen Medcalf
Encenador

Vencedor do Prémio Abbiati da crítica italiana de ópera, é considerado um dos mais


prolíficos encenadores. Os pontos mais altos da sua carreira incluem a escolha de
Le nozze di Figaro para inaugurar o novo teatro lírico de Glyndebourne (com Haitink),
Manon Lescaut e Die Zauberflöte para o Teatro Regio de Parma, A dama de espadas no
Teatro Scala de Milão, Albert Herring e Ariadne auf Naxos para o Landestheater de
Salzburgo (com Ivor Bolton), A Village Romeo and Juliet, Carmen e Aida (com Lorin
Maazel) para o Teatro Lirico de Cagliari, assim como Così fan tutte para o Teatro
Nacional de São Carlos (com John Eliot Gardiner), que foi posteriormente reposta no
Théâtre du Châtelet em Paris, onde também encenou Ezio de Handel (Théâtre des
Champs-Élysées).
Ao êxito obtido pela sua encenação de The Saint of Bleecker Street, de Gian Carlo
Menotti, para a Ópera Municipal de Marselha, seguiram-se outros títulos do mesmo compositor, destacando-se
The Medium para a Ópera de Berg. Encenou The Turn of the Screw (Britten) para o Festival de Kiev e Il piccolo
Marat (Mascagni) e Noite de Maio (Rimski-Korsakov), esta última sob a direcção de Vladimir Jurowski, para o
Festival de Wexford. A sua produção de Die Entführung aus dem Serail, para o Teatro delle Muse (Ancona), foi
reposta nos teatros Massimo de Palermo, Lirico de Cagliari e no Festival de Teatro de Thessaloniki. Ao mesmo
tempo, no Reino Unido, a sua extraordinária encenação de Capriccio (R. Strauss) para a Grange Park Opera,
assim como Luisa Miller e Roberto Devereux para o Festival de Buxton foram alvo de inúmeros prémios.
Futuros projectos incluem Maria di Rohan para o Festival de Buxton em 2011, Evgueni Oneguin para a Grange
Park Opera em 2012 e 2013, e a sua primeira colaboração com o empresário Raymond Gubbay, com Aida
no Royal Albert Hall, também em 2012.

108
Jamie Vartan
Cenografia e figurinos

Diplomou-se pela Central School of Art and Design e em 1988 foi-lhe concedida a Arts
Council Bursary (bolsa de estudos) para trabalhar como Assistente de Designer para o
Playhouse Theatre de Nottingham. Integrou a proposta britânica para a Quadrienal de
Praga em 2007, com projectos para a Carmen (Cagliari, 2005). Os seus projectos para
La traviata integraram a Exposição Britânica da Quadrienal de Praga em 2011.
Das produções líricas em que colaborou, destacam-se as seguintes: L’isola disabitata
(ROH Young Artists, Royal Opera House), Romeo et Juliette (Operosa, Bulgária); The
Saint of Bleecker Street, Il pirata (Ópera de Marselha); La traviata (reposição em Malmö),
Ariadne auf Naxos, Death in Venice e Albert Herring (Landestheater de Salzburgo); Don
Giovanni, Romeo and Juliet (Bulgária), Manon Lescaut (Teatro Regio, Parma); Noite de
Maio (Ópera de Garsington), Così fan tutte e Roméo et Juliette (British Youth Opera);
La statira (Teatro San Carlo, Nápoles); Il nano (Florença); La vestale (Festival de Wexford); Capriccio (Guildhall);
A dama de espadas (Scala de Milão) e Carmen, Aida, A Village Romeo and Juliet (Teatro Lirico de Cagliari e Royal
Opera House, 2012). Para a Opera Holland Park, assinou Fidelio, Francesca da Rimini (2010), Un ballo in
maschera (2009), La gioconda (2008), L’amore dei tre re (2007), A dama de espadas, Rigoletto (2006), Luisa Miller,
Le nozze di Figaro (2004), Tosca, Fidelio (2003), Les Pêcheurs de perles (2002).
No teatro colaborou em Misterman, de Enda Walsh (Festival de Galway), com Cillian Murphy protagonista deste
one man show; Alice in Wonderland (Dublin), Swim Two Birds, Rhinoceros, The Third Policeman e The Chairs (Blue
Raincoat), Tom’s Midnight Garden (Library Theatre, Manchester), Vertigo e Breaking the Silence, In the Spirit of The
Man, e Ol Big’ead (Playhouse Theatre de Nottingham).

Maxine Braham
Coreografia

Depois de uma carreira internacional de êxito na dança, colabora como coreógrafa e


encenadora em produções de teatro e de ópera. O seu trabalho em coreografia e
direcção de movimento inclui as seguintes produções: Tannhäuser para Tim Albery
(Royal Opera House – Covent Garden); Peter Grimes para David Alden (ENO; produção
vencedora do prémio South Bank Best Opera 2010); Otello para T. Albery (Grand Opera
de Dallas); Manon Lescaut (Teatro Regio de Parma); Susannah (vencedora do prémio do
Irish Times Theatre para a Melhor Produção de Ópera 2006), Die Prinzessin Brambilla
e La Vestale (Festival de Ópera de Wexford); La traviata (Ópera de Malmö); Romeo e
Giulietta del Villaggio e Carmen (Teatro Lirico de Cagliari, vencedora do Prémio da
Crítica Italiana de Música 2005); Rigoletto, Le nozze di Figaro, Kátia Kabanová (Scottish
Opera); A raposinha matreira (Queen Elizabeth Hall, Londres); Evgueni Oneguin (Scottish
Opera On Tour); Il campiello, Rinaldo, Tcherevitchki e A donzela de neve (Guildhall) e
quatro novas óperas para o Contemporary Opera Studio da ENO. Foi responsável pela reposição do movimento
de Don Giovanni e Le nozze di Figaro, ambas encenadas por Graham Vick para o Festival de Glyndebourne, e
Macbeth, encenada por Luc Bondy (Scottish Opera).
Encenou Don Juan (The Citizens’ Theatre, Glasgow) que recebeu elogiosas críticas (The Times, «Grande, ousada,
mal comportada, sensual, enfurecedora, irritante e acima de tudo teatralmente estimulante»); Le Docteur
Miracle (Bizet) no Festival de Ópera de Wexford (Financial Times, «O sucesso da série de matinées»);
La Cenerentola (OperaFour, Londres); a estreia europeia de uma ópera barroca recentemente descoberta, San
Fransisco Xavier no Festival de Ópera Barroca de Nottingham; The Strangler no Festival Martin°
u do Barbican de
Londres (The Times, «emocionante e extremamente agradável – uma combinação deveras imbatível»).

Carmen 109
Simon Corder
Desenho de luz

Profissional premiado, tem vindo a gerir uma carreira diversificada. Associou-se a uma
companhia circense (malabarista) depois de ter abandonado os estudos em 1978,
aprendendo depois o ofício de técnico de teatro e ópera itinerantes.
Colaborou em produções de ópera apresentadas nos teatros Scala de Milão; Regio de
Parma; delle Muse de Ancona; Lirico de Cagliari; Colón de Buenos Aires; Opera Holland
Park; English National Opera; Scottish Opera; Opera North; Welsh National Opera;
Verdi de Pisa; Operosa (Bulgária); OTC (Irlanda); e English Touring Opera. Concebeu
projecções para o projecto estádio Operama da ópera Aida, largamente vista na Europa
e na América do Sul. Em Inglaterra trabalhou com as companhias de teatro The
National Theatre; Royal Shakespeare Company, Royal Court, Peter Hall Company, The
Bush Theatre e The Lyric Hammersmith. O seu trabalho foi apresentado várias vezes
no the West End; foi nomeado para um «Olivier Award» em 2004.
Cenografou e assinou o desenho de luz para a companhia The Featherstonehaughs & The Cholmondeleys desde
1994, e trabalhou com Steven Koplowitz (Inglaterra, Alemanha). Em 2009 desenhou a cenografia e a luz de
Amerika, uma nova peça de teatro-dança para o Landestheater de Linz.
Em 1995 criou a luz de «Night Safari», a primeira atracção nocturna em jardim zoológico, para Singapura, e
que já foi visitada por mais de dez milhões de pessoas. Actualmente, colabora com o Artis Zoo (Amesterdão).
É autor de instalações e trabalhos de arte incluindo peças fluorescentes Bough 1 (Londres, 2004); Bough 2
(Glasgow, 2006); Winter Garden (Durham, 2009). «Standing Still» (2002) consistiu num passeio nocturno
através de carvalhos antigos da Floresta de Sherwood; «Cascade» (2006) representava um acontecimento
específico localizado dentro e à volta da cascata no Alnwick Garden, resultante de uma encomenda para uma
cimeira mundial de cultura.

Giovanni Andreoli
Maestro Titular do Coro

Estudou Piano, Composição e Direcção Coral e de Orquestra. Iniciou a sua actividade


enquanto maestro residente. Na qualidade de maestro de coro colaborou na RAI de
Milão, Arena de Verona, e Teatros La Fenice de Veneza e Carlo Felice de Génova.
Trabalhou com os maestros Delman, Muti, Chailly, Barshai, Karabtchevsky, Arena,
Santi, Campori, R. Abbado e Renzetti. Na Bienal Música de Veneza estreou mundial-
mente obras de Guarnieri, De Pablo, Clementi e Manzoni.
Dirigiu os Carmina Burana e a Petite Messe solennelle (Coro e Orquestra do La Fenice),
repondo esta última no Teatro Municipal de São Paulo. Seguiu-se «L’esperienza corale
nel ‘900 italiano» (Dallapiccola, Rota e Petrassi). De 1998 destacam-se L’elisir d’amore
em Reiquiavique; Missa da Coroação (Mozart) e Missa n.º 9 (Haydn), em São Paulo; Via
Crucis de Liszt (Orvieto); Les Noces (Stravinski), no Festival de Granada; Otello
(Rossini), no Theater an der Wien; e a primeira audição moderna da Missa Amabilis e Missa Dolorosa de Caldara
(Orquestra e Coro do La Fenice). Em 1999 dirigiu Il barbiere di Siviglia (Teatro dei Vittoriale, Gardone-Riviera),
La traviata (Teatro Real de Copenhaga), Una cosa rara de Soler (Teatro Goldoni, Veneza). Em 2000 dirigiu duas
produções de La Bohème (Teatro Grande de Brescia, com Giuseppe Sabbatini; Lanciano, com a Orquestra
Giovanile Internazionale). Gravou para a BMG Ricordi, Fonit Cetra e Mondo Musica Munchen, entre outras obras,
Orfeo cantando... tolse (A. Guarnieri) na RAI de Florença (1996), e os Carmina Burana com o Teatro La Fenice.
De 1994 a 2004 foi o responsável artístico pela temporada lírica do Teatro Grande de Brescia. De 2004 a 2008
foi Maestro Titular do Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Dirigiu, com João Paulo Santos, concertos corais
obras de Brahms, Kodály, Lopes-Graça, e Freitas Branco. Em 2006 iniciou a sua colaboração com a Companhia
de Ópera Portuguesa dirigindo, Madama Butterfly, La traviata e o Requiem de Verdi em Lisboa e no Festival de
Óbidos.

110
Emanuele Pedrini
Maestro convidado do Coro

Nascido em Livorno (Itália) em 1972, vive em Veneza. Diplomou-se em Canto Lírico,


Direcção Coral e Orquestração pelo Conservatório «Arrigo Boito» de Parma, e em
Composição pelo Conservatório «Benedetto Marcello» de Veneza. Em 2005 diplomou-se
com a menção summa cum laude em Direcção de Orquestra pelo Conservatório de
Veneza sendo o primeiro aluno de todos os conservatórios e instituições de música da
região de Triveneto a diplomar-se naquela disciplina. Entre 1990 e 1996 dirigiu o Coro
Lirico Lombardo. De 1998 a 1999 foi maestro do Coro do Teatro Arena Sferisterio de
Macerata, tendo recebido os maiores elogios e excelentes críticas, quer na imprensa
regional quer na nacional. Desde 2004 ocupa o cargo de director artístico e director
musical da Associação Cultural Musical «Quodlibet» de Mogliano Veneto, constituída
por orquestra e coro. Actualmente, especializa-se em Direcção de Orquestra na
Academia Musical de Pescara, sob a orientação do maestro Donato Renzetti. Paralelamente, ocupa-se da
preparação artística e direcção de importantes festivais de música em colaboração com prestigiados maestros,
dentro e fora de Itália. Na presente temporada inicia funções de maestro convidado do Coro do Teatro Nacional
de São Carlos.

Rinat Shaham
meio-soprano

Nascida em Israel, tem sido repetidamente distinguida pelos seus desempenhos em


ópera e concertos no mundo inteiro. Artista versátil, interpreta com a mesma
facilidade o repertório lírico e sinfónico tendo já colaborado com alguns dos mais
prestigiados maestros da actualidade, incluindo-se Simon Rattle, André Previn,
Christoph Eschenbach, Leonard Slatkin, William Christie, David Robertson, entre
muitos outros. Foi aclamada em papéis tais como Carmen, Rosina (Il barbiere di
Siviglia), Dorabella (Così fan tutte), Mélisande (Pélleas et Mélisande) e Blanche
(Dialogues des Carmélites) em teatros como a Staatsoper de Berlim, La Fenice de
Veneza, Ópera de Roma, Palau de la Reina Sofia (Valencia), Staatsoper de Estugarda,
Ópera de Montreal, New York City Opera e no Festival de Glyndebourne. Estreou-se na
Royal Opera House, Covent Garden, no papel de Cherubino (Le nozze di Figaro), e fez a
sua estreia francesa em Paris com Dorabella (Così fan tutte), no Théâtre des Champs-Élysées, no Outono de
2008. No Outono de 2009 estreou-se em Colónia no papel de Carmen e, na mesma temporada, cantou o mesmo
papel na sua estreia com a Companhia Canadiana de Ópera (Toronto), assim como no regresso à Staatsoper de
Berlim, Staatsoper de Estugarda e para uma nova produção em Baden-Baden. Estreou na Australian Opera em
Sydney, na temporada de 2010/11, o papel de Carmen, que repetiu em Pádua.
Ainda durante a actual temporada fez a sua estreia no Festival da Páscoa de Salzburgo com a interpretação de
Shéhérezade (Ravel) e vai cantar Salome. Apresentou-se em concerto com a Orquestra Sinfónica de Bamberg
com Les nuits d’été, de Berlioz, em programa.

Carmen 111
Andrew Richards
©Maurice Alcroix

tenor

Conquistou prestígio internacional como tenor lirico-spinto brilhante em teatros como


Staatsoper de Berlim, Teatro Scala de Milão, Opéra Bastille, Royal Opera House,
Covent Garden, Opernhaus de Frankfurt, Staatsoper de Munique, Théâtre Royale de la
Monnaie (Bruxelas), Staatsoper de Viena, Teatro Giuseppe Verdi de Trieste, Teatro
Comunale de Bolonha, Teatro Massimo de Palermo, Teatro de la Maestranza de
Sevilha, Opéra Comique (Paris), Ópera de Marselha, Ópera de Nice, Semperoper de
Dresden, Staatsoper de Hamburgo, Arena de Verona, Festival Puccini da Torre del
Lago, Festival de Bregenz e de Aix-en-Provence.
Em Novembro de 2010, teve a sua estreia no Teatro Scala de Milão interpretando o
papel de Don José. Cantou o seu primeiro Gabriele Adorno, em Simon Boccanegra, com
a Opéra du Rhin em Estrasburgo e terá a sua estreia, em Julho de 2011, no Teatro
Colón, em Buenos Aires, no mesmo papel. Regressou ao La Monnaie para a nova produção de Parsifal e à
Staatsoper de Hamburgo como Turiddu em Cavalleria rusticana. Em Abril de 2011 estreou-se como Don José, na
ópera Carmen, na Deutsche Oper de Berlim. É a primeira vez que canta no Teatro Nacional de São Carlos.
Futuramente estrear-se-á como Calaf (Turandot) no Teatro Comunale de Bolonha e em Hamburgo como Gherman
em A dama de espadas. Vai estrear os papeis de Don Carlos na Ópera dos Países Baixos, e Cavaradossi no
Festival de Santa Fé; regressa à Ópera Real Dinamarquesa em Copenhaga, no mesmo papel.

Yanni Yannissis
barítono

Diplomou-se em Canto (1987) pelo Conservatório de Atenas, cidade onde nasceu.


Aperfeiçoou-se em Nova Iorque com Charles Kellis, professor na Juilliard School, na
qualidade de bolseiro da Fundação «Maria Callas» (Atenas, 1991). Venceu os
concursos internacionais «Maria Callas» (Grécia) e MEF (Nova Iorque). Foi Director
Artístico da Ópera da Tessália (2008-2010). Estreou-se na Ópera Nacional da Grécia
(Atenas) em Maria Stuarda (Lorde Cecil) e prosseguiu carreira na Europa e EUA com
grandes maestros (Levine, Pappano, Abbado), encenadores (Zeffirelli) e cantores.
Em Itália cantou em Macbeth (Banco), I Capuleti e i Montecchi (Capellio), Mozart e
Salieri (Salieri) de Rimski-Korsakov, L’ultimi Luci (Barão) de Betta, Rinaldo & C (Argante)
de Corghi; na Scottish Opera cantou em Don Giovanni (Leporello); no Théâtre de La
Monnaie cantou em Tosca; em França cantou Melitone (La forza del destino) e em
Madama Butterfly; na Opernhaus de Frankfurt foi Sharpless; na Ópera de Washington interpretou Cirillo (Fedora,
Giordano); na Ópera de San Diego cantou Colline (La Bohème); e com a Ópera Nacional da Grécia cantou os
papéis de Gérard (Andrea Chénier), Scarpia (Tosca), O Monge (K. Palaiologos, Kalomiri), Escamillo (Carmen),
Alidoro (La cenerentola), e os papéis protagonistas de The Bear (Walton), Don Giovanni, Peter Grimes (Balstrode),
Schicchi, e Amonasro. Na Ópera da Tessália cantou Colline, Amonasro, Germont, Don Giovanni e em concertos
com as orquestras Nacional da Tessália, Nacional de Atenas, Nacional da Rádio e Televisão, Megaron de Atenas
e da Tessália. Foi membro da companhia da Metropolitan Opera (1991-2001), onde cantou em La fanciulla del
West (Jake Wallace), La Bohème (Colline), Roméo et Juliette (Capulet), Fedora (Cirillo) e Giulio Cesare (Achilla).
Apresenta-se regularmente em concerto na Europa.
A sua discografia inclui Andrea Chénier, La fanciulla del West, Idomeneo, Rigoletto, I Lombardi, Fedora, Don Carlos,
esta última com Pavarotti, Domingo, S. Milnes, M. Freni e J. Pons. Futuros compromissos incluem Amonasro no
Teatro Herodion.

112
Luís Rodrigues
barítono

Estudou no Conservatório Nacional com José Carlos Xavier e na Escola Superior de


Música de Lisboa com Helena Pina Manique. Cantou os papéis de Arlequim (Ariadne
auf Naxos), Ping (Turandot), Figaro (Il barbiere di Siviglia) e Guglielmo (Così fan tutte) no
Teatro Nacional de São Carlos; Papageno (Die Zauberflöte) e Sumo-Sacerdote (Samson
et Dalila em versão de concerto) na Fundação Calouste Gulbenkian; Mr. Gedge (Albert
Herring) e Eduard (Neues vom Tage) no Teatro Aberto; Semicúpio (Guerras do Alecrim e
Mangerona) no Acarte, Teatro da Trindade e Teatro Nacional D. Maria II (Prémio Bordalo
de Imprensa 2000 para Música Erudita); Marcello (La Bohème) com o CPO e a ONP no
Coliseu do Porto, e com o São Carlos no CAE da Figueira da Foz; Tom (The English Cat)
com a Cornucópia e a ONP no Rivoli e São Carlos; Guarda-Florestal (A Raposinha
Matreira) com a Casa da Música no Rivoli; Yoshio (Hanjo) com o São Carlos na
Culturgest; Giorgio Germont (La traviata), o papel titular de Don Giovanni e Iago (Otello) com a Orquestra do
Norte; Belcore (L’elisir d’amore), Figaro (Il barbiere di Siviglia), Escamillo (Carmen) e a parte de barítono nos
Carmina Burana com a Eventos Ibéricos e a ON. Mais recentemente, foi Arsénio em La Spinalba e Marcaniello em
Lo frate ‘nnamorato no CCB, com os Músicos do Tejo, e participou na estreia das óperas Outro Fim, de António
Pinho Vargas, e Jerusalém, de Vasco Mendonça, na Culturgest. Intérprete de reconhecida versatilidade,
apresenta-se também regularmente em concerto e oratória ou em recitais de música de câmara.

Nuno Dias
baixo

Tem-se apresentado em concerto com diversas orquestras nacionais em obras de


referência do repertório coral-sinfónico, destacando-se a sua participação no Requiem
de Mozart no âmbito dos Dias da Música (CCB), com a Orquestra Sinfónica Portuguesa
e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. No campo da ópera interpretou, no Teatro
Nacional de São Carlos, o papel de Simone em Gianni Schicchi de G. Puccini, Mike em
Blue Monday de G. Gerschwin, Presidente em Banksters, de Nuno Côrte-Real, e Dom
Payo Peres em Dona Branca de A. Keil (versão de concerto). Noutros palcos interpretou
Sparafucile em Rigoletto de G. Verdi; Sarastro em Die Zauberflöte, de Mozart; Poeta
bêbedo em The Fairy Queen (H. Purcell) no CCB; Escamillo em Carmen (G. Bizet);
Il maestro di cappella (D. Cimarosa); Capitão na versão de concerto de Evgueni Oneguin
(P. I. Tchaikovski) na Fundação Calouste Gulbenkian com a Orquestra e Coro
Gulbenkian; Conde Ceprano em Rigoletto, em versão de concerto, na Casa da Música; Dulcamara numa versão
portuguesa de O elixir do amor (G. Donizetti); O Político em Amazonas, de Tato Taborda, com apresentações em
Munique e São Paulo; Lindorf em La lesson d’Offenbach; Lodovico em Otello (G. Verdi); Mãe na ópera Os Sete
Pecados Mortais (K. Weill); Antonio em Le nozze di Figaro (W. A. Mozart); e Travers em The Boatswain’s mate de
Ethel Smyth. É vencedor do 3.º prémio do Concurso Luisa Todi de 2007. É licenciado em Canto pela
Universidade de Aveiro na classe de Isabel Alcobia.
Futuros compromissos incluem a sua participação em Die Zauberflöte, no papel de Segundo Sacerdote, no
Festival de Ópera de Berlim.

Carmen 113
João Merino
barítono

Natural de Penafiel, é licenciado em Canto pela Escola Superior de Música e Artes de


Espectáculo do Porto (classe de Oliveira Lopes). Foi-lhe atribuído o Prémio «Eng.
António de Almeida», que distingue os melhores alunos finalistas das Universidades
Artísticas Portuenses. Como bolseiro da Santa Casa da Misericórdia do Porto,
trabalhou com o tenor Francisco Lázaro em Barcelona. Actualmente, trabalha com
João Lourenço em Lisboa.
Apresentou-se nas óperas Die Zauberflöte, Le nozze di Figaro, Così fan tutte, Don Giovanni
e Fiore Nudo de W. A. Mozart; Il barbiere di Siviglia e L’occasione fa il ladro, de Rossini;
La bella dormente nel bosco, de Respighi; Carmen, de Bizet; La traviata e Rigoletto, de
Verdi; Tosca, Madama Butterfly e Gianni Schicchi, de Puccini; Evgueni Oneguin, de
Tchaikovski; Hänsel und Gretel, de Humperdinck; Mozart e Salieri, de Rimski-Korsakov;
María de Buenos Aires, de Piazzolla; Trouble in Tahiti, de Leonard Bernstein; Blue
Monday, de George Gershwin; e Evil Machines, de Luís Tinoco. Interpretou, como actor, D. Alonso em D. João
(Molière) no TNSJ. Em concerto interpretou as obras Messiah (Handel), Magnificat e Weihnachtsoratorium (Bach);
Die Schöpfung (Haydn); a integral das Missas e Requiem (Mozart); Nona Sinfonia (Beethoven); Stabat Mater e Petite
Messe solennelle (Rossini); Requiem, de Fauré; Oratoire de Noël (Saint-Saëns); Carmina Burana (Orff); Don
Quichotte à Dulcinée (Ravel); Kindertotenlieder e Lieder eines fahrenden Gesellen (Mahler); Aventures (Ligeti), entre
outras. Apresentou-se em Portugal, Espanha e Itália sob a direcção, de C. Viana, C. Costa, F. Verissimo, F. Totan,
G. Andreoli, G. Bühl, I. Cruz, J. Burfin, J. Jones, J. Skudlik, J. P. Santos, J. F. Lobo, J. Lombana, L. Koenigs,
M. André, Michail Jurowski, M. Ortega, R. Perez, R. Massena, O. Hadari, T. Hoffman e X. Poncette.
Trabalhou com os encenadores André e. Teodósio, Carlos Avilez, K. Grüber, Christian von Götz, Emilio Sagi,
N. Graça-Silvestre, Nuno M. Cardoso, Paulo Matos, Peter Konwitschny, Robert Carsen e Tim Coleman. Participou
em inúmeros concertos do Grupo Música Nova com o qual fez várias estreias nacionais e mundiais de obras
contemporâneas.

Adriana Damato
soprano

Nasceu em Bari (Itália). Vencedora do Primeiro Prémio da edição de 2003 do


Concurso Internacional «Operalia», um concurso de canto promovido por Plácido
Domingo. Começou uma carreira de sucesso nos palcos dos principais teatros líricos
internacionais e salas de concerto em óperas, tais como Beatrice di Tenda (Agnese) e
Carmen (Micaëla) no Teatro Scala de Milão, Il corsaro (Gulnara) no Teatro Regio de
Parma, Don Giovanni (Donna Elvira) no Teatro Lirico de Cagliari, numa produção de
Giorgio Strehler, Idomeneo (Ilia) na Ópera de Los Angeles, onde contracenou com
Plácido Domingo, Così fan tutte (Fiordiligi) na Staatsoper de Viena, Stiffelio (Lina) e em
La Bohème (Mimì) na Opernhaus de Zurique, La traviata (Violeta) na Opernhaus de
Graz, Don Giovanni (Elvira) no Palau de les Arts de Valencia, I Medici (Simonetta) de
Leoncavallo no Festival Puccini da Torre del Lago, Don Giovanni (Donna Elvira) na
Staatsoper de Berlim, La Bohème (Mimì) na Ópera de Washington, e em Un ballo in
maschera (Amelia) na Opéra de Lausanne. Trabalhou com os maestros Daniel Barenboim, Plácido Domingo,
Lorin Maazel, Zubin Mehta e Kent Nagano. Gravou a ópera Edgar para a Deutsche Grammophon (com Plácido
Domingo e Juan Pons), Il corsaro para a Dynamic (com Renato Bruson), Così fan tutte, ao vivo, no Teatro Argentina
em Roma (DVD) e Aroldo, ao vivo, no Teatro Municipal de Piacenza (DVD).

114
Joana Seara
soprano

Nasceu em Lisboa. Iniciou os estudos na Academia de Música de Santa Cecília e no


Conservatório Nacional, tirando a licenciatura, o mestrado e o curso de Ópera na
Guildhall School of Music and Drama, em Londres. Foi bolseira da Fundação Calouste
Gulbenkian e galardoada com vários prémios em Inglaterra.
Dos vários papéis que já interpretou, destacam-se Zerlina (Don Giovanni; Holanda),
Despina (Così fan tutte; Holanda, Inglaterra e Irlanda), Galatea (Acis and Galatea;
França) e Margery (The Dragon of Wantley; Festival de Potsdam, Alemanha). Em
Londres, destacam-se os papéis de Gretel (Hänsel und Gretel) para a Opera Holland
Park e Damigella (L’incoronazione di Poppea) para a English National Opera. Mais
recentemente, cantou Susanna (Le nozze di Figaro) no Teatro Nacional de São Carlos,
Juno (The Judgement of Paris, de Thomas Arne) no Wigmore Hall em Londres, Poppea
(Agrippina, de Handel) em Cambridge, e Cherubino na versão de Marcos Portugal de As bodas de Fígaro, em
Oxfordshire e Londres (primeira audição moderna).
Das orquestras com quem trabalhou, destacam-se a Akademie für Alte Musik de Berlin, os King’s Consort, a
Orquestra Gulbenkian (direcção musical de Lawrence Foster), a Orquestra de Câmara Portuguesa (direcção
musical de Pedro Carneiro) e a Orquestra Metropolitana de Lisboa (direcção musical de Augustin Dumay e
Nicholas Kraemer). Com a Orquestra Barroca Divino Sospiro (direcção musical de Enrico Onofri e Massimo
Mazzeo), actuou nos festivais de Île-de-France, Ambronay, Mafra e Varna. Colabora regularmente em concertos
e produções de ópera dos Músicos do Tejo (direcção de Marcos Magalhães e encenação de Luca Aprea), tendo
interpretado Vannella (Lo frate ‘nnamorato) e Vespina (La Spinalba). Com os Músicos do Tejo lançou recentemente
o CD «As Árias de Luísa Todi».

Luisa Francesconi
meio-soprano

Dotada de um belo timbre de meio-soprano lírico, estudou em Brasília e aperfeiçoou


os seus estudos com Rita Patané, em Milão. Tem uma excepcional capacidade para a
execução de coloratura, destacando-se na interpretação de papéis do repertório
rossiniano e mozartiano, tais como Cenerentola, Rosina (Il barbiere di Siviglia), Isabella
(L’italiana in Algeri), e também Segunda Dama (Die Zauberflöte), Cherubino (Le nozze di
Figaro), Idamante (Idomeneo) e Zerlina (Don Giovanni). Tem obtido grande sucesso no
elenco de óperas, tais como I Capuleti ed I Montecchi (Romeo), Orfeo ed Euridice
(Orfeo), Dido and Aeneas (Dido) e, recentemente, Les Troyens (Didone). Canta um vasto
repertório concertístico, que vai da Missa em Si menor de J. S. Bach e Nisi Dominus de
Vivaldi à Segunda Sinfonia de Mahler e El Amor Brujo, de Manuel de Falla. Tem-se
apresentado nos principais teatros brasileiros e italianos, entre eles o Theatro
Municipal do Rio de Janeiro, Theatro Municipal de São Paulo, Sala São Paulo, Auditorium Conciliazione e Teatro
Argentina em Roma, Auditorium de Milão, Maggio Musicale Fiorentino (Florença), Teatro Massimo de Palermo,
Teatro Massimo Bellini de Catania e Teatro Regio de Turim. Participou no Programa Jovens Intérpretes do Teatro
São Carlos, no âmbito do qual interpretou Cherubino em Le nozze di Figaro e Dinah em Trouble in Tahiti, entre
outros. Em 2010 participou com sucesso na primeira digressão da Cia. Brasileira de Ópera, interpretando
Rosina em Il barbiere di Siviglia.

Carmen 115
Carlos Guilherme
©Susana Neves

tenor

Nasceu em Lourenço Marques (Moçambique). Estudou com John Labarge no


Conservatório Regional do Algarve e foi cantor residente do Teatro Nacional de São
Carlos de 1980 a 1992. O seu repertório inclui 37 papéis principais em 73 óperas,
recitais e concertos por todo o País sendo de realçar a sua colaboração com o
Círculo Portuense de Ópera e a Fundação Calouste Gulbenkian. A partir de 1987 foi
convidado a cantar noutros países, tais como os Estados Unidos da América, Brasil,
Moçambique, Bélgica, França e Israel. Gravou em CD A Canção Portuguesa, com
Armando Vidal, e está de momento a gravar um CD com árias de ópera,
acompanhado pela Orquestra do Norte. Além das principais orquestras portuguesas,
colaborou com a Orquestra de Câmara de Pádua, do Comunal de Bolonha,
Filarmónica de Moscovo e Sinfónicas de Budapeste, de S. Francisco, de Israel, de
Pequim e de Xangai. Em Abril de 2001 estreou-se em Itália, no Teatro Rossini. Voltou a Itália em 2005 para
cantar nos teatros comunais de Ferrara e de Modena. Em 2003 actuou em Coimbra com o tenor José
Carreras. Aperfeiçoou a sua técnica vocal com Marimì del Pozo, Gino Becchi, Campogalliano, Claude Thiolass
e Regina Resnik. Venceu o prémio «Tomás Alcaide».

Mário João Alves


tenor

Licenciou-se em Canto com Fernanda Correia, trabalhando actualmente com Gabriella


Ravazzi. Venceu o 2.º prémio no IV Concurso Internacional de Música «Luisa Todi».
No Teatro Nacional de São Carlos cantou Nemorino, Ferrando, Almaviva, Tamino,
Pedrillo, Tamino, Alfred, Tamino, Rinuccio e Joe, entre outros. Cantou Nemorino em
digressão pelo Japão; Aronne em Sassari; Pedrillo em Bari e San Sebastián; Agenore
em Como e Pavia; Oedipus Rex em Turim e Roma; Froh em Bari; Cassio em Tenerife
(com José Cura no papel de Otello); Harry (La fanciulla del West) em Turim e Sevilha;
Monostatos no La Fenice de Veneza, BAM Nova Iorque, La Monnaie de Bruxelas e Roma;
L’Enfant et les sortilèges, com o CPO; Alfredo Germont no Festival de Sintra; Herr M.
(Neues vom Tage), Albert (Albert Herring) e Captain MacHeath (The Beggar’s Opera) no
Teatro Aberto; Arlequim (Der Kaiser von Atlantis); e Leandro (La Spinalba) no CCB.
Em 2009/10 cantou Nemorino na Ópera do Cairo, Ernesto (Don Pasquale) no Festival de Diano Castello,
D. Ottavio no Mancinelli de Orvieto, Conde de Almaviva em Savona, Rovigo, Bergamo e Lucca, a Nona Sinfonia
na Casa da Música e no CCB, Die Erste Walpurgisnacht no Metropole de Lausanne e a Petite Messe solennelle, de
Rossini, em Paris e Deauville com o Coro Gulbenkian e Michel Corboz.
Fez a estreia portuguesa de Il cappello di paglia di Firenze, no papel de Fadinard, no Teatro Nacional de São
Carlos. Futuros projectos incluem os papéis de Rodolfo (La Bohème) nos Festivais de Biarritz e Loire, D. Ottavio
(Don Giovanni) no Coliseu do Porto e Pang (Turandot) em Oman, sob a direcção de Plácido Domingo.

116
Daniel Paixão
baixo

Natural de Lisboa, começou na adolescência a actividade coral na Paróquia de


N. Senhora de Fátima. Estudou Educação Musical com Adolph Thorn e Adolfo Chaves,
aperfeiçoando a técnica vocal com A. Cortez Medina e João Nunes da Silva. Em 1978,
ingressou no Coral Stella Vitae, no qual ainda hoje se mantém como baixo solista.
Desde 1983, é elemento do Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Tem colaborado
regularmente com agrupamentos corais, cantando como solista, nomeadamente,
Laudate de S. Domingos de Benfica, com o maestro José Eugénio Vieira, em missas,
concertos e na gravação de dois CD, um com cânticos de Natal e outro com peças de
Frei Acílio Mendes; Ars Musica, com o maestro Carlos S. Silva, em concertos, e
também na gravação de um Te Deum, da autoria do próprio maestro; e Cantabile, com
o maestro Fernando Cardoso.
Com o Coral Stella Vitae, gravou como solista, o Requiem, de Lorenzo Perosi, e Stabat
Mater, de Désauges. Com este coro tem também colaborado em diversas missas e concertos, nomeadamente
em 1982, na visita do Papa João Paulo II a Lisboa e a Fátima; em 1984, na missa de Páscoa da Basílica de
S. Pedro no Vaticano; em 1988, no concerto de encerramento do Ano Mariano na Basílica de Fátima e, em 2000,
na homenagem a Amália Rodrigues no musical de Filipe la Féria.

Natália de Carvalho Brito


meio-soprano

Natural de Almoçageme (Sintra), nasceu em 1975. Começou por estudar saxofone e,


posteriormente, concluiu o curso de Canto da Escola do Conservatório Nacional de
Lisboa com a Prof.ª Maria Cristina de Castro. Participou no Curso Internacional Opera
Plus (Bélgica). Trabalhou Técnica Vocal e Interpretação com Mercê Obiol, Enza Ferrara,
Elvira Ferreira, Isabel Biú, Jill Feldman, Muai Thang, Sarah Walker, Vera Rosza. Como
solista interpretou os papéis de Índia Velha e D. Teresa de Jorge Salgueiro, Cherubino
(Le nozze di Figaro), Dorabella (Così fan tutte), Magdalena e Giovanna (Rigoletto),
Feiticeira e Dido (Dido and Aeneas, de Purcell), Madrigalista (Manon Lescaut, de
Puccini) e Lettera (La Bohème). Em oratória e Lied destacam-se Dixit Dominus e Missa
de Carlos Seixas, Misa Cubana de J. M. Vitier, Ode for the Birthday of Queen Anne
(Handel), Stabat Mater e Petite Messe solennelle (Rossini), Gloria e Magnificat (Vivaldi),
Johannes-Passion, Matthäus-Passion e Magnificat (J. S. Bach), Stabat Mater (Pergolesi),
Missa da Coroação e Requiem (Mozart), Requiem für Mignon (Schumann), Missa (José João Baldi), Te Deum
(Charpentier), In Terra Pax (Franck Martin), Liebeslieder e Neuliebeslieder (Brahms). Foi recentemente convidada
a participar no concerto de gala da Banda Sinfónica da GNR. Apresentou-se em recital, numa homenagem ao
compositor Tomaz del Negro, no Museu da Música, e na RTP/Antena 2 para o então Presidente da República,
Jorge Sampaio. Também cantou nos Palácios de Monserrate, SottoMayor e Nacional da Pena. É membro efectivo
do Coro do Teatro Nacional de São Carlos.

Carmen 117
João Vaz
actor

Nasceu em Lisboa a 19 de Março de 1964, é diplomado do Curso de Formação de


Actores (1986 a 1989) pela Escola Superior de Teatro e Cinema. A sua experiência
profissional conta com colaborações com os encenadores António Pires, Luís Castro,
Teresa Sobral, Luís Alvarães, Xosé Blanco Gil, R. Cott Kotecki, José Mora Ramos,
Carlos Fogaça, José Peixoto e José Martins. Em cinema e televisão colaborou com os
realizadores João Canijo, Jorge Cardoso, Artur Ribeiro, João Pupo, Telma Meira,
Fernando Vendrell, António Duarte, Luís Brás, Alexandre Montenegro, Edgar Feldman,
Ruy Guerra, Ricardo Espírito Santo, Diogo Collares Pereira, Mário Barroso, Frederico
Serra, Tiago Guedes de Carvalho, Carlos Assis, Fátima Ribeiro, José Carlos Oliveira,
Fernando Lopes, João Pedro Ruivo, Manuel Mozos, Pedro Ruivo, Luís Alvarães, Joaquim
Leitão e José Fonseca e Costa. Participou ainda como actor em diversos filmes
publicitários, de entre os quais se destaca «Pastor/Ovelhas» para a Telecel, vencedor de inúmeros prémios
nacionais e internacionais, nomeadamente o Leão de Prata em Cannes (prémio europeu mais conceituado em
publicidade) e a Medalha de Prata em Nova Iorque (prémio mais conceituado no mundo em publicidade).
Actualmente, frequenta o Curso do Hot Clube em Trompete.

Miguel Lino Coelho


actor

Estudou Canto no Conservatório de Lisboa (1996-2005). Em 2005 estreou-se no


espectáculo musical Sonhos de Einstein no Teatro da Trindade e, no ano seguinte, com
a Companhia Portuguesa de Ópera participou na produção de I pagliacci, Cavalleria
rusticana, Tosca, Madama Butterfly, L’elisir d’amore e participou na interpretação do
Requiem de Verdi. Em 2007 cantou no musical Sweeney Todd, no Teatro Aberto, e em
2009 no musical Os Produtores, no Tivoli, em Lisboa. Desde 2008 tem trabalhado com
o Teatro Nacional de São Carlos em algumas das suas produções líricas.

118
Coro dos Pequenos Cantores da Academia
dos Amadores de Música
Maestro titular Vítor Paiva

Alice Lua Antunes


Ana Ferreireinho
Ana Jorge Caeiro
Ana Sofia Saraiva
Carolina Maria Oliveira
Carlota Teles
Catarina Mendes
Estrela Martinho
Inês Francisco
Julia Muñoz
Leonor Andrade
Lua Fidalgo
Luisa Muñoz
Maria Marecos
Maria Conceição Varandas
Maria Marta Cabrita
Maria do Rosário Rato
Maria Sofia Cabrita
Mariana Ferrão
Mariana Guiomar
Marta Conceição Varandas
Rita Barata
Rita Gameiro
Rita Tavares
Sara Cal
Vitória Simões

António Pedro Graça


Francisco Almeida
João Ricardo Diegues
Leonardo Teles
Marcelo Teles
Mateus Menezes
Miguel Sobrinho
Pedro Manuel Fontes
Tiago João Silveira
Vasco Pereira
Vicente Vendrell

Carmen 119
Conselho de Administração do OPART E.P.E. II Violinos
Paula Gomes Carneiro (Coordenador de Naipe)
Vogais César Viana, João Villa-Lobos
Klara Erdei (Coordenador de Naipe Adjunto)
Rui Guerreiro (Coordenador de Naipe Adjunto)
Teatro Nacional de São Carlos Mário Anguelov (Coordenador de Naipe Assistente)
Director Artístico Nariné Dellalian (Coordenador de Naipe Assistente)
Martin André Aurora Voronova, Carmélia Silva,
Maestro Titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa Inna Rechetnikova, Kamélia Dimitrova,
Julia Jones Katarina Majewska, Maria Filomena Sousa,
Maestro Titular do Coro do Teatro Nacional Maria Lurdes Miranda, Slavomir Sadlowski,
de São Carlos Giovanni Andreoli Sónia Carvalho, Tatiana Gaivoronskaia,
Witold Dziuba
Director Técnico Francisco Vicente

Directora de Espectáculos Adjunta Alda Giesta Violas


Pedro Saglimbeni Muñoz (Coordenador de Naipe)
Coordenador do Gabinete de Estudos Musicais
e Dramaturgia João Paulo Santos Céciliu Isfan (Coordenador de Naipe Adjunto)
Galina Savova (Coordenador de Naipe Assistente)
Directora Financeira e Administrativa Sónia Teixeira
Cécile Pays (Coordenador de Naipe Assistente)
Director de Marketing Mário Gaspar Etelka Dudas, Isabel Teixeira da Silva,
Maria Cecília Neves, Rogério Gomes,
Directora de Recursos Humanos Sofia Dias
Sandra Moura, Ventzislav Grigorov,
Coordenador do Gabinete de Gestão do Património Vladimir Demirev, Bistra Anastasova*
Nuno Cassiano
Violoncelos
Coordenadora do Gabinete Jurídico
Fernanda Rodrigues Irene Lima (Coordenador de Naipe)
Hilary Alper (Coordenador de Naipe Adjunto)
Coordenador do Gabinete de Sistemas de Informação
Ajda Zupancic (Coordenador de Naipe Assistente)
Pedro Penedo
Diana Savova, Emídio Coutinho,
Gueorgui Dimitrov, Luís Clode,
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Nuno Abreu*
Maestro Titular Julia Jones
Contrabaixos
Adjunto Musical do Maestro Titular Moritz Gnann
Pedro Wallenstein (Coordenador de Naipe)
Petio Kalomenski (Coordenador de Naipe)
I Violinos
Adriano Aguiar (Coordenador de Naipe Adjunto)
Alexander Stewart (Concertino Adjunto)
Duncan Fox (Coordenador de Naipe Adjunto)
Pavel Arefiev (Concertino Adjunto)
Anita Hinkova (Coordenador de Naipe Assistente)
Leonid Bykov (Concertino Assistente)
João Diogo, José Mira, Svetlin Chichkov
Veliana Hristova (Concertino Assistente)
Alexander Mladenov, Anabela Guerreiro,
Flautas
António Figueiredo, Asmik Duarte,
Katharine Rawdon (Coordenador de Naipe)
Ewa Michalska, Iskrena Yordonova,
Nuno Ivo Cruz (Solista A)
Jorge Gonçalves, Laurentiu Ivan Coca,
Anthony Pringsheim (Solista B)
Luís Santos, Margareta Sandros,
Anabela Malarranha (Solista B)
Marjolein de Sterke, Natalia Roubtsova,
Nicholas Cooke, Pedro Teixeira da Silva,
Regina Stewart

120
Oboés Coro do Teatro Nacional de São Carlos
Ricardo Lopes (Coordenador de Naipe)
Maestro Titular Giovanni Andreoli
Hristo Kasmetski (Solista A)
Elizabeth Kicks (Solista B) Maestro Convidado Emanuele Pedrini
Luís Marques (Solista B) Maestro Assistente Kodo Yamagishi

Clarinetes
Sopranos
Francisco Ribeiro (Coordenador de Naipe) Ana Cosme, Ana Luísa Assunção,
Joaquim Ribeiro (Solista A) Ana Maria Serro Angélica Neto,
Jorge Trindade (Solista B) Ana Rita Cunha, Filipa Lopes,
Glória Saraiva, Isabel Biu,
Fagotes Isabel Silva Pereira, Luísa Brandão,
David Harrison (Coordenador de Naipe) Maria do Anjo Albuquerque, Patrícia Ribeiro,
Carolino Carreira (Solista A) Rita Paiva Raposo, Sandra Lourenço,
João Rolo Brito (Solista B) Sónia Alcobaça
Piotr Pajak (Solista B)
Meio-sopranos
Trompas Ana Cristina Carqueijeiro, Ana Margarida Serôdio,
Laurent Rossi (Solista A) Ana Maria Neto, Ângela Roque,
Paulo Guerreiro (Solista A) Antónia Ferraz de Andrade, Cândida Simplício,
António Rodrigues (Solista B) Isabel Assis Pacheco, Laryssa Savchenko,
Carlos Rosado (Solista B) Luísa Lucena, Luísa Tavares, Manuela Teves,
Tracy Nabais (Solista B), Serhiy Dushnyuk* Maria da Conceição Martinho, Natália Brito,
Neide Gil, Susana Moody
Trompetes
Jorge Almeida (Coordenador de Naipe) Tenores
António Quítalo (Solista A) Alberto Lobo da Silva, Álvaro de Campos,
Latchezar Goulev (Solista B) Aníbal Real, Arménio Afonso Granjo,
Pedro Monteiro (Solista B) Carlos Pocinho, Carlos Silva,
Diocleciano Pereira, Francisco Lobão,
Trombones João Miguel Queirós, João Miguel Rodrigues,
Hugo Assunção (Coordenador de Naipe) Luís Castanheira, Mário Silva, Miguel Calado,
Jarrett Butler (Solista A) Nuno Cardoso, Vítor Carvalho
Kevin Hakes (Solista A)
Vítor Faria (Solista B) Barítonos e baixos
Aleksandr Jerebtsov, António Louzeiro,
Tuba Carlos Homem, Carlos Pedro Santos,
Ilídio Massacote (Solista A) Ciro Telmo, Costa Campos, Daniel Paixão,
David Ruella, Eduardo Viana, Frederico Santiago,
Tímpanos e Percussão João Miranda, João Rosa, Joel Costa,
Elizabeth Davis (Coordenador de Naipe) Jorge Rodrigues, Mário Pegado, Osvaldo Sousa,
Richard Buckley (Solista A) Simeon Dimitrov
Lídio Correia (Solista B)
Pedro Araújo e Silva (Solista B)

Harpas
Carmen Cardeal (Solista A)

Carmen 121
Adjunta do Director Artístico Sara Sauval Direcção de Espectáculos
Directora de Espectáculos Adjunta Alda Giesta
Gabinete de Estudos Musicais e Dramaturgia
Director de Estudos Musicais e Director Musical de Cena Coordenação de Programação Alessandra Toffolutti
João Paulo Santos (Coordenador)
Gabinete de Gestão da Produção
Maestro Correpetidor Nuno Margarido Lopes Alda Giesta (Coordenadora)
Fátima Machado, Filomena Barros, Lucília Varela
Estúdio de Ópera André Heller-Lopes (Coordenador)
Gabinete de Gestão do Coro e da Orquestra
Orquestra
Margarida Clode (Coordenadora)
Direcção Técnica
Celeste Patarra (Encarregada)
Francisco Vicente (Director Técnico)
Jerónimo Fonseca, Maria Beatriz Loureiro,
Félix Manuel Wolf (Director Técnico Adjunto)
Mário Oliveira, Nuno Guimarães
Joana Camacho (Assistente da Direcção Técnica)
Bernardo Azevedo Gomes (Director de Cena) Coro
Paula Meneses (Adjunta da Direcção de Cena) Celeste Patarra (Coordenadora)
Álvaro Santos (Assistente da Direcção de Cena) Margarida Cruz, Mário Oliveira, Rui Ivo Cruz

Sector de Maquinaria Gabinete de Pesquisa e Documentação Musical


José Silvério (Chefe do Sector) Paula Coelho da Silva (Coordenadora)
Graciano Lopes (Maquinista Chefe) Agostinho Sorrilha, Jan Schabowski,
Augusto Baptista, Fernando Correia, José Carlos Costa
Jacinto Matias, João Soares,
Joaquim Cândido Costa, José António Feio,
José Luís Reis, Luís Filipe Alves, Centro Histórico
Manuel Friães da Silva Fernando Carvalho (Coordenador)
Maria Luisa Carles (Coordenadora)
Sector de Electricidade
Anabela Pires
Pedro Martins (Chefe do Sector)
Serafim Baptista (Electricista Principal)
Carlos Santos, Carlos Vaz, Projecto Educativo TNSC
José Diogo, Paulo Godinho, Victor Silva Filipa Barriga, Maria Gil
Sector de Som e Vídeo
Miguel Pessanha (Chefe do Sector)
Luís Santos
Direcção Financeira e Administrativa
Sector de Contra-regra Sónia Teixeira (Directora Financeira e Administrativa)
João Lopes (Chefe do Sector)
Arnaldo Ferreira, Herlander Valente Albano Pais (Tesoureiro)
Ana Maria Peixeiro, António Pinheiro, Edna Narciso
Sector de Adereços
Fátima Ramos, João Pereira
António Lameiro, José Luís Barata
Marco Prezado (Técnico Oficial de Contas)
Sector de Costura Rui Amado
Zita Pires (Chefe do Sector)
Ana Paula Simaria, Maria José Santos Expediente e Arquivo Susana Santos, Carlos Pires,
Cristina Pereira, Sandra Catarino Miguel Vilhena, Artur Raposo

Limpeza e Economato
Lurdes Mesquita, Maria Conceição Pereira,
Maria de Lurdes Branco, Maria de Lurdes Moura,
Maria do Céu Cardoso, Maria Isabel Sousa,
Maria Teresa Gonçalves

122
Direcção de Marketing
Mário Gaspar (Director de Marketing)
Anabela Tavares (Assistente)
Ana Fonseca (Relações Públicas)
Maria João Franco (Comunicação)
Ana Rego (Design)
João Mendonça, José Luís Costa (Canais Internet)
Venâncio Gomes (Patrocínios/Marketing Directo)
Luísa Lourenço, Rita Martins,
Susana Clímaco (Bilheteiras)

Direcção de Recursos Humanos


Sofia Dias (Directora de Recursos Humanos)

Manuel Alves, Sofia Teopisto, Vânia Guerreiro,


Zulmira Mendes

Gabinete de Gestão do Património


Nuno Cassiano (Coordenador)
António Silva, Daniel Lima

Gabinete Jurídico Fernanda Rodrigues (Coordenadora)


Sandra Correia, Juliana Mimoso**

Gabinete de Sistemas de Informação


Pedro Penedo (Coordenador)
João Filipe Reis, Luís Miguel Costa

Secretárias do Conselho de Administração


Regina Sutre, Gabriela Metello

Secretária do Director Artístico


Teresa Serradas Duarte

Assessor do Conselho de Administração


Egídio Heitor**

* Reforços
** Prestadores de Serviço

Carmen 123
Teatro Nacional de São Carlos
Bilheteira Outras Informações
Horário de bilheteira Bilhetes
Dias úteis – das 13:00h às 19:00h O Teatro reserva-se o direito de alterar a sua programação
Dias de espectáculo - (incluindo sábados, domingos e em casos de força maior. A alteração substancial da sua
feriados): das 13:00h até trinta minutos após o início do programação constitui causa única para efeitos de
espectáculo. Duas horas antes do início do mesmo apenas reembolso de bilhetes adquiridos.
poderão ser adquiridos bilhetes para o próprio dia.
Legendas
Bilheteira On-line No caso de apresentação de óperas em língua estrangeira o
Pode adquirir os seus bilhetes on-line em www.ticketline.pt Teatro garante um sistema de legendagem em português.
bem como através de contacto telefónico com a Ticketline
(707 234 234). Pontualidade
Rede Ticketline: Depois do início do espectáculo não é permitido o acesso à
FNAC, WORTEN, ABREU, El Corte Inglés, C. C. Dolce Vita plateia até que tenha lugar o primeiro intervalo, durante o
qual os espectadores serão conduzidos aos seus lugares
Reservas pelos assistentes de sala.
As reservas podem ser efectuadas por e-mail ou telefone
da bilheteira, as quais serão garantidas por 48 horas após Gravações e fotografias
a reserva. Só serão aceites reservas até 48 horas antes do Não é permitida a utilização de qualquer tipo de gravadores
dia do espectáculo. ou máquinas fotográficas no interior do Teatro.
Tel. 213 253 045/6
email: reserva.bilhetes@saocarlos.pt Bengaleiro
O Teatro conta com um serviço de bengaleiro situado dos
Formas de pagamento dois lados exteriores da plateia.
Numerário, Cheque, Multibanco, Cartão de crédito.
A bilheteira do Teatro Nacional de São Carlos dispõe de Aparelhos sonoros
uma caixa de multibanco durante o seu horário de Agradecemos que sejam desligados telemóveis e relógios
funcionamento. electrónicos no interior da sala de espectáculos.

Descontos Restaurante e Cafetaria


É necessário apresentar comprovativo de idade no acto de Para além do restaurante/cafetaria no Foyer, o Teatro conta
compra dos bilhetes para aplicação deste desconto. com um serviço de esplanada no Largo de São Carlos.
Jovens até 25 anos e Maiores de 65
Desconto de 35%. Transportes
Jovens até 18 anos Autocarros: 58, 100, 204* (*só serviço nocturno)
Desconto de 50%. Eléctrico: 28; Metro: Baixa-Chiado

Grupos Contactos:
30% na aquisição de, no mínimo, 15 bilhetes por espectáculo. Teatro Nacional de São Carlos
Rua Serpa Pinto, n.º 9 – 1200-442 Lisboa
Matinées Família Tel. 213 253 000 – Fax 213 253 083
Adultos sem jovens até 18 anos, pagam preço de récita
normal. Máximo de 2 adultos por jovem até 18 anos. Consulte a programação em www.saocarlos.pt
A partir do terceiro adulto, estes pagarão preço de récita
normal. É necessário apresentar comprovativo de idade dos
jovens no acto de compra dos bilhetes para matiné família.

Bilhetes «Última Hora»


Ópera: duas horas antes de cada espectáculo, os bilhetes
disponíveis serão colocados à venda ao preço de 20 euros
para a plateia, frisas grandes e camarotes de 1.ª e 2.ª
Ordem Grandes. Os restantes lugares da sala poderão ser
adquiridos a 15 euros.

Concertos: duas horas antes de cada concerto, os bilhetes


disponíveis serão colocados à venda ao preço de 10 euros.

126
O Teatro Nacional de São Carlos é membro da
Opera-Europa e observador da Pearle*

Apoios do
Teatro Nacional de São Carlos

Apoio na divulgação

Carmen 127
Coordenação editorial
Paula Vilafanha

Design Gráfico
Ana Rego

Fotografias de ensaio
© Alfredo Rocha

Preço do programa 7D
Tiragem 1500 exemplares

128

Você também pode gostar