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Como ponto de partida deste recital queria destacar a imagem de Frederico II - O Grande, bem
como a sua influência no meio musical. Sem dúvida que mesmo após mais de três séculos, a sua
influência motivou compositores, músico e luthiers de instrumentos a debruçarem-se sobre assuntos
que mudaram a música maioritariamente para flauta transversal.
O recital inicia com uma obra do grande compositor e flautista alemão Joachim Quantz. A sua
formação inicial com Haendel levou-o a um estudo importante do contraponto e do estilo barroco,
sendo igualmente influenciado por Vivaldi. Para além de flautista e professor de Frederico II da
Prússia (retratado na famosa pintura de Adolph von Menzel) foi igualmente importante no
desenvolvimento da flauta barroca, com o aumento do número de orifícios, melhorando a afinação e
a capacidade de projeção. Estas melhorias levaram a compositores como Telemann , Bach (pai e
filhos) a compor para a flauta. De entre os seus 300 concertos, muitas sonatas e o seu reconhecido
método para flauta, encontra-se o capricho para flauta a solo em sol maior. A obra tem um caráter
virtuoso, apresentando escalas maiores e menores, por terceiras e arpejos com sétimas. De
reconhecer que a peça foi composta provavelmente para o desenvolvimento técnico de um aprendiz
do instrumento. O tema inicial facilmente reconhecido é desenvolvido e volta-se a ouvir no fim da
obra.
O segundo filho de Johann Sebastian Bach foi provavelmente o que mais perto esteve da
genialidade do pai. Desde novo foi um cravista brilhante e nos primeiros anos de aprendizagem
apresentou-se ao príncipe Frederico, que mais tarde foi coroado Rei Frederico II da Prússia. Este,
reconhecendo o grande talento, de imediato o contratou como músico da corte onde trabalhou cerca
de 30 anos.
A sua música de transição clássica, influenciou Haydn, Mozart e Beethoven, que mostraram a sua
admiração. O seu estilo “empfindsamer still” (estilo expressivo) tinha uma dinâmica emocional
derivada da retórica e dos dramas alemães, contrastando com o estilo barroco.
Era o compositor quem acompanhava ao teclado o rei e flautista amador. Escreveu cerca de 300
obras para teclado, várias sinfonias, concertos para instrumentos solistas dentro os quais 5 para
flauta.
Na sonata a solo datada de 1747, é impossível não comparar com a partita na mesma tonalidade
escrita para o mesmo instrumento, um quarto de século antes pelo pai. O primeiro andamento da
sonata Poco Adagio, tem a mesma indicação que algumas das peças para instrumentos a solo
escritas por Bach, pai. As harmonias por onde passa estão bem específicas. No segundo andamento
possui duas grandes secções que se repetem com ornamentações, sendo que o tema principal deriva
das notas da tríade da tónica e da dominante. O terceiro andamento utiliza um processo semelhante
possuindo também notas graves seguidas de um largo salto, o que sugere a existência de uma linha
de baixo.
Scherzo de Ein Sommernachtstraum (Op.61) para duas flautas
Felix Mendelssohn (1809–1847) / Joseph-Henri Altès (1826–
1895)
Mendelssohn que “resgatou” a música de J.S. Bach, estudou também particularmente a música de
Carl Philipp Emannuel Bach.
Escreveu igualmente a música de cena para o Sonho de uma noite de Verão em 1843. A abertura
escrita em 1826 foi adaptada ao drama/comédia Shakesperiano.
O Scherzo introduz o segundo acto e remete-nos para o universo das fadas e do fantástico. Com
um caráter de dança devido ao tipo de articulação - staccato, foi transcrito por Altès, um virtuoso
flautista e pedagogo francês do século XIX, autor de um famoso método para tocar flauta moderna,
fazendo está obra parte integrante de um dos seus livros de estudos.
Franz Liszt, autor da Paráfrase depois da Marcha triunfal de Mendelssohn S.410 (Sonho de uma
noite de Verão) é o ponto de chegada deste recital. O próprio Liszt que deu “novas vidas” a
repertório de seus contemporâneos foi coadjuvado por um aluno seu e flautista, Franz Doppler, na
transcrição das suas rapsódias húngaras de piano para orquestra.
A influência da música húngara de Johannes Brahms está presente nas primeiras 15 rapsódias. O
carácter cigano, improvisado e ornamentado apresentou novas formas e estilos no que podíamos
chamar a arte pianística da época.
Em jeito de fantasia o famoso professor Balint, orientador da classe de flauta virtuosa em
Dëtmold transcreveu a rapsódia número 2 para flauta. À imagem de Liszt que escrevia as cadências
para o desenvolvimento técnico dos seus alunos, o grande desafio técnico reside nas cadências, pois
possuem um caráter virtuoso.
Vasco Carvalho
Flautista