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HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL - 1º ANO

AULA Nº 82 a 84

____________________Música Instrumental da 1ª metade do século XVII

Como já visto anteriormente, a música instrumental na Idade Média não


era escrita, pois dobrava a voz principal, e era para qualquer tipo de
instrumentos – situação esta que se vê até ao século XVI. A partir daqui temos a
autonomização de alguns instrumentos, aparecendo obras específicas para
alaúde, com escrita de tablaturas.
Em 1553, Diego Ortiz publica um tratado de Glosas – sobre uma linha
melódica mais longa era possível improvisar-se, recheando-a virtuosisticamente.
Em finais do século XVI começa a existir a preocupação de
instrumentação específica – essa indicação acontece pela primeira vez em
Inglaterra, 1580, com a Consort Music – Whole Consort (instrumentos da mesma
família) e Broken Consort (instrumentos de várias famílias) e Thomas Morley, na
sua publicação First Book of Consort Lessons indica com muita precisão a
instrumentação para os Broken Consorts.
A partir do século XVII existe muita música escrita quer para uma linha
melódica com acompanhamento de contínuo quer para duas linhas melódicas em
diálogo e contínuo. O violino surge, a partir de finais do século XVI, como
instrumento de grande importância. Alemanha e Itália viram nascer os mais
importantes lutiers do século XVI:

TIROL – Jacob Steiner


BRESCIA – Gasparo da Saló (1540-1601)
CREMONA - Andrea Amati (+1577)
Filhos: Antonio e Girolamo I Amati
Neto: Girolamo II

ANTONIO STRADIVARI (1644/9-1737)


Andrea Guarneri (1623-1698)

Era feita muita experimentação na construção dos violinos – escolha de


madeiras, provenientes da Ásia e do Brasil; vernizes, feitos de pigmentos animais
e vegetais e testados para dar as ressonâncias certas; moldes, que eram feitos
rigorosamente e ao milímetro e trancados a sete chaves.
Durante o século XVII, a música instrumental equiparou-se à importância
da música vocal, quer em qualidade quer em conteúdo. Todavia, as formas
instrumentais que surgem ainda não estão padronizadas e as suas designações
ainda eram inconsistentes. Ainda assim é possível distingui-las:
- Peças fugadas: em contraponto imitativo contínuo (sem secções).
Ricercare, Fantasia, Fancy, Capriccio, Fuga, Verset, e outros;
- Peças tipo canzona: em contraponto imitativo descontínuo (com
secções). Estas peças dão lugar à sonata da chiesa em meados do século.
- Peças com variações: Partita, Passacaglia, Chaconne, Partita Coral,
Prelúdio Coral;
- Danças e peças em ritmo de dança, que podia ser agrupadas
numa Suite;
- Peças improvisatórias para tecla ou alaúde solistas. Toccata,
Fantasia, Prelúdio.

Como vem sendo hábito constatar neste período, não há exclusividade de


formas. Os diversos tipos podem combinar-se entre si de muitas e variadas formas,
daí não existir um padrão fixo para os mesmos.

__________________MÚSICA PARA ÓRGÃO (desenvolvida no séc. XVI)

1540 – Gonçalo de Baena edita Arte de Tanger, livro de músicas para órgão
com obras polifónicas sacras de Pedro do Porto, Josquin de Prez adaptadas para o
instrumento
1550 – D. Eliodoro de Paiva compõe música para órgão
1560-80 – António Carreira – 20 obras para órgão catalogadas como M.M.
242
Escrita virtuosística extremamente avançada; compositores portugueses na
linha da frente no que respeita a composição para órgão
1620 – Manuel Rodrigues Coelho, organista da Capela Real de Lisboa
Flores de Música:
- Grande colecção de música de órgão
- Obras grandes
- Semelhantes às CANZONAS de Frescobaldi
- Tema imitado pelas vozes
- Virtuosismo

2 novos géneros a partir 1620

- TENTO DE MEIO REGISTO -” Teclado Partido” – composição propositada


para destacar uma ou mais linhas melódicas no seio da textura polifónica.
- (TENTO DE) BATALHA - origem numa das mais famosas canções franco-
flamengas renascentista “La Bataille de Marignan” ou “La Guerre” de Clément
Jannequin, onde o autor tenta imitar em termos musicais os sons
característicos de um combate: rufar de tambores, galope de cavalos,
entrechocar de espadas.

__________________________________Formas Musicais Instrumentais

O RICERCARE (procurar) vai ser o modelo para o TENTO português e para


o TIENTO espanhol (a ver mais tarde). É uma composição breve para órgão ou
instrumento de tecla onde um tema é desenvolvido continuamente em imitação,
ou seja, não tem secções definidas. Tem, geralmente. 4 vozes. Girolamo
Frescobaldi (1583-1643) foi um dos compositores de maior destaque nesta forma
musical.
A FANTASIA é mais complexa em termos de forma e de maiores proporções
do que o ricercare. Também uma composição para tecla, teve como principais
compositores o organista Jan Sweelinck e alguns dos seus discípulos. A fantasia
podia tomar de empréstimo temas de outras composições, desenvolvendo os
mesmos em contraponto imitativo.
A CANZONA tem um material melódico mais vivo que a fantasia e o ricercare
e divisão do material em secções contrastantes no ritmo, este bem mais marcado do
que nas outras formas.
A TOCCATA é uma peça de carácter virtuosístico e improvisatório, mantendo
grande liberdade formal. São aplicados outros títulos como TOCCATA DI DUREZZE
E LIGATURE, onde as passagens de consonância e dissonância são feitas a partir da
manutenção da nota aguda, ou a TOCCATA PARA ELAVAZIONE, feita para missa
durante a elevação da hóstia.
VARIAÇÕES, um tipo de composição para tecla que já vem dos finais do
Renascimento e que era a predilecta da altura. Embora aparecessem as arias con
variazoni, variationes super, diferencias (em espanhol), muitas das composições
neste género não tinham o nome variação no título. Usava-se no princípio do século
XVII o termo partite para essas variações – mais tarde para as suites de dança
(Bach). (pp. 348-350)
SONATA, nos seus primórdios, era o nome utilizado para designar o que não
eram as outras formas já definidas e só gradualmente foi ganhando características
próprias. No século XVII, eram peças para um (a solo) ou dois instrumentos (trio-
sonata) com acompanhamento de baixo-continuo. Eram geralmente feitas para
um instrumento específico, mormente o violino, e tiravam o máximo partido do
mesmo, uma vez que o seu carácter era bastante mais livre que a canzona. (pág.
347)

MÚSICA DE DANÇA (pp. 350)

A Pavane e a Galharda continuam a ser formas de dança que, desde o século


XVI, gozam de grande estatuto.
(complementar e ler pp. 350-354, final do capítulo 9)

Compositores de música instrumental em Itália:

- Biaggio Marini (1587-1663)


- Tarquino Merula (1594-1665)
- Giovanni Paolo Cima (1570-1622)
- Marco Uccellini (1603-1680)
- GIROLAMO FRESCOBALDI (1583-1643)

_________________________________________________Século XVIII

A primeira metade do século XVIII vai ver um reforço da influência italiana


por toda a Europa. Viena é a cidade europeia que começa a ser italianizada mais
cedo, uma vez que recebe muita influência papal por estar situada na zona católica
do Sul.
Inglaterra, que se manteve relativamente alheia à influência italiana ao
longo do século XVII, acaba por recebe-la durante o século XVIII.
Itália exporta muitos músicos com elevado grau de maturidade musical, o
que o torna o modelo perfeito. A música é mais acessível e comunica mais
facilmente com o público a nível sentimental, algo que a ópera francesa, por
exemplo, não consegue fazer.
Entre 1700 e 1710, temos então:

DOMÍNIO TOTAL DA ORQUESTRA DE CORDAS


- que coincide com a era dos grandes luthiers de Cremona – Amati,
Stradivari e Guarnieri
BAIXO-CONTINUO
- feito através do Fagote, do Cravo, ou das cordas graves – Violoncelo,
Contrabaixo
REFORÇO DO NAIPE DOS AGUDOS
- poucos instrumentos tenores, uma vez que o Continuo harmoniza o
espaço entre o grave e o agudo
FLAUTAS, OBOÉS, TROMPETES E TROMPAS
- gradualmente vão se inserindo no corpo orquestral
DIÁLOGO ENTRE DUAS LINHAS MELÓDICAS
- feito através de um jogo de pergunta/resposta, através da
Alternância de Timbres

__________________________________Música Instrumental de Câmara

(pp. (392) 404-419)

Derivada das canzonas do início do século XVI (ver capítulo 9 – 345-348), a


Sonata – tal como a Sinfonia – passa a designar, a partir de 1630, as composições
instrumentais independentes compostas para grupos de 2 ou 4 instrumentos, baixo-
continuo e andamentos com ritmos e texturas contrastantes (aqui cabe uma grande
diversidade de formas).
A partir de 1660, é possível distinguir claramente dois tipos de Sonata:
SONATA DA CHIESA – normalmente designada somente por Sonata,
era tocada na igreja e obviamente os seus andamentos não incluem ritmos
de dança, nem os andamentos têm nomes de danças e sucedem-se da
seguinte forma – L /R /L / R
SONATA DA CAMERA – basicamente uma suíte de danças estilizadas.
Era tocada nos salões (câmaras) e os andamentos sucedem-se em R / L / R
/L

A formação mais comum a partir de 1670 consistia em 2 instrumentos agudos


(regra geral violinos) e baixo-continuo, que também completava a harmonia.
Esta forma é designada por TRIO-SONATA (para 4 executantes, uma vez
que o continuo seria dobrado por um violoncelo.
Esta textura de duas linhas melódicas e baixo servia também para muitos
outros tipos de música barroca e para além da mesma.
As SONATAS A SOLO (violino, flauta, etc.) são menos numerosas nesta
altura, mas vão aparecendo mais amiúde a partir de 1700.
Em finais do século XVII já se reconhece uma distinção entre música de
câmara – música para um só instrumento por parte – e música orquestral – para
mais que um instrumento por parte.
Assim vai surgir um novo tipo de composição que se tornará a forma mais
importante de música orquestral barroca a partir do século XVIII – o CONCERTO.
Esta forma permitia aos compositores a inclusão de muitas das novas inovações
musicais numa única peça musical – o estilo concertato, baixo-continuo e soprano
ornamentado, organização tonal, construção de uma obra longa a partir de
andamentos autónomos.
A partir desta altura escreviam-se 3 tipos diferentes de Concertos:
- Concerto Orquestral – obra orquestral em vários andamentos, com
destaque para o primeiro violino e sem a complexidade contrapontística da
sonata ou na sinfonia.
- Concerto Grosso – oposição entre um pequeno grupo de solistas
(CONCERTINO) e a orquestra (TUTTI ou RIPIENO)
- Concerto a Solo – opunha um único instrumento à orquestra

Regra geral, a orquestra era constituída por cordas e baixo-contínuo. O


instrumento solista seria um violino e o Concertino seria baseado na Trio-Sonata,
com 2 violinos e baixo-contínuo.
O antecessor directo do Concerto foi a Sinfonia ou Sonata para um ou dois
trompetes solistas e orquestra de cordas, uma forma cultivada em Veneza e em
Bolonha.

_______________________________Compositores (Séculos XVII e XVIII)

ARCANGELO CORELLI (1653 - 1713) – (pp. 406-411 - Grout)


Expoente máximo da música instrumental italiana do final do século XVII, como
compositor e executante. É um compositor para cordas. Estuda 4 anos em Bolonha e
vive praticamente toda a vida em Roma a partir de 1671.
Publica cerca de 60 trio-sonatas, da camera e da chiesa, e 12 concertos grossos
em 6 volumes (Op. 1 a 6) e as suas obras vão circular por toda a Europa
Estabelece os princípios da arquitectura tonal, através de modulações
lógicas e claras: nas tonalidades maiores, à dominante; nas tonalidades menores, ao
relativo maior, algo que será desenvolvido por Haendel, Vivaldi e Bach na geração
seguinte
A sua música é essencialmente diatónica e recorre muito à SEQUÊNCIA: é
clara a organização tonal (ñ modalidade), diatonicamente dentro da mesma tonalidade
ou através do ciclo das 5as (maneira de estabelecer tonalidade).
As trio-sonatas da chiesa apresentam 4 andamentos (L / R / L / R), análogos à ordem
das cantatas deste período.

GIUSEPPE TORELLI (1658 – 1709) – (pp. 417-419 – Grout)


Pertence à geração responsável pela arrumação formal do concerto – mais
organizado que Corelli, arrumada em 3 andamentos: R / L / R e utiliza o princípio do
Ritornello. Os Concertos para Violino, Opus 8, publicados pouco depois da sua morte
em 1709, ilustram essa evolução na organização.
O termo Ritornello deriva da música vocal e, com excepção do primeiro e do
último, todos os outros são em tonalidades diferentes.
Estas realizações foram igualadas e desenvolvidas por Tomaso Albinoni (1671 –
1750); Evaristo Felice dall’Abaco (1675 – 1742); Antonio Vivaldi (1678 – 1741)

ANTONIO VIVALDI (1678 – 1741) – (pp. 424-431)


Filho de um dos 1os violinos da Catedral de São Marcos, estudou Teologia e
Música. Ordenado sacerdote em 1703, deixa de dizer missa no ano seguinte devido a
doença crónica e dedica-se por completo à Música
Entre 1703 e 1740, com várias paragens pelo meio, foi maestro, compositor,
professor e director musical no Pio Ospedale Della Pietà, orfanato e escola de
raparigas. Aí ensinava todos os instrumentos de orquestra e dispunha de recursos
quase ilimitados, por isso havia facilidade de inserção de instrumentos para além dos
pertencentes ao tutti (ao contrário de Corelli que retirava solistas do tutti)
Escreveu óperas, cantatas, motetes e oratórias, mas ficou conhecido como compositor
de música para orquestra.
As suas primeiras composições são muito ao estilo Corelli, mas rapidamente
entra a par das novas tendências: Forma bem definida – 3 andamentos; Ritmo
vigoroso já a exemplo de Torelli e Albinoni; Escrita solística idiomática
Após todas estas mudanças, há a necessidade de síntese do
desenvolvimento da música: BACH – fusão dos estilos nacionais barrocos;
HAENDEL – coordenação estilos nacionais barrocos.

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