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Filosofia - Karl Popper e Thomas Kuhn

Método indutivo
→ O conhecimento científico é adquirido e confirmado por um processo de
indução.
→ A indução está ligada ao princípio de que os casos futuros (não observados)
serão semelhantes aos casos passados (já observados). Assim, o grau de
confirmação de uma hipótese dependeria apenas do número de casos
favoráveis observados, não passando o problema de uma questão de simples
enumeração exaustiva das manifestações de um fenómenos.
→ Por exemplo, observar muitos cisnes brancos confirmaria:
a. A hipótese de que todos os cisnes são brancos (generalização)
b. a hipótese de que o próximo cisnes a ser observado será branco (previsão)

Razões para duvidar do método indutivo:


→ A ciência real não funciona do mesmo modo, pois não se limita a contar e a
recontar casos sem dispor de uma teoria prévia que a sustente.
→ Por muito que se acumule e enumerem casos, o procedimento não permite
lidar com a possibilidade de contraexemplos (aparecimento de um cisnes negro).

NOTA: A indução é racionalmente injustificável, mesmo que permaneça


psicologicamente inevitável.

Método hipotético-dedutivo
→ Formulação de uma hipótese ou teoria geral
→ Dedução de uma afirmação particular
→ Testar a afirmação por observação ou experimentação. Se o resultado for
negativo, a hipótese geral tem de ser abandonada.

Verificacionismo
→ Defendem o valor preditivo da indução
→ Critério: um hipótese é científica se puder ser provada, verificada
empiricamente, através do método experimental - Verificabilidade

Karl Popper

Popper e a indução
→ Popper apresenta uma perspetiva falsificacionista do método científico.
→ Propõe que o indutivismo seja substituído por um modelo hipotético-dedutivo
que apresenta um aspeto inovador.
→ O que deve ser testado não é a possibilidade de verificação, mas sim a de
refutação de uma hipótese
Segundo Popper, a indução não pode ser um procedimento científico porque o
salto indutivo de alguns casos para todos os casos implicaria que a observação
dos factos atingisse a totalidade, o que é impossível.

Popper e a indução: o método das conjeturas e refutações (falsificacionismo)


Problema

Conjetura ou hipótese explicativa

Dedução de consequências observáveis ou de enunciados observacionais

Tentativa de falsificação

Corroboração ou refutação

Em clara oposição à indução, Popper afirma que a investigação científica


começa com problemas, isto é, quando os conhecimentos disponíveis sobre um
dado assunto se revelam insuficientes para explicar um determinado
acontecimento.
→ São então formadas novas conjeturas ou hipóteses. Destas deduzem-se
consequências que deverão ser testadas, submetidas a testes empíricos. Mas, em
vez de procurar evidências empíricas que verifiquem ou confirmem as
consequências deduzidas da hipótese, devemos tentar falsificá-las para ver se
resistem a esse teste.

O problema da demarcação

→ O problema que separa a ciência da pseudociência (não ciência)


→ As teorias envolvem leis que são proposições universais. Mas não podemos
verificar cada casos passado presente ou futuro que comprove essa mesma lei

Exemplo:
→ “Todos os cisnes são brancos” - generalização: esta lei tem alcance universal,
ou seja, lei que todos os corpos cumprem, cumprirão e cumprirão no futuro.
- Podes uma proposição deste tipo ser verificada? NÃO!
- Isso exigiria que se observasse todos os casos particulares passados,
presentes e futuros, o que é impossível.

→ Se enunciar uma proposição universal - todas as leis científicas o são - parece


suficiente que se verifique nalguns casos para concluir que é verdadeira. Mas esta
forma de raciocinar é indutiva, e a indução não nos dá garantias quanto à
verdade da conclusão.

Uma teoria é científica se for falsificável


→ O que caracteriza as hipóteses científicas é a sua refutabilidade ou
falsificabilidade: nenhuma hipótese científica é irrefutável, mais tarde ou mais
cedo pode ser declarada falsa.

Se verificar ou confirmar uma proposição universal é impossível, o mesmo já não


acontece com a sua refutação ou negação.

Exemplo:
→ Pensemos nesta proposição universal “Todos os cisnes são brancos”.
- Por mais cisnes brancos que observemos, nunca poderemos estar seguros
da sua verdade. Mas é suficiente aparecer um cisne negro - como
aconteceu para a refutar.

→ Uma teoria falsificável é uma teoria que podemos descobrir que é falsa, mas
não é necessariamente uma teoria falsa. Trata-se de uma teoria de que se
deduzem consequências ou predições testáveis, isto é, passíveis de serem
confrontadas com os facto. Se estas predições se revelarem incompatíveis com
os factos, a teoria diz-se falsificada, ou seja, o teste a que foi submetida mostrou
que é falsa.

→ E o que dizer se uma hipótese posta à prova, resistir aos testes a que a
submetemos?
- Segundo Popper, só temos o direito de dizer que não foi refutada e que
temos razões para aceitar, ou seja, para continuar a trabalhar com ela.
Diz-se então que foi corroborada. Será uma boa teoria, digna de
confiança, mas não foi demonstrada nem se pode dizer que é verdadeira.

→ Uma teoria genuinamente científica é uma teoria que pode ser submetida a
testes empíricos e que pode ser refutada ou falsificada (negada) se esses testes
lhe forem desfavoráveis.

NOTA: Uma teoria genuinamente científica não é uma teoria falsa. É uma teoria
que não é imune à falsificação, embora deva resistir às tentativas de refutação
ou falsificação.

→ Não podemos, mediante a observação e a experimentação, mostrar que as


nossas hipóteses são verdadeiras.
A única coisa que, segundo Popper, os cientistas podem fazer é mostrar ou que
são falsas ou que ainda não foi aprovada a sua falsidade (muitos diferente de
dizer que são ou ainda são verdadeiras).
Noções
- Falsificada = falsa
- Corroborada = teoria que resiste aos testes
- Irrefutável = não pode ser falsa
- Refutável = pode ser falsa
- Falsificável = teoria com mais conteúdo empírico; é possível ser testada

Thomas Kuhn

As teses centrais da teoria

1. Não há atividade científica fora de uma comunidade de praticantes


(comunidade científica).
2. Não há comunidade científica sem a adoção consensual de um
paradigma pelos seus membros.
3. A atividade a que ao longo da história da ciência os cientistas mais
frequentemente se dedicam tem o nome de ciência normal.
4. A ciência faz-se cumulativamente mas desenvolve-se por paradigmas,
ou seja, é através do acumular de soluções (problemas resolvidos) que a
ciência evolui e só é possível à comunidade científica encontrar as
soluções aos problemas atuais se seguir o paradigma vigente (conjunto de
regras/leis).
5. A longos períodos de ciência normal sucedem de vez em quando episódios
revolucionários a que se dá o nome de revoluções científicas, ou seja,
mudanças de paradigmas.
6. Uma revolução científica traduz-se numa forma de ver o mundo
inteiramente nova e incompatível com a forma de ver o mundo associada
e determinada pelo paradigma anterior.
7. Sendo a expressão de formas incompatíveis de ver o mundo, os
paradigmas são incomensuráveis.
8. Sendo incomensuráveis, não há acima ou fora de cada paradigma um
critério ou medida comum que permita considerar que um é mais
verdadeiro do que o outro ou que é um espelho mais fiel da realidade.
9. Se pudermos falar de progresso, este é descontínuo, feito de algumas
ruturas e descontinuidades, de mudanças de paradigmas, e não de
transformações de um paradigma noutro.
10. A substituição de um paradigma por outro não obedece a critérios
estritamente objetivos e racionais.

A noção de paradigma e a sua incomensurabilidade

- O ambiente intelectual e tecnológico no qual o cientista desenvolve, num


dado momento histórico, o seu trabalho.
- É o “mapa” que os investigadores usam na “exploração” da natureza.
1. Dimensão teórica
- É um esquema de explicação e interpretação da realidade composto por
leis, teorias e conceções acerca do que é o mundo.
2. Dimensão prática
- Constitui um modelo de investigação e de pesquisa determinando o que
se deve investigar e como se deve fazê-lo.
- Um paradigma fornece regras para resolver problemas e investigar a
natureza, para usar os instrumentos científicos disponíveis e para avaliar se
as explicações ou respostas obtidas são boas.

A incomensurabilidade dos paradigmas

- Os paradigmas são incomensuráveis. Isto quer dizer que não temos uma
medida comum completamente objetiva e exterior a cada paradigma
para afirmar que um paradigma é superior ao outro.

Por que razões são os paradigmas incomensuráveis?


1. Porque cada paradigma é uma visão do mundo incompatível com
qualquer outra.
- Cada paradigma “fala” uma linguagem diferente.
- É um mapa completamente distinto do outro para explorar a natureza.
- É como se cada cientista, não podendo olhar para o mundo
independentemente do paradigma que adota, vivesse num diferente do de
outro cientista apoiado num diferente paradigma.
2. Cada paradigma é avaliado pelos seus próprios critérios de avaliação
- Um paradigma só pode ser avaliado a partir das bases que ele próprio dá
para a sua avaliação.

Consequência fundamental da tese da incomensurabilidade dos paradigmas

- Esta perspetiva torna muito problemático falar da sucessão de


paradigmas com progresso em direção à verdade.
- Não podemos, segundo Kuhn, dizer que um novo paradigma nos
aproxima objetivamente mais da verdade do que o anterior. Podemos
pensar que sim, mas não prová-lo de forma objetiva.
- Não temos um critério plenamente objetivo para dizer que um paradigma
é mais verdadeiro do que outro ou que dá uma imagem mais fiel da
realidade do que outro.
- A ideia de verdade objetiva é posta em causa porque só podemos avaliar
um paradigma usando os meios que este fornece. Há tantas verdades
quanto aos paradigmas (quantas formas que, ao longo da história da
ciência, houve de ver o mundo).
- A acusação de relativismo é uma das mais frequentes de que Kuhn é alvo.

A escolha entre paradigmas

→ A substituição de um por outro não é um processo completamente arbitrário.


- Cada paradigma “fala” uma linguagem diferente. É um mapa
completamente distinto de outro para explorar a natureza.
- Na passagem de um paradigma a outro, Kuhn acha que existe a presença
de critérios objetivos.

Critérios objetivos

1. Exatidão: deve existir uma concordância entre o que se observou e o que


se pensou que iria observar, assim, quanto mais exata é uma teoria, maior
é o seu acordo com aquilo que foi observado.
2. Simplicidade: deve ser clara e rigorosa (objetiva) naquilo que enuncia. Se
assim for, é mais compreensível pela comunidade científica pois é
logicamente sofisticada, não proporcionando ambiguidades.
3. Alcance: deve ser abrangente pois se a teoria fosse demasiado restrita
era mais difícil para a comunidade científica encontrar soluções para os
problemas existentes.
4. Consistente: deve existir um equilíbrio/ harmonia entre o que a teoria
enuncia, mas também uma adequação da teoria à época em questão.
5. Fecunda: deve ser uma teoria que nos permite chegar a novas
descobertas ou ser capaz de encontrar soluções para problemas
anteriormente não resolvidos.

Apesar destes critérios objetivos, Kuhn pensa que a aceitação de um novo


paradigma não é determinada por fatores estritamente racionais e objetivos.

Os referidos critérios são objeto, por parte dos cientistas, de diferentes


interpretações e avaliações. Nem todos os cientistas valorizam e entendem do
mesmo modo os mesmos critérios. Uns valorizam mais a simplicidade de um
paradigma, outros a sua exatidão empírica.

Kuhn salienta que na escolha entre paradigmas rivais também é importante o


prestígio pessoal dos principais protagonistas, o número de cientistas que
defendem um ou outro paradigma, os apoios que têm fora da comunidade
científica e o próprio gosto.
Não há, portanto, uma escolha plenamente racional e objetiva entre
paradigmas.

A ciência normal e a ciência extraordinária


Pré-ciência: Ausência de um paradigma ou modo comum de ver e resolver
problemas

Ciência normal (paradigma 1): Um paradigma rege e orienta a investigação
científica

Várias anomalias (paradigma 1)

Crise (paradigma 1)

Ciência extraordinária: Divergência e rivalidade entre paradigmas alternativos

Revolução científica: Um novo paradigma substitui o antigo

Ciência normal (paradigma 2)

A ciência normal

→ Fase marcada pela adesão generalizada a um paradigma que orienta a


investigação, sendo desenvolvido e aperfeiçoado por esta.

→ O paradigma reinante enquanto “mapa” que guia o cientista na “exploração


da natureza” facilita a prática científica entendida como solução de puzzles ou
problemas que a natureza coloca.

→ O cientista tem a função de solucionar problemas, sendo que cada problema


que a natureza coloca é como a peça de um puzzle cujo lugar temos de
descobrir.
- A resolução dos problemas já está pré definida de resolução que é
facultado pelo paradigma. A atividade do cientista no confronto com os
problemas que a natureza coloca é, em geral, regular e constante. O
paradigma dá forma de resolução aos problemas.
- A atividade do cientista consiste em ajustar a natureza ao esquema
explicativo fornecido pelo paradigma. Há regras para resolver problemas
que são tidas como claramente definidas, pelo que a atividade do cientista
é relativamente regular.

→ Anomalias = problemas que resistem a um enquadramento no paradigma,


no sentido em que são problemas que não encontram solução no interior do
paradigma vigente.
Não são algumas anomalias que vão abalar a confiança no paradigma e o
compromisso do investigador com aquele, desde que a aplicação deste na
investigação de um conjunto selecionado de fenómenos se revele eficaz e
produtiva.
É frequente que a comunidade científica associe as anomalias a deficiências
humanas e técnicas e não as interprete como defeitos do paradigma existente.
A ciência extraordinária

→ Esta fase de evolução da ciência começa a desenhar-se quando a


acumulação de anomalias especialmente difíceis de resolver e que abalam as
bases do paradigma pode provocar uma diminuição da confiança neste.
Esta é a condição necessária para haver crise paradigmática - crise do
paradigma vigente.

Condição suficiente para haver crise paradigmática



1. Alguns cientistas levam ao extremo a vontade de conformidade da
natureza com o paradigma até então reinante e alteram de forma pouco
razoável o “mapa” que até então orientava a exploração dos fenómenos
naturais.
2. Alguns cientistas sugerem como alternativa um paradigma rival. Sem
paradigmas rivais não há ciência extraordinária.

→ Fase em que a discórdia e a divergência reinam, mas há um paradigma que


resiste à mudança e que só será substituído se houver boas razões para o fazer.

O novo paradigma ou modelo explicativo só tem possibilidades de ser adotado
se conseguir explicar factos que o modelo anterior não conseguia explicar.

→ Período de controvérsia e de divisão entre os cientistas que pode anteceder


uma revolução, ou seja, uma mudança de paradigma. A razão de ser desta crise
reside em vários fatores conjugados:
1. Aparecem anomalias (fenómenos que não se enquadram nos esquemas
explicativos usados) que contrariam o paradigma vigente e as práticas
científicas que lhe estão associadas e que resistem a solução.
2. Aumento persistente das anomalias que minam a confiança no
paradigma e pode suscitar novas propostas teóricas e experimentais (luta
entre paradigmas).

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