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Laura Freire

Nº: 30007282
Unidade Curricular de História – 1º ano
Prof. Ricardo Seabra
História Medieval Geral

Em seu livro Gente da Idade Média, Robert Fossier pretender destruir as noções
preconceitas feitas sobre a dita Era das Trevas. Este trabalho focará nos dois últimos
capítulos, onde o autor preocupa-se mais em falar sobre o homem da Idade Média. O
primeiro capítulo explora tópicos condizentes com a natureza do ser humano – coisas
como a memória, a imaginação, o conhecimento. Já o segundo capítulo foca-se quase
exclusivamente nas religiões da época, com grande foco na Cristianismo. Cada
segmento textual de ambos os capítulos tratam se sub-assuntos destas categorias.

Capítulo I
1. A inteligência humana e o quanto esta ligada a memória em relação ao processo
de aprendizagem
2. O perigo do imaginário como percebido pela Igreja e a invenção do conceito de
“belo” como sinônimo de divino
3. A importância das medidas e o impacto no comércio e na geografia
4. O surgimento da imagem, da leitura e da escrita: o que significa para uma
população analfabeta
5. O que era a escrita na Idade Media
6. A tentativa de conciliação entre a ciência e a Igreja e o “Renascimento”
7. O ensino na Idade Medieval e a sua conexão com a Igreja
8. A escrita como instrumento de expressão pessoal e o surgimento de gêneros
literários
9. A escrita como instrumento de entreterimento do público e a contraliteratura
10. A arte medieval

Capítulo 2
1. O conceito de “cristão” e a religião na Idade Média
2. Bem vs Mal – o Catarismo e a Igreja Católica
3. A definição de Igreja a a salvação da alma
4. A salvação da alma através da purificação dela e da confessão
5. A humanização de Deus; a visualização de fé; a expressão da religião.
6. A Igreja como estrutura hierarquica
7. A separação da alma e do corpo através da morte e a união com Deus no Juízo
Final

Fossier inicia o capítulo dois, entitulado O Conhecimento¸ a denotar o fato de


animais serem marcantemente similares aos humanos e a explicar como, “(...) não
faltam as atitudes idênticas, evidentemente conforme as espécies e as
características biológicas que lhe são próprias, como viver isolado ou em grupo, na
cidade ou no campo, e manifestar alegria ou aflição; brincam e lutam com os outros,
arrebatam-lhes a coida, marcam os seus territórios; e até tem memória, cujos
vectores mais seguros são, sem dúvida, o ouvido e o olfacto.”. Continuando,
especifica que a mudança do tópico de animal para humano muda pelo facto de
precisar-se focar em atividades humanas, como, examplo dado pelo mesmo,
“dissertar sobre Aristótles.”. Começa a fazê-lo pela memória.
É inato do ser humano se expressar através da fala, da escrita, de gestos e de
mímicas. Fossier argumenta que isso tudo traduz a um sentimento ou uma idéia e
que em ambos casos, a base é a memória. Para a gente medieval, “A memória é o
ponto que está entre Deus e a sua criatura, a base sobre que se eleva a sociedade,
o reservatório que conserva os exemplos, os modelos e os programas da vida.”.
Então deve-se entender que a memória “mantia o costume, alimentava os
precedentes, afastava os imprevistos e justificava o perdão.”. Coisas como os
nomes das pessoa na época chegavam a ser facilmente esquecidos por serem
muitas pessoas com o mesmo nome e depois terem designações como “João, filho
de Jaime.”. Pouco antes de 1200, chega o conceito do sobrenome, que a altura
designava um actividade ou aspecto ao indivíduo – assim cria-se a idéia da
continuação de uma linhagem, antecedentes e descentes. No entanto, isso referia-
se ao “terceito estado”. Por exemplo a aritocracia procurava por memórias de seus
antepassados como meio de alimentar as ideias fantásticas que tinham sobre si
mesmos, Fossier diz, “(...) o imaginário da sua condição social alimentava-se de
narrações amorosas ou guerreiras em que às façanhas dos seus antepassados se
misturavam as de heróis míticos.”. E para fixar essas narrações a sua história,
desenvolveram técnicas de memoração como ritmos, assonâncias, repetições,
esteriótipos ou simplesmente, decorar. Fossier argumenta que isso era necessário
para a política e economia da época, um jeito de justificar a autoridade de um grupo
sobre outro. E assim, a memória fazia parte da cultura.
No segmento seguinte, o tema central é o imaginário, sua maior via de expressão
sendo o sonho. Na Idade Média, “A Igreja desconfiava do sonho, ainda que o seu
conteúdo fosse sagrado: receava nele as ciladas de Satanás.”. A idéia é que as
pessoas eram muito sucétiveis a sugestões de mal inteção e podiam agir de acordo
com más morais a partir de sonhos. O problema chega a ser tão temido que no
século XII, interpretações de sonhos foram proibidos pelos primeiros concílios de
Laterano. Tal medo vinha do fato se não saber-se de onde eles vinham. Todo
mundo sonhava mas ninguém sabia o porque. E então não sabiam dizer, por
exemplo, o que era invenção do homem ou invenção de algo mais sinistro. Sobre
isso, Fossier escreve, “O imaginário alimenta-se, pois, de uma realidade mais ou
menos bem dominada: nos seres disformes, animais fantásticos, esqueletos... que
os salteadores foram, decertos, alheios a isso.” Outra base do imaginário seria a
música, esta sendo ensinadas nas escolas como arte. Mas contrariamente aos
sonhos, a música era vista como algo divino, “Não há dúvida de que nos séculos
medievais as pessoas se persuadiam sem dificuldade de ser na música que se
expremia da melhor maneira a vontade de equilíbrio desejada por Deus; o contacto
com esta evidência nada tinha a esperar da Palavra, e menos ainda do Escrito.”.
Daqui vem-se a invenção do conceito de belo como sinônimo de divino.
A seguir, discuti-se a medida. Por muito tempo, o humano medieval apoiava-se em
aproximações, estimativas. Para ele, contas eram algo mais complicado, “(...) esses
homens não eram mais ineptos, desastentos ou desonentos que nós, mas em
termos de dados calculados em numerário eram incfessantemente induzidos em
erro pelos valores unidades de <<conta>>.”. O valor de quantias a altura eram
abstratos, sem nenhum valor real. Isto muda quando as três culturas mediterrâneas
da época se encontram e mantem-se em contacto – dai vem a necessidade do
outro, para que as transições entre culturas fossem justas. Então está busca por
ouro trás duas grandes consequências: “abriu caminho a uma desenfreada
especulação mercantil e favoreceu os caprichos do custo da vida.” e “deu orgiem
(...) á desagradável sensação de que o estudo dos preços e dos salários, e
portanto, do <<nível de vida>>, se baseado apenas nessas areias movediças, é
perfeitamente irrealista (...).”.
E então vem o segmento sobre o gesto, da imagem e da fala – todas ferramentas
de aprendizagem. O gesto “revela e ensina o que eram o poder, a prática e a
experiência.”. Era considerada uma fonte de informação, e aprendizagem a partir da
assimilação, “(...) imitar o gesto é aprender pouco a pouco a substituir o autor dele ,
assumir a sua função e a sua forma.”. Com a imagem, vem a arte. Nela havia-se
ilustrações de cenas religiosas, míticas, heróicas e era designada aos olhares do
intelectual, “O conteúdo simbólico da maior parte dessas representações tocava,
principalmente, os intelectuais e merece um olhar mais atento (...)”. E então na fala
– na escrita e na leitura. Numa sociedade aonde uma porcentagem mínima de
pessoas eram “letradas”, ler e escrever era uma atividade rara. Fossier escreve, “Na
sua esmagadora maioria, eram (letrados) clérigos (...). Quanto aos das outras
ordens, metade sabiam ler mas escrever era só para uma ínfima minoria.”. Contudo,
o maior problema era com a expressão linguística de uma população que falava
latims diferentes, “Podemos admitir que a sul do continente (...) um latim degradado,
mutilado e contaminado por modos de dizer e sotauques (...).” “De resto, até onde o
<<baixo latim>> continua vagamente compreensível nem o do ibérico era o do galo-
romano nem este era o do transalpino.”. Os clérigo foram quem “purificaram” este
latim e tornaram-o numa língua comum, acessível a maioria.
No tópico da escrita, temos outro segmento textual. Fossier nota a sua importância
para historiadores hoje, e na altura, para os eclesiásticos – sendo uma forma de
divulgar os ensinamentos de Deus e da Igreja. Também fala do material usado,
“Acerca da tinta – a da China ou do antigo Egipto -, direi apenas umas palavras: era
uma mistura aquosa de negro gumo, cola e sulfato de ferro (...). Acerca dos
instrumentos de escrita, pouco mais: eram o cinzel, para pedra, o estilete, para o
barro mole e para cera, o cálamo de madeira rija, para o suporte vegeral, e a pena –
de ganso de preferência -, para as peles de animais.”. É nestes séculos que
inventam também o livro, o codex, acessíveis somente aos privilegiados.
Então vem a questão de aprendizagem denovo. A medida que estes grupos
humanos foram formando sociedades, “(...) foi preciso que, em primeiro lugar, ele
se munisse de uma língua de intercâmbio entendida por todos; o oral e o bom uso
que dele se fez nessas primeiras idades, não impunham de modo nenhum a sua
leitura ou escrita (...)”. E como já estabelicido por Fossier antes, os clérigos eram os
senhores do conhecimento por terem o acesso a ferramentas de aprendizagem, e
sua missão era “encaminhar os seus homens á Salvação.”. Assim precisa-se
conciliar o que havia da ciência na altura e a religião. A Igreja via-se preocupada
com os seres humanos se envolvendo com a ciência pois, “(...) (A Igreja)
desconfiava de que essa visão pudesse tornar-se um reduto da dúvida e da
heresia.”. Fossier exemplifica textos que foram traduzidos de textos de filósofos
gregos ao latim para fazer o acesso mais amplo. Com o regresso destas idéias
gregas, provoca-se mudanças no pensamento medieval, o que Fossier reconhece
como o Renascentismo, mesmo tendo argumentado que o termo “lança um injusto
opróbio sobre os tempos anteriores (...)”. O próximo segmento vem a falar sobre
esta ligação entre o ensino e Igreja Católica. Uma personagem importante para este
processo foi Carlos Magno com um capitalar – admonitio generalis que prescreveu
a instalação de uma escola em cada paróquia de seu território para súbtidos de
menor idade, sete a doze anos, especificamente. Mas a Igreja mantinha-se longe de
do outro tipo de ensino, o envolvendo a ciência, a filosofia, matérias que poderiam
por em questionamento as idéias da Igreja. Fossier escreve, “Além destes
rudimentos, havia o ensino a sério, o dispensado pela Igreja estabelecida, do qual
saiu praticamente toda a <<cultura>> medieval.” Este ensino eram responsabilidade
dos monges, e era o ensino “de ricos e para ricos”. Encontrou-se a necessidade de
expandir esta prática para pessoas de outras castas a partir da evolução intelectual
das cidades. Sobre a universadidade, especificamente em Portugal neste exemplo,
a instauração do studium generale por D. Dinis e Papa Nicolau IV fora um processo
“exclusivamente urbano” e era uma forma de manter um círculo elitista, “Além disto,
a instituição universitária nunca foi, no fim de contas, mais que uma forma de
associação de oficias do mesmo ofício como tantas outras que existiam nas
cidades: a aproximação de mestres e dos estudantes, a universitas magistrotum et
scholarium, forte agrupamento provido, como resto em todas a parte, de uns sólidos
estatutos e de firme enquadramento.”. Fossier também comenta na forma do ensino
universitário, escrevendo, “As lições eram dadas nas ruas, sem local fixo; os
<<colégios>>, que floresceram por obra dos mecenas – frequentemente príncipes –
que os fundavam, eram apenas alojamentos para estudantes pobres, ainda que por
vezes lá se ensinasse, como no de Robert de Sorbon, em Paris.”. O comentário no
tratamento dos estudantes pobres continua, “Os estudantes que não tivessem
conseguido uma bolsa da família ou um <<benefício>> da Igreja, como a
chapellenie de um burgês rico, viviam como vadios, e muito ruidosamente.”. Com a
expansão da instituição, continua este sentimento elitista, e até mesmo nacionalista,
“Numa espécie de nacionalismo atardado, lombardos, ingleses, catalães e
parisienses disputavam entre si a prioridade dessas criações (as universidades).”.
Rapitamente, eclesiásticos de ordens menores entenderam o problema que esta
instituição trazia para a sua fé, e agiram de acordo, “(...) já em 1230 as ordens
menores - <<os mendicantes>> - tinham compreendido o perigo que a universidade
representava para o seu poder sobre a fé, o conhecimento e o dogma; introduziram-
se nela <<por cima>> - isto é, apossando-se do que era a sua especialidade e a
sua superioridade, a teologia – e inundaram pouco a pouco todo o organismo
universitário, contribuindo desse modo, e muito rapidamente, para desnaturar a sua
razão de ser, acabando por fazer dele no século XIV uma simples caixa de
ressonância das suas doutrinas.”. Por isso, a glória da universidade não cura muito
mais do que um século. Logo, os intelectuais procuravam por outra maneira de
aprender, Fossier refere as academias criadas por príncipes mecenas em Florença,
em Roma e em Paris.
A partir deste ponto, Fossier escreve sobre a expressão do ser humano medieval.
Tem-se uma pequena introdução sobre o tópico onde o autor expressa a sua
opinião sobre o que expressão é, “O que o ser humano sente no íntimo do seu
corpo – o que ele imaginou, o que ele aprendeu, o que ele deseja dar a conhecer e
compreender aos outros – constitui mais ou menos tudo aquilo de que até aqui
tenho estado a falar. Para alcançar esses objeticos, o homem dispõe de muitas
vias: pode recorrer ao gesto, e já mencionei os dos ofícios e os dos ritos; pode
discorrer, ou até gritar, e por todas as formas que a voz lhe permite: em família, no
mercado, no púlpito...”. É isto que tem a ser a base da pesquisa de Fossier pelo
primeiro capítulo sobre o conhecimento.
Este seguinte segmento textual tem como o tema central a escrita como ferramenta
de expressão pessoal e até mesmo a surgimento de gêneros literários. E Fossier se
da duas perguntas a responder: quem escreve e que escreve? A primeira pergunta
é a mais difícial de responder pois tem a resposta mais longa e constituiria na
construção da própria história da literatura da Idade Medieval. Então Fossier
responde, “(...) até ao século XII, foram na sua grande maioria homens da Igreja
que escreveram em latim e que ficaram, por isso, inacessíveis á esmagadora
maioria dos <<ilustrados>>.”. Porém, o importante para a pesquisa não é saber o
nome do autor e sim se a sua obra possui méritos pessoais, ou seja, “descobrir a
sua parte pessoal na obra que lhe é atribuída.”. E isto leva a segunda pergunta a
ser respondida, o que escreviam? Aqui é que introduz-se os gêneros literários.
Fossier então responde, “os dez séculos medievais deixaram-nos testemunhos de
todas as formas de expressão do pensamento ocidental, fruto das heranças greco-
romanas e celto-gêrmanicas, com variantes aqui e além (...). Em primeiro lugar,
tratados e obras de devoção (...). Em seguida, como prolongantemente poéticos,
epopeias de guerras, <<gestas>> (esta palavra significa <<proezas>>), as sagas
escandinavas, as canções germânicas dos Niebelungen¸ os <<circlos>> carolíngos
(...). Em seguinte, ainda, todo o multifacetado sector da poesia (...); narrações de
viagens, descrições de cidades e regiões, manuais técnicos e teatro (...).”. Fossier
então continua a perguntar mais duas questões sobre a escrita: para quê escrevem
e por quê se escreve? Fossier diz que “é muito artificial prentender separá-las.” pois
“A resposta á primeira é forçosamente simplista se lhe não misturarmos os
resultados da segunda, essenciais para o meu propósito.”. A escrita na época era
um meio de entreterimento, portanto escrevia-se para um público, de acordo com as
demandas do público, “Ao contrário de tantos autores mais tardios (...) os homens
da Idade Média só muito raramente pegavam na pena para falar de si próprios
(...).”. E o que escreviam dependia do autor e da audiência que pretendia alcançar,
“Se fossem da Igreja, esperavam deixar o fiél convencido do poder divino; se
fossem leigos, queriam alimentar a memória, ou apenas divertir (...).” Sobre a
resposta do público não se sabe muito a não ser sobre a contraliteratura, “(...)
aquela que ataca uma obra ou um autor em nome dos princípios presumidamente
ofendidos (...).”. A escrita torna-se um ferramenta de moralidade, o ser humano
medieval activamente procura ouvir e até ler as <<moralidades>>. Mas tinha uma
pequena percentagem da população medieval que tinha este privilégio de
compreender a literatura.
O último segmento deste capítulo sobre o conhecimento, então, centra-se na arte.
Afinal de contas, a arte era uma das vias de conhecimento. Fossier não tenta
decicar seu texto ao estudo da evolução da arte na Idade Médiva pois o período
histórico expande-se por mil anos, seria uma pesquisa sem limites, e as obras deste
período, como põe Fossier, “são filhas das possibilidades locais e das necessidades
do momento.”. A sua pesquisa aqui tenta, ao invés, foca-se com constantes, que
também são díficeis de categorizar, e Fossier faz questão de manter em mente “que
o nosso tempo e a nosssa sensibilida não poderão,l sem dúvida, dar-nos sem risco
de erro as chaves da arte medieval.”. Assim como toda arte é reflexiva da
sociedade na qual é feita, o mesmo acontece com a arte medieval. Uma sociedade
altamente religiosa acaba por criar arte de natureza religiosa. E a arte medieval era
uma bem simbólica e Fossier pretende descobrir se ela atingia até as classes
menos <<letradas>> da população a altura, “(...) tudo parece como símbolo, isto é,
como esquema de pensamento simplificado; para nós, o único interessa estará em
querer saber se esses apelos ao subconsciente tinham alguma capacidade de ser
captados pelos humildes.”. Fossier reconhece algumas cenas simbólicas comuns,
“(...) o apelo à luz, emblema da casa de Deus, que desse modo entrava no
quotidiano; o princípio da verticalidade, emblema da regeneração do homem em
contraste com a horizontal do Mal que rasteja, a necessidade de uma centralidade,
a das partes sagradas do edifício e a ornamentação, o ponto de convergência das
linhas num desenho de crucificação, num cruzamento de ogivas, na figura de Cristo.
As formas geométricas mais simples teriam, a essa luz, um valor significante
simbólico.”, para citar algumas mencionadas.
Robert Fossier termina a narração deste capítulo ao reconhecer que foi forçado a
simplificar muito e omitir muito. Mas o objetivo fora completado. E assim, introduzir
o tópico do segundo capítulo aqui citado, a alma.
“A Idade Média nunca foi cristã.” Fossier cita um historiador, e procede a explicar,
“(...) <<cristão>> envolve os cânones contra-reformadores do concílio de Trento.”,
ou seja, o Deus cristão conhecido hoje não era o Deus conhecido a altura. Além
disso, havia duas grandes outras religiões pela Europa e Oriente Médio na época: o
islão e o judaísmo. O jeito como o crente do catolismo medieval interagia com estes
outros religiosos eram de uma maneira que invalidava as suas crenças, “O cristão
medieval chamada <<descrente>> ao mulçumano e <<deicida>> ao judeu.”. É na
idéia de um ser divino que o homem procura refúgio em tempos difíceis. Por que
então o Deus dos católicos seriam um Deus <<cristão>>?
Os conceitos de bem a mal existem à milênia, as sociedades mais <<primitivas>>
tem estes conceitos. E por que? Fossier responde com o que pensava-se na Idade
Média, “Mas essas forças escapavam o homem: vinham, portanto, de um mundo
superior, do mundo dos <<deuses>>, benévolos ou irritados.”. Mas para os
medievais cristãs, não era uma dualidade como era a convicção de muitos crentes
da Ásia Média e Oriental, “Essa divisão da divinindade, esse eventual triunfo de
Lucifer sobre Yahveh, reijeitados pelos jedeus, era, evidentemente, inaceitável
pelos cristãos. A dualidade do Pai consigo próprio, encarnado em Jesus, não era de
modo algum uma dualidade, e muito menos um dualismo, visto que Deus era o
próprio espírito do Bem.”. E então vem o catarismo, considerado uma heresia, com
crentes que defendiam este dualismo do Bem e do Mal. O catarismo traz dois
problemas, diz Fossier. Um, a sua expansão acontece larga e rapidamente, “(...) os
agrupamentos cátaros estavam solidamente organizados por volta de 1150-1170
sem que se saiba muito sobre as fases dessa instalação; sucederam-se pregações
eficazes, reuniões de <<concílios>>, digressões de discussão com dignitários
católicos e a organização de uma espécie de Igreja.” e o papa Inocêncio III toma o
caso com o uso de cruzadas, e consequentemente há mortes, batalhes, destruição
que durou vinte anos. O segundo problema é que traz uma pergunta que não é
satisfeitamente respondida, por quê e como esta doutrina consegue atingir tantas
pessoas de forma tão agressiva?
O seguinte segmento textual foca-se na palavra Igreja, o que significa a altura, e na
salvação da alma de acordo com o cristianismo da Idade Média. Fossier escreve,
“Uso a palavra <<Igreja>>, como todas outras, em todos os momentos deste meu
quadro dos tempos medievais; infelizmente, está repleto de contradições, visto que
engloba ao mesmo tempo a estrutura hierárquica, que cobria o dogma cristão e
guiava ou viagiava a fiel na sua passagem pela Terra, e o conjunto desses fiéis, a
ecclesia, no sentido grego de <<assembleia>>, muito mais vasto que o dos
ministros de Deus.” e continua, explicando, “(...) a Igreja medieval era a organização
da sociedade no seu conjunto, a expressão dominante dos baptizados, a base de
toda e qualquer representação. O que dominava não era, pois, o papa, um bispo ou
monges, mas a ideia da coerência espiritual entre todos, e para lá quaisquer
contradições ou cambiantes <<religiosas>>.”. Portanto, a Igreja medieval não era
visto como algo completamente unificado e que funcionava como uma só entidade.
Sobre o seu modelo de funcionamento, Fossier escreve, “Distinguia perfeitamente
os módulos e os limites da Virtude segundo as <<ordens>>, que traduziam a
vontade de Deus, e os <<estados>>, provenientes da dos homens.”. O que
importava era a salvação do ser humano, a guarantia de que quando houvesse a
morte, houvesse, a seguir, paz. E o que mais tentava-os, eram as suas próprias
fraquezas, de acordo com a Igreja, “Embora o fiel que tivesse um existência
<<comum>> encontrasse dificuldade em manter-se ao abrigo das tradicionais
tentações e armadilhas de Satanás, a enumeração dos passos dados em falso na
via da salvação não tardou a tomar o aspecto de um simples quadro das fraquezas
do homem, que o acompanhavam desde, pelo menos, o fim das <<idades de
ouro>> imaginadas pela sabedoria antiga.”. Fossier identifica duas grandes
tentações: Uma, a tentação de ir contra a vontade de Deusm traduzido globalmente
na corrente filosófica do humanismo que incentiva revoltas antieclesiásticas e a
Segunda, or orgulho.
Assim, é preciso pedir-se perdão pelos pecados que cometem. Mas o pecado é
instrínsico do ser humano, faz parte de sua natureza; “(...) todos eles
acompanhariam o homem até o Juízo Final.”. O pecado original, que estava com o
ser humano desde nascença, e somente este, “era resgatado pelo baptismo; mas
este sacramento, que abria o caminho da salvação, tinha apenas o valor de umrito
iniciático: não eliminava o pecado futuro.”. O caso é que, como Fossier escreve, “O
pecado, seria pois, uma acto voluntário de ofensa a Deus, um obstáculo no caminho
para aquela Salvação que constituía o objectivo de toda a existência.”. Por isso
confessar era um ato tão importante, “A noção de confessar o pecado era uma
forma eminente de submissão á Divinidade, e um exemplo da luta a dar ao Mal,
conduziu os primeiros cristãos a preconizar a confissão pública perante os demais
baptizados e no próprio local da oração.”. A promessa de absolvição de seus
pecados prova-se um meio efetivo da Igreja para manter controlo sobre os féis,
“Essa absolvição, ardentemente pedida pelo morinbundo na forma de uma
derradeira unção e um derradeiro perdão, constititui uma forte arma do poder da
Igreja sobre o fiel: se a alma continuasse impura, não haveria Salvação.”. E para
haver perdão, era necessário algumas coisas como, penitência, expiação e acima
de tudo, um grande esforço pessoal. Fossier então poem, “Assim vivia o povo
cristão: entre as manchas e a esperança. Nesses séculos <<simples>>, o caminho
a seguir para correctamente efectuar a <<passagem>> era cuidadosamente vigiada
pelos depositários da Lei.”.
A seguir, tem-se um segmento sobre as maneiras como os fiéis cristãos
manifestavam a sua fé em Deus. Afinal de contas, “(...) a alma era superior ao corpo
e pertencia ao imortal; Deus era uno, sob qualquer das aparências em que se
monstra-se; todas as criaturas eram obra sua e tudo lhe deviam, especialmente
amor e obediência.”. Os eclesiásticos da época viam Deus como um homem assim
como eles, e devia ser venerado como tal, “Deus era tratado como um homem:
chamavamm-lhe <<senhor>> com as mãos postas, como faziam os humildes em
frente do patrão; descobrima-lhe ou inventavam-lhe uma vida de família;
representavam-no, as mais das vezes, nas imutáveis feições de um jovem com
barba, conforme pensavam que ele teria sido outrora entre os judeus; outras vezes,
pintavam-no ou descreviam-no manejando ferramentas; as festas populares
combinavam as fases da sua passagem pela Terra com os velhos ritos agrários de
fertilidade; alinhavam o pagamento dos censos e renda com os momentos
litúrgicos.” e assim continua até os dias de hoje. De uma forma mais filosófica, estes
cristãos mantinham a fé também através da idéia de Deus e sua palavra serem algo
explicitamente tangível, “As populações da Europa ocidental, quer nórdica quer
mediterrânica, têm necessidade de <<realidade>> e um apetite do concreto que as
levam dar uma dimensão ao <<verdadeiro>>, à verdade, como linha de
comportamento espiritual: uma manuscrito com uma cópia da Bíblia é
corporalmente a Bíblia, e a hóstia que simboliza o sacrifício do Cristo tem que ser
mostrada e comida como se fosse o real corpo de Jesus.”. É isto que leva a Igreja a
valorizar certas práticas acima de outras que consolidava a devoção dos fiéis a
Igreja, “A sua lista foi fixada por Pierre Lombard em meados do século XIII: sete
<<sacramentos>>, com importância variável segundo a evolução do sentimento
religioso da própria Igreja.”. E para encantar os incrédulos, expandir a sua
influência, ela tinha uma arma: o milagre, “Para fazer ceder esses últimos incrédulos
– ou melhor os frouxos, visto que não crer e dizê-lo não tinha cabimento no espírito
desses homens, - a Igreja tinha ainda uma arma, cujos efeitos parecem ter sido
reais: o milagre, um acontecimento súbito, indiscutível, admirável e espetacular pelo
qual se manifestavam à vista do incrèdulo o pode e, em geral, a benevolência de
Deus.”.
Fossier tem usado, assim como este trabalho tem usado, a palavra <<Igreja>> para
significar estrutura hierárquica desde o ínicio do capítulo. Mas é somente neste
seguinte segmento textual que ele escreve sobre o assunto. Por que a Igreja era “a
estrutura hierárquica que reunia os ministros da Divinidade. Sem eles, a ordo
laicorum fica sem pastor, isto é tentado pelo pensamento selvagem, alimentado
pelas crenças pagãs de que tantas vezes já falei (...).”. Fossier diz o que a Igreja
era, “(...) era, sem dúvida, o agrupamento completo dos crentes, mas o seu
significado era muito vago, e a sua marca no terreno muito ampla, para que neles
fossem reconhecido a família, os vizinhos e os clãs.” e depois, no que ela se
transforma, “Na fase capital da celulização das aldeias, entre 950 e 1150, a reforma
da Igreja foi acompanhada por uma verdadeira <<passagem a limpo>> do sistema
paroquial: o edifício da paróquia, o atrium do cemetério que o rodeavam, o solo e a
dotação fundiária em que se instalava o altar (dos et altare) foram incluídos entre as
res sacrae e englobados (...) na jurisdição de excepção, no <<foro>> da Igreja.”.
E por fim, Fossier toca no assunto da vida após a morte, ou o O Além. A própria
Bíblia menciona a dualidade que é o foco desse segmento – o corpo a alma.
Fossier escreve, “Esta noção da preexitência da dualidade corpo-alma no espírito
do Criador era um ponto de dogma que suscitava o interesse dos sábios, mas o fiel
da Idade Média só via uma coisa evidente: o corpo era perecível e a alma
sobrevivia-lhe; a morte era o momento em que ambos se separavam. Reencontrar-
se-iam, contudo, no final dos tempos, quando o crente se encontrasse perante de
Deus.”. A vida era vista como <<passagem>> pela Terra e era esta luta já
mencionada entre o Bem e o Mal e terminaria num julgamento: o Juízo Final, “O
combate de uma vida humana entre o Bem e o Mal decorria em campo fechado,
não se repetiria e terminaria num Julgamento: o corpo seria posto de lado e a alma
submetida a uma pesagem - isto é, haveria justos e repróbos.”. Por esta razão,
cristão recusavam a opção de cremação e inceração do corpo após a morte. A
espera do dia final, faz pensadores da época especularem, “Os profetas bíblicos,
principalmente Isaís e Ezequiel, e depois o apóstolo João, tinham escrito esse
Apocalipse: surgiria um Anticristo que por algum tempo sujeitaria o mundo a todos
os tormentos. No século XI, o Juízo ocorreria quarenta dias depois de ele
desaparecer; no século XII, foi introduzido um <<reinado>> imperial de cento e vinte
dias no fim do qual sereiam convertidos à verdadeira fé de todos os que a
recusavam, e em particular os jedeus; no século XIII, Tómas de Aquino rejeitou o
tema dos mil anos paradisíacos anteriores ao Juízo; no século XIV, as dresgraças
da época deram livre curso aos três cavaleiros anuciadores do Apocalipse de João:
a guerra, a peste e a fome.”. A representação desse Julgamento era tão abundante
em horrores que poderia incitar questionamentos, mas um pensandor justificava-os,
“Tantos sofrimentos, para mais eternos, constituíam um preço excessivo – até por
pecados repetidos. Ora Deus era justo. Devia, pois era ter previsto alguma
graduação das penas. Pelos menos, Dante assim cantara no início do século XIV.”.
Além disto, o promessa de uma vida eterna ao lado de Deus para fiéis era grande
incentivo para repenterem-se de seus pecados, “Esse trajecto para uma vida eterna
na presença de Deus era percorrido na campanhia de anjos. Esta crença constitui
um dos aspectos mais movimentados da devoção medieval.”.
É neste assunto que Robert Fossier termina seu livro a dismitificar pre-conceitos
sobre as pessoas vivas na Idade Média. O autor fala de dois aspectos centrais a
condição humana da época – o conhecimento e a alma – e assim constrói um
quadro bem diverso e compreensivo sobre os seres humanos que vivem a altura.

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