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Desconhecendo por completo o atual paradigma do artista, Bach, assim como os seus

pares, não compôs com qualquer tipo de reconhecimento em mente. Não havia esta
constante comparação e competição que hoje vivemos. Ao invés disso, escrevia
porque essa era, simplesmente, a sua função na sociedade. Potenciado por isso, Bach
escreveu das mais memoráveis e honestas páginas da história da música. Não
obstante, a sua música não foi tocada durante quase 100 anos depois da sua morte.
Deve-se a Felix Mendelssohn o seu renascimento. Em Berlim, a 11 de Março de 1829,
dirigiu a Paixão Segundo São Mateus, numa das raras vezes desde a morte do
compositor. Este ato foi essencial para tornar público aquilo que de outra maneira era
apenas conhecido nos círculos da especialidade. Para honrar esse gesto, decidi abrir o
recital com a Toccata BWV 916 em Sol Maior de Bach e a Sonata Op.106 de
Mendelssohn. A Toccata de Bach é familiar do grande público e um grande aperitivo
para o início de um recital, no entanto, a sonata de Mendelssohn é uma completa
desconhecida das salas de concerto de todo o mundo. Seguindo o exemplo de
Mendelssohn, proponho fazer ouvir uma obra escassas vezes tocada depois da morte
do compositor.
De Mendelssohn passamos para Vianna da Motta e para a sua Balada Op.16. Um
clássico do repertório português para piano. Retrocedemos uns anos, e Smetana
escreve a sua Fantasia Sobre Temas Nacionais Checos. E já mais tarde, em 1927,
Fernando Lopes-Graça escreve o seu Opus 1: Variações Sobre um Tema Popular
Português.
Mais do que a forma (Tema e Variações) o que une estas três obras é o facto de
tratarem melodias tradicionais de cada país. É um canto à nação de cada um destes
compositores, mas através de influências de mestres de toda a Europa, este conjunto
resulta num abraço fraterno muito especial.
Para fechar o programa, uma das mais importantes sonatas para piano do repertório
português: a 3ª Sonata de Fernando Lopes-Graça. Uma obra robusta e cheia de
vitalidade, terminando assim o recital.

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