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Luiz Paixão
Embora seja bastante significativa a relação de Mario de Andrade com a música, revelada
através de reflexões teóricas, e mesmo na composição de algumas letras do cancioneiro
popular, seu projeto mais arrojado são, sem dúvidas, os dois libretos de ópera, Pedro
Malazarte e Café.
Eu tenho desejo de uma arte que, social sempre, tenha uma liberdade mais
estética em que o homem posso criar a sua forma de beleza mais
convertido aos seus sentimentos e justiças do tempo da paz. A arte é filha
da dor, é filha sempre de algum impedimento vital. Mas o bom, o grande,
o livre, o verdadeiro está em cantar as dores fatais, as dores profundas,
nascidas exatamente desta grandeza de ser e de viver. (ANDRADE, 1986,
p. 340)
A primeira parte é composta por uma descrição técnica da ação cênica a ser realizada
durante a encenação. No entanto, não se caracteriza exclusivamente, como na dramaturgia
tradicional, de fornecer informações objetivas sobre o comportamento dos personagens e
suas ações; o que se apresenta ali, mais que simples “rubrica”, é uma localização histórica
dos diversos atos e cenas, complementado por um claro posicionamento crítico do autor
a respeito do tema a ser tratado, como se pode verificar na primeira cena do primeiro ato,
“Porto parado”: “Desde muitos que os donos da vida andavam perturbando a marcha
natural do comércio do café. Os resultados foram fatais. Os armazéns se entulharam de
milhões de sacas de café indestinado. E foi um crime nojento. [...]” (ANDRADE, 1986,
p. 321).
Ainda inédita enquanto obra musical, o seu libreto tem merecido diversas montagens
teatrais, sendo assim abordada como peça dramatúrgica. Registramos que, aqui, na cidade
de Belo Horizonte, foi realizada, na década dos oitenta do século passado, uma montagem
produzida pelo Teatro Universitário da UFMG, dirigida por Haydée Bittencourt.