Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Discografia 239
1
Excluímos Double Dialogue (2010), para dois pianos e dois percussionistas,
uma vez que nela a escrita para piano se funde com a escrita para os dois
percussionistas num processo paritário; ou seja, o piano (apesar de “magnifi-
cado” pela multiplicação das suas potencialidades, como nas duas peças para
dois pianos) não assume um papel preponderante, como é o caso de todas as
outras obras que estamos a considerar neste estudo. Excluímos igualmente
da nossa análise a obra O amanhecer de um novo dia, pelo facto de se tratar
de uma extensa colectânea cujo propósito é assumidamente demonstrativo e
didáctico, destinando-se a alunos de piano de nível de iniciação e intermédio;
se, enquadrando-se também numa perspectiva didáctica, retemos as obras
Carrolling Bach e 2369 – 10.x.09, isso deve-se ao facto de, apesar de terem sido
concebidas enquanto demonstrações de técnicas composicionais específicas
perante alunos de nível superior de composição, elas constituírem obras para
62 ANA TELLES
>>1
piano autónomas e suficientes. Aliás, o próprio Christopher Bochmann,
no catálogo geral das suas obras, inclui O amanhecer... na rubrica “Didactic
Music”, enquanto que Carrolling Bach e 2369 – 10.x.09 figuram em “Solo Music”.
Uma vez que Monograph Expanded pode ser considerada uma extensão
orquestral do texto musical de Monograph, que se mantém muito semelhante
ao original, reteremos apenas este último no presente trabalho.
2
Que designaremos, daqui em diante, como Sonata op. 5.
3
Que designaremos, daqui em diante, como Sonata n.º 1.
4
Que designaremos, daqui em diante, como Sonata n.º 2.
5
O já referido Double Dialogue, para dois pianos e dois percussionistas, data
de 2010.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 63
6
A título de curiosidade, refira-se que Christopher Bochmann realizou, em
2008, uma obra para flauta, clarinete, piano, dois violinos e violoncelo inti-
tulada Opus 27 plus: Commentaries on the first movement of Variations Op.27 by
Anton Webern.
7
Aliás, no Commentary II encontra-se uma alusão explícita à segunda peça de
Sechs kleine Klavierstücke op. 19, de Schönberg.
64 ANA TELLES
8
Bochmann, C., Notas sobre Essay VIII publicadas no livreto do CD Cento Anni
di Musica Portohese per Pianoforte: Concerto del 6 Ottobre 2004 nella Chisea di
Sant’Antonio dei Portoghesi in Roma, pianista Ana Telles. Roma, IPSAR, 2005.
9
Dicionário da Língua Portuguesa contemporânea, vol. 1 (A - F), Lisboa, Academia
das Ciências de Lisboa, 2001, p. 1434.
10
Bochmann, C., Entrevista disponível no portal do Centro de Informação e
Investigação da Música Portuguesa, mic.pt (http://mic.pt/dispatcher?where=5
&what=2&show=0&pessoa_id=32&lang=PT, último acesso a 24/11/2014); daqui
em diante referir-nos-emos a esta fonte de forma abreviada, como “Entrevista
mic.pt”.
11
Dicionário da Língua Portuguesa contemporânea, vol. 1 (A - F), Lisboa, Academia
das Ciências de Lisboa, 2001, vol. II (G-Z), 2001, p. 2516.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 65
12
Curioso será notar que esse período de três anos encontra-se praticamente
equidistante das datas de composição da primeira e da mais recente obras
para piano de C. Bochmann.
13
Bochmann, C., Entrevista mic.pt (cfr. nota 7)
66 ANA TELLES
14
A Letter I to Ricardo Tacuchian motivou, em jeito de resposta, a peça Reply to
Christopher Bochmann (2006), de Ricardo Tacuchian (cfr. Rio de Janeiro: Vivace
Music Edition). Daqui em diante, designaremos esta obra como Letter I.
15
Amílcar Vasques Dias, compositor português nascido em 1945, foi profes-
sor na Universidade de Évora entre 1996 e 2010. Christopher Bochmann, seu
colega de trabalho nesta instituição, dedicou-lhe esta peça por ocasião da sua
aposentação; daqui em diante, designá-la-emos como Letter II.
16
José Antônio de Almeida Prado, compositor brasileiro (1943-2010), foi con-
discípulo de Christopher Bochmann quando ambos estudavam em Paris com
Nadia Boulanger (no final dos anos 1960 e início da década seguinte); através
dele, Bochmann obteve trabalho na Escola de Música de Brasília, onde leccio-
nou entre 1978 e 1980 (cfr. Azevedo, S., A invenção dos sons: uma panorâmica
da composição em Portugal hoje, Lisboa, Caminho, 1998, p. 558). Letter III (de-
signação abreviada que adoptaremos daqui em diante) foi-lhe dedicada no
ano da sua morte.
17
Jean-Sébastien Béreau, maestro e compositor francês nascido em 1934,
radicou-se em Portugal no ano de 2005. Mais conhecido pela sua actividade
no âmbito da direcção de orquestra e da respectiva pedagogia, a sua produção
musical tem tido um significativo acréscimo nos últimos anos, em particular
devido a colaborações com vários músicos e agrupamentos portugueses. A
Letter IV (designação abreviada que adoptaremos daqui em diante) foi-lhe de-
dicada por C. Bochmann por ocasião do seu 80.º aniversário e baseia-se em
gestos provenientes de uma obra recentemente editada em CD, que Bochmann
teve a ocasião de ouvir e analisar.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 67
18
Tanto o título da obra como os das duas fantasias que a compõem reportam-
-se à célebre obra literária Alice in Wonderland (1865) de Lewis Carroll (alias,
Charles Lutwidge Dodgson).
19
Martingo, A., Contextos da Modernidade: um inquérito a compositores portu-
gueses, Porto, Atelier de Composição, 2011, p. 60
20
Nas entrevistas que se encontram disponíveis em Martingo, A., op. cit., p.
55-62 e através do portal mic.pt (cfr. nota 7).
21
Martingo, A., op. cit. p. 55
22
Bochmann. C., Entrevista mic.pt
23
Idem.
68 ANA TELLES
24
Na senda de obras específicas de Stockhausen, segundo o que o próprio
compositor refere na entrevista disponibilizada pelo portal mic.pt (último
acesso a 24/11/2014): “Durante o resto daquela década, em 1986, 1987, 1988,
compus várias obras que procuram juntar as duas vertentes – a vertente bas-
tante complexa, oriunda provavelmente da música de Boulez, de Berio, de
Stockhausen, etc, com uma outra música, muito livre, que tinha pouco a ver
com estes compositores (a não ser um pouco com certas obras posteriores
de Stockhausen, mas totalmente por acaso, porque nunca me senti muito
influenciado por Stockhausen”. Numa perspectiva mais recente, Bochmann
admite que “na realidade, a influência de Stockhausen é muito pouca. Os
modelos eram provavelmente menos conhecidos e antes Peter Maxwell
Davies ou David Bedford ou Krysztof Penderecki” (cfr. email endereçado à
autora, 16/11/2014).
25
Entrevista mic.pt.
26
Read, G., Compendium of Modern Instrumental Techniques, Westport,
Greenwood Press, 1993
27
Caillet, L., “Les exigences du piano contemporain” in Pianos et pianistes
dans la France d’aujourd’hui (dir. Danièle Pistone), Paris, Université de Paris
4 – Sorbonne / Observatoire Musical Français, 2007, p. 55-65
28
Castanet, P.A., “Les métamorphoses du piano contemporain: du confidente
camériste au parjure universel” in Vers une musicologie de l’interprétation (dir.
J.P. Armengaud et D. Erhardt), Paris, L’Harmattan, 2010, p. 21-31
29
Moysan, B., “Virtuosité pianistique: les écritures de la subjectivité” in
Romantisme, nº 128, 2005, p. 51-69
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 69
ATAQUES INCISIVOS:
NOTAS SIMPLES E INTERVALOS HARMÓNICOS DE 2.ª
a) From a) to b) on p. 5, all the notes should be played with only one finger in each
hand with as much hand alternation as possible. The delay in pressing down the
pedal should result in only a hint of the last pitch remaining.
Exemplo 1. Essay VIII, p. 2, 1.º s.32
30
O Dó sustenido central (Dó#3, segundo a convenção de símbolos de registo
francesa que utilizamos sistematicamente neste estudo: cfr. Abromont, C. E
Montalembert, E., Guide de la Théorie de la Musique, Paris, Fayard/Lemoine,
2001, p. 564).
31
Cfr. p. 4, 2.º s.
32
Várias das partituras consultadas não comportam números de compas-
sos; nesses casos, optámos por referenciar os exemplos que nos parecem
pertinentes através da indicação da posição do(s) respectivo(s) compasso(s)
no sistema de duas ou mais pautas (abreviado como “s.”) em que se insere,
complementando esta informação com a indicação da página em causa.
33
Read, G., op. cit., p. 208
70 ANA TELLES
34
O próprio início desta obra consiste num ataque incisivo, com indicações
gráficas de tenuto e marcato e dinâmica forte, da nota “geradora” Dó susteni-
do central (Dó#3), tal como acontece em Music for two pianos II (cfr. c. 1). Para
além disso, a referida nota tem uma presença muito importante noutras
obras para piano de Christopher Bochmann, particularmente como “ponto
de chegada”: no último gesto da Sonata n.º 1, que consiste numa sobre-
posição de Dó sustenido (incluindo o Dó#3) em vários registos; na última
secção formal de Music for two pianos I (desde a barra dupla que figura no 2.º
sistema da p. 20 até ao final), em que a tríade Dó#3 – Mi#3 – Sol#3 é sistemati-
camente reiterada (com diferentes “voicings”, enfatizando do ponto de vista
dinâmico ora uma ora outra das referidas notas) até ao início da p. 23; e em
Letter III, cuja derradeira secção formal, Lento (a partir do 2.º sistema da p.
17), é estruturada precisamente a partir da repetição do Dó#3.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 71
35
Jean-Sébastien Béreau, Le Chant d’Ilsa, Letra de ensaio C (parte de piano).
36
Nota que, como já vimos (cfr. nota 34, p. 6), assume um papel de destaque
no conjunto das obras que estamos a estudar.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 73
37
A ressonância do cluster que o Piano 2 ataca logo no início da peça funciona
como “pano de fundo” sobre o qual se vai desenrolar a intervenção do Piano 1
que define toda a referida secção.
74 ANA TELLES
38
Verifica-se um procedimento comparável na Toccata para dois pianos em
que, como já foi referido, a nota polarizadora Fá#3 surge no seio de clusters
de diferentes dimensões e nuances dinâmicas, na secção Y (p. Y1-7) e no final
de cada fragmento das secções Z1 e Z2 (p. Z1-1-4 e Z2-1-4).
76 ANA TELLES
39
Jean-Sébastien Béreau, Le Chant d’Ilsa, Letra de ensaio C (parte de piano).
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 79
40
Indicado através de uma ligadura sob a nota em questão, ligadura essa que
não é de prolongação nem de expressão, pois permanece em aberto, sem
conexão a qualquer outra nota; em numerosas obras para piano, essa no-
tação tem o mesmo significado que a abreviatura l.v. (lascia vibrare, ou laisser
vibrer), indicando que a(s) nota(s) em questão devem ser prolongadas pelo
pedal de sustentação por uma duração indefinida após o seu ataque.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 81
41
Segundo o compositor, a intenção foi a de criar “um Klangfarbenmelodie
com dinâmicas em vez de timbres” (cfr. email à autora, 16/11/2014).
82 ANA TELLES
42
Nesta secção como na próxima, seria eventualmente adequado utilizar
a terminologia da “Set Theory” definida por Allen Forte (cfr. Forte, A., The
Structure of Atonal Music, New Haven e Londres, Yale University Press, 1973)
para designar os intervalos. No entanto, e não se tratando aqui de um estudo
analítico fundamental sobre a linguagem musical de Christopher Bochmann,
mantemos a sua designação tradicional (2.ª, 3.ª, 4.ª, etc., maiores e menores,
perfeitos, diminutos e aumentados), que nos será útil uma vez que a nomen-
clatura de determinados parâmetros da escrita e da técnica pianística, por
terem origem em repertórios tonais, são frequentemente associados a essa
terminologia (cfr. “técnica de oitavas”, “terceiras dobradas”, p. ex.); de facto,
se numa perspectiva analítica da linguagem de C. Bochmann, os intervalos de
2.ª maior e 2.ª menor, por exemplo, são absolutamente diferentes e a desig-
nação comum de “2.ª” talvez não faça sentido, numa perspectiva relacionada
com o idioma pianístico esses intervalos têm um traço fundamental em co-
mum: o facto de se realizarem através do recurso a teclas adjacentes.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 83
43
A alternância entre notas adjacentes formando entre si um intervalo de
tom (ou dois meios-tons) ocorre muito raramente na obra de C. Bochmann;
encontramos um trabalho motívico-intervalar sobre tons e meios-tons nas
partes extremas da forma da Sonata n.º 1, mas esse exemplo é praticamente o
único no contexto a que nos reportamos. Aliás, os próprios trilos (abreviados
como “tr.”) que surgem nas obras em apreço (bem como noutras do mesmo
autor para diferentes formações), nos casos em que não contêm indicação
entre parêntesis da nota que deve alternar com a nota escrita, correspon-
dem, por norma, a trilos de meio-tom (comunicação pessoal de C. Bochmann
à autora, 24/11/2014).
84 ANA TELLES
44
Ver nota 37. Este procedimento é comum em obras para outras formações
do mesmo autor (cfr. Essay XV, para oboé – p. 2, 3.º s. – por exemplo).
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 85
45
Na realidade, segundo o autor, “a oitava (int. 12) não faz parte de nenhuma
das três famílias de intervalos que geralmente utilizo; já a tripla oitava (int.
36) aparece com alguma frequência.” (cfr. Email à autora, 16/11/2014).
46
Nomeadamente de meio tom, mas também (no fragmento a1, p. Z1-1) de
um tom, o que, como já vimos, é relativamente raro na obra de C. Bochmann.
86 ANA TELLES
MOVIMENTOS LINEARES
47
Apesar desse movimento descendente evidente, o campo harmónico vai
efectuando uma interessante subida por meios-tons ao longo desta passagem.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 87
48
Modo II, de transposição limitada, na terminologia de Olivier Messiaen (cfr.
Messiaen, O., Technique de mon langage musical, Vol. 1, Paris, Leduc, 1944,
p. 51-53; Idem, Vol. 2, p. 50-51). Refira-se que Bochmann teve conhecimento
desta obra teórica durante os seus anos de formação com Nadia Boulanger
em Paris (comunicação pessoal à autora, 24/11/2014). Como é sabido, a teo-
rização sobre os modos de transposição limitada do compositor francês veio
a ser subsequentemente desenvolvida em: Messiaen, O., Traité de rythme, de
couleur et d’ornithologie, Tome VII, Paris, Leduc, 2002, p. 110-119.
49
A 6.ª menor é um intervalo-chave do material citado nessa peça.
88 ANA TELLES
50
Moysan, B., op. cit., p. 58
51
In Moysan, B., op. cit., p. 56
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 91
52
Comparável a determinadas passagens de Liszt. Cfr. Liszt, F., “Etude d’exé-
cution transcendante d’après Paganini, nº 4 (versão II)”, in Complete Etudes for
solo piano, series II (Ed. F. Busoni), Mineola, N. Y, Dover, 1988, p. 69, 71; Liszt,
F., “Grandes Etudes de Paganini, nº 2”, in Complete Etudes for solo piano, series
II (Ed. F. Busoni), Mineola, N. Y, Dover, 1988, p. 99 (vide Cadenza ad lib., c. 4).
92 ANA TELLES
a. Pedal de Sustentação
53
Read, G., op. cit., p. 209-210
54
Read, G., op. cit., p. 88
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 95
a.i.1. After-Pedalling
55
O intervalo de tempo entre o ataque e o accionamento do pedal pode ser
precisamente definido pelo compositor.
56
Rosenblum, S. P., “Pedalling the Piano: a brief survey from the Eighteenth
Century to the Present”, Performance Practice Review, Vol. 6, n.º 2, artigo 8,
1993 (disponível em http://scholarship.claremont.edu/ppr/vol6/iss2/8/, ace-
dido em 08/08/2014)
96 ANA TELLES
57
Read, G., op. cit., p. 210
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 97
58
Rosenblum, S. P., op. cit., p. 173
59
Messiaen, O., “La Bouscarle” in Catalogue d’Oiseaux, vol. 5, Paris, Leduc,
1996, p. 7, 14
60
“[...] imagination dans l’utilisation de la troisième pédale...”; cfr. Loriod-
-Messiaen, Y. « Étude sur l’œuvre pianistique de Messiaen » in Portrait(s)
d’Olivier Messiaen (dir. Catherine Massip), Paris, Bibliothèque Nationale de
France, 1996, p. 75
61
Rosenblum, S. P., op. cit., p. 175
62
Bradshaw, S., “Piano Music: 7. After World War II” in The piano, Londres,
Macmillan, 1988, p. 143
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 101
63
4 X 23 fusas, 1 X 33 fusas e 3 X 19 fusas, respectivamente.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 103
CITAÇÃO E AUTO-CITAÇÃO
64
Segundo o próprio compositor, este efeito deriva da “técnica de tapar lâmi-
nas no vibrafone, como se vê em Boulez” (cfr. Email à autora, 02/11/2014).
65
Não será seguramente por acaso que os gestos descendentes que carac-
terizam as secções extremas da referida Toccata (c. 143-192 e 300-329) bem
como o ponto de chegada do seu único gesto ascendente, no final (c. 330), se
iniciam invariavelmente com um agregado composto justamente pela sobre-
posição de 5.ª perfeita mais meio tom.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 105
66
Denizeau, G., Les genres musicaux: vers une nouvelle histoire de la musique,
Angoulême, Larouse/Bordas, 2000, p. 98
106 ANA TELLES
67
Toccata para piano, op. 7 (1830)
68
Toccata da suite Pour le piano (1901)
69
Toccata do Tombeau de Couperin (1917)
70
Toccata para piano op. 11 (1912)
71
Esta última apresenta, para além do movimento perpétuo que a caracteriza
entre os compassos 193 e 258, uma flexibilização a nível rítmico e episódico a
partir do compasso 259 e até ao regresso da textura inicial, no compasso 300.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 107
72
A escolha desse compasso quaternário regular prende-se unicamente com
razões práticas, de maneira a simplificar a coordenação dos dois pianos,
como o próprio compositor admite (cfr. Email à autora, 16/11/2014). Na rea-
lidade, a escrita rítmica da obra não é redutível à métrica expectável nesse
quadro de regularidade, embora de maneira quase intuitiva os intérpretes
tenham tendência a reportar-se a ela para garantir o sincronismo, sentindo
a rítmica “real” como excepção a uma regra que, neste caso, é apenas de
conveniência.
73
Montalembert, E. e Abromont, C., Guide des genres de la musique occiden-
tale, Paris, Fayard/Lemoine, p. 120
74
Montalembert, E. e Abromont, C., op. cit., p. 125
108 ANA TELLES
75
Harper, N. L, Portuguese Piano Music: An Introduction and Annotated Bibliog-
raphy, Lanham, Scarecrow Press, 2013, p. 135
76
No tratamento da palavra “Alleluja” na primeira parte da Cantata BWV 140,
Wachet auf; cfr. Montalembert, E. e Abromont, C., op. cit., p. 426.
77
Particularmente, no que toca ao piano:
(1.) no 4.º andamento da Sonata op. 101 (a partir do c. 123; cfr. Beethoven,
L., Klaviersonaten, Vol. 2, München. G. Henle Verlag, 1980, p. 220-224; ver
também Tranchefort, F. R., Guide de la Musique de Piano et de Clavecin, Paris,
Fayard, 1987, p. 126); (2.) no desenvolvimento do 1.º andamento da Sonata
op. 106, Hammerklavier (c. 138-176; cfr. Beethoven, L., op. cit., p. 231-232; ver
também Abromont, C., op. cit., p. 426 e Tranchefort, F. R., op. cit., p. 128); (3.) na
5.ª variação do 3.º andamento da Sonata op. 109 (c. 113-152; cfr. Beethoven,
L., op. cit., p. 286-287; ver também Tranchefort, F. R., op. cit., p. 132); (4.) no
1.º andamento da sonata op. 111 (c. 77-83; cfr. Abromont, C., op. cit., p. 426 e
Tranchefort, F. R., op. cit., p. 135); (5.) no 3.º andamento do 3.º Concerto para
piano e orquestra, op. 37 (c. 229-248; cfr. Beethoven, L., Klavierkonzert Nr. 3
op. 37 (arranjo para dois pianos), München. G. Henle Verlag, 1988, p. 79-80).
É importante não confundir estes exemplos com a “Fuga a tre voci, con alcune
licenze” que figura no 4.º (e último) andamento da Sonata op. 106 (a partir do
c. 16; cfr. Beethoven, L., Klaviersonaten, Vol. 2, München. G. Henle Verlag, 1980,
p. 257-272) e com outras soluções encontradas pelo mesmo compositor para
combinar a estrutura formal da fuga com a da forma sonata, particularmente
na Sonata op. 110); cfr. Beethoven, L., op. cit., p. 302-308; Rosen, C., Beethoven’s
Piano Sonatas: A short companion, New Haven e Londres, Yale University
Press, 2002, p. 243 e Tranchefort, F. R., op. cit., p. 133-134.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 109
78
Rosen, C., op. cit., p. 242. Ver igualmente Honegger., M., Science de la Mu-
sique, vol. 1, Paris, Bordas, 1976, p. 410.
79
Rosen, C., op. cit., p. 242.
80
Azevedo, S., op. cit., p. 560
81
Essa influência verifica-se globalmente na alusão a géneros do passado, (>)
110 ANA TELLES
>81
implícita nos títulos das referidas obras, mais do que no conteúdo e lin-
guagem das mesmas. Ainda assim, no que toca às Sonatas op. 5 e n.º 1, o
compositor admite que a influência de Nadia Boulanger seja “evidente” (cfr.
Email à autora, 16/11/2014).
82
Cfr. Madureira, J., Comunicação pessoal à autora, 07/06/2012.
A MÚSICA PARA PIANO: REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS E A ESCRITA INSTRUMENTAL 111
***
83
A este nível, refira-se aliás que C. Bochmann considera muito importantes
as experiências a nível do aleatorismo, da notação livre e da pesquisa siste-
matizada de diferentes efeitos instrumentais, ao mesmo tempo que refere o
alcance muito limitado do experimentalismo ao acaso, “para ser diferente”;
cfr. Martingo, A., op. cit. p. 57.