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FICHAMENTO: BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica.

1955

Primeira Visão

Conceitos elaborados por Benjamin são inéditos na arte, alegando o autor que estes não são passíveis de
apropriação pelo fascismo, podendo ser utilizados para formular as exigências revolucionárias na política
artística.

Reprodutibilidade Técnica

Sempre houve reprodução em obra de arte, mas a reprodução técnica tem características peculiares, sendo
um processo novo. A xilogravura (Idade Média) tornou a o desenho tecnicamente reproduzível, sendo
seguida pela estampa em chapa de cobre e agua forte, bem como a litografia, no começo do sec XIX. A
litografia permitiu às artes plásticas reproduzir a vida cotidianasituando-as no mesmo nível da imprensa. A
fotografia surge no começo da litografia, na qual as tarefas técnicas da mão são deslocadas aos olhos,
provocando aceleração no processo de reprodução de imagens.

Autenticidade

É transmitida pela tradição, e funciona na medida em que a obra evoca um determinado significado coletivo
do meio, ou seja, nas relações de propriedade nas quais a obra foi inserida. A autenticidade escapa da
reprodutibilidade técnica, pois a obra autentica é aquela igual a si mesma. Toda a reprodução manual torna-
se falsificação, à exceção da reprodução técnica por dois motivos: mais autonomia em relação ao original
(ângulo ajustável, destaque para determinados pontos em detrimentos de outros, selecionados
arbitrariamente), possibilitando visões e ângulos impossíveis ao olho humano, fixando imagens que fogem à
ótica natural; e por colocar a cópia do original em situações impossíveis ao original. A reprodução técnica
aproxima o indivíduo da obra. Essa reprodução altera a função da autenticidade, pois ataca a materialidade
da obra, eixo fundamental para disseminar a tradição de autenticidade da mesma. Dito de outra forma, a
reprodução técnica dissocia a tradição da obra da própria obra, sendo que ao invés de existir unicamente, a
obra existe em todas as suas cópias, como em uma existência serial.

Essa é uma demanda da sociedade das massas modernas, que pode ser bem analisada através do cinema,
cuja função social está intimamente ligada à liquidação do valor tradicional do patrimônio da cultura. Esses
elementos desvalorizados pela reprodução técnica (autenticidade, evocação e valores determinados de
acordo com o contexto, autoridade e questões de visualização – quem pode visualizar- podem ser reunidos
sob o conceito de aura).

Destruição da aura

A destruição da aura se dá em função da mudança dos parâmetros de percepção humana, esta sempre
histórica e contingente. A necessidade de aproximar o indivíduo da obra – demandadas massas modernas-
encontrou solo fértil através da reprodutibilidade técnica de ampla escala. Esses elementos espaciais e
temporais que constituem a aura foram sendo destruídos na medida em que as obras tiveram suas cópias
disseminadas cada vez mais rapidamente, quando não era possível a proximidade com o objeto. O cinema e
a imagem representam muito bem esse momento, pois retiram a aura do objeto, tomando a realidade (o
“semelhante no mundo”) mais próximo do receptor da obra, orientando a realidade em função das massas e
as massas em função da realidade.

Ritual e Política

A tradição é variável e flexível, como por exemplo a mesma estátua de Vênus em um contexto grego (objeto
de culto) e em um contexto medieval ( objeto profano- herético). Os dois contextos, entretanto, possuem
uma semelhança, o sentido único da obra (sua aura). A obra de arte nunca se livrou desse aspecto aurático,
mesmo uado o ritual ligado ao objeto estivesse secularizado, ainda traria em si um sentido teológico nas
formas de culto ao belo (mesmo que em um emprego profano – como na Renascença). Esse fundamente
teológico pela aura (pela autenticidade) se expressa a partir do advento da fotografia e, consequentemente,
na doutrina da “arte pela arte, que destituía a obra de sua função social e de sua determinação objetiva. A
obra, a partir de então, é criada para ser reproduzida, modificando a função social da arte na medida em que
a autenticidade vai perdendo lugar na percepção. Ao invés de fundar-se no ritual, será a política a práxis que
orientará a obra.

No cinema, a reprodutibilidade técnica e a reprodução técnica estão imbricadas, na medida em que a difusão
se torna obrigatória para custear uma obra coletiva como um filme, artefato caro demais para ser comprado
individualmente. O cinema falado, em seu começo circunscrito à fronteiras linguísticas, serviu ao retrocesso,
ao mesmo tempo em que o fascismo se voltava às questões nacionais. Os dois fenômenos emergem em meio
à crise econômica, que gerará dois movimentos: a volta das massas ao cinema (distensionamento social) e a
aliança das indústrias elétrica e cinematográfica, possibilitando a internacionalização da arte
cinematográfica.

Valor de culto e valor de exposição

A produção artística começa a serviço da magia, sendo o seu culto acessível aqueles poucos que receberiam
os efeitos mágicos de sua contemplação. O valor de exposição começa a aumentar conforme a obra se
emancipa dos ambientes litúrgicos, ganhando o sentido artístico, tornando-se objeto de contemplação de um
número maior de pessoas. A passagem da ênfase no valor de culto para o valor de exposição deu-se em
função do crescimento da exponibilidade e da reprodutibilidade técnica. Tal mudança atribuiu novas funções
às obras. Na pré história ritual e técnica estavam fundidos, sendo a representação do homem e de seu meio
as principais imagens à serviço da magia ( como na arte rupestre, por exemplo), bem como ao aprendizado
dos rituais e à contemplação: era uma arte prática. Em comparação ao filme, a contemplação muda de tipo:
o filme exercita as novas percepções e reações através de um aparelho técnico cujo papel aumenta no
cotidiano.

Fotografia

A fotografia enfraquece o poder de culto, que resiste nos retratos que emanavam a aura da saudade dos que
se foram. Quando o homem se retira da foto (exemplo de Atget, fotografando uma Paris deserta em 1900,
como quem fotografa uma cena de crime), é que o valor de exposição supera o de culto. Essas fotos
orientam a percepção do observador que ao contemplar, é incomodado ao perceber que existe um meio
predeterminado de observação a ser seguido. Concomitantemente as revistas ilustradas inserem legendas de
das obras- cujo sentido é diferente dos títulos das obras. Essas orientações exerceram um papel ainda mais
fundamental no cinema, onde uma imagem depende da sequência de todas as outras.

Valor de Eternidade

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