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sum ario
37
9 Arte femin ista e artivi smo
11
11

Apres entaç ão na Amér ica Latin a:


JochenVolz um diálo go entre três vozes
Julia Antiv ila Pena ,
10
Móni ca Maye r e
Prefá cio
Ann Philbin Maria Laura Rosa

13
43

Agrad ecime ntos Monu ment os caído s:


Cecilia Fajardo-Hill e o conti nuum femin ista
Andrea Giunta Conn ie Butle r

17 48
Introd ução Tema s da expo sição
Cecilia Fajardo-Hill e
Andrea Giunta 51
Imag ens
21
A invisi bilida de das artist as 221 Argent ina
latino -ame ricana s: Elogi o à indisc iplina
probl emati zando prátic as da Rodrigo Alonso
histór ia da arte e da curad oria
Cecíl ia Fajardo-Hill 229 Brasil
Para cons truir novas casas
29 e desc onstr uir velha s
A virad a icono gráfic a: metá foras de funda ção
a desno rmali zação dos corpo s Mari a Angé lica Melendi
e sensi bilida des na obra
de artist as latino -ame rican as 239 Caribe
Andrea Giunta "Yo mism a fui mi ruta" :
uma análi se deco lonia l femin ista
da arte hispa no-ca riben ha
Marc elo Guer rero
245 América Central
291 Estados Un idos
C em vezes uma uNo son todas las que están
Rosina Cazali ni están todas las que son"
Carla Stellweg
251 Chile

Poéticas de resistência 299 Uruguai


A ndrea Giunta Marcas em forma de história
Andrea Giunta
261 Colômbia
Em p rime ira pessoa: 305 Venezuela
poética da subjetividade Mulheres singulares:
no trabalho de artistas arte experimental na Venezuela
colo mbianas, 1960-19 80 Cecilia Fajardo-Hill
Carmen Maria Jaramillo
313
271 México Biografias das artistas
Aparições corporais/além
das aparências: mulheres 363
e o discurso do corpo Lista de obras
na arte mexicana, 1960-1985
Karen Cordero Reiman 373
Emprestadores
281 Paraguai
Um país de mulheres? 375

Andrea Giunta Colaboradores

285 Peru
Dando conta da violência:
artistas mulheres no Peru
entre as décadas de 1960 e 1980
Miguel A. López
9

estão ávidos pelo acesso às produç ões, histórias e


Apresentação lutas dessas artistas.
Cecília Fajordo-Hill e Andreo Giunta trabalharam
É com grande honro que o Pinacoteca de São Paulo incansavelmente com Melonie Croder e Courtney Smith
apresento Mulheres radicais: arte latino-americana e suas equipes d o Hommer Museum, ao lado de Valério
· - pro d uz1
7960-1985 , uma e xpos,çoo ' pelo
·da, origina lmente, Piccol i, Amando Arantes, Angelo Gennari, Elisa Ximenes,
Hommer Museum, em Los Angeles, e que, na começa deste Flavio Pires e Gabriela Elias do Pinacoteca, paro adaptar
ono, viajou poro o Brooklyn Museum , em Nova York. Com esta exposição de g rande escola poro o nosso espaço,
c uradoria d e Cecília Fajarda- Hill e Andrea Giun ta, a mostro bem como poro garantir vários empréstimos a lternativos
inclui obra s de cerco d e 120 artist a s de quinze países e, e adicionais paro São Paulo, com o intuito de fazer com
somada a esta p ublicação, t ra z o resultado de vários anos que esse projeto ambicioso fosse viável do ponto de vista
d e pesquiso intenso por todo o continente americano. financeiro. A Pinacoteca é extremamente grata a todas
Mulheres radicais examino o trabalho de artistas essas pessoas pela sensibilidade, compromisso e v isão
mulheres durante um período de repressão polít ico e em relação às linguagens artísticas apresentadas em
social em vários países latino-americanos e de embote Mulheres radicais.
contra mulheres latinos nos Estados Unidos. A noção Trazer uma exposição dessa p roporção paro São
de corpo político é o espinho dorsal do exposição que Paulo não teria sido passivei sem a generosidade e
apresento o multiplic idade d e investigações artísticos d edicação de várias pessoas que acreditaram no impacto
radicai s e experimentais realizados nesse período_ que a mostra terá para a pesquisa contemporânea na
Mulheres radicais evidenc io que artistas mulheres foram América Latina. Nossos agradecimentos sinceros a t odos
pioneiros em novas linguagens artísticos, tais como os individuas e instituições que emprestaram suas obras
performance, vídeo e arte conceituai, e que suo arte foi paro esta exposição. A Pinacoteca é muito grata também
um importante agente contra o opressão governamental. a todas as artistas de Mulheres radicais, pelas estratégias
A mostro destaco um diálogo potente entre os múltiplas que suas obras nos ensinam, pelo seu rigor e inspiração,
estratégias que abordam a politização do corpo feminino e, em muitos casos, por terem facilitado as negociações
e sua liberação, denunciando atos de violência social , para o itinerância do mostro para o Brasil.
cultural e política e questionando o cânone artístico e Além disso, gostaria de expressar nossa gratidão a
os sistemas institucionais dominantes. Rodrigo Alonso, Julia Antivila Pena, Connie Butler, Rosina
Na Pinacoteca, Mulheres radicais dó prosseguimento Caza li, Koren Cordero Reiman, Morcela Guerrero, Cormen
à exposição de 2015 Mulheres artistas: as pioneiros Maria Jaromillo, Miguel A. López, Mónica Mayer, Maria
(1880 -1930), com curadoria de Ana Paula Simioni e Angélica Melendi, Maria Louro Rosa e Carla Stellweg,
Eloine Dias, que examinou cama os mulheres entraram que concordaram com o t radução e a publicação de seus
no sistema de arte brasileiro, enfatizando os processos ensaios como parte deste livro. Agradecemos especialmente
de formação aos quais elas tiveram acesso e suas à designer Jessic a Fleischmonn e sua equipe, que traba-
afirmações como artistas profissionais. A exposição lharam de formo incansável com nossa editora Barbara
proporcionou uma oportunidade única de apreciar Mastrobuono na preparação desta p ublica ção.
os produções dessas artistas, muitos das quais nunca Somos profundamente gratos aos nossos parceiros de
tinham sido vistas por um público mais abrangente ou longa data: ltaú, escritório Mottos Filho, Veiga Filho, Marrey
em relação umas às outras. Desde então, a pesquisa Jr. e Quiroga Advogados, BTG Pact uai e Vic unha Têxtil pelo
desse projeto vem influenciando várias exposições com amplo apoio ao programo da Pinacoteca e, em particular,
uma estruturo temática similar. a esta exposição tão especial. Agradecemos às Mulheres
Quando tomamos conhecimento da investigação Extraordinárias que proporc ionaram f inanciamento
de Cecília Fajardo-Hill e Andrea Giunta sabre as práticas adicional para a exposiç ão e que também são, poro nós
mais visionários da arte latino-americano entre 1960 - cada uma de maneiro singular-, pioneiras em seus
e 1985, imediatamente começamos o explorar a campos de atuação. Por fim, ofereço meu agradecimento
possibilidade de trazer essa riqueza de conhecimento especial à extraordinária equipe da Pinacoteca .
paro São Paulo, paro o Brasil e para a América do Sul. JochenVolz
Graças ao entusiasmo de Ann Philbin, diretora do Diretor, Pinacoteca de São Paulo
Hammer Museum, e Connie Butler, curadora-chefe,
e, em particular, às duas curadoras, conseguimos
assegurar essa colaboração. Portanto, após Los Angeles
e Nova York, São Paulo será a única cidade na América
Latina o receber essa inovadora exposição. É com muita
satisfação que apresentamos o versão em português
deste c atálogo que acompanha o exposição, que
certamente terá um grande impacto no meio acadêmico
da Américo Latina e entre as novos gerações que
1nihnlh1rrrirn 11rn w mt/Jxtri~ d,, o,11111t,~r1,
Prefácio 1 p,,11t1,,,,,
rllflor1ldridfJ tlr.nnhrnl1Jo I,xlr f!r111JN. <,, 1111 , 11
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Não e nenhum segredo que Los Angeles é hoje o •
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mo1or cidade latino-americano foro do Américo Latino. 1jXpflrllllfJrllnle flmprfl(Jtllln& í)IJlu~ crrt mt,J: ''1:1~,,·.
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Ostentando uma populoção que contribui com idiomas, pr1JmleRcr d!l q111J o r1Jpr1Jtjr,n1,H/tn tJti ,11 ,,, " 11l•,,i
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cultu ras comidas. n1usico e produção ortistico não
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apenas do pars vizinho dos Estados Unidos. o México, crrtlol(IA AIJ orgcinlmtt~{Jrn (jnl yrupc,~ 0 , 1littif.• . ·1111•i1
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mos também de praticamente todos os outros poises dll um ponto d11 vlAlO CJh{Jrtt.irnentlJ lr,mlnl~t ~
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ao sul do continente, essa c idade vibrante existe e prospero nxomlnar o pról.lco col{Jl lvn 011 o poll1lcrJ f, n " '1~
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por couso de suo d iversidade. Temos muito orgulho de exponlçe10 r11úno pontott do vlotn unir.or.. ·
ser pane do inspirod1ssimo projeto do Getty Foundotion. É um prlvlló(Jlo onorm'l oprott•lntllr Mulli
Poc1f1c Standard Time: LA/ LA [Horário padrão do Pacifico: como porto do pro joto Poclflc 81.ondcird llrn, . , roiJJt.111: '"ª~
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Los Angeles/Américo Latino], voltado poro o arte e os Gotty Fou nd ot1on, quo rouno lnotltulçõoo tJo t •
Or c, e1' I •111tJ
□ n i stas extraordinários do Américo Latino. bem como Call fórnlo paro trazer oxpoolçõeo {J proworn . · . 'J
0 3 v1n,:ulrirJ
poro os □ n istas chicanas e latinos que t rabalham nos por toma, colobrondo o vlbrantn hlotórlo cultural da ,~.
Est ados Unidos, trazendo novos materiais, novos vozes reglõo. O sul da Collfórnla ó um centro dlnôrnico <J,.
e uma novo arte poro o publico de Los Angeles. Estamos produçõo o rtlotlca o c rlotlvidodo cultural qur.1 not "
urril-
honrados que exposição está sendo sediado no Brasil mento liga os Estados Unldoo e a América Latino
• om
e
pelo Pinacoteca. um dos grandes museus do Américo o lnclusõo de artistas chiconos o latlnoo, prornovornob
do Sul. Em São Paulo. o exposição terá um público um dlólogo amplo e Inclusivo entre artistas lotino-
completamente novo, além de grande relevância poro -amerlcanoe e latinos no contexto da hletóriu da on
o estudo de história da arte da região.
e.
da arte contemporônea e da rico comunidade ortíHtico
A história do envolvimento do Hammer Museum com de Los Angeles.
a exposição Mulheres radicais: arte /atino-americano. O Brooklyn Museum e seu núcleo de arte feminíit
7960-7985 é longo. Quando Cecilio Fojordo-Hill entrou o Centro paro Arte Feminista Elizabeth A. Sackler. º·
em contato com o museu oferecendo a oportunidade contribuíram logo de Inicio para assegurar que esto
de sermos o instituição que receberia essa exposição exposiçõo alcançasse públicos fora de Los Angeles. Eu
m agnifico, nós imediatamente abraçamos o ideia. o
gostaria de agradecer diretora do museu, Anne Posternol
Elo e o cocurodoro Andreo Giunto são duas dos principais pela sua dedicação ao projeto, e à Catherine Morris. ·
estudiosos no campo do arte latino-americano, comparti- curadora do Centro Sackler, pelo seu entusiasmo no lose
lhando um enfoque sobre artistas mulheres e questões inicial do projeto para levar a exposiçõo ao Brooklyn.
de gênero. Nós sabíamos que desenvolver esse projeto A diáspora de culturas latino-americanas que habitam
representaria uma oportunidade de reivindicar nosso os cinco distritos de Nova York forneceró uma novo
posição no meio artístico e de introduzir nossa comunidade audiência e recepção para este tema importante.
o artistas cujos trabalhos raramente, ou nunca, haviam Somos gratos a Jochen Volz, que nos contatou quando
sido exibidos em Los Angeles. Fajordo-Hill e Giunta assumiu a diretoria da Pinacoteca, e seu entusiasmo pelo
pesquisaram e organizaram uma importantíssimo projeto persuadiu seus colegas a embarcarem nesse
exposição histórica, que obre novos cominhos no campo projeto tão significativo pa ra a história da arte. Agrade·
da arte latino-americana e latino. Com Mulheres radicais, cernas oequipe da Pinacoteca pela colaboração em
o Hammer Museum dá continuidade ao seu compromisso trazer a exposição para o único ponto de itinerõncio no
com artistas que representam uma multiplicidade de América Latina e por publicar uma versão em portugués
patrimônios, contextos, noções e experiências, incluindo,
deste catálogo.
é claro, artistas mulheres. Estamos comprometidos com No Hammer Museum, eu trabalha com uma equipe
a análise das complexas questões culturais, sociais e
incrível de pessoas que mantêm um compromisso
políticas de nosso tempo e com o engajamento em novos
estudas, sempre que surgem novas oportunidades e os
profundo com a nossa missão. Coma fizemos em 2 · d
. 'f Standor
º12
com a nossa primeira mostra do praIeto Paci ic
imperativos históricos assim o exigem. Sabemos que
Time, Now Dig This ! Art and 8/ock Los Ange e
1 s 7960·1980
BOI
artistas iluminam uma variedade infinita de perspectivas
[Agora curta istol Arte e Los Angeles negra
1960·19 ·
.
sobre o mundo ao nosso redor e, como instituição, . 1 vo que tran1101
estamos trazendo à tona um meteria no . e<J.
acreditamos que a arte possa inspirar mudanças. ntemporon
morá a forma como entendemos a arte co .
O conjunto de 120 artistas mulheres e coletivos de ·d·a OCynth1a
Gostaria de expressa r minha grati toriais ª
mulheres cujos trabalhos são destacados na exposição • d stões cura
Burlingham, diretora ad1unta e que h cimento
e nesta publicação inclui tanto artistas conhecidas, e 1 do no recon e
do museu, que esteve ao meu a b lhou coi!l
agora canônicas, quanto artistas cuja obra, até então, · • Ela tro a
imediato do valor desta expos,çao. . d dicoçóo
não fazia parte da história da arte, pois muitas delas nossa curadora-chefe, Connie Butler, cuia eas ort1sto5
· 'bTdade poro
de longa data a uma maior v 1s1 1 1
li

mulheres é arnpl .
. . . arnente reconhecida. Sua contribuição Santo Cruz - faleceram. Dedicamos esta exposiç6o o
neste proJeto e inestimável. Melanie Crader, diretora e elos. a todas as outros artistas representadas aqui e às
gerente de exposiçõ bl. _
. . es e pu ,caçoes. forneceu um apoio muitas outros artistas latino-americanos. latinos o
adrn1n1strativo f d
. un arnental para cada etapa do projeto chicanas que foram responsáveis pelo criação de uma
e n:goc,ou urna miríade de contratos. Courtney Smith. obro extraordinária, muitas vezes no anonimato e com
entoo gerente de projetos. exposições e publicações. pouquíssimo ou nenhum reconhecimento. que deixaram
merece um reconhec· t .
1rnen o especial pelo coordenação um legado que não só ilumino a arte e os eventos do
de urna publicação completa e abrangente. assim corno passado. mas também os eventos do presente e do
Portland McCorrn· k d. _
1c . ,retora de gestao de registros e futuro. Mulheres radicais é um projeto de recuperação
coleções e Kate Lally t- . . . .
. , . en ao arqu1v1sta senior, por terem histórico e temos consciência de que o trabalho que
trazido com segurança urna quantidade enorme de ainda tem de ser feito é imenso. Esperamos que esta
rnater_ial ~ara os Estados Unidos. Gostaria de ag radecer exposição e catálogo sirvam como catalizadores para
tombem a nossa diretora de desenvolvimento, Veridiana novas pesquisas e descobertas.
Pontes. que liderou o extenso projeto de desdobramento AnnPhllbln
e alcance da exposição, bem corno à sua equipe. Urna Diretora, Hammer Museum
das mais antigas patronas do Harnrner, Susan Boy Nirnoy
teve a brilhante ideia de criar a iniciativa Friends of
Radical Wornen [Amigos das Mulheres radicais]. pela qual
somos todos muito gratos. Esse grupo é composto de
doadores individuais que oferecem apoio financeiro em
diferentes níveis, e cuja generosidade foi fundamental
para a exposição.
Somos extremamente gratos à Getty Foundotion por
ter apoiado de forma tão generosa urna exposição com o
alcance e a escala de Mulheres radicais. Particularmente,
Deborah Marrow, diretora, e Joan Weinstein, diretora
adjunta, que foram as primeiras defensoras do projeto e
nunca deixaram de acreditar na irnportãncio de Mulheres
radicais no ãrnbito da iniciativa Pacific Standard Time:
LA/LA. Foi graças à generosidade do financiamento inicial
da Getty para este projeto que a pesquisa para a
exposição e o catálogo pôde ser conduzida. Nossos
curadoras viajaram extensivamente pela América do Sul
e Central, Caribe e Estados Unidos paro pesquisar. revelar
e redescobrir as ricas histórias e práticas de várias
artistas. A profundidade da exposição é o resultado dessa
pesquisa intensiva. Esta publicação, incluindo novos
estudos sobre as artistas e seus contextos regionais,
é urna grande contribuição para o campo, e agradecemos
à Getty por ter garantido sua existência.
Um projeto dessa escala não teria sido possível
sem o importante financiamento fornecido pela Diane
and Bruce Halle Foundation e por Eugenia López Alonso.
Agradecemos à Vera R. Campbell Foundation, a Marcy
Carsey, Betty e Brack Duker, Susan Bay Nimoy e ao
grupo Visionary Women pelo seu generoso apoio. Um
financiamento adicional foi proporcionado pelo
Radical Women Leadership Commíttee e pela iniciativa
Friends of Radical Women. Agradeço pessoalmente a
cada uma das mulheres e homens radicais que apoiaram
o Hammer Museum em nossos esforços continuas para
reescrever os cânones da história da arte e difundir o
poder da arte em inspirar mudanças sociais.
Nos últimos cinco anos, enquanto a mostra Mulheres
radicais estava sendo desenvolvida, seis artistas
representadas na exposição - Johanna Hamann, Marisol,
Sarah Minter. Sara Modiano, Nelbia Romero e Victoria
17

desenvolver perspectivas loca lizadas que levassem em

Introdução consideração os contextos específicos nos quais os


tra ba lhos haviam sido formulados e os parâmetros nos
quais as sociedades se baseavam para estabelecer

Cecilia marcos culturais de gênero, femininos ou masculinos.


Desde o início, também concordamos que não trataríamos
de arte mais contemporânea. A nosso ver, nossa missão

Fajardo-Hill e era realizar um estudo histórico de tra balhos pioneiros


que, graças a perspectivas globais e locais de exclusão,
haviam se tornado invisíveis.

Andrea Giunta Os primeiros estágios de nossa pesqu isa envolveram


o troca de informações com colegas e artistas da América
Latina e o análise de publicações nas bibliotecas da Getty
Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985 Foundation e da Universidade do Texas, em Austin, onde
examina a prática de artistas mulheres na América Latina traba lhamos com alunos do departamento de arte
e nos Estados Unidos entre 1960 e 1985, um período e história da arte. Nosso foco era a formulação de um
fundamental da história latino-americana e latina e poro argumento curatorial completo e a montagem de um
o desenvolvimento da arte contemporânea.' Entre as 120 arquivo de obras de arte, que cresceu exponencialmente
artistas e coletivos apresentados, representando quinze até alcançar um tamanho impossível de administrar.
países, algumas são f iguras emblemáticas, tais como Nosso conceito inicia l era uma exposição abrangendo
Lygia Clark, Ana Mendieta e Marta Minujín; outras, artistas o período de 1945 a 1980, com o título Repensando o
contemporâneas menos conhecidas, como a artista modernismo na arte conceituai: artistas mulheres na
abstrata Zilia Sánchez, nascida em Cuba, a escultora América Latina, 1945-1980. Entendíamos que, apesar da
colombiano Feliz□ Bursztyn e a videoartista brasileira ênfase recente nas histórias do conceitualismo e outros
Letícia Parente. As artistas cujos trabalhos foram incluídos movimentos na América Latina, iniciados a partir dos anos
em Mulheres radicais deram uma contribuição extraordi- 1960, o reconhecimento da participação e das contribui-
nária paro o campo do arte contemporânea, entretanto ções de artistas mulheres era inexistente, com exceção
não receberam o devida atenção para que sua produção de um punhado de figuras. Após dois anos de pesquisa,
fosse situada em seus contextos sociais, culturais e tínhamos uma lista de mais de trezentas artistas. A
políticos. A exposição apresenta a primeiro genealogia exposição se tornou inviável pela sua magnitude e passou
de práticos artísticas radicais e feministas no América a sugeri r uma perspectiva enciclopédica, que fazia com
Latina e de artistas latinas, focando, portanto, em uma que seus objetivos e missão fossem demasiado gerais.
lacuna da história da arte do século XX. Decidimos então reduzir o período (1960-1985) e
Mulheres radicais surgiu de nossa convicção comum transportar nosso enfoque conceit uai para a noção de
de que o vasto conjunto de obras produzidos por artistas corpo político. Essa nova abordagem exigiu a pesqu isa
latino-americanos e latinos tem sido marginalizado e sobre o corpo e sua redescoberta como sujeito, permit indo
abafado por uma história da arte dominante, canônico que identificássemos aquilo que, mais tarde, viríamos a
e patriarcal. Nossos esforços enfatizam o visibilidade da entender como uma mudança radical na iconografia
obro de artistas mulheres e o desenvolvimento do contexto do corpo. Isso incluiu uma reconsideração completa dos
teórico e crítico complexo que elos merecem. Cecília temas e linguagens que desafiavam as classificações
Fajardo-Hill conhecia o ensaio de Andreo Giunta "Género dominantes no campo da arte latino-americana e latina.
y feminismo: Perspectivas desde Américo Latino" [Gênero Os trabalhos produzidos pelas artistas representadas em
e feminismo: perspectivas do Américo Latino], de 2008, Mulheres radicais propõem um corpo diferente, um corpo
e O convidou poro dividir o curadoria do projeto.2 A pesquisado e redescoberto, profundamente vinculado à
pesquiso poro o exposição começou no início de 2010 situação política vivenciada por grande parte do continente
e O ideia original era que o mostro fosse inaugurado dois na época, em especial nos vários países regidos por
anos depois. No entonto, o escola e a complexidade do governos autoritários que pret endiam controlar o
projeto cresceram de tal formo que foram necessários comportamento, o pensamento e o corpo. As vidas e
sete anos poro rever os arquivos, viajar paro conhecer as obras dessas artistas estão imbricadas com as
e entrevistar os artistas e paro selecionar, por meio de experiências de ditadura, aprisionamento, exílio, tortura,
um processo ao mesmo tempo rígido e estimulante, os violência, censura e repressão, mas também na emergência
trabalhos a serem incluídos. Como colaboradoras, esta- de uma nova sensibilidade. Embora tenhamos pesquisado
belecemos um ponto principal: dado a ausência dessas todos os países da América Latina, não encontramos
artistas e de seus trabalhos nos narrativas da história artistas cujos trabalhos se encaixassem no conceito da
do arte do período, o tarefo de analisar a sua história e exposição em cada um deles. Esperamos que muitas
contribuição era fundamental e urgente. Questionamos outras artistas mulheres sejam representadas em futuros
posições essencialistas sobre o feminino e tentamos projetos curotoriais.
l:,_l

Cecllla fajardo• HIII • AndNKJ 04unto

Em outubro de 20'12. o Hamrn e, Museum conco


rdou procu ro por inform ações sobre trabalhos e.x
em desenvolver e sediar o projeto como porte do
iniciativa produzidos por artista s mulheres. muitos ~ 11
Pacifrc Standa rd Time: LA/LA [Horório padrã o do . rnen1a~
Pacific o: hdor com uma total falto de conhecimentveies li"1!
Los Angeles/América Latina ]. da Getty Foundotion. ~ dE
fomos desencoro1adas o explor ar referénc·- OUtras
. 0
Os
apoios do Harnm er Museum e da Getty tornaram 10s absc 'fezes
passivei encon tradas em arquivos ou publicações es
condu zir pesqui sas mais intensivos. que seriam uras
impen- Um ce· 1eb re artista
· ·
conceituai reconheceu que quec,das
sáveis de outra forma . Nos primeiros dois anos. . .d . ·
nossos mu Iheres haviam sr o, sistematicamente ~ os
,nvest, gações eram limitadas à pesquiso em bibliot . " ,org1nol1z0
ecas mas explic ou que ele não tinha o autoridade
e eventuais viagens de estudo, mos a partir daque . . _ dc~
le remedrar o srtuoçoo. Ele professou sua falto dmoral P<l 0
111ornc nto pudemos viajar extensivamente pelo • '
América e prosseguiu declar ando que, dado o emerge· e Interesse
101 1110 e pelos Estados Unidos. Devido ao . • .
g rande alcanc e perspectivas contemporoneos relativos pornc,a de
du pesqu isa. ela foi dividida em zonas . Andreo O
Giunta se estu~os sobre o arte q~eer, uma exposi ção · exemplo
conce ntrou no Argen tino. Chile. Paraguai e Urugu dedicada ·
ai; o artista s mulheres, alem de ser irrelevante er
Cecília Fojordo-Hill no Améric o Central, Colôm . . . • a u1tra-
bia. Cubo possodo. Essa res1stenc10 desmedido, expres
e Venez uelo; ambos trabalh aram com o México sa de
e o Peru; manei ro direto ou sarcástico. evidenciava a continu
Fojord o-Hill e Morce la Guerrero, do equipe curoto o
riol precon ceito dos criticas. reforça ndo nossa decisão
do Homm er Museum. fi zeram pesquisas no Brasil.
em polític o de prosseg uir com o ideia original.
Porto Rico e sobre os artistas chican as e latinos
nos Esperamos que o pesqu iso conduzido para Mulher
Estados Unidos.
radica is e os explor ações estéticos e teóricos que
Em junho de 2014. realizamos um workshop no es
reoli-zomos sejam contri buições duradouras paro
Homm er Museum poro avalia r o situaç ão do projeto 0
após conhecimen to sobre o períod o. No entonto, nossa
quatro anos de desenvolvimento. 3 Ali. uma questã tarefa
o mais urgen te era dor visibilidade o artistas e trabalh
que ainda não estava resolvido se tornou centra os
l poro seu nunca vistos ou que não haviam sido considerados
f uturo: incluir ou não artistas chican as e latinos nos
. O foto termo s específicos que esta exposição propõe.
de ser chican a ou latino nos Estado s Unidos signifi Nossa
ca, ambiç ão, em ultimo instân cia, foi ativar os experiê
necessariamente, ter vínculos com o Méxic o ou ncias
outros intelec tuais, emoci onais e afetivos que essas artistas
países do Américo Latino . Além disso, estava cloro e
que os trabal hos preten diam provoc ar. Também espera
artista s chican as e latinos, assim como os artista mos
s latino· poder oferec er referências e inform ações que
-amer icanos, haviam sido sistem aticam ente excluí irão
dos aprofu ndar o conhe cimen to sobre os artistas radicais
do históri a do arte e que muitos dos temos urgen que
tes em consti tuem esse capítu lo do história e os circuns
seus trabal hos estava m conec tados - ou até mesm tàncias
o eram nos quais produ ziram suo arte.
equiva lentes - com os temos abord ados pelos
suas
contra partes latino-ameri canos. A decisã o de A expos ição é estrutu rado em torno de temos. em
incluir vez de categ orias geográficos ou cronológicos
artista s chican as e latinos contri buiu poro o abertu . Esses
ra de conjun tos servem poro eviden ciar conexões temátic
um diálog o essencial, embo ra há muito tempo as e
evitad o,
entre o latino- ameri cano, o latino e o chican a. preoc upaçõ es comun s entre os artistas. que, no
maioria
dos casos , não se conhe ciam e não estavam cientes
As questõ es que nos guiara m neste projet o assum dos
em trabal hos umas dos outros. Nosso proposto. portant
três verten tes. Em prime iro lugar, o que aconte o, foi
ceu com
essas artista s e suas obras? Em segun do lugar, estabe lecer diálog os e simult aneidades que confirm
quais am
foram os circun stânci as cultura is, polític os e pauta s e proble mas comun s, ou seja, questões
ideoló gicos que
que permi tiram omiti- los ou até mesm o fazê-lo conec tam d iferentes contextos. Com exceção
do México
s
desap arece r? E, em tercei ro lugar, qual é o nature - onde um movim ento de arte feminista compa
rável aos
za de movim entos do Europ a e dos Estados Unidos surgiu
suas contri buiçõe s? Desde o começ o do organ no
ização final dos anos 1970 e continuo até hoje - . nenhum
do projet o, enfren tamos uma contra dição. Por outro
um lodo, país do região teve um movim ento de arte feminis
vários artista s, curad ores e estuda ntes de atitud ta
e organ izado duran te os anos compreendidos no
progre ssista nos apoia ram com muito entusi mostra .•
asmo, Por exemp lo. em nenhu m lugar dessa região existiu
fornec endo os inform ações que nos ajuda ram algo
o compo r equiva lente ao Feminist Studio Workshop, no Woman
o expos ição. Por outro, enfren tamos resistência ·s
no formo Building em Los Angele s, e seu programo de educaç
de uma pergu nto que nos foi feito repeti dos ão
vezes: por em arte femini sta. A maior ia dos artistas aprese
que apena s artista s mulhe res? Essa pergu nto ntados
freque nte• em Mulheres radica is não estava empenhado
mente era seguid o do obser vação questi onáve em produzir
l, e talvez trabal hos feministas, embor a nós, como curado
desco radam ente ofensivo, de que "artist as mulhe ras e
res historiadora s do arte, possa mos agora identif
estão no modo " . Algun s diziam que os artista icar _
s mulhe res preoc upaçõ es femini stas em suas produç ões.
jó havia m conqu istado o recon hec iment o que Esse noo
lhes era é o coso no enton to dos artista s chicanas e latinos.
devid o e que, portan to, o mostr o não só era ' '
desneces• que, em vários instân cias. incorp oraram O feminis de
sório como não dever ia ser feito, porqu e confir mo
mava o .
formo d ireto em seus t rabalh os e 111teresses. se1·om eles
ideia de que o Améri co Latino é machi sta. Em
nosso pessoais ou polític os.
19

lntroduçõo

Independentemente disso. o emancipação dos Tem sido muito gratificante para nós testemunhar
mulheres e de se impacto que o pesquisa que iniciamos em 2010 teve
. . us corpos estava presente nos discursos 0
S0CI0IS do época p t . nos campos curatoria l e acadêmic o. Essa pesquiso foi
_ . or anta os trabalhos de varias artistas
que noo se consideravam feministas estavam todavia veiculado em artigos. ensaios e palestras realizados em
ligados o p reocupações feministas. Os temos .em torn~ museus e conferências. Artistas que. no passado. eram
· - e· o rganizado - o autorretrato·
d os quais esta e xpos1çoo tota lmente desconhecidos fizeram porte de exposições.
0 foram incluídos em coleções de museus e apresentados
relação entre corpo e pa isagem; o mapeamento do ·
corpo e suas inscrições socia is; referências ao erotismo o diferentes públicos. A oposição que enfrentamos no
ao poder dos palavras e ao corpo performático; o med~ iníc io foi. de maneiro geral. superado. Artistas que, em
do repressão e o resistência à dominação; feminismos e muitos casos, eram raramente mencionados em publica-
lu_gores sociais - sugerem paralelos entre os preocupo- ções de arte e catálogos de museus agora estã o prese_n~es
çoes do arte feminista europeia e norte-americano e os em novos estudos. Hoje. poucos diriam que uma expos1çoo
questões que os artistas latino-americanos e latinos histórico sobre o produção radical de artistas mulheres
abordavam em seus trabalhos. do Américo Latino e latinos seja irrelevante. O tópico
O c atálogo, diferentemente do exposição, é agora integro uma pauto amplo e ao mesmo tempo
organizado por país. e não por temo . Essas estruturas urgente. Entretanto. a inda há muito trabalho o ser feito e
diferentes permitem que o público vejo o exposição de temos pleno consciência de que este é apenas o começo.
uma formo e o estude de o utro. Embora o livro contenho
ensaios temáticos. o maioria dos textos troto de cenas
artísticos locais específicos. Essa decisão foi tomado Notas
com o intuito de fazer com que o catálogo fosse o Em geral. optamos pelo uso dos termos chicana e latino em vez

mais útil possível poro fins educacionais. Os ensaios do nomenclatura mais recente. chiconx e lotinx, que não é tão re levante

específicos por pois ou região trotam do história feminista poro o periodo histôrico da exposição.
local, do papel que os artistas mulheres desempenharam 2 GIUNTA. Andreo. -Género y feminismo, Perspectivos desde
em cada lugar e dos relações entre suas vidas e seus Américo Latina -. Exit Book. Madri. n. 9. 2008. pp. 90-5.
trabalhos, por um lodo, e do situação político local e 3 Além das curadoras da exposição e de Marcelo Guerrero. membro
outros formo s de expressão cultural. por outro. Os ensaios curotoriol. e Connie Butler, curadora-chefe. do Homme r Museum.
foram escritos por especialistas em arte de c ada pois participaram do workshop os colegas Julie Bryan-Wilson. Cloudio
ou região e incluem informações bibliográficos relevantes. Calirman. Miguel A. López. Mónica Mayer. Cuauhtémoc Medina. Cami\le
bem como. em vários casos, uma pesquiso primário. Morineou. Catherine Morris e Gabriela Rangel.
Vários ensaios também propõem questões e problemas 4 Conforme mencionado no discussão de Julie Antivi lo Perio.
o serem abordados por estudos futuros. Nosso maior Mónica Moyer e Maria Louro Rosa. "Arte feminista e ·ortivismo· no
desejo é que esta publicação impulsione os próximos Américo Latino: um diálogo entre três vozes·. e em a lguns dos ensaios
gerações de historiadores, artistas e curadores o regionais presentes neste volume. algumas artistas em outros poises
continuar investigando. da Américo Latino atuavam em organizações feministas o u se
O principal propósito de Mulheres radicais é escrever identificavam como feministas, mos eram exceções.
um novo capítulo do história do arte do século XX, um
capítulo que leve em consideração os contribuições dos
artistas latino-americanas, chicanas e latinos para as
linguagens experimentais do arte contemporânea. A mostra
não é. de forma alguma, completa, pois não abrange
todas as artistas mulheres que produziram trabalhos no
período abarcado. Limitamos o escopo em trabalhos que
problematizam o corpo - corpo este que, na maioria das
vezes, foi abordado ao longo da histó ria da arte a partir
de uma perspectiva masculina e patriarcal, um ponto
de vista que os trabalhos dessas artistas passam ades-
mantelar de forma sistemática. O objetivo desta exposição
é dar visibilidade às produções artísticos ausentes nas
narrativas da arte internacional e latino-americana,
mas também analisar até que ponto essas produções
constituem um corpo distinto. Uma de nossas hipóteses
é que a reformulação proposta pelas artistas em seus
trabalhos possibilitou o entendimento de outras dimensões
de sensibilidade e sexualidade, dimensões estas que
ajudaram a divorciar biologia e sexualidade e a redefinir
noções fechadas de gênero.
~1

de Arte Contemporâneo, no Cidade do México. A razão

A invisibili- disso é que o próprio ideia de arte feminista tem sido um


anátema pa ra o estabelecimento artístico em seu país.'
É irônico que as qualidades que têm sido celebradas

dade das na arte do século XXI - o posicionamento contra a ordem


estabelecida, o experimentalismo, a originalidade e
o não conformismo - muitas vezes não se apliquem

artistas latino- quando se trata de artistas mulheres. Um preconceito


primordial é que as artistas mulheres simplesmente

• não seriam tão boas quanto os homens. Portanto, a

-america nas: pergunta crucial, "onde estão as artistas mulheres?",


acaba sendo ignorada.2
No século XX, as artistas latino-americanas e latinos

problema ti- exerceram um papel fundamental na formulação das


linguagens artísticas de seu tempo. No entanto, nas
relatos históricos e exposições de arte que servem como

zando as grandes referências do meio, os homens são os


configuradores da história da arte. 3 Apenas algumas
artistas mulheres foram escolhidas para representar

práticas da o meio artístico, sendo destacadas repetidos vezes:


Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Amelio Peláez,
representantes do início do modernismo; Leonor□

história da Carrington, María lzquierdo, Frida Kahlo e Remedias Varo,


do surrealismo; Lygia Clark, Lygia Pape, Gego e Mira
Schendel, do neoconcretismo e do abstracionismo

arte e da geométrico; e Ana Mendieta, Marta Minujín e Liliano


Porter, da arte conceituai e experimental. Menos de
vinte representam centenas de artistas mulheres, muitos

curadori a vezes inclassificáveis, portes intrínsecas e importantes


de nosso história. Artistas mulheres ganharam visibilidade
sob os emblemas do surreolismo,•do abstracionismo

Cecilia geométrico•e, mais recentemente, do pop art.•Todos


esses movimentos permitiram o apagamento ou o con-
formação das mulheres o parâmetros existentes.

Fajardo-H ill Em particular, o abstração é bostante confortável


devido à suo natureza aparentemente neutralizodora
ou ausente de questões de gênero.
A própria necessidade de organizar uma exposição Entre os estereótipos que definiram artistas mulheres
histórica sobre gênero evidencia um vácuo no sistema na América Latino está o próprio invisibilidade delas, uma
da arte. Há séculos as mulheres têm sido sistematica- crença tácita de que não são boas o suficiente, portanto
mente excluídas ou apresentadas de formas estereo- nôo existem. Muitos vezes, artistas mulheres, tais como
tipadas ou tendenciosas, o que c riou uma situação difícil Mercedes Pardo (esposo de Alejondro Otero) ou Laia
de solucionar, pois as oportunidades para fazê-lo ainda Alvárez Bravo (esposa de Manuel Alvárez Bravo), foram
são muito limitados e vários dos mesmos estruturas de colocados em uma posição de invisibilidade pelo simples
preconceito e exclusão ainda prevalecem. A reolido~e foto de serem casados com artistas reconhecidos. Outro
é que muito mais mulheres participaram do formoçoo estereótipo comum é aquele do mulher louco, histérico
do arte do século XX do que o número normalmente e vitimada, como é o coso de Frido Kohlo e, em alguma
contabilizado. No Américo Latino, isso se dá, em parte, Mónica Mayer
medido, o de Ano Mendieta. Também difundida é o noção
" CON&!ULI-' ·
devido ao sexismo e o um sistema, existente tonto no das mulheres como artistas de menor qualidade ou kitsch
continente americano quanto globalmente, que julgo Flg. 1 com base na ideia usual de que sua estético é de mau ,
Môn i c a Mayer , Rosa
0 qualidade do trabalho de um artista com base em sua c hillon to: Mu jeres gosto e intragável e de que as questões que abordam
visibilidade e sucesso, resultados que, com frequência, y performance en Mé xi c o
f Ro sa - c hoque : mu lheros
(tais como a domesticidade, a sexualidade e a exclusão
são negados às mulheres. Por exemplo, o artista e por fo rma nco no Mêx ico 1 social) não são importantes. Outra ideia errôneo e
( C ldado do Mêxlco :
mexicano feminista Mónica Moyer (fig. 1), que trabalho Conuc ul ta /Fonc a e AVJ , generalizada é que o papel das mulheres como mães
desde os anos 1970, esteve, em geral, ausente do sistema 2004) . as impede de ser artistas relevantes e comprometidas.'
do arte e só recebeu o reconhecimento merecido em Por último, qualquer trabalho associado ao feminismo
2016, com uma retrospectiva no Muse•. Universitário tem sido visto apenas como uma arte de má qualidade.•
c.c,lllo Fojof'do-HIII

f ,n rnu11r,·. ,.o,.,,·.. rJrtI1,trJ•. hom,,n,, odotorurn urnu


México, em 1976 (fig. 2). A publicação .
contem
0 l1 tud1: dr, rJr:•.rJi: rn , rr, r1, lur/.1r, (J'. uh,grn, d0 U: I O fr:rni- ções de " Mujeres, arte, femineidod" [M Ih os deliti,,,
. .. • u eres ·'J
n,nr;, <,1,ntr,t,uir1rJo r,1Jro ·.,,u 1·,<,lurn1,n1r, r-: inviDibilidrJrfo. fem1nil1dade], uma conferencio organizado 'arte.
Stellweg, com c ontribuições d e ferninist Por Cario
f'(;r 1,1,,rnr,lr,. f.l ,orr, l:UrW;',, <,rn urnrJ ,,r,t(<,ViDtu com . . . os e intel
Mir1u1, I /1nr11:I l'r, 1íl'•. r,rur.1 ·,,,u mflu<-:r1I': livm (Jr ig<-:m:·, dr-:/ mexrconos, latino-americanos e internac· . €Ctuoi&
1ona1s"
or l e C/Jncr:1,ruu/ r:11 (,r,/r,ml,10 [(JrirJ <:fl', cJu Urt':: r,r,r,r,<::1- Juan Acha desempenhou um papel irn ·
· d
os d eco os e d 1970 e 1980 com o desenv 1P<>rtonte
. e%~
tual rio r,ol,~rnb,a). u·.rJ ,, ,,1,,rr,r,lr, rJu ·,,.1fh'..frJ rJ,,•,or,'Jí'; · . . o vIment0
c. irn<:nlo dc: ·~(Jr(J Mr,rl,rJri(, rJrJ r;•,fr:((J rJrJ Ort':. r,ur 10ltrJ um quadro teorice paro os expressões exp . de
. . . enment ·5
de 19e7. µaro rfomr,n~trrJr ·,uo ir rr:l ,,1i; r,r,1<J ': !oito rJ,, co nceItua1s do epoco no Américo Latino em
, . . d ·
. e
Part1cula
º'
comprome;tirnento ,.r,rn u mt<:."f lo V':rdocJr,, IA0d1unr., Peru e no Mex1co, ossum,n o uma posição P<>I'. rno
_ . . ItIca e e ..
nunca parou de trnbalhar r-: u r,rr,vu rJi'..v, hür, rr. , órir;·, em relaçao a dependência coloniolisto e do ritico
. . • mercado
ideiab e dese nho& qur-: ela continu0u o rJ,,:,r, nvr,l 1er r,; rr, Seus termos mais influentes, nao objetua/ e - . ·
. . naoob1etu0
seus cadernos.'° /ismo, abrangem a arte conceituai, o perform ·
r '~ , / • . . once. as
Dois autores imprebcindívei:. r% ponsóveii, pelo r~~r } ~ ',,. ,i}J ,11.:~ l,;r'J.) , açoes e eventos presenc1aIs realizados ern loc • .
" IA1J j ":r•..: !; , :,,r t~. fc;rnJn ,Ji'Jr,d" • . . OIS PílVod
construção do histó rio do arte latino-americana. são f U1Jl n ~ r ' :(J , :,r t. ,.:, bem como as novas m1d1os, instalações site sp .,. os,
' c;tt,1n1 l 1''"'J•: ] , c: tJ l r, /,f) · ecrrc
Morta Traba e Damión Boyón. Traba exerceu décadas de l :J l , /i.r r. ,Jr) , J rJr;a J,:r;
c.:; ~ r;i •:•,
obras efémeras e o ortesonato tradicional. Acha •.
. . . OPoIov0
influência na definição daquilo que o arte latino-americana l 1-r t. •:·. Jl•,1;:,1·., J ', 1 j:,n. artistas experimentais em seu país notai o Peru
W4 f . 1~/~ J. D,;t,,J 1•.:,rJrJ u 1; } rJ . · , comoo
deveria ser e, portanto, constituiu um cánone. Em livros 11. ;i:.it,u dg /.r t e.: 11,JrJ •.:r m, <J..i obra seminal de Teresa Burgo, Perfil de /a mui·e,pe
r,lrJ;JdC dCI IA(: 1 l<,'; ll'J/'; . ~ 1).
. ruono
essenciais. tal como Dos d écadas vulnerobles en los artes [Perfil do mulher peruona] (1981), que foi incluído,
00
plásticas latinoamericanos, 1950-1970 [Duas décadas lado de outras mulheres artistas, tois como Lygio Clark
vulneráveis nas artes plásticas latino-omericonos) (1973), Morto Minujín e Yeni y Nan, no Primeiro Colóquio Lotin~-
e em ensaios como "Lo cultura de resistencio" (1971), elo ) -Americono de Arte Não Objetual e Arte Urbano.
desenvolveu suos noções de orte de resistência, umo arte { ..... organizado por ele. Apesar da abordagem aberta de
-~,~- -
que fosse relevante paro o sociedade e poro seu contexto
nocional e continentol."Trabo ero contra umo orte moderna
neutro, que mimetizasse tendéncios internacionais, tais
como o orte cinética e grande porte do orte abstrato, e
~,-
Chicana 4rl
~
Acha em relação à arte, ele não estova interessado
em questões de gênero ou no feminismo.
Internacionalmente, foram realizados vórios estudos
sobre a arte latino-americana que definiram o campo.
que fosse, assim, dependente e colonialista. A outoro A exposição Art in Latin America: The Modem Era, 1820-
também se opunha o qualquer forma de indigenismo ou 1980 [Arte na América Latina: o era moderna, 1820-1980).
folclorismo. Trobo viveu em vários poises do Américo com curadoria de Dawn Ades poro a Hayward Gollery, em
Latino - como Colõmbio, Porto Rico, Uruguai e Venezuelo - , Londres, em 1989. apresentou trabalhos de 155 artistas.
e em codo local elo explorou e escreveu intensivamente sendo apenas doze mulheres.17 As comemorações do
sobre o arte local. Embora tenho escrito sobre vários aniversário de 500 onos do descobrimento das Américas
mulheres poro publicações no imprenso e em catálogos Fig. 3 ocasionaram uma série de mostras que contribuíram poro
e brochuras de menor importância, muitos dessas artistas Laura E . Pêrez, Chfco no
Art : Th e Polltlc3 of o avanço do tendência de exibir algumos artistas mulheres.
não foram incluídos nos narrativos mois amplos e So ir1 tuol ond Aesthe t te no maior porte das vezes as mesmos "figuras carimbados·.
Alter 1t1e a [ Ar t e chicana;
influentes de seus livros, nos quais os protogonistos erom uma oollt i ca de alter1 dade s como na exposição histórica Latin American Artists oi the
sempre ortistos homens, com exceção de Amelio Peláez.12 espirit ua i s e e s téticas]
(Durham, NC: Duke Twentieth Century [Artistas latino-americanos da século
Artistas como Beatriz González e Feliza Bursztyn foram Un1versity Press , 2007). XX], no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1993.
apoiadas por Troba na Colômbia, mas tiveram presença com curadoria de Waldo Rasmussen e a ajuda de um
limitada em seu discurso latino-americanista mais importante grupo de consultores, que incluiu trabalhos
abrangente.13 Na Venezuela, ela escreveu sobre o trabalho de 95 artistas, dos quais apenas catorze eram mulheres.•
de Tecla Tofano. No entanto, da mesma forma, a artista Latin American Women Artists, 1915-1995 [Artistas
não exerceu um papel significativo na narrativa definidora mulheres latino-americanas, 1915-1995], organizada pelo
de Traba .14 Damián Bayón, em seu livro Aventuro plástica Museu de Arte Milwaukee em 1995, com curadoria de
de Hispanoamérica (1974), promove as artistas Raquel Geraldine P. Biller e consultoria de Edward Sullivan e
Forner, Moría Luísa Pacheco e Amelia Peláez e menciona Bélgica Rodríguez, foi a primeira e a única exposição de
outras poucas mulheres em insignificantes notas de
grande escala nos Estados Unidos ded'Ica da ao assuntod
rodapé, em uma história dominada por homens. Bayón 79 5
até Mulheres radicais: arte /atino-americana. 195o- B ·
não fomenta o surrealismo: ele descreve o trabalho de . t mulheres
A mostra tratou das contribuições de ort1s as
Kahlo como "enfermo" e sugere que sua loucura era . ·cano do
para o desenvolvimento da arte latino-arneri
"transmissível" .'5 Ele não era contra a abstração, fazendo . - de 35 artistas.
secu 1o XX, por meio de uma se1eçao dor
breves menções positivas a artistas como Lília Carrillo, . especta
representando onze países.20 Biller de1xou 0 . tos
Elsa Gramcko, Sara Grilo e Luisa Richter. Uma publicação .d . . . . . murn entre as art1s
d ec1 1r se ex1stIa uma estetIca co . . de
importante e singular sobre artistas latino-americanas . d ma serie
latino-americanas e propôs, por meto e u d·ferenteS
desse período foi a edição especial de Artes visua/es, clichês descritivos, que suas perspectivas eram f~re à
publicada pela Museu de Arte Moderna da Cidade do . Ela se re
das de seus colegas do sexo mascu 11no.
í ':

A lnvl1ibllldode da1 artl• 1,,1 lotlno•om•tloono1

-~efiniçõo do corpo fem inino estabelecida, de manr,;ira Iu,,,,1rr, do vmív,,I: umc1 twv,,flr,lo ,,llptl<:o íll1lo mtu d 1 ,
too sensível por R ·0 .. ld ,.
· · oci ''" ª anado e pr,; rgunta: "Seró ,,,',,.ulr, XX f.(,hr1,, dr, e, a portlr cfo f1,ml11ii,0 I (lfl{J/1, f1~J. li),
que um homem esc Ih ·
_ - o er1a o repres1::maçéio de urna r,o<,o WN;K/ Arl and Lho FomlnlBt l?twolutlon IWACKI Arfo" o
poro def1n1r seu esp f
_ aço co rno P.Z Elba Damo~r, ou urna rravr,lur, i:io fornlnlBto l. com c uroclorlo cJu Connln llutl 111 ,
cozinho , como fez Leonoro Carrington em Granclmother r,urrJ o MuoAu do Arto Contomporô nou elo I c>t> Anonltw
.
Moorheod's Aromar·,e K./te h en [ A cozinho .
. orornatico da (7CJ(J /, fiçi. 5);'r1 Global Fomlnloma: Nüw Dlroctlorw ln
ovo Moorheod)?" 21 Tois- d 1 - . •
. · • ec araçoes 1nd1com a lógica por Cr,nwmporary Art I Fomlnlom oo fJ loho lu: novuo rl lruçõcw
tros do mostro: enfatizar seu papel no revelação de uma ,, m a rte contomrx ,rónoa l, com c urudorlo dt, Moum l<oilly
natureza único do eJ(pressõo feminina e sua importár,r.::iri o Linda Nc,ch lin, r,oro o Brooklyn Muoourn (200 1)/• o
no história do arte. Por um lad o, a curadora cIrcunscrP.ve Ello~@ce:nrrnpompldou: Artwtoo fommon demo loo colloc
0
exposição dentro do concepção onoc rón1ca de arte riom du Muaé,o ncitlonal cl'art m odnrno [Eluo@r.ontropornpl
lotino-omer icono defend ido por Mono Trobo, apresentado dou: ortIotoo rnulhoroo nem col1,çõoo do Munuu Noclonnl do
em Art of Lotin America, 1900-1980 [Arte do América 1 ' '/ /, Artr-, Moderno ], com c uradoria do Co rnl llo Morlnoo u (?OCJ!J,
( ;; tr,:r 1, 1 • ,1,, / 1••1r •· r " •' ' I
Latino, 1900-1980), e, p or outro, opresento uma ideia ! 11'. l ' I •, 1 1 • / J , • r, / • f,g . 6 ).' º Rc.a c r.lominlem #2 - a p er formlng arc hlvn [l<o.
convencional do evolução dos tendênc ias ortistic os.2' A n 11 11 (,1./r.,J! / r ,111: r ,,1 agir.feminism o n? um mquivo porfo rrnó t lco l (flH, 7) foi
r1 f ;, r, r,, r, ,.,.r ,11 1 /., 1 / , , 1, t .
Além d isso, o especificidade de género é abordado po r r;n rJ ( ,,,r,t 1,1, F •·rr, J , , / 1 ,.i urn projeto inovador do arquivo ltinoranto, c rlcJdo por
l[.Jb ! 1 • ,, t Jr, J ) ·.1 ' " J ;•r-1
meio de noções estereotipados do feminin o. Apesar dos 1.f<J " ''•'J 1•1 1: 11 ,, , 1 f I J, J- 1 1
Bcttino Knaup e Beotrico Ellen Stommor, quo viajou por
boas intenções do exposição, Biller deu ênfa se o ?.r T. f:: rJr, ,. ,, ,. , J r, / / ,, ,,t,, ,, . 11/f
seis poises europeus entre 2011 o 2013, Inc luindo tra•
rJr.. f crr 1 r1l , ,,., 1 f r, ,i "•f, , 1 11•11•,
concepções errôneos e generalizadoras sobre artistas u,. ur r ,., ' J ' J !; . ·•, 'J/, , bolhos de ortI0100 do Euro pa Ocid ental e Oriental, do
mulheres e não contribuiu de maneiro significativa poro Mediterró neo, do Oriente Médio, doo Estados Unidos o
o avanço do meio ou o suo transformação. de vário s poises lotino-amerlcanoa.• 0 Em 2013, o rov ioto
No final dos anos 1990 e no começo do novo milénio, on-line Arrelogíe, uma inic iativa do École deo Houteo
emergiram vários exposições e publicações internacionais Êtudes en Sciences Soc ioles [Escolo de Estudos Avança -
e latino-americanos que revelaram práticos variados e dos em Ciências Sociais) de Poria, publicou uma edição
prolíficos de artistas mulheres. Em seu ensaio "Género y d edicado exclusivamente ao feminismo e ó arte na
feminismo: Perspectivas desde Américo Latino" [Gênero Américo Latino, com artigos importantes sobre México,
e feminismo: perspectivas do Américo Latino], de 2008, Argentino, Chile, Brasil e Co ribe?'
Andreo Giunto propõs uma abordagem do arte latino- A exposição internacional artevlda, c om c uradoria
-americano de um ponto de visto de gênero."' Em 2007, de Adriano Pedroso e colaboração d e Rodrigo Moura,
Koren Cordero Reimon e Indo Sáenz publicaram a foi realizado em quatro instituições diferentes no Rio de
primeiro compilação de teoria feminista em espanhol, Janeiro, em 2014.32 A mostro explorou a relação entre
intitulado Crítica feminista en la teoria e historio dei arte F lq. 5 arte e vida, enfatizando o período do final dos anos 1950
Conn 1c Butl er- e L 1r;a
(Critica feminista na teoria e história da orte).2AEm 2004, Gaor-1 el l r: Ma r- 1' fo rg ~. ). até o início dos anos 1980, usando o arte brasileiro como
WACK! Art onCJ Lhe F<:mtnl fJ L
na Colômbia, Carmen Maria Joromilla foi a curodoro de Rev o lutf o n ( 'NACI"! Arte:
referência . Com ênfase especial no corpo - um de seus
Otras miradas [Outros olhares], uma exposição de e a re •10l uçã o fcmlnl s taJ quatro principais temas - , o mostro reunia trabalhos de
f Lo G Angc lo s : Mu eeum
trobolhos feitos entre 1940 e 2004 por artistas mulheres o f Con tornpot"at"y Ar-t; um grande número de artistas mulheres, entre elas as
Cambt" 1dge: MIT Pr-0 l.16 , 2007) .
de diferentes geroções."Em 2009, na Costa Rico, Virgínia brasileiros Martha Araújo, Lygio Clark, lole de Freitas,
Pérez-Ratton foi o responsóvel pelo curadoria de uma Anna Maria Maiolina e Wonda Pime ntel, bem como artistas
exposição com três artistas do Américo Central, intitulada latino-americanas e internacionais, como Heleno Almeida,
Tres mujeres, tres memorias: Margarita Azurdia, Emília Geta Brõtescu, Teresa Burgo, Rosemarie Castaro, Gego,
Prieto, Rosa Meno Valenzuela, no Teorético. Em 2006, Zarina Hashmi, Birgit Jürgenssen, Dora Maurer, Ana
Heloiso Buarque de Hollondo e Paulo Herkenhoff fizeram Mendieta, Marisa Merz, Senga Nengudi, Yoko Ono, Yvonne
0
curadoria de Manobras radicais, no Centro Cultural Roiner, Lotty Rosenfeld , Zilia Sánchez, Annegret Soltou
Banco do Brasil de São Paulo, com o intuito de revelar e Cecília Vicuíia . Talvez essa tenha sido a mais ambicioso
0
audácia e a inovação de artistas brosileiros dos séculos exposição internacional a propor urn diálogo aberto e
XX e XXI. Em 2007, nos Estados Unidos, Louro E. Pérez completo entre artistas brasileiros, latino-americanos,
publicou Chicana Art: The Politics of Spirit~ol and europeus (incluindo artistas do Leste Europeu) e norte·
Aesthetic Alterities [Arte chicana: uma pol1t1co de ·americanos, na qual as artistas mulheres receberam, de
alteridodes espirituais e estéticos] (fig. 3). Durante esse forma consistente, um papel de igual proeminência em
mesmo período, estudos monográficos e mostras retros· relação aos artistas homens. É importante observar que,
ectivos foram dedicados a Teresa Burgo, Feliza Bursztyn, embora os exposições e publicações discutidas aqui
~ gio Clark, Anno Maria Maiolino, Marta Minujin, Lygia tenham dado visibilidade a artistas desconhecidas, a maior
y · Ih ,.
Pape, Cecília Vicuíia e diversas outros art1s~as mu . eres. porte delas foi formulado sob o emblema do feminismo
Várias exposições internacionais inclu,rom artistas internacional, sem esclarecer a diferença entre o quadro
latino-americanos, como O seminal mostro itinerante de estrutural fem inista e o arte feminista propriamente dita.
Catherine de Zegher, Jnside the Vísible: An Ellíptícal .. Na verdade, a maioria das mulheres apresentados nessas
Traverse of 20th Century Art ín, of, and from the Fem,n,ne exposições não considera seus trabalhos femini stas.
24

Cecllla Fajardo-HIII

~ mc>sma maneira que as artistas latino-america nas, Hernández e Yolondo López.,.No capitulo ..
:;; :; ·~ :':,~:' ,--iiconos e latinas também têm sido excluídos Califórnia", Goldman destaca O foto d Mulheres da
:;<" _ -· :; :; ,';?O ma is amp lo no arte moderna e contempo- d a ·inc 1usao
• · · d
posItIva e artistas latinase que.
h.
ªPesa
r
.:. -'2\:: - :; -., uItos razões poro isso. A arte latina e chicana e c Ican
exposições, a proporção de mulheres P h as ern
. a~~
e · -:>-:: - c>-:emente. definida por aquilo que não é: nem e vergonhosame nte pequena. Elo escrev . .. ens louno,
. . . e. A excl - ·
.::-· :c· ,-.:: - .:: - em latino-america no. Essa premissa é ainda pior para as latinos: inícios tardios usaaé
. , menos a
:-.::i-<".~.::.:: "-- .:-vncepções errôneas e noções estereotipadas o machismo dentro de suo própria classe ceitai;õo
O
.- .: ~ _ .' .:: -"' ,: ::me latina ou chicana parece ser e na somado ao racismo do mundo todo".:ie e machismo ·
~ -- : ~.-::. :: .::e ::roconceitos raciais sobre noção e A partir do novo milênio, o número de b .
: ~- : .-.:: .-e e :::-;icepções falsos e limitados em relação . • . pu licaç;.,,.
exposIçoes explorando a identidade foi dirn· . v,, e
~.: -:e --:;:::-.:: '. Dois fenômenos fizeram com que o . . _ 1nuIndo u
exemplo e a exposIçoo Art/Women/Californ· · rn
e- :" - ;; -·e'1to do arte latino fosse dificultoso. O primeiro . ,a 19S0-2000
Parai/els and lntersect,ons [Arte/Mulheres/Cal'f . . '
:? :;e-.i:Jse em assuntos sociais (imigração, pobreza. Fig. 6 . 1orn1a
Camille Morineau (org. l,
1950-2000: paralelos e intersecções]. 0 prirn •
. ·~•êncio. desigualdade etc.) e no ativismo. O movimento . . . eira mostra
E lles@cent repompidou : Women h1stonca dessa natureza, com curadoria de o·
ch:cono. por exemplo, combinou ativismo social com uma Artists in the Collection 1ona Burg
of the Musée Notionol d'Art Fuller e Daniela Salvioni, para o Museu de Arte S
. . . on Jose
ess
·d eio de arte e cultura que. além de não ser convencional. Moderne, Centre de Créo tion
com o trabalho de voflas artistas latinas dand
In dus trie lle [Elas@ ·
e considerado problemático, porque não é glomoroso • o a elas
centr e pompidou: artistas um papel mais abrangente no contexto do expasi õ
o suficiente, sendo politizado demais. O segundo é o mulh e res nas coleção do ·1 . 1· - .
Museu Nacional de Arte cota ogo Inc uI tres capitulas importantes sobre Ço.Seu

. . . artistas
multiculturalis mo (euro-american o) dos anos 1980, que Moder na, Ce nt ro de Cr iação
latinos e chicanas, escfltos por Amalio Meso-Bains
Industr i al] (Paris : Édi tions
promoveu um essenciolismo cultural. fazendo com que du Centre Pompidou , 2009}. Terezito Ramo e Jennifer González :n Urna dos expo· • .
. . . · sIçoes
obsessões "identitários· , culturais, nacionais e étnicos mais importantes que reuniu artistas latino-americanos
se tornassem generalizados nos interpretações do arte e latinos na primeiro década do milênio foi Arte, Vida:
latino-america no e latino. O multiculturalis mo tem sido Actions by Artists of the Americas, 1960-2000 (Arte, Vida,
demonizodo de tal formo que é difícil recuperar seus ações de artistas dos Américas, 1960-2000] (fig. 10).
aspectos positivos. como o promoção de um diálogo de Deborah Cullen, no Museo dei Sorrio, em Nova York.
cultural mais abrangente entre práticos artísticos nos em 2008. Essa mostro sobre performance incorporou
Américas. assim como analisar seu duradouro legado trabalhos de 27 artistas mulheres, além dos trabalhosdos
negat ivo. As artistas latinos e chicanas que trabalhavam participantes de grupos de artistas. Seu catálogo troto
nos Estados Unidos responderam não apenas à político do trabalho de mais de 59 artistas mulheres e 21grupos
patriarca l. tão opressora nesse coso quanto o enfrentado que inc luem mulheres. 38 Essa publicação demonstro o
por suas equivalentes no Améric o Latino, mos também quão amplo, experimental e diolôgica a cena artístico
o uma segundo onda de feminismo que era muitos vezes de performance tem sido desde os anos 1960.
indiferente às questões dos mulheres de cor. 33 Nos últimos anos, a arte conceituai vem chamando a
Vários publicações e exposições produzidos nos anos atenção no América Lotino.39 Dois estudiosos e curadores
1990 foram verdadeiros laboratórios de inclusão e troco . que têm promovido esse campo são Luis Comnitzer e
Fig . 7
Mixed Blessings: New Art in o Multicultural America [Bênçãos Bett i na Knaup e Beatric e
Mari Carmen Ramirez. Talvez a publicação mais estabele-
Ellen Stammer (orgs.) .
mistas: novo arte em uma América multicultural] (1990, re.oct.fem i nism #2 - cida e conhecida sobre o assunto seja o livro de Camnitzer,
fig . 8), de Lucy Lippard, promove um diálogo amplo entre o performing orchive
{re . a g ir . femini s mo # 2 - Conceptualism in Latín American Art: Didactics of Liberotion
culturas e trota de um grande número de artistas latino- um arq u ivo per formá t i co] [Conceitualism o no arte latino-americano: didática da
(Nuremb e rg : Verlag fLlr
-americanas. chicanas e latinos, tais como Celia Álvarez Moderne Kunst; Lo ndre s : liberação] (2007). Nele, o autor troto de apenas duas
Murioz, Judith F. Boca, Yolondo López, Ano Mendieto, Live Art Oevelopment
artistas dentro de um âmbito especifico: Lygia Clark.
Agency. 20 14 ).
Amolio Meso-Boins, Regina Voter e Cecília Vicurio. 34 com Hélio Oiticica, e Liliana Porter, no New York Graphic
Chicana Art: Resistance and Affirmation, 1965-1985 [Arte Workshop, do qual Comnitzer era membro com José
chicana: resistência e afirmação], exibido no Wight Art Guillermo Costillo. Ao folar do Chile, Camnitzer traz
Gollery do Universidade do Califórnia, em Los Angeles, Dia melo Eltit, do Colectivo de Acciones de Arte (CADA).
em 1990, foi o primeiro mostro histórico de arte chicana no Lotty Rosenfeld e Cecília Vicuria. Gracielo Carnevale.
país, apresentando trabalhos de 45 mulheres, tais c omo Antonio Eiríz, Gego, Lourdes Grobet, Marta Minujin.
Álvarez Murioz, Baco, Yreina D. Cervantez e as Mujeres Antonieta Soso e Sílvio Torras são rapidamente nome·
Muralistas. O livro de Shifro M. Goldmon, Dímensions odas; Paz Errázuriz, Beatriz González, Margarita Paksa
of the Americas: Art and Social Change in Latin America e Ly9ia Pape são relegados às notas de rod ape. · Ramirez
and the United States [Dimensões dos Américas: arte e • t s mulheres
também mostrou pouco interesse em art1s o .
mudança social no Américo Latina e nos Estados Unidos] dentro de suo ideia de conceitua /ismo. Seu ensmo
{1994, fig . 9), inclui uma seção intitulada "Mulheres "Tactics for Thriving on Adversity: Conceptualism in
falando", com cinco ensaios que abordam artistas Lotin Americo, 1960-1980" [Táticos para prosperar na _
mulheres, como Lourdes Grobet e Ano Mendieta, e · · Latina 1960
adversidade: conceitualism o na Arnerica ·
também os artistas chicanas Barbara Ca rrasco, Isabel
1980] inclui discussões relevantes so bre O trabalho mi
Castro, Diane Gomboo, Ester Hernández, Judithe de Lygio Clark e menciono GrocIe . 1 C nevale. Noe
a ar
25

A invisibilidade da■ artista■ latino-americana•

Esco nd ell. Margarita Pokso e Li liono Porter.• 0 o critério Notas


usado por esses autores poro definir o conceituo lismo é Sobre esta questão, ver MAYER, Mónica. Roso chi/lante , Mujeres

heroico, pol ítico e até militante, deixando pouco espaço y performance en México. Cidade do México: Conaculta/Fonca e AVJ.

poro os formos de conceituolismo e arte experimental que 2004 e BARBOSA, Araceli. Arte feminista en los ochenta en México, Una
abraçam · t · · - · perspectiva de género. Cidade do México, Casa Juan Pablos; Cuernavaca,
. _ in eqe1çoes mais subjetivos e lutos pessoa is e
politicos, amplos ou intimas. É particularmente relevante Moreias: Universidad Autónoma dei Estado de Moreias, 2008.
0 ausência de artistas mulheres como formadoras do arte 2 Essa pergunta está relacionado ao ensaio de Linda Nochlin, de 1971,

conceituai e experiment al no Américo Latino entre as "Why Have There Been No Great Women Artists?" [Por que não existiram

décadas de 1960 e 1980, embora devo-se apontar as grandes artistas mulheres?] ln NOCHLIN, Lindo. Women, Art. and Power and

exceções do Brasil e do Chile•• e, nos últimos anos, do Other Essays. Nova York: Horper & Row, 1988, pp. 145-78. No entanto, difere

Argentino, do Peru e, até certo ponto, do México.42 dela, pois é uma pergunto afirmativo que leva o uma investigaçã o ativo.
Fig. 3 Este texto não pretende ser completo em t ermos de referências e
Embora o disposição em replicar o sistema de Lucy R. Lip pa1·d, Mi xed
exclusão ainda persista, desde a década de 1970 o meio Ble ssings: New Art in não inclui literatura sobre os po ises do Américo Latino individualmente.
o Mu 1t i cu1turo1 Americo
passou por uma imenso transforma ção e, como vimos, 1 Bençãos mistas: nova arte 4 Por exemplo, ln Wonderland: The Surreolist Adventures of Women
em uma Amér i ca Artists in Mexico and the United $tares, uma exposição com curadoria de
isso se reflete na produção de novos estudos, histórias multicu ltur al 1 (Nova York:
da arte e exposições que reconhecem as mulheres como Pa ntheon . 1990). !Iene Susan Forte Tere Arcq no Los Angeles County Museum of Art, em

formadoras originais do campo abrangente da arte 2011, apresentou trabalhos de 48 art istas do México e dos Estados Unidos,

moderna e contemporãneo . A própria existência de cobrindo um período de mais de quatro décadas.

Mulheres radicais é umo evidência, pois revela como 5 /nverred Utopias: Avanr-garde Art in Latin America. New Haven, CT:

as artistas mulheres ativas entre os anos 1960 e meados Yale University Press; Houston: Museum of Fine Arts, 2004; The Sites of Latin

dos anos 1980, por meio de explorações de poéticas Americon Absrraction. Milão: Charta; Miami: CIFO, 2006; e The Geametry

do corpo arrojadas e criativas e um envolvimento com af Hope, Lotin American Abstract Art from the Patrícia Phelps de Cisneros

lutas sociais e políticas, quebraram estruturas patriarcais Collecrion. Austin: Blanton Museum of Art, University oi Texas, 2007;

para transformar a arte de forma radical. são apenas alguns exemplos de exposições q ue apresentaram artistas
mulheres trabalhando com abstração geométrica.
6 Arte de conrradicciones, Pop, realismos y político; Brasil-Argentino

01mrns1ons or J960s, com curadoria de Rod rigo Alonso e Paulo Herkenhoff poro o
TH[ Affl[lllCAS Fundación Proa. Buenos Aires, em 2012; The World Goes Pop, organizado
pela Tete, Londres. e lnternational Pop, organizada pelo Walker Art Center,
ambos em 2015, incluíam trabalhos de algumas artistas latino-americanas.
Fig . 9 7 Whitney Chadwick explica que o critico J. K. Huysmans, por
Shif r a M . Goldman,
Dimensions of the Americas: exemplo, atribuiu a habilidade que Mary Cassatt tinha poro pintar
Art and Social Chonge
in Lotin Americo o nd the crianças ao seu gênero. e não à sua competência artística. Tal explicação
United S tates [D i mensões está vinculada à divisão entre a esfera pública do " Homem de razão" e o
das Amé ricas: arte e
mudança soe ial na Amé rica mulher submissa no ambiente doméstico, que se tornou a normativa no
La tina e nos Esta dos
Uni dos! (Chic ag o: século XIX. CHADWICK, Whitney. Women, Art, and Society, 4a ed. Londres,
Universi ty o f Chicago Thames & Hudson, 2010, pp. 40·1.
Press, 1994 ) .
8 Para uma discussão mais ampla sobre o tema, ver: LIPPARD, Lucy.
"Sweeping Exchanges: The Contribution of Feminism t o the Art oi the
1970s" ln The Pink Glass Swan: Selected Feminist Essays on Art. Nova York:
New Press. 1995, pp. 171- 82.
9 O texto diz:

Alvoro Barrios: Agora que você mencionou Sara Mediano,


gostaria de saber sua opinião sobre os artistas que, de repente,
param de fazer arte por um período de tempo e depois de
muitos anos voltam a t rabalhar, ou aqueles que param de
trabalhar totalment e paro se dedicar a outros coisas. O que
você acha disso?

Miguel Angel Rajas: Eu não acredito nessas pessoas .. Ser


Fig . 10
Deborah Cul len (org . ), Arte a rtista é como respira r!
Vida : Actions by Artists
1.
Alvora Barrios: No caso que mencionamos, essa pessoa t inha
of the Americas , 1960 - 20 00
[Arte -. vida : açõ es de uma carreira, ela participou da Bienal de Sidney, por exemplo.
artistas das Amér icas
1960-2000) ( Nov a Yorkl BARRIOS, Álvaro. "Conversoción con Miguel Angel Rajas" ln Origenes dei
Museo de 1 Bar r io, 200 8 ) . arte conceptual en Colombio. 2o ed. Medellin: Museo de Antioquia, 2011,
p.121.

10 Os cadernos estão na coleção da Fundación Saro Mediano para


las Artes, em Bogotá.
26

Cecllla FaJardo-HIII

n I RAl<A Mllr lo · 1,, rllll\rrn do roslstoncla" ln IILEGRIII. Fernando Gego e Miro Schendel oté artistas mais conte .
(0111) t rl,'mlwn , prmrs ,•rr Amórrcn t orlna. Corocas, Monte . . mporoneos co
!'1'· 49 BO.
Avllo, 1971, Gonzolez. Joc Lerrner, Ana Mendieta , Catolina p
erro e ll 10 0
"'°
Beo~11
20 Biller admite que é uma ·gringo" orgoniz d ' " Pone,.
12 NC'I tJlllPOde 0 11 1::.to~ homons ostnvarn Fernando Botero. José an o uma
Luis
l\1rvos \V1t10d1.1l l u ,1. Rnbf'1 to Mattn. Alojondm Obregón,
tradicional museu americano e descreve asco .d
- .
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nsr eroções Que . •~
"'º
Poro
Armando a seleçao das artrstas, que foram o inovação ort· .
definrr0r-i
Rm r ron t r , nn11ctn dP S:·, silo 1..1 lh1hno Tnmayo. 1st1ca e O~
ausência de questões de gênero, conforme ex PresenÇo o,,
13 t 111 \W llll. o 11Hl•1üs~c dL' lrnbo em mulho,cs rn tistos foi maior O
nos pressado no d'
sobre o trabalho de coda artista ou em sua vida . 'SCussoo
OllOS 1960 ü 1970 do qu~ no dcr ntlo do 1950. Nos anos 1950. elo escreveu . . .
Geraldrne P. Lotrn Amerrcon Women Artists/Artistacomo. artista"· B
em tom fnvo,ovf•I sob10 a~: mt1~tns Cecihn Porros. Maria Thereza ILLER.
. . s1
Negreiros 1915-1995. Mrlwoukee, Mtlwaukee Art Museum, 19 ,otmoamerlC
p. _
Ono
o llrcy Tejada. Posto1101rnc1111•. ~lo turnbém deu enfoque aos 95 19 s.
trabalhos de 21 lbid., p. 21.
Jul,o Acu110, Felrzo Bur sztyn, Bentrrz Daza, So1110 Gutiérrez, Ana
Mercedes 22 TRABA, Morto. Art oi lotin America, 1900·1980
Hoyos e Nrr ma Zarote, embora não mostrasse qualquer interesse .
8
em -American Development Bank. 1994. Traba resumes · altrmore• . _ · ler.
ln
Debora Arango. Agradeço a Carmen Maria Jaramillo pela sua uo vrsao de on 1
contribuição -americana que, até meados dos anos 1990, era um t
sobre o abordagem de Traba em relação a artistas colombia . . . e Otrll<}
. anto
nas. Em convencronol, rnclurndo os mesmos artistas que ela d f retrogrado .
e
Prapuesra polérnrco sobre arte puerrorriquerio (Rio Piedras, PR: e endro nos déco
Librerio de 1970 e 1980 e dando muito pouca atenção prátic
lnternocionol. 1971). Traba dedica um capitulo a Myrno Báez O . dos
("Myrna Báez as expenrnen1 .
23 GIUNTA, Andreo. "Género y feminismo, Perspecf d
tr as la barricada ", pp. 121·34). ms.
rvos esde Am..
Latina· ln Exit Boak, Modri, n. 9, 2008, pp. 90-5.
14 TRABA. Marta. "Tecla Tofono ars politica". EI Nacional, Corocas, errco
24 REIMAN, Karen Cordero; SÁENZ, Inda.
3 nov. 1973. Critico femin' I
1s1o en Oteori0
e historio dei arte. Cidade do México, Universidod lberoom .
15 BAYÓN, Domián. Aventuro plástico de Hisponoomérico, Pintura, encano. UNAM
Programa Universito rio de Estudios de Género, Consejo Nacional
cinetismo, artes de la acción (1940-1972). Cidade do México, llOro~ ·
Fondo de Cultura y las Artes, FONCA; CURAR, 2007. Em meodos dos onos
Cultum Económica, 1974, pp. 128·9. Ele fala sobre Morto Minujin 2000
e foram iniciadas pesquisas pioneiras nos campos da arte fem·,n·
descreve seu trabalho como "curioso" e, quando ele estava terminand t '
o is a e sobre
artistas \atino-americanas. Sobre o México, ver, MAYER. Mónica.
o livro, em 1973, declarou que a trajetória de Minujin era "cintilante Raso
e chi/lante, op. cit.; BARBOSA, Araceli. Arte feminista, op. cit., bem
passageiro· . que "seu próprio sucesso hovia lhe esgotado" e como os
que as
exposições históricas, Historia de mujeres artistas en México dei
empresas norte-americanos que pagavam por experiências sigla xx.
artísticas com curadoria de Germaine Gómez e Miguel Cervantes, poro
absurdas não estavam mois interessodas nela (p. 274). O Museode
Arte Contemporáneo de Monterrey, em 2008, e Mujeres derrós de
16 STELLWEG, Carla (erg.). "Mujeres, orte, femineidod". Artes visuales lo lente,
9, 100 anos de creación fotográfica en México 1910·2010, com curadoria
edição especial. jan.-mor. 1976.
de Emma Ceci\ia Garcia Krinsky, em 2012. Sobre outros poises
17 As mulheres eram Tarsila do Amaral, Leonoro Carrington, Lygio lalino-
·americanos, ver, PENA, Julie Antivila. "Entre lo sagrado y lo profano
Clark, Maria lzquierdo. Frida Kahlo, Anita Malfattl, Lygia Pape, se
Amelia tejen rebeldias, Arte feminista lotinoamericano; México, 1970-1980·,
Pelóez. Alice Rahon-Paalen, Miro Schendel, Tilsa Tsuchiya e Remedias
dissertação de mestrado, Centro de Estudios Culturales Lotinoomer
Varo. Outras exposições internacionais com artistas latino-am iconos.
ericanos Facul tad de Filosofia y Humanidades, Universidad de Chile, 2006.
foram Cortographies, 14 Latin Americon Artists, com curadoria GIUNTA.
de Ivo Andrea. "Mujeres entre activismos, Una oproximación comparativ
Mesquita e Paulo Herkenhoff, para a Winnipeg Art Gallery, em o oi
1993. que feminismo artístico en Argentina y Colombia ". Coiono, Revisto de
incluiu três mulheres entre os catorze artistas da mostra, e The hisrorio
Bleeding dei arte y lo cultura visual, n. 4. 2014. Disponível em, <http://caio
Hearr, com curadoria de Olivier Debroise, paro o lnstitute of no.coio.
Contemporary org.ar/templote/coiona.php?pog=articles/article_2.php&obj=1 49&vol,4>.
Art. em Boston, que incluiu seis mulheres entre dezoito artistas.
Cinco dos Acesso em, 9 mar. 2018. ROSA, Ma rio Loura. Legados de libertod:
quinze artistas cujos trabalhos foram incluídos em Ultrabaro EIone
que: Aspects feminista en la efervescencio democrático. Buenos Aires, Bib\os,
oi Posr-Latin American Art, com curadoria de Elizobeth Armstrong 2014:
e Victor JARAMILLO, Carmen Mo rio. Mujeres entre lineas: Uno hisroria enclave
Zamudio-Taylor, para o Museum oi Contemporary Art de Son de
Diego, em educocián, arte y género. Bogotá: Museo Nacional, 2015. Sobre O
2001, eram mulheres. quesiáo
da arte feminista e gênero, ver o texto de Julie Antivila Peno, Mónica
18 As mulheres incluldos foram Tarsila do Amaral, Frida Baranek, Moyer
Ledo e Maria Lauro Rosa e o texto de Andreo Giunta, "A virada iconográfico
Cotunda. Lygia Clark, Gego, Maria lzquierdo. Frida Kahlo, Joc ·,
Leirner,
ambos neste livro.
Rocio Maldonado. Morisol, Ana Mendieta , Liliono Porter. Lidy
Prati e Mira 25 Com as artistas Débora Arengo. Potricio Bravo, Johonno Colle.
Schende l. Latin Americon Art oi the Twentieth Century (Nova
York, Thames Maria Fernando Cardoso. Clemencia Echeverri, Maria Elvira Escollón.
& Hudson, 1993). de Edward Lucie-Smith, traz os mesmas omissões
e Beatriz González. Delcy Moreias, Glorio Posado e Líbia Posado.
incluiu as mesmas "figuras carimbados", tais como Tarsila do
Amoral, 26 . . . . portanto náo
Meu enfoque aqui são exposições 1 nstItucrona rs,
Leonoro Corrington, Lygia Clark, Raquel Forner, Gego, Frida
Kahlo, Maria .
discuto mostras organizados por artrstos paro I·d ques1ões de
Luisa Pacheco, Amelia Pelóez, Remedias Varo e Tilso Tsuchiya. r ar com
O autor, • . - . . 986 1988), que foram
genero, tais com as duas exposrçoes Mrtomrnos (1 ,
apesar de pretender cobrir a totalidade do século XX, adoto .
uma revisitadas em Mitominos: 30 anos después, com curadoria de
Marro
abordagem limitado e estereotipada da arte latino-omericono,
excluindo Laura Rosa. no Centro Cultural Recoleta, Buenos A'rre sem 2016.
· ygro
completamente o conceitua lismo e a arte experimental. . d d Judith Boca, L
27 WACK! apresentou trabalhos de Sonro An ra e,
19 Devido à sua cronologia. a mostra incluiu um grande número . . . Mónica Moyer.
de Clark lole de Freitas Leo Lublin, Anno Marro Marolrno.
artistas. ilustrando a evolução dos pri ncipais tendências desse ' • . h
período, Ana Mendieta , Catalina Parra, Mrro Se en deI e cecilio Vicuno-
cobrindo desde Tarsila do Amaral, Raquel Forner, Frida Kohlo, Re9'"º
Anita 28 Global Feminisms apresentou traboIhos de Tanio Bruguero, .
Malfatti e Amei ia Pelóez, passando por artistas abstratos como . .
Lygia Clark, José Galindo, Teresa Margolles, Prrscrllo Monge e Adriano vareI00.
A invisibilidade dos ortist<>S lotlno-am oricanos

29 Publicações importantes mantiveram ur:,iJ obo1dogem trodic,onal (orgs.}. L A. ,\ icono. Los Angeles: UCLA Chicono Studies Reseorch Cenrer
em relação à proporção de homens e mulheres. Per e, emp\o focqu~lme Press. 201 1.
Bamitz. em seu livro Twenoerh-Cenruq, Arl of lctin 4.me.rico l..\ustin: 38 Entre os artistas incluídos estavam: Tonia Bruguero, Nao Busto mante.

University of Te.xas Press, 2001) menciona um numero considero,~\ de CADA. L),gio Cla rk. Coco Fusco, Regina José Golindo, Teresa Morgolles.
anistos mulheres. No entonto. ela destaco apenas alguns nomes e Ano Mendieto, Marta Minujin e Lotty Rosenfeld. Deboroh Cullen também
tendências comuns {especialmente em comparação com os equivalentes organizou a exposição Nexus New \'ork: LatirvAmericon Artists in the
masculinos): Anita Molfotti e Torsilo do Amoral, para o vanguarda dos Modem Merropo/is. em 2009, com énfose em importantes art istas

anos 1920; o s a rtistas surrealistas Leonoro Corrington, Raquel Forner. coribenhos e lotino-omericonos que viajaram e residiram em Novo York
Maria lzquierdo, Frido Kohlo e Remedias Va ro e as artistas neoconcretas durante os primeiros décadas do século XX e que participaram de
Lygio Clark e Lygio Pape. Conremporory Art in l orin Americo (Londres: diálogos artistices. A mostro inclui obra s de Maria lzquie rdo, Frido Kah lo.

Blackdog, 2010). de Gerardo Mosquem , trata de 11 mulheres entre um Anita Malfotti, Maria Martins e Amelia Peláez.
total de 50 artistas. 39 Um exemplo revelador d isso é o e.,posição Perder /o formo humano,

30 O arquivo incluio artistas Que estiveram ativos entre os dêcodos Uno imogen sismico de los anos ochenta en Americo latino. com curadoria

de 1960 e 1980: Margarita Azurdia, Tonio Bruguero, Moris Bustamente, de Red Conceptualismos dei Sur. poro o Museu Nocional Centro d e Arte

Grocielo Cornevale, Lygio Clark, Teresa Maria Dio z Nerio, Diomelo Eltit, Reino Sofia, em Modri, em 2012, que foi acompanhado por uma

Coco Fusco, Regina José Golindo, Anno Bello Geiger. Maria Teresa pub licação com o mesmo titulo (Modri: Museo Nocional Centro de Arte

Hincopié. Leo Lublin, Maria Evelio Mormolejo, Mônico Moyer, Ano Reino Sofia, Departamento de Ac tividodes Editorioles, 20 12). De aco rd o

Mendieto, Morto Minujin, Letícia Parente, Polvo de Gollino Negro. Jesuso com o listo de participantes do mostro. pub licado no catálogo, de um

Rodriguez/Liliono Felipe, Antonieta Soso, Cecília Vic uno e Yeni y Non. total de 178 artistas, 110 são homens. 54 são coletivos e 14 são mulheres.

31 Ver, por exemplo, GIUNTA, Andreo. "Feminist Disruptions in Mexicon 40 RAMiREZ. Mari Cormen. "Tactics for Thriving on Adversity:

Art, 1975-1987" ln Arte/ogie: Recherches sur /es orts, /e patrimoine et lo Conceptualism in Lotin Americo, 1960·1980" ln Globo/ Canceptuo /ism,

/ittéroture de l'Amérique Latine, n. 5, 2013. Disponível em: <http://crol.in2p3. Poínts of Origin, 1950s-1980s. Novo York: Queens Museum o f Art, 199 9,

fr/ortelogie/ spip.php?orticle271>. Acesso em: 9 mor. 2018. pp. 53-n.

32 PEDROSA, Adriano (org.). Artevido, v. 1. São Paulo: Cobogô, 2015. 41 Artistas mulheres. ao lado do teórico cultural Nelly Richard, foram
33 No original · women of calor·. variação de ·person of calor", centrais poro a cena artístico conceituai e político do Chile. Ver o ensaio
utilizado poro descrever pessoas pertencentes à etnias negros. indigenas. de Andreo Giunto sobre o Chile nesta publicação.

latinas. chicanas. asióticos e outros não-broncos. O uso da expressão 42 Por exemplo. o exposiçã o Obras san amores, Arte-Vida-México,
carrego uma conotação politico que enfatizo o experiência comum do 1964-1992, com curadoria de Morisol Argüelles e Luis Orozco, no Muse u
racismo estrutural vivenciado por estes grupos, frequentemente excluidos de Arte Moderno do Cidade do México, em 20 14. Ver também o ensaio
e marginalizados em nosso sociedade. Poro o versão em português, de Koren Cordero Reimon nesta publicação.
optou-se por manter ao longo de todos os textos a tradução como
"'pessoas de cor·. em uma tentativo de expandir o discussão em torno
dos opressões sistémico s vivenciados por estes grupos. [N.E.]
34 LIPPARD, Lucy. Mixed Blessings: New Art in o Multicultural Americo.
Novo York: Pontheon, 1990. O livro abordo Celio Álvorez Muiioz, Asco,
Judith F. Baco, Santo Borrozo, Maria Brito, Josely Carvalho, Cristina
Emmonuel, Maria Enriquez de Allen. Marino Gutierrez. Ester Hernândez.
Valando Lôpez, Ano Mendieto, Amalio Meso-Boins, Cotolino Porra, Liliono
Porter, Sophie Rivera, Potricio Rodriguez, Merión Sato, Kathy Vorgo s,
Regina Voter e Cecilia Vicurio.
35 GOLDMAN, Shifro M. Dimensions o f the Americos, Art ond Sacio/
Change in Latin Americo and rhe Unired Stares. Chicago: University of
Chicago Press, 1994, pp. 177-241.
36 lbid, p. 234.
:n FULLER, Diana Burgess; SALVIONI, Daniela (orgs.). Art/Women/
Calilornia, 195D-2000, Parai/els and lntersections. Berkeley: University
of Colifornio Press; San Jose: San Jose Museum of Art. 2002. Outro
exemplo é LA Xicona - um projeto com curadoria de Chon Noriego,
Terezita Romo e Pilar Tompkins Rivos. como porte do iniciativa da Getty
Foundotion, "Pocific Standard Time: Art in L.A. 1945-198D" [Horário padrão
do Pacifico: arte em Los Angeles 1945·1980]. em 2011 -
composto de cinco exposições interligadas em Los Angeles. Foi incluído
um grande número de artistas mulheres de descendénc,a mexicano:
Judith F. Baco, Barbara Ca rrasco, Yreina Cervontez. Dora de Lor1os,
Sandro de lo Loza. Isabel Ca stro, Elsa Flores, Judithe Hernández, Norma
Montoyo, Nanc y Tovor, Lindo Vallejo, Potssi Voldez e Lucila Villosenor
Grijolvo. Ver: NORIEGA, Chon; ROMO, Terezito; RIVAS. Pilar Tompkins
Desnat uraliza do e destitu ído de m oralida de socia l e
nova
_ mais esp ecifica mente - de fun ção biológi ca , essa

A vi ra da concep ção d e corpo ativou um sab er que


sensibil idad es até então nunca expressas em imagen
parte de um p ro jeto
desenc

tão
adeou

dissem
s-
inado,
pelo menos não como

ic on og rá fic a: múltiplo e simultâ neo. Projeto este que não estava atrelad
0 uma pauto único e unificad a, mas que era formula do .
em diferent es context os, com base em estra tég ias c ultura
o

is

ad es no rm a- e históric as especificas.
De modo geral. o c orpo estava no centro das
1960 ,
preocupações polltica s. sociais e esté ticas d os a nos

liz aç ão do s 1970 e 1980 . Em filosofi a e teoria, isso sig nificou


observa ção e a análise do corpo regulad o e m onitora
p elo social e da sexua lidad e c omo o gra nde
a

narrati va
do

corpos e usada pelo Ociden te p aro organiz ar e estig matiza r


diferen ças. Tais p erspect ivas foram formula das por
Michel
Fouc ault em suas o bras fundam enta is, Vigiar e punir:

sensibilidades nascim ento da prisão (1975) e História da sexuali dade


(1976-1984).' Como óleo derram ado, essa conscie ntizaçã
do corpo se espalho u no campo da cultura e, com
o

na ob ra de intensid ade particu lar, nas represe ntaçõe s artístic as.


Começ ando nos anos 1960 e alcanç ando os anos 1980,
os artistas latino-a meric anos e latinos classifi c ados

ar tis ta s latino- socialm ente como mulhere s (indepe ndente mente de


identifi cação de gênero ou autorre presen tação individu
sua
al)

• produzi ram obras de arte experim entais que introdu ziram

-a m er ic an as mudanç as radicais na forma como o corpo era represe


tado. De fato, a pesquis a artístic a resulta nte foi tão
mo
n-
intensa
que eu d iria até que as artistas feminis tas e o feminis

An dr ea Giunta artístico - a posição historio gráfica a partir da qual


eu analiso os trabalh os dessas artistas mulher es - foram
do
responsáveis pela maior transfo rmação iconog ráfica
Nos anos 1960, artistas começ aram a produzi r novos
século XX.2
represe ntações do corpo. Emergia , assim, uma virada
Desarm adas por mecani smos que desaut orizava m
iconogr áfica radical das tradiçõe s estabel ecidas. O corpo as
termos c omo mulher, feminismo e artistas mulher es,
escond ido e fi xo, acome tido por estereó tipos, ou até em
artistas latino-a merican as não estava m vincula das,
mesmo por tabus ligados a estrutu ras patriarc ais do que
termos geracio nais, ao movime nto de arte feminis ta
modern ismo heteros sexual e normat ivo, passou a ser Unidos , por exempl o.3 Sua
se desenv olveu nos Estados
questio nado e investig ado de modo intenso. Um corpo
identifi cação com a cena política foi, em maior parte,
redesco berto veio à tona no campo das represe ntações
definida por um compro misso com a causa revoluc ionária
ortistica s, tanto na Améric a Latina quanto internac ional-
s de resistên cia à s ditadur as da região. Todavia , em seus
mente (fig. 1). Durante os anos abarca dos por Mulhere
merican a, 1960-1985, artistas inverte- trabalh os, elas explora ram o repertó rio de questõe s
radicois : arte latino-a
ram o ponto de vista a partir do qual o corpo feminin o aborda das pelo feminis mo. Embora não se chama ssem
hovia sido, até então, represe ntado (o nu, o retrato, F 1g . 1 de feminis tas, elas examin aram, com intensid ade, a
subjetiv idade e a situaçã o problem ática da mulher na
Annomar lo He l nri ch,
as imagen s da matern idade, sempre vistos do mesmo Voranean do en la cludad
pela
ângulo, origina lmente ancora dos em parâme tros de
1 Veranean do na e ldade J, socieda de e c omo ser condici onado pela biologia e
1959 , Fotograf ia e m preto nas
sentido , as artistas latino-a merica
represe ntação regulad os pelas conven ções da arte o bro.nco ( tl l me Kodnk) . cultura . Nesse
Corlestu da artista . nta -
acadêm ica do século XI X e, depois, pelas convenções
do subvert eram comple tament e os sistema s de represe
século XX). Artistas também ção. O corpo foi o campo de batalha a partir do qual
modern ismo do começo do
se envolve ram em uma pesquis a sistemá tica de preocu- lançara m novos saberes, sendo a perform ance um
pações que ainda não haviam sido explora das. Com instrum ento privileg iado.
materia is, substân cias e linguag ens inéditos, eles Meu uso do termo artistas mulhere s não implica , de
em
solapar am os sistema s de represe ntação existentes. forma alguma, o endoss o de c lassific ações basead as
biológi co. Minha intençã o
o eixo de suas intervenções foi a desestruturação dos qualqu er tipo de essenc ialismo
formato s soc iais que regulav am o corpo, levando ao é tornar visível o fato de que a soc iedade empreg a a
,
surgime nto de um novo corpo e à destruiç ão do corpo classific ação biológic o paro diferenc iar mulheres e homens
não levando em conto suas escolho s sexua is. O sistema
onterio r, cultura lmente estabel ecido.
30

Andrea Giunta

da arte vem discriminando as artistas que são classificadas investigações em formo de d...
como mulheres, fazendo com que se tornem invisíveis. iono (Lea L bl
representado pela experiênc· . u in); t-o,
Com um repertório que questiona esse essencialismo, ia repet1veI d
como trauma (Lygio Clark)· cor O no~""-
as obras produzidas por artistas mulheres representam ·b·d ' !)Os 9eston1
ex1 1 os como material escult · • es forc·""'to
111
outros corpos e outras sexualidades, e refletem as onco recorr
(Johanno Hamonn); 0 nosciment to· endo o0 o!) .
preocupações de identidade e diferenço que viriam o .. . o I tronsfo ,e,o
uma experiencI0 úmido, fluido e t r~en,
ganhar forço política nos anos 1980, quando emergiram . ransformod
Nan); o gravidez das próprios artist , . ora <Yeri 1
tormas alternativos de entender o corpo. Suas intervenções • . • . os 101 relo .
o vI0 1encIa (Morta Maria Pérez) A . cioOOdo
possibilitara m a visua lização de uma estética que . • ntec1pando
Fig. 2 começariam a ser desenvolvidos . .
questiono va lores patriarcais. Essas poéticas estavam Antonia Ei riz. Uno tribJro . princ1palme Pcutosci. ,,
poro lo poz .::erocrõ : .:c c decada de 1990, essas artistas des nte no
comprometida s, de maneira muito critica, com o problema {Uma tribuna para a oa : mantelarom
gestantes, bem como grandes barrig . COíPos
do identidade sexual, abrindo o caminho para as democ rática} . i9ôS . Óleo - as e sinto
e colagem sobre tela. gestaçao, poro transformá-los em dis . . masdo
estéticas lésbico, gay, queer, transexual e outras, como 2 19,7x250.2 cm. Museo . P0Sll l\'Qs Que
Nacional oe Bellas :..r-ces. pod eriam agir em qualquer corpo tr f
processos que dissolvem as representações normativas . , ons ormondo d
Havana. Cuba. certa maneiro, a maternidade em algo ' e
da sexualidade. Nos últimos anos, essa diversidade foi . Queer (Pol\'O d
Ga 1hna Negro). A maternidade também f • . . e
nomeada e explorada à medida que foram se desenvol- ..
d e uma formo poetIca o1 SOc1ohzodo
na arte postal de G .
vendo complexas teorias de gênero. Isso não significa, roc1elo Guti .
Marx, como um convite paro comemorar . . "= rre.:
O aniversario
no entanto, que as artistas representadas nesta exposição de sua mãe. Utilizando imagens e performan
aderem ou estão cientes das diferenciações que eu . ces rnarcon,~
artistas condenaram o crime de estupro (An , . ,.
0 " 1end1 e1a
estabeleço aqui, com base em debates e instrumentos Josely Carvalho). ·
teóricos atuais.
Em suas representações , essas artistas subve
No caso da América Latina, a relação entre corpo _ rteram
o genero do retrato. lnterviram nele com o uso de
e violência é central. Ditaduras e aparatos repressivos dispositivos de catalogação de fotos de identificação.
submeteram o corpo a noções de punição que eram fotos policiais ou de turismo e com o manipulação do
indiferentes aos quadros estabelecidos pelo conceito de discurso médico (Teresa Burgo). Usando os materiais
humanidade que - conforme analisa Foucault em Vigiar culturais reunidos em seus ateliês, produziram retratos
e punir - passou a ser dominante na Europa moderna a insinuados, em vez de representacionais (Narcisa Hirschl-
partir do século XVlll. 4 As convenções de uma economia cobriram suas caras com tinta, tornando-os matrizes ·
da disciplina e da punição estabelecidas pelas prisões de impressão ou máscaras (Nelbia Romero); assumiram
modernas e pelos sistemas educacionais foram implodidas expressões satíricas para mostrar diferentes estados
Fig. 3
no contexto das ditaduras latino-america nas, resultando Elda Cerrato , Lo nora
de humor (Mónica Mayer, Regina Voter); questionaram
de los pueblos [ A hora
em uma violência disseminada que anulou as estruturas dos povos ] . 1975. Tinta identidades sociais pré-atribuidos (Morisol); desafiaram
de controle institucional. Detenções ilegais, torturas, acrllica sobre tecido .
150x95 cm. Cortesia os limites da religião representando a si próprias como
nascimentos em centros de detenção secretos e o roubo da art is ta e de Henrique a Virgem de Guadalupe (Yolonda López); mostraram-se
Fa r ia , Nova York &
de crianças cujo paradeiro é, em muitos casos, até hoje Buenos Aires. subindo a mesma escada repetidas vezes em uma busco
desconhecido : essas são algumas das circunstâncias infinita (Margarita Morselli). Por meio do autorretrato,
que marcaram a situação do corpo, em geral, e do corpo elas interrogaram identidades em trânsito, deslocaram
feminino, em particular, sob as ditaduras latino- identidades indigenas (Anna Bello Geiger) e deram
-americanas.5 Algumas artistas foram detidas ou forçadas destaque a importantes figuras femininas, tois como
a buscar o exílio: as uruguaias Leonilda González e Lacy Gabriela Mistral, a única escritora latino-americana
Duarte foram presas, e Duarte, Diana Mines e Teresa a ter recebido o Prêmio Nobel (Roser Bru). Elos
Trujillo foram exiladas. A chilena Cecília Vicuna e a captaram rostos assustados pela violência de tesouros
argentina Mareia Schvartz viveram no exterior durante ameaçadoras (Anna Maria Maiolino) ou por redes .
o período ditatorial de seus países.• Métodos específicos sufocantes (Cecí lia Vicuna). Usaram convenções visuais
de tortura eram perpetrados no corpo de mulheres. Em para assinalar as limitações que a sociedade impõe ao
seus trabalhos, essas artistas abordaram, de maneiras sujeito feminino (Marie Orensanz). O gênero do retroto
diferentes, a situação do corpo feminino sob violentas e
foi tensionado em uma crítica aos estereótipos da .
repressoras estruturas políticas, bem como as condições .d.
sociedade colombiana de classe me 10 e aJta (ClenienCfO
sociais como um todo sob a ditadura.7 t iarcois foram
Lucena) e foi a base na qual estruturas po r .
Nesse quadro cultural e político, o trabalho das . s motriarco1 s
questionadas para propor a 1ternativo . r,vi,J·
artistas reunidas nesta exposição desestruturou e deu Fig . 4
. • -0 de interº"
Lygia Pape, Divisor. 19 68.
(Judith F. Baco). O rosto se tornou O territon fio (Lilian,1
visibilidade poética às molduras sociais que regulavam
Tecido branco de algodão com ções sutis na fricção entre desenho e fotogro_
o corpo. Temas estereotipado s foram abordados a buracos . 20x20 m. Re gistro eram a tono
fo t ográfico da performance Porter). O autorretrato e o retrato troux d por
partir de uma perspectiva crítica. A maternidade foi Museu de Arte Moderna, Ri~ os formulo os .
questões, subjetividades e para d ox e·entoç,.i<''
desprovida de seus afetos e passou a ser vista para além de Ja neiro, 199 0. Cortesia antro repr s
Projeto Ly gia Pap e e Hauser sujeitos femininos que se ergueram e do
das categorias pré-autorizada s, para que pudesse ser &. Wirth. · · lentes ao 1on90
canõnicas do rosto fem1n1 no preva
problematizad a. A aura maternal foi subvertida por
história da arte.
31

A virada Iconográfica

O retroto também foi uma formo de representaç ão com O formato da pa lavra "arte", q ue convoc a a boca
usado poro abordar o violência dos ditaduras do região: e O a to de ingerir - u ma obra a ser devorada . Comida,
os rostos de desaparecid os (Roser Bru, Luz Danoso); os labios e bocas são maneiras de reposic ionar a violênc ia,
rostos dos próprios filhos como formo de medir a duração quando, no contexto do ditadura chilena, duas meninas
do ditadura (Paz Errázuriz, Julie Toro); os rostos e os lambem piru litos paro revela r soldodinho s de brinq ued o
corpos dos torturados (Olga Blinder, Sonia Gutiér rez). Em (Gloria Camiruaga ). Substâncias viscosas, impregnado s
alguns trabalhos, o retrato também está associ ada com de saliva, são ingeridos, digeridas e expelidas em um
o violência cometido contra os populações americanas corpo prostrado que então renasce com novas percep-
nativos, seja pela seu extermínio (Nelbio Romero), seja ções em Baba antropofági ca, de Lyg ia Clark (1973).
pelo exotizoção. Por exempla, um cartão-post al na qual Nos traba lhos performá ticos de Sylvia Salazar Simpso n.
Anna Bello Geiger se fotografo vestida de indígena . a artista cobre sua cabeça com alimen tos e out ros
Outras obras exploraram tensões entre os populações
substâncias orgânicas.
indígenas e um governo que não os considerava cidadãos Fig. 5
Em várias obras nesta exposição, o corpo passo por
Clemencia Lucena , Primero
legítimos (Cloudio Andujar). Excepciona lmente, a questão de moyo revolucion ór•i o uma fragmentaç ão que d issolve o olha r pat riarcal. Em
do roço foi introduzido como uma consciência resistente: !Primeiro de Maio
revol ucionário), 19f7. Óleo vez de um corpo, esses trabalhos supõem o possib lid a de
em uma de suas performanc es, o artista peruano Victoria sob re Lela . 160x 130 cm.
de vários corpos - corpos-lasc as. Alguns são peças
Lo cal i zação at ual
Santo Cruz grito "negro!" e "sou negro!", como uma desconhec 1 da. a nalógicas, "máscaras" de fragmentos de gessos quebrados
maneiro desafiadora de nomear o afro-latino-a meric ano do Departamen to de Traumatolo gia de um hospital
e sua experiência . Essa obro torno visível o proc esso que (Dalila Puzzovio) ou as máscaras de um rosto que Maria
expulso os pessoas categorizad os como não tendo o que Martinez Canas remove uma após o outra; barrigas
é considerado o cor de pele certo.
penduradas em ganchos como pedaços de carne em
Imbuídos de politização social, mos também do um açougue (Johanna Hamann); o corpo inspeciona do
político do corpo coletivo redefinido e urbano, alguns em m icroscópio, células e vaginas reveladas em uma
trabalhos representam os mossas. A multidão que ouve cosmogonia anatômico- cientifica p rovocativa (Mercedes
um orador ausente (Antonio Eiriz, fig. 2); o multidão
Eleno González); o corpo fragmentad o em cerâmicas
que assinala o novo tempo histórico do Américo Latina
brutas, feitas à mão e transformad os em peços a serem
(Elda Cerroto, fig . 3); e o multidão que emerge no tensão
montadas (Tecla Tofano); o corpo visto como fragmentos
entre corpos e o matéria têxtil que os anulo (Lygia Pape,
de pele aumentado s para, assim, parecerem uma
fig . 4). Outros apresentam o corpo como multitude e o
paisagem (Vera Chaves Borcellos). Nesses trabalhos,
corpo multiplicado , como no trabalho de Gracia Sorrios;
o corpo deixa de ser. definit ivamente, uma unidade
corpos doutrinados, como nos mostro o obro que
controlada por um único ponto de vista.
Clemencio Lucena realizo desde o década de 1970 (fig. 5);
O corpo é, também, administrad o pelos normas
corpos perseguidos , como retrata Patssi Valdez ao Fi g . 6
Li l iana Mares ca, Cr ist o, instituciona is da arte, em um formato que remete
desafiar estereótipo s de mulheres chicanas e a ameaça 19 88 . Esta t u e t a de
Sa nt erla, a pare l ho de ao controle biopolítico, como no trabalho da artista
sexual que sofriam nas mãos do policia. transfusão, liquido
ver melho. Apr ox . 40 cm
argentina Graciela Carnevole, em que e la tranca os
As obras no exposição lidam com diversas complexi-
de a l tura . Cor t esia do espectadore s no local da exposição, encenando,
dades, incluindo aquelas que remetem a substãncias Arquivo Mon i q ue Al t schul .
portanto, a situação repressiva na Argentina durante
corporais não representáv eis e vistas como tabu, o
o d itadura de Juan Carlos Ongonia (1966-1970). Ou como
expelido e o repugnante (tecidos corporais, sangue
na obro de Lotty Rosenfeld, em que a artista, em um
menstrual, urino, excremento ), convocando uma emoção
gesto ritual, se ajoelha vá rios vezes na ruo para desenhar
que nos coloca diante do outro subalterno.• Na repulsa,
linhas cruzadas com os linhas divisórios do asfalto,
podemos nos ver à distância e diferentes do outro. O
criando, dessa formo, cruzes ou símbolos de adição.
sangue naturaliza com base no diferença biológica e
Sua ação pode ser interpretad a como um estado de
evoco a emoção do objeto.• Sangue, urina, excremento
sacrifício do corpo sob a ditadura. Ou a inda como a
e saliva irrompem coma substâncias indicativas de
série Women under Fire [Mulheres sob fogo) (1980, p. 82).
corpos determinad os culturalmen te (Lygia Clark, llse
de Isabel Castro, que é uma forma de p rotesto contra
Fuskova, Ana Mendieta, Maria Evelia Marmolejo, Sophie
a esterilizaçã o forçada de mulheres chicanas.
Rivera). O sangue é o outro fantasmagó rico que nos
O corpo foi investigado a partir de e rotismos e
aterroriza. Com a disseminaç ão da Aids nos anos 1980,
dispositivos ligados à sexualidade . A cama é entendida
o sangue tornou-se carregado de uma renovado e
não como um suporte para o nu, exposto poro satisfazer
penalizado alteridade, a base de uma novo tabulação
o desejo masculino, mas como um convite ao movimento
das sexualidade s corretas (Liliano Moresca, fig. 6).
erótico (Felizo Bursztyn) e à perda de controle (os colchões
o impulso escatológic o se foz sentir em ações que,
de Marta Minujin). A cama aponto poro a ideia de um
ao mesmo tempo, tangem o doméstico e se distanciam
lugar de submissão (Teresa Burgo, fig. 7) - uma leitura
dele. Esse é a coso, por exemplo, de um trabalho de Sybil
que também se faz sentir em algumas cenas do filme
Brintrup e Mogoli Meneses, no qual elos preparam
feminista de Maria Luisa Bemberg, E/ mundo de la mujer
mariscos para o almoço, ou no biscoito de Regina Silveira
[O mundo da mulher] (1972, p. 64). Uma exploração do
32

Andrea Olun1a

erotism o como 1· f O corpo da artista entrou


ogo, na orma de uma caixa como lugar · . Dança conte
e xpressIvo . em cen a comO
para se amar (Teresin ha Soares); a nudez frontal como mporanea rnat .
expr • d su b verteram o paradigm a d e expressà er1a1
.essao e desacat o (Mareia Schvartz, fig . 8); o • . o corpo n oc 0,,._
c 1ass1co, mist urando-se aos . 0rmalizad ""'OI
erotism o como maneira de represen tar sentime ntos rotos . materiais d o do"
• sobre o aparelho (Ana KamIen, Marilú Marini T os artes . '}(]/~
(Delia Cancela ) ou como uma reflexao , , eresa Tr ..11 VIslJo·18
Sylvia Palacios Whitman ) C ui, o, Marth
reprodu tivo feminino (Margot Romer). Vários trabalho s · orpos nus . a Ara •
ram em marcada oposição à 0 I e Vibrantes ll)(J,
desci 'f• •
ass1 1caram a normalid ade de afetos em busca de . mosfera 0Pressoraerne, d g,.
Cidade do México (Polo Weiss)·, corpos Ira o
beijos insubord inados. beijos que criam fricção entre . . ..
d eram v1s1bil1dade ao extermín ' d nsvestido
peles marcad as por diferenç as de classe e de higiene .
fundaça o do Estado uruguaio (N lb·

o Povo Ch
arrlia n
s
(quando , por exemplo , Diamela Eltit beija um morador . • . e ia Romer ) a
0 ; e tom1-,
corpos como ev1denc1a da existê nc,a .
amea uern
de rua), beijos revoluci onários (Cecilia Vicuiia) ou beijos . .
Çada dos
Yanomam1, na serie Marcados (1981 _
1983
no meio do museu que se transform am em obra-açã o P. 57). de
Claudia Andujar. Com esses trab aIhos os·aq·
(Mónica Mayer e Victor Lermo, fi g. 9). Ist aborda
ram zonas que haviam sido negad os pelas h· as '
.. ·
Em seus trabalho s, artistas mulheres pesq uisaram . 'st0nas
Fig. 7 coloniai s das novas repúblicas lati no-americ ana
a fundo o lugar social da mulher. Elas examina ram Teresa Bur ga , Sem titulo,
1967 /201 2 . Ma d ei r a Como lascas de corpos, sensibilidadeseco s. .
os discurso s da sociolog ia, concebe ndo, realizand o ou compensa da e colcha essas obras nos dão a sensação de um sober difnce,tos,
pi ntadas. Dimensõe s
analisan do estudos sobre o que as mulheres detestam de novas linguage ns e afetos. Se não fosse pela red erente,
variávei s . Coleção
na forma como são tratadas na cidade e em seu discurso particul ar. Vis t a da e pelo descomp rimir do . esca-
instalaçã o, Fri eze Maste r s, berta do corpo espartilho
(Mónica Mayer), ou question ando a relação entre mulheres . .
Londres, 2012. essenc1al1sta que atrelava a sexualida de . b. .
. . . a 1010910,
reais em um local especific o, como o Peru, e as visões .
provave lmente teria sido impossível habilitar a vanedod
estereot ipadas das mulhere s em geral (Teresa Burgo). . ..
de sens1b11idades e escolhas sexuais que hab.11amos e
Seus estudos assumiram formas especificas de partici-
corpos, mesmo em uma sociedade na qual eles são
pação em grupos de conscien tização que, nos anos 1970, -
dividido s entre femininos e masculinos· A revaiuçao das
vinculav am políticas feministas e psicanálise (Narcisa ·.
corpos, liderada pelas artistas mulheres e pelo femm,smo
Hirsch). Esses formatos de troca levaram a performa nces
abriu espaço para as pautas e as formas de visualização·
coletivas, como as que Mayer desenvolveu para artistas
de escolhas formu ladas, hoje, pelos membros das
feministas norte-americanas e mexicanas.
comunid ades lésbica, gay e transexual e de grupos foro
Os interlocutores privilegiados das pesquisas dessas
da chave da conform idade de gênero, e problematizados
artistas sobre a sociabili dade foram os espectadores
nos estudos de gênero e teorias queer, cuja análise
convidados, de diferentes modos, a participa rem de
cultural subverte essencia lismos. A investigação intensivo
suas obras. De foto, a própria palavra participa ção foi
de transgressões nesses trabalhos forneceu e ativouum
fundame ntal para a poética dos anos 1960 e 1970 e
repertór io que question a conclusões a-históricas que
foi expressada nos trabalhos dirigidos por Mayer, no
atribuem a origem dessas preocupações ao final dos anos
convite de Liliana Porter para amassar pedaços de papel
Fi g . 8 1980. Como sempre, a história nos permite ir além do lugar
com as próprias mãos, na manipul ação dos corpos de Mareia Schvartz , Nocturno
comum, para desafiar conclusões que não consideram
Carneva le ao trancá-los em um lugar fechado, no convite !Noturno !, 1979 . Grafite
sobre papel. 49x34 cm. as experiên cias vividas ou a riqueza de estratégias
para brincar e explorar o espaço em La menesunda Cor tesia da artis ta .
formulad as por aqueles que vieram antes de nós.
[A confusã o] (1965, p. 153), de Marta Minujin e Rubén
Mulheres radicais investiga a historicidade que, por
Santant onin, nas terapias de Lygia Clark com objetos ' . meio de imagens, tornou possível conceber novas formos
relacion ais, na comida servida e devorada por Hirsch
em Marabun ta (Formigueiro] (1967, p. 118) e no convite ~ r de lidar com as represen tações do corpo, representações
desclass ificadas e abertas ao cruzame nto de sensibili·
de Margari ta Azurdia para tirar o sapato e sentir a '
.•
dades que eram, antes, hig ienicamente separadas.
areia molhada.
Estava também em jogo uma investigação profunda Em vez de pergunt ar o que essas artistas perderam em
termos de sua represen tação no campo da arte, nós
da subjetiv idade feminina: mapas de desejos, impulsos
e zonas reprimid as reminiscentes, talvez, dos diagram as F!g. 9
pergunt amos: o q ue todos nós perdemos por não termos

de Jacques Lacan (Anna Maria Maiolino); o questiona-


Món ica Mayer e Victor consegu ido vivencia r ou ver vários trabalhos que foram
Lerma, Justicio y
mento de classific ações médicas de histeria feminina democrac ia / Justiça e ocultado s dos locais de exposiçã o? Esse novo conheci·
. . .. spectadores
democrac ia/, 1995. Registro
(Feliza 8ursztyn) e referências irónicas à noção freudiana fotográfic o de uma
mento teve um efeito emancIp atono para os e
da inveja do pênis (Maris Bustamante). Em uma tentativa insta lação participa t i va e também para as artistas, portadoras - desde os décadas
de beij aço, Museo de Arte h ·mento que
de eludir essas formas que filtram a sensibilidade Moderno, Ci dade do Méx ice . abordad as por esta exposiçã o - do con eci
'd d de seus
feminina , Sandra Llano-Mejia propôs um contato direto
Cortes i a do A1·quivo
permitiu que compree ndessem a complex, ª e m
Pinto mi Raya. . tos liberara
com os ritmos do próprio corpo em ln-pulso (1978, p. 129). afetos e de seus corpos." Esses conhec1men
ue estavam
1
Colocan do um eletroca rdiogram a no Museu de Arte um poder, uma autorida de, para aque es q reguIovam
- ue
Moderna em Bogotá, ela convidou os visitantes a levarem sujeitado s a esquem as de representaçao q
para casa suas "emoções cardíaca s impressas".'º os corpos - aqui, em sua maior parte, os corpos que
a socieda de classific a como sendo femininos. Esses
33

Avirada lconogróflca

trabalhos deram forma a um processo de descoloniza ção


Notas
do corpo e de sistemas de validação da arte, pondo 1 FOUCAULT, Michel. Discipline and Punish: The Birth of the Prison.
em xeque o sistema estético patriarcal do modernismo Londres: Penguin. 1977 [ed. bras.: Vigiar e punir: nascimento da prisão. 42ª
em um processo de reformulaçã o ainda em curso. Esse ed. Petrópolis: Vozes, 2D14] e FOUCAULT, Michel. The History of Sexualiry.
conhecimen to desafiou os limites de instituições que, Nova York: Pantheon. 1978-1986 [ed. bras.: História da sexualidade.
hoje, se nutrem e se reformulam a partir dessa explosão São Paulo: Paz e Terra, 2014]. Vigiar e punir e História da sexualidade
do cânone. Portanto, o feminismo artístico e o criticismo representam uma sistematização complexa da análise de sistemas de
feminista da história da arte contribuíram para uma controle do corpo, dos quais começou-se a tomar ciência nos anos
reformulaçã o de valores estétic os e representaç ões do pós-guerra. o feminismo e as representações do corpo feminino na arte
corpo que ainda são vitais para nós. Eles liberaram a fizeram parte desse processo. Técnicas penitenciárias e sua aplicação
representaç ão do desejo. Forneceram novos saberes que na sociedade como um todo, analisadas por Foucault em níveis
prometem uma expansão infinita: uma expansão das estruturais e históricos. bem como a análise da relação entre a
bases de nossa sensibilidad e que, sem dúvida, contribuirá sexualidade e O controle do corpo, evidenciam a centralidade do corpo
para uma maior emancipaç ão estética da cidadania. como espaço de reflexão a partir dos anos 1960 até o presente.
2 Eu estabeleço uma diferença entre artistas feministas e feminismo
artístico. Considero artistas feministas aquelas que, de maneira
deliberada e sistemática, tentaram construir um repertório e uma
linguagem artística feminista (a maioria delas eram ta mbém ativistas
feministas). Uso o termo feminismo artístico para me referir ao
posicionamento dos historiadores q ue estudam a arte a partir de uma
pauta feminista. Isso pode significar o resgate de artistas praticamente
invisíveis - e, ao fazê-lo, contribui-se para o emergência de uma história
da arte feminista - ou a análise de sistemas de representação ligados
a preocupações feministas. mesmo quando as próprias artistas não se
identificam como feministas e não consideram seus trabalhos feministas.
Essa perspectiva está ligada aos estudos de gênero que consideram a
sexualidade como uma construção social. A metodologia histórica requer
que nem todos os trabalhos produzidos por mulheres sejam chamados
de arte feminista .
3 Como explica este catálogo, há algumas exceções: eram ativistas
feministas as artistas mexicanas Mónica Mayer, Maris Bustamente e Ana
Victoria Jiménez; a artista venezuelana Tecla Tofono e a artista argentina
Maria Luisa Bemberg. Entre as artistas latinas nos Estados Unidos, as
feministas incluíam Josely Carvalho e Sophie Rivera e as artistas chicanas
Judith F. Baco, Barbara Carrasco e Isabel Castro. Após o período abarcado
por esta exposição, outras artistas latino-america nas organizaram
mostras ligadas ao feminismo, além de montarem coletivos nos quais
produziram uma arte ativista e engajada.
4 Uma breve cronologia dos regimes ocorridos na região inclui
Paraguai (1954-1989), Brasil (1964-1985), Argentina (1966-1970, 1976-1983),
Peru (1968-1980}, Bolívia (1971-1978}, Chile (1973-1990) e Uruguai
(1973-1985). Essa história de violência extrema também está presente
na guerra civil da Guatemala (1960-1996), que testemunhou a derrubada
de vários regimes. Mais de 200 mil pessoas foram mortas. em sua maioria
indígenas e mulheres, em uma guerra desencadeada pela golpe de
Estado em 1954. EI Salvador também teve uma guerra civil na década
de 1980 que resultou em mais pessoas martas e desaparecidas do que
qualquer outro evento na história do país. Essa breve referência a uma
história de violência, marcada pelo desaparecimen to de muitas pessoas.
também deve mencionar a Operação Condor, um plano apoiado pelos
Estados Unidas, segundo o qual, durante as décadas de 1970 e 1980, as
ações dos lideres das ditaduras na América do Sul (Argentina. Bolívia,
Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, e - esporadicamen te - em poises como
Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) eram coordenadas. Ver: Wikipedia,
"Operação Condor": <https://pt.wikipedia .org/wiki/Opera ção_Condor>.
Acesso em: 5 mar. 2018.
34

Andreo Olunta

5 A Argentino é um pois com grande número de crianças que uma pessoa ou grupo de
. . Pessoa, acesse
111
desoporec,das durante o ditadura. Graças ao trabalho incansável e havia sido negado por uma outorid a Outonorr,
. ode Que sub· ~, q,.
/UQova &lso · ~1'::i
sist emótica do organização de direitos humanos Abuelos de Plazo de Emancipar o corpo de estereór
. . IPOs contribuiu Dor a Cor,,.,
..
Moya, olé agora cerco de 120 crianças, entre uma estimativo de 500 pol1t1co, prof1ss1onal, social, fo .1. a a ÍQua1.<. . _.,.,,,,,,
m, ,ar e PessaaI ._. .,
ás mulheres e que O feminismo Que havia,.,._ • .,,a_
crianças desaparecidos durante o ditadura, foram identificados e vem Perseguind ...., ~
O deSde sua .,,.,,,,
localizados. Ver o site do organização: <https://www.obuelos.org.or/> formulações no século XIX até
suas versões m . s Orí~
e "Abuelos de Plozo de Moya presenlon ai nielo recuperado 120 en porôneos. Todavia, grande pane des ª"
recen1e, e -,,,
sa PDUla ainda . C-Ont'"'-
Argentino·, E/ Pais, Uruguai, 29 jun. 2016. es1a Pelld,,i,,

6 Schvortz morou em Barcelona e Vicuna em Londres, onde trovou


uma intenso componho contra o ditadura de Pinochet que, desde então,
foi compilado e analisado por Paulino Voros, em VARAS, Paulino. Artists
for Democrocy: E/ orchivo de Ceei/ia Vicuria. Santiago, Chile: Museo
Nocional de Bellos Artes and Museo de lo Memorio y los Oerechos
Humanos, 2014.
7 A bibliografia sobre esse temo é extenso, especialmente no
Argentino, Chile e Uruguai: ROJAS, Paz: BARCELÓ, Patrício; RESZCZYNSKI,
Kotio. Torturo y resistencio en Chile: Estudio médico-político. Santiago,
Chile: Emisión, 1991; CALVEIRO, Pilar. Poder y desaparición: Los campos
de concentroción en la Argentino. Buenos Aires: Colihue, 1996: Memorio
poro armar uno: Testimonios coordinados por e/ Ta/ler de Género y
Memorio ex-Presos Políticas. Montevidéu: Sendo, 2001; RUIZ, Marisa.
Ciudodanos en tiempos de incertidumbre: Solidoridad, resistencia y lucha
contra la impunidad (1972-1989). Monlevidéu: Doble Click, 2010: AUGIA,
Anolio el oi. Grietas en e/ silencio: Una investigoción sobre la violencia
sexual en e/ marco dei terrorismo de estado. Argentino: CLADEM, Instituto
de Género, Derecho y Desorrollo, 2011: YAGUEZ, Jovier Morovoll. Las
mujeres en la izquierdo chilena durante la Unidad Popular y la dictadura
militar (1970-1990). Madri: Universidod Autónomo de Madrid, 2012 e
EMERIC, Bianca. Mujeres a la sombra y mujeres en la sombra. Monlevidéu:
Nordon-Comunidod, 2013. Sobre formos de violência mais recentes,
infligidos sobre o corpo de mulheres, ver: SEGATO, Rito Louro. La escrituro
en e/ cuerpo de las mujeres asesinadas en Ciudad Juârez. Buenos Aires:
Tinto Limón, 2013. Sobre o sistema de prisão de mulheres na Argentino,
ver: Mujeres en prisión: Los alcances dei castigo. Buenos Aires: Sigla
Veintiuno: Centro de Estudios Legoles y Socioles; Ministerio Público de
Defensa; e Procuroción Penitenciaria de lo Noción, 2011. Em 2000, Glorio
Comiruogo, uma videoortisto apresentado nesta exposição, produziu o
documentário La venda [A vendo], que inclui o testemunho de mulheres
torturados durante o ditadura de Pinochet no Chile.
8 SPIVAK, Goyotry Chokrovorty. ·The Roni of Sirmur: An Essoy in
Reoding the Archives· ln History and Theary 24, out. 1985, pp. 247-72.
9 KRISTEVA, Julie. Powers oi Horror: An Essay on Abjection. Novo York:
Columbio University Press, 1980, p. 2.
10 Sandro Llono-Mejio em entrevisto com Cormen Maria Jaromillo,
5 fev. 2016; ver também o ensaio de Joromillo nesta publicação.
11 Refiro-me ó emancipação no sentido de um novo saber, que é uma
construção ou elaboração de novos capacidades desenvolvidos com
base no relação entre aquilo que os artistas propõem e os espectadores.
Troto-se de um terceiro saber que não pertence o nenhum dos dois, um
saber que sempre questiono o ideia do idêntico. Ver: RANCIÉRE, Jacques.
The Emoncipoted Spectotor. Londres: Verso, 2011 [ed. bros.: O espectador
emancipado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012]. Nesse sentido, eu
entendo que o riqueza de experiências proporcionado pelos 1,abolhos,
muitos deles performóticos, transformam os relações de identidade que
tínhamos com o corpo no passado. Esse saber produz um conhecimento
emancipatório. A definição tradicional desse termo é operativo, ou seja,
conhecimento emancipatório é entendido como uma ação que permite

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