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2. A LINGUAGEM
POÉTICA DO
CORDEL
OBJETIVOS:
Reconhecer os principais elementos da linguagem poética;
Vamos conhecer agora como são nomeados e tratados os elementos poéticos no cordel.
2.1 Estrofe
Estrofe é a divisão de um texto poético, formada por um conjunto de versos rimados
ou não entre si.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
1. Para me certificar
2 da morte de Lampião
3. arrumei o matulão
4. e andei pra me acabar
5. não escapou-me um lugar
6. do Brasil ao estrangeiro
7. percorri o mundo inteiro
8. procurando a realeza
9. até que tive a certeza
10. da morte do cangaceiro
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
Para reafirmar o conceito de instância como uma estrofe de sentido completo, leia a
seguinte estrofe.
Cabeça de jogador
tem um mapa desenhado
o qual está resumido
em um só ponto indicado
sua sorte é sempre clara
com um ponteiro que pára
no seu número premiado.
Observe que, mesmo não tendo lido o cordel O ABC do jogo do bicho e suas revelações,
entendemos perfeitamente a mensagem da estrofe, porque ela é clara e não depende da
estrofe anterior ou da posterior para sua compreensão. Ou seja, ela contém informações
que se completam em si próprias.
2.2 Rima
Por mais que costumemos olhar em separado, estrofe, rima, métrica e ritmo são
componentes intimamente ligados no poema. Da mesma maneira que fizemos com a
estrofe, destacando os principais tipos utilizados no cordel, veremos agora a rima.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
Quanto à semelhança das letras base da rima, ela O Cordel, por tradição,
pode ser consoante se apresentar semelhança faz maior uso de rima
de consoantes e vogais, e toante se apresentar externa e consoante.
semelhança somente dos sons vocálicos.
b) Na setilha (sete versos) rimam entre si o segundo, o quarto e o sétimo versos; há uma
segunda rima para o quinto e o sexto versos; e o primeiro e último (sétimo) versos não
rimam, constituindo o esquema de rimas ABCBDDB, conforme destacado na estrofe:
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
c) A décima (dez versos) tem o seguinte esquema rítmico: o primeiro verso rima com o
quarto e o quinto; o segundo rima com o terceiro; o sexto rima com o sétimo e com o
décimo; e o oitavo rima com o nono, constituindo o esquema de rimas ABBAACCDDC,
conforme destacado na estrofe:
1. Para me certificar A
2. da morte de Lampião B
3. arrumei o matulão B
4. e andei pra me acabar A
5. não escapou-me um lugar A
6. do brasil ao estrangeiro C
7. percorri o mundo inteiro C
8. procurando a realeza D
9. até que tive a certeza D
10. da morte do cangaceiro C
Já sabemos que no cordel a tradição é por rimas externas e consoantes e, no que diz
respeito ao jogo rítmico, a sextilha é o modelo mais utilizado. O segundo modelo é a
setilha e o terceiro é a décima. Há ainda a oitava (oito versos) e a quadra (quatro versos),
menos populares.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
2.3 Métrica
No cordel, as métricas mais comuns são o verso de quatro sílabas poéticas (que também
é chamado de parcela); o verso de cinco sílabas e o verso de sete sílabas.
Leia o cordel O grande debate de Lampião com São Pedro, de José Pacheco. Em vinte e
duas décimas e, como explicita o título, o cordel trata de um tema comum: o cangaço,
entremeado pela religiosidade.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
Nos sites das academias, indicados na Unidade 1, você encontrará mais informações
sobre esse grande cordelista.
Passaremos então a analisar a última estrofe de O grande debate de Lampião com São
Pedro para reconhecermos o número de sílabas poéticas a partir da metrificação.
SAIBA MAIS
Vamos escandir (esse é a forma verbal da ação de separar as sílabas poéticas, de fazer a
escansão do verso) todos os dez versos dessa estrofe.
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
Po / e / ta / tem / li / ber / da / de pre / ci / sa / o / do / no / ter
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
sa / gra / do / dom / da / na / tu / ra pe / lo / me / nos / vou / di / zer
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
com / for / me a / li / te / ra / tu / ra se / meu es / pí / ri / to / não / men / te
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
es / cre / ve o / que / tem / von / ta / de po / e / ta / tam / bém / é / gen / te
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
tam / bém / a / pro / pri / e / da / de tam / bém / pre / ci / sa / co / mer.
Na escansão poética contamos os sons ou sílabas poéticas, mas somente até a última
sílaba tônica. Algumas vezes, a última sílaba tônica poética coincide com a última
sílaba gramatical. Porém, é muito comum que não haja correspondência entre as duas
formas de sílabas.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
Observe o sexto verso da estrofe com as duas formas de tratamento da sílaba: a sílaba
gramatical e a sílaba poética (escansão).
1 2 3 4 5 6 7 8
Nesse caso, o verso tem sete sílabas gramaticais e sete sílabas poéticas e houve
coincidência entre os dois modos de divisão. A divisão poética chamamos de escansão
- o processo de contar as sílabas métricas de um verso.
Veja a seguir a divisão silábica gramatical e poética do terceiro verso da estrofe anterior.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Nesse verso não houve coincidência entre o número de sílabas gramatical e poética.
Observe também que só contamos as sílabas poéticas até a última sílaba tônica, que no
caso do verso, é TU. Assim, a próxima sílaba átona (RA) não deve ser contada.
Nesse ponto, podemos concluir que estamos diante de um cordel escrito em estrofes de
dez versos, com sete sílabas poéticas em cada verso. Ou seja, escrito em décimas e em
redondilha maior.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
2.4 Ritmo
Sobre ritmo na poesia, vejamos o que diz Norma Goldstein (p.12):
Vimos, pelas palavras da autora, que o ritmo não está somente no poema. O ritmo está
em situações cotidianas. Portanto, sabemos, intrinsecamente, perceber um ritmo.
A poesia falada, origem de toda poesia, necessitava ter um ritmo (e outros aspectos)
que facilitasse o processo de memorização e ajudasse na divulgação e multiplicação
dos poemas. Desse modo, compreendemos o ritmo como um jogo de sons marcados
dentro dos versos e, tal qual a rima, ligado também ao aspecto sonoro. Por essa razão o
ritmo é imprescindível na música.
Vamos olhar com atenção para a estrofe do cordel O grande debate de Lampião com São
Pedro, de José Pacheco. Leia-a em voz alta, verso a verso. Repita várias vezes a leitura.
Ao fazer a leitura, você deve ter percebido que há algumas sílabas dos versos que, em
nossa pronúncia, soam levemente mais fortes, marcando o ritmo de nossa leitura. Ao
marcar esses sons, você determina o ritmo dos versos no poema.
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A LITERATURA DE CORDEL: PRIMEIROS PASSOS
1 2 3 4 5 6 7
Po / e / ta / tem / li / ber / da / de
1 2 3 4 5 6 7
sa / gra / do / dom / da / na / tu / ra
1 2 3 4 5 6 7
com / for / me a / li / te / ra / tu / ra
1 2 3 4 5 6 7
es / cre / ve o / que / tem / von / ta / de
Há regras para acentuação (sonoridade da sílaba mais forte no verso) dos versos. O
verso de sete sílabas tem por regra o seguinte: a acentuação recai, obrigatoriamente,
na última sílaba tônica. Os demais acentos podem ocorrer em qualquer outra posição
dentro do verso.
RESUMO
Nesta Unidade conhecemos a linguagem do cordel, enfatizando estrofe, rima, métrica
e ritmo. A aprendizagem desses aspectos exige dedicação, por essa razão sugerimos
que você se dedique um pouco ao estudo desses elementos. Assim, será mais fácil
reconhecê-los em um cordel.
Esperamos que sua percepção dos elementos poéticos do cordel tenha sido aguçada
e que você possa reconhecê-los em suas leituras. Você pode até escrever seu próprio
cordel!
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REFERÊNCIAS
GOLDSTEIN, Norma. Verso, sons e ritmos. São Paulo: Ática, 2010.
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