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Não se sabe ao certo quando é que Bach compôs as suas Toccatas, no entanto, é

provável que a Toccata em Sol que abre este recital tenha sido escrita durante os anos
em que trabalhou em Weimar (1708-1717), sem prejuízo de terem sido esboçadas ainda
antes disso.
Provavelmente, Bach compôs estas obras para o seu próprio prazer ou para concertos
privados. Frequentemente comparada com o Concerto Italiano (também para
instrumento de tecla), esta obra foi escrita por volta de 1713, altura em que Bach
escreveu também as suas transcrições de concertos para órgão e cravo.
O exuberante e concertístico primeiro andamento é seguido por um adagio em
tonalidade menor, fazendo lembrar as suas árias para voz que podemos apreciar em
cantatas ou paixões. Para fechar, um dançante e enérgico fugato.
Apesar do seu número de catálogo ser já o referente a uma fase mais avançada da
produção de Felix Mendelssohn (1809-1847), a sonata Op.106 (1827) é na verdade uma
obra da juventude deste compositor. Coincidindo com o ano da morte de Beethoven, o
primeiro andamento desta sonata, tem um carácter que em tudo faz lembrar a sonata
Hammerklavier, também Op.106, de Beethoven. Um pouco de tudo aparece, desde a
vitalidade do 1º andamento até à elegância e virtuosismo do 4º, passando por um
scherzo mágico e pontilhístico e um andamento lento que nos leva para a esfera das
Canções sem Palavras.
José Vianna da Motta, termina em Julho de 1905 a sua Balada Op.16. Esta obra foi
escrita numa altura em que o pianista estava a preparar diversas obras para recital, entre
as quais as Rapsódias Op.79 de Brahms, a Balada Op.24 de Grieg e a 2ª Balada de
Liszt. De uma maneira ou de outra, estas três obras estão relacionadas com a peça deste
recital. Por um lado, à semelhança da Balada de Grieg, a balada do Vianna da Motta é
escrita num esquema de tema com variações (Tricana d’aldeia). Para além disso,
algumas destas variações estão, em espírito e carácter inspiradas em partes da obra
homónima de Grieg. Por outro lado, a influência de Liszt (o qual Vianna da Motta foi
um dos seus últimos discípulos) é bastante mais visível. O ouvinte terá oportunidade de
ouvir, um Sostenuto que faz lembrar algumas obras dos Années de Pèrelinage do
compositor húngaro. A fechar esta balada, e introduzido pelo adagio religioso, o
compositor escreve uma Ave Maria, terminando assim em grande humildade, devoção e
simplicidade.
Enquanto compositor, Smetana (1824-1884) é conhecido principalmente pela sua
produção operática, sinfónica e camerística. No entanto, a obra para piano conta com
vários opus, sendo o caso das Danças Checas ou as Polkas, passando pelos estudos de
concerto, música programática e outras obras individuais.
A Fantasia Sobre Temas Nacionais Checos (1862), é uma série de variações sobre um
belíssimo tema que o compositor marca de “Moderato Ma Con Passione”. O que se
segue, são metamorfoses contrastantes em estilo, mas ainda assim, escritas com um
grande sentido de continuidade. Depois de humor, virtuosismo, paixão e elegância,
culmina numa recapitulação em ff marcado como Maestoso Grandioso.
Nascido em Tomar em 1906, Lopes-Graça desde cedo se interessou pela exploração do
folclore português e pelo “sabor” nacional que é reconhecido em muitas das obras deste
compositor. Prova disso mesmo são as suas Variações Sobre um Tema Popular
Português, Op.1, dedicadas à pianista Florinda Santos. Apesar de ser o seu opus 1, nesta
obra estão já patentes vários traços da personalidade artística de Lopes-Graça, mais
notavelmente a sua fibra rítmica e o seu métier inabalável.
Anos mais tarde, na década de 1950, Graça escreve a sua 3ª sonata para piano. Dedicada
à pianista Hélène Boschi, esta obra foi estreada em Paris e feita a sua primeira audição
portuguesa pela pianista Maria da Graça Amado da Cunha no Cinema Império em
Lisboa.
De carácter completamente diferente do das Variações Op.1, nesta obra temos uma
escrita completamente afirmativa, retumbante e inconsequente. Uma obra de um estágio
de desenvolvimento mais avançado em que as influências não só são as de Bartók e
Stravinsky, mas também de Ravel, Beethoven e Bach. Do ímpeto e direção do primeiro
andamento, passámos para a contenção vulcânica do segundo. Este, antes de seguir para
o derradeiro andamento, explode numa secção extremamente densa, em que por entre a
polifonia intrincada, o Dies Irae da sequência latina é ouvido. Por assalto, damos por
nós no terceiro andamento onde a malha rítmica volta a envolver o ouvinte numa bolha
de energia e otimismo.

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