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Notas ao programa

A influência de Frederico II na flauta - três séculos de


música

Quantz (1697-1773) - Capricho em Sol maior para flauta solo


(QV 3:1.15)

Como ponto de partida deste recital queria destacar a imagem de Frederico II - O Grande, bem
como a sua influência no meio musical. Sem dúvida que mesmo após mais de três séculos, a sua
influência motivou compositores, músico e luthiers de instrumentos a debruçarem-se sobre assuntos
que mudaram a música maioritariamente para flauta transversal.
O recital inicia com uma obra do grande compositor e flautista alemão Joachim Quantz. A sua
formação inicial com Haendel levou-o a um estudo importante do contraponto e do estilo barroco,
sendo igualmente influenciado por Vivaldi. Para além de flautista e professor de Frederico II da
Prússia (retratado na famosa pintura de Adolph von Menzel) foi igualmente importante no
desenvolvimento da flauta barroca, com o aumento do número de orifícios, melhorando a afinação e
a capacidade de projeção. Estas melhorias levaram a compositores como Telemann , Bach (pai e
filhos) a compor para a flauta. De entre os seus 300 concertos, muitas sonatas e o seu reconhecido
método para flauta, encontra-se o capricho para flauta a solo em sol maior. A obra tem um caráter
virtuoso, apresentando escalas maiores e menores, por terceiras e arpejos com sétimas. De
reconhecer que a peça foi composta provavelmente para o desenvolvimento técnico de um aprendiz
do instrumento. O tema inicial facilmente reconhecido é desenvolvido e volta-se a ouvir no fim da
obra.

C. P. E. Bach (1714-1788) - Sonata em Lá menor para flauta


solo (Wq.132)

POCO ADAGIO (3/8)


ALLEGRO (2/4)
ALLEGRO (3/8)

O segundo filho de Johann Sebastian Bach foi provavelmente o que mais perto esteve da
genialidade do pai. Desde novo foi um cravista brilhante e nos primeiros anos de aprendizagem
apresentou-se ao príncipe Frederico, que mais tarde foi coroado Rei Frederico II da Prússia. Este,
reconhecendo o grande talento, de imediato o contratou como músico da corte onde trabalhou cerca
de 30 anos.
A sua música de transição clássica, influenciou Haydn, Mozart e Beethoven, que mostraram a sua
admiração. O seu estilo “empfindsamer still” (estilo expressivo) tinha uma dinâmica emocional
derivada da retórica e dos dramas alemães, contrastando com o estilo barroco.
Era o compositor quem acompanhava ao teclado o rei e flautista amador. Escreveu cerca de 300
obras para teclado, várias sinfonias, concertos para instrumentos solistas dentro os quais 5 para
flauta.
Na sonata a solo datada de 1747, é impossível não comparar com a partita na mesma tonalidade
escrita para o mesmo instrumento, um quarto de século antes pelo pai. O primeiro andamento da
sonata Poco Adagio, tem a mesma indicação que algumas das peças para instrumentos a solo
escritas por Bach, pai. As harmonias por onde passa estão bem específicas. No segundo andamento
possui duas grandes secções que se repetem com ornamentações, sendo que o tema principal deriva
das notas da tríade da tónica e da dominante. O terceiro andamento utiliza um processo semelhante
possuindo também notas graves seguidas de um largo salto, o que sugere a existência de uma linha
de baixo.
Scherzo de Ein Sommernachtstraum (Op.61) para duas flautas
Felix Mendelssohn (1809–1847) / Joseph-Henri Altès (1826–
1895)

Mendelssohn que “resgatou” a música de J.S. Bach, estudou também particularmente a música de
Carl Philipp Emannuel Bach.
Escreveu igualmente a música de cena para o Sonho de uma noite de Verão em 1843. A abertura
escrita em 1826 foi adaptada ao drama/comédia Shakesperiano.
O Scherzo introduz o segundo acto e remete-nos para o universo das fadas e do fantástico. Com
um caráter de dança devido ao tipo de articulação - staccato, foi transcrito por Altès, um virtuoso
flautista e pedagogo francês do século XIX, autor de um famoso método para tocar flauta moderna,
fazendo está obra parte integrante de um dos seus livros de estudos.

Rhapsodie Hongroise Nr. 2 para flauta e piano - Liszt


(1811-1886) / Jànos Balint (1961)

Franz Liszt, autor da Paráfrase depois da Marcha triunfal de Mendelssohn S.410 (Sonho de uma
noite de Verão) é o ponto de chegada deste recital. O próprio Liszt que deu “novas vidas” a
repertório de seus contemporâneos foi coadjuvado por um aluno seu e flautista, Franz Doppler, na
transcrição das suas rapsódias húngaras de piano para orquestra.
A influência da música húngara de Johannes Brahms está presente nas primeiras 15 rapsódias. O
carácter cigano, improvisado e ornamentado apresentou novas formas e estilos no que podíamos
chamar a arte pianística da época.
Em jeito de fantasia o famoso professor Balint, orientador da classe de flauta virtuosa em
Dëtmold transcreveu a rapsódia número 2 para flauta. À imagem de Liszt que escrevia as cadências
para o desenvolvimento técnico dos seus alunos, o grande desafio técnico reside nas cadências, pois
possuem um caráter virtuoso.

Vasco Carvalho
Flautista

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