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C o n c ü r s o
Coordenação Edilson Mougenot Bonfim
MEDICINA LEGAL
2009
m Editora
P P Saraiva
Editara iSBN 978-85-02-05943-6 obra completa
ISBN 978-85-02-08132-1 volume 21
São.Paulo:;-r:á^
CEP05413-909 , v ;; Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Pâ BX:(1í ) 3613 3ÒÒÓ . {Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
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' Rua Conselheiro Lourmdo, 2895 r- Prado
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PERNAM8ÚC0/PARAÍBA/R.G; D0 fiORTE/AlAGOÁS: '/. V / ; ; • V
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:: Fone: (81) 3421-4246 - Fax: (81). 3421-4510 - Recife • ••/••• ; : .
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: Av. Francisco Junqueiro, 1255—Ceníro '■’i Data de fechamento cia edição: 1-7-2009.
Fone:. (16) 36 1 0 -5 8 4 3 -Fox: (16) 3610-8284-R itó rco '
Dúvidas?
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Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio
SÃÓ PAÜLO'■ ^< ^ r :[ ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva.
k Marquês de São Vicente; 1697 - Barra Funda A violação dos direitos autorais é crime estabelecido no Lei n. 9.610/98 e
Fone: PA8X (11) 3613-3000 - Poulo . . punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Ao saudoso Mestre e amigo
José Lopes Zarzuela, sem cujos
ensinamentos esta obra não
teria sido possível.
IC — Instituto de Criminalística
km — quilômetro
km/h — quilômetros por hora
lb. — libra
mm — milímetro
m/s — metros por segundo
n. — número
s. — seguintes
A fim de melhor atender aos anseios de nossos leitores, o título Medicina Legal passa, a partir desta edi
ção, a ser apresentado em dois volumes. A nova divisão permitiu o aprofundamento de algumas matérias,
além da inclusão de novos assuntos e de mais de quinhentas questões aplicadas em concursos recentes.
O rol de matérias foi dividido da seguinte forma:
a Volume 20 (6a edição); noções essenciais de medicina legal, estudo das regiões corpóreas, antropo
logia forense e traumatologia forense.
■ Volume 21 ( Ia edição): balística forense, sexologia forense, tanatologia, toxicoiogia forense e psicopa-
tologia forense.
Nosso objetivo é sempre aprimorar a Coleção Curso & Concurso. As considerações dos leitores são uma
constante fonte de renovação de nossas obras, por isso nos colocamos à sua disposição para sugestões e co
mentários no seguinte endereço eletrônico: saraivajur@editorasaraiva.com.br.
A Editora
A fim de melhor atender aos anseios dos estudantes e candidatos a concursos, temos a satisfação de
oferecer a nova edição, inteiramente reformulada, da coleção Curso & Concurso, que apresenta as seguintes
mudanças:
1. Novo formato — semelhante ao de caderno universitário — , que torna a leitura e o transporte da
obra mais fáceis; ______ _
2. Numeração dos volumes para facilitar a localização dos temas;
3. Novo projeto gráfico, com uso de cores para facilitar a identificação dos pontos mais importantes de
cada matéria;
4. Proposição de questões de concurso no final de cada capítulo, com o intuito de permitir ao leitor
revisar as matérias e fixar os conceitos abordados, privilegiando o seu aprendizado. As respostas
estão no final do livro.
Convém frisar que nem todos os capítulos contêm questões, uma vez que os autores procuraram abor-
dar os temas mais solicitados em concursos públicos e no exame da Ordem.
As mudanças objetivam aprimorar a coleção, sendo as considerações do leitor uma constante fonte de
renovação da obra, por isso nos colocamos à inteira disposição para sugestões e comentários no seguinte
endereço eletrônico: saraivajur@editorasaraiva.com.br.
Agradecemos a todos aqueles que nos prestigiam por meio da leitura das obras da coleção Curso &
Concurso.
A Editora
Indice
Abreviaturas............................................................................................................................................................... VII
Nota Explicativa.........................................................*............................................................................................. IX
Nota do Editor....................................................................................... ................................................................... XI
XIV
Medicina Legai II
9.4. Aborto................................................................................................................................................... — ^2
9.5. Infanticídio.............................................................................................................................................. 64
10. As impotências................................................................................................................................................. 65
11. Investigação de paternidade.......................................................................................................................... 66
11.1. Provas mendelianas não sanguíneas......................................................... ...................................... 67
11.2. Provas mendelianas sanguíneas....................................................................................................... 67
11.3. Sistema ABO......................... ................................................................................................................ 68
11.4. Fatores M N ........................................................................................................................................... 68
11.5. Fatores Rh e rh ......................................................... ............................................................................ 69
11.6. Outros fatores....................................................................................................................................... 69
11.7. Sistema HLA.......................................................................................................................................... 69
11.8. DNA.................................................................................. ......................................... ........................... 70
Questões..................................................................................................................................................................... 71
XV!
Medicina Legal II
XVI!
4íi
CursoSConcurs© l
l;•
5.6. Alcoolismo agudo — embriaguez normal.............................................................................*......... 129 L
:
5.7. Alcoolismo agudo — embriaguez patológica...................................................................... ........... 130
XVIII
Medicina Legal II
Bibliografia.................................................................................................................................................................. 173
Respostas.................................................................................................................................................................... 177
C a p í t u lo
Balística Forense
2. OBJETO DE ESTUDO
acidental; e
a identificação da autoria dos disparos, pe
A Balística Forense ocupa-se em estudar, entre la pesquisa de vestígios deixados no ati
outros, os seguintes temas: rador pelo uso de arma de fogo (residuo
grafia metálica).
as armas de fogo em geral, suas caracterís
ticas, peculiaridades e sistemas de funcio
A listagem não é exaustiva, procurando apenas
namento;
indicar os principais campos de interesse da Balísti
a identificação direta das armas de fogo, de
maneira genérica (classificação) e individual; ca Forense e demonstrar como é vasto seu objeto.
* a identificação indireta das armas de fogo, Nesta obra, não nos ocuparemos de todas as ma
pelo estudo das marcas por elas deixadas térias, mas procuraremos fornecer apenas uma visão
em suas munições (projéteis e estojos); geral do tema para que se possa compreender os
os vestígios deixados pelos diferentes tipos de princípios gerais do funcionamento das armas de
projéteis em diferentes alvos, estabelecendo fogo e os efeitos decorrentes de seus disparos.
CurstôConcurso
Qualquer que seja o tipo de arma considerada, ela terá sempre algumas peças que entram invariavelmente
em sua composição:
É a peça que imprime forma à arma. Serve de suporte e alojamento para as demais
Armação peças. É o seu corpo. Atualmente a armação dos revólveres é forjada em aço carbono
ou aço inoxidável e a das pistolas em alumínio, laminado ou forjado.
Tubo inteiriço de aço, do quai dependem as propriedades balísticas da arma. Tem por
Cano finalidades: receber o cartucho ou o projétil; resistir à pressão dos gases em expansão;
imprimir rotação (nas armas de alma raiada) e direção ao projétil.
0 extrator tem por função extrair ou retirar o estojo após o disparo. A extração pode ser
Extrator manua/, como ocorre nos revólveres, ou automática, como nas pistolas semiautomáticas
e metralhadoras.
É uma peça fixa existente apenas nas armas semiautomáticas (pistolas) e automáticas
Ejetor (metralhadoras), que funciona com o extrator e tem por escopo lançar o estojo para fora
da arma após o disparo.
0 depósito de munição tem por função receber os cartuchos de munição que constituem
a carga da arma considerada. Nas pistolas recebem o nome de pente ou carregador
Depósito de munição e comportam entre 6 e 20 cartuchos. Nos revólveres correspondem às câmaras do
tambor, em número que oscila entre 4 e 10. Nas garruchas integram os canos, em número
de 1 a 4.
2
Medicina Legai II
lisa
pares
quanto ao número de raias
quanto à alma ímpares
do cano raiada
dextrogiras
quanto ao sentido sinistrogiras
de antecarga
quanto ao sistema de carregamento
de retrocarga
extrínseca
Armas de fogo quanto ao
percussão
sistema de central direta
intrínseca
inflamação radial indireta
elétrica
de tiro unitário
fixas
quanto à mobilidade semiportáteis
portáteis
Raias sinistrogiras
As armas com cano de alma raiada são aque Cano da arma Projétil
las que utilizam cartuchos de munição com pro raias ressaltos
jéteis unitários e podem ser curtas (revólveres, cheios cavados
garruchas, pistolas etc.) ou longas (carabinas, fuzis
etc.). As armas com cano de alma lisa são as que O sentido da rotação pode ser horário (para
utilizam cartuchos de munição com projéteis múl a direita), quando dizemos que são dextrogiras, ou
tiplos, geralmente usadas para caça (espingardas) anti-horário (para a esquerda), quando as chama
ou tiro esportivo. mos de sinistrogiras.
Se o ângulo de corte das fresas for constan
te, isto é, se a inclinação das raias for a mesma horário — dextrogiras
Sentido das raias
anti-horário — sinistrogiras
em toda a extensão do cano, dizemos as raias têm
passo uniforme. Por outro lado, se a inclinação
O número de raias varia, dependendo da arma:
for variada, aumentando no sentido da base para
entre 4 e 12, sendo mais comuns os canos com 5 ou
a boca do cano, dizemos que as raias têm passo
6. O número de raias, assim como o sentido ( dex
progressivo.
trogiras ou sinistrogiras), é uma das características
Normalmente o passo progressivo é utilizado nas que serve para a macroidentificação dos projéteis.
armas longas (de cano longo), em razão da grande
A largura e o espaçamento estão relacionados.
velocidade inicial do projétil. As armas curtas têm
As raias podem ter largura igual, maior ou menor
raias de passo uniforme.
que a largura dos cheios.
O sentido de inclinação das raias, seu número,
A profundidade varia com o uso. As armas mais
largura, espaçamento (largura do cheio) e profun
novas têm raias mais profundas, geralmente em
didade variam de arma para arma.
torno de 0,2 mm, e aquelas com mais uso uma pro
fundidade menor, ao redor de 0,1 mm.
sentido de inclinação
número
Elementos de variação nas raias largura 4.1.1. Finalidade das raias
espaçamento
A finalidade das raias é imprimir ao projétil mo
profundidade
vimento de rotação no sentido centro longitudinal,
que pode chegar a aproximadamente 8.000 rotações
As raias deixam nos projéteis sua impressão de por segundo. Com esse movimento de rotação o
forma inversa, ou seja, um ressalto no cano corres projétil funciona como um giroscópio, mantendo sua
ponderá a um cavado no projétil e vice-versa. trajetória, além de facilitar sua penetração no alvo.
Medicina Legai II
4.2. Classificação das armas quanto em cartuchos e é introduzida pela parte posterior
ao sistema de carregamento (base) do cano.
A percussão pode ser central, anular ou radial e utilizam cartuchos de munição sem espoleta (a pró
lateral (obsoleta). pria base do cartucho constitui a espoleta).
Na percussão central o percussor atinge a cápsu A percussão lateral ou sistema Lefaucheux con
la de espoletamento (espoleta) situada na parte cen sistia em um pino situado na lateral do cartucho de
tral da base do cartucho; na anular ou radial, atinge munição que chegava até o fundo do estojo, onde se
o perímetro externo da base, em qualquer ponto, situava a cápsula de espoletamento. Este sistema há
vez que as armas que utilizam este tipo de percussão muito foi abandonado.
Quanto ao funcionamento
não automática
de repetição semiautomática
automática
de munição na câmara de combustão. Para que seja As armas móveis podem ser portáteis ou semipor
efetuado um novo disparo, entretanto, será preciso táteis. Serão portáteis quando puderem ser carrega
que o atirador acione uma vez mais o gatilho. das e acionadas por uma só pessoa, como os revól
Nas armas de repetição automáticas tanto o car veres ou as pistolas. Serão semiportáteis quando não
regamento como o disparo são automatizados. Uma puderem ser transportadas por uma só pessoa ou,
vez pressionado o gatilho, a arma efetuará uma série de podendo ser transportadas por uma única pessoa,
disparos sucessivos até que o atirador libere a pressão exigirem duas ou mais para sua utilização. São exem
da tecla. As operações de carregamento, disparo, extra plos as armas de uso militar como alguns canhões ou
ção, ejeção e novo carregamento se sucedem automa mesmo metralhadoras de grande porte.
ticamente. São exemplos de armas automáticas o fuzil-
metralhadora, a submetralhadora e a metralhadora.
5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Resumindo:
SOBRE O REVÓLVER
carregamento manual O revólver pode ser definido como uma arma
não automáticas
disparo manual curta, de repetição, não automática, composta de ar
Tambor
Alça de mira
Chave do tambor
Corpo da arma
Haste do extrator
Gatilho
Guarda-mato
7
CursoSGoncurso
posterior pela pressão do atirador no gatilho (que .44 Magnum 1,5 a 2,25 kgf
disparo acidental são a força de tração do gatilho e o ça para os revólveres. Todos, entretanto, têm como
característica comum impedir que o pino percussor
mecanismo de segurança.
venha a atingir a base do estojo em razão de impac
to acidental na orelha do cão.
5.1. Força de fração d© gatilho
Uma das arguiçoes mais comuns em Juízo, quan
O gatilho de um revólver deve oferecer certa do da alegação de disparo acidental, é exatamente no
resistência à pressão, particularmente na situação sentido de que a arma caiu e disparou pelo impacto
de disparo em ação simples, ou seja, quando a arma no piso.
está engatilhada. Armas cujos gatilhos podem ser Nas armas com mecanismo de segurança atuan
acionados com uma pressão mínima, liberando o te, essa espécie de disparo não ocorre. Sempre será
cão de sua posição engatilhada e produzindo o dis necessário, entretanto, que se efetue o exame pericial
paro, são frequentemente responsáveis por disparos do revólver questionado para saber se o mecanismo de
acidentais. segurança está presente e se opera convenientemente.
Em alguns casos a sensibilidade é tão grande Dentre os mecanismos de segurança mais usuais
que basta uma vibração externa para se fazer a arma podemos citar as travas de segurança, que se inter
disparar, não sendo sequer necessário que se acione põem entre o cão e o percussor ou entre este e a base
manualmente a tecla do gatilho. do estojo, impedindo que o pino atinja a base do
É claro que tal situação depende de comprova cartucho, mesmo quando o impacto na orelha do
Para aproveitar essa considerável energia, sur dependendo, entretanto, cada disparo, do aciona
giram as armas de repetição semiautomáticas, que mento do gatilho pelo atirador.
utilizam a força dos gases (exercida sobre o estojo)
Da mesma maneira que os revólveres, as carac
para realimentação, e as armas de repetição automá
terísticas gerais, como número de raias, direção do
ticas, que utilizam a força expansiva dos gases para
realimentação e deflagração de novos disparos. raiamento, tamanho da armação, capacidade do
As pistolas semiautomáticas, portanto, po pente e tipo de mecanismo, variam de arma para
dem ser definidas como armas que aproveitam a arma e são particularidades que servem para a sua
força expansiva dos gases para sua alimentação, identificação genérica.
Em (A) temos a posição de repouso da pistola. estojo é expelido para fora da arma (C) e o ferrolho,
Quando o atirador aciona a tecla do gatilho ocorre a agora vazio, captura o primeiro cartucho de munição
explosão da pólvora do cartucho. O projétil é arre do pente, inserindo-o na câmara de combustão (D),
messado para frente e o estojo para trás, deslocando, voltando a arma à sua posição de repouso (A), até
juntamente, o ferrolho (B). Ao atingir o ejetor, o que a tecla do gatilho seja novamente acionada.
CursoSConcurso
Massa de mira
Ferrolho Alça de mira
i Cano ^
Cão
Registro de
segurança
Gatiiho
Cabo
Guarda-mato
Pente
Armas longas são aquelas que, em razão do armas de fogo portáteis, de repetição, cano longo e
comprimento do cano e da coronha, possuem gran alma raiada. O cano das carabinas mede entre 18”
de dimensão longitudinal, exigindo para seu uso o" e 20” (de 45 cm a 51 cm), e é exatamente pelo com
apoio do ombro e ambas as mãos do atirador. primento, menor, que diferem dos rifles, que têm
Dentre as armas longas e portáteis, distinguem-se canos maiores.
a espingarda e a escopeta, a carabina, o rifle, o fuzil e A alimentação e o carregamento das carabinas
o mosquetão. são feitos geralmente pelo sistema de bomba (pump
action) ou de alavanca (lever action).
espingarda e escopeta
carabina
Principais armas longas portáteis rifle
7.3. Rifle
fuzil
Os rifles são armas de fogo longas, portáteis,
mosquetão
de carregamento manual (não automáticos) ou de
10
Medicina Legal II
Sistema
8. CALIBRE DAS ARMAS DE FOGO americano
Sistema Inglês Sistema métrico
Arma Munição
Distância Distância Diâmetro
Calibre real Tolerância Tolerância Calibre nominal Tolerância
entre cheios entre cavados do projétil
de .306"
7,77 mm
.300” .300" .302" .308" .310" .300" .308"
a
7,62 mm 7,62 mm 7,67 mm 7,82 mm 7,84 mm 7,62 mm 7,82 mm
.309"
7,85 mm
8.2. Calibre das armas de alma Isso não significa que os projéteis por ela dispara
lisa, sua munição e projéteis dos terão o diâmetro do cano. Ao contrário, são geral
mente bem menores. O que a medida indica é apenas
O calibre das armas de alma lisa, ou de caça, uma convenção, ou seja, tomam-se esferas de chumbo
não é expresso pelo diâmetro interno do cano, mas imaginárias, de diâmetro igual ao cano da arma, e con
sim pelo número de esferas de chumbo puro, de diâ tam-se quantas esferas serão necessárias para compor
metro igual ao do cano em referência, necessário uma libra de peso. O número encontrado indicará o
para atingir uma libra de peso (454 g). calibre nominal da arma (na ilustração, o calibre 12).
12
Medicina Lega! il
13.
I
CwrscfSCosicMrs©
estojo
espoleta
Cartucho de munição pólvora
projétil
embuchamento — armas de alma lisa
Bucha
9.3. Espoleta
Pólvora (propelente)
Propelente Há varias espécies de espoleta para as armas
Estojo de metal
Iniciador Base de fogo. Como vimos, quando a percussão se dá
Espoleta Espoleta em uma espoleta que está colocada no centro do
culote de um estojo, dizemos que o cartucho é de
fogo central ( centerfire). Quando, por outro lado,
9.2. Estojo
a mistura iniciadora fica distribuída pelas abas
O estojo é o componente de maior dimensão internas do culote, denominamos o cartucho de
dos cartuchos e serve de abrigo e apoio aos demais fogo circular.
constituintes. A parte anterior, aberta, onde se en Os cartuchos de fogo circular (rimfire) hoje têm
caixa o projétil, é denominada de boca. A posterior, sua fabricação restrita às armas de pouca potência,
ou culote, abriga ou a espoleta ou o anel com a mis por exemplo, o calibre .22”.
tura iniciadora (escorva). Os cartuchos de fogo central dividem-se em três
Os estojos são confeccionados, em sua maio espécies: Boxer, Berdan e Bateria.
ria, de metal, normalmente em latão 70:30 (70% de No sistema Boxer a espoleta possui um único
cobre e 30% de zinco), e mais raramente em alu furo central para a saída da chama iniciadora. No
mínio (não reaproveitáveis). Os estojos de munição sistema Berdan há dois ou mais furos, e no sistema
destinada às armas de alma lisa podem ter o corpo de bateria a espoleta é totalmente independente do
confeccionado em papel, plástico ou ieflon. estojo (a ilustração mostra os tipos de espoleta fa
Na base dos estojos, invariavelmente, estão im bricados pela CBC — Manual de Aperfeiçoamento
pressas em baixo relevo uma série de letras, núme Profissional, 1993).
ros ou marcas de fábrica que visam indicar a proce O sistema de Bateria é utilizado geralmente
dência e o calibre dos cartuchos que os integram. para os cartuchos destinados às armas de alma lisa.
14
Medicina Legal li
Bateria
9.5. Projéteis
Quando a pólvora negra queima, produz aproxi
madamente 44% de sua massa original em gases e cer O projétil, vulgarmente conhecido como bala,
ca de 56% de resíduos, que aparecem principalmente é a parte do cartucho impulsionada em direção ao
sob a forma de uma densa fumaça esbranquiçada. alvo pelos gases oriundos da queima da pólvora. As
propriedades balísticas da arma dependem, em boa
Em 1884, o químico francês Vieille sintetizou uma
parte, do diâmetro, massa, conformação e velocida
forma mais efetiva de pólvora que hoje é impropria
de inicial do projétil, que varia de arma para arma e
mente conhecida como sem fumaça. Usando álcool e
éter, ele reduziu a nitrocelulose a uma forma coloidal de cartucho para cartucho de munição.
gelatinosa que podia ser reduzida a folhas, enrolada Os primeiros projéteis foram esféricos. Depois des
e subdividida em flocos. Em 1887, Alfred Nobel de cobriu-se que a forma alongada era mais aerodinâmi
senvolveu uma forma um pouco diferente da pólvora ca e adaptava-se melhor aos canos de alma raiada, sur
sem fumaça idealizada por Vieille, que combinava a gindo os projéteis cilindro-cônicos e cilindro-ogivais.
nitrocelulose com nitroglicerina. Estas duas formas de Atualmente há inúmeros tipos de projéteis,
pólvora sem fumaça são conhecidas como de base cada qual com características balísticas especiais,
simples (nitrocelulose) e de base dupla (nitrocelulose destinados às mais variadas formas de tiro. É sem
+ nitroglicerina). Tanto as pólvoras de base simples pre bom lembrar que o tipo do projétil não se con
quanto as de base dupla podem apresentar-se sob a funde com. o calibre, podendo existir várias espécies
forma de pequenos discos, cilindros ou flocos. para cada calibrexonsiderado.
CursoSCosicurs®
Como regra, as armas de caça, de alma lisa, utili de grandes proporções, denominados balotes, e as armas
zam cartuchos com projéteis múltiplos, e as armas de de alma raiada podem, excepcionalmente, utilizar cartu
alma raiada, projéteis unitários. Por exceção, as espin chos com projéteis múltiplos (munição tipo gíaser).
gardas podem utilizar cartuchos com um único projétil Os projéteis dividem-se basicamente em:
ogival
ponta plana
de chumbo nu canto vivo
semicanto-vivo
cone truncado
ogival
projéteis unitários encamisados semicanto-vivo
_cônico
ogival
de alma raiada semiencamisados ponta oca
(expansivos) ponta plana
cônico
Os projéteis de chumbo nu são geralmente ci Os projéteis semiencamisados, por vezes, são
líndricos, apresentando base plana ou côncava. dotados de ponta oca (hottow point) e camisa com
Os projéteis encamisados, também chamados de entalhes longitudinais. Essa conformação permite
jaquetados, e os semiencamisados ou semijaquetados que o projétil se expanda, ao atingir o alvo, razão
apresentam núcleo de chumbo ou outros metais (in pela qual são chamados de expansíveis, Esse tipo de
clusive o aço) e uma camisa de liga de latão denominada projétil, quando no corpo humano, produz lesões
tomback, formada por 90% de cobre e 10% de zinco. de grande monta.
Medicina Legal ii
Projétil feito em latão sólido, perfurado da ponta até a base e que tem no interior um pino de plástico
BAT (Blifz
que o atravessa integralmente. Quando do disparo, em razão da diferença das massas, o pino
Action Trauma)
desprende-se do projétil, um deixando um espaço central que faciiita a expansão.
Projétil de ponta oca onde é colocada uma carga explosiva de póivora e uma pequena espoleta,
Exptoder
para que, atingindo o alvo, venha a fragmentar-se.
Projétil dotado de uma jaqueta de cobre ou latão que lhe dá conformação e que o reveste da base
até a ogiva. Na ponta da ogiva existe uma perfuração fechada por uma tampa plástica. No interior,
Glaser
temos uma carga de diminutos balins. Quando o projétil atinge o corpo humano, libera a carga de
pequenas esferas de chumbo que se espalham no interior do organismo.
Projétil de ponta oca (hollow point), dotado de um pino no interior da cavidade frontal que aumenta a
Hydra-shok
capacidade de expansão do projétil ou facilita sua fragmentação quando no embate contra o aivo.
Projétil de ponta oca (hollow pointj, revestido por uma camisa em liga de aiumínio, que inclusive
Silvertip
reveste o inferior da cavidade e que se expande ao atingir um corpo sólido.
Um particular tipo de projétil expansivo é a fa em 1898, nada mais é que um projétil do calibre bri
mosa bala dum dum, que erroneamente é conside tânico .303 com a ponta cortada de modo a expor
rada como explosiva. Na verdade, a bala dum dum, o núcleo. O projétil assim concebido expande-se ao
concebida na índia em 1890 pelo Capitão Bertie Clay impacto, aumentando o poder deparada se compa
e usada pela primeira vez na Batalha de Omdurman rado ao seu equivalente convencional.
Ogiva
Pino de plástico
Projétil
Cobertura de plástico
■
Jaqueta metálica
■
Chumbo n. 12
Jaqueta metálica
Núcleo de chumbo
Silvertip
CurssSCowcurs©
Este cartucho foi o primeiro do tipo Magnum para armas curtas. É o único cartucho de munição
cujo número reflete fielmente o calibre reai (9,06 mm de diâmetro). A conformação do projétil
.357 Magnum é variável, assim como seu peso, que oscila entre 7,1 g e 10 g. A carga de pólvora sfandard é
de 10,2 g e a velocidade iniciai é de 442 m/s (aproximadamente 1.600 km/h). Sua velocidade e
potência, para armas de mão, somente são superadas pelos cartuchos .41 e .44 Magnum.
Nada mais é que um cartucho do calibre .38, dotado de um projétil geralmente de chumbo,
38 Specla! pesando entre 7,1 g a 13 g, e uma carga de pólvora suficiente para imprimir a ele uma
velocidade iniciai de 260 m/s (aproximadamente 930 km/h).
9 mm Parabellum Este cartucho é uma das mais populares munições de armas curtas de uso em pistolas
semiautomáticas e submetraihadoras em todo o mundo. O 9 mm Parabellum apresenta um estojo
ou
ligeiramente cônico e sem borda e, como carga sfandard, um projétii encamisado de 8,10 g de
9 mm Luger peso e 9,02 mm de diâmetro, com velocidade inicial de 375 m/s (aproximadamente 1.350 km/h).
O © © 0 #
Número do chumbo ® •
• •
12 11 9 8 7 Vs 7 6 5 3 1 T 3T
Diâmetro em mm 1,25 1,50 2,00 2,25 2,38 2,50 2,75 3,00 3,50 4,00 5,00 5,50
Quantidade média
de chumbos em 870 457 216 151 130 110 83 64 40 27 14 10
lOg
18
Medicina Legal il
0 cartucho calibre 12 pode ainda ser carrega Os discos de papelão têm por função separar os
do com pellets de polietileno de alta densidade e 3,8 componentes do cartucho e, em alguns casos, fazer
mm de comprimento, aproximadamente. Esse tipo seu fechamento.
de munição, fabricado pela CBC, denomina-se an- Nos ferimentos produzidos por projéteis múlti
timotim (figura) e tem por finalidade suprir as for plos de arma de fogo, decorrentes de disparos efetua
ças armadas e unidades policiais com uma munição dos a curta distância, é freqüente encontrar no interior
que demonstre força, mas que, observadas as dis- do corpo restos do(s) disco(s) e da(s) bucha(s),
tâncias de segurança, não causem ferimentos letais. Esses achados de necropsia são de grande im
portância, pois através do diâmetro da bucha ou dos
discos de papelão é possível determinar o calibre da
arma e, por vezes, a marca da munição utilizada.
10. TRAJETÓRIA
Apenas para se ter uma noção da dimensão das for
Impelido pela expansão dos gases oriundos da ças que atuam sobre o projétil, consideremos o qua
queima do propelente, o projétil é arremessado atra dro abaixo relativo ao calibre .38 Special+P Expo
vés do cano da arma, onde sofre incrível aceleração. (CBC— Informativo Técnico n. 9):
Ora, uma velocidade de 288 m/s, velocida ção do projétil no interior do cano é, portanto,
de do projétil ao sair da boca do cano da arma, cerca de 40.600 vezes a aceleração da gravidade
corresponde a 1.038 km/h. Para atingir essa ve (10 m /s2).
locidade no curto espaço de 10,2 cm do cano, se O gráfico ilustra a evolução da pressão e da
considerarmos que o projétil saiu do repouso, ve aceleração do projétil no interior do cano desde o
remos que houve uma aceleração de 406.588 m/s2, instante inicial da percussão até a saída pela boca da
por um período de tempo de 0,0007 s. A acelera arma (Rabello, 1995, p. 84).
Ao deixar a boca do cano da arma, o impulso forças que o desaceleram e modificam sua trajetó
produzido pelo propelente cessa e o projétil, pela ria, a gravidade e a resistência do ar.
inércia, tende a manter a velocidade inicial e a traje Eraldo Rabello (1995, p. 179) lembra que até pou
tória, deslocando-se em movimento retilíneo e uni co tempo era comum a trajetória ser definida como
forme. O projétil, entretanto, sofre a ação de duas uma parábola de tipo especial, simétrica em relação
20
I Medicina Legal II
à sua ordenada máxima, quando, na verdade, esta Isto ocorre porque inúmeros fatores influen
ria mais próxima do segmento de uma elipse. ciam na trajetória do projétil, entre os quais pode
Segundo o autor, no vácuo, sob ação apenas da ríamos citar:
gravidade, o percurso realmente se desenharia como
uma parábola (gráfico 1). No ar atmosférico, entre massa
relativos ao densidade
tanto, pela influência de inúmeros fatores, a confi
projétil forma
guração de seu deslocamento se aproximaria mais
de uma seção de elipse (gráfico 2). Fatores que velocidade inicial
relativos à arma
influenciam
e propelente número de rotações
na trajetória
21
CursG&Concurso
Nas armas de alma lisa, o alcance útil está in sempre, ainda é dotado de energia cinética suficiente
timamente relacionado com a abertura do cone de para perfurar a pele humana, pàrticularmente de crian
dispersão e depende do tipo de choque (estreita ças e mulheres, que possuem tegumento mais sensível.
mento da boca do cano da arma) utilizado. Segundo Karl Selliery para perfurar a pele hu
mana o projétil deve estar animado com velocida
11.1. “Balas perdidas” de superior a 50 m/s. Essa velocidade é facilmente
atingida por projéteis em queda livre, mesmo em se
Os conceitos e princípios relacionados com a considerando a resistência do ar.
trajetória dos projéteis são de grande importância Di Maio apresenta o seguinte quadro compara
na determinação da etiologia jurídica de alguns
tivo (1993, p. 214):
eventos morte. O conhecimento do comportamen
to de determinada munição ou armamento pode Velocidade mínima para perfurar a pele
servir para determinar o ponto de origem do dis Projétil Peso em grafns/gramas Velocidade mínima
paro, quando efetuado à longa distância ou mesmo .177 8,25 — 0,5 101 m/s
nas chamadas “balasperdidas”, .22 16,5— 1,2 75 m/s
Uma ocorrência bastante comum é a de feri .38 113 — 7,2 58 m/s
mentos provocados por projéteis disparados origi-
nariamente para o alto. A errônea crença popular Já se demonstrou experimentalmente que um
de que projéteis assim disparados não têm poder de projétil disparado para o alto pode retornar ao solo
penetração, e por tal não podem provocar ferimen com velocidade superior a 85 m/s, dependendo de
tos, leva a um sem número de acidentes. sua massa, densidade e conformação; logo, é perfei
Ê bem verdade que o projétil disparado para o tamente possível que um projétil disparado origi
alto, quando entra no ramo descendente de sua tra nalmente para o alto possa atingir, ferir e até matar
jetória, tem menor poder de perfuração, mas, quase uma pessoa (Dadian, 1988, p. 46).
22
Medicina Legai il
Oria de enxugo
Oria de escoriação ~~ derme
Ferimento de entrada
Limite da lesão na epiderme
Oria de contusão
Os halos de escoriação e contusão não são ex derável volume de gases em alta temperatura e em
clusivos dos ferimentos produzidos por projéteis de combustão, certa quantidade de fumaça (que varia
arma de fogo, podendo ser observados em lesões de de acordo com o propelente utilizado) e pequenos
terminadas por outros instrumentos perfurocontu- grãos de pólvora (combustos, semicombustos ou em
sos. A orla de enxugo de coloração enegrecida é mais combustão), assim como micropartículas metálicas
característica e, com segurança, indica ferimento de oriundas da abrasão do projétil no cano da arma.
entrada de projétil de arma de fogo.
As fotos a seguir mostram o aspecto de ferimentos
de entrada produzidos por projéteis unitários de arma
de fogo, decorrentes de disparos efetuados a distância.
26
Medicina Legal H
podendo não atingir o alvo, na dependência da dis A zona de tatuagem pode ser encontrada em
tância, da arma, tipo e idade da munição utilizada. disparos realizados até 50 cm do alvo. Acima des
Se o disparo for efetuado muito próximo do sa distância costumamos observar apenas as orlas
alvo, algo em torno de 5 cm, poderemos ter a zona de contusão, escoriação e enxugo. Em disparos mui
de chamuscamentOy que nada mais é que uma região to próximos, não há dispersão suficiente dos grãos
onde a pele é literalmente queimada pela chama de pólvora, que acabam por acompanhar o projétil
que sai pela boca do cano da arma. para o interior da lesão, ou depositam-se tão pró
ximos ao ferimento de entrada que não chegam a
constituir uma zona de tatuagem.
Até 5 cm X X X X X
De 5 a 10 cm X X X X X
De 10 a 30 cm X X X X X
Até 50 cm X X X X
+ de 50 cm X X X
1 3 . IDENTIFICAÇÃO DAS
balística. Com ela, procura-se filiar um determina
ARMAS — MICROSCÓPIO
do projétil, denominado de incriminado ou ques
COMPARADOR BALÍSTICO
tionado, geralmente retirado do corpo da vítima, a
Uma das perícias mais solicitadas na área da balís outro, testemunha ou padrão, disparado pela arma
tica forense é aquela relacionada com a comparação que se deseja pôr à prova.
Curs®S£©Bic&ays@
Inicialmente procede-se a uma análise das ca sas na superfície do projétil, como se formassem
racterísticas macroscópicas, ou seja, comparam-se uma “assinatura” da arma utilizada.
os calibres, o número de raias e sua orientação. Em Apesar das armas serem fabricas pelo mesmo
um grande número de casos, essa análise preliminar processo, o desgaste e a troca das fresas que as pro
permite descartar, com segurança, a arma apontada duzem sempre introduzem pequenas diferenças que
como autora do disparo. aumentam com o tempo e o uso. Essas diferenças
Caso as características macroscópicas coincidam traduzem-se por microestrias impressas na superfí
e não estando o projétil incriminado por demais de cie do projétil.
formado, passa-se a análise dos microelementos com O microscópio comparador balístico é um
o auxílio do microscópio comparador balístico. instrumento ótico composto de duas objetivas in
Vimos que o calibre real do projétil é ligeiramen dependentes que permite, pela ação de um jogo de
te maior que o calibre real da arma. Isto é necessário prismas e espelhos, a composição das imagens em
para que não haja perda de pressão quando da ex uma única ocular, de maneira a permitir que o pe
pansão dos gases decorrentes da queima da pólvora rito visualize conjuntamente metade do projétil in
propelente. criminado e metade do projétil testemunha.
Em razão das enormes forças físicas envolvi Após examinar toda a superfície dos projéteis, o
das no processo de disparo, todas as irregularidades perito poderá afirmar ou não a coincidência e, com
existentes no cano da arma acabam por ser impres isso, comprovar a filiação da arma incriminada.
' ,\ i 'V
Eraldo Rabello (1975, p. 287) assim se mani como ele, satisfaz a condição de permitir, em uma
festa sobre o microscópio comparador balístico: mesma reprodução fotográfica, a apresentação si
“De todos os processos técnico-científicos de iden multânea e justaposta dos dois objetos compara
tificação individual das armas de fogo, nenhum é dos, com o registro imediato e fiel das respectivas
tão versátil e rico em possibilidades práticas de características coincidentes ou divergentes e sem
imediata utilização pelo perito como o propor desfiguração das imagens dos referidos objetos,
cionado pelo microscópio comparador. Nenhum, na escala de grandeza adequada, em cada, para a
Medicina Legai ii
percepção exata e a identificação precisa das me estojos. Fora do âmbito da balística forense, é uti
nores particularidades distintivas”. lizado para o exame de moedas, cheques, papel-
Além de permitir o cotejo de projéteis, o mi -moeda, selos, assinaturas e vestígios decorrentes
croscópio comparador permite a análise das mar da ação de uma ferramenta sobre determinadas
cas deixadas pelo percussor ou pelo extrator nos superfícies.
Esses resíduos e partículas constituem verdadei da foi proposta em 1942 por Feigl e Suter, e consiste na
ros projéteis secundários, arremessados tanto pela utilização de uma solução de rodizonato de sódio em pH
“boca” do cano quanto pela culatra da arma, que po 2,8. Essa solução reage com o chumbo II em concentra
dem depositar-se nas mãos e vestes do atirador. ções de até 0,1 jig, apresentando coloração violácea.
Outros reagentes utilizados:
íons nitrito
íons nitrato
Reagente Detecta
microrresíduos íons estifnato
Reagente de GRIESS Nitrifos
não metálicos íons chumbo
Solução suifúrica de BRUC/NA Nitratos
íons antimônio
Solução de D/r/O-OXAMÍDA íons cobre II
íons cálcio etc.
Projéteis Solução de RODAA/Í/NA B Partículas de antimônio V
secundários
chumbo projétil de Compostos sulfurados
Solução de AZ/DA DE SÓDIO
antimônio chumbo nu (pólvora negra)
micropartículas
metálicas
cobre projétil 14.2. Técnicas de coleta
encamisado
zinco de material
A residuografia pode, portanto, ser metálica ou Quando se pretende a identificação do autor de
não metálica, e compreende os processos químicos determinado disparo, quer estejamos tentando pro
desses “projéteis secundários”. A representação ma a certeza do suicídio por arma de fogo, é importante
terial qualitativa e quantitativa da distribuição dos procurar os resíduos nos locais onde mais comu-
Para o exame das vestes, costuma-se prensar Para as mãos utilizam-se tiras de esparadrapo,
folhas de papel de filtro, embebidas de uma solução cuidadosamente aplicadas sobre as áreas prováveis
tampão, contra a área incriminada da roupa e de (marcadas com pontos na figura) e depois coladas
pois aplicar a solução de rodizonato de sódio sobre o em uma folha de papel de filtro. O material é, então,
papel de filtro, que recebe os resíduos impregnados levado ao laboratório, onde é aplicada a solução de
nas fibras do tecido. rodizonato de sódio.
A foto mostra um residuograma positivo, já re exame residuográfico proposta por Gonzalo Iturrioz
velado, demonstrando a presença de chumbo (áreas em 1914 e consiste em mergulhar a mão do pretenso
mais escuras) no material recolhido. atirador em uma solução de parafina histológica semi-
fundida, que, uma vez solidificada, forma uma verda
deira luva ao redor das mãos da pessoa examinada.
Levada ao laboratório, a luva é submetida a
análise química pelo reagente de Lunge ou Benitez,
à base de difenilamina, para levantamento de mi
crorresíduos de nitrato e nitrito, os quais são eviden
ciados por uma intensa coloração azul.
Embora a prova da parafina seja um teste de
boa sensibilidade, não é mais utilizado atualmente,
principalmente em razão da alta temperatura de fu
são da parafina histológica (40° C), que pode levar a
lesões na pele do examinado.
comprovar a autoria do disparo. Deve servir apenas O resultado negativo ou positivo no ensaio re
como referência, uma mera orientação técnica que, siduográfico, embora possa apontar no sentido de
somada a outros exames periciais e demais provas que o examinado realmente disparou ou não uma
dos autos, levará à convicção sobre a natureza jurí arma de fogo, deve ser considerado com muita cau
dica do evento. tela, isto porque podem ocorrer algumas situações:
É claro que o quadro acima é meramente exem- É claro que cada caso deve ser considerado se
plificativo, e que os peritos criminais do Instituto de paradamente, já que existem inúmeras variações
Criminalística, dedicados profissionais, têm sempre decorrentes do tipo de arma e munição empregado.
o cuidado de proceder a uma análise qualitativa da Além disso, devemos atentar também para a exis
amostra, descartando, de plano, eventuais fraudes tência de vestuário recobrindo a região atingida.
ou adulterações, bem como exercem um rígido Não raro, a pele acaba por receber apenas o projétil,
controle das técnicas laboratoriais, sempre buscan ficando todos os demais vestígios retidos nas tramas
do minimizar os resultados não verdadeiros. do tecido.
Entretanto, inúmeros fatores — a preserva Lamentavelmente nem sempre as roupas são
ção do local ou da região de interesse, desde o recolhidas e guardadas de maneira correta, o que
momento do disparo até o momento da colheita leva a inexorável prejuízo para a justiça. A espe
do material; a justeza da arma de fogo utilizada; rada resposta, para a caracterização segura de um
o modo de empunhadura; a natureza ou idade da suicídio ou homicídio, deixa de ser obtida sim
munição; a técnica de disparo; o uso de luvas pelo plesmente por desídia de quem deveria ter pre
atirador e outros — fazem com que os ensaios re- servado as vestes do morto e não o fez.
siduográficos devam sempre ser considerados com Nos disparos decorrentes de projéteis múltiplos
cautela e cotejados com as demais provas existen de arma de fogo, como vimos, a distância pode ser
tes nos autos. determinada de acordo com a abertura do cone de
Medicina Legal II
QUESTÕES
D (DP/SP 03/88) Os projéteis de arma de fogo
produzem, habitualmente, orifícios de entrada:
(DP/SP 01/94B) Os projéteis de arma de fogo a) maiores que os de saída;
costumam produzir lesões: b) iguais aos de saída;
a) punctórias; c) menores que os de saída;
b) contusas; d) com as mesmas características dos de saída.
c) períurantes;
d) perfurocontusas.
(DP/SP 01/89) Um projétil de arma de fogo dado por um grande número de grânulos
c)
FBI, em Miami, trocaram tiros com margi
d) 2,4, 6, 8;
nais e os acertaram no tórax, em região mor
e) 3,4,5,7.
tal, com projéteis do tipo devastador, que
são deformáveis e explosivos ao atingirem
o alvo. Contudo, apesar de causarem feridas
extensas, não penetraram o suficiente para
lesar as vísceras. Embora caídos, os bandi
dos revidaram, matando ambos os policiais.
Pouco tempo depois, foi feita uma reunião e
36
Medicina Legal II
| Q (DP/RJ — 2001) Na guerra entre bandos de [ Q (DP/SP 02/88) O que se encontra nos feri
traficantes de drogas, é comum o uso de armas mentos produzidos por disparo de arma de
de guerra, tais como fuzis AR-15 e AK-47. fogo encostada?
Sabendo-se que o primeiro usa projéteis de a) Área de esfumaçamento.
5,56 mm, pesando 3,6 g, disparados a 977 m/s; b) Área de chamuscamento.
e que o outro usa projéteis de 7,62 mm, pe c) Halo de enxugo.
sando 7,9 g, disparados a 710 m/s, assinale a
d) Câmara de mina de Hoffmann.
afirmativa incorreta relativa às lesões por eles
produzidas no corpo humano:
a) Os orifícios de entrada de ambos podem
ter diâmetro menor, igual ou maior que o
seu calibre.
b) Ambos formam cavidades temporárias
pulsáteis ao longo do trajeto.
c) Os projéteis do AR-15 apresentam maior ten
dência a se fragmentar ao longo do trajeto. (DP/SP 01/95) Em ferimento por arma de
d) As lesões de saída do AR-15 têm diâmetro fogo, não é produzida pela ação do projétil a:
menor que as do AK-47. a) câmara de mina de Hoffmann;
e) O diâmetro das lesões de saída de ambos b) aréola equimótica;
depende do comprimento do trajeto. c) orla de enxugo;
d) orla de contusão.
Disparos encostados
[ Q j (DP/SP 01/88) Em relação aos ferimentos
por projéteis de arma de fogo, pode-se dizer Q jy | (DP/SP 01/00) A câmara de mina de Hoffmann:
que a característica mais evidente de tiro en a) já pode ser notada ao exame externo do
costado é: cadáver;
a) o ferimento perfurocontuso de borda cir b) só pode ser observada ao exame de ossos
cular regular; do crânio;
b) a presença de zona de tatuagem; c) só pode ser observada ao exame interno
c) a presença de orlas de enxugo e contusão; do cadáver;
d) a existência de câmara de mina de Hoffmann. d) só pode ser observada ao exame por raio X.
CursoSConcurso
Disparos próximos
(DP/SP 04/92 e DP/SP 01/94B) Em ferimen Disparos a distância
tos de entrada de projétil de arma de fogo, em
M (DIVSP 01/91) Um ferimento produzido por
tiro a curta distância, observamos:
projétil de arma de fogo disparado a distância
a) somente orlas; é caracterizado por:
b) somente zonas; a) orla de contusão, zona de enxugo e zona
c) orlas e zonas; de tatuagem;
d) o sinal de Werkgartner. b) orla de contusão, aréola equimótica e zona
de enxugo;
c) zona de tatuagem, zona de esfumaçamen
to e aréola equimótica;
d) zona de enxugo, aréola equimótica e zona
de esfumaçamento.
Contusão e enxugo
(DP/SP 04/90) A presença de orla de contusão |J| (DP/SP 02/93) Em ferimentos produzidos
e de enxugo ao redor de um orifício mais ou por projéteis de arma de fogo em tiros a dis
menos circular na pele permite afirmar que o tância ou à queima-roupa observa-se:
d) instrumento perfurocontundente.
(DP/SP 04/89) Não é elemento indicativo de (DP/SP 04/92) Circundando o orifício de en
tiro a curta distância a: trada da bala observamos uma estreita faixa
a) zona de tatuagem; desprovida da camada epidérmica. Trata-se,
Escoriação
Chamuscamento
£jj|j2 (DP/SP 01/89) Em seu laudo, o médico-legista
jjjlllj (DP/SP 01/92) Não é produzida pela ação do
refere-se ao “anel de Fisch” por tratar-se, evi
projétil de arma de fogo:
dentemente, de:
a) a orla de contusão;
a) ferimento perfurocontuso;
b) marca de algema; b) a orla de enxugo;
41
CurstéConcurso
42
Medicina Legal II
tatuagem ao redor do ferimento perfuro J 2 j | (DP/SP 06/91, DP/SP 02/92 e DP/SP 03/92)
contuso, quando o tiro, em relação ao alvo, Falsa tatuagem, em ferimentos por projéteis
é disparado: de arma de fogo, corresponde à:
a) a curta distância; a) zona de chamuscamento;
b) a longa distância; b) orla de enxugo;
c) encostado; c) aréola equimótica;
d) a qualquer distância. d) zona de esfumaçamento.
6IS9R&SBB9
(DP/SP 01/94A) Em ferimentos por projétil
gjgjj (DP/SP 06/93) A falsa tatuagem nos feri
de arma de fogo, a fumaça produzida pela
mentos por projétil de arma de fogo é pro
queima da pólvora é responsável pela for
duzida por:
mação da:
a) impurezas que recebem o projétil;
a) orla de enxugo;
b) fumaça resultante da queima de pólvora;
b) zona de chamuscamento;
c) chama resultante da queima da pólvora;
c) falsa tatuagem;
d) grânulos de pólvora e de carvão.
d) câmara de mina de Hoffmann.
Capítulo
Sexologia Forense
cromossômico
genético A ilustração a seguir mostra o cariótipo mas
cromatínico
culino normal:
endócrino
interno
Sexo propriamente dito
morfológico externo
dinâmico ou copuiativo
psicológico
jurídico
Medicina Legal II
tados de um corpúsculo cromatínico, descrito pela afetados não possuam cromatina sexual. É carac
primeira vez pelo pesquisador inglês Murrey Barr terizada pela presença de 45 cromossomos, sendo
em 1949 e por isso denominado corpúsculo de Barr. que, do par dos cromossomos sexuais, há apenas
Posteriormente comprovou-se que esses corpúscu um X (44A + X). É uma anomalia rara, atingindo
los nada mais eram que um dos cromossomos X> uma a cada três mil mulheres normais.
que, na interfase, se espiralava e ficava inativo. São mulheres geralmente estéreis, de ovários
Dentre as principais alterações genéticas ligadas atrofiados, baixa estatura e que não desenvolvem
ao sexo (aneuploidias sexuais) temos a síndrome de os caracteres sexuais secundários por deficiência de
Tumer, a síndrome de Klinefelter e a polissomia dos cro estrógenos. Não costumam apresentar desvios de
mossomos sexuais. personalidade.
45
CursoSConcurso
2.2. Síndrome de Klinefelter a tal ponto que alguns autores chegaram a denomi-
ná-lo “síndrome da criminalidade”. Tal fato, entre
Ocorre em indivíduos do sexo masculino que
tanto, não é aceito pacificamente pela comunidade
apresentam um dos seguintes cariótipos: XXY (44A
científica internacional.
+ XXY — ilustração), XXYY (44A + XXYY), XXXY
(44A + XXXY),XXXYY (44A + XXXYY) ouXXXXY
2.3.?. Aneuploidias autossômicas
(44A + XXXXY). A frequência é de um para qui
nhentos nascidos do sexo masculino. Outras alterações, como a síndrome de Down,
Fisicamente, são homens de estatura elevada, síndrome de Edwards e a síndrome de Patau> embora
com mamas hipertrofiadas (ginecomastia) e voz de origem genética, não apresentam ligação com os
fina. O pênis é pouco desenvolvido e, muito embora cromossomos sexuais, atingindo os pares autossô-
consigam ter ereção e ejaculação, são normalmente micos. São sempre trissomias, atingindo os pares
estéreis por não produzir espermatozoides. 2 1,18 e 13, respectivamente.
9 10 11 12 13 14 15 16
1 2 3 4 5 6 7 8
46
Medicina Legal I!
exibem manchas de Brushfield ao redor da margem camente grave e letal em quase todos os casos, com
da íris. A boca é aberta, muitas vezes mostrando a sobrevida de, no máximo, 6 meses de idade.
língua sulcada e saliente. O fenótipo inclui malformações severas do
As mãos são curtas e largas, frequentemente com sistema nervoso central. Um retardamento men
uma única prega palmar transversa ("prega simiesca”). tal acentuado está presente. Em geral há defeitos
cardíacos congênitos e urogenitais. Com frequên
2.5. Síndrome de Edwards cia encontram-se fendas labial e palatina, anorma
lidades oculares, polidactilia, punhos cerrados e
A Síndrome de Edwards ou trissomia do cromos
plantas arqueadas.
somo 18 (44A + XX + 18 ou 44A + XY + 18), com fre
quência de um para oito mil nascimentos, tem como
manifestações retardamento mental, atraso do cresci
mento e, às vezes, malformações cardíacas graves.
O afetado apresenta microcefalia, com a região
occipital extremamente alongada. O pavilhão das
orelhas é dismórfico e de implantação baixa. A boca
é pequena. O pescoço é curto. Estão presentes de
ficiências visuais severas. Há uma grande distância
entre os mamilos (intermamilar). Os genitais exter
nos são anômalos. O dedo indicador é maior do que
os outros e flexionado sobre o dedo médio. Os pés
têm as plantas arqueadas. As unhas costumam ser in
completas (hipoplásticas). A idade materna avançada
tem sido um dos fatores apontados como causa de
17 18 19 20 21 22 X V
terminante da ocorrência da síndrome.
3. SEXO ENDÓCRINO
O sexo endócrino é determinado basicamen
te pelas gônadas ou glândulas reprodutoras e por
outras glândulas, como a tireoide e a hipófise, que,
em menor grau, também interferem nos fenômenos
orgânicos relacionados com o sexo.
48
Medicina Legai il
exibicionismo
fetichismo
frotteurismo
elencadas no pedofilía
DSM — IV masoquismo
parafilias sadismo
voyeurismo ou mixoscopia
parafilias sem outra especificação
h) âispareunia, evidenciada por dor genital homossexual mostra-se descontente com sua situação
recorrente, relacionada com o intercurso e procura a terapia, quer para superar a insatisfação,
sexual e não provocada, nas mulheres, por quer para modificar o padrão de comportamento.
vaginismo ou lubrificação insuficiente e,
nos homens ou mulheres, por outras cau
sas físicas. Embora a dor seja mais comu- 7.3. Parafilias
mente experimentada durante a cópula,
pode ocorrer antes ou depois; Finalmente, temos as parafilias, também co
i) vagin ismo, indicado por contração involun nhecidas como anomalias, desvios sexuais ou per
tária (espasmódica) recorrente ou persis versões, termos que devem ser utilizados somente
tente, dos músculos do períneo próximos em contexto jurídico, evitando-se seu emprego em
ao terço exterior da vagina, sempre que sentido discriminatório.
tentada a penetração pelo órgão masculino,
Não há um consenso entre os autores a respeito
dedo, tampão ou espéculo e que não pode
de quais sejam as aberrações, quais os simples desvios
ser atribuída a outra causa física;
j) transtorno decorrente de uma condição mé do instinto sexual sem maior importância ou mesmo
dica geral, evidenciada por uma disfunção quais as práticas consideradas normais, até porque é
sexual significativa e que claramente é se correto admitir que se possam incorporar novos ele
cundária a uma entidade mórbida primá mentos, formas de expressão e satisfação, de modo a
ria, física ou psíquica, por exemplo, hiper enriquecer e atingir a plenitude da vida sexual.
tensão, diabetes, hipotireoidismo, depres
Nessa busca incansável pelo prazer, podem estar
são ou dependência química; e
presentes novos interesses e desejos, elementos que
k) disfunção sexual induzida por substância,
caracterizada por uma disfunção clinica- possibilitam o crescimento e o desenvolvimento de
mente significativa, que leva a acentuado uma vida sexual sadia. Nessa procura podem estar
sofrimento ou dificuldade interpessoal, presentes elementos que compõem os comporta
plenamente explicada por efeito fisiológi mentos desviantes, como desejos de sexo alternativo
co direto de um fármaco. ao coito vaginal. É necessário compreender que não
são esses temperos que caracterizam o comporta
7.2. Transtornos da identidade de mento desviante e que sua presença na vida sexual é
gênero e homossexualismo mais aconselhável que reprovável.
A sexualidade alcança níveis de anormalidade
No transtorno da identidade de gênero propria
ou desvio apenas quando não há uma flexibilidade
mente dito ou transexualisfho, existe uma forte e
no desejo, quando a expressão, a satisfação e o pra
persistente insatisfação com o próprio sexo, acom
zer só podem ser obtidos mediante práticas especí
panhada de uma identificação com o gênero oposto.
ficas e determinadas, dirigidas a uma modalidade
O indivíduo possui corpo masculino, mas tem sexual atípica, objetos inanimados ou animais.
o desejo de ser ou até mesmo insiste que pertence ao
Além disso, é preciso considerar as convenções
gênero feminino (transexual de homem a mulher), sociais e o momento histórico. Determinadas práti
ou apresenta caracteres sexuais femininos, mas sen cas como o homossexualismo ou a masturbação já
te-se como homem (transexual de mulher a ho foram consideradas sérios distúrbios e atualmente
mem), chegando, inclusive, à transformação sexual são tidas como mera expressão da sexualidade (ver
cirúrgica. O transexual é um inconformado com o item 7.4: “Adequação e inadequação sexual”).
seu estado sexual e não admite ser um homossexual
De modo geral, as parafilias são atividades
A homossexualidade (preferência pelo mesmo caracterizadas “por anseios, fantasias ou compor
sexo) não é mais aceita como desvio sexual ou anorma tamentos sexuais recorrentes e intensos que envol
lidade, antes correspondendo a um modo de expressão vem objetos, atividades, ou situações incomuns e
sexual alternativa. Exceção deve ser feita em relação causam sofrimento clinicamente significativo ou
à forma egodistônica (CID — 10-F 66.1), em que o prejuízo no funcionamento social ou ocupacional
50
Medicina Legai H
ou em outras áreas importantes da vida do indiví sexuais e não pode ser diagnosticado quando vem
duo” (DSM— IV, p. 467). A pessoa, para obter pra associado a um quadro de transtorno de identidade
zer sexual, vale-se de fantasias ou comportamentos de gênero (transexualismo).
aberrantes, quase de forma exclusiva, fator este que
caracteriza o quadro como desviante.
7.3.3. Frotteurismo
O DSM — IV elenca, no capítulo das parafi
lias, apenas oito quadros bem conhecidos e aceitos: Distúrbio do comportamento sexual caracte
exibicionismo, fetichismo e fetichismo transvéstico, rizado pela necessidade de tocar ou esfregar-se em
frotteurismo, peâofilia, masoquismo sexual sadismo outra pessoa. A prática ocorre geralmente em locais
sexual, sadomasoquismo e voyeurismoy colocando públicos ou de grande concentração de pessoas, em
todas as demais sob a denominação de parafilias que pode passar despercebida. Ê mais freqüente en
sem outra especificação. tre os 15 e os 25 anos de idade.
claturas normalmente utilizadas pelos livros de me exclusiva por adolescentes, e a hebefilia, a preferên
dicina legal são bastante arcaicas. cia por adolescentes do sexo masculino entre 10 e
16 anos. Também pode ser hétero ou homossexual.
Esses distúrbios são um verdadeiro problema
7.3. L Exibicionismo ou apodisofáa
de polícia judiciária, principalmente após o adven
Os exibicionistas geralmente expõem a genitá- to da Internet, pois constituem um público-alvo de
lia ou as partes pudendas apenas pelo prazer incon- prostituição e pornografia infantil.
trolável de fazê-lo. São conhecidas, por exemplo,
as famosas “chispadas”, em que adolescentes nus
7.3.5. Masoquismo
praticam corridas rápidas pelas ruas ou aparecem
diante de câmeras de televisão. O termo deriva das obras de Leopold von Sa-
cher-Masoch (1835-1895), que descrevem variadas
fantasias eróticas ligadas à dor e ao sofrimento. O
7.3.2. Fetichismo e fetichismo
masoquismo representa, assim, o prazer sexual ob
transvéstico
tido pelo sofrimento físico ou moral.
Excitação anormal e predileção por determina A algofilia, mencionada por alguns, não é uma
das partes do corpo do parceiro ou ainda por objetos e parafilia, pois, apesar de indicar a busca mórbida
pertences da pessoa amada, como suas peças íntimas. por sensações dolorosas, distingue-se do masoquis
O fetichismo pode se manifestar de várias for mo pela ausência de qualquer caráter erótico.
mas, constituindo parafilias específicas, por exem
plo: amaurofilia, ballooning, BBW, flagelatismo,
7.3.6. Sadismo
trampling, parcialismo e outras.
Existe uma forma específica, que é o fetichismo Caracteriza-se pelo excesso de crueldade e pra
transvéstico>caracterizada pelo ato de vestir-se com zer sexual obtido pelo sofrimento imposto ao parcei
roupas do sexo oposto como forma de obter excita ro. O termo deriva de Donatien Alphonse François de
ção sexual. O fetichismo transvéstico é um transtorno Sade (1740-1814), o “Marquês de Sade”, autor fran
que tem sido descrito apenas em homens heteros-, cês cujas obras, ainda hoje consideradas por alguns
CursoSConcurso
como obscenas, descrevem toda a sorte de desvios se Finalmente, na necrofilia por semelhança incluem-se
xuais ligados à humilhação e ao tormento do parceiro. os casos de pigmalionismo, hipnofilia, A.S.F.R. e do-
lismo (ver quadro que inicia na página seguinte).
única forma de prazer ou comportamento obsessivo. dernos que grassam na Internet, como ballooning,
No mais das vezes, quando integram os jogos sexuais, BBW, dolismo, cybersex, trampling, übersexual e ou
não revelam nenhuma anormalidade. tros relacionados, que apresentam sites dedicados e
A seguir indicamos, em ordem alfabética, al possuem comunidades virtuais inteiras, A lista, ape
gumas possíveis parafilias. Incluímos termos mo sar de substancial, não é exaustiva:
Biasfofília e raptofília Termo derivado do grego biastes (violação), a biasfofília é uma parafilia em que o desejo
sexual depende ou responde ao ato de atacar de forma inesperada e violenta uma
pessoa, preferencialmente estranha, sem o seu consentimento. É um desvio que pode ser
observado nos assassinos seriais.
Em sentido oposto, quando o desejo sexual surge da possibiiidade de ser vítima desses
ataques, estamos diante de uma raptofília.
Body Integrity ídentity Originalmente descrita em 1977 como Amputee ídentity Disorder (AID), a Body Integrity
Disorder, apotemnofília Idenfify Disorder (BiiD) é uma condição psicológica na qual os afetados experimentam
e acrotomofília um desejo incontrolável de ver amputadas partes de seus próprios corpos, de modo a
atingir a imagem ideal que têm de si mesmos. Vivem o paradoxo de perder um ou mais
membros para poderem tornar-se completos (menos é mais}.
Os portadores desse quadro não são psicóticos, até porque o diagnóstico de esquizofrenia
ou ouíros transtornos psicóticos exclui o da BliD. Na verdade o quadro pode ser comparado
ao transtorno da identidade de gênero, porque em ambas as condições os pacientes
relatam que a insatisfação com o corpo atual está presente desde a pré-adolescência
(www.biid.org).
Quando o desejo de ser amputado está relacionado com o prazer sexual, então estamos
diante de uma parafilia denominada apofemnofi//a, caracterizada pela excitação ou
facilitação do orgasmo em razão da fantasia de se sentir amputado. Os indivíduos
portadores desse quadro são conhecidos como wannabes (pessoa que deseja ser igual à
outra, no caso, os deficientes físicos).
Ao que parece, o prazer dos wannabes não esíá na relação em si, mas em alguma outra
atividade paralela ao ato sexual, caracterizada pelo desejo de ser amputado em uma
ou mais partes do corpo.
A apotemnofilia parece ser uma condição separada da BSID, que não se limita a uma
mera fantasia sexual, mas a um desejo real de amputação relacionado com todas as
atividades diárias.
Quando a excitação sexual ou o orgasmo está iigado à necessidade de manter relações com
uma pessoa amputada, a parafilia é denominada de acrotomofília e as pessoas portadoras
desse quadro são denominadas devofees (devotos, dedicados) ou amelotatistas.
Braquioprocfos-sigmoidis- Atividade sexual relativamente comum entre homossexuais masculinos em que o parceiro
mo — fisting reclama, como principal forma de prazer, a introdução dos dedos, mão ou mesmo o
antebraço através do ânus até o reto. A prática é também conhecida como físt fuck ou
simplesmente fistfng. A denominação inglesa vulgar engioba também o ato de introduzir
o punho através da vagina.
Cleptolagnia ou cleptofífia Prazer sexual no ato de subtrair bens alheios.
Crematisfofília Excitação proveniente do ato de pagar pela prática sexual.
Coprolalia ou coprofem/a Prazer sexual iigado a palavras de baixo calão em público ou durante o relacionamento
íntimo. Algumas pessoas, para atingir o prazer sexuai, precisam que o parceiro antes ou
durante o ato utilize expressões chulas, típicas de um vocabulário bastante baixo.
Cromo-ínversão Atração sexual por pessoas de cor diferente. Não se tornando uma obsessão, não pode
sequer ser considerada desvio da sexualidade.
Dacríofriia Forma de sadismo em que o prazer sexuai decorre de presenciar as lágrimas do parceiro.
Dismorfofilia Atração sexual por pessoas deformadas.
Dolismo Neoiogismo formado do vocábulo inglês doli (boneca), que indica a atração sexual por
bonecas, manequins e similares. É uma forma de pigmalionismo e, na acepção de
Descamps, uma manifestação de necrofilia por semelhança (ver necrofílía). Ver A.S.F.R.
Dom-juanismo Personalidade que se manifesta compulsivamente às conquistas amorosas, sempre de
maneira ruidosa e exibicionista e sem que se estabeleça uma relação emocionalmente
estável.
Edipismo Tendência ao incesto, à prática de relações sexuais com parentes muito próximos. São
relativamente comuns as relações de pais com filhos e entre irmãos.
Emefofilia Prazer sexual com a visão de pessoas vomitando ou contato com a substância emética.
Enfomocismofííia Atividade sexual que incorpora insetos, como moscas, abelhas, aranhas etc.
54
Medicina Legal II
56
Medicina Legal li
Pregnofilia e maíeusofília A pregnofiiia é o desejo ou atração sexual por mulheres grávidas. A maieusofilia consiste
em sentir excitação sexual pela visualização do trabalho de parto.
Riparofília ou misofília Atração sexual por pessoas com péssimos hábitos de higiene, de baixa condição social.
Há homens, por exemplo, que manifestam predileção por mulheres no período menstruai
(vervamp/r/smo).
Sexo virtual, cybersex, O chamado sexo virtual ou cybersex constitui uma forma de masturbação em grupo,
Computer sex, Internet sex praticada através da Internet. Como o foco do desejo fica centrado na virtualidade do
ou net sex prazer sexual contribui para um isolamento socioafetivo.
Tafofília Prazer mórbido em manter relações sexuais em cemitérios.
Timofilia Atividade sexual com a utilização de dinheiro.
Topo-inversão Forma de parcialismo (ver parcíafcmo) em que há prazer sexual pela prática de coito
ectópico ou atos eróticos diversos da conjunção cama!, como sexo anal oral, praticado
entre as coxas, dedos dos pés, mamas, axilas (ax/fómo) etc.
Dentre as várias modalidades de sexo ectópico, são considerados normais, como jogos
sexuais que antecedem ao coito, a fellatio in ore e o cunn/l/ngus.
Trampling 0 trampling (pisoteamento) é uma forma de fetichismo em que o prazer sexuai consiste
em ser pisado por um ou mais parceiros, geralmente do sexo oposto, sendo mais comum
a mulher pisotear o homem (fonte Wikipédia).
Troca de casais A troca de casais ou swing, ante a überação dos costumes, pode não significar mais que
ou troca interconjugal um simples desejo da troca de parceiros para aquecer a vida sexual do casal e, nesse
sentido, não pode ser tido como uma aberração ou desvio.
Atualmente há Inúmeros sífes na Internet especializados na divulgação e apoio à prática.
Caso se torne uma obsessão, então poderá ser tomada como desvio. A prática do sexo
grupa!, ainda que peio casal pode ser classificada como pluralismo (ver).
Vampirlsmo Prazer sexual obtido pelo contato ou ingestão do sangue do parceiro.
Alguns homens têm predileção por praticar sexo oral com mulheres durante o período
menstruai, exatamente porque atingem o êxtase sexual ao ingerir o sangue da
companheira (mensfruofi/ía ou menofi/ía). Uma variação é a hemotigolagnia, em que há
atração sexual por absorventes higiênicos usados.
Homem Mulher
Taxa de secreção de testosterona em diferentes idades,
medida pelas concentrações de androsterona no plasma Secreção de estrogênios durante a vida sexual
Para que ocorra a fecundação, é preciso que xistindo observações de nascidos depois de 300 dias
existam espermatozoides viáveis logo após a ovula- do coito fecundante (Bonnet, 1993, p. 116).
ção, pois o período fértil da mulher dura aproxima Tomando por fundamento os dados biológi
damente 24 horas. cos, o Código Civil (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro
Havendo um ciclo menstruai regular, a ovula- de 2002) estabeleceu como causa suspensiva do ma
ção ocorre em torno de 13 a 15 dias antes da próxima trimônio, para a mulher, o prazo de 10 meses, con
menstruação. Em um ciclo de 28 dias, no 14£ dia; em tados do dia em que ocorreu a viuvez ou desfez-se a
um ciclo de 20 dias, no 6s dia; e em um ciclo de 45 sociedade conjugal (CC, art. 1.523, II).
dias, no 31^ dia. Essas discrepâncias, assim como os
Quanto à paternidade, presumem-se concebi
ciclos irregulares, são responsáveis pelos chamados
dos na constância do casamento os filhos “nascidos
erros de tabela e por um grande número de concep
cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabele
ções não desejadas.
cida a convivência conjugal” (CC, art. 1.597,1) e os
filhos “nascidos nos trezentos dias subsequentes à
Ô.2. Gravidez dissolução da sociedade conjugal, por morte, sepa
A fertilização do óvulo ocorre antes ou logo ração judicial, nulidade e anulação do casamento”
após a penetração na trompa de Falópio, formando (art. 1.597,11, do CC).
o ovo. Cerca de 3 dias depois, o ovo se fixa à pare Dessa forma, em relação à gestação, o prazo le
de do útero (gravidez tópica), dando início ao ciclo gal mínimo é de 180 e o máximo de 300 dias.
gravídico, que se manterá até o parto.
A gestação humana normal dura, em média, 8.3* Diagnóstico da gravidez
280 dias ou 40 semanas. Para que haja sobrevivência
do feto, sem cuidados especiais, é preciso que dure O diagnóstico da gestação pode ser clínico, instru
um mínimo de 196 dias ou um máximo de 294, ine- mental ou laboratorial conforme o esquema abaixo:
cessação da menstruação
modificações nas mamas
presença de secreção láctea
surgimento de manchas no rosto (máscara gravídica)
sinais de aumento de volume do ventre
probabilidade
{mais precoces)
sinal de Klüge
sinal de Osicmâer
ultrassonografia pélvica
radiografia (em desuso)
instrumental ressonância magnética
laparoscopia — para os casos de gravidez ectópica
testes químicos
testes biológicos — usam animais de laboratório (interesse histórico)
laboratorial testes imunológicos
estudo das alterações celulares da mucosa vaginal
CursogConcurso
O diagnóstico preciso da gravidez tem grande com o rompimento da bolsa e finda com a expulsão
importância no direito civil em questões relaciona da placenta (dequitação). Pode ser a termo, se finda a
das com anulação de casamento e nas sucessões; no gestação, ou prematuro, se ela foi antecipada; natural
direito do trabalho, pela sua implicação com a esta ou cirúrgico (cesariana); em vida ou post mortem.
bilidade; no direito penal, pela necessidade de ade
quação do regime prisional à condição da gestante.
8.5. Puerpérlo e estado puerpera!
Com relação ao diagnóstico, e tendo em vista as
declarações da paciente, algumas situações podem O período compreendido entre o parto e o re
ocorrer: torno do útero ao seu estado normal é denominado
gestação declarada — a mulher pensa que puerpério e tem uma duração média de 45 dias.
está grávida há determinado período de O parto, ainda que possa produzir pequenos
tempo e o diagnóstico confirma o fato; transtornos psicológicos, como emotividade exa-
• metassimulação da gravidez — a mulher cerbada e depressão pós-parto, não deve induzir
admite a gestação, mas mente, para mais transtornos de gravidade. O puerpério é um quadro
ou menos, quanto ao tempo de gravidez fisiológico que atinge todas as mulheres que dão
(França, 1998, p. 202);
à luz, sendo raras alterações de cunho psicológico
suposição de gravidez — a mulher pensa es
graves como a psicose puerperai
tar grávida, mas não está;
O chamado estado puerperai, exigido por nossa
simulação de gravidez— a mulher sabe que
lei penal para a caracterização do crime de infanti-
não está grávida, mas mente estar;
cídio, não encontra um conceito unânime entre os
dissimulação de gravidez — a mulher sabe
que está grávida, mas nega o fato; autores, alguns dos quais questionam inclusive a sua
60
Medicina Legai II
ausentes
imperfurados
resistentes
Com duas Defíoração anjiga
complacentes roturas laterais carúnculas mirtifames
Hímens perfurados não complacentes p^milunares
ou rompíveis anulares
septados
labiados
Caso não, a perícia poderá basear-se em sinais da vio de atentado violento ao pudor dá uma indicação
lência praticada ou na prova da existência de sêmen. dos inúmeros achados médico-legais possíveis.
A presença de esperma ou de fosfatase ácida A perícia deve preocupar-se em demonstrar
(componente do líquido seminal) na secreção va- a forma do ato libidinoso praticado (diverso da
ginal são indicativos do coito, muito embora para a conjunção carnal), bem como os vestígios eventual
caracterização do estupro não seja necessário que o
mente deixados pela violência. Dependendo da for
agressor tenha ejaculado, bastando a comprovação
ma do ato libidinoso praticado, o legista poderá en
da violência ou grave ameaça e da penetração, ainda
contrar ou pesquisar marcas de mordidas, presença
que parcial, do pênis na vagina.
de esperma, outros líquidos orgânicos etc.
Quando a violência é real, a perícia poderá ain
No atentado violento ao pudor mediante frau
da demonstrar a evidência de lesões corporais.
de, a perícia é bastante difícil, mas em algumas mo
Nas mulheres acostumadas a uma vida sexual
dalidades, por exemplo, o coito anal, a presença de
ativa, a perícia do estupro poderá encontrar algu
esperma poderá fornecer elemento de certeza ao
mas dificuldades, ficando restrita aos achados de
perito médico.
violência física e à presença eventual de espermato
zóides ou componentes do líquido seminal Importante lembrar que a Lei n. 11.106, de 28
A foto a seguir mostra a espécie de lesão obser de março de 2005, alterou a redação do art. 216 do
vada em vítima de estupro, quando o exame é reali Código Penal, substituindo a expressão “mulher ho
zado logo após a violência sexual. nesta” pelo vocábulo4alguém”. Assim sendo, agora
tanto o homem quanto a mulher, honesta ou não,
podem ser sujeitos passivos do crime em apreço.
9.4. Aborto
Abortamento, segundo Bonnet (1993, p. 1138),
“é a morte do produto da concepção em qualquer
momento da gravidez”. Para Tardieu consiste na
“expulsão prematura e violentamente provocada do
produto da concepção independentemente de todas
as circunstâncias de idade, viabilidade e mesmo de
formação regular” (apud França, 1998, p. 223).
Alguns autores costumam diferenciar os termos
Na posse sexual mediante fraude não há o ele
abortamento e aborto, atribuindo ao primeiro o sig
mento violência, e a perícia médica será voltada qua-
se exclusivamente para a comprovação da cópula. nificado do ato de abortar e ao segundo o produto
do abortamento. Tal separação, entretanto, não é
Importante lembrar que a Lei n. 11.106, de 28
de março de 2005, alterou a redação do art. 215 do técnica, sendo a palavra aborto também utilizada
Código Penal para suprimir o elemento normativo para designar o ato de abortar.
relativo à honestidade da mulher no crime de pos O aborto doloso é repelido por nosso ordenamen
se sexual mediante fraude. Agora, qualquer mulher to jurídico-penal, excluindo-se algumas situações em
pode, em tese, ser vítima do crime em questão. que é legale, portanto, permitido (art. 128 do CP).
62
Medicina Legai II
ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após. por substância sebácea ( induto sebâceo), apresenta-
se ligado ao cordão umbilical e ainda não expulsou o
A perícia no infanticídio é bastante complexa e mecônio (substância presente no intestino do feto).
compreende duas etapas. A primeira, determinar se Denomina-se recém-nascido a criança que rece
o produto da concepção nasceu com vida (feto nas
beu os primeiros cuidados, até o 7s dia de vida, guar
cente ou infante nascido), e a segunda, se a mulher
dando ainda alguns vestígios da vida intrauterina.
agiu sob influência do estado puerperaí
É fundamental para a comprovação do crime de
no produto da concepção feto nascente infanticídio a prova de vida extrauterina, o que se faz
para saber se nasceu infante nascido pelas chamadas docimasias ou por provas ocasionais.
Perícia no com vida recém-nascido
infanticídio Prova de vida docimasias — comprovação da respiração
na parturiente — determinação extrauterina provas ocasionais
do estado puerperaí
As docimasias são provas destinadas a compro
Como o infanticídio pode ser cometido duran var a respiração ou seus efeitos. O quadro a seguir
te o parto, é possível que a conduta tenha recaído mostra algumas das principais:
Docimasia piêurica de Piaczec Constatação da pressão negativa na cavidade pieural do infante que não respirou.
Docimasia pneumo-hepática de
Baseia-se na comparação entre o votume sanguíneo do pulmão e do fígado.
Puccinofti
Docimasia hematopneumo-hepá-
Comparação e análise da hemoglobina do pulmão e fígado.
tica de Severí
Prova hemato-arteriovenosa Baseia-se na comparação entre as taxas de oxiemogiobina do sangue venoso e arterial
de França em busca de comprovação da hematose e, por conseqüência, da respiração.
Docimasia suprarrena 1
Funda-se na análise dos efeitos da adrenalina sobre a muscuiatura lisa e cardíaca.
fisiológica
na mulher
[orgânica
acopulia , .
— j psíquica
Na mulher, a acopulia pode derivar de causas musculatura vaginal que impede a penetração do ór
orgânicas, como ausência de vagina ou malforma gão sexual masculino. A dispaneuria é a sensação de dor
ções genitais; e causas psíquicas, como frigidez, vagi- durante a relação sexual, e a coitofobia, a aversão pato
nismo, dispaneuria ou coitofobia. lógica ao conúbio por causas diversas, por exemplo,
A frigidez é a impossibilidade feminina de atingir homossexuaMsmo, ignorância ou estados patológicos
o orgasmo. O vaginismo é uma contração espástica da mentais graves, como esquizofrenia ou oligofrenia.
CurscNConcurso
duração da gestação
possibilidade de coabitação (virgindade, impotência)
dados sobre a possibilidade de fecundação (esterilidade)
concepção inexistência de parto ~J‘
não genéticas
aplicação de métodos anticoncepcionais definitivos
semelhanças fisionômicas
pré-mendelíanas caracteres adquiridos
impressões maternas (captadas durante a gestação)
sistema ABO
fatores M eN
grupos sanguíneos fatores Rh erh
sistema HLA
mendelianas sanguíneas
outros fatores
DNA
As provas não genéticas são meramente de variações pigmentares, os exames mais especializados,
orientação e, no máximo, servem para direcionar o como o craniométrico, o cranioscópico, o odontomé-
perito quando da realização de seu trabalho. trico, o prosoposcópico etc., quase nada oferecem de
As provas genéticas pré-mendelianas têm inte valor prático: as Leis de Mendel evidenciam a possibi
resse apenas histórico. Como adverte Ayush Morad lidade de se encontrarem, na prática, indivíduos nada
Amar, “a confrontação fisionômica, o retrato falado, semelhantes aos seus ascendentes” (Investigação de
o estudo das impressões digitais, da cor da pele, das paternidade— aspectos médico-legais, 1987, p. 17).
66
Medicina Legal II
Dessa forma, atualmente, mostram-se de valor de, apenas as provas mendelianas>não sanguíneas e,
probatório, no campo da investigação de paternida- principalmente, as sanguíneas.
É claro que a análise dessas características, mes bora não reagentes por transfusão, têm importância
mo quando presentes, não autoriza afirmar a pater na rejeição de órgãos em caso de transplantes.
nidade, podendo, no máximo, infirmá-la em alguns Também os glóbulos brancos, leucócitos, possuem
casos. em sua superfície inúmeros antígenos, diversos daque
les observados nas células vermelhas do sangue, e que
11.2. Provas mendelianas podem ser responsáveis por algumas reações transfii-
AX AB A, B e AB 0
Grupo sanguíneo Filhos Filhos
A X0 A ©0 Be AB dos pais possíveis impossíveis
BXB B eO A e AB MXM M N ©MN
B X AB A, B e AB 0 MXN MN N eM
BX0 BeO A e AB M X MN MN e M N
AB X AB A, B e AB O NXN N M e MN
AB X 0 AeB 0 e AB N X MN MN e N M
0X0 0 A, B e AB MN X MN MN, M eN nenhum
Os antígenos sanguíneos não estão restritos às Da mesma maneira que o ABO, o sistema MN
células vermelhas do sangue ou aos tecidos dos ór não serve para provar a paternidade, mas pode ex
gãos hemopoiéticos (produtores de sangue). Não cluí-la com certeza, visto que uma criança não pode
há dúvida que os antígenos do sistema ABO podem pertencer a um grupo sanguíneo que não esteja pre
ser encontrados nos vários tecidos orgânicos, tendo sente nos pais.
68
Medicina Legal II
te por Rh (Rh positivo) os indivíduos reagentes e dos pela sigla HLA (Human Leucocyte Antigen), es
por rh (Rh negativo) os não reagentes. tão presentes na superfície de todas as células nuclea-
Em termos médico-legais a importância do fator das do organismo (o que exclui as hemácias) e têm
Rh está ligada ao cuidado necessário nas transfusões grande importância nas questões de histocompati-
sanguíneas, podendo eventuais acidentes caracteri bilidade (identidade genética entre dois indivíduos,
zar negligência médica, especialmente em questões que possibilita ou não o transplante de tecidos).
relativas à prevenção da eritroblastose fetal (doença Verificou-se que esses antígenos estavam ligados
hemolítica do recém-nascido). à interação de vários genes, identificados pelas letras
No campo da exclusão da paternidade, o fator Rh A, B, C e D, localizados no braço curto do par de cro-
pode operar como auxiliar e, mesmo assim, com baixo
mossomos 6, cada um deles associado a vários alelos
percentual de eficácia, uma vez que a análise do fator
(cada uma das formas que um gene pode apresen
Rh em combinação com o sistema ABO pode exduir a
tar e que determina características diferentes). O
paternidade em menos de 30% dos casos alegados.
quadro abaixo mostra os alelos conhecidos até o
momento, embora exista certa divergência entre os
11.6. Outros fatores autores quanto à classificação e nomenclatura (ba
Outros fatores sanguíneos de grande impor seado em quadro proposto por Gilberto Alvarenga
tância para a hematologia e imunologia, particu Navarro, in Gomes, 2003, p. 551):
Filhos
A2-B12-Cw5-DR3
Al 1-B12-Cw8-DR3
A3-B15-CW4-DR9
Al 1~B12~Cw8~DR3
70
Medicina Legal I!
No campo da identificação criminal, compara-se do filho deve ser proveniente do DNA da mãe ou do
a amostra retirada do local do crime com aquela ob pai. Caso exista alguma faixa sem correspondência,
tida da pessoa suspeita. Se as bandas forem corres o exame terá excluído a paternidade.
pondentes, a identificação é positiva. Para a afirmação da paternidade, quando todas
71
Curso&Conctirso
d) a mulher pode ser virgem. a) É formado por uma única face de mem
brana mucosa;
b) Sua implantação não varia com a idade;
c) Pode ser múltiplo em diferentes planos
anatômicos;
d) Quanto maior a sua altura, maior é o seu
óstio.
coito anal, mas não a de conjunção carnal; c) nem instrumental, nem funcional;
Medicina Legai II
• I (DP/SP 01/94B) A impotência coeundi: (DP/SP 07/93) De acordo com o critério usual
76
Medicina Legal II
Aborto
c) é sempre criminoso;
d) pode ser acidental.
c) homossexualismo;
g y g | (DP/SP 03/88) Em medicina legal, para se ca
d) exibicionismo.
racterizar aborto:
a) é necessário e suficiente que se comprove
a morte do concepto ainda dentro do cor
po da gestante;
b) é necessário e suficiente que se comprove
que o feto foi expulso do corpo materno
antes de se completar o período normal
de gestação;
Fetichismo
c) é necessário que se comprove a morte do
feto e sua expulsão do corpo materno;
58 (DP/SP 01/2000) Certas pessoas sofrem de
um desvio de conduta sexual que as pode le
d) é necessário que se comprove a morte e a
var a furtar compuísivamente e a colecionar
expulsão do feto e a ocorrência de mano
peças do vestuário íntimo, como calcinhas
bras destinadas a provocá-las.
femininas, “soutiens”, cuecas etc. Tal desvio
recebe o nome de:
a) voyeurismo;
b) mixoscopia;
c) fetichismo;
d) uranismo.
Exibicionismo
|P P j|
(DP/SP 02/94) Está mais intimamente vincu
lado ao ultraje público ao pudor o desvio de
conduta sexual denominado:
a) bestialismo;
b) travestismo;
Cursc&Concurso
Mixoscopia
(DP/SP 01/94B) A pedofilia consiste em:
U U (DP/SP 01/89 e DP/SP 05/93) Mixoscopia é a) atração sexual por crianças;
um desvio de conduta sexual que consiste na b) quadro clínico caracterizado por excesso
obtenção do orgasmo por: de gás intestinal;
a) prática de coito anal; c) fetichismo pelos pés da mulher amada;
b) observação de ato sexual alheio; d) desenvolvimento mental retardado.
c) relação sexual com animais;
d) leitura de livros eróticos.
Rlparofilia
(DP/SP 03/93) Riparofilia é um distúrbio se
Pedofilia
xual, manifestado pelo(a):
(DP/SP 01/91 e DP/SP 02/92) Entende-se por
a) desejo e satisfação sexual realizados sob
pedofilia a:
sofrimento;
a) identificação de recém-nascido pela im
b) atração sexual por mulheres desasseadas,
pressão plantar do pé;
sujas, de baixa condição social e de pouca
b) excitação sexual através da visualização
higiene;
ou do contato do pé;
c) satisfação sexual com animais domésticos;
c) identificação de impressões plantares dei
d) prática sexual onde participam 3 ou mais
xadas num piso;
pessoas.
d) atração sexual por crianças.
Medicina Legai li
Sadismo
(DP/SP 01/94B) Transexualismo é sinônimo de:
(DP/SP 05/91) A perversão sexual em que o a) hermafroditismo;
indivíduo encontra satisfação sexual fazendo b) homossexualidade;
sofrer a outrem é denominada:
c) pseudo-hermafroditismo;
a) safismo; d) n.d.a.
b) tribadismo;
c) sadismo;
d) masoquismo.
Investigação de paternidade
j U (DP/SP 04/90) Em pesquisa de paternidade,
as provas baseadas na identificação de fatores
Safismo (antígenos) de glóbulos vermelhos são:
| *| | (DP/SP 03/88 e DP/SP 02/92) Safismo é: a) de certeza, quando confirmam a paterni
a) a intoxicação por chumbo; dade;
Transexualismo
j|«|||| (DP/SP 04/93) Uma pessoa de sexo genético (DP/SP 04/91) A pesquisa de paternidade pe
feminino, com configuração somática femi los sistemas ABO, Rh e MN confere:
nina, que psicologicamente se sente homem,
a) certeza na atribuição da paternidade;
e como tal se considera, sofre de:
b) certeza na exclusão da paternidade;
a) travestismo;
c) certeza tanto na atribuição quanto na ex
b) homossexualismo; clusão da paternidade;
c) lesbianismo; d) somente probabilidade tanto na atribui
d) transexualismo. ção quanto na exclusão da paternidade.
Cursrê£oncurso
(DP/SP 06/91) Quer-se atribuir a um homem J (DP/SP 01/95) As provas de filiação represen
com sangue tipo “O” a paternidade em rela tadas por vórtice capilar» braquidactilia e cor
ção a uma menina com sangue tipo “A”. Tal dos olhos:
paternidade será: a) são pré-mendelianas;
a) absolutamente impossível; b) são mendelianas;
b) possível, somente se a mãe tiver sangue “A”; c) carecem de qualquer valor científico;
c) possível se a mãe tiver sangue “A” ou “AB”; d) não podem afirmar a realidade do vínculo
d) possível se a mãe tiver sangue “B”. paterno.
Tanatologia
A tanatologia médico-legal ou forense é o ramo à parada cardíaca irreversível, e a morte cerebral, de
da medicina legal que estuda o morto e a morte, assim finida como a morte encefálica geral, e não apenas
como os fenômenos dela decorrentes. da porção cortical, ainda que o coração esteja em
atividade, O conceito de morte cerebral passou a ter
grande importância com o advento dos transplan
1. CONCEITO DE MORTE
tes de órgãos e tecidos.
Ainda que para nós, seres humanos, a morte O Comitê de Ressuscitação e Transplante de
se apresente como um evento único, determinado, Orgãos da Sociedade Alemã de Cirurgia, em traba
que ocorre em um instante preciso, na verdade ela lho de 1968, concluiu que há três condições para
engloba uma série de transformações sucessivas que determinar-se a realidade da morte (apud Zarzuela,
se prolongam no tempo. A morte é um processo di 1991, p. 223):
nâmico e prolongado.
Para Simonin, a morte constitui um processo KA. O cérebro está morto quando:
que se inicia nos centros vitais cerebrais ou cardíacos a) observam-se os sinais clássicos da morte ou
e se propaga, progressivamente, a todos os órgãos e b) a depressão circulatória tenha provocado uma
tecidos, ocorrendo inicialmente a morte funcional e parada respiratória ou cardíaca que não responde
depois a morte tissular (apud, Zarzuela. O perito e as a tratamento, no final de uma doença incurável
mortes violentas, Revista âa Faculdade de Direito das e progressiva ou no curso de uma perda gradual
Faculdades Metropolitanas Unidas, 1991, p. 222). das funções vitais;
O conceito mais simples de morte ( morte clí B. a morte cerebral pode produzir-se antes que
nica) e que não mais corresponde à realidade é o cessem os batimentos cardíacos (traumatismos ce
de wcessação total e permanente das funções vitais”, rebrais); considerar-se-á que o cérebro está morto
isto porque, no grau de desenvolvimento atual da depois de 12 horas de inconsciência com falta de
medicina, é possível, em várias situações, reverter o. respiração espontânea, midríase bilateral e EEG
quadro e trazer de novo à atividade um organismo isoelétrico, ou quando o angiograma revela cessação
cujas funções vitais haviam cessado. . da circulação intracraniana durante 30 minutos;
Atualmente temos dois conceitos de morte C. pode ocorrer que o coração pare e o sistema
mais precisos: a morte circulatória, que corresponde nervoso central esteja intacto ou com possibilidade
CurscNCoracurso
de se recuperar. Convém então iniciar a ressusci- que ela ocorreu. Tanto uma como a outra baseiam-se
tação; se os batimentos cardíacos não reaparece nos chamados fenômenos cadavéricos.
rem, pode-se dar por morto o paciente; porém, se
reaparecerem, inclusive sem se restabelecer a cons
ciência ou a respiração espontâneas, deve-se seguir,
2.1. Fenômenos cadavéricos
aplicando as normas usuais de assistência intensiva, Como vimos, a morte é uma sucessão de fenô
até que fique demonstrada a morte cerebral”.
menos que se prolonga no tempo. Não ocorre em
um instante preciso, do que decorre a dificuldade
Fala-se ainda em morte aparente, anatômica,
de determinar o chamado momento da morte.
histológica, relativa, intermédia e real.
A fim de poder melhor estudar os fenômenos
A morte aparente é o estado em que na verdade
o indivíduo apenas parece morto em razão de baixa cadavéricos, que nada mais são do que as várias
atividade metabólica e circulatória. Há inconsciên transformações por que passa o corpo na sua transi
cia, relaxamento muscular, respiração diminuída ção da vida para a morte, Lorenzo Borri estabeleceu
ou apneia (falta de respiração). Para evitar o sepul- que os fenômenos cadavéricos dividem-se em dois
tamento acidental nessas condições, a lei exige o de- grandes grupos: os abióticos, avitais ou vitais nega
curso de 24 horas antes da inumação. tivos, que podem ser observados indiscriminada
2. TANATOGNOSE E maceração
CRONOTANATOGNOSE transformativos
mumificação
2.2. Fenômenos cadavéricos Delton Croce (1998, p. 353) indica que o cor
abióficos imediatos po resfria, em regra, cerca de 0,5 °C nas primeiras 3
horas, e em seguida 1 °C por hora até encontrar o
Os fenômenos cadavéricos abióticos imediatos equilíbrio térmico com o meio, o que ocorre, para
não são sinais de certeza em que pode basear-se o uma temperatura ambiente de 24 °C, em aproxima
médico para afirmar a ocorrência de morte. Há vá damente 20 horas para crianças e velhos e 24 a 26
rias manobras preconizadas por inúmeros autores horas para um adulto de compleição média.
para, nessa fase, obter-se o diagnóstico de morte
Flamínio Fávero (1975, p. 544), desconsideran
recente ou imediata. As mais comuns são a auscul-
do outros fatores que não os ambientais, aponta,
fação, a ektrocardiografia e a prova defíuoresceína de
para o nosso meio, um declínio médio de tempera
Icard (injeção de certa quantidade de fluoresceína
tura de 1,5 °C por hora. No mesmo sentido os tra
por veia endovenosa. Se ainda houver vida, após
balhos de Glaister, que propôs uma fórmula para o
alguns minutos a pele e as mucosas adquirem colo cálculo da hora aproximada da morte, baseada no
ração amarelada). mesmo decréscimo médio de 1,5 °C por hora (in
Ainda, como fenômeno abiótico imediato, te Zarzuela, 1996, p. 55):
mos a fácies hipocrática, face hipocrâtica, ou más
cara da mortey para indicar o aspecto do rosto e a
expressão fisionômica do cadáver, em decorrência
da perda do tônus muscular, descrita como “fronte
enrugada e árida, olhos fundos, nariz afilado com
orla escura, têmporas deprimidas, vazias e enruga
das, orelhas repuxadas para cima, lábios caídos, ma
çãs deprimidas, queixo enrugado e seco, pele seca e 2.3.2, Rigidez cadavéríca
lívida, cílios e pelos do nariz e das orelhas semeados
por poeira brancacenta, semblante carregado e des A rigidez cadavérica instala-se em razão do au
conhecido” (França, 1998, p. 307), mento do teor de ácido lático nos músculos e conse
qüente coagulação da miosina.
Segundo a Lei de Nysten, atinge inicialmente a
2.3. Fenômenos cadavéricos musculatura da mandíbula, para em seguida com
abióficos consecutivos prometer os músculos do pescoço, do tórax, mem
Os fenômenos cadavéricos abióticos consecutivos bros superiores, abdome e membros inferiores.
têm uma maior importância na determinação do Em regra, a rigidez inicia-se de 3 a 5 horas após
momento da morte. o óbito, instala-se completamente entre 8 e 12 ho
ras e permanece por um período de 12 a 24 horas,
quando a musculatura retorna ao estado de flacidez.
2.3.?. Resfriamento do c o rp o —
Excepcionalmente pode ser observada até 3 dias de
algidez cadavéric a
pois da morte.
O resfriamento do cadáver, também chamado Luiz Eduardo Dorea adverte que, como a varia
de algidez cadavérica, depende de vários fatores, como ção é relativamente grande, o cálculo da hora da mor
temperatura do corpo no momento da morte, tempe te com base na rigidez cadavérica deve ser sempre
ratura e umidade ambientes, idade, panículo adiposo, aproximado (Fenômenos cadavéricos 8c testes simples
vestimentas e outros. Assim, crianças e velhos esfriam para cronotanatognose, 1995, p. 21).
mais rapidamente que os adultos, os obesos mais len Em alguns casos, e por razões não perfeitamente
tamente que os magros, os vestidos mais lentamente explicadas, mas frequentemente associadas às mortes
que os com menos peças de roupas etc. rápidas e violentas, a rigidez cadavérica pode ins
Há grande divergência, entre os autores, quan talar-se de maneira abrupta. Trata-se do chamado
to à velocidade de perda de calor. espasmo cadavérico, rigidez catalépticay plástica ou
Curso6£oncurso
estatuária (Croce, 1998, p. 354). Nesses casos, o ca ainda quando a morte decorre de grandes lesões âo
dáver assume a posição em que estava no momento sistema nervoso central
de transição da vida para a morte.
Os raros casos de espasmo cadavérico são de 2.3.3. Livores cadavéricos e hipósfases
grande valia para a perícia, porque demonstram com
Cessada a circulação, o sangue, pela ação da
segurança a dinâmica assumida pela vítima no instan
gravidade, tende a depositar-se nas partes mais bai
te do óbito. A foto mostra o cadáver segurando uma
xas do corpo, de acordo com a posição do cadáver.
faca, na posição exata do “momento da morte”, em
Essas coleções sanguíneas, encontradas dentro
demonstração inequívoca da ocorrência do espasmo.
dos órgãos, cavidades e partes baixas do corpo, são
denominadas hipóstases, cutâneas ou viscerais, e ca
racterizam-se, externamente, por apresentar colora
ção vermelho púrpura.
Em contrapartida, nas áreas opostas, superiores,
e naquelas onde o corpo está pressionado contra um
anteparo ou premido por algum baraço mecânico
(cintos, laços ou a própria vestimenta apertada), sur
gem áreas mais claras, lívidas, denominadas livores
cutâneos ou livores paradoxos (França, 1998, p. 308),
Tanto os livores quanto as hipóstases surgem
em tomo de 2 a 3 horas após a morte. Passadas 8 a
12 horas, fixam-se, em razão da coagulação do san
gue, no interior dos capilares, para não mais mudar
Há, finalmente, uma espécie de rigidez que pode de posição, ainda que o corpo tenha sua colocação
ser observada ainda em vida, nos casos de intoxi alterada. Têm grande importância na determinação
cação por estricnina, nos vitimados por tétano ou da posição do cadáver no momento do óbito.
Livores
Hipóstases
88
Medicina Legal II
Na raça negra os livores cutâneos são dificil A acidificação dos tecidos, sinal evidente de
mente observados à vista desarmada, sendo cons morte, pode ser comprovada por várias provas la
tatados somente com o uso de colorímetro. Em re boratoriais com o uso de indicadores químicos:
cém-nascidos as hipóstases cutâneas costumam ser
muito evidentes, o que, frequentemente, faz com Sinai de Labord Introduz-se uma agulha de aço
que leigos, ao visualizar o corpo da criança, pensem no tecido por cerca de 30
segundos. Se permanecer
que ela sofreu agressões por parte dos genitores. brilhando comprova-se a morte.
Sinal de Coloca-se um pedaço de
Lecha-Marzo pape! de tornassoí por debaixo
2.3.4. Desidratação da pálpebra para verificar a
acidez indicadora do óbito, caso
A evaporação da água que integra o organis em que o papel ficará vermelho.
mo vivo, com o passar do tempo, leva a uma per Sinal de Silvio introduz-se um fio embebido
da gradativa de peso, que varia de indivíduo para Rebelo em azul de bromotimol em uma
dobra de pele. Se o meio for
indivíduo, e é mais acentuada nos recém-nascidos,
ácido, a coloração tenderá ao
oscilando de 8 g a 18 g por quilo de peso ao dia. amarelo.
Observa-se, também, em decorrência da desi Sinal de forcipressão Comprime-se uma prega de
física de ícard pele com uma pinça. No morto
dratação, o pergaminhamento da pele, a dessecação
a prega irá persistir, enquanto no
das mucosas e uma diminuição do tônus do globo vivo se desfará.
ocular. Na esclerótica surge uma mancha enegre Sinal de forcipressão Mede-se, com papel de
cida denominada livor esclerorotinae nigrencens ou química deícard íornassol, a acidez da secreção
serosa que escorre da prega
sinal de Sommer 8c Lacher. de pele pinçada.
Sinal de Raspa-se levemente a pele do
De-Dom/n/c/s abdome e mede-se a acidez
2.4. Fenômenos cadavéricos
com papel de tornassoí.
transformativos Sinal de Bríssemoref Retiram-se, por punção,
e Ambard fragmentos do fígado e do
autólise baço e verifica-se a acidez com
destrutivos putrefação pape! de tornassoí.
maceração
Fenômenos
2.4.2. Putrefação (transformatívo
transformativos mumiíicaçâo
destrutivo)
saponificação
conservadores
calcificação A putrefação começa logo após a autólise pela
corificação ação de germes aeróbicos e anaeróbicos. Inicia-se,
geralmente, no intestino grosso, dando origem à
chamada mancha verde abdominal e espalha-se pelo
2.4J . Autólise (transformatívo
organismo.
destrutivo)
Embora exista uma variação muito grande na
Com a morte, e cessada a circulação, as células marcha da putrefação, dependendo do local em que
deixam de receber os nutrientes necessários à manu o cadáver está colocado ou mesmo da causa mortis,
tenção dos fenômenos biológicos. O meio orgânico, a putrefação obedece 4 fases:
que em vida era neutro, passa a ser ácido, tornando
impossível a realização dos fenômenos vitais. Com fase da coloração
fase gasosa
a alteração do pH e pela ação da pressão osmótica, Putrefação
fase coliquativa
as membranas celulares rompem-se, desintegrando
esqueletização
os tecidos.
Curso8£oncurso
A fase da coloração surge entre 20 e 24 horas nas putrefativos). O sangue é forçado para a periferia,
após a morte e pode durar até 7 dias. Tem início dando origem ao desenho dos vasos na superfície da
pela mancha verde abdominal localizada na fossa pele {circulaçãopóstuma de Brouardel).
ilíaca direita (ceco), difiindindo-se por todo o cor A fase gasosa tem início de 2 a 7 dias após o
po. Nos afogados o período de coloração tem início óbito e pode durar de 7 a 30 dias.
na cabeça e parte superior do tórax. A fase coliquativa é a dissolução do cadáver
A fase gasosa decorre dos gases da putrefação que pela ação das bactérias e da fauna cadavérica. Pode
são formados no interior do corpo e fazem com que durar de um mês a dois ou três anos e finda com a
o cadáver adquira uma aparência de agigantamento, esqueletizaçãOy que é a redução do cadáver às suas
com protrusão da língua e inchaço dos genitais (par partes ósseas.
ticularmente da bolsa escrotal, no sexo masculino). Os cabelos e os dentes resistem mais tempo à
A epiderme destaca-se e há uma grande quantidade destruição, mas, assim como os ossos, também são
de bolhas com conteúdo sero-sanguinolento (flicte- destruídos, reduzidos a pó.
As fotos mostram corpos nas fases de esqueleti- adquire consistência untuosa e mole como sabão
zação e gasosa, respectivamente. ou cera. Normalmente a saponificação atinge ape
nas partes do cadáver, podendo, entretanto, afetar
todo o corpo.
A saponificação é um fenômeno que se inicia
já quando o corpo se encontra em adiantado estado
de putrefação e é facilitado por solos argilosos onde
não há muita aeração,
Arachnoidea
Grande quantidade de ácaros similares àqueles encontrados
(aranhas, ácaros e Acarí
nos corpos insepultos
insepultos escorpiões)
CursoSConcurso
Art. 81* Se dois ou mais indivíduos falecerem na As mortes flagrantemente violentas também
mesma ocasião, não se podendo averiguar se al são de fácil diagnóstico. A dificuldade repousa nos
gum dos comorientes precedeu aos outros, pre- casos em que a violência não é evidente ( mortes sus
sumir-se-ão simultaneamente mortos. peitas) e, por tal, reclamam exame mais acurado.
Canger Rodrigues propõe um quadro sinótico
A determinação da cronologia de mortes muito com as possíveis ocorrências (Morte súbita e morte
próximas, quando possível, tem enorme importância suspeita em medicina legal, Ciência Penal 1, 1973,
em questões sucessórias. Por essa razão, a lei civil, p. 9-53):
Mortes
Naturais Médico-iegais)—
Pela subtaneidade
(morte súbita)
De violência oculta
0 >
^De vi'
violência indefinida
De violência definida W
De infortúnio do trabalho W
Medicina Legal II
5.1. Morte suspeita súbita Sabe-se que existem algumas pessoas com maior
e morte por inibição predisposição ao fenômeno por exacerbação dos re
(reflexo de Hering) flexos inibidores e que é preciso alguma excitação ex
terna, de natureza física, química ou psíquica, agindo
As mortes súbitas, em que não há violência
sobre os centros nervosos através de algumas áreas
manifesta, são consideradas suspeitas apenas por
do corpo denominadas zonas reflexógenas ou zonas-
serem inesperadas, imprevisíveis. Nesses casos é
-gatilho (Rodrigues, 1973, p. 33).
muito importante que se faça uma boa análise dos
Para que se considere a morte com tendo possí
antecedentes (comemorativos), que sempre podem
vel causa inibitória, são necessárias três condições:
fornecer subsídios ao diagnóstico.
a) morte súbita e inesperada de pessoa sadia,
As causas são diversas, por exemplo, distúrbios
geralmente por parada cardiorrespiratória;
cardiovasculares, problemas respiratórios, reações
b) traumatismo ou irritação periférica, de
anafiláticas, fadiga etc. pequena monta, sobre certas partes do
Uma das mais importantes ocorrências de corpo; e
morte súbita é a chamada morte reflexa por inibição c) ausência de lesões capazes de justificar o
vagai (reflexo de Hering), em que o óbito ocorre de óbito.
forma absolutamente inesperada, em decorrência
de inibição cardiorrespiratória, sem que se possa O quadro a seguir mostra as principais zonas
encontrar uma causa determinante convincente. reflexógenas:
Cavidade torácíca:
©excitação da pleura e corpos aórticos
Cavidade abdominal:
• tração de alças intestinais sob anestesia superficial
« excitação do peritônio nas mesmas condições
Geniíais:
©compressão ou golpes nos testículos:
« lavagens vaginais,
®manobras abortivas
95
CursoSConcurso
A morte por inibição é quase sempre acidental lesões pode mascarar outras, produzidas antes do
(quedas, manobras cirúrgicas), podendo, eventual atropelamento.
mente, ter origem criminosa (estrangulamento, es-
ganadura, golpes de artes marciais etc.). 5.4. Morte suspeita de violência
definida
5.2. Morte suspeita de violência
O corpo mostra lesões externas perfeitamente
ocuifa definidas quanto à sua causa, mas a etiologia jurídi
Dá-se quando os corpos não mostram lesões ca do evento permanece obscura.
externas, mas podem ocultar algum tipo de lesão, O encontro de um corpo na água, afogado, embo
como traumatismos, envenenamentos, sevícias ou ra aponte no sentido de morte acidental, não permite
outros sinais que, comprovados, alteram a natureza que se descartem as hipóteses de suicídio e homicídio.
jurídica da ocorrência.
Tais mortes são, normalmente, classificadas pela 5.5. Morte de infortúnio do trabalho
autoridade policial, ao requisitar os exames periciais,
A dúvida, nestes casos, recai sobre o nexo cau
como morte a esclarecer ou encontro âe cadáver.
sai entre a atividade laborativa e as lesões observa
Nesse grupo podem ser incluídos os corpos em
das, sendo indispensável a realização da necropsia.
adiantado estado de decomposição.
6. O EXAME MÉDICO-LEGAL
5.3. Morte suspeita de violência
indefinida A técnica tanaíológica compreende várias fases, que
vão desde a análise do local onde ocorreu o óbito até os
Aqui a violência existe e é evidente, mas o exa exames laboratoriais complementares, com o objetivo
me externo não permite determinar com precisão a de determinar a causa mortis e, se possível, contribuir
causa das lesões e, por conseqüência, o diagnóstico para o esclarecimento da natureza jurídica do evento
jurídico do evento. (morte natural, acidental, suidda ou criminosa).
Um bom exemplo é o de corpos atingidos Hilário Veiga de Carvalho descreve as fases do
por composições férreas. A grande extensão das exame tanatológico da forma como segue:
história do fato
história da vítima
permecroscopia
história do suposto agressor
exame do local (peritos criminais)
Exame
tanatológico Diagnóstico
necroscopia completa
histológicos
exames complementares químicos
outros
v Abertura da cavidade
vertebral, mediante incisão
sobre os processos espinhosos
Medicina Legal II
Recomposição do corpo
VIII para inumação
CRONOTANATOGNOSE
(DP/SP 01/91) O coágulo de sangue fica for
temente aderido aos tecidos se o sangramento Fenoinenos cadavéricos
ocorreu: (DP/SP 04/91) São fenômenos cadavéricos
a) em vida; transformativos destrutivos:
CursoSCoiictsrso
a) a putrefação e a saponificação;
g jg (DP/SP 02/90 e DP/SP 04/90) São sinais abió
b) a saponificação e a maceração;
ticos de morte imediatos:
c) a maceração e a putrefação;
a) inconsciência e imobilidade;
d) a putrefação e a transformação em adipocera.
b) parada cardíaca e resfriamento cadavé
rico;
c) parada respiratória e formação de hipós
tases;
d) morte encefálica e rigidez cadavérica.
P y y j (DP/SP 02/92 e DP/SP 05/93) São fenômenos d) parada cardíaca, imobilidade e resfria
Rigidez cadavérica
K y (DP/SP 04/90) É sinal abiótico consecutivo a:
a) morte encefálica;
(DP/SP 01/90) Cessadas as contrações cardía
b) parada cardíaca;
cas» o sangue do cadáver, por causa da gravi
c) saponificação; dade, começa a se concentrar nas partes mais
d) rigidez cadavérica. baixas, formando:
a) equimoses;
b) hipóstases;
c) bossas sanguíneas;
d) manchas de Tardieu.
a) apenas quando o cadáver entra em putre j| ]^ (DP/SP 04/92) Entre os fenômenos destruti
fação; vos dos cadáveres podemos mencionar:
CursoSConctarso
(DP/SP 01/91) A putrefação cadavérica é de È M (DP/SP 03/90) A primeira fase do processo de
vida à: putrefação de um cadáver é a:
a) falta de oxigênio dos tecidos; a) cromática;
b) presença de germes; b) hipostática;
c) ação de enzimas liberadas nos tecidos; c) gasosa;
d) ação de gases intestinais. d) térmica.
d) fica sepultado na neve, por tempo prolon c) o cadáver está em fase final de putrefação;
Toxicologia Forense
nervoso central, com tendência ao tropismo pelo c) dependência — física ou psíquica, com
tendência ao desencadeamento de crises de
cérebro que comanda o corpo, alterando a normali
abstinência ante a privação da droga.
dade mental ou psíquica, desequilibrando a condu
ta e a personalidade” (Croce, 1998, p. 546).
Os termos toxicomania e toxicofilia definem o 2. FARMACODEPENDÊNCIA
hábito do uso regular de drogas. Segundo o Comitê
A farmacodependência ou simplesmente depen
de Peritos da Organização Mundial de Saúde, com dência, segundo a Organização Mundial de Saúde,
preendem “um estado de intoxicação crônica ou pe pode ser definida como “um estado psíquico e às
riódica, prejudicial ao indivíduo e nociva à socieda vezes físico causado pela interação entre um orga
de, pelo consumo repetido de determinada droga, nismo vivo e um fármaco; caracteriza-se por mo
seja ela natural ou sintética”. dificações do comportamento e outras reações que
Atualmente usam-se os termos ârogadito e compreendem sempre um impulso irreprimível
drogadição, lamentáveis estrangeirismos derivados do para tomar o fármaco, em forma contínua ou pe
inglês drug addict, para designar, respectivamente, o riódica, a fim de experimentar seus efeitos psíquicos
toxicômano e a toxicomania. Note-se que, desde 1964, e, às vezes, para evitar o mal-estar produzido pela
a Organização Mundial de Saúde já recomendava o privação. A dependência pode ser ou não acompa
Medicina Legal II
nhada de tolerância. Uma mesma pessoa pode de for difundida no Brasil, a despeito das piores e mais
pender de um ou mais fármacos”. funestas conseqüências que possa gerar para a saúde
É um verdadeiro estado de escravidão da pessoa pública, causando dependência física ou psíquica,
à droga, podendo ser de natureza física ou psíquica. não sofrerá repressão penal em virtude da sistemá
tica mantida” (Lei de Drogas anotada, 2007, p. 13).
A dependência psíquica é caracterizada pela
Deley e Deniker, dois farmacologistas franceses,
compulsão em consumir a droga de maneira perió
agruparam os psicotrópicos em três grandes grupos,
dica ou contínua, quer para a obtenção de prazer,
os psicolépticos, os psicanalépticos e os psicodislépticos
quer para alívio de um mal-estar.
(Vargas, Manual de psiquiatria forense, 1990, p. 182).
A dependência física é marcada pelo surgimento
A esses três grupos principais alguns autores
de transtornos de natureza física ou pela síndrome
acrescentam um quarto, o dos pampsicotrópicos.
de abstinência, quando a droga não é consumida.
No grupo dos psicolépticos temos as drogas que
deprimem o sistema nervoso. São sedativos que re
3. CLASSIFICAÇÃO duzem a motricidade e a sensibilidade, diminuindo
as emoções e o raciocínio. Dividem-se em hipnosse-
Drogas, entorpecentes ou psicotrópicos são com
dativos, tranquilizantes e neurolépticos.
postos químicos, naturais ou não, que, agindo sobre
Entre os hipnossedativos (barbitúricos) e os tran
o cérebro, produzem estados de excitação, depres
quilizantes vamos encontrar as principais fontes de
são ou alterações variadas no psiquismo.
farmacodependênáa iatrogênica (provocada pelo médi
A Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, alte
co), particularmente em relação a indutores do sono e
rou a tradicional expressão “substância entorpecen
similares, por vezes receitados indiscriminadamente.
te ou que determine dependência física ou psíquica”
Os neurolépticos não representam risco para a
pelo termo “drogas” (art. 1% parágrafo único), al
saúde pública. Utilizados como anestésicos, dificil
teração, aliás, que já havia sido introduzida pela re
mente causarão dependência.
vogada Lei n. 10.409, de 11 de janeiro de 2002, mas
Os psicanalépticos são os estimulantes do siste
que não chegou a ser utilizada em razão do veto ao
ma nervoso central, que levam à euforia, prolongam
Capítulo III, que tratava dos crimes e das penas,
o estado de vigília e causam a sensação de um incre
Lein. 11.343/06 mento da atividade intelectual. Destacam-se nesse
Art. l a ...
grupo as anfetaminas e os anorexígenos, também
fonte de farmacodependência iatrogênica.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-
se como drogas as substâncias ou os produtos ca Os psicodislépticos produzem uma dissocia
pazes de causar dependência, assim especificados ção do psiquismo levando a alucinações e delírios.
em lei ou relacionados em listas atualizadas pe Nesse grupo de drogas é que vamos encontrar os
riodicamente pelo Poder Executivo da União. tóxicos socialmente mais importantes, como álcool,
cocaína e maconha.
Não houve modificação, porém, no critério de Algumas dessas drogas são normalmente utili
definição, que continua remetendo os produtos e zadas em rituais religiosos {chá do Santo Daime, por
substâncias capazes de causar dependência às rela exemplo), pela sensação de liberação do ego e ideia
ções publicadas e atualizadas periodicamente pelo de uma nova dimensão para a consciência.
Poder Executivo da União, ou seja, a Lei n. 11.343/06 Por derradeiro, temos os pampsicotrópicos. São
é expressamente uma lei penal em branco. drogas modernas, utilizadas como anticonvulsivan-
Como bem lembram Greco Filho e Rassi, a tes, mas que podem induzir dependência física ou
nova Lei de Drogas optou pela pior solução, por psíquica. Têm aplicação clínica em determinados
que, “se a droga nova, não relacionada pela Secreta estados de angústia e depressão, devendo ser admi
ria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, nistrados sempre sob supervisão médica.
CursoSConeurso
Os esquemas a seguir, baseados em similares dos tóxicos, 1977, p. 30), indicam as principais subs-
propostos pelo Prof. Protásio de Carvalho (A didática tâncias psicotrópicas de cada grupo:
"sêcobarbital
barbitúricos amobarbital
hipnossedativos fenobarbital
pentobarbital
meprobamato
tranquilizantes miorrelaxantes com fenaglicodol
atividade neurossedativa eioridiazepóxido
"ãnfetamina
aril-aiquilammas dextroanfetamina
simpatomiméticas fentermina
MDMA (ecstasy), ICE
pipradrol
derivados piperidínicos metilfenidato
facetoperano
Psicanalépticos
iprinazinda
psicotônicos inibidores da nialamida
monoaminoxidase fenilisopropil-hidrazina
cafeína
acetato de desoxicorticosterona
outros compostos deanol
centrofenoxina
Medicina Legal li
álcool
ópio, heroína e morfina
euforizantes cocaína
óxido nitroso
Psicodislépticos mescalina
bufotenina
adrenolutina
alucinógenos ou psilocibina
despersonalizantes estramônio
maconha
LSD 25 (dietilamida do ácido lisérgico)
4.1. Borbitúricos
4.2. Benzodiazepínicos
Barbitúricos são substâncias químicas deriva
das da composição sintética entre ureia e ácido ma- Os benzodiazepínicos pertencem a um grupo de
lônico (malonilureia), psicolépticos de ação depres- substâncias utilizadas como tranquilizantes e ansiolí-
sora sobre o sistema nervoso central, destacando-se, ticos e foram introduzidos no mercado farmacêutico
entre outros: barbital (Veronal), alobarbital (Dial), como uma alternativa mais segura aos barbitúricos.
amobarbitaí (Amitú) ,/enobarbital (Gardenal), seco- Estão entre os medicamentos mais utilizados no
barbital (Seconal), pentobarbital (Nembutal) e tio- mundo todo, sendo considerados um problema de
pental (Pentotal). saúde pública nos países mais desenvolvidos.
Clinicamente são indicados no tratamento de Como exemplos de medicamentos à base de
quadros epilépticos, ansiedade e insônia ou como benzodiazepínicos poderíamos citar: Aniolax, Bro-
anestésicos de eleição para entubação e procedi mazepam, Calmociteno, Clorazepam, Diazepam,
mentos cirúrgicos rápidos. Dienpax, Flunitrazepam, Flurazepam, Frontal, Le-
Utilizados nas doses terapêuticas recomenda xotan, Lorazepam, Lorax, Nitrazepam, Psicosedin,
das e sob supervisão médica, não costumam causar Rohypnol, Somalium, Valium etc.
qualquer problema ao paciente. Entretanto, usados Mesmo quando consumidos em doses terapêu
indiscriminadamente, podem induzir tolerância e ticas, a interrupção abrupta pode provocar sínâro-
dependência física e psíquica. me ãe abstinência em até 50% das pessoas tratadas
As intoxicações agudas são geralmente de ori por 6 meses ou mais.
gem suicida, e a dose letal é cerca de vinte vezes su Os efeitos terapêuticos dos benzodiazepínicos
perior à habitualmente usada. Os sintomas incluem incluem indução do sono, tranquilização e redução
sonolência, hipotensão arterial, coma e morte (Za- da ansiedade (ansiolíticos).
charias, 1991, p. 54). Entre os sintomas provocados pela abstinência
Nas intoxicações crônicas, toxicomania barbi- poderíamos citar insônia, irritação, perda da me
túrica, há uma completa transformação do viciado, mória e, muito raramente, alucinações. Fisicamente
CursaSConcurso
podemos observar sudorese intensa, palpitações, A droga pode ser ingerida por via oral em cáp
náuseas e perda do apetite. sulas ou comprimidos, consumida por via intraveno-
Nos Estados Unidos o uso de alguns benzodiaze- sa (diluída em água destilada), aspirada na forma de
pínicos (como o Rohypnol) está intimamente ligado a pó e filmada com auxílio de um cachimbo artesanal.
casos de abusos sexuais, porque, quando diluídos em Pode, também, ser diluída em bebidas alcoólicas.
álcool, esses fármacos têm seus efeitos potencializados, As anfetaminas não causam dependência física,
tomando a vítima absolutamente indefesa. Por essa ra apenas psíquica.
zão recebem a denominação de date rape árugs (dro
gas de encontro com o estupro). 4.4. Ecstasy (MDMA)
O ecstasy ou pílula do amor é uma anfetamina
4.3. Anfefaminas
cujo principio ativo, o metileno-droxi-metanfeta-
As anfetaminas, popularmente conhecidas por mina ou MDMA, provoca nos usuários forte senti
bolinha, cristal ou copiloto, são aminas simpaticomi- mento de empatia e conforto, razão pela qual vem,
méticas que pertencem a três categorias de drogas cada vez mais, sendo utilizada em grande quantida
sintéticas, quimicamente semelhantes: a anfetamina de em festas da alta sociedade, particularmente em
propriamente dita (Benzedrine e Bifetamina), a dex- raves e discotecas.
troanfetamina (Dexamil e Dexedrine) e a metanfeta- Seu consumo é feito por via oral, sob a forma
mina (Desbutal, Desoxyn, Methedrine e Obedrin), de comprimidos, ou por aspiração do pó, como a
todas elas com poderosa ação estimulante sobre o cocaína (mais raro).
sistema nervoso central Os efeitos correspondem a uma abertura emo
Entre os principais efeitos terapêuticos pode cional seguida de desinibição e euforia. Cessados os
ríamos citar: aumento da confiança e do estado de efeitos estimulantes, observa-se forte depressão nos
alerta, diminuição do sono e perda de apetite, este usuários (“aterragem”), podendo levar ao suicídio.
último responsável pelo seu uso generalizado como O uso contínuo leva a um decréscimo nos ní
tratamento antiobesidade. veis de serotonina, com conseqüente queda na li-
Em razão da resposta estimulante, as anfetami bido, crises de pânico e depressão crônica. Foram
nas começaram a ser utilizadas por esportistas com o observadas lesões no cérebro (coordenação e me
objetivo de incrementar sua capacidade física, indo, mória), coração e fígado.
por vezes, além dos limites de segurança e resistência
orgânicas. Mais recentemente, pelo seu baixo custo
4.5. S p e c ia l K (Kefamina)
e facilidade de aquisição, tornaram-se drogas am
plamente consumidas em raves e discotecas (clubber Desenvolvido nos anos 60 como anestésico
drugs), principalmente nas formas de ecstasy (metile- para ser usado nos campos de batalha do Vietnã,
no-droxi-metanfetamina) e Ice (metanfetamina). o hidrocloriárato de ketamina é um tranquilizante
pode levar à psicose “toxicoanfetamínica” (Sandrim Em razão dos potentes efeitos alucinógenos que
e Penteado, Drogas — imputabilidade e dependên produz, passou a ser usado como droga a partir dos
cia, 1994, p. 30), caracterizada por insônia, loqua anos 70 e ressurgiu nas raves e discotecas dos anos
cidade, irritação, diminuição da capacidade mental 90 com o nome de special K ou vitamina K.
e eventualmente alucinações. No plano físico são Entre os sintomas estão descritas alucinações
descritos: anorexia (perda do apetite), aumento da com distorções visuais, perda das noções de tempo e
pressão arterial, taquicardia, tremores musculares, identidade. O pico pode durar de 30 minutos a 2 ho
lesões irreversíveis no sistema nervoso central, con ras, mas a droga permanece no organismo por mais
vulsões, coma e morte. de 24 horas. O uso contínuo do fármaco pode levar
Medicina Legal II
a sérios distúrbios, como amnésia e incoordenação ferurn), do qual derivam outras drogas, como a heroí
motora, e à morte por complicações respiratórias. na, a morfina e a codeína (utilizada contra a tosse).
A forma mais usual de consumo é a aspiração Originariamente tem aparência de um xarope
do pó da droga desidratada, podendo eventualmen leitoso, que, colocado para secar por aproximada
te ser borrifada em cigarros comuns ou de maconha mente 2 meses, transforma-se em uma pasta acasta
e fumada. nhada de sabor amargo.
Recentemente foi feita em São Paulo a primei A forma mais usual de consumo é a aspiração
ra apreensão da droga, em uma boate no bairro da fumaça resultante de sua queima na forma de ci
da Barra Funda (Polícia faz primeira apreensão da garro, mas pode ser ingerido ou injetado.
droga special K em São Pauio, O Estado de S. Paulo
Graças ao seu principal efeito, uma potente ação
— Cidades, p. C3).
analgésica e depressora sobre o sistema nervoso
central, os opiáceos foram utilizados durante mui
4.6. GBH ou “ Líquido X” tos anos em clínicas médicas, valendo citação os
preparados: háudano de Sydenham, o Pó de Dover e
O GBH ( Gamma-hydroxybutyric acid ou ácido
o Elixir ParegóricOy todos atualmente em desuso.
gama-hidroxibutírico) foi sintetizado em 1961, na
O viciado experimenta uma fase inicial de ex
França, por Henri Laborit (1914-1995) para ser uti
citação, inclusive com incremento das funções psí
lizado como anestésico.
quicas, para depois cair em depressão e prostração
O uso inadequado iniciou-se pelos íisicultu-
profunda que o impedem de qualquer atividade.
ristas, como estimulante do crescimento muscu
lar. Mais recentemente, e geralmente utilizado em As formas derivadas, heroína e morfina, são
combinação com outras drogas como o ecstasy ou o mais utilizadas que o próprio ópio.
special K, surgiu nas raves e discotecas, com o nome
de “líquido X ”. 4.8. Morfina
É consumido na forma de tabletes, cápsulas, pó
A morfina é um alcalóide fenantrênico deriva
branco ou líquido incolor. Além de apresentar baixo
do do ópio. Originariamente tem o aspecto de um
custo, a droga pode ser preparada em casa, a partir
líquido incolor, cuja via de administração é a injeção
de um composto químico utilizado para limpeza de
intramuscular.
placas eletrônicas.
\ Por não ter odor e ser praticamente sem sabor (le Em clínicas médicas utiliza-se a forma de clori-
vemente salgado), pode ser misturado em bebidas al drato de apomorfina, um sal hidrossolúvel com apa
coólicas (que potencializam o efeito) sem que a vítima rência de um pó branco e cristalino de sabor amargo.
perceba, o que faz do GBH uma outra droga utilizada Sua ação principal é narcótica, produzindo
para a prática de abusos sexuais (date rape drugs). apatia, analgesia e sonolência com delírios eróticos
Cerca de 5 a 10 minutos após a ingestão da dose prolongados. A dependência instala-se após duas
usual (entre 0,5 g e 1,5 g), a pessoa experimenta leve semanas de uso contínuo e pode levar o morfinô-
relaxamento e sensação de bem-estar, acompanha mano à morte por debilidade geral do organismo.
dos de desinibição e excitação sexual. Há relatos de dependência após a primeira dose.
Os efeitos colaterais incluem cefaleia, náuseas,
perda de memória e torpor. Já foram relatados inú 4.9. Heroína
meros casos de óbito por overdose.
A heroína é um derivado sintético da morfina,
denominado diacetilmorfina. Tem a forma de um
4.7 . Ópio
pó branco e cristalino, cujos efeitos são similares
O ópio é uma mistura de alcalóides extraídos dos aos da própria morfina, mas cerca de cinco vezes
frutos ou cápsulas verdes da papoula (Papaver somni- mais potentes.
Cursc&£on€urso
Conhecida também por inúmeras outras deno gico, extraído do fungo Claviceps purpurea (esporão
minações, como erva, fumo, haxixe, maríjuanaepa- do centeio). O número 25 indica a vigésima quinta
cau, a maconha é uma substância tóxica constituída experiência de uma série.
pelas inflorescências dos exemplares femininos da Fisicamente é um pó incolor, inodoro e sem sa
Cannabis sativa ou cânhamo da índia. bor, que pode ser ingerido sob a forma de compri
Seu princípio ativo é o 9-gama-transtetrahidro- midos ou aplicado por injeções endovenosas.
canabinol (THC), um composto fenólico encontra Os efeitos, que perduram por 6 a 12 horas, são
do na resina das plantas femininas e cuja concentra alucinatórios e despersonalizantes. As chamadas
ção é bastante variada. viagens levam o usuário a ter a errônea sensação
A via de administração é basicamente o firmo, sob que alcançou outros planos de existência, chegando
a forma de toscos cigarros denominados baseados. mesmo a sentir que o espírito abandonou o corpo.
Medicina Legal II
Embora não cause dependência física, não raro um sem-número de produtos comerciais comuns,
pode desencadear crises psicóticas, em pessoas predis como esmaltes, colas, tintas, removedores, gasolina,
postas, e comportamentos aberrantes, que podem vernizes e outros, cujos vapores e gases podem ser
levar à prática de crimes ou mesmo do suicídio. inalados proposital ou acidentalmente.
Foram relatadas malformações físicas e men A importância toxicológica dessas substâncias
tais nos filhos de usuários, levando à conclusão de reside exatamente no fato de serem produtos co
um efeito teratogênico cumulativo, merciais comuns, não vedados pela legislação. Por
y apresentarem baixo custo, facilidade de aquisição
cia aos próprios esteroides, em razão de sintomas lueno ou n-hexano em suas composições, acabam
físicos e psíquicos desagradáveis provocados pela por ser a droga mais usada entre meninos de rua e
bertados em forma de partículas) que são transportadas Distribuídos em pequenas garrafas de vidro,
pelo fumo até os pulmões. Dentre os inúmeros prin são normalmente consumidos por inalação graças
cípios ativos, destacam-se a nicotina, diversos agentes à extrema volatilidade do produto à temperatu
episódica até a psicose alcoólica (atual transtorno resume os principais quadros da intoxicação alcoó-
psicótico induzido por álcool). O esquema a seguir lica, segundo a terminologia clássica:
agudo
agressiva ou violenta
embriaguez patológica excitomotora
(segundo Vibert) convulsiva
delirante
subagudo
delírio alcoólico agudo (delirium tremens)
superagudo
Alcoolismo
com sintomas
psiquiátricos depressão alcoólica aguda
alucinose auditiva aguda
cromco paranóia alcoólica— delírio de ciúmes
(psicoses dipsomania
alcoólicas)
psicose polineurítica de Korsakoff
com sintomas encefaíopatia de Wernicke
psiquiátricos e encefalopatia porto-cava
neurológicos síndrome de Marchiafava
epilepsia alcoólica
demência alcoólica
— abuso de álcool;
transtornos induzidos por álcool: Por questões didáticas e por ser mais conhe
— transtorno amnésico persistente indu humano por diversas vias, tais como absorção cutâ
zido por álcool; nea (discutível), pela mucosa do reto, aspiração,
— transtorno psicótico induzido por infusão venosa e ingestão. De todas, a mais signifi
álcool; cativa é o consumo de bebidas alcoólicas.
CursoSConcurso
Existem diversos fatores que podem diminuir A energia liberada na reação não é armazena
ou aumentar a taxa de absorção do etanol pelo in da de maneira satisfatória pelo organismo, dissi-
testino (Garriott, 2003, p. 56): pando-se sob a forma de calor. Por essa razão, o
* diminuem a taxa de absorção: álcool é classificado como *fonte de caloria vazia!0
— presença de alimento no estômago; ou não aproveitável. O quadro abaixo resume as
— consumo concomitante de alguns principais etapas do processo (adaptado de Gar
carboidratos e aminoácidos (frutose, riott, 2003, p. 117):
glicina);
— fumar; respiração
— uso de drogas que retardam o esvazia c h 3c h 2oh — ~5% > urina
(Etanol) suor
mento gástrico (agentes anticolinérgi- -94%
cos e propantelina); NAD
— ingestão de álcool sob a forma de cer (Álcool desidrogenase)
vejas com alto conteúdo de carboidra H* + NADH
tos; e
CH3CHO
— trauma, choque e perdas sanguíneas (Acetaldeído ou etanol)
significativas. NAD
aumentam a taxa de absorção: (Aldeido desidrogenase)
— beber com o estômago vazio; H++ NADH
— ingestão de bebidas com maior teor
CH3COOH
alcoólico; (acetato)
— drogas que aceleram o esvaziamento
gástrico (cisaprida, metoclopramida,
eritromicina); e •H,0
— alguns procedimentos cirúrgicos (gas- Energia
trectomia ou bypass gástrico).
O quadro a seguir aponta alguns fatores que V ’ é o fator de redução ou “fator Widmark,
podem influenciar no tempo de eliminação (Gar- utilizado para excluir do peso total do cor
riott, 2003, p. 72): po, medido em quilogramas (kg), o per
centual correspondente à massa de tecido
ósseo e gorduroso, que não contém água
Valores
Taxa de e, portanto, não recebe difusão do álcool.
esperados Condições físicas
eliminação
g/i/hora Widmark estabeleceu que o fator V ’ (re-
Indivíduos desnutridos ou duàerade kôpermass) é aproximadamente
alimentados com dieta 0,7 para o homem e 0,6 para a mulher;
de baixo nível proteico.
Baixa 0,08 a 0,1 “p” é o peso em quilogramas (kg); e
Níve! avançado de cirrose
hepática, com hipertensão “C” é a concentração de álcool no sangue
hepática portai. medida em gramas por quilo (g/kg).
Indivíduos saudáveis, após
um jejum noturno de 10
Assim, um homem de 70 kg que tenha apresen
Moderada 0,1 a 0,15 horas e ingestão
moderada de álcool tado uma dosagem alcoólica sanguínea de 1,2 g/kg
(menos de 1 g/kg). teria cerca de 58,8 g de álcool distribuídos pela fra
Bebedores regulares que,
ção líquida do organismo no momento da dosagem.
entretanto, não são
alcoólatras e nem No caso de uma mulher com o mesmo peso, o valor
estão em jejum. diminuiria para 50,4 g.
Rápida 0,15 a 0,25 Concentrações iniciais
bastante aStas após r p C A
alimentação. Homem = 0,7 X 70 kg x 1,2 g/kg = 58,8 g
Administração
Mulher - 0,6 x 70 kg x 1,2 g/kg = 50,4 g
endovenosa de frutose.
Alcoólatras e ébrios Como a legislação brasileira considera a alcoo-
durante o período de
lemia em gramas por litro (g/l), e não gramas por
desintoxicação, com altos
níveis de álcooí no sangue quilo (g/kg), e a densidade do sangue total é aproxi
{maís de 3,5 g/l).
madamente 1,053 g/ml, é preciso fazer a conversão,
Ultrarrápida 0,25 a 0,35 Predisposição genética
para o ultrarrápido
multiplicando a concentração encontrada (Ce) por
metabolismo do etanol. 0,95 para determinar o fator “C”.
Metabolismo acelerado
(em razão de algumas ^(g/kg) " ^e(g/l) X
drogas ou queimaduras}.
Além disso, é preciso considerar, também, que
a ingestão de álcool ocorre não em um único mo
5.2. A equação de Widmark mento, mas geralmente ao longo de um determina
álcool, o médico suíço Erik Matteo Prochett Widmark cos de eliminação do etanol têm início, diminuindo
Mais recentemente, Seidl et al (apud Garriott, Um homem com 70kg e l,75m de altura apre
2003, p. 63) apresentaram equações que permitem sentaria um fator Widmark (r) igual a 0,78, diferen
determinar com maior precisão o “fator Widmark” ça considerável em relação ao valor inicial de 0,7
(r) para homens (rH) e mulheres (rM), levando em proposto.
consideração a composição hídrica total do orga Qualquer que seja a adaptação, entretanto, é
nismo, com base na proporção do peso em quilos necessário ter sempre em mente que a equação de
(kg) e da altura em centímetros (cm): Widmark fornece apenas uma estimativa, aplicável
r H„ - 0,31608~ 0,004821 X Peso... + 0,004632xA ltura,(cm). à média da população, porque são inúmeros fatores
’ ’ (Kg)
que podem alterar as taxas de absorção, distribuição
rM- 0 ,3 1 2 2 3 -0 ,0 0 6 4 4 6 X Peso(kg) + 0,004466 x Altura(cm) e eliminação do álcool no sangue.
Absinto 53 a ó8 53 a 68 40 a 50 17 a 27
Aguardente de cana 30 a 50 30 a 50 40 a 50 9 a 20
Aquavit 42 a 45 42 a 45 40 a 50 13a 18
Bagaceira, groppa ou graspa 35 a 54 35 a 54 40 a 50 11 a 21
Brandy ou conhaque fino 36 a 54 36 a 54 40 a 50 11 a 21
Campari 28,5 28,5 40 a 50 9 a 11
Medicina Legai ii
Carpano 16 16 40 a 50 5a 6
Cerveja 3a 6 3a 6 300 7a 14
Cinzano 16 16 40 a 50 5a 6
Conhaque 36 a 54 36 a 54 40 a 50 11 a 21
Creme de cassts 16 16 40 a 50 5a 6
Drambuie 40 40 40 a 50 13a 16
Gin 35 a 50 35 a 50 40 a 50 11 a 20
Licores diversos 24 a 60 24 a 60 40 a 50 8 a 24
Marasquíno 30 30 40 a 50 9 a 12
Martini 16 16 40 a 50 5a 6
Pisco 38 a 54 38 a 54 40 a 50 12 o 21
Rum 38 a 40 38 a 40 40 a 50 12a 16
Steinhãger 38 38 40 a 50 12a 15
Tequila 35 a 40 35 a 40 40 a 50 11 a 16
Vinho do Porto 19 a 22 19 a 22 40 a 50 6a 9
Vinho licoroso 14a 18 14a 18 40 a 130 4 a 18
Vinhos em geral 7 a 14 7 a 14 130 7 a 14
Vodka 35 a 90 35 a 90 40 a 50 11 a 36
Whisky 40 a 60 40 a 60 40 a 50 13 a 24
Levando em consideração a equação de Wid- (26 a 48 g de álcool), terá, ao final de 2 horas, uma
tnark e conhecendo a quantidade de álcool ingeri alcoolemia esperada (Ce) de aproximadamente
do, podemos estimar a concentração sanguínea em 0,2 g/l (para uma ingestão de 26 g de álcool) a 0,6 g/l
um dado momento. (para uma ingestão de 48 g de álcool).
Assim, um homem de 70 kg, com 1,75 m de
altura (r = 0,78), que ingerir duas doses de whisky
= r X X + X X
^(9) PfKg} EÍC eis, ^^g/l/h) V
26 = 0,78 X 70 X [(Ce + 0,15 X 2) X 0,95]
julho de 2008, editada pelo Ministério da Saúde e Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pú
ainda não regulamentada pelo CONTRAN, ratifi blica, estando com concentração de álcool por litro
cou os valores do Decreto n. 6.488, de 19 de junho de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas,
ou sob a influência de qualquer outra substância
de 2008, especificando que “a margem de tolerância
psicoativa que determine dependência: (Redação
a ser estabelecida para todos os casos deverá ser de
dada pela Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008).
0,2 g/l — dois decigramas por litro de sangue —
Penas: detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
com sua equivalência para a concentração de álcool
multa e suspensão ou proibição de se obter a permis
por litro de ar expelido pelos pulmões, aferido pelo
são ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
etilômetro”, com base nos seguintes argumentos:
Parágrafo único. O Poder Executivo federal esti
“o consumo de pequenas quantidades de
pulará a equivalência entre distintos testes de al
álcool, até 1 (uma) dose-padrão de bebida
destilada ou fermentada, poderá ser detec coolemia, para efeito de caracterização do crime
tado pelo exame até cerca de duas horas tipificado neste artigo. (Parágrafo único acrescido
após a ingestão, garantindo a eficácia da pela Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008).
medida de controle;
doses maiores que 1 (uma) dose-padrão Como se observa, o crime que era de perigo con
serão identificadas com segurança, não ha creto, reclamando a demonstração do dano potencial
vendo risco de falso-negativo no exame; à incolumidade de terceiros, passou a ser de perigo
o índice proposto exclui das sanções previstas abstrato, sendo suficiente para a sua caracterização a
na lei as situações em que o uso de medica demonstração de uma alcoolemia igual ou superiora 6
mentos e de anti-sépticos bucais, cuja com
decigramas por litro de sangue (0,6g/l), valor que pas
posição tenha algum nível de etanol, possa,
sou a integrar o tipo penal como elemento objetivo.
eventualmente, ser detectado no exame;
bombons ou chocolate recheados com be
bida alcoólica (licor) ingeridos, em quanti 5.5 O etilômetro (bofômefro)
dades usuais, imediatamente antes do teste
do etilômetro, não serão detectados; e O hálito característico das pessoas que ingeri
a adoção do índice proposto torna desne ram bebidas alcoólicas há muito tem sido utilizado
cessária a elaboração de elenco de medi como indício de um possível estado de embriaguez.
Medicina Legal li
célula eletroquímica (células de combustível), absor tor de um veículo estava sob influência de álcool ou
ção de radiação infravermelha, cromatografia, senso substâncias de efeitos análogos:
res cerâmicos ( Taguchi gas sensors) e outros métodos
Resolução CONTRAN n. 206/06
que variam em função das necessidades de precisão
e exatidão e das condições em que os testes serão rea Art. 1- A confirmação de que o condutor se en
lizados, mas cuja análise foge ao escopo deste traba contra dirigindo sob a influência de álcool ou de
lho. Os mais comuns são os dois primeiros. qualquer substância entorpecente ou que deter
mine dependência física ou psíquica, se dará por,
Qualquer que seja a tecnologia, os etilômetros
são providos de um bocal descartável no qual a pes pelo menos, um dos seguintes procedimentos:
soa examinada sopra até o esvaziamento dos pul I — teste de alcoolemia com a concentração de
mões. Os aparelhos são ligados a uma impressora álcool igual ou superior a seis decigramos de ál
que fornece o horário e o resultado do exame. cool por litro de sangue;
i. sabe onde está; e razoável que a atual, até porque o policial ou agen
ii. sabe a data e a hora. te da autoridade de trânsito não pode ser mais que
e. Quanto à memória, se o condutor: mera testemunha e nunca se subsumir na figura de
Concentração
Fase
' ml/litro de sangue g/lítro de sangue mg/!itro de ar alveolar
Outra maneira de dosar a alcoolemia é através quatro tipos, conforme o quadro abaixo (in Précis
da Tabela Internacional de Laâd e Gibson, que mede âe mêdecine légale, 1917, pág. 700):
a concentração de álcool no sangue em percentuais
(apud Vargas, 1990, p. 166): Agressiva O alcoólatra apresenta grande
ou violenta agressividade com pequenas doses
da substância, podendo, inclusive,
12 Grau de 0,005 a 0,014% de álcoo! no sangue praticar crimes.
22 Grau de 0,015 a 0,049% de álcool no sangue Excitomofora Inquietação e fúria destrutiva, com
acessos de raiva e destruição.
32 Grau de 0,050 a 0,149% de álcool no sangue Convulsiva Além dos impulsos destruidores,
42 Grau de 0,150 a 0,299% de álcool no sangue seguem-se episódios convulsivos,
epileptiformes.
52 Grau de 0,300 a 0399% de álcool no sangue
Deürante Delírios com ideias de autoacusação
62 Grau de 0,400 a 0,600% de álcool no sangue e tendência ao suicídio.
No delírio alcoólico subagudo, também conheci- O descuido com a higiene pessoal, uma impotên
do como encefalose alcoólica subaguda (apud Vargas, cia moderada e a diminuição da libido podem acen
1990, p. 242), o alcoólatra apresenta sinais de irrita tuar o quadro, na medida em que o parceiro passa a
ção e insônia, agitação, sudorese intensa e delírios desenvolver certa repulsa aos contatos sexuais, fazendo
que se traduzem por comportamentos e falas com com que a desconfiança do alcoólatra aumente.
seres imaginários. Não raro, em razão das violentas crises que pode
despertar, o viciado pode ser levado ao cometimento
São freqüentes os relatos de visões de animais
de crimes.
assustadores (zoopsias)ycomo cobras ou aranhas. Os
ataques costumam ocorrer no final da tarde para a
noite e acometem, preferencialmente, os alcoólatras 5.9.5. Dipsomania
com idade superior a 40 anos.
Embora, no passado, tenha sido descrita com
No delírio alcoólico agudo ou delirium tremens, o certa frequência na literatura médica, a dipsomania
viciado apresenta sintomas muito semelhantes aos do é atualmente um quadro raro que se caracteriza por
delírio subagudo, apenas mais acentuados. A qualidade crises em que o alcoólatra sente uma necessidade
e a quantidade das alucinações aumentam significati incontrolável de consumir bebidas alcoólicas em
vamente, sendo comum a procura pelo suicídio. grande quantidade.
CursoSConcurso
Interessante é o fato de o dipsômano permane Ocorre em uma pequena parcela dos alcoóla
cer absolutamente abstêmio entre as crises, que são tras crônicos e provavelmente está associada à ca
cíclicas, de duração bastante variável e geralmente rência de vitaminas do complexo B.
precedidas de sintomas depressivos, como tristeza Clinicamente inicia-se com vômitos, falta de coor
profunda, insônia ou inapetência. denação motora (ataxia), insônia e alucinações (si
Quando não encontra a bebida, o dipsômano milares às do delirium tremens). A deterioração mental
chega a ingerir álcool puro ou mesmo gasolina. agrava-se rapidamente, podendo chegar à inconsciên
cia (estupor) e morte em curto período de tempo.
tar dependência de drogas, quando se realizará em nhecendo, por força pericial, que este apresentava,
90 (noventa) dias (grifo nosso). à época do fato previsto neste artigo, as condições
referidas no caput deste artigo, poderá determi
Não basta, porém, constatar ou não a dependên nar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento
cia física e/ou psíquica, pois “o simples fato de o réu ser para tratamento médico adequado.
CursaSConcurso
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço últimas, as hipóteses de semi-imputabilidade como
a dois terços se, por força das circunstâncias pre causa de redução de pena.
vistas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao Note-se que não se trata de semidependência,
tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
figura inexistente na anterior (Lei n. 6.368/76) e na
de entender o caráter ilícito do fato ou de determi
atual legislação brasileira sobre tóxicos, mas sim de
nar-se de acordo com esse entendimento.
semirresponsabilidade.
Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base O dependente podt, ao tempo da ação ou omis
em avaliação que ateste a necessidade de encami são, ser totalmente capaz, parcialmente capaz ou in
nhamento do agente para tratamento, realizada capaz de entender a natureza ilícita de sua conduta
por profissional de saúde com competência espe e/ou de agir de acordo com essa compreensão.
cífica na forma da lei, determinará que a tal se pro Em geral, os dependentes leves são imputâveis, já
ceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
que perfeitamente capazes de entender o caráter ilí
cito dos atos praticados e de determinar-se de acor
São oito situações distintas:
do com esse entendimento.
a) o agente, em razão de dependendo, era intei
ramente incapaz de entender o caráter iJicito A dependênda moderada pode levar à semi-impu-
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06); tabilidade, com conseqüente redução da pena (art. 46
b) o agente, em razão de dependência, era intei- da Lei n. 11.343/06), e a dependência severa, à inim-
ramenteincapaz de determinar-se de acordo putabiliâade (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06), ex
com o entendimento sobre o caráter ilícito
cluindo a responsabilidade penal.
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06);
c) o agente, sob o efeito de droga, proveniente
leve — imputabilidade — aplica-se a pena
de caso fortuito ou de força maior, era intei-
moderada— semi-imputabilidade — pena
ramenteincapaz de entender o caráter ilícito
Dependência reduzida
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06);
severa — inimputabilidade — isenta
d) o agente, sob o efeito de droga, proveniente
de pena
de casofortuito ou deforça maior, era inteira
mente incapaz de determinar-se de acordo
com o entendimento sobre o caráter ilícito É importante lembrar que, se o agente não de
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06); pendente estiver sob efeito de droga que não seja
e) o agente, em razão de dependência, era par proveniente de caso fortuito ou força maior, não po
cialmente incapaz de entender o caráter ilí
derá beneficiar-se da isenção ou da redução de pena
cito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06);
(actio libera in causa — art. 28, II, do CP), podendo
f) o agente, em razão de dependência, era
parcialmente incapaz de determinar-se de até ter sua pena agravada (embriaguez preordenada
acordo com o entendimento sobre o caráter — art. 61, II,/, do CP).
ilícito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06); Ainda com relação à inimputabilidade ou semi-
g) o agente, sob o efeito de droga, provenien imputabilidade, seguindo a orientação anterior (do Có
te de caso fortuito ou de força maior, era
digo Penal e da Lei n. 6.368/76), a nova Lei de Drogas
parcialmente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06); também adotou o critério biopsicológko. Dessa for
h) o agente, sob o efeito de droga, provenien ma, para se reconhecer a ausência ou a diminuição da
te de caso fortuito ou de força maior, era capacidade cognitiva do autor, é sempre necessário
parcialmente incapaz de determinar-se de que ocorra a conjunção de três fatores (Mendonça e
acordo com o entendimento sobre o caráter Carvalho, 2007, p. 176):
ilícito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06).
a) a causa biológica, ou seja, a constatação de
que o agente era dependente ou que agiu
Nas quatro primeiras, temos a inimputabilida- sob efeito de droga em razão de caso for
de, com a conseqüente isenção de pena. Nas quatro tuito ou força maior;
Medicina Legal II
b) a conseqüência psicológica, consistente em art. 150, § is, do Código de Processo Penal (45 dias),
determinar se, em razão da causa biológica, salvo demonstrada necessidade de dilação.
era o agente inteira ou parcialmente inca
paz de entender o caráter ilícito do fato ou Lei n. 11.343/06
de determinar-se de acordo com esse en Art. 48....
tendimento; e
§ 22 Tratando-se da conduta prevista no art. 28 des
c) o elemento temporal de a conseqüência
ta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo
psicológica existir no instante da prática
o autor do fato ser imediatamente encaminhado
do ato.
ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se
A perícia, entretanto, na maioria dos casos, só
termo circunstanciado e providenciando-se as re
poderá afirmar a dependência e o eventual compro quisições dos exames e perícias necessários.
metimento psíquico do autor do fato incriminado.
Se estava ele sob o efeito da droga no momento do Ocorre que, para os crimes mais graves, a nova
crime, se podia entender o caráter ilícito do fato ou Lei de Drogas estabeleceu o prazo de 90 dias entre o
de determinar-se segundo tal entendimento naque recebimento da denúncia e a audiência de instrução
le exato momento são questões que precisam ser e julgamento nos casos em que foi determinada a
complementadas por outros meios de prova. perícia (art. 56, § 2s).
Não haveria sentido admitir prazo menor para
os casos em que o autor permanece em liberdade.
5.11.1. Procedimento para realização
Sendo assim, entendemos que o novo prazo para
do exam e
realização do exame de avaliação de dependência de
A nova Lei de Drogas não tratou do procedi drogas é hoje de 90 dias, em qualquer hipótese, fa
mento para realização do exame de avaliação de de cultado às partes o oferecimento de quesitos.
pendência de drogas, que continua sendo realizado
Lein. 11.343/06
segundo o rito previsto nos arts. 149 a 154 do Códi
go de Processo Penal para o incidente de insanidade, Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia
e hora para a audiência de instrução e julgamen
no que couber.
to, ordenará a citação pessoal do acusado, a inti
mação do Ministério Público, do assistente, se for
5.11.2. Prazo para realização da perícia o caso, e requisitará os laudos periciais.
Para as condutas previstas no art. 28, se cometi tigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias se
guintes ao recebimento da denúncia, salvo se de
das isoladamente, o rito deve ser o da Lei n. 9.099, de
terminada a realização de avaliação para atestar
26 de setembro de 1995 — Juizados Especiais Crimi
dependência de drogas, quando se realizará em
nais (art. 48, § l£, da Lei n. 11.343/06). Nos demais
90 (noventa) dias.
casos (crimes tipificados nos arts. 33 a 39), o rito deve
ser o das Seções I e II do Capítulo III (arts. 50 e s.).
Em relação à conduta do art. 28 da Lei n. 11.343/06 5.11.3. Quesitos
(usuário), como não há possibilidade de prisão em Os quesitos mais comuns, baseados no texto de
flagrante (art. 48, § 2^), o exame, se requisitado, lei, continuam sendo os mesmos:
será realizado em sede do Juizado Especial Crimi 1) era o examinado, ao tempo da ação ou omis
nal. Nesse caso, no silêncio da nova legislação, o são, dependente de droga(s)? De qual(is)
prazo, em princípio, seria aquele preconizado pelo droga(s)?
CursoSConcurso
2) em caso de resposta afirmativa ao quesito an à época do fato previsto neste artigo, as condições
terior, a dependência era física ou psíquica? referidas no caput deste artigo, poderá determi
3) era o examinado, ao tempo da ação ou omis nar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento
são, em razão da dependência de droga{s), para tratamento médico adequado.
inteiramente incapaz de entender o caráter Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base
ilícito do fato ou de determinar-se segun
em avaliação que ateste a necessidade de encami
do esse entendimento?
nhamento do agente para tratamento, realizada
4) era o examinado, ao tempo da ação ou omis
por profissional de saúde com competência espe
são, em razão da dependência de droga(s),
cífica na forma da lei, determinará que a tal se pro
parcialmente capaz de entender o caráter
ceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
ilícito do fato ou de determinar-se segun
do esse entendimento?
A grande novidade, entretanto, fica por conta do
5) era o examinado, ao tempo da ação ou
encaminhamento facultativo ao tratamento, mesmo
omissão, em razão de estar sob o efeito de
aos inimputáveis.
droga(s), inteiramente incapaz de enten
der o caráter ilícito do fato ou de determi- Pela sistemática da revogada Lei n. 6.368/76,
nar-se segundo esse entendimento? uma vez reconhecida a dependência e a inimputabi
6) era o examinado, ao tempo da ação ou lidade, o juiz era obrigado a determinar o tratamento
omissão, em razão de estar sob o efeito de em regime de internação ou ambulatorial (arts. 10
droga(s), parcialmente capaz de entender e 29). Ao dependente com capacidade diminuída,
o caráter ilícito do fato ou de determinar- o magistrado impunha a pena e dispensava trata
se segundo esse entendimento?
mento médico em ambulatório interno do sistema
7) necessita o examinado de tratamento? Qual
penitenciário (art, 11).
o indicado?
8) em caso de resposta afirmativa ao quesito Lei n. 6.368/76 (REVOGADA)
anterior, é necessária a internação hospitalar
Art. 29. Quando o juiz absolver o agente, reconhe
do examinado para tratamento? Por quê?
cendo por força de perícia oficial, que ele, em ra
zão de dependência, era, ao tempo da ação ou da
5.12. Tratamento médico e medida omissão, inteiramente incapaz de entender o cará
de segurança ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento, ordenará seja o mesmo
A Lei n. 11.343/06 trouxe algumas inovações submetido a tratamento médico.
importantes relacionadas com o tratamento aplicá
vel aos inimputáveis e semi-imputáveis, esclarecen
Art. 10. O tratamento sob regime de internação
do a dúvida que durante anos permeou a jurispru
hospitalar será obrigatório quando o quadro clí
dência em relação à interpretação do art. 29 da Lei
nico do dependente ou a natureza de suas mani
n. 6.368/76, a respeito da possibilidade ou não de festações psicopatológicas assim o exigirem.
tratamento aos semi-imputáveis.
§ la Quando verificada a desnecessidade de inter
Pela simples leitura do parágrafo único do art. 45 nação, o dependente será submetido a tratamen
(inimputabilidade) e do art. 47 (semi-imputabilida- to em regime extra-hospitalar, com assistência do
de), verifica-se que tanto ao inimputável quanto ao serviço social competente.
imputável é possível o encaminhamento para trata
mento médico adequado. Art. 11. Ao dependente que, em razão da prática de
qualquer infração penal, for imposta pena priva
Lein. 11.343/06
tiva de liberdade ou medida de segurança detentiva
Art. 45.... (inimputabilidade) será dispensado tratamento em ambulatório in
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reco terno do sistema penitenciário onde estiver cum
nhecendo, por força pericial, que este apresentava, prindo a sanção respectiva.
i 136
Medicina Legal II
Note-se que o parágrafo único do a rt 45 diz reduzida ou, por substituição, medida de segurança
que o juiz “poderá determinar, na sentença, o seu (CP, art. 26, parágrafo único, c/c o art. 98).
encaminhamento para tratamento médico adequa Já na revogada Lei n. 6.368/76 (art. 11), ao re
do”. Encaminhar, aqui, tem o sentido de conduzir, conhecer a semirresponsabilidade, o magistrado de
levar, fazer com que, e não o de simplesmente mos via aplicar a pena reduzida, mas decretava, também,
trar um caminho que pode ou não ser seguido. tratamento médico em ambulatório interno do sis
se permitir que um toxicômano severo, que tenha O mesmo sistema foi adotado pela Lei n, 11.343/06,
cometido vários homicídios em razão da dependên porém de forma mais clara, afastando qualquer dú
cia, possa ser absolvido e escolher se deseja o trata vida de interpretação,
mento ou prefere continuar consumindo o fármaco Reconhecendo que o agente, em razão de de
e matando impunemente. pendência ou sob o efeito de droga, proveniente de
Nesse sentido, o magistério de Greco Filho e caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo
Rassi: “O juiz não poderá determinar o tratamento se da ação ou da omissão, a plena capacidade de en
se tratar de absolvição em razão de caso fortuito ou tender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
força maior, hipótese em que não há o que se tra de acordo com esse entendimento, o juiz aplica
tar. Se, porém, a absolvição decorre da dependência rá a redução de um a dois terços na pena corres
que, como já se expôs, é doença mental, a única e pondente (art. 46), Entendendo, porém, que existe
CursaSConcurso
Embriaguez
■■■■
g y j g (DP/SP 03/92 e DP/SP 07/93) Indivíduo usuá-
H J | (DP/SP 04/93) A embriaguez:
rio habitual de determinada droga psicoativa,
a) é produzida exclusivamente pelo álcool
que ao ser privado desta experimenta trans
etílico;
tornos de ordem fisiológica, tem:
b) é definida unicamente pela dosagem de ál
a) tolerância;
cool no sangue;
b) resistência;
c) é caracterizada fundamentalmente pelos
c) dependência; sintomas e sinais clínicos;
d) intoxicação. d) exclui sempre a imputabilidade penal.
CursoSConcurso
b) psicodislépticas; c) as anfetaminas;
c) estimulantes; d) o LSD e a maconha.
d) psicoanalépticas.
como: d) a metanfetamina.
a) psicolépticas;
b) psicoanalépticas;
c) psicodislépticas;
d) psicodistônicas.
c) psicoanaléptica; b) psicoléptica;
d) psicodisléptica. c) psicoanaléptica;
d) psicodisléptica.
Psicodislépticos
(DP/SP 01/98) As drogas psicodislépticas: (DP/SP 01/93) A partir do cacto conhecido
d) hipnógena.
(DP/SP 01/00) Substância extraída de deter tâncias capazes de causar toxicomanias, pode
minada espécie vegetal, ao ser ingerida, pro mos dizer que a morfina, a heroína, a codeína,
mmgem
c) da coca;
H U (DP/SP 02/92 e DP/SP 01/94A) Encontra-se
d) dos barbitúricos.
o delta-9-tetrahidrocanabinol:
a) na coca;
b) nopeyote;
c) no ópio;
d) na maconha.
n n n p ffij
(DP/SP 07/93) O segundo período da into y Q (DP/SP 02/92) “Delirium tremens” é um qua
xicação por álcool etílico, caracterizada pelas dro patológico próprio:
perturbações psicossensoriais profundas, de
a) da psicose endógena;
nomina-se fase:
b) da esquizofrenia;
a) comatosa;
c) dos estados febris agudos;
b) eufórica;
d) do alcoolismo crônico.
c) agitada;
d) depressiva.
j
!
Capítulo
Psicopatologia Forense
nalidade normal e os fatores que nela influem, quer todos os elementos que concorrem para a conforma
sejam de natureza biológica, quer sejam de natureza ção mental de uma pessoa, de modo a comunicar-lhe
mesológica (do meio, ecológica) ou social. fisionomia própria” (Maranhão, 2002, p. 339).
A psiquiatria forense ocupa-se, por sua vez, dos A constituição biopsicológica de um indivíduo é
transtornos anormais da personalidade, as chamadas bastante complexa, nela influenciando inúmeros fa
“doenças mentais”, os retardos mentais, as demên- tores que oscilam desde a própria conformação física
cias, as esquizofrenias e outros transtornos psicóticos até o conjunto de experiências pessoais vivenciadas.
e civil e, consequentemente, responder pelos seus Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença
atos, é necessário que apresente saúde mental e ma mental ou desenvolvimento mental incompleto
inimputáveis
inteiramente incapaz doença mental
de determinar-se de acordo desenvolvimento mental incompleto
com o entendimento desenvolvimento mental retardado
Imputabilidade penal
semi-imputáveis
relativamente incapaz de perturbação da saúde mental
determinar-se de acordo desenvolvimento mental incompleto
com o entendimento desenvolvimento mental retardado
CC ou à maneira de os exercer:
IV — os pródigos.
Sendo assim, e em se tratando de obra destina
Parágrafo único. A capacidade dos índios será re
da a concursos públicos, optamos por apresentar a
gulada por legislação especial.
nomenclatura atual, proposta pela Associação Psi
Note-se que o novo Código Civil (Lei n. 10.406, quiátrica Americana (DSM— IV), associada, quan
Com relação aos absolutamente incapazes, supri Apenas para conhecimento, transcrevemos, a
seguir, as classificações dos transtornos mentais, se
miu as expressões “loucos de todo o gênero”, “surdos-
gundo o CID — 10 e o DSM — IV.
-mudos” e “ausentes, declarados tais por atos do juiz”.
O CID — 10 agrupa os transtornos mentais
No que toca aos relativamente incapazes, redu
e comportamentais em onze categorias distintas,
ziu a maioridade civil para 18 anos e acrescentou
conforme o esquema a seguir:
“os ébrios habituais, viciados em tóxicos e excep
transtornos mentais orgânicos, inclusive
cionais” como passíveis de semirresponsabilidade,
os sintomáticos;
transtornos mentais e comportamentais
4. NOTASOBREANOMENCLATURA devido ao uso de substância psicoativa;
transtornos sexuais e da identidade de tanto, responsável toda pessoa que não apresentar
raça
idade
sexo
biológicos emoção e paixão
agonia
epilepsia
cegueira
dissonias
transtornos do sono
parassonias — sonambulismo
estados demenciais
retardos mentais (oligofrenias)
psiquiátricos esquizofrenias e outros transtornos psicóticos
(neuroses)
transtornos diversos
(psicoses)
civilização
mesológicos
psicologia das multidões
O quadro acima, principalmente no que toca há autores, como Genival França (1998, p. 344), que
aos fatores psicopatológicos e psiquiátricos, é me incluem esse conceito apenas para análise.
ramente exemplificativo, pois há um sem-número
A raça em si não pode ser considerada fator
de transtornos mentais que podem levar ao com
modificador da capacidade civil ou imputablidade
prometimento da capacidade civil ou da imputabi
penal. Já ficou amplamente demonstrado que não
lidade penal e que não são normalmente abordados
pela literatura médico-legal. existem raças inferiores ou superiores, o que há são
Neste trabalho, iremos nos ater aos tópicos características culturais e econômicas que em dado
mais usuais, adaptando, como salientado, a nomen momento histórico podem favorecer esta ou aquela
clatura ultrapassada às classificações modernas. comunidade ou grupamento étnico. Existem traba
lhos, entretanto, como o polêmico The bell curve (A
curva do sino), de Richarâ J. Herrnstein e Charles
6. FATORES BIOLÓGICOS
Murray, que pretendem afirmar a diferente habili
6.1. Raça dade intelectual ou a tendência inata de determina
O fator raça não é incluído no quadro original das raças para a criminalidade.
apresentado por Delton Croce (1998, p. 530), mas Ver considerações do item 1.4.
Curso&Concurso
A lei civil também se preocupou com os valetu- Ao lado, produzem um comprometimento das fun
dinários, prevendo, por exemplo, a aposentadoria ções mentais superiores, diminuindo a capacidade
compulsória aos 70 anos ou restringindo o regime de raciocínio e de autodeterminação.
matrimonial para as pessoas maiores de 60 anos (art. O Código Penal não considera a emoção como
1.641, II, do Código Civil). causa de exclusão da imputabilidade (art. 2 8 ,1), po
O Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 12 de dendo, entretanto, operar como atenuante genérica
outubro de 2003, é também um bom exemplo do (art. 65, III, c) ou causa de diminuição de pena no ho
reconhecimento, pelo ordenamento jurídico, de micídio (art. 121, § I2) e lesão corporal (art. 129, § 42).
que o idoso, em razão de suas peculiaridades físicas, A emoção e a paixão são geradas pelo sistema
deve receber tratamento especial do Estado. límbicoy região cerebral que engloba o tálamo, hipo-
tálamo, hipófise e hipocampo (Croce, 1998, p. 534).
Em alguns casos patológicos, o desequilíbrio do sis
6.3. Sexo
tema HmbicOy quer por excesso de estimulação, quer
O sexo, na lei penal, é apenas considerado como por estimulação insuficiente, pode levar a estados
atenuante no crime de infanticídio. Mesmo assim, emocionais que oscilam desde o sentimentalismo ex
não se pode considerar que a atenuação decorra em tremado até a ira ou o medo. Nessas hipóteses, após
Medicina Legal II
um exame psiquiátrico, poderá ser possível constatar do CPC), ou da necessidade do testamento público
a inimputabilidade ou semi-imputabilidade. (a rt 1.867 do CC).
CPC
6.5. Agonia Art. 405. Podem depor como testemunhas todas as
pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.
A agonia pode ser definida como o conjunto de
fenômenos que aparecem na fase final de doenças § ls São incapazes:
ciclo de sono-vigília. Em particular esses transtor A nova redação ampliou, destarte, o rol de pos
nos envolvem a ativação do sistema nervoso autô sibilidades, para englobar não apenas os portado
nomo, do sistema motor ou de processos cognitivos res de transtornos da linguagem (entre os quais os
durante o sono ou as transições entre sono-vigília. surdos-mudos), como também os que exibam ou
Diferentes parassonias ocorrem em diferentes mo tras perturbações que comprometam e viciem o seu
geral se apresentam com queixas de comportamen cidas por exame pericial para averiguação da possi
to incomum durante o sono, ao invés de queixas bilidade de expressão livre da vontade e capacidade
Não se deve confundir afasia com disartria. tabilidade penal, estudam-se as chamadas doenças
Nesta, o indivíduo apenas não consegue falar em mentais, “termo inadequado, utilizado para com
decorrência de lesões nervosas, mas compreende preender todas as alterações mórbidas da saúde
tudo que é dito, balbucia palavras e pode expressar- mental, qualquer que seja a sua origem” (Vargas,
se por outros meios que não a fala. 1990, p. 195).
Como bem salienta Genival França (1998, p.
7.4. Transtornos obsessivo- 355), a expressão doença mental “não se ajusta bem
-compulsivos — prodigalidade ao que se quer atingir, porque se entende como sinô
nimo de enfermidade da mente. Não sendo a mente
Os transtornos obsessivo-compulsivos são ca
algo material, tecnicamente não admite uma doença.
racterizados essencialmente por ideias obsessivas
A mente não é local do corpo, mas uma atividade,
ou comportamentos compulsivos recorrentes que o
uma função. Ademais, doença mental não pode ser
paciente, embora ciente do absurdo e da inutilidade
igual a doença do cérebro. Enfermidade do cérebro
do que faz, não consegue evitar.
é, a saber, um tumor, uma esclerose múltipla, uma
A prodigalidade é uma forma de transtorno
neurossífilis. E, na hora em que as enfermidades de
compulsivo em que a pessoa, sem qualquer justifica
nominadas mentais demonstram doença, os pacien
tiva, dilapida seu patrimônio de forma desordenada,
chegando a comprometer a própria subsistência. tes começam a ser transferidos da psiquiatria para
outros setores. O retardo mental, para a Pedagogia; a
Os pródigos são tidos como relativamente inca
neurossífilis, para a Neurologia; o delírio das doenças
pazes (art. 4% IV, do CC), podendo praticar certos
infecciosas, para a Medicina Interna”.
atos da vida civil, desde que devidamente assistidos
por um curador. Assim, embora na literatura jurídica ainda seja
Alguns outros transtornos obsessivos, como a de uso corrente, a tendência atual é sua substitui
oniomania (compulsão para comprar tudo que vê) ção pela expressão “transtorno mental” (vide Lei n.
e a cibomania (compulsão para o jogo), se forem ca 10.216, de 6 de abril de 2001).
pazes de comprometer todos os haveres do pacien Dentre os fatores psiquiátricos de interesse mé
te, podem dar margem à interdição civil (Gomes, dico-legal, segundo a classificação do DSM — IV
2003, p. 524). podemos citar:
estados demenciais;
7.5. Transtornos relacionados retardos mentais (oligofrenias);
a substâncias — embriaguez * esquizofrenias e outros transtornos psicó
e toxlcomanias ticos;
transtornos diversos (neuroses).
A embriaguez, no direito penal brasileiro, somen
te poderá levar à inimputabilidade se completa e pro
veniente de caso fortuito ou força maior. Nas demais
8.1. Estados demenciais
hipóteses, ou será agravante ou irrelevante penal. Segundo a Organização Mundial de Saúde, “a
Para o direito civil, os ébrios e toxicômanos são demência é uma síndrome devida a uma doença ce
relativamente incapazes (art. 4% II), podendo, ain rebral, usualmente de natureza crônica ou progres
da, constituir injúria grave de modo a dar margem siva, na qual há comprometimento de numerosas
à separação judicial. funções corticais superiores, tais como a memória,
Os temas já foram analisados no Capítulo IV. o pensamento, a orientação, a compreensão, o cál
culo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem e
o julgamento”. Pode ser observada na doença deAl-
8. FATORES PSIQUIÁTRICOS
zheimer, em doenças cerebrovasculares e em outras
Dentro do capítulo dos fatores psiquiátricos afecções que atingem primária ou secundariamente
como modificadores da capacidade civil e impu o cérebro.
CursoSConcurso
8.2. Retardos mentais (oligofrenlas) de modo independente” (CID — 10, p. 361). Ad
mite quatro graus: leve, moderado, severo e profundo
Retardo mental é a “parada do desenvolvimen
(DSM — IV, p. 40).
to ou desenvolvimento incompleto do funciona
O vocábulo oligofrenia, atualmente em desuso,
mento intelectual, caracterizados essencialmente
mas ainda citado por vários livros de medicina le
por um comprometimento, durante o período de
gal como indicativo do retardo mental de qualquer
desenvolvimento, das faculdades que determinam o
nível global de inteligência, isto é, das funções cog origem, é um termo genérico, que significa “pouco
Quocienfe
idade menta! Descrição
intelectual
Idiotia Inferior a 25 Inferior a 3 anos Os idiotas profundos (retardo menta/ profundo) não
falam, têm vida psíquica inferior aos animais
superiores e não conseguem cuidar de si.
Imbecilidade Eníre 25 e 50 Eníre 3 e 7 anos Conseguem faiar e aprender algumas tarefas,
podendo prover sua própria subsistência. Têm
sexualidade precoce e por vezes praticam certos
atos de pequena delinqüência.
Debilidade mental Entre 50 e 90 Entre 7 e 12 anos Podem prover a própria subsistência, embora não
tenham condição de competir com pessoas normais.
Alguns conseguem atingir até o nível superior, mas
jamais serão profissionais de renome. Quanto à
criminalidade, são facilmente irritáveis, podendo chegar
a cometer delitos de lesão corporal ou homicídio.
Os portadores de retardos mentais severos e pro recidos, que aparece de forma episódica, eventual
fundos ( idiotas e imbecis) são penalmente inimputá ou progressiva, e que apresenta uma variada gama
veis por serem inteiramente incapazes de entender de manifestações associadas à perda da afetividade,
o caráter ilícito de eventual ato criminoso praticado desinteresse pelos fatos normais da vida e associação
ou de determinarem-se de acordo com esse enten extravagante de idéias, como comportamentos con
dimento. Da mesma forma, devem ser tidos como traditórios, chegando a pessoa a ouvir vozes e à de
absolutamente incapazes para os atos da vida civil. terioração progressiva da inteligência.
Os portadores de retardos mentais leves e mo Surge geralmente na adolescência, entre os 15 e os
derados (débeis mentais) podem, com certas limita 25 anos, tendo prognóstico bastante sombrio, já que
ções, exercer atos da vida civil, sendo considerados apenas 30% dos pacientes evoluem favoravelmente.
relativamente incapazes. Na esfera penal, devem ser
São descritas cinco formas clínicas fundamen
rotulados como semi-imputáveis, por não serem in
tais (DSM — IV, p. 268):
teiramente capazes de entender o caráter ilícito dos
atos praticados ou de determinarem-se de acordo indiferenciada (simples)
com esse entendimento. desorganizada (hebefrênica)
Esquizofrenia catatônica
conduzir até a demência. Não costuma apresentar incluindo o que se entende pelos obsoletos insani
outras espécies de manifestações mais severas senão dade e loucura.
o desinteresse geral por tudo e todos e perda gradual Dentre as psicoses, destacam-se os transtornos
da inteligência. Existem sintomas que satisfazem o bipolares (antiga psicose maníaco-depressiva).
diagnóstico de esquizofrenia, mas não preenchem Os transtornos bipolares são caracterizados "por
os critérios gerais para os demais subtipos. dois ou mais episódios nos quais o humor e o ní
Na forma desorganizada ou hebefrênica, além da vel de atividade do sujeito estão profundamente
debilidade do psiquismo, surgem outras manifesta perturbados, sendo que este distúrbio consiste em
ções, como ideias absurdas, alterações de ânimo vio algumas ocasiões de uma elevação do humor e au
lentas que vão desde a apatia ou o sentimentalismo mento da energia e da atividade (hipomania ou ma
até a ira extrema. Frequentemente assumem posições nia) e, em outras, de um rebaixamento do humor e
8.3.8. Personalidade narcisista rotina com um exagero dos perigos ou dos riscos
potenciais em situações banais” (CID — 10, p. 353).
A característica essencial da personalidade nar
cisista consiste na emotividade excessiva e busca de
atenção, que se inicia na idade adulta e está presente 8.3.?2. Personalidade dependente
em vários contextos. (astênica)
Os indivíduos com esse transtorno de per “Transtorno da personalidade caracterizado
sonalidade sentem desconforto quando não são o por: tendência sistemática a deixar a outrem a to
centro das atenções; apresentam comportamento mada de decisões, importantes ou menores; medo
geralmente inadequado, sexualmente provocante de ser abandonado; percepção de si como fraco e
ou sedutor, utilizando constantemente a aparência incompetente; submissão passiva à vontade do ou
física para chamar a atenção sobre si; têm tendência tro (por exemplo, de pessoas mais idosas) e uma di
à dramatização e consideram os relacionamentos ficuldade de fazer face às exigências da vida cotidia
mais íntimos do que realmente são (conceito adap na; falta de energia que se traduz por alteração das
tado do DSM — IV, p. 620). funções intelectuais ou perturbação das emoções;
tendência freqüente a transferir a responsabilidade
8.3.9. Personalidade hisfriônica para outros” (CID — 10, p. 354).
-compulsivo” (CID — 10, p. 353). indivíduos que, embora não apresentem transtornos
da inteligência, registram severas alterações da afeti
vidade, dos instintos, do temperamento e do caráter.
8.3.1L Personalidade ansiosa (esquiva)
Vários são os termos utilizados para indicar a
“Transtorno da personalidade caracterizado personalidade psicopática, por exemplo: “oligofrênicos
por sentimento de tensão e de apreensão, insegu morais” (Bleuler), “degenerados” (Magnan), “estupi
rança e inferioridade. Existe um desejo permanente dez moral” (Baer)y“semiloucos” (Grassei) ou, segun
de ser amado e aceito, hipersensibilidade à crítica e do o conceito de Székely, todo “aquele que apresenta
a rejeição, reticência a se relacionar pessoalmente, uma instabilidade mental patológica, sem perda de
e tendência a evitar certas atividades que saem da suas funções intelectuais” (Croce, 1998, p. 560).
CursoSConcurso
Genival França (1998, p. 358) assevera que na sendo aqueles cuja “principal característica é a im
verdade não são personalidades doentes ou patológi possibilidade de experimentarem sentimentos de
cas, mas sim anormais, cujo traço característico é o afeto, simpatia ou valoração das demais pessoas.
distúrbio da afetividade ou do caráter, com a manu Não conhecem a bondade, a piedade, a vergonha,
tenção da inteligência. a misericórdia e a honra. Desde a infância demons
Os portadores de personalidade psicopática pre tram anormalidades pelas manifestações de cruel
cisam de tratamento especializado e, quando come dade, mitomania, precocidade sexual e delinqüên
tem delitos, devem ser tidos como semi-imputáveis. cia. Seus crimes são desumanos, frios, impulsivos,
Há várias classificações, como as de Kraepelin e bestiais. Não admitem ser fiscalizados. Realizam
Kurt Schneider, atos movidos pelas suas paixões, pelo domínio dos
componentes instintivos de sua personalidade.
Segundo Kraepelin as personalidades psicopá
Praticam o mal por necessidade. Sentem sua falta,
ticas classificam-se em irritáveis, instáveis, instinti
como o faminto o alimento, e só assim se acham
vas, tocadas, mentirosas e fraudadoras antissociais e
equilibrados e serenos, recebendo tranqüilos e eu
disputadoras (Croce, 1998, p. 560).
fóricos a conseqüência dos seus feitos” (atual perso
Para Kurt Schneider, as personalidades psico
nalidade antissocial ou dissociaI).
páticas dividem-se em:
Psicopatas anancásticos ou inseguros de si mes
psicopatas hipertímicos mos — são pessoas inseguras, com complexo de
psicopatas depressivos inferioridade e dominadas por ideias recorrentes
psicopatas sem sentimentos, surgidas sem explicação aparente e que podem levar
amorais ou perversos a intenso sofrimento (atual personalidade obsessivo-
psicopatas anancásticos ou -compulsiva ou anancástica).
inseguros de si mesmos
Psicopatasfanáticos— são dominados por ideias
Classificação das psicopatas fanáticos
filosóficas, religiosas e políticas. Quando assumem a
personalidades psicopatas necessitados de valorização
liderança de algum grupo humano, apresentam ge
psicopáticas ou carentes de afeto
ralmente atitudes extremadas, podendo levar à guer
segundo Kurt Schneider psicopatas lábeis de estado de ânimo
ra ou aos massacres (atual personalidade paranóica).
psicopatas explosivos, irritáveis
ou epileptoides Psicopatas necessitados de valorização ou caren
psicopatas abúlicos ou de tes de afeto — sua principal característica é desejar
instintividade débil parecer mais do que efetivamente são. Normalmen
psicopatas astênicos te tornam-se mentirosos e fanfarrões (atual trans
torno de personalidade narcisista).
Psicopatas hipertímicos — têm grande tendên Psicopatas lábeis de estado de ânimo — têm rea
cia às disputas, escândalos e desajustes familiares. ções desproporcionais, com crises de irritação e de
Seu estado de ânimo oscila entre a tranqüilidade e pressão, sendo perigosos nos momentos de impulso
a fúria extrema e desproporcional (atualpersonali (atual transtorno de personalidade com instabilidade
dade histriônica). emocional).
Psicopatas depressivos — frequentemente che Psicopatas explosivos, irritáveis ou epileptoides
gam ao suicídio e raramente à criminalidade. Seu — são extremamente irritáveis, reagindo violen
estado de ânimo é caracterizado pela depressão tamente aos menores estímulos externos. São dos
constante e pelo pessimismo (atual transtorno de mais perigosos, pois podem chegar ao homicídio,
personalidade esquízoide). às lesões corporais e a crimes passionais. Com certa
Psicopatas sem sentimentos, amorais ou perver frequência não conseguem recordar-se do que fize
sos— Genival França (1998, p. 358) os define como ram quando em estado de exaltação.
Medicina legal II
Síndromes psicopáficas
H. Cleckley Gray e Hutchison MacCord e MacCord
Encanto superficial e boa É emocionaimente imaturo.
inteligência.
Ausência de delírios ou outros sinais
de pensamento ilógico.
Ausência de manifestações
psiconeuróticas.
Inconstância.
Infidelidade e insinceridade.
Falta de remorso ou vergonha. É incapaz de sentir culpa. Sente escassos sentimentos de culpa.
Falta-lhe senso morai.
Conduta antissocial Falta-lhe controle sobre os impulsos. É altamente impulsivo.
inadequadamente motivada. As ações dos psicopatas carecem de
planejamento.
Faíta de ponderação e fracasso Não aprende pela experiência. Movido por desejos incontroiados.
em aprender peia experiência.
Egocentrismo patológico e É egocêntrico. Desviada capacidade de amar.
incapacidade de amar.
Pobreza geral nas relações É incapaz de estabelecer relações É associai.
afetivas. significativas.
Falta específica de esclarecimento A punição não ihe altera o
interior f/ns/gM). comportamento.
Irresponsabilidade nas relações Falta-lhe senso de responsabilidade.
interpessoais.
Tendência a conduta fantástica É agressivo.
com ou sem uso de áícooi.
Raramente suicidas.
Vida sexuai impessoal, trivial
e pobremente integrada.
incapacidade de seguir um plano É crônica ou periodicamente Cada momento é uma fração de
de vida. antissocial. tempo desvinculada das demais.
É claro que qualquer dos dados, considerado lisados em conjunto e persistentes é que podem ca-
isoladamente e sem continuidade no tempo, não racterizar uma eventual síndrome psicopática (Ma-
pode levar a um diagnóstico. Apenas quando ana- ranhão, 2003, p. 138).
CursoSConeurso
Neurose Psicose
Comportamento geral Leve grau de descompensação da Elevado grau de descompensação da
personalidade, não sendo atingidos o personalidade; o contato com a realidade
contato com a realidade e a situação é muito atingido. O psicótico fica
social. impossibilitado de atuação social.
Natureza dos sintomas Grande amplitude de sintomas psicológicos Grande amplitude de sintomas psicológicos,
e somáticos. Não há, porém, alucinações com delírios, alucinações, embotamento
ou outros desvios extremos no pensamento, emocional e outros comportamentos
sentimento ou ação. anormais.
162
Medicina Legai ii
Essas tendências pessoais podem ser reconhe a) pícnico, caracterizado por um corpo de
cidas desde a infância e não se confundem com o contornos arredondados, com amplas ca
caráter, que é um conceito mais amplo. vidades corporais, ao qual se associa uma
tendência à personalidade ciclotímica, al
A maior parte dos autores considera o tempera
ternando estados de euforia e hiperativi-
mento como fator irrelevante em termos de modifi
dade com outros de depressão, tristeza e
cação da imputabilidade penal e da capacidade civil.
inatividade;
Genival França (1998, p. 347), ao contrário, entende
b) leptossômico, portador de um corpo del
que o temperamento deve ser considerado, pois não gado ao qual se associa uma tendência à
é possível colocar em uma mesma balança delitos co personalidade esquizotímica, ou seja, que
metidos por pessoas com temperamentos impulsivos, tende à esquizofrenia, que mostra reações
que agem de inopino, e os praticados por pessoas com desproporcionais às situações vividas;
temperamentos tranqüilos, que perpetram o crime de c) atlético, possuidor de um corpo bem de
modo estudado, planejado, com precisão e frieza. senvolvido ao qual corresponde tendência
a uma personalidade viscosa, maçante; e
As classificações mais comuns, em medicina
d) dispíástico, caracterizado por um corpo
legal, relacionadas com o temperamento são as de
que não se enquadra em nenhum dos três
Ernest Kretschmer e de W. Shelâon, que procuram
tipos anteriores e que demonstraria tam
estabelecer uma relação entre a constituição física
bém uma tendência à personalidade ciclo
do indivíduo e a sua personalidade. tímica (a maioria dos autores ignora esse
O primeiro imaginou quatro tipos básicos de quarto tipo, incluindo suas características
indivíduos: no pícnico).
Classificação de Krefscfimer
Tipo Variáveis Tipo
morfológico Sensibilidade R/fmo psíquico Psicomotiiidade temperamental
Sheldon estudou cerca de4.000 estudantes do sexo Os endomorfos e viscerotônicos seriam indivíduos
masculino, e depois estendeu suas observações para o com excesso de peso e com tendência à redução das
sexo feminino, concluindo que, em 80% dos casos, há tensões e interesse geral por conforto, glutonaria,
uma relação entre o somatotipo e o temperamento. cordialidade e sociabilidade.
Sheldon estabeleceu o seguinte quadro: Os mesomorfos e somatotônicos seriam pessoas
de compleição física normal e personalidade em
Tipologia de Sheldon
que predominam a atividade muscular e a necessi
Constituição Temperamento
dade da afirmação pelo uso do corpo.
Endomorfismo Viscerotonia
Finalmente os ectomorfos e cerebrotônicos se
Mesomorfismo Somatotonia
riam aqueles de frágil compleição física e cuja per
Ecíomorfismo Cerebrotonía
{Quadro baseado em similar proposto por Maranhão, sonalidade é marcada pela introversão e predomí
2002, p. 344.) nio da atividade mental sobre a física.
Medicina Legal II
Retardos mentais
(DP/SP 01/94B) “Idiota” é o débü mental com QI:
a) abaixo de 20;
b) entre 20 e 40
(DP/RJ— 2000) Quando uma pessoa comete
um crime em função de doença mental, tem c) entre 40 e 60
b) demências; b) neuróticos;
c) alienações; c) esquizofrênicos;
Temperamento
I Q (DP/SP 01/94B) Segundo a classificação bio-
lógicq de Kretschmeryo indivíduo pícnico é:
EU (DP/SP 01/02) Criminoso portador de per a) baixo, magro e introvertido;
sonalidade patológica, caracterizada por po b) baixo, gordo e introvertido;
breza nas reações afetivas, conduta antisso- c) baixo, gordo e extrovertido;
cial inadequadamente motivada, carência de d) alto, magro e extrovertido.
valor, ausência de delírios, falta de remorso
e senso moral, incapacidade de controlar os
impulsos e aprender pela experiência e puni
ção denomina-se:
a) delinqüente essencial;
b) psicopata;
CursoSConcurso
Questões diversas
20 (DP/SP 03/92) A dosagem de fosfatase ácida na
(DP/SP 01/89) A positividade da reação de identificação de esperma constitui uma prova de:
Adler significa que: a) orientação;
a) o material examinado pode ser sangue; b) probabilidade;
sangue;
b) certeza de que o material examinado é
sangue;
c) orientação de que o material examinado é
esperma;
(DP/SP 01/90) Cristais de Teichmann se for
d) certeza de que o material examinado é es
mam a partir do:
perma.
a) esperma;
b) colostro;
c) sangue;
d) mecônio.
(DP/SP 03/93) Uma prova cristalográfica fei (DP/SP 05/93) A prova de Teichmann é con
ta em material encontrado em local de crime siderada como prova de:
revelou, após as reações características, os a) suspeita;
cristais de Teichmann. Tal prova é positiva b) orientação;
para diagnóstico de: c) individualização;
a) saliva; d) certeza.
b) esperma;
c) sangue;
d) urina.
■■■
Barbério. Ora, partiu-se da suposição de que
| ^ j| (DP/SP 01/95) A prova de Verderau serve
a mancha era de:
para determinar:
a) sangue;
a) se o recém-nascido nasceu com vida;
b) saliva;
b) se a morte deu-se por intoxicação por ór-
c) mecònio; gano-fosforado;
d) esperma. c) se o disparo de arma de fogo foi à curta ou
longa distância;
d) se o ferimento foi post-mortem.
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Respostas
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Medicina Legal ii