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sum ario
37
9 Arte femin ista e artivi smo
11
11
13
43
17 48
Introd ução Tema s da expo sição
Cecilia Fajardo-Hill e
Andrea Giunta 51
Imag ens
21
A invisi bilida de das artist as 221 Argent ina
latino -ame ricana s: Elogi o à indisc iplina
probl emati zando prátic as da Rodrigo Alonso
histór ia da arte e da curad oria
Cecíl ia Fajardo-Hill 229 Brasil
Para cons truir novas casas
29 e desc onstr uir velha s
A virad a icono gráfic a: metá foras de funda ção
a desno rmali zação dos corpo s Mari a Angé lica Melendi
e sensi bilida des na obra
de artist as latino -ame rican as 239 Caribe
Andrea Giunta "Yo mism a fui mi ruta" :
uma análi se deco lonia l femin ista
da arte hispa no-ca riben ha
Marc elo Guer rero
245 América Central
291 Estados Un idos
C em vezes uma uNo son todas las que están
Rosina Cazali ni están todas las que son"
Carla Stellweg
251 Chile
285 Peru
Dando conta da violência:
artistas mulheres no Peru
entre as décadas de 1960 e 1980
Miguel A. López
9
mulheres é arnpl .
. . . arnente reconhecida. Sua contribuição Santo Cruz - faleceram. Dedicamos esta exposiç6o o
neste proJeto e inestimável. Melanie Crader, diretora e elos. a todas as outros artistas representadas aqui e às
gerente de exposiçõ bl. _
. . es e pu ,caçoes. forneceu um apoio muitas outros artistas latino-americanos. latinos o
adrn1n1strativo f d
. un arnental para cada etapa do projeto chicanas que foram responsáveis pelo criação de uma
e n:goc,ou urna miríade de contratos. Courtney Smith. obro extraordinária, muitas vezes no anonimato e com
entoo gerente de projetos. exposições e publicações. pouquíssimo ou nenhum reconhecimento. que deixaram
merece um reconhec· t .
1rnen o especial pelo coordenação um legado que não só ilumino a arte e os eventos do
de urna publicação completa e abrangente. assim corno passado. mas também os eventos do presente e do
Portland McCorrn· k d. _
1c . ,retora de gestao de registros e futuro. Mulheres radicais é um projeto de recuperação
coleções e Kate Lally t- . . . .
. , . en ao arqu1v1sta senior, por terem histórico e temos consciência de que o trabalho que
trazido com segurança urna quantidade enorme de ainda tem de ser feito é imenso. Esperamos que esta
rnater_ial ~ara os Estados Unidos. Gostaria de ag radecer exposição e catálogo sirvam como catalizadores para
tombem a nossa diretora de desenvolvimento, Veridiana novas pesquisas e descobertas.
Pontes. que liderou o extenso projeto de desdobramento AnnPhllbln
e alcance da exposição, bem corno à sua equipe. Urna Diretora, Hammer Museum
das mais antigas patronas do Harnrner, Susan Boy Nirnoy
teve a brilhante ideia de criar a iniciativa Friends of
Radical Wornen [Amigos das Mulheres radicais]. pela qual
somos todos muito gratos. Esse grupo é composto de
doadores individuais que oferecem apoio financeiro em
diferentes níveis, e cuja generosidade foi fundamental
para a exposição.
Somos extremamente gratos à Getty Foundotion por
ter apoiado de forma tão generosa urna exposição com o
alcance e a escala de Mulheres radicais. Particularmente,
Deborah Marrow, diretora, e Joan Weinstein, diretora
adjunta, que foram as primeiras defensoras do projeto e
nunca deixaram de acreditar na irnportãncio de Mulheres
radicais no ãrnbito da iniciativa Pacific Standard Time:
LA/LA. Foi graças à generosidade do financiamento inicial
da Getty para este projeto que a pesquisa para a
exposição e o catálogo pôde ser conduzida. Nossos
curadoras viajaram extensivamente pela América do Sul
e Central, Caribe e Estados Unidos paro pesquisar. revelar
e redescobrir as ricas histórias e práticas de várias
artistas. A profundidade da exposição é o resultado dessa
pesquisa intensiva. Esta publicação, incluindo novos
estudos sobre as artistas e seus contextos regionais,
é urna grande contribuição para o campo, e agradecemos
à Getty por ter garantido sua existência.
Um projeto dessa escala não teria sido possível
sem o importante financiamento fornecido pela Diane
and Bruce Halle Foundation e por Eugenia López Alonso.
Agradecemos à Vera R. Campbell Foundation, a Marcy
Carsey, Betty e Brack Duker, Susan Bay Nimoy e ao
grupo Visionary Women pelo seu generoso apoio. Um
financiamento adicional foi proporcionado pelo
Radical Women Leadership Commíttee e pela iniciativa
Friends of Radical Women. Agradeço pessoalmente a
cada uma das mulheres e homens radicais que apoiaram
o Hammer Museum em nossos esforços continuas para
reescrever os cânones da história da arte e difundir o
poder da arte em inspirar mudanças sociais.
Nos últimos cinco anos, enquanto a mostra Mulheres
radicais estava sendo desenvolvida, seis artistas
representadas na exposição - Johanna Hamann, Marisol,
Sarah Minter. Sara Modiano, Nelbia Romero e Victoria
17
lntroduçõo
Independentemente disso. o emancipação dos Tem sido muito gratificante para nós testemunhar
mulheres e de se impacto que o pesquisa que iniciamos em 2010 teve
. . us corpos estava presente nos discursos 0
S0CI0IS do época p t . nos campos curatoria l e acadêmic o. Essa pesquiso foi
_ . or anta os trabalhos de varias artistas
que noo se consideravam feministas estavam todavia veiculado em artigos. ensaios e palestras realizados em
ligados o p reocupações feministas. Os temos .em torn~ museus e conferências. Artistas que. no passado. eram
· - e· o rganizado - o autorretrato·
d os quais esta e xpos1çoo tota lmente desconhecidos fizeram porte de exposições.
0 foram incluídos em coleções de museus e apresentados
relação entre corpo e pa isagem; o mapeamento do ·
corpo e suas inscrições socia is; referências ao erotismo o diferentes públicos. A oposição que enfrentamos no
ao poder dos palavras e ao corpo performático; o med~ iníc io foi. de maneiro geral. superado. Artistas que, em
do repressão e o resistência à dominação; feminismos e muitos casos, eram raramente mencionados em publica-
lu_gores sociais - sugerem paralelos entre os preocupo- ções de arte e catálogos de museus agora estã o prese_n~es
çoes do arte feminista europeia e norte-americano e os em novos estudos. Hoje. poucos diriam que uma expos1çoo
questões que os artistas latino-americanos e latinos histórico sobre o produção radical de artistas mulheres
abordavam em seus trabalhos. do Américo Latino e latinos seja irrelevante. O tópico
O c atálogo, diferentemente do exposição, é agora integro uma pauto amplo e ao mesmo tempo
organizado por país. e não por temo . Essas estruturas urgente. Entretanto. a inda há muito trabalho o ser feito e
diferentes permitem que o público vejo o exposição de temos pleno consciência de que este é apenas o começo.
uma formo e o estude de o utro. Embora o livro contenho
ensaios temáticos. o maioria dos textos troto de cenas
artísticos locais específicos. Essa decisão foi tomado Notas
com o intuito de fazer com que o catálogo fosse o Em geral. optamos pelo uso dos termos chicana e latino em vez
mais útil possível poro fins educacionais. Os ensaios do nomenclatura mais recente. chiconx e lotinx, que não é tão re levante
específicos por pois ou região trotam do história feminista poro o periodo histôrico da exposição.
local, do papel que os artistas mulheres desempenharam 2 GIUNTA. Andreo. -Género y feminismo, Perspectivos desde
em cada lugar e dos relações entre suas vidas e seus Américo Latina -. Exit Book. Madri. n. 9. 2008. pp. 90-5.
trabalhos, por um lodo, e do situação político local e 3 Além das curadoras da exposição e de Marcelo Guerrero. membro
outros formo s de expressão cultural. por outro. Os ensaios curotoriol. e Connie Butler, curadora-chefe. do Homme r Museum.
foram escritos por especialistas em arte de c ada pois participaram do workshop os colegas Julie Bryan-Wilson. Cloudio
ou região e incluem informações bibliográficos relevantes. Calirman. Miguel A. López. Mónica Mayer. Cuauhtémoc Medina. Cami\le
bem como. em vários casos, uma pesquiso primário. Morineou. Catherine Morris e Gabriela Rangel.
Vários ensaios também propõem questões e problemas 4 Conforme mencionado no discussão de Julie Antivi lo Perio.
o serem abordados por estudos futuros. Nosso maior Mónica Moyer e Maria Louro Rosa. "Arte feminista e ·ortivismo· no
desejo é que esta publicação impulsione os próximos Américo Latino: um diálogo entre três vozes·. e em a lguns dos ensaios
gerações de historiadores, artistas e curadores o regionais presentes neste volume. algumas artistas em outros poises
continuar investigando. da Américo Latino atuavam em organizações feministas o u se
O principal propósito de Mulheres radicais é escrever identificavam como feministas, mos eram exceções.
um novo capítulo do história do arte do século XX, um
capítulo que leve em consideração os contribuições dos
artistas latino-americanas, chicanas e latinos para as
linguagens experimentais do arte contemporânea. A mostra
não é. de forma alguma, completa, pois não abrange
todas as artistas mulheres que produziram trabalhos no
período abarcado. Limitamos o escopo em trabalhos que
problematizam o corpo - corpo este que, na maioria das
vezes, foi abordado ao longo da histó ria da arte a partir
de uma perspectiva masculina e patriarcal, um ponto
de vista que os trabalhos dessas artistas passam ades-
mantelar de forma sistemática. O objetivo desta exposição
é dar visibilidade às produções artísticos ausentes nas
narrativas da arte internacional e latino-americana,
mas também analisar até que ponto essas produções
constituem um corpo distinto. Uma de nossas hipóteses
é que a reformulação proposta pelas artistas em seus
trabalhos possibilitou o entendimento de outras dimensões
de sensibilidade e sexualidade, dimensões estas que
ajudaram a divorciar biologia e sexualidade e a redefinir
noções fechadas de gênero.
~1
-~efiniçõo do corpo fem inino estabelecida, de manr,;ira Iu,,,,1rr, do vmív,,I: umc1 twv,,flr,lo ,,llptl<:o íll1lo mtu d 1 ,
too sensível por R ·0 .. ld ,.
· · oci ''" ª anado e pr,; rgunta: "Seró ,,,',,.ulr, XX f.(,hr1,, dr, e, a portlr cfo f1,ml11ii,0 I (lfl{J/1, f1~J. li),
que um homem esc Ih ·
_ - o er1a o repres1::maçéio de urna r,o<,o WN;K/ Arl and Lho FomlnlBt l?twolutlon IWACKI Arfo" o
poro def1n1r seu esp f
_ aço co rno P.Z Elba Damo~r, ou urna rravr,lur, i:io fornlnlBto l. com c uroclorlo cJu Connln llutl 111 ,
cozinho , como fez Leonoro Carrington em Granclmother r,urrJ o MuoAu do Arto Contomporô nou elo I c>t> Anonltw
.
Moorheod's Aromar·,e K./te h en [ A cozinho .
. orornatico da (7CJ(J /, fiçi. 5);'r1 Global Fomlnloma: Nüw Dlroctlorw ln
ovo Moorheod)?" 21 Tois- d 1 - . •
. · • ec araçoes 1nd1com a lógica por Cr,nwmporary Art I Fomlnlom oo fJ loho lu: novuo rl lruçõcw
tros do mostro: enfatizar seu papel no revelação de uma ,, m a rte contomrx ,rónoa l, com c urudorlo dt, Moum l<oilly
natureza único do eJ(pressõo feminina e sua importár,r.::iri o Linda Nc,ch lin, r,oro o Brooklyn Muoourn (200 1)/• o
no história do arte. Por um lad o, a curadora cIrcunscrP.ve Ello~@ce:nrrnpompldou: Artwtoo fommon demo loo colloc
0
exposição dentro do concepção onoc rón1ca de arte riom du Muaé,o ncitlonal cl'art m odnrno [Eluo@r.ontropornpl
lotino-omer icono defend ido por Mono Trobo, apresentado dou: ortIotoo rnulhoroo nem col1,çõoo do Munuu Noclonnl do
em Art of Lotin America, 1900-1980 [Arte do América 1 ' '/ /, Artr-, Moderno ], com c uradoria do Co rnl llo Morlnoo u (?OCJ!J,
( ;; tr,:r 1, 1 • ,1,, / 1••1r •· r " •' ' I
Latino, 1900-1980), e, p or outro, opresento uma ideia ! 11'. l ' I •, 1 1 • / J , • r, / • f,g . 6 ).' º Rc.a c r.lominlem #2 - a p er formlng arc hlvn [l<o.
convencional do evolução dos tendênc ias ortistic os.2' A n 11 11 (,1./r.,J! / r ,111: r ,,1 agir.feminism o n? um mquivo porfo rrnó t lco l (flH, 7) foi
r1 f ;, r, r,, r, ,.,.r ,11 1 /., 1 / , , 1, t .
Além d isso, o especificidade de género é abordado po r r;n rJ ( ,,,r,t 1,1, F •·rr, J , , / 1 ,.i urn projeto inovador do arquivo ltinoranto, c rlcJdo por
l[.Jb ! 1 • ,, t Jr, J ) ·.1 ' " J ;•r-1
meio de noções estereotipados do feminin o. Apesar dos 1.f<J " ''•'J 1•1 1: 11 ,, , 1 f I J, J- 1 1
Bcttino Knaup e Beotrico Ellen Stommor, quo viajou por
boas intenções do exposição, Biller deu ênfa se o ?.r T. f:: rJr, ,. ,, ,. , J r, / / ,, ,,t,, ,, . 11/f
seis poises europeus entre 2011 o 2013, Inc luindo tra•
rJr.. f crr 1 r1l , ,,., 1 f r, ,i "•f, , 1 11•11•,
concepções errôneos e generalizadoras sobre artistas u,. ur r ,., ' J ' J !; . ·•, 'J/, , bolhos de ortI0100 do Euro pa Ocid ental e Oriental, do
mulheres e não contribuiu de maneiro significativa poro Mediterró neo, do Oriente Médio, doo Estados Unidos o
o avanço do meio ou o suo transformação. de vário s poises lotino-amerlcanoa.• 0 Em 2013, o rov ioto
No final dos anos 1990 e no começo do novo milénio, on-line Arrelogíe, uma inic iativa do École deo Houteo
emergiram vários exposições e publicações internacionais Êtudes en Sciences Soc ioles [Escolo de Estudos Avança -
e latino-americanos que revelaram práticos variados e dos em Ciências Sociais) de Poria, publicou uma edição
prolíficos de artistas mulheres. Em seu ensaio "Género y d edicado exclusivamente ao feminismo e ó arte na
feminismo: Perspectivas desde Américo Latino" [Gênero Américo Latino, com artigos importantes sobre México,
e feminismo: perspectivas do Américo Latino], de 2008, Argentino, Chile, Brasil e Co ribe?'
Andreo Giunto propõs uma abordagem do arte latino- A exposição internacional artevlda, c om c uradoria
-americano de um ponto de visto de gênero."' Em 2007, de Adriano Pedroso e colaboração d e Rodrigo Moura,
Koren Cordero Reimon e Indo Sáenz publicaram a foi realizado em quatro instituições diferentes no Rio de
primeiro compilação de teoria feminista em espanhol, Janeiro, em 2014.32 A mostro explorou a relação entre
intitulado Crítica feminista en la teoria e historio dei arte F lq. 5 arte e vida, enfatizando o período do final dos anos 1950
Conn 1c Butl er- e L 1r;a
(Critica feminista na teoria e história da orte).2AEm 2004, Gaor-1 el l r: Ma r- 1' fo rg ~. ). até o início dos anos 1980, usando o arte brasileiro como
WACK! Art onCJ Lhe F<:mtnl fJ L
na Colômbia, Carmen Maria Joromilla foi a curodoro de Rev o lutf o n ( 'NACI"! Arte:
referência . Com ênfase especial no corpo - um de seus
Otras miradas [Outros olhares], uma exposição de e a re •10l uçã o fcmlnl s taJ quatro principais temas - , o mostro reunia trabalhos de
f Lo G Angc lo s : Mu eeum
trobolhos feitos entre 1940 e 2004 por artistas mulheres o f Con tornpot"at"y Ar-t; um grande número de artistas mulheres, entre elas as
Cambt" 1dge: MIT Pr-0 l.16 , 2007) .
de diferentes geroções."Em 2009, na Costa Rico, Virgínia brasileiros Martha Araújo, Lygio Clark, lole de Freitas,
Pérez-Ratton foi o responsóvel pelo curadoria de uma Anna Maria Maiolina e Wonda Pime ntel, bem como artistas
exposição com três artistas do Américo Central, intitulada latino-americanas e internacionais, como Heleno Almeida,
Tres mujeres, tres memorias: Margarita Azurdia, Emília Geta Brõtescu, Teresa Burgo, Rosemarie Castaro, Gego,
Prieto, Rosa Meno Valenzuela, no Teorético. Em 2006, Zarina Hashmi, Birgit Jürgenssen, Dora Maurer, Ana
Heloiso Buarque de Hollondo e Paulo Herkenhoff fizeram Mendieta, Marisa Merz, Senga Nengudi, Yoko Ono, Yvonne
0
curadoria de Manobras radicais, no Centro Cultural Roiner, Lotty Rosenfeld , Zilia Sánchez, Annegret Soltou
Banco do Brasil de São Paulo, com o intuito de revelar e Cecília Vicuíia . Talvez essa tenha sido a mais ambicioso
0
audácia e a inovação de artistas brosileiros dos séculos exposição internacional a propor urn diálogo aberto e
XX e XXI. Em 2007, nos Estados Unidos, Louro E. Pérez completo entre artistas brasileiros, latino-americanos,
publicou Chicana Art: The Politics of Spirit~ol and europeus (incluindo artistas do Leste Europeu) e norte·
Aesthetic Alterities [Arte chicana: uma pol1t1co de ·americanos, na qual as artistas mulheres receberam, de
alteridodes espirituais e estéticos] (fig. 3). Durante esse forma consistente, um papel de igual proeminência em
mesmo período, estudos monográficos e mostras retros· relação aos artistas homens. É importante observar que,
ectivos foram dedicados a Teresa Burgo, Feliza Bursztyn, embora os exposições e publicações discutidas aqui
~ gio Clark, Anno Maria Maiolino, Marta Minujin, Lygia tenham dado visibilidade a artistas desconhecidas, a maior
y · Ih ,.
Pape, Cecília Vicuíia e diversas outros art1s~as mu . eres. porte delas foi formulado sob o emblema do feminismo
Várias exposições internacionais inclu,rom artistas internacional, sem esclarecer a diferença entre o quadro
latino-americanos, como O seminal mostro itinerante de estrutural fem inista e o arte feminista propriamente dita.
Catherine de Zegher, Jnside the Vísible: An Ellíptícal .. Na verdade, a maioria das mulheres apresentados nessas
Traverse of 20th Century Art ín, of, and from the Fem,n,ne exposições não considera seus trabalhos femini stas.
24
Cecllla Fajardo-HIII
~ mc>sma maneira que as artistas latino-america nas, Hernández e Yolondo López.,.No capitulo ..
:;; :; ·~ :':,~:' ,--iiconos e latinas também têm sido excluídos Califórnia", Goldman destaca O foto d Mulheres da
:;<" _ -· :; :; ,';?O ma is amp lo no arte moderna e contempo- d a ·inc 1usao
• · · d
posItIva e artistas latinase que.
h.
ªPesa
r
.:. -'2\:: - :; -., uItos razões poro isso. A arte latina e chicana e c Ican
exposições, a proporção de mulheres P h as ern
. a~~
e · -:>-:: - c>-:emente. definida por aquilo que não é: nem e vergonhosame nte pequena. Elo escrev . .. ens louno,
. . . e. A excl - ·
.::-· :c· ,-.:: - .:: - em latino-america no. Essa premissa é ainda pior para as latinos: inícios tardios usaaé
. , menos a
:-.::i-<".~.::.:: "-- .:-vncepções errôneas e noções estereotipadas o machismo dentro de suo própria classe ceitai;õo
O
.- .: ~ _ .' .:: -"' ,: ::me latina ou chicana parece ser e na somado ao racismo do mundo todo".:ie e machismo ·
~ -- : ~.-::. :: .::e ::roconceitos raciais sobre noção e A partir do novo milênio, o número de b .
: ~- : .-.:: .-e e :::-;icepções falsos e limitados em relação . • . pu licaç;.,,.
exposIçoes explorando a identidade foi dirn· . v,, e
~.: -:e --:;:::-.:: '. Dois fenômenos fizeram com que o . . _ 1nuIndo u
exemplo e a exposIçoo Art/Women/Californ· · rn
e- :" - ;; -·e'1to do arte latino fosse dificultoso. O primeiro . ,a 19S0-2000
Parai/els and lntersect,ons [Arte/Mulheres/Cal'f . . '
:? :;e-.i:Jse em assuntos sociais (imigração, pobreza. Fig. 6 . 1orn1a
Camille Morineau (org. l,
1950-2000: paralelos e intersecções]. 0 prirn •
. ·~•êncio. desigualdade etc.) e no ativismo. O movimento . . . eira mostra
E lles@cent repompidou : Women h1stonca dessa natureza, com curadoria de o·
ch:cono. por exemplo, combinou ativismo social com uma Artists in the Collection 1ona Burg
of the Musée Notionol d'Art Fuller e Daniela Salvioni, para o Museu de Arte S
. . . on Jose
ess
·d eio de arte e cultura que. além de não ser convencional. Moderne, Centre de Créo tion
com o trabalho de voflas artistas latinas dand
In dus trie lle [Elas@ ·
e considerado problemático, porque não é glomoroso • o a elas
centr e pompidou: artistas um papel mais abrangente no contexto do expasi õ
o suficiente, sendo politizado demais. O segundo é o mulh e res nas coleção do ·1 . 1· - .
Museu Nacional de Arte cota ogo Inc uI tres capitulas importantes sobre Ço.Seu
•
. . . artistas
multiculturalis mo (euro-american o) dos anos 1980, que Moder na, Ce nt ro de Cr iação
latinos e chicanas, escfltos por Amalio Meso-Bains
Industr i al] (Paris : Édi tions
promoveu um essenciolismo cultural. fazendo com que du Centre Pompidou , 2009}. Terezito Ramo e Jennifer González :n Urna dos expo· • .
. . . · sIçoes
obsessões "identitários· , culturais, nacionais e étnicos mais importantes que reuniu artistas latino-americanos
se tornassem generalizados nos interpretações do arte e latinos na primeiro década do milênio foi Arte, Vida:
latino-america no e latino. O multiculturalis mo tem sido Actions by Artists of the Americas, 1960-2000 (Arte, Vida,
demonizodo de tal formo que é difícil recuperar seus ações de artistas dos Américas, 1960-2000] (fig. 10).
aspectos positivos. como o promoção de um diálogo de Deborah Cullen, no Museo dei Sorrio, em Nova York.
cultural mais abrangente entre práticos artísticos nos em 2008. Essa mostro sobre performance incorporou
Américas. assim como analisar seu duradouro legado trabalhos de 27 artistas mulheres, além dos trabalhosdos
negat ivo. As artistas latinos e chicanas que trabalhavam participantes de grupos de artistas. Seu catálogo troto
nos Estados Unidos responderam não apenas à político do trabalho de mais de 59 artistas mulheres e 21grupos
patriarca l. tão opressora nesse coso quanto o enfrentado que inc luem mulheres. 38 Essa publicação demonstro o
por suas equivalentes no Améric o Latino, mos também quão amplo, experimental e diolôgica a cena artístico
o uma segundo onda de feminismo que era muitos vezes de performance tem sido desde os anos 1960.
indiferente às questões dos mulheres de cor. 33 Nos últimos anos, a arte conceituai vem chamando a
Vários publicações e exposições produzidos nos anos atenção no América Lotino.39 Dois estudiosos e curadores
1990 foram verdadeiros laboratórios de inclusão e troco . que têm promovido esse campo são Luis Comnitzer e
Fig . 7
Mixed Blessings: New Art in o Multicultural America [Bênçãos Bett i na Knaup e Beatric e
Mari Carmen Ramirez. Talvez a publicação mais estabele-
Ellen Stammer (orgs.) .
mistas: novo arte em uma América multicultural] (1990, re.oct.fem i nism #2 - cida e conhecida sobre o assunto seja o livro de Camnitzer,
fig . 8), de Lucy Lippard, promove um diálogo amplo entre o performing orchive
{re . a g ir . femini s mo # 2 - Conceptualism in Latín American Art: Didactics of Liberotion
culturas e trota de um grande número de artistas latino- um arq u ivo per formá t i co] [Conceitualism o no arte latino-americano: didática da
(Nuremb e rg : Verlag fLlr
-americanas. chicanas e latinos, tais como Celia Álvarez Moderne Kunst; Lo ndre s : liberação] (2007). Nele, o autor troto de apenas duas
Murioz, Judith F. Boca, Yolondo López, Ano Mendieto, Live Art Oevelopment
artistas dentro de um âmbito especifico: Lygia Clark.
Agency. 20 14 ).
Amolio Meso-Boins, Regina Voter e Cecília Vicurio. 34 com Hélio Oiticica, e Liliana Porter, no New York Graphic
Chicana Art: Resistance and Affirmation, 1965-1985 [Arte Workshop, do qual Comnitzer era membro com José
chicana: resistência e afirmação], exibido no Wight Art Guillermo Costillo. Ao folar do Chile, Camnitzer traz
Gollery do Universidade do Califórnia, em Los Angeles, Dia melo Eltit, do Colectivo de Acciones de Arte (CADA).
em 1990, foi o primeiro mostro histórico de arte chicana no Lotty Rosenfeld e Cecília Vicuria. Gracielo Carnevale.
país, apresentando trabalhos de 45 mulheres, tais c omo Antonio Eiríz, Gego, Lourdes Grobet, Marta Minujin.
Álvarez Murioz, Baco, Yreina D. Cervantez e as Mujeres Antonieta Soso e Sílvio Torras são rapidamente nome·
Muralistas. O livro de Shifro M. Goldmon, Dímensions odas; Paz Errázuriz, Beatriz González, Margarita Paksa
of the Americas: Art and Social Change in Latin America e Ly9ia Pape são relegados às notas de rod ape. · Ramirez
and the United States [Dimensões dos Américas: arte e • t s mulheres
também mostrou pouco interesse em art1s o .
mudança social no Américo Latina e nos Estados Unidos] dentro de suo ideia de conceitua /ismo. Seu ensmo
{1994, fig . 9), inclui uma seção intitulada "Mulheres "Tactics for Thriving on Adversity: Conceptualism in
falando", com cinco ensaios que abordam artistas Lotin Americo, 1960-1980" [Táticos para prosperar na _
mulheres, como Lourdes Grobet e Ano Mendieta, e · · Latina 1960
adversidade: conceitualism o na Arnerica ·
também os artistas chicanas Barbara Ca rrasco, Isabel
1980] inclui discussões relevantes so bre O trabalho mi
Castro, Diane Gomboo, Ester Hernández, Judithe de Lygio Clark e menciono GrocIe . 1 C nevale. Noe
a ar
25
heroico, pol ítico e até militante, deixando pouco espaço y performance en México. Cidade do México: Conaculta/Fonca e AVJ.
poro os formos de conceituolismo e arte experimental que 2004 e BARBOSA, Araceli. Arte feminista en los ochenta en México, Una
abraçam · t · · - · perspectiva de género. Cidade do México, Casa Juan Pablos; Cuernavaca,
. _ in eqe1çoes mais subjetivos e lutos pessoa is e
politicos, amplos ou intimas. É particularmente relevante Moreias: Universidad Autónoma dei Estado de Moreias, 2008.
0 ausência de artistas mulheres como formadoras do arte 2 Essa pergunta está relacionado ao ensaio de Linda Nochlin, de 1971,
conceituai e experiment al no Américo Latino entre as "Why Have There Been No Great Women Artists?" [Por que não existiram
décadas de 1960 e 1980, embora devo-se apontar as grandes artistas mulheres?] ln NOCHLIN, Lindo. Women, Art. and Power and
exceções do Brasil e do Chile•• e, nos últimos anos, do Other Essays. Nova York: Horper & Row, 1988, pp. 145-78. No entanto, difere
Argentino, do Peru e, até certo ponto, do México.42 dela, pois é uma pergunto afirmativo que leva o uma investigaçã o ativo.
Fig. 3 Este texto não pretende ser completo em t ermos de referências e
Embora o disposição em replicar o sistema de Lucy R. Lip pa1·d, Mi xed
exclusão ainda persista, desde a década de 1970 o meio Ble ssings: New Art in não inclui literatura sobre os po ises do Américo Latino individualmente.
o Mu 1t i cu1turo1 Americo
passou por uma imenso transforma ção e, como vimos, 1 Bençãos mistas: nova arte 4 Por exemplo, ln Wonderland: The Surreolist Adventures of Women
em uma Amér i ca Artists in Mexico and the United $tares, uma exposição com curadoria de
isso se reflete na produção de novos estudos, histórias multicu ltur al 1 (Nova York:
da arte e exposições que reconhecem as mulheres como Pa ntheon . 1990). !Iene Susan Forte Tere Arcq no Los Angeles County Museum of Art, em
formadoras originais do campo abrangente da arte 2011, apresentou trabalhos de 48 art istas do México e dos Estados Unidos,
Mulheres radicais é umo evidência, pois revela como 5 /nverred Utopias: Avanr-garde Art in Latin America. New Haven, CT:
as artistas mulheres ativas entre os anos 1960 e meados Yale University Press; Houston: Museum of Fine Arts, 2004; The Sites of Latin
dos anos 1980, por meio de explorações de poéticas Americon Absrraction. Milão: Charta; Miami: CIFO, 2006; e The Geametry
do corpo arrojadas e criativas e um envolvimento com af Hope, Lotin American Abstract Art from the Patrícia Phelps de Cisneros
lutas sociais e políticas, quebraram estruturas patriarcais Collecrion. Austin: Blanton Museum of Art, University oi Texas, 2007;
para transformar a arte de forma radical. são apenas alguns exemplos de exposições q ue apresentaram artistas
mulheres trabalhando com abstração geométrica.
6 Arte de conrradicciones, Pop, realismos y político; Brasil-Argentino
01mrns1ons or J960s, com curadoria de Rod rigo Alonso e Paulo Herkenhoff poro o
TH[ Affl[lllCAS Fundación Proa. Buenos Aires, em 2012; The World Goes Pop, organizado
pela Tete, Londres. e lnternational Pop, organizada pelo Walker Art Center,
ambos em 2015, incluíam trabalhos de algumas artistas latino-americanas.
Fig . 9 7 Whitney Chadwick explica que o critico J. K. Huysmans, por
Shif r a M . Goldman,
Dimensions of the Americas: exemplo, atribuiu a habilidade que Mary Cassatt tinha poro pintar
Art and Social Chonge
in Lotin Americo o nd the crianças ao seu gênero. e não à sua competência artística. Tal explicação
United S tates [D i mensões está vinculada à divisão entre a esfera pública do " Homem de razão" e o
das Amé ricas: arte e
mudança soe ial na Amé rica mulher submissa no ambiente doméstico, que se tornou a normativa no
La tina e nos Esta dos
Uni dos! (Chic ag o: século XIX. CHADWICK, Whitney. Women, Art, and Society, 4a ed. Londres,
Universi ty o f Chicago Thames & Hudson, 2010, pp. 40·1.
Press, 1994 ) .
8 Para uma discussão mais ampla sobre o tema, ver: LIPPARD, Lucy.
"Sweeping Exchanges: The Contribution of Feminism t o the Art oi the
1970s" ln The Pink Glass Swan: Selected Feminist Essays on Art. Nova York:
New Press. 1995, pp. 171- 82.
9 O texto diz:
Cecllla FaJardo-HIII
n I RAl<A Mllr lo · 1,, rllll\rrn do roslstoncla" ln IILEGRIII. Fernando Gego e Miro Schendel oté artistas mais conte .
(0111) t rl,'mlwn , prmrs ,•rr Amórrcn t orlna. Corocas, Monte . . mporoneos co
!'1'· 49 BO.
Avllo, 1971, Gonzolez. Joc Lerrner, Ana Mendieta , Catolina p
erro e ll 10 0
"'°
Beo~11
20 Biller admite que é uma ·gringo" orgoniz d ' " Pone,.
12 NC'I tJlllPOde 0 11 1::.to~ homons ostnvarn Fernando Botero. José an o uma
Luis
l\1rvos \V1t10d1.1l l u ,1. Rnbf'1 to Mattn. Alojondm Obregón,
tradicional museu americano e descreve asco .d
- .
stro
nsr eroções Que . •~
"'º
Poro
Armando a seleçao das artrstas, que foram o inovação ort· .
definrr0r-i
Rm r ron t r , nn11ctn dP S:·, silo 1..1 lh1hno Tnmayo. 1st1ca e O~
ausência de questões de gênero, conforme ex PresenÇo o,,
13 t 111 \W llll. o 11Hl•1üs~c dL' lrnbo em mulho,cs rn tistos foi maior O
nos pressado no d'
sobre o trabalho de coda artista ou em sua vida . 'SCussoo
OllOS 1960 ü 1970 do qu~ no dcr ntlo do 1950. Nos anos 1950. elo escreveu . . .
Geraldrne P. Lotrn Amerrcon Women Artists/Artistacomo. artista"· B
em tom fnvo,ovf•I sob10 a~: mt1~tns Cecihn Porros. Maria Thereza ILLER.
. . s1
Negreiros 1915-1995. Mrlwoukee, Mtlwaukee Art Museum, 19 ,otmoamerlC
p. _
Ono
o llrcy Tejada. Posto1101rnc1111•. ~lo turnbém deu enfoque aos 95 19 s.
trabalhos de 21 lbid., p. 21.
Jul,o Acu110, Felrzo Bur sztyn, Bentrrz Daza, So1110 Gutiérrez, Ana
Mercedes 22 TRABA, Morto. Art oi lotin America, 1900·1980
Hoyos e Nrr ma Zarote, embora não mostrasse qualquer interesse .
8
em -American Development Bank. 1994. Traba resumes · altrmore• . _ · ler.
ln
Debora Arango. Agradeço a Carmen Maria Jaramillo pela sua uo vrsao de on 1
contribuição -americana que, até meados dos anos 1990, era um t
sobre o abordagem de Traba em relação a artistas colombia . . . e Otrll<}
. anto
nas. Em convencronol, rnclurndo os mesmos artistas que ela d f retrogrado .
e
Prapuesra polérnrco sobre arte puerrorriquerio (Rio Piedras, PR: e endro nos déco
Librerio de 1970 e 1980 e dando muito pouca atenção prátic
lnternocionol. 1971). Traba dedica um capitulo a Myrno Báez O . dos
("Myrna Báez as expenrnen1 .
23 GIUNTA, Andreo. "Género y feminismo, Perspecf d
tr as la barricada ", pp. 121·34). ms.
rvos esde Am..
Latina· ln Exit Boak, Modri, n. 9, 2008, pp. 90-5.
14 TRABA. Marta. "Tecla Tofono ars politica". EI Nacional, Corocas, errco
24 REIMAN, Karen Cordero; SÁENZ, Inda.
3 nov. 1973. Critico femin' I
1s1o en Oteori0
e historio dei arte. Cidade do México, Universidod lberoom .
15 BAYÓN, Domián. Aventuro plástico de Hisponoomérico, Pintura, encano. UNAM
Programa Universito rio de Estudios de Género, Consejo Nacional
cinetismo, artes de la acción (1940-1972). Cidade do México, llOro~ ·
Fondo de Cultura y las Artes, FONCA; CURAR, 2007. Em meodos dos onos
Cultum Económica, 1974, pp. 128·9. Ele fala sobre Morto Minujin 2000
e foram iniciadas pesquisas pioneiras nos campos da arte fem·,n·
descreve seu trabalho como "curioso" e, quando ele estava terminand t '
o is a e sobre
artistas \atino-americanas. Sobre o México, ver, MAYER. Mónica.
o livro, em 1973, declarou que a trajetória de Minujin era "cintilante Raso
e chi/lante, op. cit.; BARBOSA, Araceli. Arte feminista, op. cit., bem
passageiro· . que "seu próprio sucesso hovia lhe esgotado" e como os
que as
exposições históricas, Historia de mujeres artistas en México dei
empresas norte-americanos que pagavam por experiências sigla xx.
artísticas com curadoria de Germaine Gómez e Miguel Cervantes, poro
absurdas não estavam mois interessodas nela (p. 274). O Museode
Arte Contemporáneo de Monterrey, em 2008, e Mujeres derrós de
16 STELLWEG, Carla (erg.). "Mujeres, orte, femineidod". Artes visuales lo lente,
9, 100 anos de creación fotográfica en México 1910·2010, com curadoria
edição especial. jan.-mor. 1976.
de Emma Ceci\ia Garcia Krinsky, em 2012. Sobre outros poises
17 As mulheres eram Tarsila do Amaral, Leonoro Carrington, Lygio lalino-
·americanos, ver, PENA, Julie Antivila. "Entre lo sagrado y lo profano
Clark, Maria lzquierdo. Frida Kahlo, Anita Malfattl, Lygia Pape, se
Amelia tejen rebeldias, Arte feminista lotinoamericano; México, 1970-1980·,
Pelóez. Alice Rahon-Paalen, Miro Schendel, Tilsa Tsuchiya e Remedias
dissertação de mestrado, Centro de Estudios Culturales Lotinoomer
Varo. Outras exposições internacionais com artistas latino-am iconos.
ericanos Facul tad de Filosofia y Humanidades, Universidad de Chile, 2006.
foram Cortographies, 14 Latin Americon Artists, com curadoria GIUNTA.
de Ivo Andrea. "Mujeres entre activismos, Una oproximación comparativ
Mesquita e Paulo Herkenhoff, para a Winnipeg Art Gallery, em o oi
1993. que feminismo artístico en Argentina y Colombia ". Coiono, Revisto de
incluiu três mulheres entre os catorze artistas da mostra, e The hisrorio
Bleeding dei arte y lo cultura visual, n. 4. 2014. Disponível em, <http://caio
Hearr, com curadoria de Olivier Debroise, paro o lnstitute of no.coio.
Contemporary org.ar/templote/coiona.php?pog=articles/article_2.php&obj=1 49&vol,4>.
Art. em Boston, que incluiu seis mulheres entre dezoito artistas.
Cinco dos Acesso em, 9 mar. 2018. ROSA, Ma rio Loura. Legados de libertod:
quinze artistas cujos trabalhos foram incluídos em Ultrabaro EIone
que: Aspects feminista en la efervescencio democrático. Buenos Aires, Bib\os,
oi Posr-Latin American Art, com curadoria de Elizobeth Armstrong 2014:
e Victor JARAMILLO, Carmen Mo rio. Mujeres entre lineas: Uno hisroria enclave
Zamudio-Taylor, para o Museum oi Contemporary Art de Son de
Diego, em educocián, arte y género. Bogotá: Museo Nacional, 2015. Sobre O
2001, eram mulheres. quesiáo
da arte feminista e gênero, ver o texto de Julie Antivila Peno, Mónica
18 As mulheres incluldos foram Tarsila do Amaral, Frida Baranek, Moyer
Ledo e Maria Lauro Rosa e o texto de Andreo Giunta, "A virada iconográfico
Cotunda. Lygia Clark, Gego, Maria lzquierdo. Frida Kahlo, Joc ·,
Leirner,
ambos neste livro.
Rocio Maldonado. Morisol, Ana Mendieta , Liliono Porter. Lidy
Prati e Mira 25 Com as artistas Débora Arengo. Potricio Bravo, Johonno Colle.
Schende l. Latin Americon Art oi the Twentieth Century (Nova
York, Thames Maria Fernando Cardoso. Clemencia Echeverri, Maria Elvira Escollón.
& Hudson, 1993). de Edward Lucie-Smith, traz os mesmas omissões
e Beatriz González. Delcy Moreias, Glorio Posado e Líbia Posado.
incluiu as mesmas "figuras carimbados", tais como Tarsila do
Amoral, 26 . . . . portanto náo
Meu enfoque aqui são exposições 1 nstItucrona rs,
Leonoro Corrington, Lygia Clark, Raquel Forner, Gego, Frida
Kahlo, Maria .
discuto mostras organizados por artrstos paro I·d ques1ões de
Luisa Pacheco, Amelia Pelóez, Remedias Varo e Tilso Tsuchiya. r ar com
O autor, • . - . . 986 1988), que foram
genero, tais com as duas exposrçoes Mrtomrnos (1 ,
apesar de pretender cobrir a totalidade do século XX, adoto .
uma revisitadas em Mitominos: 30 anos después, com curadoria de
Marro
abordagem limitado e estereotipada da arte latino-omericono,
excluindo Laura Rosa. no Centro Cultural Recoleta, Buenos A'rre sem 2016.
· ygro
completamente o conceitua lismo e a arte experimental. . d d Judith Boca, L
27 WACK! apresentou trabalhos de Sonro An ra e,
19 Devido à sua cronologia. a mostra incluiu um grande número . . . Mónica Moyer.
de Clark lole de Freitas Leo Lublin, Anno Marro Marolrno.
artistas. ilustrando a evolução dos pri ncipais tendências desse ' • . h
período, Ana Mendieta , Catalina Parra, Mrro Se en deI e cecilio Vicuno-
cobrindo desde Tarsila do Amaral, Raquel Forner, Frida Kohlo, Re9'"º
Anita 28 Global Feminisms apresentou traboIhos de Tanio Bruguero, .
Malfatti e Amei ia Pelóez, passando por artistas abstratos como . .
Lygia Clark, José Galindo, Teresa Margolles, Prrscrllo Monge e Adriano vareI00.
A invisibilidade dos ortist<>S lotlno-am oricanos
29 Publicações importantes mantiveram ur:,iJ obo1dogem trodic,onal (orgs.}. L A. ,\ icono. Los Angeles: UCLA Chicono Studies Reseorch Cenrer
em relação à proporção de homens e mulheres. Per e, emp\o focqu~lme Press. 201 1.
Bamitz. em seu livro Twenoerh-Cenruq, Arl of lctin 4.me.rico l..\ustin: 38 Entre os artistas incluídos estavam: Tonia Bruguero, Nao Busto mante.
University of Te.xas Press, 2001) menciona um numero considero,~\ de CADA. L),gio Cla rk. Coco Fusco, Regina José Golindo, Teresa Morgolles.
anistos mulheres. No entonto. ela destaco apenas alguns nomes e Ano Mendieto, Marta Minujin e Lotty Rosenfeld. Deboroh Cullen também
tendências comuns {especialmente em comparação com os equivalentes organizou a exposição Nexus New \'ork: LatirvAmericon Artists in the
masculinos): Anita Molfotti e Torsilo do Amoral, para o vanguarda dos Modem Merropo/is. em 2009, com énfose em importantes art istas
anos 1920; o s a rtistas surrealistas Leonoro Corrington, Raquel Forner. coribenhos e lotino-omericonos que viajaram e residiram em Novo York
Maria lzquierdo, Frido Kohlo e Remedias Va ro e as artistas neoconcretas durante os primeiros décadas do século XX e que participaram de
Lygio Clark e Lygio Pape. Conremporory Art in l orin Americo (Londres: diálogos artistices. A mostro inclui obra s de Maria lzquie rdo, Frido Kah lo.
Blackdog, 2010). de Gerardo Mosquem , trata de 11 mulheres entre um Anita Malfotti, Maria Martins e Amelia Peláez.
total de 50 artistas. 39 Um exemplo revelador d isso é o e.,posição Perder /o formo humano,
30 O arquivo incluio artistas Que estiveram ativos entre os dêcodos Uno imogen sismico de los anos ochenta en Americo latino. com curadoria
de 1960 e 1980: Margarita Azurdia, Tonio Bruguero, Moris Bustamente, de Red Conceptualismos dei Sur. poro o Museu Nocional Centro d e Arte
Grocielo Cornevale, Lygio Clark, Teresa Maria Dio z Nerio, Diomelo Eltit, Reino Sofia, em Modri, em 2012, que foi acompanhado por uma
Coco Fusco, Regina José Golindo, Anno Bello Geiger. Maria Teresa pub licação com o mesmo titulo (Modri: Museo Nocional Centro de Arte
Hincopié. Leo Lublin, Maria Evelio Mormolejo, Mônico Moyer, Ano Reino Sofia, Departamento de Ac tividodes Editorioles, 20 12). De aco rd o
Mendieto, Morto Minujin, Letícia Parente, Polvo de Gollino Negro. Jesuso com o listo de participantes do mostro. pub licado no catálogo, de um
Rodriguez/Liliono Felipe, Antonieta Soso, Cecília Vic uno e Yeni y Non. total de 178 artistas, 110 são homens. 54 são coletivos e 14 são mulheres.
31 Ver, por exemplo, GIUNTA, Andreo. "Feminist Disruptions in Mexicon 40 RAMiREZ. Mari Cormen. "Tactics for Thriving on Adversity:
Art, 1975-1987" ln Arte/ogie: Recherches sur /es orts, /e patrimoine et lo Conceptualism in Lotin Americo, 1960·1980" ln Globo/ Canceptuo /ism,
/ittéroture de l'Amérique Latine, n. 5, 2013. Disponível em: <http://crol.in2p3. Poínts of Origin, 1950s-1980s. Novo York: Queens Museum o f Art, 199 9,
32 PEDROSA, Adriano (org.). Artevido, v. 1. São Paulo: Cobogô, 2015. 41 Artistas mulheres. ao lado do teórico cultural Nelly Richard, foram
33 No original · women of calor·. variação de ·person of calor", centrais poro a cena artístico conceituai e político do Chile. Ver o ensaio
utilizado poro descrever pessoas pertencentes à etnias negros. indigenas. de Andreo Giunto sobre o Chile nesta publicação.
latinas. chicanas. asióticos e outros não-broncos. O uso da expressão 42 Por exemplo. o exposiçã o Obras san amores, Arte-Vida-México,
carrego uma conotação politico que enfatizo o experiência comum do 1964-1992, com curadoria de Morisol Argüelles e Luis Orozco, no Muse u
racismo estrutural vivenciado por estes grupos, frequentemente excluidos de Arte Moderno do Cidade do México, em 20 14. Ver também o ensaio
e marginalizados em nosso sociedade. Poro o versão em português, de Koren Cordero Reimon nesta publicação.
optou-se por manter ao longo de todos os textos a tradução como
"'pessoas de cor·. em uma tentativo de expandir o discussão em torno
dos opressões sistémico s vivenciados por estes grupos. [N.E.]
34 LIPPARD, Lucy. Mixed Blessings: New Art in o Multicultural Americo.
Novo York: Pontheon, 1990. O livro abordo Celio Álvorez Muiioz, Asco,
Judith F. Baco, Santo Borrozo, Maria Brito, Josely Carvalho, Cristina
Emmonuel, Maria Enriquez de Allen. Marino Gutierrez. Ester Hernândez.
Valando Lôpez, Ano Mendieto, Amalio Meso-Boins, Cotolino Porra, Liliono
Porter, Sophie Rivera, Potricio Rodriguez, Merión Sato, Kathy Vorgo s,
Regina Voter e Cecilia Vicurio.
35 GOLDMAN, Shifro M. Dimensions o f the Americos, Art ond Sacio/
Change in Latin Americo and rhe Unired Stares. Chicago: University of
Chicago Press, 1994, pp. 177-241.
36 lbid, p. 234.
:n FULLER, Diana Burgess; SALVIONI, Daniela (orgs.). Art/Women/
Calilornia, 195D-2000, Parai/els and lntersections. Berkeley: University
of Colifornio Press; San Jose: San Jose Museum of Art. 2002. Outro
exemplo é LA Xicona - um projeto com curadoria de Chon Noriego,
Terezita Romo e Pilar Tompkins Rivos. como porte do iniciativa da Getty
Foundotion, "Pocific Standard Time: Art in L.A. 1945-198D" [Horário padrão
do Pacifico: arte em Los Angeles 1945·1980]. em 2011 -
composto de cinco exposições interligadas em Los Angeles. Foi incluído
um grande número de artistas mulheres de descendénc,a mexicano:
Judith F. Baco, Barbara Ca rrasco, Yreina Cervontez. Dora de Lor1os,
Sandro de lo Loza. Isabel Ca stro, Elsa Flores, Judithe Hernández, Norma
Montoyo, Nanc y Tovor, Lindo Vallejo, Potssi Voldez e Lucila Villosenor
Grijolvo. Ver: NORIEGA, Chon; ROMO, Terezito; RIVAS. Pilar Tompkins
Desnat uraliza do e destitu ído de m oralida de socia l e
nova
_ mais esp ecifica mente - de fun ção biológi ca , essa
tão
adeou
dissem
s-
inado,
pelo menos não como
ic on og rá fic a: múltiplo e simultâ neo. Projeto este que não estava atrelad
0 uma pauto único e unificad a, mas que era formula do .
em diferent es context os, com base em estra tég ias c ultura
o
is
ad es no rm a- e históric as especificas.
De modo geral. o c orpo estava no centro das
1960 ,
preocupações polltica s. sociais e esté ticas d os a nos
narrati va
do
Andrea Giunta
da arte vem discriminando as artistas que são classificadas investigações em formo de d...
como mulheres, fazendo com que se tornem invisíveis. iono (Lea L bl
representado pela experiênc· . u in); t-o,
Com um repertório que questiona esse essencialismo, ia repet1veI d
como trauma (Lygio Clark)· cor O no~""-
as obras produzidas por artistas mulheres representam ·b·d ' !)Os 9eston1
ex1 1 os como material escult · • es forc·""'to
111
outros corpos e outras sexualidades, e refletem as onco recorr
(Johanno Hamonn); 0 nosciment to· endo o0 o!) .
preocupações de identidade e diferenço que viriam o .. . o I tronsfo ,e,o
uma experiencI0 úmido, fluido e t r~en,
ganhar forço política nos anos 1980, quando emergiram . ransformod
Nan); o gravidez das próprios artist , . ora <Yeri 1
tormas alternativos de entender o corpo. Suas intervenções • . • . os 101 relo .
o vI0 1encIa (Morta Maria Pérez) A . cioOOdo
possibilitara m a visua lização de uma estética que . • ntec1pando
Fig. 2 começariam a ser desenvolvidos . .
questiono va lores patriarcais. Essas poéticas estavam Antonia Ei riz. Uno tribJro . princ1palme Pcutosci. ,,
poro lo poz .::erocrõ : .:c c decada de 1990, essas artistas des nte no
comprometida s, de maneira muito critica, com o problema {Uma tribuna para a oa : mantelarom
gestantes, bem como grandes barrig . COíPos
do identidade sexual, abrindo o caminho para as democ rática} . i9ôS . Óleo - as e sinto
e colagem sobre tela. gestaçao, poro transformá-los em dis . . masdo
estéticas lésbico, gay, queer, transexual e outras, como 2 19,7x250.2 cm. Museo . P0Sll l\'Qs Que
Nacional oe Bellas :..r-ces. pod eriam agir em qualquer corpo tr f
processos que dissolvem as representações normativas . , ons ormondo d
Havana. Cuba. certa maneiro, a maternidade em algo ' e
da sexualidade. Nos últimos anos, essa diversidade foi . Queer (Pol\'O d
Ga 1hna Negro). A maternidade também f • . . e
nomeada e explorada à medida que foram se desenvol- ..
d e uma formo poetIca o1 SOc1ohzodo
na arte postal de G .
vendo complexas teorias de gênero. Isso não significa, roc1elo Guti .
Marx, como um convite paro comemorar . . "= rre.:
O aniversario
no entanto, que as artistas representadas nesta exposição de sua mãe. Utilizando imagens e performan
aderem ou estão cientes das diferenciações que eu . ces rnarcon,~
artistas condenaram o crime de estupro (An , . ,.
0 " 1end1 e1a
estabeleço aqui, com base em debates e instrumentos Josely Carvalho). ·
teóricos atuais.
Em suas representações , essas artistas subve
No caso da América Latina, a relação entre corpo _ rteram
o genero do retrato. lnterviram nele com o uso de
e violência é central. Ditaduras e aparatos repressivos dispositivos de catalogação de fotos de identificação.
submeteram o corpo a noções de punição que eram fotos policiais ou de turismo e com o manipulação do
indiferentes aos quadros estabelecidos pelo conceito de discurso médico (Teresa Burgo). Usando os materiais
humanidade que - conforme analisa Foucault em Vigiar culturais reunidos em seus ateliês, produziram retratos
e punir - passou a ser dominante na Europa moderna a insinuados, em vez de representacionais (Narcisa Hirschl-
partir do século XVlll. 4 As convenções de uma economia cobriram suas caras com tinta, tornando-os matrizes ·
da disciplina e da punição estabelecidas pelas prisões de impressão ou máscaras (Nelbia Romero); assumiram
modernas e pelos sistemas educacionais foram implodidas expressões satíricas para mostrar diferentes estados
Fig. 3
no contexto das ditaduras latino-america nas, resultando Elda Cerrato , Lo nora
de humor (Mónica Mayer, Regina Voter); questionaram
de los pueblos [ A hora
em uma violência disseminada que anulou as estruturas dos povos ] . 1975. Tinta identidades sociais pré-atribuidos (Morisol); desafiaram
de controle institucional. Detenções ilegais, torturas, acrllica sobre tecido .
150x95 cm. Cortesia os limites da religião representando a si próprias como
nascimentos em centros de detenção secretos e o roubo da art is ta e de Henrique a Virgem de Guadalupe (Yolonda López); mostraram-se
Fa r ia , Nova York &
de crianças cujo paradeiro é, em muitos casos, até hoje Buenos Aires. subindo a mesma escada repetidas vezes em uma busco
desconhecido : essas são algumas das circunstâncias infinita (Margarita Morselli). Por meio do autorretrato,
que marcaram a situação do corpo, em geral, e do corpo elas interrogaram identidades em trânsito, deslocaram
feminino, em particular, sob as ditaduras latino- identidades indigenas (Anna Bello Geiger) e deram
-americanas.5 Algumas artistas foram detidas ou forçadas destaque a importantes figuras femininas, tois como
a buscar o exílio: as uruguaias Leonilda González e Lacy Gabriela Mistral, a única escritora latino-americana
Duarte foram presas, e Duarte, Diana Mines e Teresa a ter recebido o Prêmio Nobel (Roser Bru). Elos
Trujillo foram exiladas. A chilena Cecília Vicuna e a captaram rostos assustados pela violência de tesouros
argentina Mareia Schvartz viveram no exterior durante ameaçadoras (Anna Maria Maiolino) ou por redes .
o período ditatorial de seus países.• Métodos específicos sufocantes (Cecí lia Vicuna). Usaram convenções visuais
de tortura eram perpetrados no corpo de mulheres. Em para assinalar as limitações que a sociedade impõe ao
seus trabalhos, essas artistas abordaram, de maneiras sujeito feminino (Marie Orensanz). O gênero do retroto
diferentes, a situação do corpo feminino sob violentas e
foi tensionado em uma crítica aos estereótipos da .
repressoras estruturas políticas, bem como as condições .d.
sociedade colombiana de classe me 10 e aJta (ClenienCfO
sociais como um todo sob a ditadura.7 t iarcois foram
Lucena) e foi a base na qual estruturas po r .
Nesse quadro cultural e político, o trabalho das . s motriarco1 s
questionadas para propor a 1ternativo . r,vi,J·
artistas reunidas nesta exposição desestruturou e deu Fig . 4
. • -0 de interº"
Lygia Pape, Divisor. 19 68.
(Judith F. Baco). O rosto se tornou O territon fio (Lilian,1
visibilidade poética às molduras sociais que regulavam
Tecido branco de algodão com ções sutis na fricção entre desenho e fotogro_
o corpo. Temas estereotipado s foram abordados a buracos . 20x20 m. Re gistro eram a tono
fo t ográfico da performance Porter). O autorretrato e o retrato troux d por
partir de uma perspectiva crítica. A maternidade foi Museu de Arte Moderna, Ri~ os formulo os .
questões, subjetividades e para d ox e·entoç,.i<''
desprovida de seus afetos e passou a ser vista para além de Ja neiro, 199 0. Cortesia antro repr s
Projeto Ly gia Pap e e Hauser sujeitos femininos que se ergueram e do
das categorias pré-autorizada s, para que pudesse ser &. Wirth. · · lentes ao 1on90
canõnicas do rosto fem1n1 no preva
problematizad a. A aura maternal foi subvertida por
história da arte.
31
A virada Iconográfica
O retroto também foi uma formo de representaç ão com O formato da pa lavra "arte", q ue convoc a a boca
usado poro abordar o violência dos ditaduras do região: e O a to de ingerir - u ma obra a ser devorada . Comida,
os rostos de desaparecid os (Roser Bru, Luz Danoso); os labios e bocas são maneiras de reposic ionar a violênc ia,
rostos dos próprios filhos como formo de medir a duração quando, no contexto do ditadura chilena, duas meninas
do ditadura (Paz Errázuriz, Julie Toro); os rostos e os lambem piru litos paro revela r soldodinho s de brinq ued o
corpos dos torturados (Olga Blinder, Sonia Gutiér rez). Em (Gloria Camiruaga ). Substâncias viscosas, impregnado s
alguns trabalhos, o retrato também está associ ada com de saliva, são ingeridos, digeridas e expelidas em um
o violência cometido contra os populações americanas corpo prostrado que então renasce com novas percep-
nativos, seja pela seu extermínio (Nelbio Romero), seja ções em Baba antropofági ca, de Lyg ia Clark (1973).
pelo exotizoção. Por exempla, um cartão-post al na qual Nos traba lhos performá ticos de Sylvia Salazar Simpso n.
Anna Bello Geiger se fotografo vestida de indígena . a artista cobre sua cabeça com alimen tos e out ros
Outras obras exploraram tensões entre os populações
substâncias orgânicas.
indígenas e um governo que não os considerava cidadãos Fig. 5
Em várias obras nesta exposição, o corpo passo por
Clemencia Lucena , Primero
legítimos (Cloudio Andujar). Excepciona lmente, a questão de moyo revolucion ór•i o uma fragmentaç ão que d issolve o olha r pat riarcal. Em
do roço foi introduzido como uma consciência resistente: !Primeiro de Maio
revol ucionário), 19f7. Óleo vez de um corpo, esses trabalhos supõem o possib lid a de
em uma de suas performanc es, o artista peruano Victoria sob re Lela . 160x 130 cm.
de vários corpos - corpos-lasc as. Alguns são peças
Lo cal i zação at ual
Santo Cruz grito "negro!" e "sou negro!", como uma desconhec 1 da. a nalógicas, "máscaras" de fragmentos de gessos quebrados
maneiro desafiadora de nomear o afro-latino-a meric ano do Departamen to de Traumatolo gia de um hospital
e sua experiência . Essa obro torno visível o proc esso que (Dalila Puzzovio) ou as máscaras de um rosto que Maria
expulso os pessoas categorizad os como não tendo o que Martinez Canas remove uma após o outra; barrigas
é considerado o cor de pele certo.
penduradas em ganchos como pedaços de carne em
Imbuídos de politização social, mos também do um açougue (Johanna Hamann); o corpo inspeciona do
político do corpo coletivo redefinido e urbano, alguns em m icroscópio, células e vaginas reveladas em uma
trabalhos representam os mossas. A multidão que ouve cosmogonia anatômico- cientifica p rovocativa (Mercedes
um orador ausente (Antonio Eiriz, fig. 2); o multidão
Eleno González); o corpo fragmentad o em cerâmicas
que assinala o novo tempo histórico do Américo Latina
brutas, feitas à mão e transformad os em peços a serem
(Elda Cerroto, fig . 3); e o multidão que emerge no tensão
montadas (Tecla Tofano); o corpo visto como fragmentos
entre corpos e o matéria têxtil que os anulo (Lygia Pape,
de pele aumentado s para, assim, parecerem uma
fig . 4). Outros apresentam o corpo como multitude e o
paisagem (Vera Chaves Borcellos). Nesses trabalhos,
corpo multiplicado , como no trabalho de Gracia Sorrios;
o corpo deixa de ser. definit ivamente, uma unidade
corpos doutrinados, como nos mostro o obro que
controlada por um único ponto de vista.
Clemencio Lucena realizo desde o década de 1970 (fig. 5);
O corpo é, também, administrad o pelos normas
corpos perseguidos , como retrata Patssi Valdez ao Fi g . 6
Li l iana Mares ca, Cr ist o, instituciona is da arte, em um formato que remete
desafiar estereótipo s de mulheres chicanas e a ameaça 19 88 . Esta t u e t a de
Sa nt erla, a pare l ho de ao controle biopolítico, como no trabalho da artista
sexual que sofriam nas mãos do policia. transfusão, liquido
ver melho. Apr ox . 40 cm
argentina Graciela Carnevole, em que e la tranca os
As obras no exposição lidam com diversas complexi-
de a l tura . Cor t esia do espectadore s no local da exposição, encenando,
dades, incluindo aquelas que remetem a substãncias Arquivo Mon i q ue Al t schul .
portanto, a situação repressiva na Argentina durante
corporais não representáv eis e vistas como tabu, o
o d itadura de Juan Carlos Ongonia (1966-1970). Ou como
expelido e o repugnante (tecidos corporais, sangue
na obro de Lotty Rosenfeld, em que a artista, em um
menstrual, urino, excremento ), convocando uma emoção
gesto ritual, se ajoelha vá rios vezes na ruo para desenhar
que nos coloca diante do outro subalterno.• Na repulsa,
linhas cruzadas com os linhas divisórios do asfalto,
podemos nos ver à distância e diferentes do outro. O
criando, dessa formo, cruzes ou símbolos de adição.
sangue naturaliza com base no diferença biológica e
Sua ação pode ser interpretad a como um estado de
evoco a emoção do objeto.• Sangue, urina, excremento
sacrifício do corpo sob a ditadura. Ou a inda como a
e saliva irrompem coma substâncias indicativas de
série Women under Fire [Mulheres sob fogo) (1980, p. 82).
corpos determinad os culturalmen te (Lygia Clark, llse
de Isabel Castro, que é uma forma de p rotesto contra
Fuskova, Ana Mendieta, Maria Evelia Marmolejo, Sophie
a esterilizaçã o forçada de mulheres chicanas.
Rivera). O sangue é o outro fantasmagó rico que nos
O corpo foi investigado a partir de e rotismos e
aterroriza. Com a disseminaç ão da Aids nos anos 1980,
dispositivos ligados à sexualidade . A cama é entendida
o sangue tornou-se carregado de uma renovado e
não como um suporte para o nu, exposto poro satisfazer
penalizado alteridade, a base de uma novo tabulação
o desejo masculino, mas como um convite ao movimento
das sexualidade s corretas (Liliano Moresca, fig. 6).
erótico (Felizo Bursztyn) e à perda de controle (os colchões
o impulso escatológic o se foz sentir em ações que,
de Marta Minujin). A cama aponto poro a ideia de um
ao mesmo tempo, tangem o doméstico e se distanciam
lugar de submissão (Teresa Burgo, fig. 7) - uma leitura
dele. Esse é a coso, por exemplo, de um trabalho de Sybil
que também se faz sentir em algumas cenas do filme
Brintrup e Mogoli Meneses, no qual elos preparam
feminista de Maria Luisa Bemberg, E/ mundo de la mujer
mariscos para o almoço, ou no biscoito de Regina Silveira
[O mundo da mulher] (1972, p. 64). Uma exploração do
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Andrea Olun1a
Avirada lconogróflca
Andreo Olunta
5 A Argentino é um pois com grande número de crianças que uma pessoa ou grupo de
. . Pessoa, acesse
111
desoporec,das durante o ditadura. Graças ao trabalho incansável e havia sido negado por uma outorid a Outonorr,
. ode Que sub· ~, q,.
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sist emótica do organização de direitos humanos Abuelos de Plazo de Emancipar o corpo de estereór
. . IPOs contribuiu Dor a Cor,,.,
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Moya, olé agora cerco de 120 crianças, entre uma estimativo de 500 pol1t1co, prof1ss1onal, social, fo .1. a a ÍQua1.<. . _.,.,,,,,,
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ás mulheres e que O feminismo Que havia,.,._ • .,,a_
crianças desaparecidos durante o ditadura, foram identificados e vem Perseguind ...., ~
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localizados. Ver o site do organização: <https://www.obuelos.org.or/> formulações no século XIX até
suas versões m . s Orí~
e "Abuelos de Plozo de Moya presenlon ai nielo recuperado 120 en porôneos. Todavia, grande pane des ª"
recen1e, e -,,,
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Argentino·, E/ Pais, Uruguai, 29 jun. 2016. es1a Pelld,,i,,