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C u r s o

C o n c ü r s o
Coordenação Edilson Mougenot Bonfim

EDUARDO ROBERTO ALCÂNTARA DEL-CAMPO

MEDICINA LEGAL

2009

m Editora
P P Saraiva
Editara iSBN 978-85-02-05943-6 obra completa
ISBN 978-85-02-08132-1 volume 21
São.Paulo:;-r:á^
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: Av. Francisco Junqueiro, 1255—Ceníro '■’i Data de fechamento cia edição: 1-7-2009.
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k Marquês de São Vicente; 1697 - Barra Funda A violação dos direitos autorais é crime estabelecido no Lei n. 9.610/98 e
Fone: PA8X (11) 3613-3000 - Poulo . . punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Ao saudoso Mestre e amigo
José Lopes Zarzuela, sem cujos
ensinamentos esta obra não
teria sido possível.

A minha esposa, Luciana, e meus filhos,


Vinicius, Gabriéla e Victoria,
porque iluminaram minha existência.
Abreviaturas

a.C. — antes de Cristo


ADN — ácido desoxirribonucleico
a rt — artigo
atm. — atmosfera
BÍC — Boletim de Identificação Criminal
C — centígrado
Gap. — capítulo

CAT — Comunicação de Acidente do Trabalho


CBC — Companhia Brasileira de Cartuchos
c/c — combinado com
CC — Código Civil
CFM — Conselho Federal de Medicina
CID — Código Internacional de Doenças
CLT — Consolidação das Leis do Trabalho
CP — Código Penal
CPC — Código de Processo Civil
CPM — Código Penal Militar
CPP — Código de Processo Penal
CPPM — Código de Processo Penal Militar
CREMEC — Conselho Regional dé Medicina do Ceará
CTB — Código de Trânsito Brasileiro
dB — decibel
d.C. — depois de Cristo
DGP — Delegacia Geral de Polícia
DIRD — Departamento de Identificação e Registros Diversos
DNA — âeoxyribonucleic acid
DSM — Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais
ECA — Estatuto da Criança e do Adolescente
CursoSConciarso

ECD — exame de corpo de delito


g — grama

HLA — human leucocyte antigen

IC — Instituto de Criminalística

IIRGD — Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt


IML ■
— Instituto Médico Legal

JTACrimSP — Jurisprudência do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo


kg — quilograma
kgf — quilograma-força

km — quilômetro
km/h — quilômetros por hora

lb. — libra

LCP — Lei das Contravenções Penais


LEP — Lei de Execução Penal
m — metro

mm — milímetro
m/s — metros por segundo
n. — número

OMS — Organização Mundial de Saúde


p. ex. — por exemplo

s. — seguintes

SIDA — Síndrome da Imunodeficiência Adquirida


SNC — sistema nervoso central
STF — Supremo Tribunal Federal
Súm. — súmula

SVO — Serviço de Verificação de Óbitos


Nota Explicativa

A fim de melhor atender aos anseios de nossos leitores, o título Medicina Legal passa, a partir desta edi­
ção, a ser apresentado em dois volumes. A nova divisão permitiu o aprofundamento de algumas matérias,
além da inclusão de novos assuntos e de mais de quinhentas questões aplicadas em concursos recentes.
O rol de matérias foi dividido da seguinte forma:

a Volume 20 (6a edição); noções essenciais de medicina legal, estudo das regiões corpóreas, antropo­
logia forense e traumatologia forense.
■ Volume 21 ( Ia edição): balística forense, sexologia forense, tanatologia, toxicoiogia forense e psicopa-
tologia forense.

Nosso objetivo é sempre aprimorar a Coleção Curso & Concurso. As considerações dos leitores são uma
constante fonte de renovação de nossas obras, por isso nos colocamos à sua disposição para sugestões e co­
mentários no seguinte endereço eletrônico: saraivajur@editorasaraiva.com.br.

A Editora
A fim de melhor atender aos anseios dos estudantes e candidatos a concursos, temos a satisfação de
oferecer a nova edição, inteiramente reformulada, da coleção Curso & Concurso, que apresenta as seguintes
mudanças:
1. Novo formato — semelhante ao de caderno universitário — , que torna a leitura e o transporte da
obra mais fáceis; ______ _
2. Numeração dos volumes para facilitar a localização dos temas;
3. Novo projeto gráfico, com uso de cores para facilitar a identificação dos pontos mais importantes de
cada matéria;
4. Proposição de questões de concurso no final de cada capítulo, com o intuito de permitir ao leitor
revisar as matérias e fixar os conceitos abordados, privilegiando o seu aprendizado. As respostas
estão no final do livro.

Convém frisar que nem todos os capítulos contêm questões, uma vez que os autores procuraram abor-
dar os temas mais solicitados em concursos públicos e no exame da Ordem.
As mudanças objetivam aprimorar a coleção, sendo as considerações do leitor uma constante fonte de
renovação da obra, por isso nos colocamos à inteira disposição para sugestões e comentários no seguinte
endereço eletrônico: saraivajur@editorasaraiva.com.br.
Agradecemos a todos aqueles que nos prestigiam por meio da leitura das obras da coleção Curso &
Concurso.

A Editora
Indice

Abreviaturas............................................................................................................................................................... VII
Nota Explicativa.........................................................*............................................................................................. IX
Nota do Editor....................................................................................... ................................................................... XI

Capítulo I — Balística Forense........................................................................................... 1


1. Conceito................................................................................................................ .......................................... 1
2. Objeto de estudo............................................................................................................................................. 1
3. As armas de fogo.............................................................................................................................................. 2
4. Classificação das armas de fogo.......................................................................... ........................................ 3
4.1. Classificação das armas quanto à alma do cano.............................................................................. 3
4.1.1. Finalidade das raias.......................................... .......................................................................... 4
4.2. Classificação das armas quanto ao sistema de carregamento....................................................... 5
4.3. Classificação das armas quanto ao sistema de inflamação........................................................... 5
4.4. Classificação das armas quanto ao funcionamento............................... ........................................ 6
4.4.1. Sistemas de alimentação das armas longas de repetição não automáticas.................... 6
4.5. Classificação das armas quanto à mobilidade................................................................................. 7
5. Algumas considerações sobre o revólver.;........................................... ..................................................... 7
5.1. Força de tração do gatilho.................................................................................................................... 8
5.2. Mecanismos de segurança.................................................................................................................... 8
6. Algumas considerações sobre as pistolas semiautomáticas.......................................................................... 8
6.1. Mecanismos de segurança.................................................................................................................... 10
7. Algumas considerações sobre as armas longas......................................................................................... 10
7.1. Espingarda e escopeta............................................................................................ ............................... 10
7.2. Carabina................................................................................................................................................... 10
7.3. Rifle............................................................................................................................................................ 10
7.4. Fuzil.......................................................................................................................................................... 11
7.5. Mosquetão................................................................................................................................................ 11
8. Calibre das armas de fogo...................................................................................................... ....................... 11
8.1. Calibre das armas de alma raiada, de seus cartuchos de munição e projéteis.......................... 11
8.2. Calibre das armas de alma lisa, sua munição e projéteis...................................................................... 12
CtirsoSConcurso

9. Munição........... ................................................................................................................ .................................


9.1. Partes do cartucho de munição.......................................................................................................... 13
9.2. Estojo...................... .................................................................................................................................. 14
9.3. Espoleta.................................................................................................................................................... 14
9.4. Pólvora..................................................................................................................................................... 15
9.5. Projéteis.................................................................................................................................................... 15
9.6. Projéteis especiais................................................................................................................................... 17
9.7. Alguns cartuchos especiais................................................................................................................... 18
9.8. Projéteis múltiplos de arma de fogo ( balins) ................................................................................... 18
9.9. Embuchamento....................................................................................................................................... 19
9.10. Impropriedades terminológicas.......................................................................................................... 19
10. Trajetória.......................................................................................................................................................... 20
11. Alcance máximo, com precisão, útil e stoppingpower............................................................................ 21
11.1. “Balas perdidas”...................................................................................................................................... 22
12. Ferimentos produzidos por projéteis de arma defogo................................ .................. ........................ 23
12.1. Ferimentos de entrada........................................................................................................................... 23
12.2. Ferimentos de saída............................................................................................................................... 23
12.3. Ferimentos produzidos por projéteis múltiplos (balins)...................................................................... 23
12.4. Ferimentos produzidos por projéteis unitários................................ .............................................. 24
12l5. Orlas ou halos de contusão, enxugo e escoriação........................................................................... 25
12.6. Zonas de chamuscamento, esfomaçamento etatuagem................................................................ 26
12.7. Disparos encostados................................................................................................................... ........... 28
12.8. Disparos em ossos................................................................................................................................... 29
12.9. Determinação da distância de disparo............................................................................................... 29
13. Identificação das armas — microscópio comparador balístico............................................................ 29
14. Residuografia.................................................................................................................................................... 31
14.1. Principais reagentes................................................................................................................................ 32
14.2. Técnicas de coleta de material............................................................................................................. 32
14.3. Prova da parafina........................................................................................... ........................................ 33
14.4. Considerações finais sobre a residuografia........................................................................................ 33
Questões..................................................................................................................................................................... 35

Capítulo 89— Sexologia Forense........................................................................................ 44


1. Conceito de sexo............................................................................................................................................... 44
2. Sexo genético..................................................................................................................................................... 44
2.1. Síndrome de Turner............................................................................................................................... 45
2.2. Síndrome de Klinefelter........................................................................................................................ 46
2.3. Polissomia dos cromossomos sexuais................................................................................................ 46
2.3.1. Aneuploidias autossòmicas....................................................................................................... 46

XIV
Medicina Legai II

2.4. Síndrome de Down............................................................................................................................... 46


2.5. Síndrome de Edwards........................................................................................................................... 47
2.6. Síndrome de Patau.............................................................................................................................. 47
3. Sexo endócrino................................................................................................................................................ 47
4. Sexo morfológico............................................................................................................................................ . 48
5. Sexo psicológico.............................................................................................................................................. 48
6. Sexo jurídico................................................................................................................... ................................ 48
7. Transtornos do instintosexual...................................................................................................................... 48
7.1. Disfunções sexuais................................................................................................................................ 49
7.2. Transtornos da identidade de gênero e homossexualismo...................................„..................... 50
7.3. Parafilias.................................................................................................................................................. 50
7.3.1. Exibicionismo ou apodisofilia................................................................................................ 51
7.3.2. Fetichismo e fetichismo transvéstico..................................................................................... 51
7.3.3. Frotteurismo............................................................................................. .......... ........................ 51
7.3.4. Pedofilia, adolescentilismo e hebefilia................................................................................... 51
7.3.5. Masoquismo............................................................................................................................... 51
7.3.6. Sadismo........................................................................................................................................ 51
7.3.7. Sadomasoquismo ou passiofilia.............................................................................................. 52
7.3.8. VoyeUrismo ou mixoscopia.................................................................................. ................... 52
7.3.9. Parafilias sem outra especificação........................ .................................................................. 52
7.3.9.1. Escatologia telefônica................................................................................................ 52
7.3.9.2. Necrofilia e pedonecrofilia..................... ................................................................ 52
7.3.9.3. Clismafilia.................................................................................................................... 52
7.3.9.4. Parcialismo.................................................................................................................. 52
7.3.9.5. Bestialismo, zooíagnia, zoofilismo, zoofilia e zooerastia.................................. 52
7.3.9.6. Coprofilia..................................................................................................................... 52
7.3.9.7. Urofilia, urolagnia e ondinismo............................................................................. 52
7.3.10. Outras parafilias não especificadas pelo DSM — IV, apontadas na doutrina
médico-legal, e novas terminologias................................................................................... 52
7.4. Adequação e inadequação sexual....................................................................................................... 57
8. Gravidez, parto e puerpério.......................................................................................................................... 58
8.1. Desenvolvimento sexual...................................................................................................................... 58
8.2. Gravidez.................................................................................................................................................. 59
8.3. Diagnóstico da gravidez...................................................................................................................... 59
8.4. Nascimento... ......................................................................................................................................... 60
8.5. Puerpério e estado puerperal............................................................................................................ . 60
9. Perícias relacionadas........................................................................................................................... .......... 61
9.1. Sedução.................................................................................................................................................. 61
9.2. Estupro e posse sexual mediante fraude....................................................................................... . 61
9.3. Atentado violento ao pudor e atentado ao pudor mediante fraude.......................................... 62
CursoSConcwso

9.4. Aborto................................................................................................................................................... — ^2
9.5. Infanticídio.............................................................................................................................................. 64
10. As impotências................................................................................................................................................. 65
11. Investigação de paternidade.......................................................................................................................... 66
11.1. Provas mendelianas não sanguíneas......................................................... ...................................... 67
11.2. Provas mendelianas sanguíneas....................................................................................................... 67
11.3. Sistema ABO......................... ................................................................................................................ 68
11.4. Fatores M N ........................................................................................................................................... 68
11.5. Fatores Rh e rh ......................................................... ............................................................................ 69
11.6. Outros fatores....................................................................................................................................... 69
11.7. Sistema HLA.......................................................................................................................................... 69
11.8. DNA.................................................................................. ......................................... ........................... 70
Questões..................................................................................................................................................................... 71

Capítulo III — Tanatologia................................................................................................... 85


1. Conceito de morte............................................................................................................................................ 85
2. Tanatognose e cronotanatognose......... .................................................................... .................................. 86
2.1. Fenômenos cadavéricos....................... ........ ........................................................................................ 86
2.2. Fenômenos cadavéricos abióticos imediatos................................................................................... 87
2.3. Fenômenos cadavéricos abióticos consecutivos.............................................................................. 87
2.3.1. Resfriamento do corpo — algidez cadavérica.......................................................................... 87
2.3.2. Rigidez cadavérica.....*............................................................................................................... 87
2.3.3. Livores cadavéricos e hipóstases.............................................................................................. 88
2.3.4. Desidratação.................................... ........................................................................................... 89
2.4. Fenômenos cadavéricos transformativos.......................................................................................... 89
2.4.1. Autólise (transformativo destrutivo)...................... .............................................................. 89
2.4.2. Putrefação (transformativo destrutivo)................................................................................ 89
2.4.3. Maceração (transformativo destrutivo)................................................................................ 91
2.4.4. Saponificação ou adipocera (transformativo conservador).............................................. 91
2.4.5. Mumificação (transformativo conservador)....................... ................................................. 91
2.4.6. Calcificação (transformativo conservador).................................................. ........................ 92
2.4.7. Corificação (transformativo conservador)................................... ....................................... 92
3. Fauna cadavérica............................................................................................................................................. 92
3.1. Fauna ao ar livre..................................................................................................................................... 92
3.2. Fauna dos túmulos.................................... ........................................................ ........ .......................... 93
3.3. Fauna aquática........................................................................................................................................ 94
4. Primoriência e comoriência.......................................................................................................................... 94
5. Diagnóstico jurídico da morte — aspectos gerais......... .......................................................................... 94
5.1. Morte suspeita súbita e morte por inibição (reflexo de Hering)............................................... . 95
5.2. Morte suspeita de violência oculta..................................................................................................... 96

XV!
Medicina Legal II

5.3. Morte suspeita de violência indefinida.............................................................................................. 96


5.4. Morte suspeita de violência definida................................................................................................. 96
5.5. Morte de infortúnio do trabalho........................................................................................................ 96
6. O exame médico-legal..................................................................................................................................... 96
6.1. Necropsia (autópsia)............................................................................................................................. 96
6.1.1. Técnica......................................................................................................................................... 97
6.1.2. Necropsias brancas.................................................................................................................... 97
Questões..................................................................................................................................................................... 99

Capítulo IV — Toxicologia Forense................................................................................... 112


1. Características gerais....................................................................................................................................... 112
2. Farmacodependência...................................................................................................................................... 112
3. Classificação..................... ........ ........................................................................................................................ 113
4. Principais drogas............................................................................................................................................ 115
4.1. Barbitúricos.............................................................................................................................................. 115
4.2. Benzodiazepínicos................................................................................................................................. 115
4.3. Anfetaminas.................................. ......... ................................................................................................ 116
4.4. Ecstasy (MDMA)..................................................................................................................................... 116
4.5. Special K (Ketamina).......................................................................... .................................................. 116
4.6. GBH ou «Líquido r ................................................................................................. ........................... 117
4.7. Ópio.......................................................................................................................................................... 117
4.8. Morfina........................................................................................................................................... ....... . 117
4.9. Heroína.................................................................................................................................................... 117
4.10. Cocaína................................................................................................................................................... 118
4.11. Maconha................................................................................................................................................. 118
4.12. Mescalina................................................................................................................................................ 118
4.13. LSD-25.................................................................................................................................................... 118
4.14. Esteroides ou anabolizantes............................................................................................................... 119
4.15. Inalantes........................................................................................................ ........................................ 119
4.16. Tabaco.................................................................................................................................................... 120
4.17. Cafeína.................................................................................. .................................. ........ ......... ............ 120
4.18. Poppers.................................................................................................... .............................. ................ 120
5. Alcoolismo........................................................................................................................................................ 120
5.1. O metabolismo do álcool..................................................................................................................... 121
5.2. A equação de Widmark......................................................................................................................... 123
5.3. As bebidas alcóolicas............................................................................................................................. 124
5.4. Os novos limites do Código de Trânsito................................................................ .......................... 125
5.5. O etilômetro (bafômetro)................................................... ................................................................ 126
5.5.1. A Resolução n. 206/06 do CONTRAN.................................................................................. 127
5.5.2. Presunção de culpa.................................................................................................................... 127

XVI!
4íi
CursoSConcurs© l
l;•
5.6. Alcoolismo agudo — embriaguez normal.............................................................................*......... 129 L
:
5.7. Alcoolismo agudo — embriaguez patológica...................................................................... ........... 130

5.8. Alcoolismo crônico................................................................................................................. ............... 130

5.9. Psicoses alcoólicas com sintomas psiquiátricos............................................................................... 131


5.9.1. Delírio alcoólico....................................................................... ................................ .............. 131 i

5.9.2. Depressão alcoólica aguda....................................................................................................... 131 i


)■
5.9.3. Alucinose auditiva aguda.......................................................................................................... 131 ?■:■

5.9.4. Paranóia alcoólica — delírio de ciúmes.................. ............................................................. 131 j:

5.9.5. Dipsomania.................................................................................................................................. 131 f

5.10. Psicoses alcoólicas com sintomas psiquiátricos e neurológicos..................................................... 132


5.10.1. Psicose polineurítica de Korsakoff....................................................................................... 132
5.10.2. Encefalopatia de Wernicke.................................................................................................... 132
5.10.3. Encefalopatia porto-cava................................................................................ ....................... 132
5.10.4. Síndrome de Marchiafava........................ .......... .................................................................. 132
5.10.5. Epilepsia alcoólica..................................................... ............................................................. 132
5.10.6. Demência alcoólica.................................................................................................................. 133
5.11. Exame de avaliação de dependência de drogas.............................................................................. 133
5.11.1. Procedimento para realização do exame.......................................................................... 135
5.11.2. Prazo para realização da perícia.......................................................................................... 135
5.11.3. Quesitos............................................................................................................................ 135
5.12. Tratamento médico e medida de segurança................................................................................... 136
5.12.1. Inimputabilidade.................................................................................................................... 137
5.12.2. Espécie de tratamento a ser aplicado................................................................................. 137
5.12.3. Semi-imputabilidade........................... .................................................................................. 137
5.13. Tratamento médico no ECA.......................................................................................................... 138
138

Capítulo V — Psicopatología Forense ............................................................................................. 147


1. Psiquiatria e psicologia forense............................................................................................. ................. 147 ■
';V

2. Normalidade e anormalidade........................................... ........................................................................ 147


3. Capacidade civil e criminal............................................................................................................................. 148 Í
4. Nota sobre a nomenclatura e classificação dos transtornos mentais................................................. 149
V.
5. Limitadores e modificadores da capacidade civil e imputabilidade penal................................ 150 '
6. Fatores biológicos........................................................................................................ .................................... 151
6.1. Raça.......................................................................... ................................................................................. 151
6.2. Idade........................................................................................................................................................... 152
6.3. Sexo............................................................................................................................................................ 152
6.4. Emoção e paixão...................................................................................................................................... 152
6.5. Agonia....................................................................................................................................................... 153

XVIII
Medicina Legal II

6.6. Epilepsia.................................................................................................................................................. 153


6.7. Cegueira................................................................................................................................................. 153
7. Fatores psicopatológicos............................................................................................... ................................ 153

7.1. Transtornos do sono............................................................................................................................ 153


7.2. Transtorno misto da linguagem receptivo/expressiva— surdimutismo...................................... 154
7.3. Transtornos da linguagem expressiva — afasia.......... ................................................................... 154
7.4. Transtornos obsessivo-compulsivos— prodigalidade...................................................................... 155
7.5. Transtornos relacionados a substâncias — embriaguez e toxicomanias..................................... 155
8. Fatores psiquiátricos................................................................................................................................ ....... 155
8.1. Estados demenciais............................................................................................................................... 155
8.2. Retardos mentais (oligofrenias).......................................................................................................... 156
8.3. Esquizofrenias e outros transtornos psicóticos....................................................... ....................... 156
8.3.1. Psicoses — transtornos bipolares........................................................................................... 157
8.3.2. Transtornos da personalidade (personalidades psicopáticas).......................................... 157
8.3.3. Personalidade paranóica ou paranoide................................................................................. 158
8.3.4. Personalidade esquizoide......................................................................................................... 158
8.3.5. Personalidade esquizotípica..................................................................................................... 158
8.3.6. Personalidade anti-social ou dissociai (sociopatas).......................................................... 158
8.3.7. Transtorno de personalidade com instabilidade emocional
(borderline e impulsivo) ........................................................................................................... 158
8.3.8. Personalidade narcisista............................................................................................................ 159
8.3.9. Personalidade histriônica......................................................................................................... 159
8.3.10. Personalidade obsessivo-compulsiva (anancástica)....................................................... 159
8.3.11. Personalidade ansiosa (esquiva)........................................................................................... 159
8.3.12. Personalidade dependente (astênica)................................................................................. 159
8.3.13. Personalidades psicopáticas................................... .............................................................. 159
8.3.14. Síndromes psicopáticas........................................................................................................... 161
8.4. Transtornos diversos — neuroses..................................................................................................... 162
9. Fatores mesológicos........................................................................................................................................ 163
9.1. Civilização — silvícolas........................................................................................................................ 163
9.2. Psicologia das multidões...................................................................................................................... 163
10. Fatores legais — reincidência penal............................................................................................................. 163
11. Temperamento................................................................................................................................................. 163
Questões..................................................................................................................................................................... 165

Bibliografia.................................................................................................................................................................. 173
Respostas.................................................................................................................................................................... 177
C a p í t u lo

Balística Forense

a diferença entre perfurações produzidas por


1. CONCEITO
projéteis e por outros instrumentos;
Balística forense é a disciplina que estuda basi- os orifícios de entrada e saída dos projéteis
camente as armas de fogo, as munições, os fenôme­ em variados materiais, procurando estabe­
lecer padrões de diferenciação;
nos e os efeitos dos disparos dessas armas, a fim de
a resistência dos diferentes materiais à pe­
esclarecer questões de interesse judicial.
netração e as deformações produzidas nos
Eraldo Rabello conceitua a disciplina como “a
projéteis;
parte do conhecimento criminalístico e médico-le-
a trajetória descrita pelos diferentes tipos
gal que tem por objeto especial o estudo das armas de projéteis, bem como seus alcances e de-
de fogo, da munição e dos fenômenos e efeitos pró­ terminação das distâncias de disparo;
prios dos tiros destas armas, no que tiverem de útil exames relacionados com a recenticidade
ao esclarecimento e à prova de questões de fato, no ou não do uso de uma arma de fogo;
interesse da justiça tanto penal como civiT (Balísti­ número de disparos efetuados por deter­
ca forense, 1995, p. 19). minada arma e sua ordem cronológica;
* a diferenciação entre disparo normal e

2. OBJETO DE ESTUDO
acidental; e
a identificação da autoria dos disparos, pe­
A Balística Forense ocupa-se em estudar, entre la pesquisa de vestígios deixados no ati­
outros, os seguintes temas: rador pelo uso de arma de fogo (residuo­
grafia metálica).
as armas de fogo em geral, suas caracterís­
ticas, peculiaridades e sistemas de funcio­
A listagem não é exaustiva, procurando apenas
namento;
indicar os principais campos de interesse da Balísti­
a identificação direta das armas de fogo, de
maneira genérica (classificação) e individual; ca Forense e demonstrar como é vasto seu objeto.

* a identificação indireta das armas de fogo, Nesta obra, não nos ocuparemos de todas as ma­
pelo estudo das marcas por elas deixadas térias, mas procuraremos fornecer apenas uma visão
em suas munições (projéteis e estojos); geral do tema para que se possa compreender os
os vestígios deixados pelos diferentes tipos de princípios gerais do funcionamento das armas de
projéteis em diferentes alvos, estabelecendo fogo e os efeitos decorrentes de seus disparos.
CurstôConcurso

3. AS ARMAS DE FOGO A principal característica das armas de fogo é


a de aproveitar a grande quantidade de gases oriun­
Armas de fogo são engenhos mecânicos destina­ dos da reação química de combustão do propelente
dos a lançar projéteis no espaço pela ação da força ex­ (pólvora) para obtenção de energia mecânica, con­
pansiva dos gases oriundos da combustão da pólvora. sistente no arremesso do projétil.

Qualquer que seja o tipo de arma considerada, ela terá sempre algumas peças que entram invariavelmente
em sua composição:

Partes comuns a todas as armas de fogo

É a peça que imprime forma à arma. Serve de suporte e alojamento para as demais
Armação peças. É o seu corpo. Atualmente a armação dos revólveres é forjada em aço carbono
ou aço inoxidável e a das pistolas em alumínio, laminado ou forjado.

Tubo inteiriço de aço, do quai dependem as propriedades balísticas da arma. Tem por
Cano finalidades: receber o cartucho ou o projétil; resistir à pressão dos gases em expansão;
imprimir rotação (nas armas de alma raiada) e direção ao projétil.

São peças destinadas a orientar a pontaria do atirador, permitindo a precisão do tiro. Os


dispositivos básicos são a massa de mira ou entaíhe de mira, que se situa na parte anterior
Dispositivos de pontaria
do cano, próximo à “boca", e a alça de mira ou luneta especial, colocada na parte
posterior do cano.

0 percussor, também chamado de pino ou agulha, é uma peça de aço, pontiaguda,


Percussor, pino ou agulha destinada a percutir a base do cartucho de munição para produzir a explosão do iniciador
e deflagrar o disparo.

0 gatilho é a peça que, pressionada pelo atirador, aciona o mecanismo da arma no


Gatilho
sentido de produzir o disparo.

0 extrator tem por função extrair ou retirar o estojo após o disparo. A extração pode ser
Extrator manua/, como ocorre nos revólveres, ou automática, como nas pistolas semiautomáticas
e metralhadoras.

É uma peça fixa existente apenas nas armas semiautomáticas (pistolas) e automáticas
Ejetor (metralhadoras), que funciona com o extrator e tem por escopo lançar o estojo para fora
da arma após o disparo.

0 depósito de munição tem por função receber os cartuchos de munição que constituem
a carga da arma considerada. Nas pistolas recebem o nome de pente ou carregador
Depósito de munição e comportam entre 6 e 20 cartuchos. Nos revólveres correspondem às câmaras do
tambor, em número que oscila entre 4 e 10. Nas garruchas integram os canos, em número
de 1 a 4.

2
Medicina Legai II

4. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS


DE FOGO
analisada. O quadro a seguir, proposto por Eraldo
As armas de fogo podem ser classificadas segundo Rabello (1995, p. 40), dá uma noção dos principais
critérios variados, na dependência da característica grupamentos considerados:

lisa
pares
quanto ao número de raias
quanto à alma ímpares
do cano raiada
dextrogiras
quanto ao sentido sinistrogiras

de antecarga
quanto ao sistema de carregamento
de retrocarga

extrínseca
Armas de fogo quanto ao
percussão
sistema de central direta
intrínseca
inflamação radial indireta
elétrica

de tiro unitário

quanto ao funcionamento não automática


de repetição semiautomática
automática

fixas
quanto à mobilidade semiportáteis
portáteis

4.1. Classificação das armas


quanto à.alma do cano
Para o escopo deste trabalho irá interessar, parti­ As raias são sulcos ou escavações produzidas
cularmente, a classificação quanto à alma do cano. na parte interna do cano [alma) por pieio de fre-
As armas âe porte individual, também conhe­ sas apropriadas, dando origem a um determinado
cidas por armas leves, dividem-se em dois grandes número de ressaltos e cavados, dispostos de forma
grupos: as com canos de alma lisa (parte interna do helicoidal, cuja finalidade principal é imprimir ao
cano da arma) e as com canos de alma raiada. projétil um movimento de rotação ao redor de seu
próprio eixo centro-longitudinal. A ilustração mos­
de alma lisa tra o raiamento no cano da arma e as correspon­
Armas de porte individual
de alma raiada
dentes marcas deixadas no projétil.
CureoSConcurso

Raias sinistrogiras

As armas com cano de alma raiada são aque­ Cano da arma Projétil
las que utilizam cartuchos de munição com pro­ raias ressaltos
jéteis unitários e podem ser curtas (revólveres, cheios cavados
garruchas, pistolas etc.) ou longas (carabinas, fuzis
etc.). As armas com cano de alma lisa são as que O sentido da rotação pode ser horário (para
utilizam cartuchos de munição com projéteis múl­ a direita), quando dizemos que são dextrogiras, ou
tiplos, geralmente usadas para caça (espingardas) anti-horário (para a esquerda), quando as chama­
ou tiro esportivo. mos de sinistrogiras.
Se o ângulo de corte das fresas for constan­
te, isto é, se a inclinação das raias for a mesma horário — dextrogiras
Sentido das raias
anti-horário — sinistrogiras
em toda a extensão do cano, dizemos as raias têm
passo uniforme. Por outro lado, se a inclinação
O número de raias varia, dependendo da arma:
for variada, aumentando no sentido da base para
entre 4 e 12, sendo mais comuns os canos com 5 ou
a boca do cano, dizemos que as raias têm passo
6. O número de raias, assim como o sentido ( dex­
progressivo.
trogiras ou sinistrogiras), é uma das características
Normalmente o passo progressivo é utilizado nas que serve para a macroidentificação dos projéteis.
armas longas (de cano longo), em razão da grande
A largura e o espaçamento estão relacionados.
velocidade inicial do projétil. As armas curtas têm
As raias podem ter largura igual, maior ou menor
raias de passo uniforme.
que a largura dos cheios.
O sentido de inclinação das raias, seu número,
A profundidade varia com o uso. As armas mais
largura, espaçamento (largura do cheio) e profun­
novas têm raias mais profundas, geralmente em
didade variam de arma para arma.
torno de 0,2 mm, e aquelas com mais uso uma pro­
fundidade menor, ao redor de 0,1 mm.
sentido de inclinação
número
Elementos de variação nas raias largura 4.1.1. Finalidade das raias
espaçamento
A finalidade das raias é imprimir ao projétil mo­
profundidade
vimento de rotação no sentido centro longitudinal,
que pode chegar a aproximadamente 8.000 rotações
As raias deixam nos projéteis sua impressão de por segundo. Com esse movimento de rotação o
forma inversa, ou seja, um ressalto no cano corres­ projétil funciona como um giroscópio, mantendo sua
ponderá a um cavado no projétil e vice-versa. trajetória, além de facilitar sua penetração no alvo.
Medicina Legai II

4.2. Classificação das armas quanto em cartuchos e é introduzida pela parte posterior
ao sistema de carregamento (base) do cano.

Quanto ao sistema de carregamento, as armas


podem ser de antecarga ou de retrocarga.
4.3. Classificação das armas quanto
ao sistema de inflamação
A antecarga, atualmente em desuso (salvo para
alguns poucos exemplares de armas de fabricação Por sistema de inflamação deve-se entender o
caseira), era o sistema das primitivas armas de fogo. método empregado pela arma para dar início à ex­
Nelas, a munição não vinha acondicionada em car­ plosão do propelente (pólvora), dando origem ao
tuchos e era introduzida pela parte anterior do cano disparo.
( boca), juntamente com a pólvora. Atualmente as armas de fogo utilizam dois siste­
Nas armas modernas utiliza-se o sistema de mas para produzir o disparo, a percussão ou a infla­
retrocarga, em que a munição vem acondicionada mação por contato elétrico (Rabello, 1995, p. 40).

extrínseca --- --- ....


percussão central direta
Quanto ao sistema de inflamação intrínseca
elétrica radial indireta

Deixamos de incluir no esquema os sistemas de localizada na base do cartucho de munição, para


inflamação por mecha e por atrito, vez que obsoletos deflagrar o disparo. Do embate resulta uma peque­
e não mais utilizados, restando apenas como curio­ na fagulha, suficiente para incender o iniàador
sidade para os estudiosos. presente na cápsula de espoletamento (explosivos
O sistema de inflamação por contato elétrico é raro, como o fulminato de mercúrio, clorato de potássio,
sendo utilizado quase que exclusivamente em peças de azida de chumbo e estifinato de chumbo, altamente
artilharia. Resta, assim, a percussão como sistema prefe­ instáveis) e inflamar a pólvora, que produz volu­
rencial utilizado pela grande maioria das armas de fogo. me acentuado de gases em alta temperatura para
A percussão funciona pelo choque do percussor, impelir violentamente o projétil no espaço atra­
pino ou agulha contra a cápsula de espoletamento, vés do cano.

O percussor atinge a base do


cartucho de munição, fazendo
explodir o iniciador.

A explosão do iniciador inflama a


pólvora que, ao explodir, produz grande
volume de gases e impele
violentamente o projétil para a frente,
através do cano da arma.
CursoSCosictirs©

A percussão pode ser central, anular ou radial e utilizam cartuchos de munição sem espoleta (a pró­
lateral (obsoleta). pria base do cartucho constitui a espoleta).
Na percussão central o percussor atinge a cápsu­ A percussão lateral ou sistema Lefaucheux con­
la de espoletamento (espoleta) situada na parte cen­ sistia em um pino situado na lateral do cartucho de
tral da base do cartucho; na anular ou radial, atinge munição que chegava até o fundo do estojo, onde se
o perímetro externo da base, em qualquer ponto, situava a cápsula de espoletamento. Este sistema há
vez que as armas que utilizam este tipo de percussão muito foi abandonado.

44. Clossicoçõo das armas


quanto ao funcionamento
simples — um único cano
de tiro unitário
múltiplo — mais de um cano

Quanto ao funcionamento
não automática
de repetição semiautomática
automática

Quanto ao funcionamento, as armas podem ser 4, 4 . L Sistemas de alimentação das


de tiro unitário e de repetição. As armas de tiro uni­ armas longas de repetição
tário são aquelas que não contém depósito de mu­ nâo automáticas
nição, como as garruchas, devendo a munição ser
introduzida manualmente na câmara de combustão Temos basicamente os três sistemas já mencio­
a cada disparo. A arma será de tiro unitário simples nados:

quando contar com um único cano e de tiro unitário ferrolho


Sistema de alimentação das
múltiplo quando contar com dois ou mais canos.
armas longas de repetição pump action (tipo bomba)
As armas de repetição contam com depósito de não automáticas lever action (por alavanca)
munição e, portanto, os disparos podem ser efetua­
dos sucessivamente, sem a necessidade de carrega­ No sistema de carregamento por ferrolho, cada
mento manual unitário a cada operação. Dividem-se cartucho é introduzido pelo deslocamento de uma
em não automáticas, semiautomáticas e automáticas. alavanca lateral, que extrai o estojo utilizado e intro­
Diz-se que a arma está alimentada quando seu duz um novo cartucho na câmara de combustão.
carregador está carregado com a munição que com­ No sistema pump action o depósito de munição
porta, e carregada quando houver um cartucho in­ situa-se abaixo e ao longo do cano, sendo introduzido
serido na câmara de combustão. um novo cartucho na câmara de combustão pelo des­
As armas de repetição não automáticas são aque­ locamento bascular de uma peça denominada telha,
las em que tanto o funcionamento quanto o disparo que corre ao longo do depósito. A telha, além de servir
são manuais. O atirador não precisa tocar na muni­ como apoio para a mão do atirador, é utilizada para
ção a cada disparo efetuado, mas precisa acionar um movimentação do mecanismo de carregamento.
dispositivo que retira o estojo deflagrado e coloca na Finalmente, no sistema por alavanca ou lever
câmara de combustão outro cartucho (colhido do action, o carregamento se faz pelo deslocamento de
depósito de munição), que somente será disparado uma alavanca situada logo atrás do gatilho.
com nova pressão na tecla do gatilho. São exemplos Nas armas de repetição semiautomáticas o carre­
de armas de repetição não automáticas o revólver e gamento é automático e o disparo manual. O melhor
algumas armas longas, como os rifles, com sistema exemplo destas armas são as pistolas semiautomáti­
de ferrolho, espingardas com sistema pttmp action cas, nas quais, a cada disparo, o estojo utilizado é eje­
(tipo bomba) ou lever action (por alavanca). tado automaticamente e carregado outro cartucho
Medicina Legai li

de munição na câmara de combustão. Para que seja As armas móveis podem ser portáteis ou semipor­
efetuado um novo disparo, entretanto, será preciso táteis. Serão portáteis quando puderem ser carrega­
que o atirador acione uma vez mais o gatilho. das e acionadas por uma só pessoa, como os revól­
Nas armas de repetição automáticas tanto o car­ veres ou as pistolas. Serão semiportáteis quando não
regamento como o disparo são automatizados. Uma puderem ser transportadas por uma só pessoa ou,
vez pressionado o gatilho, a arma efetuará uma série de podendo ser transportadas por uma única pessoa,
disparos sucessivos até que o atirador libere a pressão exigirem duas ou mais para sua utilização. São exem­
da tecla. As operações de carregamento, disparo, extra­ plos as armas de uso militar como alguns canhões ou
ção, ejeção e novo carregamento se sucedem automa­ mesmo metralhadoras de grande porte.
ticamente. São exemplos de armas automáticas o fuzil-
metralhadora, a submetralhadora e a metralhadora.
5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Resumindo:
SOBRE O REVÓLVER
carregamento manual O revólver pode ser definido como uma arma
não automáticas
disparo manual curta, de repetição, não automática, composta de ar­

carregamento automático mação, tambor, cano (sem câmara de combustão) e


Armas de
semiautomáticas
repetição mecanismo. O comprimento do cano, o número de
disparo manual
raias, a direção do raiamento, o tamanho da arma­
carregamento automático ção, a capacidade do tambor e o tipo de mecanismo
automáticas
disparo automático variam de arma para arma e são particularidades
que servem para a identificação genérica.
4.5. Classificação das armas A característica básica do revólver é a de apre­
quanto à mobilidade sentar um único cano para várias câmaras de com­
bustão, Seu disparo ocorre quando o cão é libera­
fixas do pela pressão na tecla do gatilho e, impulsionado
Quanto à
mobilidade semiportáteis por uma mola, denominada mola realyfaz com que
móveis
portáteis o percussor atinja a base do cartucho de munição.
Para a realização de um segundo disparo, o ati­
As armas são ditas fixas quando o suporte rador deve pressionar novamente a tecla do gatilho.
onde estão montadas é fixo, não podendo ser des­ Essa pressão terá dois efeitos concomitantes, ou seja,
locadas, mas apenas movimentando-se nos planos o de rotacionar o tambor para alinhar com o cano
horizontal e vertical. São exemplos os canhões fi­ outra câmara de combustão (com novo cartucho) e,
xos em fortificações. ao mesmo tempo, afastar o cão para um novo tiro.

Tambor
Alça de mira

< ----------------- Orelha do cão

Chave do tambor

Corpo da arma
Haste do extrator

Suporte do tambor Cabo

Gatilho
Guarda-mato

7
CursoSGoncurso

Os revólveres podem funcionar em ação simples Calibre Pressão em ação simples


ou dupla. Na ação simples o atirador recua o cão até .22 i ,5 a 2,25 kgf
sua posição posterior (engatilha a arma), e a pressão .32 1,5a2,25kgf
no gatilho apenas libera o cão, que irá produzir o .38 1,5 a 2,25 kgf
disparo. Na ação dupla o cão é levado até a posição .357 Magnurm 1,5 a 2,25 kgf

posterior pela pressão do atirador no gatilho (que .44 Magnum 1,5 a 2,25 kgf

também serve para rotacionar o tambor), quando é


liberado para produzir o disparo.
5.2. Mecanismos de segurança
Dois itens de segurança dos revólveres que es­
tão intimamente relacionados com a questão do Existem vários tipos de mecanismo de seguran­

disparo acidental são a força de tração do gatilho e o ça para os revólveres. Todos, entretanto, têm como
característica comum impedir que o pino percussor
mecanismo de segurança.
venha a atingir a base do estojo em razão de impac­
to acidental na orelha do cão.
5.1. Força de fração d© gatilho
Uma das arguiçoes mais comuns em Juízo, quan­
O gatilho de um revólver deve oferecer certa do da alegação de disparo acidental, é exatamente no
resistência à pressão, particularmente na situação sentido de que a arma caiu e disparou pelo impacto
de disparo em ação simples, ou seja, quando a arma no piso.
está engatilhada. Armas cujos gatilhos podem ser Nas armas com mecanismo de segurança atuan­
acionados com uma pressão mínima, liberando o te, essa espécie de disparo não ocorre. Sempre será
cão de sua posição engatilhada e produzindo o dis­ necessário, entretanto, que se efetue o exame pericial
paro, são frequentemente responsáveis por disparos do revólver questionado para saber se o mecanismo de
acidentais. segurança está presente e se opera convenientemente.
Em alguns casos a sensibilidade é tão grande Dentre os mecanismos de segurança mais usuais
que basta uma vibração externa para se fazer a arma podemos citar as travas de segurança, que se inter­
disparar, não sendo sequer necessário que se acione põem entre o cão e o percussor ou entre este e a base
manualmente a tecla do gatilho. do estojo, impedindo que o pino atinja a base do

É claro que tal situação depende de comprova­ cartucho, mesmo quando o impacto na orelha do

ção pericial, devendo ser medida a força de tração do cão é violento.

gatilho com dinamômetros especiais. De qualquer


maneira, ao analisar juridicamente a repercussão 6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .
do fato, deve-se ter em mente que deixar uma arma SOBRE AS PISTOLAS
engatilhada, fora da situação de disparo, constitui, SEMIAUTOMÁTICAS
no mínimo, situação de alto risco, devendo por ela
Vimos que toda vez que ocorre um disparo os
responder o atirador.
gases decorrentes da explosão da pólvora destacam
O quadro a seguir indica os valores normais
o projétil de seu encaixe no estojo e o impulsionam
de pressão para alguns revólveres da marca Taurus, com grande potência através do cano. Da mesma
apenas a título de ilustração. Gatilhos mais “duros” maneira, esses gases empurram para trás o estojo
que o valor máximo indicado tornam a arma de uso com tal violência que as irregularidades da culatra
difícil, principalmente se tiver de ser acionada por nele ficam impressas (e poderão servir para eventual
pessoas de pouca força física. Gatilhos que cedem identificação da arma).
com pressões inferiores à mínima indicada podem No revólver essa força é perdida, uma vez que
tomar a arma perigosa ao manuseio (Tochetto & a culatra é fixa e serve apenas para impedir que o
Weingaertner, 1994, p. 52). estojo saia pela parte de trás, atingindo o atirador.
Medicina Legal il

Para aproveitar essa considerável energia, sur­ dependendo, entretanto, cada disparo, do aciona­
giram as armas de repetição semiautomáticas, que mento do gatilho pelo atirador.
utilizam a força dos gases (exercida sobre o estojo)
Da mesma maneira que os revólveres, as carac­
para realimentação, e as armas de repetição automá­
terísticas gerais, como número de raias, direção do
ticas, que utilizam a força expansiva dos gases para
realimentação e deflagração de novos disparos. raiamento, tamanho da armação, capacidade do

As pistolas semiautomáticas, portanto, po­ pente e tipo de mecanismo, variam de arma para

dem ser definidas como armas que aproveitam a arma e são particularidades que servem para a sua
força expansiva dos gases para sua alimentação, identificação genérica.

Em (A) temos a posição de repouso da pistola. estojo é expelido para fora da arma (C) e o ferrolho,
Quando o atirador aciona a tecla do gatilho ocorre a agora vazio, captura o primeiro cartucho de munição
explosão da pólvora do cartucho. O projétil é arre­ do pente, inserindo-o na câmara de combustão (D),
messado para frente e o estojo para trás, deslocando, voltando a arma à sua posição de repouso (A), até
juntamente, o ferrolho (B). Ao atingir o ejetor, o que a tecla do gatilho seja novamente acionada.
CursoSConcurso

Massa de mira
Ferrolho Alça de mira
i Cano ^
Cão

Registro de
segurança

Gatiiho
Cabo

Guarda-mato

Pente

6.1. Mecanismos de segurança 7.1. Espingarda e escopeta


Como mecanismos de segurança, as pistolas O termo espingarda deriva do francês espin-
semiautomáticas apresentam, geralmente, um regis­ garde e serve para designar qualquer arma de fogo
tro de segurança, que nada mais é que uma alavanca longa, com cano de alma lisa. As espingardas po­
colocada do lado externo da arma e que, acionada dem ser dotadas de um ou dois canos, paralelos ou
manualmente pelo atirador, trava o cão, impedindo colocados um sobre o outro. Quanto ao sistema de
que o disparo seja feito de qualquer maneira. alimentação, podem ser ou não de repetição (pump
Um segundo mecanismo, este automático, é a action ou semiautomáticas). O termo escopeta é usa­
trava do percussor, que impede o deslocamento em do para designar as armas de alma lisa de cano curto
direção à base do cartucho, impedindo, destarte, dis­ e grosso calibre, reservando-se a denominação es­
paro acidental em caso de queda da arma. pingarda para as de cano longo e calibres menores.

7. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 7.2. Carabina


SOBRE AS ARMAS LONGAS De origem italiana, o termo carabina designa

Armas longas são aquelas que, em razão do armas de fogo portáteis, de repetição, cano longo e
comprimento do cano e da coronha, possuem gran­ alma raiada. O cano das carabinas mede entre 18”
de dimensão longitudinal, exigindo para seu uso o" e 20” (de 45 cm a 51 cm), e é exatamente pelo com­
apoio do ombro e ambas as mãos do atirador. primento, menor, que diferem dos rifles, que têm
Dentre as armas longas e portáteis, distinguem-se canos maiores.
a espingarda e a escopeta, a carabina, o rifle, o fuzil e A alimentação e o carregamento das carabinas
o mosquetão. são feitos geralmente pelo sistema de bomba (pump
action) ou de alavanca (lever action).
espingarda e escopeta
carabina
Principais armas longas portáteis rifle
7.3. Rifle
fuzil
Os rifles são armas de fogo longas, portáteis,
mosquetão
de carregamento manual (não automáticos) ou de

10
Medicina Legal II

repetição, cano longo e alma raiada. Sua diferença de alma lisa


das armas
em relação às carabinas reside exatamente no com­ de alma raiada
primento maior do cano, que atinge 24” (61 cm).
Possuem um ou dois canos, e o sistema de carrega­ para armas de alma lisa
dos projéteis
mento pode ser por ferrolho, alavanca, bomba ou Calibre para armas de alma raiada
semiautomático.
para armas de alma
lisa
7A Fuzil dos cartuchos de munição
para armas de alma
Fuzil é uma arma de fogo longa, portátil, auto­ raiada
mática, com alma raiada, calibre potente e que nor­
malmente tem uso militar, podendo ser utilizado 8,1. Calibre dos armas de alma
para caça de grande porte. Ê uma arma automática, raiada, de seus cartuchos de
que apresenta uma cadência de tiros entre 650 a 750 munição e projéteis
disparos por minuto.
O calibre nominal das armas de alma raiada
coincide com seu calibre real é dado pelo diâmetro
7.5. Mosquetão
interno do cano antes da execução do raiamento (diâ­
Da mesma forma que o fuzil o mosquetão é uma metro entre cheios) e pode, na dependência do siste­
arma de fogo longa, portátil, de repetição, com alma ma adotado, ser indicado em centésimos de polegada
raiada. O carregamento é manual, pelo sistema de (sistema norte-americano), milésimos de polegada
ferrolho, que é recuado manualmente pelo atirador. (sistema inglês) ou em milímetros (sistema métrico).

Sistema
8. CALIBRE DAS ARMAS DE FOGO americano
Sistema Inglês Sistema métrico

22 (.22”) 220 {.220") 5,6 mm


Quando se fabrica o cano de uma arma de fogo,
25 [.25”) 250 (.250”) 6,35 mm
inicialmente se produz uma perfuração que é alar­
30 {.30”} 300 (.300”) 7,62 mm*
gada até um determinado diâmetro, característico
32 {.32") 320 (.320”) 7,65 mm
de cada arma. Nas de alma raiada, após a perfuração
38 (.38”) 380 {.380”) 8,9 mm
é feito ainda o raiamento, ao longo do cano, for­
41 (.41") 410 (.410”) 10,1 mm
mando, então, os ressaltos e cavados.
44 {.44”) 440 (.440”) 10,8 mm
Calibre de uma arma nada mais é que a medi­
45 (.45”) 450 (.450”) 11,25 mm
da utilizada para indicar o diâmetro interno de seu
*Nofa: o calibre 7,62 mm corresponde ao calibre 7 mm
cano e a munição correspondente. nas armas iongas.
Existe um calibre nominal que é o valor em­
pregado comercialmente para caracterizar a arma O diâmetro ou calibre efetivo do projétil nas ar­
e sua munição, e um calibre real que corresponde mas em que o número de raias é par, corresponde
à medida efetiva do diâmetro interno do cano ou ao espaço entre dois cavados, e, naquelas em que é
ao diâmetro efetivo do projétil, e que pode, ou não, ímpar, à distância entre um cheio e o ressalto dia­
coincidir com o calibre nominal metralmente oposto. Logo, o calibre efetivo do pro­
jétil é sempre um pouco maior que o calibre real
real — medida efetiva do cano ou nominal da arma considerada. Isso ocorre para
Calibre nominal — valor utilizado comercialmente que não exista perda de pressão quando o projé­
para indicar o calibre til é impulsionado através do cano pelos gases em
expansão. Essa característica faz com que a marca
Ao se falar em calibre, portanto, é preciso iden­ do raiamento fique impressa nos projéteis (e sirva,
tificar três categorias distintas: posteriormente, para identificação da arma).
CurseSCoraciars©

Embora o calibre real das armas de alma raiada


real ou nominal da arma — distância
seja ligeiramente menor que o calibre (ou diâmetro)
entre cheios
do projétil, costuma-se indicar os cartuchos de mu­
nição pelo calibre nominal da arma, e não do projétil
Calibre distância entre um
Além disso, tanto em relação ao calibre nominal
das armas cheio e um cavado
real do projétil das armas quanto em relação ao diâmetro do pro­
raiadas (número ímpar de raias)
jétil, há uma pequena tolerância, respeitada pelos
distância entre dois cavados
(número par de raias)
vários fabricantes, que permite a padronização en­
tre as diferentes marcas:

Arma Munição
Distância Distância Diâmetro
Calibre real Tolerância Tolerância Calibre nominal Tolerância
entre cheios entre cavados do projétil
de .306"
7,77 mm
.300” .300" .302" .308" .310" .300" .308"
a
7,62 mm 7,62 mm 7,67 mm 7,82 mm 7,84 mm 7,62 mm 7,82 mm
.309"
7,85 mm

A — Calibre real {espaço entre


cheios ou diâmetro interno do
cano antes do raiamento).

B — Calibre do projétil {espaço


entre os cavados, se o número
de raias for par: ou espaço
entre um cavado e um cheio,
se o número de raias for ímpar).

8.2. Calibre das armas de alma Isso não significa que os projéteis por ela dispara­
lisa, sua munição e projéteis dos terão o diâmetro do cano. Ao contrário, são geral­
mente bem menores. O que a medida indica é apenas
O calibre das armas de alma lisa, ou de caça, uma convenção, ou seja, tomam-se esferas de chumbo
não é expresso pelo diâmetro interno do cano, mas imaginárias, de diâmetro igual ao cano da arma, e con­
sim pelo número de esferas de chumbo puro, de diâ­ tam-se quantas esferas serão necessárias para compor
metro igual ao do cano em referência, necessário uma libra de peso. O número encontrado indicará o
para atingir uma libra de peso (454 g). calibre nominal da arma (na ilustração, o calibre 12).

12
Medicina Lega! il

Existem algumas exceções, como o calibre 410,


nominal do projétil— números ou letras
que corresponde a uma indicação do diâmetro in­ Calibre das armas convencionados pela indústria
terno do cano (0,410 de polegada) e eqüivale ao ca­ de alma lisa real do projétil— diâmetro real do chumbo
libre 36. O quadro a seguir dá uma ideia da relação utilizado
entre o calibre nominal e o calibre real (diâmetro in­
terno do cano) das armas longas de alma lisa:
9. MUNIÇÃO
Calibre nomina! Calibre real
Pelo vocábulo munição podemos designar pro­
12 18,50 mm
jéteis, pólvoras e demais artefatos explosivos com
16 17,00 mm
que se carregam armas de fogo.
20 15,70 mm
24 14,80 mm
28 14,00 mm 9.1. Partes do cartucho de munição
32 12,80 mm
Atualmente podemos distinguir dois grandes
36 (.410) 10,40 mm
grupos de cartuchos, quais sejam, os de percussão
central e os de percussão radial:
Examinando a tabela acima verifica-se que o ca­
libre nominal das armas longas de alma lisa varia de de percussão central
das armas raiadas
modo inversamente proporcional ao seu calibre real, de percussão radial ou fogo
Cartuchos
ou seja, quanto menor for o número que indica o ca­
das armas de alma Usa — de percussão central
libre nominal (12), maior será na verdade o diâmetro
interno do cano ou calibre real (18,50 mm).
Os cartuchos de percussão central também cha­
O número de esferas de chumbo (projéteis múl­
mados de fogo central ou centerfire, são aqueles que
tiplos) que cada cartucho pode comportar irá de­
possuem espoleta. Os de percussão radial, fogo circular
pender do diâmetro das esferas. É intuitivo, porém,
ou rimfire são aqueles em que o iniciador é distribuído
que os maiores cartuchos podem abrigar um núme­
ao longo do anel da base (ver item "9.3. Espoleta”).
ro maior de projéteis múltiplos.
Resumindo, temos:

real da arma — diâmetro interno do cano


nominal da arma — número de esferas
de chumbo, de diâmetro igual ao
Calibre das armas
diâmetro interno do cano, necessárias
de alma lisa
para compor uma libra Iniciador
nominal do cartucho — o mesmo calibre
nominal da arma
Percussão radia! ou rímfíre

13.
I
CwrscfSCosicMrs©

Qualquer que seja o cartucho considerado, será


composto de estojo, espoleta com mistura iniciado­
ra, pólvora, projétil e, para os cartuchos dotados de
projéteis múltiplos, destinados às armas de alma
lisa, também o embuchamento.

estojo
espoleta
Cartucho de munição pólvora
projétil
embuchamento — armas de alma lisa

A figura mostra as principais partes dos car­


tuchos de munição para armas de cano com alma
raiada (projéteis unitários, em regra) e para aque­
As munições de uso civil usualmente trazem
las de cano com alma lisa (projéteis múltiplos, em
as iniciais ou códigos do fabricante e o calibre. As
regra).
de uso militar, além dos itens anteriores, costu­
mam trazer os dois últimos algarismos do ano de
Fechamento
fabricação.
Projétil
Projéteis (baüns)
Estojo Tubo (plástico ou papelão)

Bucha
9.3. Espoleta
Pólvora (propelente)
Propelente Há varias espécies de espoleta para as armas
Estojo de metal
Iniciador Base de fogo. Como vimos, quando a percussão se dá
Espoleta Espoleta em uma espoleta que está colocada no centro do
culote de um estojo, dizemos que o cartucho é de
fogo central ( centerfire). Quando, por outro lado,
9.2. Estojo
a mistura iniciadora fica distribuída pelas abas
O estojo é o componente de maior dimensão internas do culote, denominamos o cartucho de
dos cartuchos e serve de abrigo e apoio aos demais fogo circular.
constituintes. A parte anterior, aberta, onde se en­ Os cartuchos de fogo circular (rimfire) hoje têm
caixa o projétil, é denominada de boca. A posterior, sua fabricação restrita às armas de pouca potência,
ou culote, abriga ou a espoleta ou o anel com a mis­ por exemplo, o calibre .22”.
tura iniciadora (escorva). Os cartuchos de fogo central dividem-se em três
Os estojos são confeccionados, em sua maio­ espécies: Boxer, Berdan e Bateria.
ria, de metal, normalmente em latão 70:30 (70% de No sistema Boxer a espoleta possui um único
cobre e 30% de zinco), e mais raramente em alu­ furo central para a saída da chama iniciadora. No
mínio (não reaproveitáveis). Os estojos de munição sistema Berdan há dois ou mais furos, e no sistema
destinada às armas de alma lisa podem ter o corpo de bateria a espoleta é totalmente independente do
confeccionado em papel, plástico ou ieflon. estojo (a ilustração mostra os tipos de espoleta fa­
Na base dos estojos, invariavelmente, estão im­ bricados pela CBC — Manual de Aperfeiçoamento
pressas em baixo relevo uma série de letras, núme­ Profissional, 1993).
ros ou marcas de fábrica que visam indicar a proce­ O sistema de Bateria é utilizado geralmente
dência e o calibre dos cartuchos que os integram. para os cartuchos destinados às armas de alma lisa.

14
Medicina Legal li

Bateria

9.4. Pólvora Pólvoras de base simples


Nitrocelulose 92 a 98%
Pólvoras ou propelentes são formas de combus­
Estabilizante 1 a 4%
tível sólido que, sem necessidade de oxigênio exte­
Aditivos variados 1 q4%
rior (uma vez que os próprios componentes da mis­
tura fornecem o comburente necessário), podem Pólvoras de base dupla
inflamar-se rapidamente com produção de grande Nitrocelulose 50 a 65%
volume de gases e elevação da temperatura. Nitroglicerina 35 a 50%
Estabilizante 1 a 5%
Até o final do século XIX, todos os cartuchos de
Aditivos variados 2 a 10%
munição eram carregados com pólvora negra, mistu­
ra de carvão vegetal (13%), enxofre (12%) e salitre (ni­
trato de potássio — 75%), facilmente incendiável. As pólvoras sem fumaça (smokeless powder) teo­
ricamente são transformadas integralmente em gases,
12% de enxofre produzindo uma quantidade insignificante de resíduos
Pólvora negra 13% de carvão vegetal se comparadas à sua antecessora, a pólvora negra.
75% de salitre (nitrato de potássio)

9.5. Projéteis
Quando a pólvora negra queima, produz aproxi­
madamente 44% de sua massa original em gases e cer­ O projétil, vulgarmente conhecido como bala,
ca de 56% de resíduos, que aparecem principalmente é a parte do cartucho impulsionada em direção ao
sob a forma de uma densa fumaça esbranquiçada. alvo pelos gases oriundos da queima da pólvora. As
propriedades balísticas da arma dependem, em boa
Em 1884, o químico francês Vieille sintetizou uma
parte, do diâmetro, massa, conformação e velocida­
forma mais efetiva de pólvora que hoje é impropria­
de inicial do projétil, que varia de arma para arma e
mente conhecida como sem fumaça. Usando álcool e
éter, ele reduziu a nitrocelulose a uma forma coloidal de cartucho para cartucho de munição.

gelatinosa que podia ser reduzida a folhas, enrolada Os primeiros projéteis foram esféricos. Depois des­
e subdividida em flocos. Em 1887, Alfred Nobel de­ cobriu-se que a forma alongada era mais aerodinâmi­
senvolveu uma forma um pouco diferente da pólvora ca e adaptava-se melhor aos canos de alma raiada, sur­
sem fumaça idealizada por Vieille, que combinava a gindo os projéteis cilindro-cônicos e cilindro-ogivais.
nitrocelulose com nitroglicerina. Estas duas formas de Atualmente há inúmeros tipos de projéteis,
pólvora sem fumaça são conhecidas como de base cada qual com características balísticas especiais,
simples (nitrocelulose) e de base dupla (nitrocelulose destinados às mais variadas formas de tiro. É sem­
+ nitroglicerina). Tanto as pólvoras de base simples pre bom lembrar que o tipo do projétil não se con­
quanto as de base dupla podem apresentar-se sob a funde com. o calibre, podendo existir várias espécies
forma de pequenos discos, cilindros ou flocos. para cada calibrexonsiderado.
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Como regra, as armas de caça, de alma lisa, utili­ de grandes proporções, denominados balotes, e as armas
zam cartuchos com projéteis múltiplos, e as armas de de alma raiada podem, excepcionalmente, utilizar cartu­
alma raiada, projéteis unitários. Por exceção, as espin­ chos com projéteis múltiplos (munição tipo gíaser).
gardas podem utilizar cartuchos com um único projétil Os projéteis dividem-se basicamente em:

ogival
ponta plana
de chumbo nu canto vivo
semicanto-vivo
cone truncado

ogival
projéteis unitários encamisados semicanto-vivo
_cônico

ogival
de alma raiada semiencamisados ponta oca
(expansivos) ponta plana
cônico

Armas projéteis múltiplos


(exceção — glaser)

de alma lisa projéteis múltiplos


projéteis unitários (exceção — balotes)

Os projéteis de chumbo nu são geralmente ci­ Os projéteis semiencamisados, por vezes, são
líndricos, apresentando base plana ou côncava. dotados de ponta oca (hottow point) e camisa com
Os projéteis encamisados, também chamados de entalhes longitudinais. Essa conformação permite
jaquetados, e os semiencamisados ou semijaquetados que o projétil se expanda, ao atingir o alvo, razão
apresentam núcleo de chumbo ou outros metais (in­ pela qual são chamados de expansíveis, Esse tipo de
clusive o aço) e uma camisa de liga de latão denominada projétil, quando no corpo humano, produz lesões
tomback, formada por 90% de cobre e 10% de zinco. de grande monta.
Medicina Legal ii

9.é. Projéteis especiais


Alguns tipos de projéteis expansivos merecem especial destaque pela sua utilização:

Projétil feito em latão sólido, perfurado da ponta até a base e que tem no interior um pino de plástico
BAT (Blifz
que o atravessa integralmente. Quando do disparo, em razão da diferença das massas, o pino
Action Trauma)
desprende-se do projétil, um deixando um espaço central que faciiita a expansão.
Projétil de ponta oca onde é colocada uma carga explosiva de póivora e uma pequena espoleta,
Exptoder
para que, atingindo o alvo, venha a fragmentar-se.
Projétil dotado de uma jaqueta de cobre ou latão que lhe dá conformação e que o reveste da base
até a ogiva. Na ponta da ogiva existe uma perfuração fechada por uma tampa plástica. No interior,
Glaser
temos uma carga de diminutos balins. Quando o projétil atinge o corpo humano, libera a carga de
pequenas esferas de chumbo que se espalham no interior do organismo.
Projétil de ponta oca (hollow point), dotado de um pino no interior da cavidade frontal que aumenta a
Hydra-shok
capacidade de expansão do projétil ou facilita sua fragmentação quando no embate contra o aivo.
Projétil de ponta oca (hollow pointj, revestido por uma camisa em liga de aiumínio, que inclusive
Silvertip
reveste o inferior da cavidade e que se expande ao atingir um corpo sólido.

Um particular tipo de projétil expansivo é a fa­ em 1898, nada mais é que um projétil do calibre bri­
mosa bala dum dum, que erroneamente é conside­ tânico .303 com a ponta cortada de modo a expor
rada como explosiva. Na verdade, a bala dum dum, o núcleo. O projétil assim concebido expande-se ao
concebida na índia em 1890 pelo Capitão Bertie Clay impacto, aumentando o poder deparada se compa­
e usada pela primeira vez na Batalha de Omdurman rado ao seu equivalente convencional.

Ogiva

Pino de plástico

Projétil

Entrada dos gases

Cobertura de plástico


Jaqueta metálica


Chumbo n. 12

Jaqueta metálica

Núcleo de chumbo

Silvertip
CurssSCowcurs©

9.7. Alguns cartuchos especiais


Alguns cartuchos de munição também tornaram-se particularmente famosos:

Este cartucho foi o primeiro do tipo Magnum para armas curtas. É o único cartucho de munição
cujo número reflete fielmente o calibre reai (9,06 mm de diâmetro). A conformação do projétil
.357 Magnum é variável, assim como seu peso, que oscila entre 7,1 g e 10 g. A carga de pólvora sfandard é
de 10,2 g e a velocidade iniciai é de 442 m/s (aproximadamente 1.600 km/h). Sua velocidade e
potência, para armas de mão, somente são superadas pelos cartuchos .41 e .44 Magnum.
Nada mais é que um cartucho do calibre .38, dotado de um projétil geralmente de chumbo,
38 Specla! pesando entre 7,1 g a 13 g, e uma carga de pólvora suficiente para imprimir a ele uma
velocidade iniciai de 260 m/s (aproximadamente 930 km/h).

9 mm Parabellum Este cartucho é uma das mais populares munições de armas curtas de uso em pistolas
semiautomáticas e submetraihadoras em todo o mundo. O 9 mm Parabellum apresenta um estojo
ou
ligeiramente cônico e sem borda e, como carga sfandard, um projétii encamisado de 8,10 g de
9 mm Luger peso e 9,02 mm de diâmetro, com velocidade inicial de 375 m/s (aproximadamente 1.350 km/h).

9.8. Projéteis múltiplos de arma Os chumbos têm formato esférico e tamanho


de fogo (balins) variável, sendo identificáveis por números ou letras.
Os cartuchos de munição para as armas de alma Não há uma padronização internacional relativa ao
lisa (espingardas) são municiados com projéteis múl­ tamanho dos chumbos, e cada país utiliza um sis­
tiplos denominados balins, podendo, excepcional­ tema diferente para sua identificação. No Brasil, a
mente, abrigar um único projétil de grandes propor­ CBC utiliza um código misto de números e letras
ções denominado balote. conforme o quadro abaixo:

O © © 0 #
Número do chumbo ® •
• •

12 11 9 8 7 Vs 7 6 5 3 1 T 3T
Diâmetro em mm 1,25 1,50 2,00 2,25 2,38 2,50 2,75 3,00 3,50 4,00 5,00 5,50
Quantidade média
de chumbos em 870 457 216 151 130 110 83 64 40 27 14 10
lOg

Em cada cartucho de munição são usados sem­


Não se deve confundir o número indicativo do pre chumbos do mesmo diâmetro. A tabela a seguir
calibre das armas de alma lisa com o número indi­ mostra os chumbos mais utilizados por calibre e a
cativo do tamanho do chumbo utilizado. quantidade média dentro de cada cartucho:

Calibre Tamanho do chumbo Quantidade em gramas N. médio de esferas


ITT 32
3 32 130
5 200
12
6 36 300
7 32 350
TTT 27
3 110
16 27
5 170
7 300

18
Medicina Legal il

Calibre Tamanho do chumbo Quantidade em gramas N. médio de esferas


TTT 22
3 90
20 22,5
5 140
7 250
T 20
3 60
28 15,5
5 100
7 170
T 17
3 50
32 12,5
5 80
7 140
T 12
3 35
36 9
5 55
7 100

0 cartucho calibre 12 pode ainda ser carrega­ Os discos de papelão têm por função separar os
do com pellets de polietileno de alta densidade e 3,8 componentes do cartucho e, em alguns casos, fazer
mm de comprimento, aproximadamente. Esse tipo seu fechamento.
de munição, fabricado pela CBC, denomina-se an- Nos ferimentos produzidos por projéteis múlti­
timotim (figura) e tem por finalidade suprir as for­ plos de arma de fogo, decorrentes de disparos efetua­
ças armadas e unidades policiais com uma munição dos a curta distância, é freqüente encontrar no interior
que demonstre força, mas que, observadas as dis- do corpo restos do(s) disco(s) e da(s) bucha(s),
tâncias de segurança, não causem ferimentos letais. Esses achados de necropsia são de grande im­
portância, pois através do diâmetro da bucha ou dos
discos de papelão é possível determinar o calibre da
arma e, por vezes, a marca da munição utilizada.

9.10. Impropriedades terminológicas


Com relação à denominação, algumas impro­
priedades têm sido frequentemente utilizadas em
sede de laudos periciais. Uma delas diz respeito aos
cartuchos de munição. Ê bastante comum encontrar
nos laudos a ejcpressão “cartuchos íntegros”, para
indicar aquela unidade de munição que não foi uti­
lizada. Na verdade trata-se de redundância inútil,
vez que a definição de cartucho âe munição é exata­
9.9. Embuchamento
mente a de uma unidade de munição íntegra.
Além da pólvora e dos projéteis, os cartuchos É possível, porém, que tenhamos cartuchos
de munição para armas de alma lisa possuem uma cuja espoleta foi picotada e não deflagrada, em ra­
ou duas buchas de plástico ou papelão e dois ou zão de falha do dispositivo, Essa unidade de muni­
mais discos de papelão. As buchas têm função dú- ção, entretanto, continua sendo íntegra e, submeti­
plice: impulsionar os projéteis pelo cano da arma e da a uma segunda percussão, poderá até ser dispa­
manter a carga de balins agrupada o maior tempo rada. Nessas condições, dizemos que a espoleta foi
possível. picotada, e não deflagrada.
Curs©S£©racysrs©

10. TRAJETÓRIA
Apenas para se ter uma noção da dimensão das for­
Impelido pela expansão dos gases oriundos da ças que atuam sobre o projétil, consideremos o qua­
queima do propelente, o projétil é arremessado atra­ dro abaixo relativo ao calibre .38 Special+P Expo
vés do cano da arma, onde sofre incrível aceleração. (CBC— Informativo Técnico n. 9):

Velocidade (m/s) Energia (Joules)


Peso do projéíli (g) Comprimento do cano
Om 50 m 100 m Om 50 m lOO.m
8,1 288 276 265 336 309 284 10,2 cm
10,2 270 259 250 373 343 320 ou 4"

Ora, uma velocidade de 288 m/s, velocida­ ção do projétil no interior do cano é, portanto,
de do projétil ao sair da boca do cano da arma, cerca de 40.600 vezes a aceleração da gravidade
corresponde a 1.038 km/h. Para atingir essa ve­ (10 m /s2).
locidade no curto espaço de 10,2 cm do cano, se O gráfico ilustra a evolução da pressão e da
considerarmos que o projétil saiu do repouso, ve­ aceleração do projétil no interior do cano desde o
remos que houve uma aceleração de 406.588 m/s2, instante inicial da percussão até a saída pela boca da
por um período de tempo de 0,0007 s. A acelera­ arma (Rabello, 1995, p. 84).

Ao deixar a boca do cano da arma, o impulso forças que o desaceleram e modificam sua trajetó­
produzido pelo propelente cessa e o projétil, pela ria, a gravidade e a resistência do ar.
inércia, tende a manter a velocidade inicial e a traje­ Eraldo Rabello (1995, p. 179) lembra que até pou­
tória, deslocando-se em movimento retilíneo e uni­ co tempo era comum a trajetória ser definida como
forme. O projétil, entretanto, sofre a ação de duas uma parábola de tipo especial, simétrica em relação

20
I Medicina Legal II

à sua ordenada máxima, quando, na verdade, esta­ Isto ocorre porque inúmeros fatores influen­
ria mais próxima do segmento de uma elipse. ciam na trajetória do projétil, entre os quais pode­
Segundo o autor, no vácuo, sob ação apenas da ríamos citar:
gravidade, o percurso realmente se desenharia como
uma parábola (gráfico 1). No ar atmosférico, entre­ massa
relativos ao densidade
tanto, pela influência de inúmeros fatores, a confi­
projétil forma
guração de seu deslocamento se aproximaria mais
de uma seção de elipse (gráfico 2). Fatores que velocidade inicial
relativos à arma
influenciam
e propelente número de rotações
na trajetória

relativos ao densidade atmosférica


ambiente existência de correntes de ar

11. ALCANCE MÁXIMO,


COM PRECISÃO, ÚTIL,
E STOPPING POWER
Alcance máximo é a distância compreendida
entre a boca do cano da arma e o ponto em que
o projétil atinge o solo. Como há variação na de­
pendência do ângulo de tiro considerado, para uma
trajetória ideal, no vácuo, utiliza-se o ângulo de 45°.
Em situação de disparo real, considerando a resis­
tência do ar, os melhores resultados são obtidos
com ângulos entre 35° e 40°.
Alcance com precisão é a distância em que um
atirador experimentado pode atingir, com razoá­
vel grau de precisão, um alvo quadrado com 30 cm
Nenhum dos modelos apresentados é satisfa­ de lado. Depende não apenas da munição utilizada
tório. Na verdade, a trajetória real do projétil forma mas também da arma.
uma assíntota no ponto de seu alcance máximo, isso Alcance útil é a distância máxima em que o
porque, em determinado instante, a resistência do ar projétil ainda tem energia cinética suficiente para
faz com que praticamente cesse o impulso inicial, e o deter um homem pelo impacto, mesmo que não
projétil literalmente cai sobre a ação da gravidade. o atinja em um ponto vital. O alcance útil está
intimamente relacionado com o poder de parada
ou stopping power da munição. Os projéteis ex­
pansivos ou os fragmentáveis, dependendo da
região do corpo humano atingida, apresentarão
um maior poder de párada que a munição con­
vencional.
A tabela a seguir, proposta por Domingos To~
chetto, dá uma ideia dos valores do alcance útil, de
precisão e máximo para os vários tipos de munição
considerados (1995, p. 292).

21
CursG&Concurso

Projétil Comp. Alcance


VI00 (m/s) Alcance Alcance
Peso do cano V5 (m/s) El 00 (Kgm) máximo
Calibre Tipo estimada útil (m) precisão (m)
( Pd.) (m)
(g)
2' 257 187 4,6 X 50 1.200
3 268 198 5,2 X 50 1.200
Chumbo 4 273 203 5,4 X 50 1.200
.22 LR 2,59
(ogival) ' 6 286 216 6,2 X 75 1.200
16,5 320 244 7.9 X 100 1.300
23 346 266 9,3 X 100 1.300
.22 Chumbo
2,59 23 602 460 27,9 220 150 1.500
Magnum (ogival)
3 170 132 5,6 XX 50 1.200
.32 S&W Chumbo
6,35 4 180 142 6,5 XX 50 1.200
longo (ogival)
6 223 178 10,25 40 75 1.200
2 224 205 22 330 50 1.200
3 239 220 25 400 50 1.200
Chumbo
.38 SPL 10,24 4 244 225 26 450 75 1.400
(ogival)
6 263 241 30 500 100 1.400
22 345 315 31 900 150 1.600
3 365 313 51 600 50 1.400
Semien- 1.400
.357 4 380 323 54 620 50
10,24 camísado
Magnum 6 410 410 62 660 75 1.500
. ponta chata
19 522 522 99 780 150 1.600

Nas armas de alma lisa, o alcance útil está in­ sempre, ainda é dotado de energia cinética suficiente
timamente relacionado com a abertura do cone de para perfurar a pele humana, pàrticularmente de crian­
dispersão e depende do tipo de choque (estreita­ ças e mulheres, que possuem tegumento mais sensível.
mento da boca do cano da arma) utilizado. Segundo Karl Selliery para perfurar a pele hu­
mana o projétil deve estar animado com velocida­
11.1. “Balas perdidas” de superior a 50 m/s. Essa velocidade é facilmente
atingida por projéteis em queda livre, mesmo em se
Os conceitos e princípios relacionados com a considerando a resistência do ar.
trajetória dos projéteis são de grande importância Di Maio apresenta o seguinte quadro compara­
na determinação da etiologia jurídica de alguns
tivo (1993, p. 214):
eventos morte. O conhecimento do comportamen­
to de determinada munição ou armamento pode Velocidade mínima para perfurar a pele
servir para determinar o ponto de origem do dis­ Projétil Peso em grafns/gramas Velocidade mínima
paro, quando efetuado à longa distância ou mesmo .177 8,25 — 0,5 101 m/s
nas chamadas “balasperdidas”, .22 16,5— 1,2 75 m/s
Uma ocorrência bastante comum é a de feri­ .38 113 — 7,2 58 m/s
mentos provocados por projéteis disparados origi-
nariamente para o alto. A errônea crença popular Já se demonstrou experimentalmente que um
de que projéteis assim disparados não têm poder de projétil disparado para o alto pode retornar ao solo
penetração, e por tal não podem provocar ferimen­ com velocidade superior a 85 m/s, dependendo de
tos, leva a um sem número de acidentes. sua massa, densidade e conformação; logo, é perfei­
Ê bem verdade que o projétil disparado para o tamente possível que um projétil disparado origi­
alto, quando entra no ramo descendente de sua tra­ nalmente para o alto possa atingir, ferir e até matar
jetória, tem menor poder de perfuração, mas, quase uma pessoa (Dadian, 1988, p. 46).

22
Medicina Legai il

12. FERIMENTOS PRODUZIDOS POR Como regra, o ferimento de saída é irregular,


maior que o de entrada, até porque o projétil fre­
PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO
quentemente se deforma em sua passagem pelos te­
O projétil de arma de fogo é um agente mecâni­ cidos orgânicos, e tem as bordas voltadas para fora.
co perfurocontunâente, que determina uma lesão de Alguns projéteis especiais, de alta energia, com
natureza perfurocontuscu velocidades superiores a 750 m/s, em razão das on­
O estudo das lesões produzidas pela ação de das de choque produzidas pelo seu deslocamento,
projéteis de arma de fogo, sejam eles unitários ou costumam produzir ferimentos de saída de gran­
múltiplos, apresenta relevância especial, primeiro des proporções. A foto mostra o ferimento de saída
porque constituem número expressivo de ocor­ produzido por munição Magnum ,357.
rências, em grande número de etiologia criminosa.
Além disso, pela multiplicidade de facetas e caracte­
rísticas, geralmente fornecem elementos preciosos
à investigação, determinação da causa jurídica do
evento ou ainda da possível autoria.
Na análise dos ferimentos produzidos por pro­
jéteis de arma de fogo, quatro são os pontos que de­
vem merecer atenção do perito:
a) determinação e descrição dos ferimentos
de entrada e saída;
b) a trajetória do projétil no interior do corpo,
bem como a descrição das lesões internas;
c) a orientação do disparo em relação à posi­
12.3. Ferimentos produzidos por
ção do corpo; e projéteis múltiplos (balins)
d) a distância provável do disparo.
Nos disparos efetuados com cartuchos de mu­
nição de projéteis múltiplos (armas de alma lisa), o
12.1. Ferimentos de entrada aspecto da lesão depende, basicamente, da distância
em que foram realizados e da conseqüente abertura
As características dos ferimentos de entrada pro­
do cone de dispersão.
duzidos por projéteis de arma de fogo dependem, ba­
Em tiros muito próximos ou encostados, os pro­
sicamente, de três fatores principais, quais sejam: tipo
jéteis múltiplos causam grande destruição tecidual,
de munição empregada (projétil unitário ou projéteis
muitas vezes acompanhada de significativa perda de
múltiplos), ângulo de incidência e distância de tiro.
substância (foto).

do tipo de munição projétil único


As características empregada projéteis múltiplos
do ferimento de
entrada dependera do ângulo de incidência
da distância em que foi
efetuado o disparo

12.2. Ferimentos de saída


Os ferimentos de saída somente existem, por ób­
vio, se o projétil transfixar o corpo. Não têm grande
importância, salvo na determinação da trajetória,
porque não possuem características próprias.
CursoS£oncurso

de tensão que atuam sobre a pele (ver Leis de Filhós


e Langer). Excepcionalmente, podem ter formato
diverso, atípico, quando o projétil atinge algum
alvo intermediário antes de incidir sobre o corpo
da vítima. Nesses casos, ou o projétil se deforma,
ou perde sua trajetória axial, para penetrar no cor­
po com sua face lateral, cilíndrica, determinando,
assim, um ferimento de entrada com formato de
letra “D”.
A lesão também terá conformação atípica quan­
do o projétil atingir tangencialmente a pele, “de ras­
pão”, hipótese em que o ferimento irá apresentar-se
como uma escoriação de formato alongado. Nesse
caso, é claro, não se pode falar em ferimento de en­
trada, pois o projétil não penetrou o corpo.
Apesar de haver certa correspondência de for­
ma entre a seção do projétil e o ferimento, não é
possível determinar o calibre da arma pelo diâmetro
da lesão, visto que, em razão da elasticidade da pele
e das linhas de tensão, o orifício de entrada pode ser
Nos disparos efetuados a distância, o que ob­
menor, maior ou igual ao diâmetro do projétil que
servamos é a existência de lesões múltiplas, como se
lhe deu origem.
produzidas por vários disparos unitários, distribuí­
O ferimento de entrada tem geralmente bor­
das ao redor de um ponto central, e que se afastam
dos invertidos, invaginados, voltados para o inte­
mais uma da outra quanto maior for a distância en­
rior do corpo, característica contrária à dos feri­
tre o atirador e o alvo.
mentos de salda, que possuem as bordas evertidasy
O ângulo de tiro irá determinar o formato da
levantadas, indicando claramente o sentido de sua
lesão única (se o tiro for a curta distância) ou do
trajetória.
desenho formado pela distribuição das múltiplas le­
Como exceção, temos a câmara de Hoffmann
sões (nos tiros a distância), que poderá ser circular,
ou câmara de mina, observada nos tiros encostados
nos disparos perpendiculares ao alvo, e elíptico ou
em regiões que recobrem tábuas ósseas, em que o
cônico, quando a carga de projéteis incidir de ma­
ferimento de entrada tem os bordos evertidos, volta­
neira oblíqua sobre o alvo.
dos para fora. Falaremos dessa espécie de ferimento
mais detalhadamente à frente.
Além do aspecto morfológico, ao redor dos
ferimentos de entrada produzidos por projéteis de
arma de fogo, podemos observar algumas espécies
de orlas (ou halos) e zonas, fenômenos que se apre­
sentam de fundamental importância tanto para
12.4. Ferimentos produzidos
a caracterização da natureza do ferimento como
por projéteis unitários
para a determinação da distância em que foi reali­
A lesão de entrada produzida por projétil de zado o disparo.
arma de fogo é geralmente circular ou elíptica, na As orlas (ou halos) são regiões circunscritas, re-
dependência do ângulo de incidência e das linhas gulares, que circundam o ferimento como pequenas
Medicina Legal II

auréolas, dando-lhe características especiais que


permitem diferenciar as lesões produzidas por Oria de contusão
projétil de outras determinadas por instrumen­
Ponto de impacto
tos diversos. do projétil
As zonas compreendem áreas maiores, irre­
gulares, que podem ou não estar presentes e que
terão importância fundamental na determinação
da distância do disparo. Como a epiderme é menos elástica que a der-
me, após a passagem do projétil é possível observar
escoriação uma pequena retração com conseqüente exposição
orlas ou halos contusão da derme, como se tivéssemos dois anéis concên­
enxugo tricos, um, de diâmetro maior, formado pela rup­
Ferimento de entrada tura da epiderme, e um outro, de diâmetro menor,
de projétil formado pela exposição da derme. A esse anel (de
esfumaçamento exposição da derme) denominamos orla ou halo
zonas chamuscamento de escoriação.
tatuagem

Oria de escoriação — derme


!2.5.0rSas ou halos de contusão,
Ferimento de entrada
enxugo e escoriação Limite da.iesâo na epiderme

A pele é constituída por duas camadas distin­ Oria de contusão

tas, a epiderme e a derme. A primeira é mais fina


e menos elástica, rompendo-se de imediato pelo
A maior parte dos autores costuma agrupar as
embate do projétil. A segunda, a derme, mais elás­
orlas de contusão e de escoriação como se formassem
tica, acompanha o projéti1, encapsulando-o parcial­
uma única, apresentando, também, como sinôni­
mente antes de se romper, para depois voltar à po­ mos os termos orla erosiva (Piedelièvre e Desoille),
sição original. orla desepitelizada (França) e anel de Fisch (Croce,
1998, p. 231).
Na verdade, a orla de escoriação corresponde à
w/A diminuta exposição da derme sobre a lesão causada
na epiderme, em razão da diferença de elasticida­
*"* /«99W
HBO|Y/] in
í !
,---- ,—.—
í'í

I B de entre as camadas. A orla de contusão, por outro


lado, indica uma área maior, que circunda o feri­
mento, e é formada pelo halo hiperêmico decor­
'

rente da lesão dos capilares da área atingida pelo


embate do projétil.

A primeira orla produzida é a de contusão, que


Oria de escoriação
corresponde a uma pequena região equimótica de­
corrente da lesão ocasionada pelo embate do projé­
til na rede de capilares da pele. Trata-se de um halo
róseo que circunda o orifício de entrada e que é
mais evidente nas pessoas de pele clara, sendo difícil
de observar em peles de tonalidade mais escura.
CurscSCoracurs®

Finalmente, ao atravessar a derme, o projétil li­


teralmente se enxuga. Limpa-se das sujidades e im­
purezas trazidas do cano da arma, restos de pólvora
e fuligem depositados em sua superfície, deixando
na derme um anel enegrecido a que se convencio­
nou chamar de orla de enxugo e que normalmente
impede que observemos a orla de escoriação, que
fica parcialmente sobreposta a ela.

Oria de enxugo
Oria de escoriação ~~ derme
Ferimento de entrada
Limite da lesão na epiderme
Oria de contusão

Essas três orlas estão presentes na quase-tota-


lidade dos ferimentos de entrada produzidos por
projéteis de arma de fogo, independentemente da
distância em que o disparo foi efetuado. Ê claro que, 12.6.Zonas de chamuscamento,
se for a curta distância, as zonas de chamuscamen- esfumaçamento e tatuagem
to, esfumaçamento e tatuagem, que estudaremos a
seguir, certamente irão impedir a visualização das Quando uma arma é disparada, juntamente com
orlas, o que não significa sua ausência. o projétil são expelidos pela boca do cano um consi­

Os halos de escoriação e contusão não são ex­ derável volume de gases em alta temperatura e em
clusivos dos ferimentos produzidos por projéteis de combustão, certa quantidade de fumaça (que varia
arma de fogo, podendo ser observados em lesões de­ de acordo com o propelente utilizado) e pequenos
terminadas por outros instrumentos perfurocontu- grãos de pólvora (combustos, semicombustos ou em
sos. A orla de enxugo de coloração enegrecida é mais combustão), assim como micropartículas metálicas
característica e, com segurança, indica ferimento de oriundas da abrasão do projétil no cano da arma.
entrada de projétil de arma de fogo.
As fotos a seguir mostram o aspecto de ferimentos
de entrada produzidos por projéteis unitários de arma
de fogo, decorrentes de disparos efetuados a distância.

Chamuscamento; Esfumaçamento =Tatuagem

Esses componentes são impelidos juntamente


com o projétil, mas, como têm massa infinitamente
menor, não possuem energia cinética para ir além de
uns poucos centímetros da boca do cano da arma,

26
Medicina Legal H

podendo não atingir o alvo, na dependência da dis­ A zona de tatuagem pode ser encontrada em
tância, da arma, tipo e idade da munição utilizada. disparos realizados até 50 cm do alvo. Acima des­
Se o disparo for efetuado muito próximo do sa distância costumamos observar apenas as orlas
alvo, algo em torno de 5 cm, poderemos ter a zona de contusão, escoriação e enxugo. Em disparos mui­
de chamuscamentOy que nada mais é que uma região to próximos, não há dispersão suficiente dos grãos
onde a pele é literalmente queimada pela chama de pólvora, que acabam por acompanhar o projétil
que sai pela boca do cano da arma. para o interior da lesão, ou depositam-se tão pró­
ximos ao ferimento de entrada que não chegam a
constituir uma zona de tatuagem.

Para uma distância maior, de até 30 cm, a fu­


maça decorrente do disparo poderá atingir o alvo e
depositar-se ao redor do ferimento de entrada, pro­
duzindo a chamada zona de esfumaçamento.

O ferimento produzido por balote, em disparo realizado


Finalmente, e exatamente porque têm massa
a curta distância.
maior que as partículas de fuligem, restam os grãos
de pólvora e as partículas metálicas decorrentes da
abrasão do projétil no cano da arma, que incidem
sobre o alvo como verdadeiros projéteis secundários,
por vezes incrustando-se na pele de tal maneira que
formam verdadeiras tatuagens (zona de tatuagem).

Zona de esfumaçamento nas vestes.


CursoSGoncurso

lesão interna de grande monta. As zonas de chamus-


camento, esfumaçamento e tatuagem ficam todas no
interior do corpo, mas o orifício de entrada perma­
nece com sua configuração circular ou elíptica.
Por vezes, na dependência da força com que a
arma foi pressionada sobre a região atingida, é pos­
sível evidenciar a marca do cano sobre a pele (foto).
Esses ferimentos são frequentemente observados
em suicídios.

Ferimento a curta distância na região posterior do pesco­


ço, com evidente zona de esfumaçamento.

A zona de esfumaçamento pode ser removida com


água, ao passo que as demais não. Mesmo lavada a re­
gião, permanecem e podem ser observadas pelo perito.

12.7. Disparos encostados


Quando, logo abaixo da região atingida, existe
Nos disparos encostados temos de diferenciar
uma tábua óssea, o projétil pode (ou não) conseguir
duas situações distintas: os disparos que atingem
perfurá-la, mas os gases e as micropartículas certa­
unicamente tecidos moles e os que incidem sobre mente não. Nesses casos há um descolamento dos
partes do corpo que recobrem ossos planos, por tecidos e uma verdadeira explosão, no sentido in­
exemplo, os do crânio. verso (de dentro para fora), pelo refluxo dos gases,
Quando o disparo encostado atinge unicamen­ formando um ferimento de conformação estrelada
te tecidos moles, além do projétil, todos os demais e de bordos evertidos (para fora), denominado câ­
elementos penetram no ferimento, causando uma mara âe mina ou câmara ãe Hoffmann.
Medicina Legai H

12.8. Disparos em ossos


um ferimento de saída. Nos ossos planos ou chatos,
Nos ossos longos os disparos frequentemente como no crânio, é facilmente diferenciável o feri­
produzem fraturas, podendo as esquírolas ósseas mento de entrada (A) do ferimento de saída (B) em
constituir verdadeiros projéteis secundários. Des­ razão do cone de dispersão formado pelos fragmen­
sa forma, é possível, inclusive, que exista mais de tos ósseos (sinal do funil de Bonnet).

12.9. Determinação da distancia munição utilizada. Munido desse material, deverá


de disparo efetuar disparos experimentais no estande de tiro e
comparar os resultados obtidos com as zonas deixa­
Com base nas orlas e zonas descritas, muitas das no corpo ou vestes da vítima.
vezes é possível ao perito determinar, aproximada­
Os resultados procuram comparar distâncias
mente, a distância em que foi disparada a arma em não superiores a 50 cm. Acima desse patamar o
relação ao alvo. A questão tem particular relevância disparo é sempre dito a distância, não se podendo
nos casos em que se discute, por exemplo, se a pró- diferenciar um efetuado a 1 m de outro realizado a
pria vítima poderia ter feito uso da arma (suicídio) 10 m ou mais.
ou não (homicídio). O quadro a seguir dá uma noção das distân­
Para que o perito possa manifestar-se com um cias em que é possível observar cada uma das orlas
certo grau de precisão, irá necessitar da arma e da e zonas.

Distância Orias Zonas

Contusão Escoriação Enxugo Chamuscamento Esfumaçamento Tatuagem

Até 5 cm X X X X X

De 5 a 10 cm X X X X X

De 10 a 30 cm X X X X X

Até 50 cm X X X X

+ de 50 cm X X X

1 3 . IDENTIFICAÇÃO DAS
balística. Com ela, procura-se filiar um determina­
ARMAS — MICROSCÓPIO
do projétil, denominado de incriminado ou ques­
COMPARADOR BALÍSTICO
tionado, geralmente retirado do corpo da vítima, a
Uma das perícias mais solicitadas na área da balís­ outro, testemunha ou padrão, disparado pela arma
tica forense é aquela relacionada com a comparação que se deseja pôr à prova.
Curs®S£©Bic&ays@

Inicialmente procede-se a uma análise das ca­ sas na superfície do projétil, como se formassem
racterísticas macroscópicas, ou seja, comparam-se uma “assinatura” da arma utilizada.
os calibres, o número de raias e sua orientação. Em Apesar das armas serem fabricas pelo mesmo
um grande número de casos, essa análise preliminar processo, o desgaste e a troca das fresas que as pro­
permite descartar, com segurança, a arma apontada duzem sempre introduzem pequenas diferenças que
como autora do disparo. aumentam com o tempo e o uso. Essas diferenças
Caso as características macroscópicas coincidam traduzem-se por microestrias impressas na superfí­
e não estando o projétil incriminado por demais de­ cie do projétil.
formado, passa-se a análise dos microelementos com O microscópio comparador balístico é um
o auxílio do microscópio comparador balístico. instrumento ótico composto de duas objetivas in­
Vimos que o calibre real do projétil é ligeiramen­ dependentes que permite, pela ação de um jogo de
te maior que o calibre real da arma. Isto é necessário prismas e espelhos, a composição das imagens em
para que não haja perda de pressão quando da ex­ uma única ocular, de maneira a permitir que o pe­
pansão dos gases decorrentes da queima da pólvora rito visualize conjuntamente metade do projétil in­
propelente. criminado e metade do projétil testemunha.
Em razão das enormes forças físicas envolvi­ Após examinar toda a superfície dos projéteis, o
das no processo de disparo, todas as irregularidades perito poderá afirmar ou não a coincidência e, com
existentes no cano da arma acabam por ser impres­ isso, comprovar a filiação da arma incriminada.

' ,\ i 'V

Eraldo Rabello (1975, p. 287) assim se mani­ como ele, satisfaz a condição de permitir, em uma
festa sobre o microscópio comparador balístico: mesma reprodução fotográfica, a apresentação si­
“De todos os processos técnico-científicos de iden­ multânea e justaposta dos dois objetos compara­
tificação individual das armas de fogo, nenhum é dos, com o registro imediato e fiel das respectivas
tão versátil e rico em possibilidades práticas de características coincidentes ou divergentes e sem
imediata utilização pelo perito como o propor­ desfiguração das imagens dos referidos objetos,
cionado pelo microscópio comparador. Nenhum, na escala de grandeza adequada, em cada, para a
Medicina Legai ii

percepção exata e a identificação precisa das me­ estojos. Fora do âmbito da balística forense, é uti­
nores particularidades distintivas”. lizado para o exame de moedas, cheques, papel-
Além de permitir o cotejo de projéteis, o mi­ -moeda, selos, assinaturas e vestígios decorrentes
croscópio comparador permite a análise das mar­ da ação de uma ferramenta sobre determinadas
cas deixadas pelo percussor ou pelo extrator nos superfícies.

Zarzuela (1996, p. 204) aponta a possibilidade 14. RESIDUOGRAFIA


de identificação não apenas da arma como tam­
Mais importante que a questão da identificação
bém, no caso dos revólveres, da câmara do tambor
da arma utilizada é a identificação do autor do dis­
de onde o projétil partiu, o que pode ter importân­
paro incriminado.
cia quando se pretende estabelecer a ordem de vá­
Ao se disparar uma arma de fogo, pela força ex­
rios tiros. Menciona uma ocorrência, descrita por
pansiva dos gases, são arremessados em direção ao
Edward C. Bigler (Criminology and Police Scien­
alvo, juntamente com o projétil, microrresíduos não
ce, Journal of Criminal Law), em que foi afastada metálicos, provenientes da queima do iniciador e do
a tese de legítima defesa por essa forma de exame, propelente, e micropartículas metálicas, decorrentes
em um caso em que a vítima recebeu um tiro pela da abrasão do projétil no interior do cano da arma.
frente e outro pelas costas. A argumentação da de­ Os microrresíduos não metálicos são representa­
fesa baseava-se na hipótese do primeiro disparo dos pelos íons nitrito, nitrato, estifnato, bário, chum­
ter sido feito pela frente. bo II, antimônio III, cálcio e outros, originários dos
Atualmente existem aparelhos que permitem componentes originais do iniciador e propelente.
a aquisição e o exame automatizado de projéteis, As micropartículas metálicas são constituídas por
como o sistema IBIS (Integrated Ballistics Identifica­ chumbo e antimônio ou cobre e zinco, na dependên­
tion System) da empresa FTÍ — Walsh Group. cia de ser o projétil encamisado ou não.
Curs0$£on€urso

Esses resíduos e partículas constituem verdadei­ da foi proposta em 1942 por Feigl e Suter, e consiste na
ros projéteis secundários, arremessados tanto pela utilização de uma solução de rodizonato de sódio em pH
“boca” do cano quanto pela culatra da arma, que po­ 2,8. Essa solução reage com o chumbo II em concentra­
dem depositar-se nas mãos e vestes do atirador. ções de até 0,1 jig, apresentando coloração violácea.
Outros reagentes utilizados:
íons nitrito
íons nitrato
Reagente Detecta
microrresíduos íons estifnato
Reagente de GRIESS Nitrifos
não metálicos íons chumbo
Solução suifúrica de BRUC/NA Nitratos
íons antimônio
Solução de D/r/O-OXAMÍDA íons cobre II
íons cálcio etc.
Projéteis Solução de RODAA/Í/NA B Partículas de antimônio V
secundários
chumbo projétil de Compostos sulfurados
Solução de AZ/DA DE SÓDIO
antimônio chumbo nu (pólvora negra)
micropartículas
metálicas
cobre projétil 14.2. Técnicas de coleta
encamisado
zinco de material
A residuografia pode, portanto, ser metálica ou Quando se pretende a identificação do autor de

não metálica, e compreende os processos químicos determinado disparo, quer estejamos tentando pro­

e físicos destinados à identificação e caracterização var a ocorrência de um homicídio, quer busquemos

desses “projéteis secundários”. A representação ma­ a certeza do suicídio por arma de fogo, é importante

terial qualitativa e quantitativa da distribuição dos procurar os resíduos nos locais onde mais comu-

resíduos e partículas denomina-se residuograma. mente se depositam.


As ilustrações a seguir dão uma ideia das princi­

14.1. Principais reagentes pais áreas atingidas pelos microrresíduos e micropar-


tículas, nas vestes, corpo e mãos do atirador, áreas
Os reagentes variam de acordo com os resíduos e onde os vestígios devem ser pesquisados (ilustração
partículas estudados. A técnica atualmente mais utiliza­ baseada em similar de Rabello, 1998, p. 319).
Medicina Legal I!

Para o exame das vestes, costuma-se prensar Para as mãos utilizam-se tiras de esparadrapo,
folhas de papel de filtro, embebidas de uma solução cuidadosamente aplicadas sobre as áreas prováveis
tampão, contra a área incriminada da roupa e de­ (marcadas com pontos na figura) e depois coladas
pois aplicar a solução de rodizonato de sódio sobre o em uma folha de papel de filtro. O material é, então,
papel de filtro, que recebe os resíduos impregnados levado ao laboratório, onde é aplicada a solução de
nas fibras do tecido. rodizonato de sódio.

A foto mostra um residuograma positivo, já re­ exame residuográfico proposta por Gonzalo Iturrioz
velado, demonstrando a presença de chumbo (áreas em 1914 e consiste em mergulhar a mão do pretenso
mais escuras) no material recolhido. atirador em uma solução de parafina histológica semi-
fundida, que, uma vez solidificada, forma uma verda­
deira luva ao redor das mãos da pessoa examinada.
Levada ao laboratório, a luva é submetida a
análise química pelo reagente de Lunge ou Benitez,
à base de difenilamina, para levantamento de mi­
crorresíduos de nitrato e nitrito, os quais são eviden­
ciados por uma intensa coloração azul.
Embora a prova da parafina seja um teste de
boa sensibilidade, não é mais utilizado atualmente,
principalmente em razão da alta temperatura de fu­
são da parafina histológica (40° C), que pode levar a
lesões na pele do examinado.

14.4. Considerações finais sobre


143. Prova da parafina a residuografia
A prova da parafina, também chamada de Teste O exame residuográfico não pode ser consi­
de Iturrioz ou Teste da Difenilamina, é uma forma de derado como uma prova técnica de certeza para
CurscòConcurso

comprovar a autoria do disparo. Deve servir apenas O resultado negativo ou positivo no ensaio re­
como referência, uma mera orientação técnica que, siduográfico, embora possa apontar no sentido de
somada a outros exames periciais e demais provas que o examinado realmente disparou ou não uma
dos autos, levará à convicção sobre a natureza jurí­ arma de fogo, deve ser considerado com muita cau­
dica do evento. tela, isto porque podem ocorrer algumas situações:

Situação reai Resultado


Existem partículas de chumbo na amostra, oriundas do disparo de arma de togo
Positivo verdadeiro.
pelo incriminado.
Existem partículas de chumbo na amostra, oriundas de disparo de arma de fogo Positivo verdadeiro, mas não
pelo incriminado, anterior ou posterior ao fato analisado. relacionado ao caso concreto.
Existem partículas de chumbo na amostra, oriundas de contaminação da
Falso positivo.
pessoa examinada.
Existem partículas de chumbo na amostra, oriundas de contaminação na coleta
Falso positivo.
ou no laboratório.
Inexistem partículas de chumbo na amostra porque o examinado reaimente
Negativo verdadeiro.
não disparou arma de fogo.
Existem partículas de chumbo na amostra, mas em concentração inferior ao
Falso negativo.
grau de sensibilidade do reativo.
Inexistem partículas de chumbo na amostra porque, embora o examinado tenha
Faiso negativo.
realmente atirado, as partículas não se depositaram nas mãos do atirador.
Inexistem partículas de chumbo na amostra porque o atirador examinado, de
Falso negativo.
algum modo, conseguiu eliminar a contaminação.
Negativo verdadeiro, mas falso em
Inexistem partículas na amostra porque o atirador usou Suvas.
relação à etiologia do evento.
Existiam partícuias de chumbo nas mãos do atirador, não detectadas por erro
Falso negativo.
na técnica de coleta.
Existem partículas de chumbo na amostra, não detectadas por erro na técnica
Falso negativo.
laboratorial.

É claro que o quadro acima é meramente exem- É claro que cada caso deve ser considerado se­
plificativo, e que os peritos criminais do Instituto de paradamente, já que existem inúmeras variações
Criminalística, dedicados profissionais, têm sempre decorrentes do tipo de arma e munição empregado.
o cuidado de proceder a uma análise qualitativa da Além disso, devemos atentar também para a exis­
amostra, descartando, de plano, eventuais fraudes tência de vestuário recobrindo a região atingida.
ou adulterações, bem como exercem um rígido Não raro, a pele acaba por receber apenas o projétil,
controle das técnicas laboratoriais, sempre buscan­ ficando todos os demais vestígios retidos nas tramas
do minimizar os resultados não verdadeiros. do tecido.
Entretanto, inúmeros fatores — a preserva­ Lamentavelmente nem sempre as roupas são
ção do local ou da região de interesse, desde o recolhidas e guardadas de maneira correta, o que
momento do disparo até o momento da colheita leva a inexorável prejuízo para a justiça. A espe­
do material; a justeza da arma de fogo utilizada; rada resposta, para a caracterização segura de um
o modo de empunhadura; a natureza ou idade da suicídio ou homicídio, deixa de ser obtida sim­
munição; a técnica de disparo; o uso de luvas pelo plesmente por desídia de quem deveria ter pre­
atirador e outros — fazem com que os ensaios re- servado as vestes do morto e não o fez.
siduográficos devam sempre ser considerados com Nos disparos decorrentes de projéteis múltiplos
cautela e cotejados com as demais provas existen­ de arma de fogo, como vimos, a distância pode ser
tes nos autos. determinada de acordo com a abertura do cone de
Medicina Legal II

dispersão. Também, e principalmente nesse caso, o c) lacerante;


perito somente poderá opinar se tiver em mãos a d) perfurante.
arma utilizada para a realização de disparos experi­
mentais e de comparação.
Sem a arma para análise, o máximo que o pe­
rito poderá informar é que se trata de disparo rea­
lizado encostado, a curta ou longa distância, nada
mais que isso.

QUESTÕES
D (DP/SP 03/88) Os projéteis de arma de fogo
produzem, habitualmente, orifícios de entrada:
(DP/SP 01/94B) Os projéteis de arma de fogo a) maiores que os de saída;
costumam produzir lesões: b) iguais aos de saída;
a) punctórias; c) menores que os de saída;
b) contusas; d) com as mesmas características dos de saída.
c) períurantes;
d) perfurocontusas.

(DP/SP 02/89) “Observa-se, no hemisfério


esquerdo, um ferimento circular de bordas
invertidas, escoriadas e equimóticas, circun­

(DP/SP 01/89) Um projétil de arma de fogo dado por um grande número de grânulos

provoca ferimento perfurocontuso: escuros incrustados na pele, espalhados por


uma área de cerca de 20 cm de diâmetro”. O
a) somente na pele e no local de entrada;
ferimento descrito corresponde ao de:
b) somente em tecidos moles;
a) entrada de projétil de arma de fogo, em
c) em qualquer órgão ou tecido que ele penetrar;
tiro encostado;
d) somente na pele, nos locais de entrada e saída.
b) saída de projétil de arma de fogo, em tiro
encostado;
c) entrada de projétil de arma de fogo, em
tiro a curta distância;
d) entrada de projétil de arma de fogo, em
tiro a longa distância.

(DP/SP 02/90) Penetrando o abdômen da ví­


tima um projétil de fuzil, ao atravessar o baço,
ele provoca um ferimento:
a) punctório;
b) perfurocontuso;
CursoSConcurso

o uso desses projéteis foi abandonado pelo


(DP/SP 01/90) Não se pode estimar o ângulo
FBI. Essa decisão foi justificada pela seguinte
da trajetória do projétil de arma de fogo, em
falha dos projéteis:
relação ao corpo da vítima, pela:
a) tinham pouca energia cinética;
a) trajetória do projétil dentro do corpo;
b) transferiam pouca energia cinética para
b) forma da orla de contusão e enxugo;
o alvo;
c) forma de zona de tatuagem;
c) as cargas dos projéteis não explodiram;
d) forma do orifício de saída.
d) seu fluxo de energia para o alvo era rápido
demais;
e) seu calibre teria que ser maior.

(DP/SP 02/90) Comparando-se o orifício de


entrada de projétil de arma de fogo, em tiro
a distância, com o instrumento que o produ­ (DP/RJ — 2001) Os fabricantes de armas de
ziu, verifica-se, geralmente, que o diâmetro fogo são capazes de aumentar ou de diminuir
daquele em relação ao deste é: a quantidade de energia cinética transferida
a) menor, devido à elasticidade da pele da para o alvo pelos projéteis. Para isso, usam de
vítima; artifícios vários na sua construção. Analise os
b) menor, devido à deformação do projétil fatores a seguir:
ao atingir a vítima; 1) ponta mole;
c) maior, devido à explosão da pele ao im­ 2) ponta afilada;
pacto do projétil; 3) baixa deformabilidade;
d) maior, devido à elasticidade da pele da 4) ponta oca;
vítima. 5) ponta aplanada;
6) forma aerodinâmica;
7) alta rotação;
8) fenestração da camisa metálica na ponta.
Contribuem para o aumento do poder de para­
da de um projétil somente os seguintes fatores:
a) 1,2,3,5;
b) 1,2,6,7;
Q (DP/RJ — 2000) Em 1986, dois agentes do
oo

c)
FBI, em Miami, trocaram tiros com margi­
d) 2,4, 6, 8;
nais e os acertaram no tórax, em região mor­
e) 3,4,5,7.
tal, com projéteis do tipo devastador, que
são deformáveis e explosivos ao atingirem
o alvo. Contudo, apesar de causarem feridas
extensas, não penetraram o suficiente para
lesar as vísceras. Embora caídos, os bandi­
dos revidaram, matando ambos os policiais.
Pouco tempo depois, foi feita uma reunião e

36
Medicina Legal II

| Q (DP/RJ — 2001) Na guerra entre bandos de [ Q (DP/SP 02/88) O que se encontra nos feri­
traficantes de drogas, é comum o uso de armas mentos produzidos por disparo de arma de
de guerra, tais como fuzis AR-15 e AK-47. fogo encostada?
Sabendo-se que o primeiro usa projéteis de a) Área de esfumaçamento.
5,56 mm, pesando 3,6 g, disparados a 977 m/s; b) Área de chamuscamento.
e que o outro usa projéteis de 7,62 mm, pe­ c) Halo de enxugo.
sando 7,9 g, disparados a 710 m/s, assinale a
d) Câmara de mina de Hoffmann.
afirmativa incorreta relativa às lesões por eles
produzidas no corpo humano:
a) Os orifícios de entrada de ambos podem
ter diâmetro menor, igual ou maior que o
seu calibre.
b) Ambos formam cavidades temporárias
pulsáteis ao longo do trajeto.
c) Os projéteis do AR-15 apresentam maior ten­
dência a se fragmentar ao longo do trajeto. (DP/SP 01/95) Em ferimento por arma de
d) As lesões de saída do AR-15 têm diâmetro fogo, não é produzida pela ação do projétil a:
menor que as do AK-47. a) câmara de mina de Hoffmann;
e) O diâmetro das lesões de saída de ambos b) aréola equimótica;
depende do comprimento do trajeto. c) orla de enxugo;
d) orla de contusão.

Disparos encostados
[ Q j (DP/SP 01/88) Em relação aos ferimentos
por projéteis de arma de fogo, pode-se dizer Q jy | (DP/SP 01/00) A câmara de mina de Hoffmann:
que a característica mais evidente de tiro en­ a) já pode ser notada ao exame externo do
costado é: cadáver;
a) o ferimento perfurocontuso de borda cir­ b) só pode ser observada ao exame de ossos
cular regular; do crânio;
b) a presença de zona de tatuagem; c) só pode ser observada ao exame interno
c) a presença de orlas de enxugo e contusão; do cadáver;
d) a existência de câmara de mina de Hoffmann. d) só pode ser observada ao exame por raio X.
CursoSConcurso

(DP/SP 05/93) É conhecido(a) como sinal c) esfumaçamento na superfície óssea;

Werkgartner: d) zona de tatuagem sobre o couro cabeludo.

a) a orla de escoriação e de arrancamento da


epiderme motivada pelo movimento ro­
tatório do projétil antes de atingir e pene­
trar no corpo da vítima;
b) o desenho da boca da arma e da alça de mira
impresso na pele, nos tiros encostados;
c) ferimento de forma ovalada ou arredon­
dada dos ferimentos produzidos por pro­
(DP/SP 01/91 e DP/SP 02/91) Externamente,
jéteis disparados a distância; a câmara de mina de Hoffmann costuma ter
d) a tonalidade cinzenta deixada pela zona aspecto:
de esfumaçamento ao redor do ferimento a) circular;
nos tiros a pequena distância.
b) elíptico;
c) afunilado;
d) estrelado.

(DP/SP 01/95) O sinal de Werkgartner é en­


contrado nos ferimentos:
(DP/SP 02/91 e DP/SP 03/91) Ferimento per­
a) por instrumento contundente; furocontuso de aspecto estrelado, produzido
b) por agentes térmicos; pela entrada de projétil de arma de fogo, indi­
c) de entrada produzidos por disparo de ca que o disparo foi:
arma de fogo à curta distância; a) a longa distância;
d) de entrada nos disparos encostados. b) à queima-roupa;
c) a curta distância;
d) encostado.

(DP/SP 01/03) O médico-legista pode de­


duzir que o tiro foi disparado com a boca do (DP/SP 01/93) Lesão perfurocontusa, com as­
cano da arma encostada ou apoiada na cabeça pecto estrelado, produzida por arma de fogo,
da vítima ao observar: indica que o tiro foi disparado:
a) hematoma subcutâneo; a) a curta distância;
b) zona de esfumaçamento sobre a pele; b) a longa distância;
Medicina Legal II

c) com munição “stopping power”; b) zona de tatuagem;


d) encostado. c) orla de enxugo;
d) câmara de mina de Hoffmann.

Disparos próximos
(DP/SP 04/92 e DP/SP 01/94B) Em ferimen­ Disparos a distância
tos de entrada de projétil de arma de fogo, em
M (DIVSP 01/91) Um ferimento produzido por
tiro a curta distância, observamos:
projétil de arma de fogo disparado a distância
a) somente orlas; é caracterizado por:
b) somente zonas; a) orla de contusão, zona de enxugo e zona
c) orlas e zonas; de tatuagem;
d) o sinal de Werkgartner. b) orla de contusão, aréola equimótica e zona
de enxugo;
c) zona de tatuagem, zona de esfumaçamen­
to e aréola equimótica;
d) zona de enxugo, aréola equimótica e zona
de esfumaçamento.

| j j j j (DP/SP 07/93) Levando-se em conta a distân­


cia do disparo produzido por arma de fogo,
podemos observar nas lesões causadas por
tiro próximo:
a) apenas o orifício de entrada;
b) apenas orla de contusão;
(DP/SP 03/91) No ferimento provocado pela
c) apenas orla de enxugo;
entrada de projétil de arma de fogo, a orla de
d) orifício, orlas e zonas de tatuagem e esfu­
contusão e enxugo:
maçamento.
a) caracteriza o ferimento perfurocontuso;
b) revela que o tiro foi a longa distância;
c) comprova que o tiro foi a curta distância;
d) indica que o tiro foi encostado.

(DP/SP 04/88) Em ferimento provocado por


tiro a curta distância ou à queima-roupa,
como regra geral, não se observa:
a) orla de contusão;
Cursc££oncurso

Orlas e zonas g g j (DP/SP 04/88 e DP/SP 06/91) No ferimento


26 (DP/SP 06/91) Num ferimento perfurocontuso, de entrada de projétil de arma de fogo sempre
o projétil da arma de fogo produz: se observa:
a) orlas; a) halo de chamuscamento;
b) zonas; b) zona de tatuagem;
c) orlas e zonas; c) zona de esfumaçamento;
d) somente o orifício. d) orla de contusão.

Contusão e enxugo
(DP/SP 04/90) A presença de orla de contusão |J| (DP/SP 02/93) Em ferimentos produzidos
e de enxugo ao redor de um orifício mais ou por projéteis de arma de fogo em tiros a dis­
menos circular na pele permite afirmar que o tância ou à queima-roupa observa-se:

ferimento certamente foi produzido por: a) orla de contusão;

a) tiro a longa distância; b) falsa tatuagem;

b) tiro a curta distância; c) tatuagem verdadeira;

c) tiro encostado; d) zona de chamuscamento.

d) instrumento perfurocontundente.

(DP/SP 02/92) Num ferimento por projétil


(DP/SP 03/89) Orla de contusão e enxugo é
de arma de fogo, é produzida pelo próprio
característica de ferimento:
projétil a:
a) contuso;
a) zona de tatuagem;
b) punctório;
b) zona de falsa tatuagem;
c) inciso;
c) zona de chamuscamento;
d) perfurocontuso.
d) orla de contusão.
Medicina Legai II

(DP/SP 04/89) Não é elemento indicativo de (DP/SP 04/92) Circundando o orifício de en­
tiro a curta distância a: trada da bala observamos uma estreita faixa
a) zona de tatuagem; desprovida da camada epidérmica. Trata-se,

b) orla de enxugo; evidentemente, da(o):

c) zona de chamuscamento; a) aréola equimótica;

d) zona de esfumaçamento. b) orla de escoriação;


c) halo hemorrágico;
d) halo de fuligem.

g j g j (DP/SP 01/89, DP/SP 01/90 e DP/SP 05/91)


Orla de contusão e de enxugo:
a) não ocorre em ferimento de entrada de |j|||j (DP/SP 07/93) Ao arrancamento da epider­
bala, em tiro encostado; me e desnudamento da derme provocado por
b) não ocorre em ferimentos de entrada de atrito, ocorrendo formação de crosta sero-he-
bala, em tiros encostados e à queima-roupa; mática, denominamos:
c) não ocorre em ferimento de entrada de a) equimose;
bala, em tiro à queima-roupa;
b) escoriação;
d) é encontrado em redor do orifício de en­ c) hematoma;
trada de bala, em tiro a qualquer distância.
d) bossa.

Escoriação
Chamuscamento
£jj|j2 (DP/SP 01/89) Em seu laudo, o médico-legista
jjjlllj (DP/SP 01/92) Não é produzida pela ação do
refere-se ao “anel de Fisch” por tratar-se, evi­
projétil de arma de fogo:
dentemente, de:
a) a orla de contusão;
a) ferimento perfurocontuso;
b) marca de algema; b) a orla de enxugo;

c) sinal de esganadura; c) a escoriação;

d) ferimento punctório. d) a zona de chamuscamento.

41
CurstéConcurso

Esfumaçamento (DP/SP 03/90) Não é produzida diretamente pela


(DP/SP 04/93) Observou-se ao redor do ori­ ação do instrumento perfurocontundente a:
fício de entrada do projétil uma área aproxi­ a) orla de contusão;
madamente circular, com cerca de 10 cm de b) orla de enxugo;
diâmetro, recoberta por um induto cinzento
c) equimose;
enegrecido, que foi removido, com certa fa­
d) zona de esfumaçamento.
cilidade, com uma esponja embebecida em
água com sabão. Tratava-se, evidentemente, da:
a) área equimótica;
b) zona de esfumaçamento;
c) orla de enxugo;
d) zona de tatuagem.

Tatuagem e falsa tatuagem


(DP/SP 02/94) Grânulos de pólvora não quei­
mada e de carvão produzem, em ferimentos
por projéteis de arma de fogo:

|j| (DP/SP 02/90) Nos ferimentos por projéteis a) orla de enxugo;


de arma de fogo, pode-se eliminar com água e b) zona de tatuagem;
sabão: c) zona de falsa tatuagem;
a) a zona de tatuagem; d) zona de chamuscamento.
b) a zona de esfumaçamento;
c) a zona de chamuscamento;
d) a aréola equimótica.

Hy||| (DP/SP 03/92) Não é produzido(a) diretamen­


te peio projétil de arma de fogo:
g ^ g (DP/SP 03/88) A zona de esfumaçamento cos­ a) a oria de contusão;
tuma ser encontrada nos ferimentos produzi­ b) a orla de enxugo;
dos por projétil de arma de fogo disparado: c) o sinal de funil de Bonnet,
a) encostado;
d) a zona de tatuagem.
b) a curta distância;
c) a longa distância;
d) através de uma superfície suja.

j j g (DP/SP 03/89, DP/SP 02/90 e DP/SP


04/90) Verifica-se a formação de zona de

42
Medicina Legal II

tatuagem ao redor do ferimento perfuro­ J 2 j | (DP/SP 06/91, DP/SP 02/92 e DP/SP 03/92)
contuso, quando o tiro, em relação ao alvo, Falsa tatuagem, em ferimentos por projéteis
é disparado: de arma de fogo, corresponde à:
a) a curta distância; a) zona de chamuscamento;
b) a longa distância; b) orla de enxugo;
c) encostado; c) aréola equimótica;
d) a qualquer distância. d) zona de esfumaçamento.

6IS9R&SBB9
(DP/SP 01/94A) Em ferimentos por projétil
gjgjj (DP/SP 06/93) A falsa tatuagem nos feri­
de arma de fogo, a fumaça produzida pela
mentos por projétil de arma de fogo é pro­
queima da pólvora é responsável pela for­
duzida por:
mação da:
a) impurezas que recebem o projétil;
a) orla de enxugo;
b) fumaça resultante da queima de pólvora;
b) zona de chamuscamento;
c) chama resultante da queima da pólvora;
c) falsa tatuagem;
d) grânulos de pólvora e de carvão.
d) câmara de mina de Hoffmann.
Capítulo

Sexologia Forense

A sexologia forense é o ramo da medicina legal


2. SEXO GENÉTICO
que se dedica ao estudo dos fenômenos relacionados
com a reprodução humana, desde a concepção até o O ser humano possui 46 cromossomos, divi­
puerpério. didos em 22 pares autossômicos e um sexual, que
Segundo Bonnet( 1993, p. 1007), a sexologia é a determinam as seguintes fórmulas genéticas:
disciplina científica que estuda as questões relacio­
nadas com o sexo em seus aspectos médicos, jurídi­ Homem 44A + XV
cos, filosóficos e sociológicos. Para o mesmo autor,
Mulher 44A + XX
a sexologia médico-legal ou forense nada mais é que
o ramo da medicina legal que estuda a solução dos
problemas jurídicos que o sexo pode suscitar. Cada gameta, portanto, carreará a metade da
carga genética, apresentando as fórmulas abaixo,
1. CONCEITO DE SEXO que determinam o chamado sexo cromossômico:

Na verdade não podemos mais falar em sexo ou


Óvulos 22A + X
sexos sem ter em mente um conceito integrado com
vários fatores parciais. O sexo, pois, deve ser analisado 22A + X
Espermatozóides
em seus diversos aspectos, segundo o quadro abaixo: 22A + Y

cromossômico
genético A ilustração a seguir mostra o cariótipo mas­
cromatínico
culino normal:
endócrino
interno
Sexo propriamente dito
morfológico externo
dinâmico ou copuiativo

psicológico

jurídico
Medicina Legal II

Além do sexo cromossômico, temos o sexo cro- 2.1. Síndrome de Tumer


matínico ou sexo nuclear. Os núcleos das células dos
indivíduos cromossomicamente femininos são do­ Atinge as pessoas do sexo feminino, embora os

tados de um corpúsculo cromatínico, descrito pela afetados não possuam cromatina sexual. É carac­
primeira vez pelo pesquisador inglês Murrey Barr terizada pela presença de 45 cromossomos, sendo
em 1949 e por isso denominado corpúsculo de Barr. que, do par dos cromossomos sexuais, há apenas
Posteriormente comprovou-se que esses corpúscu­ um X (44A + X). É uma anomalia rara, atingindo
los nada mais eram que um dos cromossomos X> uma a cada três mil mulheres normais.
que, na interfase, se espiralava e ficava inativo. São mulheres geralmente estéreis, de ovários
Dentre as principais alterações genéticas ligadas atrofiados, baixa estatura e que não desenvolvem
ao sexo (aneuploidias sexuais) temos a síndrome de os caracteres sexuais secundários por deficiência de
Tumer, a síndrome de Klinefelter e a polissomia dos cro­ estrógenos. Não costumam apresentar desvios de
mossomos sexuais. personalidade.

45
CursoSConcurso

2.2. Síndrome de Klinefelter a tal ponto que alguns autores chegaram a denomi-
ná-lo “síndrome da criminalidade”. Tal fato, entre­
Ocorre em indivíduos do sexo masculino que
tanto, não é aceito pacificamente pela comunidade
apresentam um dos seguintes cariótipos: XXY (44A
científica internacional.
+ XXY — ilustração), XXYY (44A + XXYY), XXXY
(44A + XXXY),XXXYY (44A + XXXYY) ouXXXXY
2.3.?. Aneuploidias autossômicas
(44A + XXXXY). A frequência é de um para qui­
nhentos nascidos do sexo masculino. Outras alterações, como a síndrome de Down,
Fisicamente, são homens de estatura elevada, síndrome de Edwards e a síndrome de Patau> embora
com mamas hipertrofiadas (ginecomastia) e voz de origem genética, não apresentam ligação com os
fina. O pênis é pouco desenvolvido e, muito embora cromossomos sexuais, atingindo os pares autossô-
consigam ter ereção e ejaculação, são normalmente micos. São sempre trissomias, atingindo os pares
estéreis por não produzir espermatozoides. 2 1,18 e 13, respectivamente.

Além dessas alterações de caráter sexual, apresen­


tam uma discreta diminuição da capacidade mental. 2.4. Síndrome de Down
A síndrome de Down ou trissomia do cromosso­
mo 21 é, sem dúvida, o distúrbio autossômico mais
comum e a mais freqüente forma de deficiência
mental congênita, ocorrendo na proporção de um
para cada setecentos nascimentos normais. O por­
tador da síndrome de Down possui 47 cromossomos,
sendo o cromossomo extra ligado ao par 21 (44A +
XX + 21 ou 44A + XY + 21).

9 10 11 12 13 14 15 16

1 2 3 4 5 6 7 8

2.3. Políssomia dos cromossomos


sexuais
Dentro do capítulo da polissomia dos cromos­ 9 10 11 12 13 14 15 16

somos sexuais, temos as mulheres triplo, tetra e penta


X, caracterizadas por fenótipo normal, mas com graus
crescentes de retardamento mental (44A + XX + nX).
Também nessa categoria vamos encontrar
os homens duplo Y (44A + XYY), conhecidos como
“supermachos”, que aparecem na frequência de um Além da deficiência mental moderada, os afeta­
por mil nascimentos. Fenotipicamente não há alte­ dos têm baixa estatura e braquicefalia (crânio pouco
rações perceptíveis, salvo uma estatura pouco mais alongado), com o occipital achatado. O pavilhão das
elevada que a normal. Há estudos que buscam ligar orelhas é pequeno e dismórfico. A face é achatada e
comportamentos violentos a esse tipo de cariótipo, arredondada, os olhos mostram fendas palpebrais e

46
Medicina Legal I!

exibem manchas de Brushfield ao redor da margem camente grave e letal em quase todos os casos, com
da íris. A boca é aberta, muitas vezes mostrando a sobrevida de, no máximo, 6 meses de idade.
língua sulcada e saliente. O fenótipo inclui malformações severas do
As mãos são curtas e largas, frequentemente com sistema nervoso central. Um retardamento men­
uma única prega palmar transversa ("prega simiesca”). tal acentuado está presente. Em geral há defeitos
cardíacos congênitos e urogenitais. Com frequên­
2.5. Síndrome de Edwards cia encontram-se fendas labial e palatina, anorma­
lidades oculares, polidactilia, punhos cerrados e
A Síndrome de Edwards ou trissomia do cromos­
plantas arqueadas.
somo 18 (44A + XX + 18 ou 44A + XY + 18), com fre­
quência de um para oito mil nascimentos, tem como
manifestações retardamento mental, atraso do cresci­
mento e, às vezes, malformações cardíacas graves.
O afetado apresenta microcefalia, com a região
occipital extremamente alongada. O pavilhão das
orelhas é dismórfico e de implantação baixa. A boca
é pequena. O pescoço é curto. Estão presentes de­
ficiências visuais severas. Há uma grande distância
entre os mamilos (intermamilar). Os genitais exter­
nos são anômalos. O dedo indicador é maior do que
os outros e flexionado sobre o dedo médio. Os pés
têm as plantas arqueadas. As unhas costumam ser in­
completas (hipoplásticas). A idade materna avançada
tem sido um dos fatores apontados como causa de­
17 18 19 20 21 22 X V
terminante da ocorrência da síndrome.

3. SEXO ENDÓCRINO
O sexo endócrino é determinado basicamen­
te pelas gônadas ou glândulas reprodutoras e por
outras glândulas, como a tireoide e a hipófise, que,
em menor grau, também interferem nos fenômenos
orgânicos relacionados com o sexo.

P O sexo gonâdico aparece logo no início da vida


intrauterina, ao redor dos 40 a 45 dias, em decor­
rência da transformação masculina ou feminina de­
terminada pelo sexo cromossômico sobre a gônada
inicial indiferenciada (Bonnet, 1993, p. 1011).

Antes da determinação do sexo gonádico, o


embrião é sempre morfologicamente feminino, e o
processo de masculinização depende da produção
2.6. Síndrome de Patesu hormonal do testículo ainda na fase fetal.

A síndrome de Patau ou trissomia do cromosso­ O quadro a seguir mostra a constituição hormo­


mo 13 (44A + XX + 13 ou 44A + XY + 13) é clini­ nal básica de cada sexo (apud Bonnet, 1993, p. 1012).
CursoSConetirso

apresentar repercussão psicológica. Somados aos


Sexos
Glândulas aspectos de natureza orgânica, unem-se outros, ex­
Masculino Feminino
ternos, de ordem social, religiosa, familiar ou edu­
Estrógeno
cacional que determinam o comportamento sexual
__ Progesterona
Ovários do indivíduo. Esses fatores combinados podem levar
Andrógenos
urinários tanto ao desenvolvimento de um comportamento
característico de cada sexo como originar um sem-
Testículo Testosterona —
-número de desvios patológicos (ver item 7).
17 Cetosteroides 17 Cetosteroides
Corticosteroides Corticosteroides
Suprarrenai
Andrógenos Andrógenos 6. SEXO JURÍDICO
urinários urinários
Lóbulo anterior Sexo jurídico é aquele constante do registro civil,
Gonadotropina Gonadotropina
da hipófise normalmente baseado em declaração dos pais e
testemunhas, podendo ocorrer erros provocados
4. SEXO MORFOLÓGICO dolosamente ou mesmo em decorrência da presen­
ça de estados intersexuais, por exemplo, o pseudo-
A morfologia ou aparência dos órgãos genitais
-hermafroditismo.
internos e externos nos indivíduos normais é bas­
tante evidente e diferenciada, não dando margem a
erros. Há, entretanto, estados patológicos (interse- 7. TRANSTORNOS DO INSTINTO
xuais) em que podem surgir dúvidas. SEXUAL
Bonnet (1993, p. 1015) fala ainda em diferenças
Elemento dos mais importantes na determina­
relacionadas com a mecânica da cópula, que o autor
ção da personalidade humana, o sexo — e particu­
denomina sexo dinâmico ou copulativo, indicando
larmente o comportamento sexual — é, ainda, um
que as fases do ato sexual diferem sensivelmente de
dos temas mais delicados e controvertidos da atua­
acordo com o sexo, e que a insuficiência ou ausência
lidade, com grande repercussão na área jurídica.
entre essas etapas pode levar ao insucesso da con­
As inúmeras diferenças biológicas, que se exte-
junção carnal.
riorizam nos aspectos psicológico e comportamen-
tal, atingem o patrimônio genético, a anatomia e a
Homem Mulher
endocrinologia.
Excitação Excitação
A determinação do sexo (jurídico), bem como
Ereção Apresentação e lubrificação seu reconhecimento como fator modificador das

Penetração Recepção capacidades civil e criminal, são exemplos de alguns


dos temas polêmicos e não pacificados que vêm
Movimento Ereção
ocupando a mente dos legisladores e juristas através
Orgasmo Movimento da história.
Ejaculação Orgasmo Na medicina legal apresenta particular impor­

Relaxamento Relaxamento tância a questão dos transtornos sexuais.

Segundo o DSM — IV (Manual diagnóstico e


estatístico dos transtornos mentais), da Associação
5. SEXO PSICOLÓGICO
Psiquiátrica Americana, os transtornos sexuais en­
Como vimos, há uma série de fatores ligados ao globam as disjunções sexuais, os transtornos da iden­
sexo que, de uma maneira ou de outra, acabam por tidade de gênero e as parafilias:

48
Medicina Legai il

transtorno do desejo sexual hipoativo


transtorno de aversão sexual
transtorno da excitação sexual feminina
transtorno erétií masculino
transtorno orgásmico feminino
transtorno orgásmico masculino
disfunções sexuais
ejaculação precoce
dispareunia
vaginismo
transtorno decorrente de uma
condição médica geral
disfiinção sexual induzida por substância

Transtornos transtornos da identidade transexualismo


sexuais de gênero homossexualismo egodistônico

exibicionismo
fetichismo
frotteurismo
elencadas no pedofilía
DSM — IV masoquismo
parafilias sadismo
voyeurismo ou mixoscopia
parafilias sem outra especificação

outras parafilias, apontadas na doutrina médico-Iegai,


e novas terminologias

7.1. Disfunções sexuais recorrente de manter uma resposta de ex­


citação sexual de lubrificação e turgescên-
Neste primeiro grupo temos as perturbações do cia até a conclusão do ato sexual;
desejo sexual ou as alterações psicofisiológicas do ci­ d) transtorno erétil masculino, que se traduz
clo de resposta sexual que conduzem a uma total in­ pela incapacidade de ter ou manter a ere­
capacidade copulativa ou a uma redução na qualida­ ção pelo tempo necessário à conclusão do
ato sexual;
de do impulso sexual, levando a sofrimento acentua­
e) transtorno orgásmico feminino (antigo or~
do e a dificuldades no relacionamento interpessoal.
gasmo feminino inibido), caracterizado pelo
Podemos citar como disfunções sexuais: atraso ou inexistência de orgasmo após a
a) transtorno de desejo sexual hipoativo, carac­ normal fase de excitação sexual;
terizado por uma persistente diminuição f) transtorno orgásmico masculino {antigo or­
do impulso sexual ou da libido que não gasmo masculino inibido), que se manifes­
pode ser atribuída a outra origem, como ta pelo atraso ou inexistência de orgasmo
depressão, por exemplo; após a normal fase de excitação sexual;
b) transtorno de aversão sexual no qual o pa­ g) ejaculação precoce, que se traduz pelo orgas­
ciente tende a evitar, esquivar-se do conta­ mo ou ejaculação, persistente ou recorrente,
to sexual genital com o parceiro; que ocorre com um estímulo sexual mínimo,
c) transtorno da excitação sexual feminina, evi­ antes ou logo após a penetração ou, de qual­
denciada por incapacidade persistente ou quer modo, sem que o paciente a deseje;
CursoSConcurso

h) âispareunia, evidenciada por dor genital homossexual mostra-se descontente com sua situação
recorrente, relacionada com o intercurso e procura a terapia, quer para superar a insatisfação,
sexual e não provocada, nas mulheres, por quer para modificar o padrão de comportamento.
vaginismo ou lubrificação insuficiente e,
nos homens ou mulheres, por outras cau­
sas físicas. Embora a dor seja mais comu- 7.3. Parafilias
mente experimentada durante a cópula,
pode ocorrer antes ou depois; Finalmente, temos as parafilias, também co­
i) vagin ismo, indicado por contração involun­ nhecidas como anomalias, desvios sexuais ou per­
tária (espasmódica) recorrente ou persis­ versões, termos que devem ser utilizados somente
tente, dos músculos do períneo próximos em contexto jurídico, evitando-se seu emprego em
ao terço exterior da vagina, sempre que sentido discriminatório.
tentada a penetração pelo órgão masculino,
Não há um consenso entre os autores a respeito
dedo, tampão ou espéculo e que não pode
de quais sejam as aberrações, quais os simples desvios
ser atribuída a outra causa física;
j) transtorno decorrente de uma condição mé­ do instinto sexual sem maior importância ou mesmo
dica geral, evidenciada por uma disfunção quais as práticas consideradas normais, até porque é
sexual significativa e que claramente é se­ correto admitir que se possam incorporar novos ele­
cundária a uma entidade mórbida primá­ mentos, formas de expressão e satisfação, de modo a
ria, física ou psíquica, por exemplo, hiper­ enriquecer e atingir a plenitude da vida sexual.
tensão, diabetes, hipotireoidismo, depres­
Nessa busca incansável pelo prazer, podem estar
são ou dependência química; e
presentes novos interesses e desejos, elementos que
k) disfunção sexual induzida por substância,
caracterizada por uma disfunção clinica- possibilitam o crescimento e o desenvolvimento de
mente significativa, que leva a acentuado uma vida sexual sadia. Nessa procura podem estar
sofrimento ou dificuldade interpessoal, presentes elementos que compõem os comporta­
plenamente explicada por efeito fisiológi­ mentos desviantes, como desejos de sexo alternativo
co direto de um fármaco. ao coito vaginal. É necessário compreender que não
são esses temperos que caracterizam o comporta­
7.2. Transtornos da identidade de mento desviante e que sua presença na vida sexual é
gênero e homossexualismo mais aconselhável que reprovável.
A sexualidade alcança níveis de anormalidade
No transtorno da identidade de gênero propria­
ou desvio apenas quando não há uma flexibilidade
mente dito ou transexualisfho, existe uma forte e
no desejo, quando a expressão, a satisfação e o pra­
persistente insatisfação com o próprio sexo, acom­
zer só podem ser obtidos mediante práticas especí­
panhada de uma identificação com o gênero oposto.
ficas e determinadas, dirigidas a uma modalidade
O indivíduo possui corpo masculino, mas tem sexual atípica, objetos inanimados ou animais.
o desejo de ser ou até mesmo insiste que pertence ao
Além disso, é preciso considerar as convenções
gênero feminino (transexual de homem a mulher), sociais e o momento histórico. Determinadas práti­
ou apresenta caracteres sexuais femininos, mas sen­ cas como o homossexualismo ou a masturbação já
te-se como homem (transexual de mulher a ho­ foram consideradas sérios distúrbios e atualmente
mem), chegando, inclusive, à transformação sexual são tidas como mera expressão da sexualidade (ver
cirúrgica. O transexual é um inconformado com o item 7.4: “Adequação e inadequação sexual”).
seu estado sexual e não admite ser um homossexual
De modo geral, as parafilias são atividades
A homossexualidade (preferência pelo mesmo caracterizadas “por anseios, fantasias ou compor­
sexo) não é mais aceita como desvio sexual ou anorma­ tamentos sexuais recorrentes e intensos que envol­
lidade, antes correspondendo a um modo de expressão vem objetos, atividades, ou situações incomuns e
sexual alternativa. Exceção deve ser feita em relação causam sofrimento clinicamente significativo ou
à forma egodistônica (CID — 10-F 66.1), em que o prejuízo no funcionamento social ou ocupacional

50
Medicina Legai H

ou em outras áreas importantes da vida do indiví­ sexuais e não pode ser diagnosticado quando vem
duo” (DSM— IV, p. 467). A pessoa, para obter pra­ associado a um quadro de transtorno de identidade
zer sexual, vale-se de fantasias ou comportamentos de gênero (transexualismo).
aberrantes, quase de forma exclusiva, fator este que
caracteriza o quadro como desviante.
7.3.3. Frotteurismo
O DSM — IV elenca, no capítulo das parafi­
lias, apenas oito quadros bem conhecidos e aceitos: Distúrbio do comportamento sexual caracte­
exibicionismo, fetichismo e fetichismo transvéstico, rizado pela necessidade de tocar ou esfregar-se em
frotteurismo, peâofilia, masoquismo sexual sadismo outra pessoa. A prática ocorre geralmente em locais
sexual, sadomasoquismo e voyeurismoy colocando públicos ou de grande concentração de pessoas, em
todas as demais sob a denominação de parafilias que pode passar despercebida. Ê mais freqüente en­
sem outra especificação. tre os 15 e os 25 anos de idade.

A Classificação Internacional de Doenças (CID-


10) não varia muito do preconizado pelo DSM— IV, 7.3.4. Pecfofi/ja, adolescentilismo
mas inclui as parafilias em uma seção diferente das e hebefsêia
tradicionais em sexologia, razão pela qual poderão
Predileção pela prática de ato sexual com crian­
existir modificações na próxima revisão (Serrano,
ças. Pode ser hétero ou homossexual.
2002, p. 19).
De se observar que as classificações e as nomen­ O adolescentilismo é a atração sexual quase que

claturas normalmente utilizadas pelos livros de me­ exclusiva por adolescentes, e a hebefilia, a preferên­

dicina legal são bastante arcaicas. cia por adolescentes do sexo masculino entre 10 e
16 anos. Também pode ser hétero ou homossexual.
Esses distúrbios são um verdadeiro problema
7.3. L Exibicionismo ou apodisofáa
de polícia judiciária, principalmente após o adven­
Os exibicionistas geralmente expõem a genitá- to da Internet, pois constituem um público-alvo de
lia ou as partes pudendas apenas pelo prazer incon- prostituição e pornografia infantil.
trolável de fazê-lo. São conhecidas, por exemplo,
as famosas “chispadas”, em que adolescentes nus
7.3.5. Masoquismo
praticam corridas rápidas pelas ruas ou aparecem
diante de câmeras de televisão. O termo deriva das obras de Leopold von Sa-
cher-Masoch (1835-1895), que descrevem variadas
fantasias eróticas ligadas à dor e ao sofrimento. O
7.3.2. Fetichismo e fetichismo
masoquismo representa, assim, o prazer sexual ob­
transvéstico
tido pelo sofrimento físico ou moral.
Excitação anormal e predileção por determina­ A algofilia, mencionada por alguns, não é uma
das partes do corpo do parceiro ou ainda por objetos e parafilia, pois, apesar de indicar a busca mórbida
pertences da pessoa amada, como suas peças íntimas. por sensações dolorosas, distingue-se do masoquis­
O fetichismo pode se manifestar de várias for­ mo pela ausência de qualquer caráter erótico.
mas, constituindo parafilias específicas, por exem­
plo: amaurofilia, ballooning, BBW, flagelatismo,
7.3.6. Sadismo
trampling, parcialismo e outras.
Existe uma forma específica, que é o fetichismo Caracteriza-se pelo excesso de crueldade e pra­
transvéstico>caracterizada pelo ato de vestir-se com zer sexual obtido pelo sofrimento imposto ao parcei­
roupas do sexo oposto como forma de obter excita­ ro. O termo deriva de Donatien Alphonse François de
ção sexual. O fetichismo transvéstico é um transtorno Sade (1740-1814), o “Marquês de Sade”, autor fran­
que tem sido descrito apenas em homens heteros-, cês cujas obras, ainda hoje consideradas por alguns
CursoSConcurso

como obscenas, descrevem toda a sorte de desvios se­ Finalmente, na necrofilia por semelhança incluem-se
xuais ligados à humilhação e ao tormento do parceiro. os casos de pigmalionismo, hipnofilia, A.S.F.R. e do-
lismo (ver quadro que inicia na página seguinte).

7.3.7. Sadomasoquismo ou passiofilia Uma forma particular de necrofilia é a pedone­


crofiUa>em que há predileção pelo uso de cadáver de
Similar às formas anteriores, o sadomasoquismo criança como objeto sexual.
conjuga em um único indivíduo a satisfação sexual por
provocar dor no parceiro e também em si mesmo. 7.3.9.3. Clismafilia
Forma de sadismo consistente em retirar pra­
7.3.8. Voyeurismo ou mixoscopia zer do ato de administrar enemas ao parceiro.

Ê a prática consistente em retirar prazer da sim­


7.3.9.4. Parcialismo
ples contemplação, geralmente sorrateira, do ato se­
xual praticado por outras pessoas. Espécie de fetichismo em que o foco de prazer
concentra-se em uma parte específica do corpo (ver
Formas de voyeurismo podem ser identificadas
topo-inversão).
na candalagnia ou canâaulismo (prazer em assistir a
cópula do parceiro com terceira pessoa) e na troca
de casais. 73.9.5. Bestialismo, zoolagnia, zoofilismo, zoofilia e
zooerastia
O bestialismoy zoofilismo ou zoolagnia são termos
7.3.9. Parafilias sem outra
que englobam as práticas de atos libidinosos com
especificação
animais (zoofilia) ou o ato sexual em si (zooerastia).
Dentro da categoria das parafilias sem outra espe­
cificação, vamos encontrar comportamentos que não 7.3.9.6. Coprofilia
satisfazem os critérios para qualquer das categorias es­ Prazer sexual mórbido em apreciar o ato de de-
pecíficas. O DSM — IV elenca, exemplificativamente: fecação ou mesmo ter contato físico ou ingerir as
fezes do parceiro.
7.3.9.1. Escatologia telefônica
Forma de coprolalia em que há prazer no fato 73.9.7. Urofilia, urolagnia e ondinismo
de proferir obscenidades pelo telefone. Prazer sexual em contemplar o parceiro no ato
da micção ou em apenas ouvir o barulho da urina
caindo no vaso sanitário. Delton Croce acrescenta
73.9.2. Necrofilia e pedonecrofiUa
que a “associação de ideias sexuais com água, in­
Trata-se de um dos mais sérios distúrbios sexuais,
cluindo urina e micção, é denominada de ondinis-
manifestado pela excitação sexual pela visão, conta­
md\ termo derivado de Ondina, ninfa do amor na
to ou prática sexual com cadáveres.
mitologia nórdica que vive nas águas.
Descamps (1975, p. 579) descreve três formas
de necrofilia: por sadÍsmoy amor ou semelhança. Na
7.3.10. Outras parafilias não
primeira categoria incluem-se os esquartejadores,
especificadas pelo
os que desenterram cadáveres, e podem eventual­
DSM — IV, apontadas
mente praticar atos de canibalismo, e aqueles que,
na doutrina médieo-iegql,
como os enfermeiros, auxiliares de necropsia e co­
e novas terminologias
veiros, valendo-se da oportunidade proporcionada
pela profissão, copulam com os recém-falecidos. A A doutrina médico-legal elenca inúmeras práti­
necrofilia por amor ocorre quando o ato sexual é pra­ cas de cunho sexual que podem ser classificadas como
ticado pela última vez com a mulher amada, recém- parafílicas. Algumas delas, entretanto, só podem ser
-faiecida, como uma forma de negação da morte. tidas como desviantes, repetimos, se constituírem a
Medicina Legal il

única forma de prazer ou comportamento obsessivo. dernos que grassam na Internet, como ballooning,
No mais das vezes, quando integram os jogos sexuais, BBW, dolismo, cybersex, trampling, übersexual e ou­
não revelam nenhuma anormalidade. tros relacionados, que apresentam sites dedicados e
A seguir indicamos, em ordem alfabética, al­ possuem comunidades virtuais inteiras, A lista, ape­
gumas possíveis parafilias. Incluímos termos mo­ sar de substancial, não é exaustiva:

Acomioctitismo Atração sexual por geniíais depiiados.


Acrofilia Atração sexual por aviões ou pela prática sexual no interior de aeronaves.
Acusticofííia Prazer em ouvir sons específicos.
Agorafília Não é propriamente uma parafilia, mas indica o desejo incontrolável de praticar a cópula
em lugares abertos ou ao ar livre.
Alveofilia Desejo de manter relações sexuais dentro de uma banheira.
Amaurofdia Forma de fetichismo em que há atração sexual por parceiros cegos ou vendados.
Amomaxía Prazer em manter relações sexuais no interior de veículos estacionados.
Anacííflsmo Excitação por objetos infantis, como fraidas e chupetas. Ver auíonefiofií/a.
Anafrodisia É a diminuição do instinto sexuai do homem, levando-o ao quase total desinteresse pelo
sexo oposto. Normalmente vem associado a alterações glandulares ou psicológicas (ver
fransforno de desejo sexual hipoativo).
Androginofília Preferência por figuras andróginas e hermafroditas (ver henfaí — modalidade futanari).
Anofelorastia ou hierofília Prazer sexuai decorrente da profanação de objetos sagrados.
Asfíxiofília Também chamada de asfixia erótica, é uma parafilia em que o estímulo sexual decorre
do ato de çonstrição do pescoço do parceiro até quase a perda da consciência antes
ou durante a penetração. Acredita-se que a redução do fluxo sanguíneo no cérebro
aumenta o prazer sexual. Não raro, essas práticas podem levar ao óbito, inclusive por
\ inibição vagai.
A.S.F.R. Sigla que em inglês significa "Alt Sex Fetish Robot", prática fefichista em que o prazer sexual
está em manter relações sexuais com autômatos ou pessoas que se fazem passar por
robôs, obedecendo rigorosamente aos comandos do "programador". Uma modalidade
de A.S.F.R. é o “fem bof, forma contraída de "female robot", caracterizada pela atração
por autômatos do sexo feminino. A sexualidade de mulheres robotizadas já foi bastante
explorada na literatura e no cinema, como, na novela "Virtual girl" da escritora
norte-americana Amy Thomson (não publicada no Brasil) e nos filmes B/ade Runner e
The stepford wives (Mulheres perfeitas}. Verpígmalionismo e dolismo.
Autoagonísfofilia Forma de exibicionismo em que o estímulo sexual provém de se deixar ver por terceiros
durante o ato sexual.
Autonefíofília Prazer em praticar sexo caracterizado como uma criança. Ver anad/femo.
AutoescopofUia Forma de narcisismo em que há prazer na admiração dos próprios genitais.
ATM ou A2M Modalidade de coprofília. A sigla em inglês significa “ass-fo-moufh” (do ânus para a
boca). Não é propriamente uma parafiiia, mas uma prática sexuai bastante difundida em
filmes pornográficos, em que após o coito anal o pênis é colocado diretamente na boca
da parceira ou de terceira pessoa.
Ao que parece, essa espécie de fantasia explora o desejo de submissão do parceiro ao
ponto de “alimentá-lo" com as secreções saídas do próprio corpo e depositadas no
órgão genital masculino (fonte Wikipédia, verbete ATM).
Autoerofismo No autoerofismo ou aíoerotismo o ápice sexual é atingido sem a presença do parceiro,
ou aíoerotismo apenas de modo contemplativo, perante uma pessoa ou um retrato.
Ballooning ou fefíche 0 ballooning é uma forma de fetichismo em que os portadores, denominados looners,
por balões sentem excitação sexual ao ver ou tocar balões de látex ou ver mulheres interagindo
com eies. Com a internet essa forma de fetichismo tornou-se muito comum, Existem s/fes
especializados em veicular imagens eróticas de mulheres nuas interagindo com os baiões.
BBW A sigla significa "b/g beautiful womarí' (mulher gorda e bonita)', ou seja, indica atração
sexuai por muiheres gordas, porém bonitas ou atraentes. Os admiradores de muiheres
com esse tipo físico se chamam fat admirers pu simplesmente "FA". A Internet possui
diversos sites especializados no tema.
Ciirsa&Conctirso

Biasfofília e raptofília Termo derivado do grego biastes (violação), a biasfofília é uma parafilia em que o desejo
sexual depende ou responde ao ato de atacar de forma inesperada e violenta uma
pessoa, preferencialmente estranha, sem o seu consentimento. É um desvio que pode ser
observado nos assassinos seriais.
Em sentido oposto, quando o desejo sexual surge da possibiiidade de ser vítima desses
ataques, estamos diante de uma raptofília.
Body Integrity ídentity Originalmente descrita em 1977 como Amputee ídentity Disorder (AID), a Body Integrity
Disorder, apotemnofília Idenfify Disorder (BiiD) é uma condição psicológica na qual os afetados experimentam
e acrotomofília um desejo incontrolável de ver amputadas partes de seus próprios corpos, de modo a
atingir a imagem ideal que têm de si mesmos. Vivem o paradoxo de perder um ou mais
membros para poderem tornar-se completos (menos é mais}.
Os portadores desse quadro não são psicóticos, até porque o diagnóstico de esquizofrenia
ou ouíros transtornos psicóticos exclui o da BliD. Na verdade o quadro pode ser comparado
ao transtorno da identidade de gênero, porque em ambas as condições os pacientes
relatam que a insatisfação com o corpo atual está presente desde a pré-adolescência
(www.biid.org).
Quando o desejo de ser amputado está relacionado com o prazer sexual, então estamos
diante de uma parafilia denominada apofemnofi//a, caracterizada pela excitação ou
facilitação do orgasmo em razão da fantasia de se sentir amputado. Os indivíduos
portadores desse quadro são conhecidos como wannabes (pessoa que deseja ser igual à
outra, no caso, os deficientes físicos).
Ao que parece, o prazer dos wannabes não esíá na relação em si, mas em alguma outra
atividade paralela ao ato sexual, caracterizada pelo desejo de ser amputado em uma
ou mais partes do corpo.
A apotemnofilia parece ser uma condição separada da BSID, que não se limita a uma
mera fantasia sexual, mas a um desejo real de amputação relacionado com todas as
atividades diárias.
Quando a excitação sexual ou o orgasmo está iigado à necessidade de manter relações com
uma pessoa amputada, a parafilia é denominada de acrotomofília e as pessoas portadoras
desse quadro são denominadas devofees (devotos, dedicados) ou amelotatistas.
Braquioprocfos-sigmoidis- Atividade sexual relativamente comum entre homossexuais masculinos em que o parceiro
mo — fisting reclama, como principal forma de prazer, a introdução dos dedos, mão ou mesmo o
antebraço através do ânus até o reto. A prática é também conhecida como físt fuck ou
simplesmente fistfng. A denominação inglesa vulgar engioba também o ato de introduzir
o punho através da vagina.
Cleptolagnia ou cleptofífia Prazer sexual no ato de subtrair bens alheios.
Crematisfofília Excitação proveniente do ato de pagar pela prática sexual.
Coprolalia ou coprofem/a Prazer sexual iigado a palavras de baixo calão em público ou durante o relacionamento
íntimo. Algumas pessoas, para atingir o prazer sexuai, precisam que o parceiro antes ou
durante o ato utilize expressões chulas, típicas de um vocabulário bastante baixo.
Cromo-ínversão Atração sexual por pessoas de cor diferente. Não se tornando uma obsessão, não pode
sequer ser considerada desvio da sexualidade.
Dacríofriia Forma de sadismo em que o prazer sexuai decorre de presenciar as lágrimas do parceiro.
Dismorfofilia Atração sexual por pessoas deformadas.
Dolismo Neoiogismo formado do vocábulo inglês doli (boneca), que indica a atração sexual por
bonecas, manequins e similares. É uma forma de pigmalionismo e, na acepção de
Descamps, uma manifestação de necrofilia por semelhança (ver necrofílía). Ver A.S.F.R.
Dom-juanismo Personalidade que se manifesta compulsivamente às conquistas amorosas, sempre de
maneira ruidosa e exibicionista e sem que se estabeleça uma relação emocionalmente
estável.
Edipismo Tendência ao incesto, à prática de relações sexuais com parentes muito próximos. São
relativamente comuns as relações de pais com filhos e entre irmãos.
Emefofilia Prazer sexual com a visão de pessoas vomitando ou contato com a substância emética.
Enfomocismofííia Atividade sexual que incorpora insetos, como moscas, abelhas, aranhas etc.

54
Medicina Legal II

Brotismo O erotismo é o aumento exagerado do apeíiíe sexual, caracterizado pela satirfase no


homem e pela rimfomania ou uieromania na mulher. No satirismo há ereção e ejaculação
por diversas vezes. Não deve ser confundido com o príapismo, que é uma ereção
patológica que não desemboca no prazer sexual. Ao conírário, o príapismo é doloroso e
funda-se quase sempre em causas psíquicas.
Não deve ser confundido também com o dom-juanismo, que é a tendência a proceder
de maneira sedutora e libertina.
Trata-se de uma preocupação excessiva do sexo masculino com a conquista amorosa
que o leva a ensejar relacionamentos inconsistentes.
Erofografía ou A erofografía ou erefografoman/a "é um desvio sexual que se caracteriza pelo gosto de
erotografomania escrever assuntos de fundo puramente erótico” (apud Paes da Cunha, in Gomes, 2003, p. 462).
Erotomania Na erotomania não há o desejo carnal. Ao contrário, o erofômano perde-se em uma
espécie de amor plafônico bastante profundo que preenche integralmente sua vida e
por vezes pode levá-lo ao ridículo. Os erotômanos são quase sempre virgens e castos.
Escoptoftíia Forma de voyeurismo caracterizada pelo prazer em observar relacionamento sexual de
terceiros pelo telescópio.
Esfigmatofília Excitação por tatuagens, cicatrizes, piercings e similares.
Etno-inversão Trata-se de uma variedade de cromo-inversão, em que a pessoa sente atração sexual
exacerbada por determinadas raças.
Também não tem grande interesse médico-legai, salvo na forma obsessiva.
Falofília Predileção por parceiros sexuais com pênis avantajados.
Figefília Pratica sexual com cartas ou correspondência.
Filatelofília Prazer sexual com selos postais.
Flagelatismo Forma de fetichismo, geralmente relacionado com o sadomasoquismo, em que o
ou flagelaçõo sofrimento do parceiro é especificamente infligido por meio de chicotadas.
Uma variante é o bondage (escravidão, servidão), na qual o prazer é obtido pelo ato de
amarrar e imobilizar o parceiro ou pessoa envolvida. Pode ou não envolver a prática de
sexo com penetração. Há inúmeros sites na internet dedicados ao tema.
Flatofília Forma de coprofilia caracterizada pelo prazer em sentir o odor dos gases intestinais
provenientes do parceiro.
Fobofília Excitação sexual através do medo. Prazer em sentir medo.
Frigidez É a diminuição do instinto sexual na mulher, frequentemente associada a desequilíbrios
emocionais ou glandulares ou ainda como decorrência do vaginismo. Nos casos mais
extremados pode levar à androfobia, apandría ou mísandría, termos que designam o
horror ao sexo masculino [ver transtorno de desejo sexual hipoativo e transtorno de aversão
sexual).
Frutifília Atividade sexual envolvendo frutas.
Gerontofília ou Predileção sexual de jovens por pessoas de idade avançada.
crono-ínversão França aponta que o contrário, ou seja, o amor dos velhos pelos jovens é compreensível.
A aberração dá-se no sentido oposto (1998, p. 195).
Heníai Forma de arte pornográfica japonesa veiculada nos mangas (histórias em quadrinhos)
e an/mes (desenhos animados). A palavra hentai significa metamorfose, anormalidade,
pornografia ou perversão sexual não sendo nunca utilizada para indicar atividade sexual
normal. A maioria dos hentais apresenta algumas características comuns, como a
presença de personagens jovens e a ausência de pelos pubíanos.
0 hentai apresenta vários gêneros, de acordo com a temática das relações exploradas
na obra, indicados por palavras japonesas como: kemono (sexo com animais), futanarí
(hermafroditas), lolicon (meninas), shofacon (meninos), yaoi (homossexuais masculinos),
yuri (homossexuais femininos) e guro (cenas de violência e sadomasoquismo).
0 culto a essa forma de arte pode estar ligado a uma série de parafilias, desde uma simples
pictofilia até práticas de pedofilia e sadomasoquismo.
Hibrístoíiíía Atração sexual por pessoas que tenham cometido crimes graves ou atos de atrocidade.
Hipnofília ou onirofília Excitação em contemplar pessoas adormecidas.
Hirsutofília Atração sexual por pessoas com grande quantidade de pelos.
CurstèConcurso

Homiliofília Prazer sexual em assistir conferências.


latronudia Excitação no ato de desnudar-se perante o médico.
Iconolagnla ou pictofriia Estímuio sexual exacerbado diante de arte erótica ou pornográfica (ver henfa/).
Lacfofília Atração sexual por mulheres em período de amamentação.
Lubricídade senil A iubrícidade senil é a exacerbação do apetite sexuai em idade provecta. É sinal evidente
de perturbação psicológica e por vezes leva o ancião à prática de perversões e atos
obscenos.
Como bem saiienta Hélio Gomes (2003, p. 465), a importância da /ubrfcidade senil vem
do fato de poder conduzir os idosos, que outrora mantiveram uma vida sexual saudável,
à prática de atos libidinosos, atentados ao pudor, tomando-os, da mesma forma, presa
fácil de extorsões e ataques de prodigalidade.
Narcisismo, mefrossexua- Mais comum nas mulheres e também denominado autofilia, o narcisismo nada mais é
lismo e ubersexualismo que o culto exagerado do próprio corpo. Alguns autores afirmam que o narcisismo nas
mulheres é constante e normal desde que não importe em aversão ao ato sexual.
Uma forma de narcisismo masculino é atualmente denominada mefrossexualidade.
0 termo mefrossexual, cunhado em 2003, é utilizado para definir o homem urbano de
grande senso estético e que gasta boa parcela de seu tempo e dinheiro (mais de 30%)
com sua aparência e estilo de vida.
Já o übersexuai, termo criado pela publicitária Marian Salzma/n, é o homem que tem
estilo, “preocupa-se com a aparência, mas sem exagero. Gasta mais tempo cuidando
da cabeça que do cabelo. Pode não saber a diferença entre um hidratante e um
esfoliante, porque está mais preocupado com o que é certo ou errado. Ele é sensível,
mas não dá margem para que duvidem de sua masculinidade".
Ofidiofília Prazer na prática de manobras sexuais envolvendo serpentes.
Onanismo Termo incorretamente derivado do chamado “coito solitário de Onan", personagem bíblico
que, na verdade, para não ofender os costumes hebraicos, praticava o coito interrompido
com Tamar, a viúva de seu irmão, O onanismo nada mais é que a masturbação.
A masturbação pode ser considerada norma! na puberdade ou mesmo quando praticada
pelo casal (heferomasfurbação), desde que não venha a substituir ou representar aversão
ao coito.
Estudos recentes apontam a masturbação, mesmo na idade adulta, como preventiva
dos tumores de próstata, por aliviar a glândula de secreções cujo acúmulo seria fator
predisponente. Segundo o pesquisador Graham Giles, do Cancer Councii Vicioria, em
Melbourne, um homem na faixa dos 20 anos, ejaculando mais de cinco vezes por
semana, diminuiria em três a possibilidade de desenvolver tumores malignos na próstata
(Fox, 2003, p. 15).
Ver sexo virtual ou cybersex.
Partenofília Excessiva atração por mulheres virgens.
Picacismo Embora o termo p/cac/smo ou simplesmente pica indique, genericamente, a ingestão
compulsiva de substâncias não nutritivas, como gelo (pagofagia), tenra (geofagia), pelos
{fricofagia), pedriscos ou gesso, ou ainda a perversão do apetite que ocorre em
determinadas situações orgânicas como na gestação, alguns autores (a nosso ver de
forma incorreta) indicam com o vocábulo também o prazer sexual em introduzir alimentos
nas cavidades do corpo para que o parceiro os recupere com a boca.
Pigmalionlsmo Excitação por estátuas. Alguns autores descrevem esta parafilia como sendo uma
ou agalmatofilía modalidade rara e menos severa de necrofilia (Croce, 1998, p. 593 e Descamps, 1975, p, 579).
Ó teimo pigmalionismo deriva do mito de Pigmalião, escultor da ilha de Chipre que se apai­
xonou perdidamente pela estátua de mulher que esculpira. Desesperado, pediu a Afrodíte
que encontrasse uma mulher semelhante. A Deusa, sensível aos apelos, deu vida à própria
estátua, nascendo Galateia, que se tornou esposa de Pigmalião.
Verdolismo.
Plgofiüa Excitação sexual pela visão ou contato com as nádegas do parceiro.
Pluralismo ou triolismo Prática sexual com pluralidade de parceiros ao mesmo tempo, três {fr/o//smo ou mènage
à frois) ou mais pessoas (pluralismo, sexo grupai, swapping ou, vulgarmente, “suruba").

56
Medicina Legal li

Pregnofilia e maíeusofília A pregnofiiia é o desejo ou atração sexual por mulheres grávidas. A maieusofilia consiste
em sentir excitação sexual pela visualização do trabalho de parto.
Riparofília ou misofília Atração sexual por pessoas com péssimos hábitos de higiene, de baixa condição social.
Há homens, por exemplo, que manifestam predileção por mulheres no período menstruai
(vervamp/r/smo).
Sexo virtual, cybersex, O chamado sexo virtual ou cybersex constitui uma forma de masturbação em grupo,
Computer sex, Internet sex praticada através da Internet. Como o foco do desejo fica centrado na virtualidade do
ou net sex prazer sexual contribui para um isolamento socioafetivo.
Tafofília Prazer mórbido em manter relações sexuais em cemitérios.
Timofilia Atividade sexual com a utilização de dinheiro.
Topo-inversão Forma de parcialismo (ver parcíafcmo) em que há prazer sexual pela prática de coito
ectópico ou atos eróticos diversos da conjunção cama!, como sexo anal oral, praticado
entre as coxas, dedos dos pés, mamas, axilas (ax/fómo) etc.
Dentre as várias modalidades de sexo ectópico, são considerados normais, como jogos
sexuais que antecedem ao coito, a fellatio in ore e o cunn/l/ngus.
Trampling 0 trampling (pisoteamento) é uma forma de fetichismo em que o prazer sexuai consiste
em ser pisado por um ou mais parceiros, geralmente do sexo oposto, sendo mais comum
a mulher pisotear o homem (fonte Wikipédia).
Troca de casais A troca de casais ou swing, ante a überação dos costumes, pode não significar mais que
ou troca interconjugal um simples desejo da troca de parceiros para aquecer a vida sexual do casal e, nesse
sentido, não pode ser tido como uma aberração ou desvio.
Atualmente há Inúmeros sífes na Internet especializados na divulgação e apoio à prática.
Caso se torne uma obsessão, então poderá ser tomada como desvio. A prática do sexo
grupa!, ainda que peio casal pode ser classificada como pluralismo (ver).
Vampirlsmo Prazer sexual obtido pelo contato ou ingestão do sangue do parceiro.
Alguns homens têm predileção por praticar sexo oral com mulheres durante o período
menstruai, exatamente porque atingem o êxtase sexual ao ingerir o sangue da
companheira (mensfruofi/ía ou menofi/ía). Uma variação é a hemotigolagnia, em que há
atração sexual por absorventes higiênicos usados.

7.4. Adequação e Inadequação formados por dois desviantes (sádico e masoquista)


sexual ou um casal de dois disfuncionais (impotente e vagi-
nica) podem não ser portadores de inadequação sexu­
Na atualidade, como salientamos, a questão al, pois estão adequados entre si, não representando,
dos transtornos sexuais deve ser vista não apenas portanto, necessidade de uma terapia sexual” (Sexua­
sob o critério biológico, mas também sob os enfo­ lidade humana. 2. ed. São Paulo: Medsi, 1993).
ques sociocultural e psicológico que envolve a rela­ Como bem lembra Nélson Vitiello, “o normal
ção dos parceiros. em sexualidade se resume ao satisfazer-se e satisfazer
Gerson Lopes fala dos conceitos de adequação e sexualmente seu parceiro ou parceira, desde que isso
inadequação sexual, segundo os quais, antes de des­ não traga riscos ou danos a si mesmo, ao parceiro e
crever modelos, “é bom que se tenha em mente que ao meio social. Dentro desse princípio, o que cada
a sexologia moderna deslocou o foco do seu trata­ pessoa ou cada par faz no âmbito restrito de suas
mento da unidade para o par conjugal. Não se aborda vidas privadas só a eles próprios interessa, cabendo
uma disfunção sexual e sim a inadequação sexual do a nós, como indivíduos e como membros da socie­
casal, seja ele homo ou heterossexual. Entende-se por dade, respeitar as naturais e enriquecedoras diferen­
par adequado aquele em que cada pessoa está adequa­ ças que fazem do ser humano algo tão maravilhoso”
da consigo mesma e com o outro. Na inadequação (Um breve histórico do estudo da sexualidade huma­
existiria uma disfunção ou desvio sexual, de um ou de na. Revista Brasileira de Medicina, v. 55, São Paulo:
ambos os parceiros. É interessante que às vezes casais Editora Moreira Jr., nov. 1998).
Ctirso&Concurso

8. GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO Na mulher, o início da vida sexual adulta co­


meça ao redor dos 8 anos de idade com o aumento
8.1. Desenvolvimento sexual da produção de gonadotrofinas e o evento da pri­
meira menstruação (menarca), entre 11 e 15 anos.
A maturidade sexual do homem tem início entre
Ao redor dos 45 e 50 anos os ciclos vão-se tor­
os 11 e os 13 anos de idade, com o rápido aumento
nando irregulares (climatério feminino) para cessar
na produção da testosterona (vide gráfico). Ao redor por completo em torno dos 60 anos de idade.
dos 20 anos os níveis hormonais estabilizam-se para
Assim como no homem, o aumento dos es-
começar a decair, também rapidamente, próximo trogênios durante a puberdade é responsável pelo
dos 40, chegando a praticamente zero aos 80 anos. A desenvolvimento dos caracteres sexuais primários
testosterona é responsável pelo desenvolvimento dos (aumento dos genitais e mamas etc.) e secundários
caracteres sexuais primários (aumento do pênis, bol­ (distribuição da gordura corpórea, de pelos etc.).
sa escrotal, testículos etc.) e secundários (distribuição O gráfico mostra as taxas de testosterona e estrogê-
de pelos, efeitos sobre a voz, pele etc.). nio nas diferentes idades (Guyton, 1973, p. 908 e 924).

Homem Mulher
Taxa de secreção de testosterona em diferentes idades,
medida pelas concentrações de androsterona no plasma Secreção de estrogênios durante a vida sexual

Em razão de uma alteração cíclica de estrogênios


e de progesterona no sangue circulante da mulher,
cuja oscilação é determinada pelos níveis de hormô­
nios gonadotróficos secretados pela adenoipófise
(sistema hipotálamo-adenoipófise-ovário), estabe­
lece-se o ciclo menstruai ou catamenialy caracteriza­
do pela ovulaçao e pelas alterações do endométrio
(mucosa que recobre a face interna do útero).
O ciclo menstruai normal é de 28 dias, sendo
relativamente comuns ciclos de 20 e 45 dias. O es­
quema a seguir mostra a correspondência entre o
ciclo endometrial e a ovulação, bem como os picos
hormonais envolvidos, considerando-se um ciclo 0 4 . 14 23 4 14 28
Dias do ciclo menstruai
de 28 dias.
Medicina Legal il

Para que ocorra a fecundação, é preciso que xistindo observações de nascidos depois de 300 dias
existam espermatozoides viáveis logo após a ovula- do coito fecundante (Bonnet, 1993, p. 116).
ção, pois o período fértil da mulher dura aproxima­ Tomando por fundamento os dados biológi­
damente 24 horas. cos, o Código Civil (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro
Havendo um ciclo menstruai regular, a ovula- de 2002) estabeleceu como causa suspensiva do ma­
ção ocorre em torno de 13 a 15 dias antes da próxima trimônio, para a mulher, o prazo de 10 meses, con­
menstruação. Em um ciclo de 28 dias, no 14£ dia; em tados do dia em que ocorreu a viuvez ou desfez-se a
um ciclo de 20 dias, no 6s dia; e em um ciclo de 45 sociedade conjugal (CC, art. 1.523, II).
dias, no 31^ dia. Essas discrepâncias, assim como os
Quanto à paternidade, presumem-se concebi­
ciclos irregulares, são responsáveis pelos chamados
dos na constância do casamento os filhos “nascidos
erros de tabela e por um grande número de concep­
cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabele­
ções não desejadas.
cida a convivência conjugal” (CC, art. 1.597,1) e os
filhos “nascidos nos trezentos dias subsequentes à
Ô.2. Gravidez dissolução da sociedade conjugal, por morte, sepa­

A fertilização do óvulo ocorre antes ou logo ração judicial, nulidade e anulação do casamento”
após a penetração na trompa de Falópio, formando (art. 1.597,11, do CC).
o ovo. Cerca de 3 dias depois, o ovo se fixa à pare­ Dessa forma, em relação à gestação, o prazo le­
de do útero (gravidez tópica), dando início ao ciclo gal mínimo é de 180 e o máximo de 300 dias.
gravídico, que se manterá até o parto.
A gestação humana normal dura, em média, 8.3* Diagnóstico da gravidez
280 dias ou 40 semanas. Para que haja sobrevivência
do feto, sem cuidados especiais, é preciso que dure O diagnóstico da gestação pode ser clínico, instru­
um mínimo de 196 dias ou um máximo de 294, ine- mental ou laboratorial conforme o esquema abaixo:

cessação da menstruação
modificações nas mamas
presença de secreção láctea
surgimento de manchas no rosto (máscara gravídica)
sinais de aumento de volume do ventre
probabilidade
{mais precoces)
sinal de Klüge
sinal de Osicmâer

clínico alterações sinal de Puzos


na genitália sinal de Jacquemien
Principais métodos
para diagnóstico sinal de Buâin
da gestação
sinais de movimentos do feto
certeza auscultação dos batimentos cardíacos do feto
(tardios) auscultação do sopro uteríno ou materno

ultrassonografia pélvica
radiografia (em desuso)
instrumental ressonância magnética
laparoscopia — para os casos de gravidez ectópica

testes químicos
testes biológicos — usam animais de laboratório (interesse histórico)
laboratorial testes imunológicos
estudo das alterações celulares da mucosa vaginal
CursogConcurso

O diagnóstico preciso da gravidez tem grande com o rompimento da bolsa e finda com a expulsão
importância no direito civil em questões relaciona­ da placenta (dequitação). Pode ser a termo, se finda a
das com anulação de casamento e nas sucessões; no gestação, ou prematuro, se ela foi antecipada; natural
direito do trabalho, pela sua implicação com a esta­ ou cirúrgico (cesariana); em vida ou post mortem.
bilidade; no direito penal, pela necessidade de ade­
quação do regime prisional à condição da gestante.
8.5. Puerpérlo e estado puerpera!
Com relação ao diagnóstico, e tendo em vista as
declarações da paciente, algumas situações podem O período compreendido entre o parto e o re­
ocorrer: torno do útero ao seu estado normal é denominado

gestação declarada — a mulher pensa que puerpério e tem uma duração média de 45 dias.
está grávida há determinado período de O parto, ainda que possa produzir pequenos
tempo e o diagnóstico confirma o fato; transtornos psicológicos, como emotividade exa-
• metassimulação da gravidez — a mulher cerbada e depressão pós-parto, não deve induzir
admite a gestação, mas mente, para mais transtornos de gravidade. O puerpério é um quadro
ou menos, quanto ao tempo de gravidez fisiológico que atinge todas as mulheres que dão
(França, 1998, p. 202);
à luz, sendo raras alterações de cunho psicológico
suposição de gravidez — a mulher pensa es­
graves como a psicose puerperai
tar grávida, mas não está;
O chamado estado puerperai, exigido por nossa
simulação de gravidez— a mulher sabe que
lei penal para a caracterização do crime de infanti-
não está grávida, mas mente estar;
cídio, não encontra um conceito unânime entre os
dissimulação de gravidez — a mulher sabe
que está grávida, mas nega o fato; autores, alguns dos quais questionam inclusive a sua

• desconhecimento da gravidez — a mulher existência, baseados no fato de que somente atinge


não sabe que está grávida. mulheres que experimentaram gestações indeseja-
das ou que provêm das baixas classes sociais.
Como anomalias da gravidez temos: Zacharias (1991, p. 173) conceitua o estado
superfecundação — ou superimpregnação, puerperai como uma “perturbaÇão psíquica, de ca-
é a fecundação de dois óvulos da mesma ráter agudo e transitório, que, por influência simul­
ovulação, no mesmo coito ou em cópulas tânea de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais,
diversas, podendo, inclusive, haver geração acomete a parturiente ou a puérpera, até então men­
de filhos de pais diferentes; talmente sã, afetando seu comportamento e poden­
• superfetação — raríssima fecundação de do impeli-la à prática do infanticídio”.
dois ou mais óvulos de ciclos diferentes;
Por outro lado, é sempre possível que estados
gravidez ectôpica— gestação fora do útero,
mentais patológicos preexistentes sejam agravados
que pode ocorrer nas trompas (gravidez
pelo parto e, com isso, levem à prática do infanticí­
tubária), nos ovários ou na cavidade abdo­
minal. Quando ocorre a morte do feto e dio. Tem-se demonstrado que este ocorre mais nes­
este não é expulso, forma-se uma espécie de ses casos, em que a patologia existe, mas é revelada
cálculo calcificado denominado litopédio; somente em decorrência do parto.
• mola h idatiforme ou gravidez molar — for­ De qualquer maneira o perito deverá observar:
ma de degeneraçao e atrofia do embrião
a) a recenticidade do parto;
que pode evoluir, inclusive, para um tu­
b) se o parto transcorreu de forma a provocar
mor maligno (coriocarcinoma).
sofrimento incomum na parturiente;
c) se a parturiente recorda-se do ocorrido;
8.4. Nascimento d) se a parturiente apresenta histórico de psi-
copatia anterior;
O parto corresponde ao conjunto de fenômenos e) se existe comprovação de que, em razão do
mecânicos e fisiológicos que levam à expulsão do feto parto, surgiu alguma perturbação mental
com vida e seus anexos do corpo da mãe. Inicia-se capaz de levá-la ao crime.

60
Medicina Legai II

9. PERÍCIAS RELACIONADAS Hímens resistentes são aqueles que têm consis­


tência cartilaginosa, impedindo a penetração do mem­
9.1. Sedução bro viril no interior da vagina. Nesses casos recomen-
da-se a incisão cirúrgica para que a mulher possa ter
Nota importante: a Lei n. 11.106, de 28 de março
uma vida sexual normal.
de 2005, em seu art. 5s, revogou expressamente o art.
217 do Código Penal. Sendo assim, não mais deverá ser Com exceção dos chamados hímens complacentes,
realizada perícia por sedução. Mantivemos, entretan­ que não se rompem durante o coito por serem com­
to, as considerações a respeito da integridade do hímen postos de tecido elástico e apresentarem reduzida orla
por ser de interesse médico-legal em outras perícias. himenal, as demais espécies possuem lesões ou roturas
O hímen é uma membrana mucosa, alocada em decorrência da prática sexual e que constituem, na
entre a vulva e a vagina, encontrada nos primatas, verdade, a essência do exame pericial da sedução.
nos equídeos e em alguns outros mamíferos, estan­ O número de roturas varia de um a cinco e são
do ausente na maioria das espécies animais. indicadas pelo médico-legista em um impresso pró­
Pode ser pequeno, limitando-se a uma orla bas­ prio, assinalando-se a orientação como se fosse um
tante estreita, ou obliterar toda a luz vaginal. Geral­ mostrador de relógio, por exemplo, indicando rotu­
mente possui um ou mais orifícios por onde sai o flu­ ras às 10 horas ou às 6 horas etc.
xo menstruai, mas pode apresentar-se impetfurado.
O hímen não se rompe exclusivamente pela prá­
Afrânio Peixoto classifica os hímens em comis- tica do coito. Embora em casos bens isolados, há na
suradosy acomissurados e atípicos, conforme apre­
literatura médica indicações de rupturas traumáti­
sentem comissuras ou septos dividindo o orifício
cas, em decorrência de quedas ou prática esportiva,
himenal (Sexologia forense, 1934, p. 70).
corpos estranhos ou manobras médicas inadequadas.
Oscar Freire baseia sua classificação na forma
A cicatrização é rápida e ocorre em torno de 21
e número dos orifícios e divide-os em hímens com
dias, razão pela qual a perícia deve ser realizada o
orifício, hímens sem orifício e atípicos (apud França,
mais rápido possível.
1998, p. 182).
Delton Croce (1998, p. 494) classifica os hímens
segundo o quadro a seguir:

ausentes
imperfurados

resistentes
Com duas Defíoração anjiga
complacentes roturas laterais carúnculas mirtifames
Hímens perfurados não complacentes p^milunares
ou rompíveis anulares
septados
labiados

atípicos í fenestrados pendentes


múltiplos com apêndice salientes
Imperfurado Complacente

Embora de rara ocorrência, é possível a agene-


9.2. Estupro e posse sexuai
sia himenal ou ausência de hímen, que não se con­
mediante fraude
funde com o hímen complacente.
Os hímens imperfurados necessitam de uma in­ No estupro o médico procurará comprovar a có-
cisão cirúrgica para que possam dar passagem ao pula vagínica. Se a mulher for virgem, a ruptura do
fluxo menstruai. hímen poderá indicar a ocorrência da violação sexual.
CursoSConcurso

Caso não, a perícia poderá basear-se em sinais da vio­ de atentado violento ao pudor dá uma indicação
lência praticada ou na prova da existência de sêmen. dos inúmeros achados médico-legais possíveis.
A presença de esperma ou de fosfatase ácida A perícia deve preocupar-se em demonstrar
(componente do líquido seminal) na secreção va- a forma do ato libidinoso praticado (diverso da
ginal são indicativos do coito, muito embora para a conjunção carnal), bem como os vestígios eventual­
caracterização do estupro não seja necessário que o
mente deixados pela violência. Dependendo da for­
agressor tenha ejaculado, bastando a comprovação
ma do ato libidinoso praticado, o legista poderá en­
da violência ou grave ameaça e da penetração, ainda
contrar ou pesquisar marcas de mordidas, presença
que parcial, do pênis na vagina.
de esperma, outros líquidos orgânicos etc.
Quando a violência é real, a perícia poderá ain­
No atentado violento ao pudor mediante frau­
da demonstrar a evidência de lesões corporais.
de, a perícia é bastante difícil, mas em algumas mo­
Nas mulheres acostumadas a uma vida sexual
dalidades, por exemplo, o coito anal, a presença de
ativa, a perícia do estupro poderá encontrar algu­
esperma poderá fornecer elemento de certeza ao
mas dificuldades, ficando restrita aos achados de
perito médico.
violência física e à presença eventual de espermato­
zóides ou componentes do líquido seminal Importante lembrar que a Lei n. 11.106, de 28

A foto a seguir mostra a espécie de lesão obser­ de março de 2005, alterou a redação do art. 216 do
vada em vítima de estupro, quando o exame é reali­ Código Penal, substituindo a expressão “mulher ho­
zado logo após a violência sexual. nesta” pelo vocábulo4alguém”. Assim sendo, agora
tanto o homem quanto a mulher, honesta ou não,
podem ser sujeitos passivos do crime em apreço.

9.4. Aborto
Abortamento, segundo Bonnet (1993, p. 1138),
“é a morte do produto da concepção em qualquer
momento da gravidez”. Para Tardieu consiste na
“expulsão prematura e violentamente provocada do
produto da concepção independentemente de todas
as circunstâncias de idade, viabilidade e mesmo de
formação regular” (apud França, 1998, p. 223).
Alguns autores costumam diferenciar os termos
Na posse sexual mediante fraude não há o ele­
abortamento e aborto, atribuindo ao primeiro o sig­
mento violência, e a perícia médica será voltada qua-
se exclusivamente para a comprovação da cópula. nificado do ato de abortar e ao segundo o produto
do abortamento. Tal separação, entretanto, não é
Importante lembrar que a Lei n. 11.106, de 28
de março de 2005, alterou a redação do art. 215 do técnica, sendo a palavra aborto também utilizada

Código Penal para suprimir o elemento normativo para designar o ato de abortar.
relativo à honestidade da mulher no crime de pos­ O aborto doloso é repelido por nosso ordenamen­
se sexual mediante fraude. Agora, qualquer mulher to jurídico-penal, excluindo-se algumas situações em
pode, em tese, ser vítima do crime em questão. que é legale, portanto, permitido (art. 128 do CP).

aborto terapêutico (art. 128,1, do CP)


9.3. Atentado violento ao pudor Aborto legal
aborto sentimental (art. 128, II, do CP)
e atentado ao pudor
mediante fraude
Aborto terapêutico — em algumas situações
A natureza variada das agressões que podem ser não há como manter a vida do produto da concep­
cometidas e classificadas sob o mesmo nome jurídico ção e a da gestante. Quando o médico encontra-se

62
Medicina Legai II

nesse dilema, a lei autoriza o sacrifício da vida do


feto. Para que isso ocorra, entretanto, são necessá­
rios alguns fatores:
a) que a gestante esteja em perigo de vida;
b) que o perigo de vida esteja diretamente re­
lacionado com a gravidez;
c) que a interrupção da gestação faça cessar
o risco da gestante; e
d) que a interrupção da gravidez seja o único
meio de salvar a vida da gestante.

Apenas como cautela, recomenda-se que o mé­


dico confirme sua decisão com a opinião de dois
outros colegas.
Recentemente, em polêmica decisão, o Supre­
mo Tribunal Federal, por liminar concedida pelo
Ministro Marco Aurélio Mello, garantiu a possibili­
dade de interrupção da gestação de fetos com com­
provada anencefalia (que não têm cérebro e chances
de sobrevivência). A liminar foi cassada, mas a deci­
são, que se favorável criará nova hipótese de aborto
legal, ainda está pendente de julgamento (Médico
pode pôr fim à gestação de feto sem cérebro, O Es­
tado de S. Paulo, 2 de julho de 2004, p. A14).
Aborto sentimental — é o aborto praticado por
No aborto examina-se, também, o feto, muito
médico quando a gestação decorre de estupro,
embora em inúmeras situações não se consiga che­
Muito embora o art. 128, II, do CP fale em estu­
gar à mãe, uma vez que o produto da concepção é
pro, a jurisprudência tem entendido que o dispositivo atirado em terrenos baldios (vide fotos), rios, ou
é aplicável também quando a gestação decorre de aten­ mesmo depositado em vasos sanitários,
tado violento ao pudor (analogia in bonam partem).
Na existência de possíveis suspeitas, o exame
Não existem outras modalidades de aborto le­ clínico e eventualmente uma análise de DNA pode­
gal no Brasil. O chamado aborto eugênico, eugenético rá determinar com segurança a maternidade.
ou eugenésico, que permite a interrupção da gestação A foto a seguir mostra os instrumentos cirúrgi­
por anomalia fetal, ainda não é admitido por nossa cos geralmente encontrados em uma clínica desti­
legislação, embora exista proposta nesse sentido no nada à realização de abortos.
anteprojeto da nova parte especial do Código Penal.
Dividem-se os meios empregados para a prática
do aborto em medicamentosos (ou tóxicos) e mecânicos.
A perícia no aborto criminoso é bastante difí­
cil e requer alguns cuidados por parte do perito. São
observadas eventuais lesões no períneo, lesões decor­
rentes do meio utilizado (muitas vezes são encon­
trados vestígios do próprio meio empregado, como
sondas ou outros instrumentos), lesões uterinas e
ainda exames laboratoriais.
Curso8Concurso

9.5. Infantlcídi© sobre o feto nascente, que se diferencia do infante


nascido apenas pelo fato de não ter respirado.
O crime de infanticídio vem descrito no art. 123
Infante nascido é o que acabou de nascer, mas
do Código Penal:
ainda não recebeu os primeiros cuidados. Tem o
CP corpo recoberto por sangue fetal ou materno (es­

Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerpe-


tado sanguinolento), as pregas cutâneas recobertas

ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após. por substância sebácea ( induto sebâceo), apresenta-
se ligado ao cordão umbilical e ainda não expulsou o
A perícia no infanticídio é bastante complexa e mecônio (substância presente no intestino do feto).
compreende duas etapas. A primeira, determinar se Denomina-se recém-nascido a criança que rece­
o produto da concepção nasceu com vida (feto nas­
beu os primeiros cuidados, até o 7s dia de vida, guar­
cente ou infante nascido), e a segunda, se a mulher
dando ainda alguns vestígios da vida intrauterina.
agiu sob influência do estado puerperaí
É fundamental para a comprovação do crime de
no produto da concepção feto nascente infanticídio a prova de vida extrauterina, o que se faz
para saber se nasceu infante nascido pelas chamadas docimasias ou por provas ocasionais.
Perícia no com vida recém-nascido
infanticídio Prova de vida docimasias — comprovação da respiração
na parturiente — determinação extrauterina provas ocasionais

do estado puerperaí
As docimasias são provas destinadas a compro­
Como o infanticídio pode ser cometido duran­ var a respiração ou seus efeitos. O quadro a seguir
te o parto, é possível que a conduta tenha recaído mostra algumas das principais:

Abertura da cavidade tóraco-abdominal e observação do diafragma. Quando não


Docimasia diafragmáíica
houve respiração, o diafragma mostra-se recolhido, convexo e voltado para o interior
de Ploquet
do tórax. Quando já ocorreu a respiração ele está mais piano, menos abaulado.
Docimasia óptica ou visual Simples observação visual do pulmão. 0 que não respirou tem aparência mais
de Bouchuf compacta, sólida, e o que respirou apresenta o desenho alveolar mais evidente.
No puimão que respirou, à palpação sente-se um ieve crepitar, que é ausente naquele
Docimasia tátil de Ner/o Rojas
que não respirou.
Docimasia radiológica Inspeção radiográfica dos pulmões. Os que respiraram mostram-se desenvolvidos,
de Bordas ao passo que os que não respiraram estão colabados.
Consiste na imersão dos pulmões ou de fragmentos deles em uma cuba com
Docimasia hidrostática
água. Se houver flutuação é porque houve respiração. Esta é a prova mais
de Galeno
comumente utilizada no dia a dia pericial.
Docimasia histológica Baseia-se no exame microscópico do puimão e nas alterações anatomopatológicas
de Balthazard e Lebrun que diferenciam aquele que respirou do que não respirou.
Docimasia gastrointestinal de Bres/au Comprovação da existência de ar no trato gastrointestinal.
Docimasia auricular
Presença de ar na caixa do tímpano.
de Wreden-Wendt-Gélé
Docimasia siálica de Souza Diniz Pesquisa a presença de saliva no estômago.
Docimasia do nervo óptico Baseia-se na mielinização do nervo óptico, que se inicia cerca de 12 horas após o
de M/rto nascimento.
Docimasia epimicroscópica
pneumoarquitetônica Baseia-se na análise microscópica de fragmentos do pulmão pelo uifra-opak.
de Hilário Veiga de Carvalho
Esmagam-se pequenos fragmentos do pulmão do recém-nascido entre lâmina e
Docimasia óptica de Icard
lamínula. Ao microscópio, observam-se pequenas bolhas de ar.
Medicina Legal II

Docimasia piêurica de Piaczec Constatação da pressão negativa na cavidade pieural do infante que não respirou.
Docimasia pneumo-hepática de
Baseia-se na comparação entre o votume sanguíneo do pulmão e do fígado.
Puccinofti
Docimasia hematopneumo-hepá-
Comparação e análise da hemoglobina do pulmão e fígado.
tica de Severí
Prova hemato-arteriovenosa Baseia-se na comparação entre as taxas de oxiemogiobina do sangue venoso e arterial
de França em busca de comprovação da hematose e, por conseqüência, da respiração.
Docimasia suprarrena 1
Funda-se na análise dos efeitos da adrenalina sobre a muscuiatura lisa e cardíaca.
fisiológica

Como provas ocasionais para a comprovação de A impossibilidade de gerar filhos é chamada de


vida extrauterina podemos citar o encontro de cor­ impotência generandiy ou esterilidade masculina, e
pos estranhos nas vias aéreas, geralmente indicando impotência concipiendi, ou esterilidade feminina, e
que a criança foi morta por sufocação; a presença de não implica causa de anulação do matrimônio.
substâncias alimentares no trato digestivo; e a obser­ A doutrina entende que apenas a impotência
vação de reações vitais em lesões do cadáver. coeundi e a acopulia podem constituir erro essencial
Finalmente, e de difícil comprovação, é a carac­ por ignorância de defeito físico irremediável passí­
terização do estado mental da parturiente, normal­ vel de anular o casamento (art. 1.550, III, c/c o art.
mente denominado estado puerperai 1.557, III, do CC). Note-se que, mesmo nesses ca­
sos, o casamento somente será anulável se o fato era
As considerações sobre a comprovação do esta­
ignorado pelo outro cônjuge.
do puerperai já foram feitas no item 8.5.
A impotência verdadeira, ou coeundi, pode ser
de origem fisiológica, relacionada com a idade; fi-
10. AS IMPOTÊNCIAS siopâúca, quando causada por malformações ou
A incapacidade em manter uma relação sexual é de­ distúrbios neuroglandulares; orgânica, decorrente
nominada impotência coeundi no homem e acopulia na geralmente de lesões nervosas ou alterações circu­
mulher, podendo dar causa a anulação do casamento. latórias graves; e psíquica.

impotência generandí— esterilidade masculina

no homem fisiológica — idade


fisiopática
impotência coeundi
Transtornos orgânica
da reprodução psíquica

impotência conápienâi — esterilidade feminina

na mulher
[orgânica
acopulia , .
— j psíquica

Na mulher, a acopulia pode derivar de causas musculatura vaginal que impede a penetração do ór­
orgânicas, como ausência de vagina ou malforma­ gão sexual masculino. A dispaneuria é a sensação de dor
ções genitais; e causas psíquicas, como frigidez, vagi- durante a relação sexual, e a coitofobia, a aversão pato­
nismo, dispaneuria ou coitofobia. lógica ao conúbio por causas diversas, por exemplo,
A frigidez é a impossibilidade feminina de atingir homossexuaMsmo, ignorância ou estados patológicos
o orgasmo. O vaginismo é uma contração espástica da mentais graves, como esquizofrenia ou oligofrenia.
CurscNConcurso

11. INVESTIGAÇÃODEPATERNIDADE exemplo, casos de seqüestro de crianças, nas quais a


maternidade também deve ser colocada à prova.
Diz o velho brocardo latino: mater semper certa
A perícia de investigação de paternidade bus­
est> pater est quem nuptial demonstrant (a mãe sempre
ca o reconhecimento da filiação com o intuito de
é certa, pai é aquele que as núpcias demonstram). O
determinar a identidade civil e, quase sempre, com
pensamento revela, em termos médico-legais, apenas
implicações sucessórias.
uma meia-verdade. É certo que os casos de investi­
Genival França (1998, p. 253) e Delton Croce
gação de paternidade em que se busca determinar a
(1998, p. 610) dividem as provas para determinação
identidade do pai são bem mais freqüentes que aqueles
da paternidade em dois grandes grupos, genéticas e
em que a mãe é questionada, mas há hipóteses de, por
não genéticas:

duração da gestação
possibilidade de coabitação (virgindade, impotência)
dados sobre a possibilidade de fecundação (esterilidade)
concepção inexistência de parto ~J‘
não genéticas
aplicação de métodos anticoncepcionais definitivos

para confronto com a época da coabitação


idade do filho
para confronto com a data do parto

semelhanças fisionômicas
pré-mendelíanas caracteres adquiridos
impressões maternas (captadas durante a gestação)

exame do pavilhão auricular


Provas médico-legais
anomalia dos dedos
características dos dentes
presença de mancha mongólica
mendelianas não sanguíneas
hemofilia
genéticas daltonismo
orientação dos cabelos
cor da pele

sistema ABO
fatores M eN
grupos sanguíneos fatores Rh erh
sistema HLA
mendelianas sanguíneas
outros fatores
DNA

As provas não genéticas são meramente de variações pigmentares, os exames mais especializados,
orientação e, no máximo, servem para direcionar o como o craniométrico, o cranioscópico, o odontomé-
perito quando da realização de seu trabalho. trico, o prosoposcópico etc., quase nada oferecem de
As provas genéticas pré-mendelianas têm inte­ valor prático: as Leis de Mendel evidenciam a possibi­
resse apenas histórico. Como adverte Ayush Morad lidade de se encontrarem, na prática, indivíduos nada
Amar, “a confrontação fisionômica, o retrato falado, semelhantes aos seus ascendentes” (Investigação de
o estudo das impressões digitais, da cor da pele, das paternidade— aspectos médico-legais, 1987, p. 17).

66
Medicina Legal II

Dessa forma, atualmente, mostram-se de valor de, apenas as provas mendelianas>não sanguíneas e,
probatório, no campo da investigação de paternida- principalmente, as sanguíneas.

11.1 Provas mendelianas não sanguíneas


Baseia-se no exame do lóbulo da orelha dos pais e filhos. 0 lóbulo livre é dominante,
Exame do pavilhão auricular
enquanto o preso é recessivo.
As anomalias dos dedos, como a sindacfilia ou ecfrodactilio, têm caráter dominante.
Anomalia dos dedos Assim, o filho de uma mãe normal com alguma anomalia deve ter um pai com essa
anomalia.
Existem algumas alterações genéticas, como a ausência de dentes, que estão sendo
Características dos dentes
estudadas.
Trata-se de uma mancha de coloração e conformação variável que tende a
Presença de mancha
desaparecer até os dois anos de idade. A presença dessa mancha exclui os
mongólica
genitores caucasianos puros (brancos).
É uma doença hereditária, hemorrágica, caracterizada por um distúrbio na
coagülação do sangue, ligada ao cromossomo X, transmitida pela mulher e que se
Hemofilia
manifesta no homem. Por ser de comprovada origem genética, nenhum filho de pais
geneticamente sadios pode ser hemofílico.
Também é uma doença hereditária ligada ao sexo (cromossomo X), caracterizada
Daltonismo pela incapacidade de distinguir cores. Filhos de pais geneticamente sadios não
podem ser daltônicos.
A orientação no redemoinho dos cabeios é determinada por um fator dominante
Orientação dos cabelos
(orientação dextrogira) e outro recessivo (/evog/ra).
Acredita-se que cinco pares de genes estejam envolvidos na determinação da
tonalidade da pele humana, que vai desde o preto até o branco puro. Os filhos
Cor da pele
devem ter sempre uma tonalidade de pele intermediária à dos pais. A presença de
um filho mais claro ou mais escuro levanta suspeita sobre a paternidade.

É claro que a análise dessas características, mes­ bora não reagentes por transfusão, têm importância
mo quando presentes, não autoriza afirmar a pater­ na rejeição de órgãos em caso de transplantes.
nidade, podendo, no máximo, infirmá-la em alguns Também os glóbulos brancos, leucócitos, possuem
casos. em sua superfície inúmeros antígenos, diversos daque­
les observados nas células vermelhas do sangue, e que

11.2. Provas mendelianas podem ser responsáveis por algumas reações transfii-

sanguíneas sionais adversas. Sua importância maior, entretanto,


repousa no estudo da investigação de paternidade.
Quando tiveram início as transfusões sanguí­
Os principais grupos de antígenos dos glóbulos
neas, percebeu-se que em algumas nada ocorria, en­
sanguíneos são os seguintes:
quanto em outras havia violenta reação orgânica do
receptor, chegando, às vezes, ao êxito letal. sistema ABO
Descobriu-se que as hemácias possuíam em sua fatores M e N
superfície variadas glicoproteína$> com propriedades fatores Rh e rh
antigênicas e que, uma vez transfundidas, podiam
sistema Lewis
levar a uma resposta imunitária por parte do orga­ hemácias
Antígenos sistema Duffy
nismo receptor com conseqüente aglutinação e lise
outros fatores sistema Kidd
das células recebidas. sistema Kell Cellano
Com o aprimoramento da sorologia centenas grupos Luiheran
de antígenos foram descobertos. Alguns responsá­
leucócitos — sistema HLA
veis pelas reações transfusionais e outros que, em­
CursoSConcurso

11.3. Sistema ABO sido identificados em plaquetas, leucócitos, células


do tecido epitelial, pele, trato gastrintestinal e uri­
Os antígenos que compõem o sistema ABO fo­
nário, bem como em alguns fluidos e secreções or­
ram os primeiros antígenos eritrocitários descober­
gânicas como saliva, variando em concentração de
tos, graças aos trabalhos do imunologista austríaco pessoa para pessoa.
Karl Lanâsteiner em 1901.
Essa característica reveste-se de importância em
Sobre a superfície das hemácias podemos en­ medicina legal porque permite a tipagem sanguí­
contrar dois antígenos, diferentes e relacionados, nea, ao menos em relação ao grupo ABO, a partir de
que tomam as células passíveis de aglutinação, a que manchas recolhidas das vestes da vítima ou mesmo
se convencionou chamar de aglutinogênio tipo A e tocos de cigarro retirados do local do crime.
aglutinogênio tipo B.
Ainda que o sistema ABO não possa ser utili­
Dependendo da maneira como esses antígenos zado para provar a paternidade, serve como prova de
são transmitidos de geração a geração, por três pa­ exclusão, já que uma criança não pode pertencer a um
res de genes, A, B e O, podemos identificar indiví­ grupo sanguíneo que não esteja presente nos pais.
duos portadores de cada um deles separadamente,
Também em locais de crime o sistema ABO
dos dois ou de nenhum, formando quatro grupos
pode levar à inclusão ou exclusão de eventuais sus­
fundamentais: A, B, AB e O, este último indicativo
peitos, caso o autor indigitado tenha deixado na cena
da ausência de ambos os aglutinogênios.
do delito material que permita a tipagem sanguínea.

Grupo sanguíneo Genótipos possíveis


11A Fatores MN
A AA ou AO
Descobertos em 1927, por Lanâsteiner e Levine,
B BB ou BO
os aglutinogênios M e N levam à formação de três
AB AB
grupos sanguíneos distintos:
0 00

Grupo sanguíneo Genótipos possíveis

Grupo Filhos Filhos M MM


sanguíneo dos pais possíveis impossíveis
N NN
A XA Ae 0 B e AB
MN MN
A XB 0 , A, B e AB nenhum

AX AB A, B e AB 0
Grupo sanguíneo Filhos Filhos
A X0 A ©0 Be AB dos pais possíveis impossíveis
BXB B eO A e AB MXM M N ©MN
B X AB A, B e AB 0 MXN MN N eM
BX0 BeO A e AB M X MN MN e M N
AB X AB A, B e AB O NXN N M e MN
AB X 0 AeB 0 e AB N X MN MN e N M
0X0 0 A, B e AB MN X MN MN, M eN nenhum

Os antígenos sanguíneos não estão restritos às Da mesma maneira que o ABO, o sistema MN
células vermelhas do sangue ou aos tecidos dos ór­ não serve para provar a paternidade, mas pode ex­
gãos hemopoiéticos (produtores de sangue). Não cluí-la com certeza, visto que uma criança não pode
há dúvida que os antígenos do sistema ABO podem pertencer a um grupo sanguíneo que não esteja pre­
ser encontrados nos vários tecidos orgânicos, tendo sente nos pais.

68
Medicina Legal II

11.5. Fatores Rh e rh larmente em questões envolvendo transfusões san­


guíneas e transplantes de órgãos, como os sistemas
Em 1939 Philip Levinee R. E. Stetson descreve­
LewiSy Duffy, Kidd>Kell Cellano e grupos Lutheran,
ram a presença de um antígeno no soro de gestantes
funcionam como exames apenas complementares
a que denominaram Rho ou D. Em 1940, Landstei-
em termos de investigação da paternidade, poden­
ner e 'Wiener descobriram que glóbulos vermelhos,
do excluir, mas não confirmar eventual alegação.
provenientes do macaco Rhesus, quando lavados e
inoculados em coelhos, levavam à produção de uma
espécie de anticorpos que reagia com 85% dos indi­ 11.7. Sistema HLÃ
víduos de raça branca. A esse fator foi dado o nome
de fator rhesus ou fator Rh, indicando genericamen­ Os antígenos leucocitários humanos, identifica­

te por Rh (Rh positivo) os indivíduos reagentes e dos pela sigla HLA (Human Leucocyte Antigen), es­
por rh (Rh negativo) os não reagentes. tão presentes na superfície de todas as células nuclea-

Em termos médico-legais a importância do fator das do organismo (o que exclui as hemácias) e têm
Rh está ligada ao cuidado necessário nas transfusões grande importância nas questões de histocompati-
sanguíneas, podendo eventuais acidentes caracteri­ bilidade (identidade genética entre dois indivíduos,
zar negligência médica, especialmente em questões que possibilita ou não o transplante de tecidos).
relativas à prevenção da eritroblastose fetal (doença Verificou-se que esses antígenos estavam ligados
hemolítica do recém-nascido). à interação de vários genes, identificados pelas letras
No campo da exclusão da paternidade, o fator Rh A, B, C e D, localizados no braço curto do par de cro-
pode operar como auxiliar e, mesmo assim, com baixo
mossomos 6, cada um deles associado a vários alelos
percentual de eficácia, uma vez que a análise do fator
(cada uma das formas que um gene pode apresen­
Rh em combinação com o sistema ABO pode exduir a
tar e que determina características diferentes). O
paternidade em menos de 30% dos casos alegados.
quadro abaixo mostra os alelos conhecidos até o
momento, embora exista certa divergência entre os
11.6. Outros fatores autores quanto à classificação e nomenclatura (ba­

Outros fatores sanguíneos de grande impor­ seado em quadro proposto por Gilberto Alvarenga
tância para a hematologia e imunologia, particu­ Navarro, in Gomes, 2003, p. 551):

HLA-A HLA-B HLA-C HIA-D


Al A33(19) B5 B3902 855(22) 676(15) Cwl DR1 DR16(2)
A2 A34( 10) B7 B40 B5ó(22) B77f 15) Cw2 DR103 DR17(3)
A203 A3Ó B703 B40{5) B57(17j B7801 Cw3 DR2 DR18(3)
A3 A43 B8 B41 B58{ 17) Bw4 Cw4 DR3 DR51
A? A66fl0) B12 B42 B59 Bw6 Cw5 DR4 DR52
A10 AÓ8(28} B13 B44(12) B60(40) Cw 6 DR5 DR53
AH Aó?(28) B14 B45(12) B61(40) Cw 7 DR6
A l? A74(19) B16 B46 862(15) Cw8 DR7 DQ1
A23(9) B17 B47 Bó3(15) Cw9(w3) DR8 DQ2
A24(?) BI 8 B48 B64(14) Cw10(w3) DR9 DQ3
A2403 B21 B49(21) B65(14) Cw12 DR10 DQ4
A25(10) B22 B50(21) B67 Cwl 3 DR11(5) DG5(1)
A26{10} B27 B51(5) B70 Cwl 4 DR12(5) DQ6(1)
A28 B35 B5102 B71 Cwl 5 DR13(ó) DQ7(3)
A29{ 19) B37 B5103 B71 (70) Cwl 6 DR14(ó) DQ8(3)
A30(19) B38(16) B52(5) B72(70j Cwl 7 DR1403 DQ9(3)
A31 (19) B39{ló) B53 B73 DR1404
A32( 19) B3901 B54(22) B75(15) DR15(2)
CursoSConcurso

O número de alelos e, consequentemente, de a apresentar apenas quatro combinações possíveis


antígenos HLA detectáveis que cada pessoa pode em relação aos pais {vide esquema).
apresentar varia de quatro a um máximo de oito, Graças ao acentuado polimorfismo (variação
sendo metade recebida da mãe e metade do pai. dentro de uma população), o sistema HLA é muito
A herança, devido à proximidade dos loci (plu­ adequado à investigação de paternidade, pois os ín­
ral de lócusy indica o lugar que o gene ocupa no cro­ dices de exclusão ultrapassam 90%, valor bastante
mossomo), é codominante, ou seja, não há genes significativo se comparado aos dos sistemas ABO,
recessivos, e faz-se em blocos, o que leva os filhos R heM N .

Filhos
A2-B12-Cw5-DR3
Al 1-B12-Cw8-DR3

Pai A2-B12-CW5-DR3 Mãe


A2-B12-Cw5-DR3 A2-B8-Cwl -DR2 A li -B12-Cw8-DR3
A3-B15-Cw4-DR9 A2-B8-Cw! -DR2
A3-B15-Cw4“DR9
A2~B8~Cw1 -DR2

A3-B15-CW4-DR9
Al 1~B12~Cw8~DR3

11.8 . DNA características genéticas. A maior parte, entretanto,


não tem função conhecida (junk DNA).
A partir de meados da década de 80, com a des­
Nessa ampla faixa de DNA de função indefini­
coberta, pela equipe de Alec Jeffrey$yde regiões va­
da existem pequenas regiões, denominadas micros-
riáveis do genoma humano, a habilidade dos labo­
satélites ou minissatélítes, formadas por pequenas
ratórios periciais em identificar autores de crimes a
seqüências de dois a seis pares de bases nitrogena-
partir de amostras de seus fluidos orgânicos cresceu
das (nucleotídeos), que se repetem inúmeras vezes
enormemente.
do começo ao fim (short tandem repeat — STR).
O DNA (deoxyribonucleic aciã) ou ADN (ácido Essas regiões apresentam um polimorfismo bas­
desoxirribonucleico), em português, é uma longa tante acentuado, permitindo sua aplicação nos méto­
molécula, em forma de dupla hélice, encarregada dos de identificação com utilidade na área forense.
da transmissão de informações genéticas de todos
A análise começa com a extração do DNA da
os seres vivos.
amostra. Como geralmente a quantidade de DNA ob­
A molécula do DNA é formada por duas longas tida é muito pequena, é preciso multiplicar a amostra
fitas de sustentação, compostas por uma pentose com um método conhecido como reação em cadeia
(um açúcar — desoxirribose) e um grupo fosfato depolimerase (polymerase chain reaction) ou PCR.
(P 0 4), que se sucedem alternadamente. Unindo as Uma vez multiplicada a amostra, as cópias são
fitas de sustentação, temos quatro bases nitrogena- submetidas à eletroforese em gel de agarose e sepa­
das, duas purinas (adenina e citosina) e duas piri- ram-se de acordo com os tamanhos. Para tornar os
midinas (timina e guanina), que, ligando-se entre fragmentos visíveis usam-se marcadores radioati­
si, dão a conformação de uma escada em espiral vos, que sensibilizam uma chapa radiográfica, pro­
com cerca de três bilhões de degraus. duzindo faixas paralelas horizontais, similares a um
Apenas uma pequena porção da molécula de código de barras, correspondentes às frações identi­
DNA é responsável pela transmissão de nossas ficadas pelas sondas.

70
Medicina Legal I!

No campo da identificação criminal, compara-se do filho deve ser proveniente do DNA da mãe ou do
a amostra retirada do local do crime com aquela ob­ pai. Caso exista alguma faixa sem correspondência,
tida da pessoa suspeita. Se as bandas forem corres­ o exame terá excluído a paternidade.
pondentes, a identificação é positiva. Para a afirmação da paternidade, quando todas

Para a investigação de paternidade, a questão é as frações são coincidentes, calcula-se o percentual


de cada fração na população, estabelecendo-se um
um pouco mais complexa.
cálculo estatístico de probabilidade.
É sabido que o filho recebe metade de seu DNA
No quadro abaixo temos, à direita, um quadro
da mãe e metade do pai, visto que os gametas (óvulo
de probabilidades, ou seja, todas as frações identifi­
e espermatozoide) são células haploides (possuem a
cadas no filho vieram do pai ou da mãe. No quadro
metade do número de cromossomos das demais cé­ à esquerda, temos algumas frações que não encon-
lulas do organismo). tram correspondência nem na mãe, nem no indi-
Ao colocarem-se, lado a lado, as amostras de mãe, gitado pai (setas pretas), o que leva à conclusão de
pretenso pai e filho, cada fração existente no DNA que este é outra pessoa que não o investigado.

Paternidade excluída Paternidade provável


Mãe Filho Pai Mãe Filho Pai

O exame do DNA, que pela sua precisão re­ a) o transexualismo;


cebeu o nome de impressão digital do DNA (DNA b) o homossexualismo;
fingerprint)> vem sendo questionado quanto a sua
c) o hermafroditismo;
exatidão. Algumas ponderações relacionadas com a
d) o pseudo-hermafroditismo.
possibilidade de contaminação ou com as tabelas de
frequência gênica utilizadas para o cálculo de proba­
bilidade têm lançado dúvidas sobre a infalibilidade
inicialmente proclamada do exame. Em que pesem
as críticas, bastante ponderáveis, o exame do DNA
ainda é dos mais seguros no que toca à identificação
criminal e determinação da paternidade, com pro­
babilidades que ultrapassam os 98% de certeza.

(DP/SP 01/93) Aquela pessoa envolvida na


QUESTÕES morte do famoso joalheiro era, na verdade,
hermafrodita, pois possuía:
CONCEITO DE SEXO
Hermafroditismo a) corpo de homem e marcante personalida­
de feminina;
(DP/SP 03/92) O fato de um indivíduo ter, si­
multaneamente, gônadas masculinas e femi­ b) simultaneamente testículos e ovários;
ninas caracteriza: c) atração sexual por pessoas idosas;

71
Curso&Conctirso

d) corpo de mulher e marcante personalida­ c) o estupro;


de masculina. d) os traumatismos perineais.

Conjunção carnal e rotura do hímen (DP/SP 01/88) A rotura do hímen é produzida:

(DF/SP 04/93) Constitui conjunção carnal, a) exclusivamente pela conjunção carnal;


em Medicina Legal: b) às vezes por traumatismos perineais;

a) a introdução total ou mesmo parcial do c) nunca por masturbação manual;


pênis na vagina; d) nunca por problemas patológicos.
b) somente a penetração total do pênis na
vagina;
c) somente a introdução do pênis na vagina
com deposição de esperma em seu interior;
d) somente a relação sexual com mulher,
constrangendo-lhe a liberdade sexual.

(DP/SP 03/88) Não se pode afirmar que:


a) a rotura himenal recente é aceita como
prova de conjunção carnal;
b) constatada a gravidez, houve conjunção
carnal;
c) a integridade do hímen afasta definitiva­
(DP/SP 03/90) Entre os sinais de convicção, mente a possibilidade de ter ocorrido uma
ditos também de certeza, de conjunção car­ conjunção carnal;
nal, não incluímos: d) verificada a presença de esperma no inte­
a) rotura recente do hímen; rior da vagina, pode-se admitir a ocorrên­
b) presença de esperma no fundo da vagina; cia de conjunção carnal.
c) escoriações na vulva;
d) gravidez.

£ 9 (DP/SP 04/88) É falsa a seguinte afirmação:


a) A presença de esperma dentro da vagina é
g l g l l (DP/SP 05/93) É etiologia mais freqüente nas considerada prova de certeza na conjun­
roturas himenais: ção carnal.
a) a conjunção carnal; b) Escoriações e equimoses nas raízes das coxas
b) a sedução; e na vulva são sugestivas de violência sexual.
Medicina Legal II

c) A integridade do hímen é prova de que


(DP/SP 03/93) O nome clássico de carúncula
não houve conjunção carnal.
mirtiforme é dado:
d) Para caracterizar-se o estupro é necessário
a) à retração cicatricial de pequenos ferimentos
comprovar-se a ocorrência de conjunção
produzidos por queimaduras criminosas;
carnal.
b) à cicatrização retrátil das queimaduras
por álcalis fortes;
c) às lesões nodulares dos pulmões, produzi­
das por fumo;
d) ao hímen que fica reduzido a pequenos
brotos cicatriciais.

(DP/SP 02/89) À simples constatação de que


o hímen está íntegro, o médico-legista não
pode afirmar que:
a) certamente não houve conjunção sexual;
b) pode ter ocorrido conjunção sexual; (DP/MG — 2007) Considerando o hímen é

c) pode não ter ocorrido conjunção sexual; correto afirmar:

d) a mulher pode ser virgem. a) É formado por uma única face de mem­
brana mucosa;
b) Sua implantação não varia com a idade;
c) Pode ser múltiplo em diferentes planos
anatômicos;
d) Quanto maior a sua altura, maior é o seu
óstio.

(DP/SP 03/89) Assinale a proposição incorreta:


a) A conjunção carnal implica a introdução
do pênis na vagina.
b) A integridade do hímen é prova definitiva
de virgindade.
(DP/SP 01/94A) De acordo com diversos au­
c) Constatada a presença de esperma no tores, a cicatrização completa de uma rotura
fundo da vagina, firma-se a convicção de himenal, decorrente de conjunção carnal, de­
que houve conjunção carnal. mora, no máximo, ao redor de:
d) Indivíduos do sexo masculino podem a) 5 dias;
também ser vítima de ato libidinoso sob b) 20 dias;
violência. c) 30 dias;
d) 40 dias.
CursoSConcurso

d) não afastam definitivamente as ocorrên­


(DP/SP 04/93) Hímen complacente é aquele
cias de conjunção carnal e de coito anal.
que:
a) rompe-se facilmente, não opondo resis­
tência à penetração do pênis;
b) restaura-se espontaneamente toda vez que
é rompido;
c) permite a penetração do pênis sem se
romper;
d) não provoca dor nem sangramento ao se (DP/SP 04/89) Alta concentração de fosfatase
romper. ácida no interior da vagina revela:
a) gravidez;
b) presença de líquido espermático;
c) aborto recente;
d) parto recente.

(DP/SP 02/90 e DP/SP 06/91) Hímen verda­


deiramente complacente é aquele que:
a) não se contrai durante a penetração do
pênis;
b) refaz-se espontaneamente após a conjun­
Impotências
ção carnal;
[1J®]} (DP/SP 02/89) A impotência coeundi mascu­
c) não se rompe mesmo durante o parto
lina resulta:
normal;
a) na incapacidade de realizar a conjunção
d) não se rompe durante a conjunção
carnal;
carnal.
b) na incapacidade de ejacular;
c) na ausência de espermatozóides no liqui­
do seminal;
d) na aversão ao ato sexual com mulher.

(DP/SP 01/03) As ausências de espermatozói­


des na vagina e no canal anal:
a) afastam definitivamente as ocorrências de
conjunção carnal e de coito anal;
jJÈ S (DP/SP 01/88) A impotência coeundi mascu
b) afastam definitivamente a ocorrência
lina é:
de conjunção carnal, mas não a de coito
anal; a) simples instrumental;

c) afastam definitivamente a ocorrência de b) simples funcional;

coito anal, mas não a de conjunção carnal; c) nem instrumental, nem funcional;
Medicina Legai II

d) instrumental ou funcional, dependendo c) impotência generandi;


do caso específico. d) todas as opções são corretas.

• I (DP/SP 01/94B) A impotência coeundi: (DP/SP 07/93) De acordo com o critério usual

a) é exclusiva do homem; para classificação da impotência sexual, a in­


capacidade procriadora feminina denomina-
b) é exclusiva da mulher;
se impotência:
c) não é exclusiva de nenhum dos sexos;
a) coeundi;
d) é a impossibilidade de procriação.
b) concipiendi;
c) generandi;
d) coeundi psicofuncional

Q Q | (DP/SP 01/90) Um indivíduo com impotên­


cia coeundi:
a) é estéril, apesar de poder realizar a con­
(DP/RL — 2001) O erro essencial quanto à
junção carnal;
pessoa, referido nos arts. 218 e 219 do Código
b) é estéril e incapaz de realizar a conjunção
Civil, é reconhecido quando há, entre outras
carnal;
condições, o chamado “defeito físico irreme­
c) não é estéril, mas não é capaz de realizar a
diável”, que pode ser exemplificado por:
conjunção carnal;
a) impotência generandi;
d) ou é estéril, ou é capaz de realizar a con­
b) esterilidade feminina;
junção carnal
c) pseudo-hermafroditismo masculino in­
terno;
d) azoospermia;
e) atresia vaginal.

(DP/SP 05/91) A anulação do vínculo matri­


monial pode ser feita pela constatação da:
a) impotência coeundi;
b) impotência concipiendi;
CurstôConctirso

Gravidez, parto e puerpério a) tem menos de 18 anos;


b) tem rotura recente do hímen;
(DP/SP 01/94B) O prazo máximo legal de
c) tem alienação mental;
gravidez é de:
d) tem ferimentos variados no pescoço» tó­
a) 270 dias;
rax, abdômen e coxa.
b) 294 dias;
c) 300 dias;
d) 310 dias.

(DP/SP 06/93) Há uma presunção (iuris et de


iure) de violência quando se pratica a conjun­
ção carnal com mulher:
(DP/MG — 2007) Constituem estigmas que
a) virgem com menos de 16 anos;
podem ser alusivos a parto antigo, exceto:
b) alcoolizada;
a) cicatrizes uterinas;
c) menor de 14 anos, desde que ela seja virgem;
b) cicatrizes perineais;
d) alienada mental, qualquer que seja sua
c) carúnculas mirtiformes;
idade.
d) tumefação da vulva.

j l (DP/SP 05/93) Um estuprador que adminis­


Ciclo menstruai tra previamente à sua vítima drogas entorpe­
(DP/SP 02/88) A menarca é prenúncio do centes ou de efeitos análogos pratica violência:
amadurecimento sexual: a) física ou efetiva;
a) da mulher; b) presumida;
b) de futuros reis; c) por grave ameaça;
c) do homem; d) psíquica.
d) do macaco.

Atentado violento ao pudor


Estupro (DP/SP 04/91) Constitui sodomia:

(DP/SP 01/88) Em casos de estupro, a violên­ a) o coito oral;


cia é presumida quando a vítima: b) azoofilia;

76
Medicina Legal II

c) a masturbação; a) recém-nascido seja morto pela mãe ou


d) o coito anal. pela parteira;
b) recém-nascido seja morto pela mãe ou
pelo pai;
c) nascituro seja morto durante o trabalho
de parto;
d) recém-nascido seja morto pela própria mãe.

Infanticídio e estado puerperai


H 2 J (DP/SP 01/91) Puerpério é:
a) um fenômeno anormal, que pode levar a
mulher a matar o próprio filho;
b) um período normal durante o qual a mu­ (DP/SP 01/88) O infanticídio, delito que me­
lher se refaz das alterações ocorridas em seu rece um tratamento particular no Código Pe­
organismo devido à gravidez e ao parto; nal brasileiro é:
c) um estado psicótico desencadeado pelo a) homicídio cometido contra crianças, ou
parto; infantes, em geral;
d) um problema psicossocial, em que a b) homicídio cometido contra recém-nasci­
mãe, analfabeta e ignorante mata o pró­ do, por qualquer pessoa;
prio filho, tentando ocultar uma gravi­ c) o ato de matar o feto, ainda no útero ma­
dez indesejada. terno, no início do trabalho de parto;
d) a morte do recém-nascido provocada pela
própria mãe, sob estado de transtorno
mental decorrente do trabalho de parto
no puerpério.

(DP/SP 03/90) Alega-se o estado puerperai:


a) no caso de aborto consentido;
b) no caso de aborto sem consentimento da
gestante;
(DP/SP 02/93) Para se tipificar o infanticídio
c) no caso de morte da mãe, em conseqüên­
é dispensável, em tese, a:
cia de aborto;
a) autoria da própria mãe;
d) no infanticídio.
b) morte do concepto;
c) comprovação do nascimento com vida;
d) ocorrência do estado puerperai.

34 (DP/SP 04/89) Para se admitir o infanticídio


é indispensável que o:
CursoSConcurso

Docimasias (DP/SP 04/88, DP/SP 06/91 e DP/SP 02/92)


R f j J j (DP/SP 01/94A) A presença de bolha gasosa Utilizam-se as docimasias de Galeno nos ca­
no estômago do cadáver de um feto, eviden­ sos de:
ciada pela docimasia de Breslau, prova que o a) afogamento;
feto nasceu vivo porque: b) infanticídio;
a) chegou a ser alimentado; c) envenenamento por cianetos;
b) já tem o tubo digestivo colonizado por d) traumatismos cranianos.
bactérias;
c) chegou a respirar;
d) digeriu alimentos.

(DP/SP 04/90) O médico-legista recorre às


docimasias de Galeno para:
a) comprovar o nascimento com vida de um
(DP/RJ — 2001) Sabendo-se que o crime de feto;
infanticídio pode ocorrer durante ou logo após
b) verificar se houve conjunção carnal;
o parto, é possível provar que um feto que não
c) certificar-se se a muíher está grávida;
respirou estava vivo durante o parto através de:
d) caracterizar o estado puerperal
a) docimasia óptica de Bouchut;
b) presença da bossa serosa occipital;
c) docimasia auricular;
d) docimasia gastrointestinal de Breslau;
e) exame da placenta e do cordão umbilical

(DP/SP 02/89) A docimasia hidrostática de


Galeno é utilizada para comprovar:
a) o nascimento com vida;
b) a morte por afogamento;
c) a permanência do cadáver dentro da
(DP/SP 03/88) Por meio da docimasia hi-
água;
drostática de Galeno, o médico-legista:
d) a intoxicação alcoólica.
a) verifica o grau de alcoolemia do indivíduo;
b) estima o tempo decorrido entre o óbito e o
momento do exame do cadáver da vítima;
c) comprova o nascimento com vida;
d) comprova a conjunção carnal recente.

(DP/SP 05/91) A melhor prova de vida extrau-


terina e de uso mais corrente é a docimasia:
a) hidrostática de Hipócrates;
Medicina Lega! I!

b) métrica de Daniel; c) dos movimentos voluntários do feto» ao


c) de Béclarã; nascer;
d) hidrostática de Galeno. d) da sobrevivência do feto, após o nascimento.

QjjjJI (DP/SP 04/93) Para realizar as docimasias hi


(DP/SP 02/91 e DP/SP 05/93) Para compro-
drostáticas de Galeno o médico legxsta utiliza:
var que o feto nasceu com vida, o médico-le-
gista recorrerá: a) o coração da vitima;
b) o estômago e os intestinos da vitima;
a) ao sinal de Benassi;
c) a cabeça da vítima;
b) ao sinal deBonnet,
d) os pulmões da vítima.
c) às provas hipocráticas;
d) às docimasias de Galeno.

Aborto

(DP/SP 01/88) Por abortamento entende-se:


(DP/SP 01/92) A docimasia hidrostática de
Galeno comprova que, após o nascimento, o a) a morte de concepto no útero materno,
antes de 5 meses de vida gestacional;
feto:
b) a morte de concepto no útero materno,
a) respirou;
com mais de 5 meses de vida gestacional;
b) movimentou-se;
c) a morte de concepto no útero materno,
c) alimentou-se;
independente da idade gestacional do
d) chorou.
mesmo;
d) a expulsão do concepto do corpo materno,
vivo, porém sem condições de viabilidade.

(DP/SP 04/92 e DP/SP 07/93) A positividade das


docimasias de Galeno depende, essencialmente:
a) da respiração do feto, ao nascer; £jj|jj|(DP/SP 04/88) Em medicina legal conceitua-se
b) dos batimentos cardíacos do feto, ao aborto como a interrupção da gravidez, por
nascer; morte do concepto:
CursoéCoiiciirso

a) em qualquer fase da gestação; d) tem, necessariamente, uma causa violen­


b) apenas no primeiro trimestre da gestação; ta, criminosa ou não.
c) apenas nos primeiros 5 meses da gestação;
d) apenas até o segundo trimestre da gestação.

(DP/MG — 2007) O abortamento nos casos


de estupro é denominado:
a) social;
(DP/SP 02/88) O aborto provocado:
b) piedoso;
a) só é possível nos 3 primeiros meses de
gestação; c) eugênico;

b) exige, além da gestante, uma terceira pessoa; d) terapêutico.

c) é sempre criminoso;
d) pode ser acidental.

(DP/RJ — 2000) Uma mulher grávida faz


uma ultrassonografia e constata que o seu feto
é portador de graves malformações congêni­
(DP/SP 01/92 e DP/SP 01/95) Considera-se
tas. Procura um obstetra e lhe pede que faça
aborto, em Medicina Legal, a interrupção da
o aborto. O médico faz a intervenção pedida
gravidez, por morte do concepto: pela gestante e, semanas depois, é intimado
a) até o terceiro mês de gestação; a comparecer à delegacia policial acusado de
b) até o quinto mês de gestação; crime de aborto. De acordo com o nosso Có­
c) até o sexto mês de gestação; digo Penal, assinale a afirmativa correta em
d) em qualquer época da gestação, antes do relação à acusação:
parto. a) trata-se de aborto eugênico, não permitido;
b) o médico agiu dentro da lei por se tratar
de aborto sentimental;
c) trata-se de aborto terapêutico, permitido;
d) o médico infringiu apenas o Código de
Ética, não violou norma penal;
e) trata-se de aborto qualificado, punível
com aumento de pena.
(DP/SP 02/92) O aborto, em Medicina Legal:
a) é sempre criminoso;
b) é sempre provocado por ação humana,
podendo ser até lícito;
c) pode ocorrer em qualquer fase da gesta­
ção, antes do parto;
Medicina Legal II

c) homossexualismo;
g y g | (DP/SP 03/88) Em medicina legal, para se ca­
d) exibicionismo.
racterizar aborto:
a) é necessário e suficiente que se comprove
a morte do concepto ainda dentro do cor­
po da gestante;
b) é necessário e suficiente que se comprove
que o feto foi expulso do corpo materno
antes de se completar o período normal
de gestação;
Fetichismo
c) é necessário que se comprove a morte do
feto e sua expulsão do corpo materno;
58 (DP/SP 01/2000) Certas pessoas sofrem de
um desvio de conduta sexual que as pode le­
d) é necessário que se comprove a morte e a
var a furtar compuísivamente e a colecionar
expulsão do feto e a ocorrência de mano­
peças do vestuário íntimo, como calcinhas
bras destinadas a provocá-las.
femininas, “soutiens”, cuecas etc. Tal desvio
recebe o nome de:
a) voyeurismo;
b) mixoscopia;
c) fetichismo;
d) uranismo.

TRANSTORNOS DO INSTINTO SEXUAI


Diversos
(DP/SP 06/93) Necrofilia e vampirismo são
distúrbios do instinto sexual que levam, ge­
ralmente, ao delito de:
a) atentado violento ao pudor; 2H (DP/SP 02/93) Fetichismo, desvio de condu­
b) homicídio qualificado; ta sexual que pode levar ao crime, consiste na
c) apropriação indébita; obtenção de prazer pela:
d) vilipêndio ao cadáver. a) prática de rituais mágicos preliminares ao
ato sexual;
b) fixação em certas partes do corpo do(a)
amado (a);
c) posse de certos objetos da pessoa amada
ou desejada;
d) prática de atos libidinosos com animais.

Exibicionismo
|P P j|
(DP/SP 02/94) Está mais intimamente vincu­
lado ao ultraje público ao pudor o desvio de
conduta sexual denominado:
a) bestialismo;
b) travestismo;
Cursc&Concurso

Mixoscopia
(DP/SP 01/94B) A pedofilia consiste em:
U U (DP/SP 01/89 e DP/SP 05/93) Mixoscopia é a) atração sexual por crianças;
um desvio de conduta sexual que consiste na b) quadro clínico caracterizado por excesso
obtenção do orgasmo por: de gás intestinal;
a) prática de coito anal; c) fetichismo pelos pés da mulher amada;
b) observação de ato sexual alheio; d) desenvolvimento mental retardado.
c) relação sexual com animais;
d) leitura de livros eróticos.

(DP/SP 01/92) Um indivíduo que sofre de


pedofilia sente-se atraído, sexualmente, em
(DP/SP 01/94A) Pessoa que atinge a excitação
particular por:
sexual e o orgasmo somente quando presen­
cia relação sexual alheia sofre um distúrbio no a) pés;
instinto sexual chamado: b) odores desagradáveis;
a) fetichismo; c) crianças;
b) mixoscopia; d) homossexuais.
c) zoopsia;
d) tribadismo.

Rlparofilia
(DP/SP 03/93) Riparofilia é um distúrbio se­
Pedofilia
xual, manifestado pelo(a):
(DP/SP 01/91 e DP/SP 02/92) Entende-se por
a) desejo e satisfação sexual realizados sob
pedofilia a:
sofrimento;
a) identificação de recém-nascido pela im­
b) atração sexual por mulheres desasseadas,
pressão plantar do pé;
sujas, de baixa condição social e de pouca
b) excitação sexual através da visualização
higiene;
ou do contato do pé;
c) satisfação sexual com animais domésticos;
c) identificação de impressões plantares dei­
d) prática sexual onde participam 3 ou mais
xadas num piso;
pessoas.
d) atração sexual por crianças.
Medicina Legai li

Sadismo
(DP/SP 01/94B) Transexualismo é sinônimo de:
(DP/SP 05/91) A perversão sexual em que o a) hermafroditismo;
indivíduo encontra satisfação sexual fazendo b) homossexualidade;
sofrer a outrem é denominada:
c) pseudo-hermafroditismo;
a) safismo; d) n.d.a.
b) tribadismo;
c) sadismo;
d) masoquismo.

Investigação de paternidade
j U (DP/SP 04/90) Em pesquisa de paternidade,
as provas baseadas na identificação de fatores
Safismo (antígenos) de glóbulos vermelhos são:
| *| | (DP/SP 03/88 e DP/SP 02/92) Safismo é: a) de certeza, quando confirmam a paterni­
a) a intoxicação por chumbo; dade;

b) uma característica racial; b) de certeza, quando excluem a paternidade;

c) uma modalidade de toxicofilia; c) de certeza, quer confirmem quer infir-


mem a paternidade;
d) uma modalidade de homossexualismo.
d) apenas de probabilidade, quer confirmem
quer infirmem a paternidade.

Transexualismo
j|«|||| (DP/SP 04/93) Uma pessoa de sexo genético (DP/SP 04/91) A pesquisa de paternidade pe­
feminino, com configuração somática femi­ los sistemas ABO, Rh e MN confere:
nina, que psicologicamente se sente homem,
a) certeza na atribuição da paternidade;
e como tal se considera, sofre de:
b) certeza na exclusão da paternidade;
a) travestismo;
c) certeza tanto na atribuição quanto na ex­
b) homossexualismo; clusão da paternidade;
c) lesbianismo; d) somente probabilidade tanto na atribui­
d) transexualismo. ção quanto na exclusão da paternidade.
Cursrê£oncurso

(DP/SP 06/91) Quer-se atribuir a um homem J (DP/SP 01/95) As provas de filiação represen­
com sangue tipo “O” a paternidade em rela­ tadas por vórtice capilar» braquidactilia e cor
ção a uma menina com sangue tipo “A”. Tal dos olhos:
paternidade será: a) são pré-mendelianas;
a) absolutamente impossível; b) são mendelianas;
b) possível, somente se a mãe tiver sangue “A”; c) carecem de qualquer valor científico;
c) possível se a mãe tiver sangue “A” ou “AB”; d) não podem afirmar a realidade do vínculo
d) possível se a mãe tiver sangue “B”. paterno.

(DP/SP 04/92) A investigação de paternida­


de através da comparação de antígenos de
glóbulos brancos (leucócitos) se baseia no
sistema:
a) ABO;
b) MN;
c) RH;
d) HLA.
Capítulo III

Tanatologia

A tanatologia médico-legal ou forense é o ramo à parada cardíaca irreversível, e a morte cerebral, de­
da medicina legal que estuda o morto e a morte, assim finida como a morte encefálica geral, e não apenas
como os fenômenos dela decorrentes. da porção cortical, ainda que o coração esteja em
atividade, O conceito de morte cerebral passou a ter
grande importância com o advento dos transplan­
1. CONCEITO DE MORTE
tes de órgãos e tecidos.
Ainda que para nós, seres humanos, a morte O Comitê de Ressuscitação e Transplante de
se apresente como um evento único, determinado, Orgãos da Sociedade Alemã de Cirurgia, em traba­
que ocorre em um instante preciso, na verdade ela lho de 1968, concluiu que há três condições para
engloba uma série de transformações sucessivas que determinar-se a realidade da morte (apud Zarzuela,
se prolongam no tempo. A morte é um processo di­ 1991, p. 223):
nâmico e prolongado.
Para Simonin, a morte constitui um processo KA. O cérebro está morto quando:

que se inicia nos centros vitais cerebrais ou cardíacos a) observam-se os sinais clássicos da morte ou
e se propaga, progressivamente, a todos os órgãos e b) a depressão circulatória tenha provocado uma
tecidos, ocorrendo inicialmente a morte funcional e parada respiratória ou cardíaca que não responde
depois a morte tissular (apud, Zarzuela. O perito e as a tratamento, no final de uma doença incurável
mortes violentas, Revista âa Faculdade de Direito das e progressiva ou no curso de uma perda gradual
Faculdades Metropolitanas Unidas, 1991, p. 222). das funções vitais;
O conceito mais simples de morte ( morte clí­ B. a morte cerebral pode produzir-se antes que
nica) e que não mais corresponde à realidade é o cessem os batimentos cardíacos (traumatismos ce­
de wcessação total e permanente das funções vitais”, rebrais); considerar-se-á que o cérebro está morto
isto porque, no grau de desenvolvimento atual da depois de 12 horas de inconsciência com falta de
medicina, é possível, em várias situações, reverter o. respiração espontânea, midríase bilateral e EEG
quadro e trazer de novo à atividade um organismo isoelétrico, ou quando o angiograma revela cessação
cujas funções vitais haviam cessado. . da circulação intracraniana durante 30 minutos;
Atualmente temos dois conceitos de morte C. pode ocorrer que o coração pare e o sistema
mais precisos: a morte circulatória, que corresponde nervoso central esteja intacto ou com possibilidade
CurscNCoracurso

de se recuperar. Convém então iniciar a ressusci- que ela ocorreu. Tanto uma como a outra baseiam-se
tação; se os batimentos cardíacos não reaparece­ nos chamados fenômenos cadavéricos.
rem, pode-se dar por morto o paciente; porém, se
reaparecerem, inclusive sem se restabelecer a cons­
ciência ou a respiração espontâneas, deve-se seguir,
2.1. Fenômenos cadavéricos
aplicando as normas usuais de assistência intensiva, Como vimos, a morte é uma sucessão de fenô­
até que fique demonstrada a morte cerebral”.
menos que se prolonga no tempo. Não ocorre em
um instante preciso, do que decorre a dificuldade
Fala-se ainda em morte aparente, anatômica,
de determinar o chamado momento da morte.
histológica, relativa, intermédia e real.
A fim de poder melhor estudar os fenômenos
A morte aparente é o estado em que na verdade
o indivíduo apenas parece morto em razão de baixa cadavéricos, que nada mais são do que as várias

atividade metabólica e circulatória. Há inconsciên­ transformações por que passa o corpo na sua transi­

cia, relaxamento muscular, respiração diminuída ção da vida para a morte, Lorenzo Borri estabeleceu

ou apneia (falta de respiração). Para evitar o sepul- que os fenômenos cadavéricos dividem-se em dois

tamento acidental nessas condições, a lei exige o de- grandes grupos: os abióticos, avitais ou vitais nega­
curso de 24 horas antes da inumação. tivos, que podem ser observados indiscriminada­

Morte anatômica é a parada total e permanente mente em todas as mortes, e os transformativos ou

de todas as funções orgânicas. de positivação da morte, que podem variar de caso a


caso (apud Maria Celeste Santos, Morte encefálica e
Morte histológica é a morte das células que com­
a lei dos transplantes de órgãos, 1998, p. 11).
põem os vários tecidos e órgãos. Como a morte é
um fenômeno que se protrai no tempo, é perfeita­
perda da consciência
mente normal encontrarmos células vivas no cadá­
imobilidade
ver mesmo dias após a inumação. relaxamento muscular
Morte relativa é o estado de parada cardíaca re­ relaxamento dos
versível, em que o organismo ainda não ultrapassou imediatos esfíncteres
o “ponto de não retorno”, podendo, se submetido à parada cardíaca
massagem cardíaca oportuna, retornar à vida. ausência de pulso

Morte intermediária ou intermédia é a cessação parada respiratória


abióticos
progressiva das atividades orgânicas sem que seja insensibilidade

possível a recuperação da vida.


resfriamento do
Morte real ou absoluta é a morte na acepção
corpo
técnica da palavra, a cessação de toda atividade bio­
Fenômenos rigidez cadavérica
lógica do indivíduo.
cadavéricos consecutivos hipóstases
Na falta de aparelhagem especial para a deter­ livores cadavéricos
minação do “momento da morte”, utiliza-se o con­ desidratação
ceito clássico de que ela ocorre com a parada irre­
versível da respiração e circulação (morte clínica). ãütólise
destrutivos putrefação

2. TANATOGNOSE E maceração

CRONOTANATOGNOSE transformativos
mumificação

Denomina-se tanatognose a parte da tanatologia saponificação


conservadores
forense que estuda a realidade da morte, e cronotana- calcificação

tognose a que se ocupa da determinação do tempo em corificação


Medicina Legal II

2.2. Fenômenos cadavéricos Delton Croce (1998, p. 353) indica que o cor­
abióficos imediatos po resfria, em regra, cerca de 0,5 °C nas primeiras 3
horas, e em seguida 1 °C por hora até encontrar o
Os fenômenos cadavéricos abióticos imediatos equilíbrio térmico com o meio, o que ocorre, para
não são sinais de certeza em que pode basear-se o uma temperatura ambiente de 24 °C, em aproxima­
médico para afirmar a ocorrência de morte. Há vá­ damente 20 horas para crianças e velhos e 24 a 26
rias manobras preconizadas por inúmeros autores horas para um adulto de compleição média.
para, nessa fase, obter-se o diagnóstico de morte
Flamínio Fávero (1975, p. 544), desconsideran­
recente ou imediata. As mais comuns são a auscul-
do outros fatores que não os ambientais, aponta,
fação, a ektrocardiografia e a prova defíuoresceína de
para o nosso meio, um declínio médio de tempera­
Icard (injeção de certa quantidade de fluoresceína
tura de 1,5 °C por hora. No mesmo sentido os tra­
por veia endovenosa. Se ainda houver vida, após
balhos de Glaister, que propôs uma fórmula para o
alguns minutos a pele e as mucosas adquirem colo­ cálculo da hora aproximada da morte, baseada no
ração amarelada). mesmo decréscimo médio de 1,5 °C por hora (in
Ainda, como fenômeno abiótico imediato, te­ Zarzuela, 1996, p. 55):
mos a fácies hipocrática, face hipocrâtica, ou más­
cara da mortey para indicar o aspecto do rosto e a
expressão fisionômica do cadáver, em decorrência
da perda do tônus muscular, descrita como “fronte
enrugada e árida, olhos fundos, nariz afilado com
orla escura, têmporas deprimidas, vazias e enruga­
das, orelhas repuxadas para cima, lábios caídos, ma­
çãs deprimidas, queixo enrugado e seco, pele seca e 2.3.2, Rigidez cadavéríca
lívida, cílios e pelos do nariz e das orelhas semeados
por poeira brancacenta, semblante carregado e des­ A rigidez cadavérica instala-se em razão do au­

conhecido” (França, 1998, p. 307), mento do teor de ácido lático nos músculos e conse­
qüente coagulação da miosina.
Segundo a Lei de Nysten, atinge inicialmente a
2.3. Fenômenos cadavéricos musculatura da mandíbula, para em seguida com­
abióficos consecutivos prometer os músculos do pescoço, do tórax, mem­
Os fenômenos cadavéricos abióticos consecutivos bros superiores, abdome e membros inferiores.
têm uma maior importância na determinação do Em regra, a rigidez inicia-se de 3 a 5 horas após
momento da morte. o óbito, instala-se completamente entre 8 e 12 ho­
ras e permanece por um período de 12 a 24 horas,
quando a musculatura retorna ao estado de flacidez.
2.3.?. Resfriamento do c o rp o —
Excepcionalmente pode ser observada até 3 dias de­
algidez cadavéric a
pois da morte.
O resfriamento do cadáver, também chamado Luiz Eduardo Dorea adverte que, como a varia­
de algidez cadavérica, depende de vários fatores, como ção é relativamente grande, o cálculo da hora da mor­
temperatura do corpo no momento da morte, tempe­ te com base na rigidez cadavérica deve ser sempre
ratura e umidade ambientes, idade, panículo adiposo, aproximado (Fenômenos cadavéricos 8c testes simples
vestimentas e outros. Assim, crianças e velhos esfriam para cronotanatognose, 1995, p. 21).
mais rapidamente que os adultos, os obesos mais len­ Em alguns casos, e por razões não perfeitamente
tamente que os magros, os vestidos mais lentamente explicadas, mas frequentemente associadas às mortes
que os com menos peças de roupas etc. rápidas e violentas, a rigidez cadavérica pode ins­
Há grande divergência, entre os autores, quan­ talar-se de maneira abrupta. Trata-se do chamado
to à velocidade de perda de calor. espasmo cadavérico, rigidez catalépticay plástica ou
Curso6£oncurso

estatuária (Croce, 1998, p. 354). Nesses casos, o ca­ ainda quando a morte decorre de grandes lesões âo
dáver assume a posição em que estava no momento sistema nervoso central
de transição da vida para a morte.
Os raros casos de espasmo cadavérico são de 2.3.3. Livores cadavéricos e hipósfases
grande valia para a perícia, porque demonstram com
Cessada a circulação, o sangue, pela ação da
segurança a dinâmica assumida pela vítima no instan­
gravidade, tende a depositar-se nas partes mais bai­
te do óbito. A foto mostra o cadáver segurando uma
xas do corpo, de acordo com a posição do cadáver.
faca, na posição exata do “momento da morte”, em
Essas coleções sanguíneas, encontradas dentro
demonstração inequívoca da ocorrência do espasmo.
dos órgãos, cavidades e partes baixas do corpo, são
denominadas hipóstases, cutâneas ou viscerais, e ca­
racterizam-se, externamente, por apresentar colora­
ção vermelho púrpura.
Em contrapartida, nas áreas opostas, superiores,
e naquelas onde o corpo está pressionado contra um
anteparo ou premido por algum baraço mecânico
(cintos, laços ou a própria vestimenta apertada), sur­
gem áreas mais claras, lívidas, denominadas livores
cutâneos ou livores paradoxos (França, 1998, p. 308),
Tanto os livores quanto as hipóstases surgem
em tomo de 2 a 3 horas após a morte. Passadas 8 a
12 horas, fixam-se, em razão da coagulação do san­
gue, no interior dos capilares, para não mais mudar
Há, finalmente, uma espécie de rigidez que pode de posição, ainda que o corpo tenha sua colocação
ser observada ainda em vida, nos casos de intoxi­ alterada. Têm grande importância na determinação
cação por estricnina, nos vitimados por tétano ou da posição do cadáver no momento do óbito.

Livores

Hipóstases

88
Medicina Legal II

Na raça negra os livores cutâneos são dificil­ A acidificação dos tecidos, sinal evidente de
mente observados à vista desarmada, sendo cons­ morte, pode ser comprovada por várias provas la­
tatados somente com o uso de colorímetro. Em re­ boratoriais com o uso de indicadores químicos:
cém-nascidos as hipóstases cutâneas costumam ser
muito evidentes, o que, frequentemente, faz com Sinai de Labord Introduz-se uma agulha de aço
que leigos, ao visualizar o corpo da criança, pensem no tecido por cerca de 30
segundos. Se permanecer
que ela sofreu agressões por parte dos genitores. brilhando comprova-se a morte.
Sinal de Coloca-se um pedaço de
Lecha-Marzo pape! de tornassoí por debaixo
2.3.4. Desidratação da pálpebra para verificar a
acidez indicadora do óbito, caso
A evaporação da água que integra o organis­ em que o papel ficará vermelho.
mo vivo, com o passar do tempo, leva a uma per­ Sinal de Silvio introduz-se um fio embebido
da gradativa de peso, que varia de indivíduo para Rebelo em azul de bromotimol em uma
dobra de pele. Se o meio for
indivíduo, e é mais acentuada nos recém-nascidos,
ácido, a coloração tenderá ao
oscilando de 8 g a 18 g por quilo de peso ao dia. amarelo.
Observa-se, também, em decorrência da desi­ Sinal de forcipressão Comprime-se uma prega de
física de ícard pele com uma pinça. No morto
dratação, o pergaminhamento da pele, a dessecação
a prega irá persistir, enquanto no
das mucosas e uma diminuição do tônus do globo vivo se desfará.
ocular. Na esclerótica surge uma mancha enegre­ Sinal de forcipressão Mede-se, com papel de
cida denominada livor esclerorotinae nigrencens ou química deícard íornassol, a acidez da secreção
serosa que escorre da prega
sinal de Sommer 8c Lacher. de pele pinçada.
Sinal de Raspa-se levemente a pele do
De-Dom/n/c/s abdome e mede-se a acidez
2.4. Fenômenos cadavéricos
com papel de tornassoí.
transformativos Sinal de Bríssemoref Retiram-se, por punção,
e Ambard fragmentos do fígado e do
autólise baço e verifica-se a acidez com
destrutivos putrefação pape! de tornassoí.
maceração
Fenômenos
2.4.2. Putrefação (transformatívo
transformativos mumiíicaçâo
destrutivo)
saponificação
conservadores
calcificação A putrefação começa logo após a autólise pela
corificação ação de germes aeróbicos e anaeróbicos. Inicia-se,
geralmente, no intestino grosso, dando origem à
chamada mancha verde abdominal e espalha-se pelo
2.4J . Autólise (transformatívo
organismo.
destrutivo)
Embora exista uma variação muito grande na
Com a morte, e cessada a circulação, as células marcha da putrefação, dependendo do local em que
deixam de receber os nutrientes necessários à manu­ o cadáver está colocado ou mesmo da causa mortis,
tenção dos fenômenos biológicos. O meio orgânico, a putrefação obedece 4 fases:
que em vida era neutro, passa a ser ácido, tornando
impossível a realização dos fenômenos vitais. Com fase da coloração
fase gasosa
a alteração do pH e pela ação da pressão osmótica, Putrefação
fase coliquativa
as membranas celulares rompem-se, desintegrando
esqueletização
os tecidos.
Curso8£oncurso

A fase da coloração surge entre 20 e 24 horas nas putrefativos). O sangue é forçado para a periferia,
após a morte e pode durar até 7 dias. Tem início dando origem ao desenho dos vasos na superfície da
pela mancha verde abdominal localizada na fossa pele {circulaçãopóstuma de Brouardel).
ilíaca direita (ceco), difiindindo-se por todo o cor­ A fase gasosa tem início de 2 a 7 dias após o
po. Nos afogados o período de coloração tem início óbito e pode durar de 7 a 30 dias.
na cabeça e parte superior do tórax. A fase coliquativa é a dissolução do cadáver
A fase gasosa decorre dos gases da putrefação que pela ação das bactérias e da fauna cadavérica. Pode
são formados no interior do corpo e fazem com que durar de um mês a dois ou três anos e finda com a
o cadáver adquira uma aparência de agigantamento, esqueletizaçãOy que é a redução do cadáver às suas
com protrusão da língua e inchaço dos genitais (par­ partes ósseas.
ticularmente da bolsa escrotal, no sexo masculino). Os cabelos e os dentes resistem mais tempo à
A epiderme destaca-se e há uma grande quantidade destruição, mas, assim como os ossos, também são
de bolhas com conteúdo sero-sanguinolento (flicte- destruídos, reduzidos a pó.

III — Fase coliquativa


Medicina Legal li

As fotos mostram corpos nas fases de esqueleti- adquire consistência untuosa e mole como sabão
zação e gasosa, respectivamente. ou cera. Normalmente a saponificação atinge ape­
nas partes do cadáver, podendo, entretanto, afetar
todo o corpo.
A saponificação é um fenômeno que se inicia
já quando o corpo se encontra em adiantado estado
de putrefação e é facilitado por solos argilosos onde
não há muita aeração,

2.4.5. Mumificação (transformativo


conservador)

A mumificação é um processo conservativo que


pode ser natural ou artificial
Na mumificação artificial, os corpos são sub­
metidos a processos especiais destinados à conser­
vação do corpo, por exemplo, as múmias dos faraós
egípcios.
O processo natural ocorre quando as condições
climáticas favorecem uma rápida desidratação do
corpo, impedindo a ação das bactérias que levam à
putrefação.

24.3. M aceração (fransformafivo


destrutivo)

A maceração é um fenômeno transformativo


destrutivo observado basicamente em duas situa­
ções: nos submersos em meio líquido contaminado
( maceração séptica) e nos fetos retidos a partir do 5^
mês de gestação (maceração asséptica).
Na maceração os ossos soltam-se dos tecidos, o
abdome achata-se e o tegumento desprende-se sob
a forma de largos retalhos.

2.4.4. Saponificação ou adipocera


(transformativo conservador)
A saponificação ou adipocera é um fenôme­
no transformativo conservador em que o cadáver
Curso§£oncurso

2.4.6. Calcifícação (transformativo 3. FAUNACADAVÉRICA


conservador)
De extrema importância para a determinação da
A calcificação é um fenômeno transformativo
cronologia da morte, particularmente nos corpos dei­
conservador que atinge fetos retidos na cavidade ab­
xados ao ar livre, o estudo da fauna cadavérica baseia-se
dominal, em decorrência de rotura de gestação tu-
na especificidade demonstrada por algumas espécies
bária, e que passam por uma incrustação de sais de
animais por certa fase da decomposição do corpo.
cálcio, adquirindo uma aparência pétrea (litopédio).
Para alguns autores, a fauna cadavérica é compos­
Excepcionalmente o fenômeno pode ser obser­
ta de todos os organismos vivos que concorram para a
vado nas partes moles do cadáver de um adulto.
destruição do cadáver. Para outros, abrange apenas os
insetos que vivem do corpo em sua fase larvar.
2 À J . Corificaçào (transformativo
Flamínio Fávero (1975, p. 575) identifica três
conservador)
faunas distintas, de acordo com o local onde o cor­
A corificação é um fenômeno transformativo po é deixado: fa m a ao ar livre, fauna dos túmulos e
conservador observado em corpos encerrados em fauna aquática,
caixões metálicos hermeticamente fechados, princi­
palmente de zinco.
3.1. Fauna ao ar livre
Preservado o corpo da decomposição, a pele
assume a coloração e o aspecto de couro curtido. As Segundo Mégin, os “trabalhadores da morte”
vísceras e a musculatura permanecem conservadas, atacam o corpo deixado ao ar livre em oito legiões
mas amolecidas (França, 1998, p. 314). consecutivas (apud Fávero, 1975, p. 577-583):

Ordem Gênero Espécies encontradas época


}- Legião Musca Musca doméstica
Calliphora Musca stabulans 8 a 15 dias
Calliphora vomitória
22 Legião Lucillia Luc/í/ia coesar
Sarcophaga Sarcophaga cornaria
Cynominia Sarcophaga arvensis 15 a 20 dias
Onesia Sarcophaga laticrus
Cynomia mortuorum
32 Legião Dermesfes Dermesfes lardaríus
Dermesfes fríschii
3 a 6 meses
Dermesfes unduiafus
Dermesfes pinguinalis
42 Legião Pyophila Pyophila pefasionis
Anthomyo Anfhomya vidna
Necrobia (besouros) Necrobia coeruleus
Necrobia rufícollis
52 Legião Tyreophora Tyreophora cynophila
Lonchea Tyreophora furcafa
Ophyra Tyreophora anfropophaga
Phoro Lonchea nigrimana 10 meses
Necrophorus Ophyra cadaverina
Silpha Phora aferrima
Hister Necrophorus humafor
Saprínus Silpha lifforalis
Silpha obscura
Hisfer cadaverínus
Saprínus ronfodàfus
Medicina Lega! II

62 Legião Uropoda Uropoda nummularia


Tyroglyphus Tyroglyphus cadaverinus
Glyciphagus Glyciphagus cursor
Trachynotus Glyciphagus spinipes
1 ano
Coepophogus Trachynotus siro
Trachynotus longior
Trachynotus necrophagus
Coepophagus echinopus
7^Legião Aglossa Agiossa cuprealis
Ttneoia Tineoia biselllela
Tínea Tinea pellionela 1 a 2 anos
Attagenus Attagenus pellio
Anthrenus Antherenus museorum
8^ Legião Tenebrius Tenebrius obscurus
cerca de 3 anos
Ptinus Ptinus bruneus

3.2. Fauna dos túmulos- enterramento pelo número de gerações encontra­


das, e não propriamente pela existência de legiões,
A fauna dos cadáveres inumados ou fauna dos
como nos corpos deixados ao ar livre.
túmulos é bem menos exuberante que aquela en­
Oscar Freire classificou a fauna dos túmulos
contrada nos cadáveres insepultos. Em termos de
conforme o quadro abaixo:
cronotanatognose, é possível determinar o tempo de

Ciasse Ordem Gênero Espécie


Sarcophaga chrysostoma
Sarcophaga georgina
Sarcophaga Sarcophaga tesselata
Synfftesjomyrâ Synthesiomyia brasiliana
Diptera
Chrysomyia Chrysomyia macellaría
(moscas e mosquitos}
Lucillia Lucillia eximia
Ophyra Lucillia pútrida
Lucillia segmentaria
Ophyra senescens
Hister sp
Hexapoda (insetos) Hister
Saprínus azureus
Saprínus
Dermestes sp
Coleóptera Dermestes
Necrobia rufícollis
(escaravelhos) Necrobia
Necrobia rufipes
Silpha
Silpha cayannensis
Deltochium
Deltochium brasitiensis
Lepdoptera
Aglossa Aglossa cuprealis
(mariposas)
Hymenopfera
(insetos com asas Camponotus Camponotus abdominales
membranosas)

Arachnoidea
Grande quantidade de ácaros similares àqueles encontrados
(aranhas, ácaros e Acarí
nos corpos insepultos
insepultos escorpiões)
CursoSConcurso

3.3. Fauno aquática sabiamente, não permitiu qualquer presunção no


sentido da primoriência, mas apenas da comoriênáa.
Os corpos encontrados imersos em água doce
Se o exame pericial dos corpos puder, sem som­
ou salgada costumam apresentar inúmeras lesões
bra de dúvidas, determinar aquele que primeiro veio
produzidas por mamíferos (lontras e eventualmente
a óbito, estabelece-se a ordem sucessória em favor de
ratos), aves (urubus e gaivotas), peixes (diversas es­
seus descendentes, caso contrário, presumir-se~ão
pécies) e crustáceos (lagostas, caranguejos e siris).
mortos no mesmo instante.

4. PRIAAOR1ÊNCIAECOMQRIÊNC1A 5. DIAGNÓSTICO JURÍDICO DA


Quando duas pessoas morrem simultaneamen­ MORTE — ASPECTOS GERAIS
te, sem que se possa indicar qual faleceu primeiro,
Uma das principais funções do estudo da medi­
temos a hipótese de comoriênáa, Quando é possível
cina legal, particularmente da tanatologia, é a classifi­
determinar quem primeiro veio a óbito, dizemos
cação jurídica da morte, ou seja, se ocorreu homicídio,
que ocorreu a primoriência.
suicídio ou morte acidental
O Código CivÜ (lei n. 10.406, de 10 de janeiro de
Os óbitos provocados por causas naturais, se­
2002) trata da comoriênáa em seu art. 8^ (antigo art. 11):
jam rápidos ou lentos, salvo implicações sucessórias,

CC não oferecem dificuldade aos peritos ou à justiça.

Art. 81* Se dois ou mais indivíduos falecerem na As mortes flagrantemente violentas também

mesma ocasião, não se podendo averiguar se al­ são de fácil diagnóstico. A dificuldade repousa nos

gum dos comorientes precedeu aos outros, pre- casos em que a violência não é evidente ( mortes sus­
sumir-se-ão simultaneamente mortos. peitas) e, por tal, reclamam exame mais acurado.
Canger Rodrigues propõe um quadro sinótico
A determinação da cronologia de mortes muito com as possíveis ocorrências (Morte súbita e morte
próximas, quando possível, tem enorme importância suspeita em medicina legal, Ciência Penal 1, 1973,
em questões sucessórias. Por essa razão, a lei civil, p. 9-53):

Mortes

Naturais Médico-iegais)—

Ç Lentas ^ (^Rápidas^) (vio lenfasj ^Suspeitas)

Pela subtaneidade
(morte súbita)

De violência oculta
0 >
^De vi'
violência indefinida

De violência definida W

De infortúnio do trabalho W
Medicina Legal II

5.1. Morte suspeita súbita Sabe-se que existem algumas pessoas com maior
e morte por inibição predisposição ao fenômeno por exacerbação dos re­
(reflexo de Hering) flexos inibidores e que é preciso alguma excitação ex­
terna, de natureza física, química ou psíquica, agindo
As mortes súbitas, em que não há violência
sobre os centros nervosos através de algumas áreas
manifesta, são consideradas suspeitas apenas por
do corpo denominadas zonas reflexógenas ou zonas-
serem inesperadas, imprevisíveis. Nesses casos é
-gatilho (Rodrigues, 1973, p. 33).
muito importante que se faça uma boa análise dos
Para que se considere a morte com tendo possí­
antecedentes (comemorativos), que sempre podem
vel causa inibitória, são necessárias três condições:
fornecer subsídios ao diagnóstico.
a) morte súbita e inesperada de pessoa sadia,
As causas são diversas, por exemplo, distúrbios
geralmente por parada cardiorrespiratória;
cardiovasculares, problemas respiratórios, reações
b) traumatismo ou irritação periférica, de
anafiláticas, fadiga etc. pequena monta, sobre certas partes do
Uma das mais importantes ocorrências de corpo; e
morte súbita é a chamada morte reflexa por inibição c) ausência de lesões capazes de justificar o
vagai (reflexo de Hering), em que o óbito ocorre de óbito.
forma absolutamente inesperada, em decorrência
de inibição cardiorrespiratória, sem que se possa O quadro a seguir mostra as principais zonas
encontrar uma causa determinante convincente. reflexógenas:

Vias aéreas superiores:


®inalação de gases irritantes
• penetração súbita de líquido nas narinas

Pescoço (iaringe e seio carotídeo):


®golpes:
• tentativa de estrangulamento ou esganadura
• enforcamento

Cavidade torácíca:
©excitação da pleura e corpos aórticos

Região epigástrica (plexo solar):


®golpes.

Cavidade abdominal:
• tração de alças intestinais sob anestesia superficial
« excitação do peritônio nas mesmas condições

Geniíais:
©compressão ou golpes nos testículos:
« lavagens vaginais,
®manobras abortivas

95
CursoSConcurso

A morte por inibição é quase sempre acidental lesões pode mascarar outras, produzidas antes do
(quedas, manobras cirúrgicas), podendo, eventual­ atropelamento.
mente, ter origem criminosa (estrangulamento, es-
ganadura, golpes de artes marciais etc.). 5.4. Morte suspeita de violência
definida
5.2. Morte suspeita de violência
O corpo mostra lesões externas perfeitamente
ocuifa definidas quanto à sua causa, mas a etiologia jurídi­
Dá-se quando os corpos não mostram lesões ca do evento permanece obscura.

externas, mas podem ocultar algum tipo de lesão, O encontro de um corpo na água, afogado, embo­
como traumatismos, envenenamentos, sevícias ou ra aponte no sentido de morte acidental, não permite
outros sinais que, comprovados, alteram a natureza que se descartem as hipóteses de suicídio e homicídio.
jurídica da ocorrência.
Tais mortes são, normalmente, classificadas pela 5.5. Morte de infortúnio do trabalho
autoridade policial, ao requisitar os exames periciais,
A dúvida, nestes casos, recai sobre o nexo cau­
como morte a esclarecer ou encontro âe cadáver.
sai entre a atividade laborativa e as lesões observa­
Nesse grupo podem ser incluídos os corpos em
das, sendo indispensável a realização da necropsia.
adiantado estado de decomposição.

6. O EXAME MÉDICO-LEGAL
5.3. Morte suspeita de violência
indefinida A técnica tanaíológica compreende várias fases, que
vão desde a análise do local onde ocorreu o óbito até os
Aqui a violência existe e é evidente, mas o exa­ exames laboratoriais complementares, com o objetivo
me externo não permite determinar com precisão a de determinar a causa mortis e, se possível, contribuir
causa das lesões e, por conseqüência, o diagnóstico para o esclarecimento da natureza jurídica do evento
jurídico do evento. (morte natural, acidental, suidda ou criminosa).
Um bom exemplo é o de corpos atingidos Hilário Veiga de Carvalho descreve as fases do
por composições férreas. A grande extensão das exame tanatológico da forma como segue:

história do fato
história da vítima
permecroscopia
história do suposto agressor
exame do local (peritos criminais)
Exame
tanatológico Diagnóstico

necroscopia completa

histológicos
exames complementares químicos
outros

6.1. Necropsia (autópsia)


O vocábulo autópsia, derivado do grego autopsiay
Os termos necropsia e autópsia designam o exa- que para alguns autores significa exame em si mes-
me que se realiza no cadáver, interna e externamen- mo, encontra-se em desuso, sendo mais adequado
te, com a finalidade de determinar a causa da morte. utilizar necropsia.
Medicina Legal II

6.1.1. Técnica amostras dos órgãos e fluidos orgânicos para exa­


mes laboratoriais complementares.
Na necropsia médico-legal procede-se, inicial­
Finalmente, depois de minucioso exame e co­
mente, a uma minuciosa inspeção externa, em que
leta de material, o corpo é recomposto para ser en­
são analisados sexo, compleição física, estado de tregue aos familiares e inumado.
nutrição, presença de cicatrizes e tatuagens, defor­
midades, ferimentos externos etc.
6.1.2. Necropsias brancas
Durante a inspeção externa, as vestes devem rece­
ber especial atenção, principalmente em relação a man­ Mesmo dispondo os médicos-legistas dos meios
chas, orgânicas ou não, e soluções de continuidade. científicos adequados, existem inúmeras situações
em que, apesar do avanço da ciência, não é possível
No caso de existirem ferimentos produzidos
esclarecer a causa mortis. São as chamadas necropsias
por projéteis de arma de fogo, o perito deve verifi-
brancas, que ocorrem, por exemplo, em casos de en­
car se resíduos do disparo chegaram a depositar-se
venenamento nos quais a dosagem ou natureza da
sobre as peças de vestuário.
substância utilizada é suficiente para determinar a
Em seguida, passa-se para a inspeção interna, morte, mas não para permitir a detecção do agente.
com o exame das cavidades torácica e abdominal,
Canger Rodrigues (1973, p. 35) lembra, entretanto,
órgãos do pescoço (laringe, traqueia, tireoide e esô­ que o diagnóstico de morte indeterminada “só é ple­
fago), cavidade vertebral, cavidade craniana e cavi­ namente aceitável após autópsia completa, uma vez
dades acessórias da cabeça (órbitas, fossas nasais, esgotados todos os meios de investigação, devendo o
ouvidos e seios frontais, maxilares e esfenoidais). exame do cadáver ser negativo, sob todos os aspectos”.
Os diversos sistemas orgânicos são examina­ Os esquemas seguintes mostram as principais
dos individualmente e, sendo necessário, colhidas etapas da necropsia médico-legal

Abertura das cavidades Retirada do plastrão condroesternai


torácica e abdominal por
incisão mento-pubiana
y para acesso aos órgãos da
cavidade torácica
Curse&Concurso

Exame da cavidade iorácica


IV Exame da cavidade abdominal

v Abertura da cavidade
vertebral, mediante incisão
sobre os processos espinhosos
Medicina Legal II

VII Retirada da caivária


para exame do cérebro

Recomposição do corpo
VIII para inumação

QUESTÕES baixou uma resolução conceituando a morte


com base na perda das funções:
Conceito e diagnóstico de morte
a) da vida de relação;
(DP/SP 02/88 e DP/SP 01/94B) O diagnósti- b) do córtex cerebral;
co da certeza da morte obtém-se: c) da vida vegetativa;
a) pela imobilidade e insensibilidade; d) reflexas cerebrais e cerebelares;
b) parada cardíaca; e) do córtex e do tronco cerebral.
c) parada respiratória;
d) parada cerebral.

(DP/RJ — 2001) Com o advento da era dos


transplantes de órgãos vitais, o diagnóstico de
(DP/RJ — 2001) Com o advento da era dos morte passou a ser revisto e discutido por cien­
transplantes de órgãos vitais, tornou-se im­ tistas e por legisladores. No plano conceituai,
periosa a reformulação do conceito de morte. foi necessário estabelecer as diferenças entre
Atualmente, não é suficiente a parada car- morte celular, morte tecidual, morte encefáli-
diorrespiratória para que o médico constate o ca,.morte cortical e morte aparente. A respeito
óbito. Assim, o Conselho Federal de Medicina desses conceitos, é correto afirmar que:
€ursc££on€urs0

a) o momento da morte celular pode ser O exame médico-legal


determinado pelas alterações vistas ao
(DP/SP 04/92, DP/SP 05/93 e DP/SP 01/00) A
microscópio eletrônico;
necropsia médico-legal, conforme preceitua o
b) o miocárdio de vítima de infarto pode ter
Código de Processo Penal, pode ser realizada, do
aspecto normal sob microscopia óptica e
momento da constatação do óbito da vítima:
eletrônica;
a) a qualquer hora, pois já se constatou a morte;
c) morte aparente refere-se ao coma profun­
b) apenas 2 horas após, quando aparecem os
do, com respiração assistida por aparelhos;
últimos fenômenos abióticos imediatos;
d) a morte cortical foi adotada como critério
c) apenas 6 horas após, quando fenômenos
pelo Conselho Federal de Medicina;
abióticos consecutivos estão bem evidentes;
e) a ausência de ondas no eletroencefalogra-
d) apenas 12 horas após, quando o início da
ma é prova suficiente de morte encefálica.
putrefação já é evidente.

D (DP/SP 02/88) Em provas de morte, a chama­


da prova de Lavassen é executada: D (DP/SP 01/03) Preconiza o art. 162 do CPP
que “a autópsia será feita pelo menos 6 (seis)
a) sob a pálpebra de qualquer dos olhos;
horas depois do óbito..”. Tal preceito tem fun­
b) aplicando-se ventosas sobre o corpo;
damento na Medicina Legal, pois, a contar do
c) só quando há hipóstase;
momento da morte:
d) somente em laboratório.
a) somente após 6 horas os fenômenos abió­
ticos imediatos se completam;
b) somente após 6 horas os fenômenos abióticos
imediatos atingem a intensidade máxima;
c) após 6 horas os fenômenos abióticos conse­
cutivos habitualmente estão bem evidentes;
d) ao redor de 6 horas depois, costuma apa­
5 (DP/SP 03/88) Para se realizar um transplan­ recer a mancha verde abdominal.
te cardíaco, considera-se como sinal de morte
do doador:
a) a parada cárdiorrespiratória irreversível;
b) a cessação irreversível da atividade encefálica;
c) a parada cardíaca definitiva;
d) a lesão cerebral definitiva.

[ * l (DP/RJ— 2000) Uma paciente com a síndro­


me da imunodeficiência adquirida pulou do 7^
andar de um hospital onde estava internada.
Seu corpo foi removido para o IML. Lá, os pe­
ritos constataram fratura cominutiva dos ossos
do crânio com perda parcial do encéfalo como
Medicina Legal II

causa da morte, além de fraturas de ossos b) após a morte;


longos, escoriações irregulares e vestes hospi­ c) como resultado da ação de um instru­
talares sem alterações importantes. Encerra­ mento contundente;
ram a perícia sem fazer o exame interno do d) como resultado de uma intoxicação
cadáver. De acordo com o Código de Processo exógena.
Penal, os peritos:
a) eram obrigados a fazer o exame interno;
b) agiram corretamente porque nada de rele­
vante havia mais a apurar;
c) teriam que colher amostras das vísceras
para exame complementar;
d) teriam que pedir autorização ao delegado
m U f (DP/SP 03/91) Coágulos de sangue fortemen­
para concluir sem o exame interno;
te aderentes à superfície de um ferimento in­
e) equivocaram-se, já que a mulher poderia
dicam que:
ter sido jogada.
a) este foi produzido após a morte;
b) continuou a sangrar depois da morte;
c) foi produzido em vida;
d) é um ferimento inciso;
e) n.d.a.

(DP/MG — 2007) A autópsia de um homem


de cinqüenta anos de idade mostrou ao exame
interno o seguinte: "conteúdo gástrico (esto­
macal) constituído por moderada quantidade
de alimentos plenamente reconhecíveis em
seus diversos tipos específicos”. (DP/SP 01/95) Ao se examinarem lesões em
cadáveres, não se pode considerar como rea­
Pode-se afirmar que a última refeição antece­
ção vital:
deu a morte em:
a) aequimose;
a) uma a duas horas;
b) a presença de coágulos sanguíneos;
b) quatro a sete horas;
c) o edema;
c) sete a doze horas;
d) o apergaminhamento da pele.
d) três a sete hora.

CRONOTANATOGNOSE
(DP/SP 01/91) O coágulo de sangue fica for­
temente aderido aos tecidos se o sangramento Fenoinenos cadavéricos
ocorreu: (DP/SP 04/91) São fenômenos cadavéricos
a) em vida; transformativos destrutivos:
CursoSCoiictsrso

a) a putrefação e a saponificação;
g jg (DP/SP 02/90 e DP/SP 04/90) São sinais abió
b) a saponificação e a maceração;
ticos de morte imediatos:
c) a maceração e a putrefação;
a) inconsciência e imobilidade;
d) a putrefação e a transformação em adipocera.
b) parada cardíaca e resfriamento cadavé
rico;
c) parada respiratória e formação de hipós
tases;
d) morte encefálica e rigidez cadavérica.

I Q <DP/SP 03/92 e DP/SP 07/93) Em tanatologia,


saponificação, insensibilidade e resfriamento
corporal são considerados, respectivamente,
fenômenos abióticos:
a) transformativo, imediato e consecutivo;
£ jQ (DP/SP 02/94) Habitualmente o médico faz a
b) consecutivo, imediato e imediato;
constatação da morte de uma pessoa e elabora
c) consecutivo, imediato e consecutivo;
o respectivo atestado de óbito pela verificação
d) consecutivo, consecutivo e consecutivo.
dos fenômenos abióticos:
a) imediatos;
b) consecutivos;
c) transformativos;
d) destrutivos.

Fenômenos cadavéricos abióticos imediatos


H l (DP/SP 02/91 e DP/SP 03/91) Para a medici­
na legal, os sinais imediatos de morte, a rigor,
indicam:
a) a probabilidade da ocorrência do óbito;
||j®| (DP/SP 02/94) Entre os fenômenos abióticos
b) a certeza da ocorrência do óbito; imediatos não se inclui:
c) a probabilidade ou a certeza do óbito, de­
a) a insensibilidade;
pendendo do caso específico;
b) o resfriamento cadavérico;
d) nem certeza nem probabilidade da ocor­
c) a parada respiratória;
rência do óbito.
d) a perda da consciência.
Medicina Legal II

Fenômenos cadavéricos abióticos c) rigidez muscular, resfriamento e desseca­


consecutivos ção de mucosas;

P y y j (DP/SP 02/92 e DP/SP 05/93) São fenômenos d) parada cardíaca, imobilidade e resfria­

abióticos consecutivos: mento cadavérico.

a) o resfriamento cadavérico e a formação de


hipóstases;
b) a parada cardíaca e a formação de mancha
verde abdominal;
c) a insensibilidade e a formação de gases;
d) a parada cárdiorrespiratória e a rigidez
cadavérica. (DP/SP 05/91) São sinais consecutivos da
morte:
a) inconsciência, imobilidade, hipóstases;
b) desidratação, insensibilidade, cessação da
respiração;
c) resfriamento, desidratação, rigidez;
d) hipóstases, cessação da circulação, rigidez.

U (DP/SP 04/93 e DP/SP 01/03) São fenômenos


abióticos consecutivos:
a) insensibilidade, mancha verde abdominal
e maceração;
b) maceração, saponificação e autólise;
c) formação de hipóstases, dessecação e rigi­ (DP/SP 01/88) Em relação à morte, conside­

dez cadavérica; ra-se sinal abiótico tardio:

d) parada cárdiorrespiratória, imobilidade e a) a perda da consciência;


insensibilidade. b) o resfriamento do cadáver;
c) a parada da circulação sanguínea;
d) a maceração do cadáver.

(DP/SP 01/91) São fenômenos consecutivos


Desidratação
de morte:
a) hipóstases, mancha verde abdominal e K 2 J (DP/SP 01/89) O sinal de Sommer e Larcher é
maceração; observado:

b) insensibilidade, mancha verde abdominal a) nos olhos dos cadáveres;


e maceração; b) na vulva das vítimas de estupro;
Curso&£onctir$o

c) no pescoço dos enforcados; b) É o estado de semiabertura dos olhos, era


d) no tórax dos afogados. que se vê apenas a parte esclerótica.
c) É a acumulação de manchas nas partes em
declive do cadáver.
d) São manchas provenientes do enxugo.

Rigidez cadavérica
K y (DP/SP 04/90) É sinal abiótico consecutivo a:
a) morte encefálica;
(DP/SP 01/90) Cessadas as contrações cardía­
b) parada cardíaca;
cas» o sangue do cadáver, por causa da gravi­
c) saponificação; dade, começa a se concentrar nas partes mais
d) rigidez cadavérica. baixas, formando:
a) equimoses;
b) hipóstases;
c) bossas sanguíneas;
d) manchas de Tardieu.

(DP/RJ — 2000) Após a morte, o corpo tende


a entrar em equilíbrio físico com o meio am­
biente: sofre a ação da gravidade, troca calor
com o exterior, perde água por evaporação
etc. O fenômeno cadavérico que resulta basi­
K E 1 (DP/SP 02/89) As hipóstases resultam:
camente da desidratação do corpo é:
a) do resfriamento cadavérico;
a) resfriamento;
b) do início da putrefação;
b) livores hipostáticos;
c) da cessação da circulação sanguínea;
c) opacificação da córnea;
d) da coagulação do sangue.
d) rigidez muscular;
e) mancha verde abdominal.

(DP/SP 02/92) A formação de manchas hi-


postáticas se deve:
Livores cadavéricos e hipóstases
a) à deposição do sangue nas regiões mais
27 (DP/SP 02/88) O que é hipóstase? baixas do cadáver;
a) É o derramamento no organismo da se­ b) à formação de sulfo-hemoglobina, por
creção da glândula hipófise. putrefação do cadáver;
Medicina Legal I!

c) à ruptura de vasos sanguíneos do cadáver; b) nos cadáveres de vítimas de asfixia mecâ­


d) à formação de pigmentos coloridos, por nica;
ação das bactérias que decompõem o c) nas partes do cadáver que ficam em posi­
cadáver. ção baixa;
d) apenas nos cadáveres que permanecem
submersos na água.

(DP/SP 01/94A) As manchas de hipóstase ob­


servadas no cadáver são produzidas:
a) pelo acúmulo de sangue em determinadas gjj (DP/SP 01/92) O cadáver de um enforcado
regiões; típico, que permaneceu suspenso por tempo
b) pelo acúmulo de gás carbônico no sangue; prolongado, apresenta manchas de hipóstases:
c) pelo processo de putrefação dos tecidos; a) nas regiões posteriores do corpo;
d) pelo processo de autólise celular. b) nos membros inferiores;
c) nas regiões anteriores do corpo;
d) na cabeça.

(DP/SP 03/88) Entende-se por hipóstase:


a) manchas puntiformes avermelhadas, tam­
bém conhecidas como manchas de Tardieiv,
(DP/MG — 2007) A fixação definitiva da hi­
b) coloração azulada da pele e das mucosas, póstase cadavérica ocorre em torno das:
resultante da anoxia;
a) duas horas post mortem;
c) coloração que aparece no cadáver em
b) quatro horas post mortem;
conseqüência de decomposição do san­
c) seis horas post mortem;
gue nas regiões mais baixas;
d) oito horas post mortem.
d) inchaço que ocorreu na parte inferior do
corpo do enforcado.

Fenômenos cadavéricos transformativos —


(DP/SP 04/89) As hipóstases se formam:
autólise

a) apenas quando o cadáver entra em putre­ j| ]^ (DP/SP 04/92) Entre os fenômenos destruti­
fação; vos dos cadáveres podemos mencionar:
CursoSConctarso

a) autólise e maceração; b) gasosa, cromática, coliquativa e de esque-


b) putrefação e saponificação; letização;
c) saponificação e autólise; c) cromática, coliquativa, gasosa e de esque-
d) putrefação e mumificação. letização;
d) gasosa, coliquativa, cromática e de esque-
letização.

Fenômenos cadavéricos transformativos —


putrefação

(DP/SP 01/91) A putrefação cadavérica é de­ È M (DP/SP 03/90) A primeira fase do processo de
vida à: putrefação de um cadáver é a:
a) falta de oxigênio dos tecidos; a) cromática;
b) presença de germes; b) hipostática;
c) ação de enzimas liberadas nos tecidos; c) gasosa;
d) ação de gases intestinais. d) térmica.

(DP/SP 01/89, DP/SP 01/90 e DP/SP 01/92)


(DP/SP 03/91 e DP/SP 04/91) Em relação aos
Em nosso meio, os primeiro sinais evidentes de
fenômenos cadavéricos a fase cromática ca­
putrefação de cadáver aparecem ao redor da:
racteriza:
a) 5^ hora após a morte;
a) um fenômeno consecutivo;
b) 20^ hora após a morte;
b) um fenômeno conservativo;
c) 40^ hora após a morte;
c) a putrefação;
d) 60â hora após a morte.
d) a saponificação.

(DP/SP 01/93, DP/SP 02/90 e DP/SP 01/94A)


No processo de putrefação do cadáver se su­ (DP/SP 03/89) O aparecimento da mancha
cedem as seguintes fases, pela ordem: verde abdominal, no cadáver, evidência que:

a) cromática, gasosa, coliquativa e de esque- a) o sangue está coagulado;


Ietização; b) já se iniciou a putrefação;
Medicina Legal II

c) a hipóstase já atingiu o abdômen; c) a mancha verde abdominal;


d) o sangue se acumulou na cavidade abdo­ d) a íiquefação dos tecidos moles.
minal.

iQ (DP/SP 01/91) A mancha verde, característica


(DP/SP 04/88) Em relação a fenômenos ca­ do início de processo putrefativo do cadáver,
davéricos, pode-se afirmar, com certeza, que aparece inicialmente:
já se iniciou um fenômeno transformativo a) sempre no abdome;
quando: b) sempre no tórax;
a) aparecer mancha verde abdominal; c) sempre na cabeça;
b) cessarem os batimentos cardíacos; d) em diferentes partes do corpo, depen­
c) a rigidez cadavérica tornar-se fixa; dendo das circunstâncias em que se deu a
d) as manchas hipostáticas se tornarem bem morte.
delineadas.

IQ IJI (DP/SP 01/90) O sinal mais precoce de putre­


fação do cadáver é uma dada mancha verde
m (Dp/sp 06/93 e Dp/sp °2/94) Rec° nhece-se
o início do processo de putrefação, em geral, que, nos afogados, aparecer em primeiro lugar:
quando se observa: a) na cabeça;
a) a maceração da epiderme; b) no tórax;
b) o sinal de Sommer Larcher, c) no abdômen;
c) a mancha verde abdominal; d) nos membros inferiores.
d) o aparecimento de livores cadavéricos.

(DP/SP 04/91) Em cadáveres de vítimas de


(DP/SP 02/89) O primeiro sinal evidente de afogamento verdadeiro, a mancha verde apa­
putrefação do cadáver é: rece inicialmente:
a) a hipóstase; a) sempre na fossa ilíaca direita;
b) o desenvolvimento de bolhas gasosas; b) frequentemente no tórax e no pescoço;
CurstéConcurso

c) sempre no abdômen; c) na terceira fase;


d) geralmente na região do estômago. d) na quarta fase.

(DP/SP 02/93) Na evolução natural da pu­ (DP/SP 01/02) A manifestação de um fenô­


trefação, o cadáver sofre um considerável au­ meno transformativo destrutivo pode se veri-
mento do volume no: ficar pela:
a) primeiro período; a) coagulação sanguínea;
b) segundo período; b) mancha hipóstase;
c) terceiro período; c) circulação póstuma de Brouardel;
d) quarto período. d) LeideNysten.

(DP/SP 01/92) No segundo período


Fenômenos cadavéricos transformativos —
do processo de putrefação de cadáver,
maceração
observa(m)-se (,)
(DP/SP 01/91) A maceração da pele indica que:
a) basicamente, alterações cromáticas;
a) a morte se deu por afogamento;
b) intensa formação de gases;
c) liquefação de tecidos moles; b) houve ação de gases tóxicos;

d) maceração de tecidos moles. c) o cadáver morreu há algumas horas;


d) o cadáver permaneceu imerso em meio
hídrico.

(DP/SP 04/92) Em que fase do processo de


putrefação encontra-se um cadáver com vo­
lume muito aumentado, com a língua par­ (DP/SP 04/93 e DP/SP 01/94A) Maceração é
cialmente exteriorizada e exalando forte odor um fenômeno cadavérico transformativo des­
fétido? trutivo que se processa, habitualmente, em:
a) na primeira fase; a) solo argiloso e muito úmido;
b) na segunda fase; b) meio à neve ou ao gelo;
Medicina Legal II

c) ambiente quente e exposto a correntes de c) pelo despregamento da camada epidérmica;


vento; d) pela coloração anormal da pele.
d) água.

Fenômenos cadavéricos transformativos —


(DP/SP 01/89, DP/SP 02/89, DP/SP 03/91 e
saponificação
DP/SP 04/91) A maceração é um processo 58 (DP/SP 03/88) Em uma exumação verificou-se
que atinge o cadáver quando este: que os tecidos do cadáver estavam transfor­
a) é sepultado em lugar úmido e quente; mados em adipocera, concluindo-se que:

b) fica exposto à superfície do solo, por tem­ a) o cadáver foi embalsamado;


po prolongado; b) o cadáver é de uma vítima de envenena­

c) fica imerso na água, por tempo prolongado; mento;

d) fica sepultado na neve, por tempo prolon­ c) o cadáver está em fase final de putrefação;

gado. d) houve saponificação do cadáver.

J (DP/SP 01/92 e DP/SP 07/93) A transfor­


(DP/SP 03/91) A pele anserina indica que a
mação dos tecidos do cadáver em adipocera,
vitima morreu:
substância amarelada de aspecto caseoso, cuja
a) na água;
ocorrência se dá em terreno úmido, argiloso e
b) em ambiente de baixa temperatura; mal ventilado, denomina-se:
c) afogada; a) mumificação;
d) com cianose generalizada. b) saponificação;
c) maceração;
d) putrefação.

(DP/SP 03/92) A pele anserina se caracteriza:


a) pelo enrugamento acentuado da pele, por
embebição hídrica; EíJU (D^VSP 02/92) A saponificação do cadáver
b) pela ereção dos pelos; ocorre:
CursoSConcurso

a) em ambiente quente e seco, desprovido de c) úmido e quente;


oxigênio; d) úmido e frio.
b) somente em cadáveres embalsamados;
c) quando o cadáver é abandonado sobre a
superfície do solo;
d) pela transformação dos tecidos em adi-
pocera.

(DP/SP 02/93) A vocação natural de um ca­


dáver é decompor-se, voltando ao pó da ter­
ra. Tal é a função dos fenômenos cadavéricos
transformativos destrutivos, entre os quais
não se classifica a:
(DP/SP 05/91) A saponificação, fenômeno
a) saponificação;
conservador, aparece em:
b) autólise;
a) ambiente quente e seco;
c) maceração;
b) ar livre e ambiente úmido;
d) putrefação.
c) cadáver inumado em solo argiloso e úmido;
d) ambiente frio e bem ventilado.

(DP/SP 04/90) O cadáver, exumado de terre­


no argiloso e saturado de umidade, apresenta
(DP/SP 01/93) Cadáver que, exumado de ter­
a forma corporal bastante conservada; seus
reno argiloso e úmido, se apresenta extraordi­
tecidos moles têm cor amarelo-acinzenta-
nariamente conservado sofreu:
da e consistência de sebo, algo endurecido.
a) mumificação;
Pode-se dizer que o cadáver:
b) maceração;
a) encontra-se no período coíiquativo de
c) saponificação;
putrefação;
d) árgilo-umidificação.
b) encontra-se no período cromático de pu­
trefação;
c) sofreu saponificação;
d) sofreu mumificação aérea.

(DP/SP 01/95) O fenômeno da adipocera pode


ocorrer se o cadáver estiver em ambiente:
a) seco e quente;
b) seco e frio;
Medicina Legal II

Fenômenos cadavéricos transformativos —


(DP/SP 01/98) Um cadáver enterrado em
mumificação
solo quente, seco e arejado tem grande pro­
66 (DP/SP 03/89) O clima quente e seco das re­ babilidade de transformar-se em:
giões desérticas favorece: a) cadáver adipocérico;
a) a mumificação do cadáver; b) cadáver gelatinoso;
b) a saponificação do cadáver; c) cadáver mumificado;
c) a maceração do cadáver; d) cadáver saponificado.
d) pulverização do cadáver.
Capítulo I V

Toxicologia Forense

1. CARACTERÍSTICAS GERAIS uso das expressões dependência (dependence) e dro­


gas que induzem dependência (dependenceproducting
Vimos que os tóxicos (ou venenos) podem ser drugs) em substituição a adição (addiction) e hábi­
conceituados como substâncias de qualquer nature­ to ( habituation).
za que, uma vez introduzidas no organismo e por ele As toxicofilias têm as seguintes características
assimiladas e metabolizadas, podem levar a danos na gerais:
saúde física ou psíquica, inclusive à morte, na depen­ a) compulsão — necessidade invencível de
dência da dose e via de administração utilizada. consumo do fármaco;
Drogas tóxicas ou substâncias psicoativas são b) tolerância — tendência a aumentar paula­
aquelas “substâncias químicas, naturais ou sintéti­ tinamente a dosagem para a obtenção dos
cas, que têm a capacidade de agir sobre o sistema mesmos efeitos;

nervoso central, com tendência ao tropismo pelo c) dependência — física ou psíquica, com
tendência ao desencadeamento de crises de
cérebro que comanda o corpo, alterando a normali­
abstinência ante a privação da droga.
dade mental ou psíquica, desequilibrando a condu­
ta e a personalidade” (Croce, 1998, p. 546).
Os termos toxicomania e toxicofilia definem o 2. FARMACODEPENDÊNCIA
hábito do uso regular de drogas. Segundo o Comitê
A farmacodependência ou simplesmente depen­
de Peritos da Organização Mundial de Saúde, com­ dência, segundo a Organização Mundial de Saúde,
preendem “um estado de intoxicação crônica ou pe­ pode ser definida como “um estado psíquico e às
riódica, prejudicial ao indivíduo e nociva à socieda­ vezes físico causado pela interação entre um orga­
de, pelo consumo repetido de determinada droga, nismo vivo e um fármaco; caracteriza-se por mo­
seja ela natural ou sintética”. dificações do comportamento e outras reações que
Atualmente usam-se os termos ârogadito e compreendem sempre um impulso irreprimível
drogadição, lamentáveis estrangeirismos derivados do para tomar o fármaco, em forma contínua ou pe­
inglês drug addict, para designar, respectivamente, o riódica, a fim de experimentar seus efeitos psíquicos
toxicômano e a toxicomania. Note-se que, desde 1964, e, às vezes, para evitar o mal-estar produzido pela
a Organização Mundial de Saúde já recomendava o privação. A dependência pode ser ou não acompa­
Medicina Legal II

nhada de tolerância. Uma mesma pessoa pode de­ for difundida no Brasil, a despeito das piores e mais
pender de um ou mais fármacos”. funestas conseqüências que possa gerar para a saúde
É um verdadeiro estado de escravidão da pessoa pública, causando dependência física ou psíquica,

à droga, podendo ser de natureza física ou psíquica. não sofrerá repressão penal em virtude da sistemá­
tica mantida” (Lei de Drogas anotada, 2007, p. 13).
A dependência psíquica é caracterizada pela
Deley e Deniker, dois farmacologistas franceses,
compulsão em consumir a droga de maneira perió­
agruparam os psicotrópicos em três grandes grupos,
dica ou contínua, quer para a obtenção de prazer,
os psicolépticos, os psicanalépticos e os psicodislépticos
quer para alívio de um mal-estar.
(Vargas, Manual de psiquiatria forense, 1990, p. 182).
A dependência física é marcada pelo surgimento
A esses três grupos principais alguns autores
de transtornos de natureza física ou pela síndrome
acrescentam um quarto, o dos pampsicotrópicos.
de abstinência, quando a droga não é consumida.
No grupo dos psicolépticos temos as drogas que
deprimem o sistema nervoso. São sedativos que re­
3. CLASSIFICAÇÃO duzem a motricidade e a sensibilidade, diminuindo
as emoções e o raciocínio. Dividem-se em hipnosse-
Drogas, entorpecentes ou psicotrópicos são com­
dativos, tranquilizantes e neurolépticos.
postos químicos, naturais ou não, que, agindo sobre
Entre os hipnossedativos (barbitúricos) e os tran­
o cérebro, produzem estados de excitação, depres­
quilizantes vamos encontrar as principais fontes de
são ou alterações variadas no psiquismo.
farmacodependênáa iatrogênica (provocada pelo médi­
A Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, alte­
co), particularmente em relação a indutores do sono e
rou a tradicional expressão “substância entorpecen­
similares, por vezes receitados indiscriminadamente.
te ou que determine dependência física ou psíquica”
Os neurolépticos não representam risco para a
pelo termo “drogas” (art. 1% parágrafo único), al­
saúde pública. Utilizados como anestésicos, dificil­
teração, aliás, que já havia sido introduzida pela re­
mente causarão dependência.
vogada Lei n. 10.409, de 11 de janeiro de 2002, mas
Os psicanalépticos são os estimulantes do siste­
que não chegou a ser utilizada em razão do veto ao
ma nervoso central, que levam à euforia, prolongam
Capítulo III, que tratava dos crimes e das penas,
o estado de vigília e causam a sensação de um incre­
Lein. 11.343/06 mento da atividade intelectual. Destacam-se nesse

Art. l a ...
grupo as anfetaminas e os anorexígenos, também
fonte de farmacodependência iatrogênica.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-
se como drogas as substâncias ou os produtos ca­ Os psicodislépticos produzem uma dissocia­
pazes de causar dependência, assim especificados ção do psiquismo levando a alucinações e delírios.
em lei ou relacionados em listas atualizadas pe­ Nesse grupo de drogas é que vamos encontrar os
riodicamente pelo Poder Executivo da União. tóxicos socialmente mais importantes, como álcool,
cocaína e maconha.
Não houve modificação, porém, no critério de Algumas dessas drogas são normalmente utili­
definição, que continua remetendo os produtos e zadas em rituais religiosos {chá do Santo Daime, por
substâncias capazes de causar dependência às rela­ exemplo), pela sensação de liberação do ego e ideia
ções publicadas e atualizadas periodicamente pelo de uma nova dimensão para a consciência.
Poder Executivo da União, ou seja, a Lei n. 11.343/06 Por derradeiro, temos os pampsicotrópicos. São
é expressamente uma lei penal em branco. drogas modernas, utilizadas como anticonvulsivan-
Como bem lembram Greco Filho e Rassi, a tes, mas que podem induzir dependência física ou
nova Lei de Drogas optou pela pior solução, por­ psíquica. Têm aplicação clínica em determinados
que, “se a droga nova, não relacionada pela Secreta­ estados de angústia e depressão, devendo ser admi­
ria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, nistrados sempre sob supervisão médica.
CursoSConeurso

Os esquemas a seguir, baseados em similares dos tóxicos, 1977, p. 30), indicam as principais subs-
propostos pelo Prof. Protásio de Carvalho (A didática tâncias psicotrópicas de cada grupo:

"sêcobarbital
barbitúricos amobarbital
hipnossedativos fenobarbital
pentobarbital

não barbitúricos — ketamina

dorpromazina e outros derivados fenotiazínicos


proclorpemazina e outros derivados
neurolépticos butiferona: haloperidol
tioxanteno: Ro 4-0403
Psicolépticos
hidroxina
derivados de difenilmetano benactizina
azaciclonol

meprobamato
tranquilizantes miorrelaxantes com fenaglicodol
atividade neurossedativa eioridiazepóxido

miorrelaxantes sem mefenezina


atividade neurossedativa clorzoxazona

derivados do álcool propílico


timoíépticos ou benzodiazepínicos
ansiolíticos substâncias químicas heterogêneas

"ãnfetamina
aril-aiquilammas dextroanfetamina
simpatomiméticas fentermina
MDMA (ecstasy), ICE

pipradrol
derivados piperidínicos metilfenidato
facetoperano

Psicanalépticos
iprinazinda
psicotônicos inibidores da nialamida
monoaminoxidase fenilisopropil-hidrazina

derivados oxazolidínicos fenoxazol


e canfânicos etilamino-fenil-norcanfano

cafeína
acetato de desoxicorticosterona
outros compostos deanol
centrofenoxina
Medicina Legal li

álcool
ópio, heroína e morfina
euforizantes cocaína
óxido nitroso

Psicodislépticos mescalina
bufotenina
adrenolutina
alucinógenos ou psilocibina
despersonalizantes estramônio
maconha
LSD 25 (dietilamida do ácido lisérgico)

Pampsico trópicos clorprotixeno


trimeprina

que se torna apático e passa a descuidar da aparên­


4. PRINCIPAIS DROGAS
cia e higiene pessoais. Nos casos mais avançados,
Algumas drogas, pela sua importância, merecem temos incoordenação motora, perda de memória,
rápido destaque. dificuldade na fala (disartria), confusão mental, in­
consciência, convulsões e eventualmente morte.

4.1. Borbitúricos
4.2. Benzodiazepínicos
Barbitúricos são substâncias químicas deriva­
das da composição sintética entre ureia e ácido ma- Os benzodiazepínicos pertencem a um grupo de
lônico (malonilureia), psicolépticos de ação depres- substâncias utilizadas como tranquilizantes e ansiolí-
sora sobre o sistema nervoso central, destacando-se, ticos e foram introduzidos no mercado farmacêutico
entre outros: barbital (Veronal), alobarbital (Dial), como uma alternativa mais segura aos barbitúricos.
amobarbitaí (Amitú) ,/enobarbital (Gardenal), seco- Estão entre os medicamentos mais utilizados no
barbital (Seconal), pentobarbital (Nembutal) e tio- mundo todo, sendo considerados um problema de
pental (Pentotal). saúde pública nos países mais desenvolvidos.
Clinicamente são indicados no tratamento de Como exemplos de medicamentos à base de
quadros epilépticos, ansiedade e insônia ou como benzodiazepínicos poderíamos citar: Aniolax, Bro-
anestésicos de eleição para entubação e procedi­ mazepam, Calmociteno, Clorazepam, Diazepam,
mentos cirúrgicos rápidos. Dienpax, Flunitrazepam, Flurazepam, Frontal, Le-
Utilizados nas doses terapêuticas recomenda­ xotan, Lorazepam, Lorax, Nitrazepam, Psicosedin,
das e sob supervisão médica, não costumam causar Rohypnol, Somalium, Valium etc.
qualquer problema ao paciente. Entretanto, usados Mesmo quando consumidos em doses terapêu­
indiscriminadamente, podem induzir tolerância e ticas, a interrupção abrupta pode provocar sínâro-
dependência física e psíquica. me ãe abstinência em até 50% das pessoas tratadas
As intoxicações agudas são geralmente de ori­ por 6 meses ou mais.
gem suicida, e a dose letal é cerca de vinte vezes su­ Os efeitos terapêuticos dos benzodiazepínicos
perior à habitualmente usada. Os sintomas incluem incluem indução do sono, tranquilização e redução
sonolência, hipotensão arterial, coma e morte (Za- da ansiedade (ansiolíticos).
charias, 1991, p. 54). Entre os sintomas provocados pela abstinência
Nas intoxicações crônicas, toxicomania barbi- poderíamos citar insônia, irritação, perda da me­
túrica, há uma completa transformação do viciado, mória e, muito raramente, alucinações. Fisicamente
CursaSConcurso

podemos observar sudorese intensa, palpitações, A droga pode ser ingerida por via oral em cáp­
náuseas e perda do apetite. sulas ou comprimidos, consumida por via intraveno-
Nos Estados Unidos o uso de alguns benzodiaze- sa (diluída em água destilada), aspirada na forma de
pínicos (como o Rohypnol) está intimamente ligado a pó e filmada com auxílio de um cachimbo artesanal.
casos de abusos sexuais, porque, quando diluídos em Pode, também, ser diluída em bebidas alcoólicas.
álcool, esses fármacos têm seus efeitos potencializados, As anfetaminas não causam dependência física,
tomando a vítima absolutamente indefesa. Por essa ra­ apenas psíquica.
zão recebem a denominação de date rape árugs (dro­
gas de encontro com o estupro). 4.4. Ecstasy (MDMA)
O ecstasy ou pílula do amor é uma anfetamina
4.3. Anfefaminas
cujo principio ativo, o metileno-droxi-metanfeta-
As anfetaminas, popularmente conhecidas por mina ou MDMA, provoca nos usuários forte senti­
bolinha, cristal ou copiloto, são aminas simpaticomi- mento de empatia e conforto, razão pela qual vem,
méticas que pertencem a três categorias de drogas cada vez mais, sendo utilizada em grande quantida­
sintéticas, quimicamente semelhantes: a anfetamina de em festas da alta sociedade, particularmente em
propriamente dita (Benzedrine e Bifetamina), a dex- raves e discotecas.
troanfetamina (Dexamil e Dexedrine) e a metanfeta- Seu consumo é feito por via oral, sob a forma
mina (Desbutal, Desoxyn, Methedrine e Obedrin), de comprimidos, ou por aspiração do pó, como a
todas elas com poderosa ação estimulante sobre o cocaína (mais raro).
sistema nervoso central Os efeitos correspondem a uma abertura emo­
Entre os principais efeitos terapêuticos pode­ cional seguida de desinibição e euforia. Cessados os
ríamos citar: aumento da confiança e do estado de efeitos estimulantes, observa-se forte depressão nos
alerta, diminuição do sono e perda de apetite, este usuários (“aterragem”), podendo levar ao suicídio.
último responsável pelo seu uso generalizado como O uso contínuo leva a um decréscimo nos ní­
tratamento antiobesidade. veis de serotonina, com conseqüente queda na li-
Em razão da resposta estimulante, as anfetami­ bido, crises de pânico e depressão crônica. Foram
nas começaram a ser utilizadas por esportistas com o observadas lesões no cérebro (coordenação e me­
objetivo de incrementar sua capacidade física, indo, mória), coração e fígado.
por vezes, além dos limites de segurança e resistência
orgânicas. Mais recentemente, pelo seu baixo custo
4.5. S p e c ia l K (Kefamina)
e facilidade de aquisição, tornaram-se drogas am­
plamente consumidas em raves e discotecas (clubber Desenvolvido nos anos 60 como anestésico
drugs), principalmente nas formas de ecstasy (metile- para ser usado nos campos de batalha do Vietnã,
no-droxi-metanfetamina) e Ice (metanfetamina). o hidrocloriárato de ketamina é um tranquilizante

O uso prolongado e indiscriminado do fármaco atualmente utilizado em clínica veterinária.

pode levar à psicose “toxicoanfetamínica” (Sandrim Em razão dos potentes efeitos alucinógenos que
e Penteado, Drogas — imputabilidade e dependên­ produz, passou a ser usado como droga a partir dos
cia, 1994, p. 30), caracterizada por insônia, loqua­ anos 70 e ressurgiu nas raves e discotecas dos anos
cidade, irritação, diminuição da capacidade mental 90 com o nome de special K ou vitamina K.
e eventualmente alucinações. No plano físico são Entre os sintomas estão descritas alucinações
descritos: anorexia (perda do apetite), aumento da com distorções visuais, perda das noções de tempo e
pressão arterial, taquicardia, tremores musculares, identidade. O pico pode durar de 30 minutos a 2 ho­
lesões irreversíveis no sistema nervoso central, con­ ras, mas a droga permanece no organismo por mais
vulsões, coma e morte. de 24 horas. O uso contínuo do fármaco pode levar
Medicina Legal II

a sérios distúrbios, como amnésia e incoordenação ferurn), do qual derivam outras drogas, como a heroí­
motora, e à morte por complicações respiratórias. na, a morfina e a codeína (utilizada contra a tosse).
A forma mais usual de consumo é a aspiração Originariamente tem aparência de um xarope
do pó da droga desidratada, podendo eventualmen­ leitoso, que, colocado para secar por aproximada­
te ser borrifada em cigarros comuns ou de maconha mente 2 meses, transforma-se em uma pasta acasta­
e fumada. nhada de sabor amargo.
Recentemente foi feita em São Paulo a primei­ A forma mais usual de consumo é a aspiração
ra apreensão da droga, em uma boate no bairro da fumaça resultante de sua queima na forma de ci­
da Barra Funda (Polícia faz primeira apreensão da garro, mas pode ser ingerido ou injetado.
droga special K em São Pauio, O Estado de S. Paulo
Graças ao seu principal efeito, uma potente ação
— Cidades, p. C3).
analgésica e depressora sobre o sistema nervoso
central, os opiáceos foram utilizados durante mui­
4.6. GBH ou “ Líquido X” tos anos em clínicas médicas, valendo citação os
preparados: háudano de Sydenham, o Pó de Dover e
O GBH ( Gamma-hydroxybutyric acid ou ácido
o Elixir ParegóricOy todos atualmente em desuso.
gama-hidroxibutírico) foi sintetizado em 1961, na
O viciado experimenta uma fase inicial de ex­
França, por Henri Laborit (1914-1995) para ser uti­
citação, inclusive com incremento das funções psí­
lizado como anestésico.
quicas, para depois cair em depressão e prostração
O uso inadequado iniciou-se pelos íisicultu-
profunda que o impedem de qualquer atividade.
ristas, como estimulante do crescimento muscu­
lar. Mais recentemente, e geralmente utilizado em As formas derivadas, heroína e morfina, são

combinação com outras drogas como o ecstasy ou o mais utilizadas que o próprio ópio.
special K, surgiu nas raves e discotecas, com o nome
de “líquido X ”. 4.8. Morfina
É consumido na forma de tabletes, cápsulas, pó
A morfina é um alcalóide fenantrênico deriva­
branco ou líquido incolor. Além de apresentar baixo
do do ópio. Originariamente tem o aspecto de um
custo, a droga pode ser preparada em casa, a partir
líquido incolor, cuja via de administração é a injeção
de um composto químico utilizado para limpeza de
intramuscular.
placas eletrônicas.
\ Por não ter odor e ser praticamente sem sabor (le­ Em clínicas médicas utiliza-se a forma de clori-

vemente salgado), pode ser misturado em bebidas al­ drato de apomorfina, um sal hidrossolúvel com apa­

coólicas (que potencializam o efeito) sem que a vítima rência de um pó branco e cristalino de sabor amargo.

perceba, o que faz do GBH uma outra droga utilizada Sua ação principal é narcótica, produzindo
para a prática de abusos sexuais (date rape drugs). apatia, analgesia e sonolência com delírios eróticos
Cerca de 5 a 10 minutos após a ingestão da dose prolongados. A dependência instala-se após duas
usual (entre 0,5 g e 1,5 g), a pessoa experimenta leve semanas de uso contínuo e pode levar o morfinô-
relaxamento e sensação de bem-estar, acompanha­ mano à morte por debilidade geral do organismo.
dos de desinibição e excitação sexual. Há relatos de dependência após a primeira dose.
Os efeitos colaterais incluem cefaleia, náuseas,
perda de memória e torpor. Já foram relatados inú­ 4.9. Heroína
meros casos de óbito por overdose.
A heroína é um derivado sintético da morfina,
denominado diacetilmorfina. Tem a forma de um
4.7 . Ópio
pó branco e cristalino, cujos efeitos são similares
O ópio é uma mistura de alcalóides extraídos dos aos da própria morfina, mas cerca de cinco vezes
frutos ou cápsulas verdes da papoula (Papaver somni- mais potentes.
Cursc&£on€urso

A via de administração é geralmente hipodérmi­ Age no sistema nervoso central, produzindo


ca, e a dependência instala-se com maior facilidade. algumas alucinações, alteração da percepção tem­
poral e certo grau de sonolência. Diminui a sensibi-

4.10. Cocaína lidadeà temperatura e à dor.


Não causa dependência física, mas pode levar
A cocaína é um alcalóide estimulante extraído das
à dependência psíquica, se consumida por tempo
folhas da coca ou epadu (Erythroxylum coca). Fisica­
prolongado.
mente, caracteriza-se por ser um pó branco e cristali­
O viciado crônico, comobem descreve. Zachch
no de sabor amargo (farinha, neve ou branquinha)7~
rias (1991, p. 286), “torna-se uma figura facilmente
A maneira mais usual de utilizá-la é pela aspiração
reconhecível: desnutrido, emaciado, ostenta na fi­
nasal do pó (pitada ou prise), ou pela via subcutânea,
sionomia expressão aparvalhada; o rosto é pálido,
com o uso de uma seringa hipodérmica.
a pele sem viço, os olhos aprofundados nas órbitas,
A cocaína também pode ser fumada em ca­
o olhar mortiço, a voz rouca, as mãos trêmulas, o
chimbos improvisados (maricas), quando na forma
caminhar incerto”.
de crack (pedra) ou merla (melado).
Tanto o crack como a merla são subprodutos
da cocaína, obtidos a partir da mistura da pasta bá­
4.12. MescaSIna
sica com bicarbonato de sódio. O crack tem a forma A mescalina é um alcalóide extraído do cacto
de pedra, enquanto a merla, de uma pasta viscosa. peiote (Lophophora mlliamsii), cujo princípio ativo
Por serem mais baratos, tornaram-se as drogas de é o 3,4,5 “trimetoxifeniletilamina.
eleição entre os usuários de baixo poder aquisitivo,
A administração pode ser oral ou parenteral
O consumo de cocaína leva à sensação de au­
por injeção endovenosa.
sência de cansaço, prolongamento do estado de vi­
Os efeitos são alucinatórios e despersonalizan-
gília e euforia intensa. Após a excitação segue uma
tes, similares aos do LSD, com uma duração prolon­
depressão profunda que pode levar o cocainômano
gada (12 horas).
ao suicídio.
Não causa dependência física, mas pode levar a
No Brasil, a cocaína é a droga mais utiliza­
danos irreparáveis no sistema nervoso.
da pelos usuários de fármacos injetáveis. O hábito
de compartilhar seringas, a baixa auto-estima e os
péssimos hábitos de higiene acabam por levar ao 4.13. LSD=25
contágio de várias enfermidades como a hepatite, a
O LSD-25, ou dietilamida do ácido lisérgico,
dengue e a SIDA.
cuja sigla deriva do alemão Liserber Saure Diethyla-
nid, é um produto semi-sintético formado pela
4.11. Maconha aglutinação de uma dietilamida com o ácido lisér­

Conhecida também por inúmeras outras deno­ gico, extraído do fungo Claviceps purpurea (esporão

minações, como erva, fumo, haxixe, maríjuanaepa- do centeio). O número 25 indica a vigésima quinta
cau, a maconha é uma substância tóxica constituída experiência de uma série.
pelas inflorescências dos exemplares femininos da Fisicamente é um pó incolor, inodoro e sem sa­
Cannabis sativa ou cânhamo da índia. bor, que pode ser ingerido sob a forma de compri­
Seu princípio ativo é o 9-gama-transtetrahidro- midos ou aplicado por injeções endovenosas.
canabinol (THC), um composto fenólico encontra­ Os efeitos, que perduram por 6 a 12 horas, são
do na resina das plantas femininas e cuja concentra­ alucinatórios e despersonalizantes. As chamadas
ção é bastante variada. viagens levam o usuário a ter a errônea sensação
A via de administração é basicamente o firmo, sob que alcançou outros planos de existência, chegando
a forma de toscos cigarros denominados baseados. mesmo a sentir que o espírito abandonou o corpo.
Medicina Legal II

Embora não cause dependência física, não raro um sem-número de produtos comerciais comuns,
pode desencadear crises psicóticas, em pessoas predis­ como esmaltes, colas, tintas, removedores, gasolina,
postas, e comportamentos aberrantes, que podem vernizes e outros, cujos vapores e gases podem ser
levar à prática de crimes ou mesmo do suicídio. inalados proposital ou acidentalmente.
Foram relatadas malformações físicas e men­ A importância toxicológica dessas substâncias
tais nos filhos de usuários, levando à conclusão de reside exatamente no fato de serem produtos co­
um efeito teratogênico cumulativo, merciais comuns, não vedados pela legislação. Por
y apresentarem baixo custo, facilidade de aquisição

4.14. Esferoides ou anabolizantes e de utilização, constituem drogas de eleição das


crianças, principalmente meninos de rua, abrindo
Os esteroides ou anabolizantes são um grupo caminho ao consumo de outros fármacos.
de derivados sintéticos da testosterona, clinicamen­
A inalação acidental pode levar à configuração de
te recomendados para tratamento de pessoas com
acidente do trabalho (em indústrias de calçados, ofici­
baixas taxas do hormônio masculino, por exemplo,
nas de pintura, postos de gasolina etc.).
homens submetidos à ablação cirúrgica dos testícu­
Os efeitos físicos são similares aos dos anesté­
los. Como produtos comerciais, poderíamos citar:
sicos e incluem sensação de torpor e bem-estar que
Anâroxon, Deca-Durabolim e Durasteton.
pode durar alguns minutos. Há também uma sen­
De forma inadequada, essas drogas são fre­
sação de saciedade temporária, o que faz com que
quentemente utilizadas por esportistas, que chegam
sejam utilizados por crianças carentes para minimi-
a consumir doses cerca de cem vezes superiores às
zar a fome.
terapêuticas, para aumento da massa muscular ou
Se inalados em altas concentrações, conduzem
desempenho físico, de maneira a proporcionar van­
à sufocação, parada cardíaca e morte. Outros efei­
tagem em relação a outros competidores.
tos, observados com o uso contínuo, são perda de
Além da fraude em si, pelo uso de substâncias
peso, incoordenação motora, lesões hepáticas e re­
sintéticas em competições esportivas, que leva à des­
nais, perda da memória, danos no sistema nervoso
classificação do atleta, o abuso desses produtos pode
central irreversíveis, coma e morte.
causar sérias alterações físicas e psicológicas, como
Estudos recentes indicam que essas substân­
aumento da agressividade, redução da produção de
cias atuam nas mesmas regiões do cérebro que a
esperma, impotência, ginecomastia (crescimento
cocaína (Jornal Saúde, Cola de sapateiro afeta cé­
das mamas) e predisposição a tumores hepáticos.
rebro de forma igual à cocaína, advertem cientistas
Usados por mulheres, levam ao surgimento de
— <www.saudeemmovimento.com.br>).
caracteres sexuais secundários masculinos, como
O uso prolongado por levar à dependência físi­
crescimento de pelos e engrossamento da voz, além
ca e psíquica (mais comum).
de atrofia dos ovários e esterilidade.
Especificamente entre nós, as colas de sapateiro
Embora o uso de anabolizantes não leve ao
consumo de outras drogas, há relatos de dependên­ (•Cascohy Patex, Brascoplast etc.), por conterem to­

cia aos próprios esteroides, em razão de sintomas lueno ou n-hexano em suas composições, acabam

físicos e psíquicos desagradáveis provocados pela por ser a droga mais usada entre meninos de rua e

supressão da droga. estudantes da rede pública de ensino (CEBRID, Sol­


ventes ou inalantes — . <www.saude.inf.br/cebrid>),
Embora o tolueno não esteja incluído entre as
4.15. Inalanfes
drogas de uso proibido, é possível responsabilizar as
Inalantes são hidrocarbonetos, tais como cloreto pessoas que vendem o produto para crianças com
de etila (lança-perfume), butano, n-hexano, propano, base no art. 243 do ECA, que teve a pena ampliada
tolueno, tricloroetileno, xilol etc., encontrados em pela Lei n. 10.764, de 12 de novembro de 2003.
CursoSCorrcurso

ECA chá e cacau, bem como em algumas bebidas à base


Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, de cola.
ministrar ou entregar, de qualquer forma, a crian­ O consumo excessivo de cafeína pode levar à
ça ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos ocorrência de gastrite, vômitos, intranqüilidade, an­
componentes possam causar dependência física siedade, insônia, tremores musculares e depressão.
ou psíquica, ainda que por utilização indevida:
Ainda que o uso moderado da cafeína, por seu
Pena — detenção de dois a quatro anos, e multa, efeito estimulante, possa ser benéfico ao organismo,
se o fato não constitui crime mais grave. o consumo exagerado pode levar à dependência fí­
sica. Sua interrupção abrupta produz uma espécie
4.16. Tabaco de síndrome de abstinência caracterizada por dores
de cabeça, irritabilidade, sonolência e diminuição
O tabaco é uma planta do gênero Nicotiana da capacidade intelectual.
com mais de 50 espécies diferentes, dentre as quais
se destacam a Nicotiana tabacum>a Nicotiana langs-
4.18. Poppers
áorfjii e a Nicotiana rústica, consumidas em cigarros,
charutos e cachimbos, artesanais ou industriais. Os poppers ( nitrato de amila ou butila) são va~

Na combustão do tabaco produzem-se milhares sodüatadores originalmente empregados no trata­

de substâncias (gases, vapores orgânicos e compostos li­ mento da angina.

bertados em forma de partículas) que são transportadas Distribuídos em pequenas garrafas de vidro,
pelo fumo até os pulmões. Dentre os inúmeros prin­ são normalmente consumidos por inalação graças

cípios ativos, destacam-se a nicotina, diversos agentes à extrema volatilidade do produto à temperatu­

irritantes e o alcatrão. ra ambiente. Basta abrir a garrafa, colocá-la junto


às narinas e aspirar os gases. O efeito é imediato e
A nicotina é o alcalóide responsável pela maior
corresponde a uma sensação de estímulo provocada
parte dos efeitos do tabaco e pela dependência físi­
pelo maior afluxo de sangue no cérebro e coração,
ca. Dentre os irritantes, podemos mencionar: acro-
que dura cerca de dois minutos.
leína, amoníaco, fenóis e ácido cianídrico, respon­
Ao lado do efeito vasodilatador estimulante, causa
sáveis pela irritação brônquica e tosse dos fumantes.
o relaxamento de todos os músculos do corpo, inclu­
O alcatrão responde pelos efeitos altamente cance­
sive do esfíncter anal, razão pela qual é muito utilizado
rígenos do fumo.
pela comunidade homossexual, porque favorece o in-
Tido durante muitos anos como símbolo de sa­ tercurso sexual, não obstante dificultar a ereção.
tisfação e status social, ainda que, ao contrário de Apesar de não causar dependência, o uso pro­
outras drogas, o hábito de fumar seja socialmente longado pode provocar danos ao sistema cardior-
aceito e não altere significativamente o relaciona­ respiratório pelo aumento exagerado do trabalho
mento social do viciado, os danos à saúde são inegá­ cardíaco. Também são relatados efeitos relaciona­
veis, como, entre outros, bronquite e enfisema pul­ dos com imunossupressão.
monar, câncer no pulmão e em outros órgãos (boca,
laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo
de útero), doenças vasculares (trombose e derrame
5. ALCOOLISMO
cerebral), úlceras gástricas, impotência sexual, com­ Apesar de não ter seu uso proibido e constituir,
plicações na gestação e malformações fetais. de certa forma, um hábito socialmente aceito, o al­
coolismo é tão ou mais nocivo à saúde e à sociedade
que as demais toxicofilias, traduzindo-se em verda­
4.17. Cafeína
deiro problema de saúde pública.
A cafeína é uma substância estimulante do siste­ O álcool pode agir no organismo de várias for­
ma nervoso central, presente em plantas como café, mas, produzindo desde uma simples embriaguez
Medicina Legai II

episódica até a psicose alcoólica (atual transtorno resume os principais quadros da intoxicação alcoó-
psicótico induzido por álcool). O esquema a seguir lica, segundo a terminologia clássica:

fase de excitação (subaguda ou do macaco)


embriaguez fase de confusão (aguda ou do leão)
fase siâerativa ou comatosa (superaguda ou do porco)

agudo
agressiva ou violenta
embriaguez patológica excitomotora
(segundo Vibert) convulsiva
delirante

subagudo
delírio alcoólico agudo (delirium tremens)
superagudo
Alcoolismo
com sintomas
psiquiátricos depressão alcoólica aguda
alucinose auditiva aguda
cromco paranóia alcoólica— delírio de ciúmes
(psicoses dipsomania
alcoólicas)
psicose polineurítica de Korsakoff
com sintomas encefaíopatia de Wernicke
psiquiátricos e encefalopatia porto-cava
neurológicos síndrome de Marchiafava
epilepsia alcoólica
demência alcoólica

A nomenclatura dos transtornos mentais rela­ — transtorno do humor induzido por


cionados com o uso de álcool foi significativamente álcool;
alterada pelo DSM — IV da Associação Psiquiátrica — transtorno de ansiedade induzido por
Americana: álcool;

transtornos por uso de álcool: — disfunção sexual induzida por álcool;

— dependência de álcool; — transtorno do sono induzido por álcool.

— abuso de álcool;
transtornos induzidos por álcool: Por questões didáticas e por ser mais conhe­

— intoxicação por álcool; cida, neste trabalho comentaremos a terminologia


— abstinência de álcool; clássica.

— delirium por intoxicação com álcool;


— delirium por abstinência de álcool; 5.1. O metabolismo do álcool
— demência persistente induzida por
álcool; O álcool pode ser introduzido no organismo

— transtorno amnésico persistente indu­ humano por diversas vias, tais como absorção cutâ­
zido por álcool; nea (discutível), pela mucosa do reto, aspiração,
— transtorno psicótico induzido por infusão venosa e ingestão. De todas, a mais signifi­
álcool; cativa é o consumo de bebidas alcoólicas.
CursoSConcurso

Após a ingestão, a metabolização do etanol no A oxidação ocorre predominantemente no fíga­


organismo pode ser dividida em três estágios: absor­ do, onde o álcool, diluído no sangue e na presença da
ção, distribuição e eliminação. enzima álcool desidrogenase, é oxidado a acetaldeído.
Quando alguém consome uma bebida alcoóli­ Este, por sua vez, sofre uma segunda oxidação, na
ca, uma pequena parte do álcool é absorvida pela presença da enzima aldeido desidrogenase, formando
mucosa do estômago e a maior parte pelo intestino o acetato, que é eliminado sob a forma de dióxido de
delgado, particularmente pelo duodeno. carbono e água, liberando energia (7,1 kcal/g).

Existem diversos fatores que podem diminuir A energia liberada na reação não é armazena­
ou aumentar a taxa de absorção do etanol pelo in­ da de maneira satisfatória pelo organismo, dissi-
testino (Garriott, 2003, p. 56): pando-se sob a forma de calor. Por essa razão, o
* diminuem a taxa de absorção: álcool é classificado como *fonte de caloria vazia!0
— presença de alimento no estômago; ou não aproveitável. O quadro abaixo resume as
— consumo concomitante de alguns principais etapas do processo (adaptado de Gar­
carboidratos e aminoácidos (frutose, riott, 2003, p. 117):
glicina);
— fumar; respiração
— uso de drogas que retardam o esvazia­ c h 3c h 2oh — ~5% > urina
(Etanol) suor
mento gástrico (agentes anticolinérgi- -94%
cos e propantelina); NAD
— ingestão de álcool sob a forma de cer­ (Álcool desidrogenase)
vejas com alto conteúdo de carboidra­ H* + NADH
tos; e
CH3CHO
— trauma, choque e perdas sanguíneas (Acetaldeído ou etanol)
significativas. NAD
aumentam a taxa de absorção: (Aldeido desidrogenase)
— beber com o estômago vazio; H++ NADH
— ingestão de bebidas com maior teor
CH3COOH
alcoólico; (acetato)
— drogas que aceleram o esvaziamento
gástrico (cisaprida, metoclopramida,
eritromicina); e •H,0
— alguns procedimentos cirúrgicos (gas- Energia
trectomia ou bypass gástrico).

Em relação ao tempo de eliminação pelo orga­


Uma vez absorvido, o álcool atinge a corrente nismo, 0 álcool é, em média, depurado na razão de
sanguínea e, por difusão, é rapidamente distribuído a 0,15g/l/hora, de maneira que uma pequena dose,
praticamente toda fração liquida do organismo, alcan­ equivalente a uma alcoolemia de 0,2 g/l, levaria cerca
çando órgãos, vísceras, tecidos, humores, secreções e de duas horas a duas horas e meia para ser totalmen­
excreções, com exceção dos ossos e do tecido adiposo. te eliminada. Doses maiores levariam proporcional­
De 5 a 10 minutos após a ingestão, o álcool já mente mais tempo, até 12 horas, intervalo que pode
pode ser detectado no sangue, atingindo a concen­ ser ainda maior se presentes condições clínicas parti­
tração sanguínea máxima entre 30 e 90 minutos. culares que retardem a metabolização do álcool (ver
A eliminação é contínua e ocorre basicamente Nota Técnica n. 15/08 do Ministério da Saúde). De
por oxidação (cerca de 94%), sendo que apenas 6% qualquer maneira, em até 11 horas após a ingestão
são eliminados por excreção, através da respiração ocorre a eliminação de 70%, e os 100% são alcança­
(2% ), transpiração (1%) e urina (3%). dos antes de 24 horas (Maranhão, 2002, p. 390).
Medicina Legal II

O quadro a seguir aponta alguns fatores que V ’ é o fator de redução ou “fator Widmark,
podem influenciar no tempo de eliminação (Gar- utilizado para excluir do peso total do cor­
riott, 2003, p. 72): po, medido em quilogramas (kg), o per­
centual correspondente à massa de tecido
ósseo e gorduroso, que não contém água
Valores
Taxa de e, portanto, não recebe difusão do álcool.
esperados Condições físicas
eliminação
g/i/hora Widmark estabeleceu que o fator V ’ (re-
Indivíduos desnutridos ou duàerade kôpermass) é aproximadamente
alimentados com dieta 0,7 para o homem e 0,6 para a mulher;
de baixo nível proteico.
Baixa 0,08 a 0,1 “p” é o peso em quilogramas (kg); e
Níve! avançado de cirrose
hepática, com hipertensão “C” é a concentração de álcool no sangue
hepática portai. medida em gramas por quilo (g/kg).
Indivíduos saudáveis, após
um jejum noturno de 10
Assim, um homem de 70 kg que tenha apresen­
Moderada 0,1 a 0,15 horas e ingestão
moderada de álcool tado uma dosagem alcoólica sanguínea de 1,2 g/kg
(menos de 1 g/kg). teria cerca de 58,8 g de álcool distribuídos pela fra­
Bebedores regulares que,
ção líquida do organismo no momento da dosagem.
entretanto, não são
alcoólatras e nem No caso de uma mulher com o mesmo peso, o valor
estão em jejum. diminuiria para 50,4 g.
Rápida 0,15 a 0,25 Concentrações iniciais
bastante aStas após r p C A
alimentação. Homem = 0,7 X 70 kg x 1,2 g/kg = 58,8 g
Administração
Mulher - 0,6 x 70 kg x 1,2 g/kg = 50,4 g
endovenosa de frutose.
Alcoólatras e ébrios Como a legislação brasileira considera a alcoo-
durante o período de
lemia em gramas por litro (g/l), e não gramas por
desintoxicação, com altos
níveis de álcooí no sangue quilo (g/kg), e a densidade do sangue total é aproxi­
{maís de 3,5 g/l).
madamente 1,053 g/ml, é preciso fazer a conversão,
Ultrarrápida 0,25 a 0,35 Predisposição genética
para o ultrarrápido
multiplicando a concentração encontrada (Ce) por
metabolismo do etanol. 0,95 para determinar o fator “C”.
Metabolismo acelerado
(em razão de algumas ^(g/kg) " ^e(g/l) X
drogas ou queimaduras}.
Além disso, é preciso considerar, também, que
a ingestão de álcool ocorre não em um único mo­
5.2. A equação de Widmark mento, mas geralmente ao longo de um determina­

Com base no conhecimento do metabolismo do do período, durante o qual os processos metabóli-

álcool, o médico suíço Erik Matteo Prochett Widmark cos de eliminação do etanol têm início, diminuindo

(1889-1945) desenvolveu uma fórmula que permite a concentração sanguínea inicial.

aquilatar a quantidade de álcool absorvida e distri­ Se quisermos estimar a quantidade de álcool


buída pelo corpo, a partir da concentração de etanol ingerida, é preciso acrescentar à concentração san­
medida no sangue total (Garriott, 2003, p. 63): guínea obtida (Ce) o valor da taxa de eliminação
“Te” (0,15g/l/hora), multiplicado pelo tempo “t” em
A~rxpxC
horas (h) até a realização do exame.
Onde: Dessa forma a equação poderia ser indicada
“A” é a quantidade de álcool distribuída como:
por todo o organismo no momento da co­
leta da amostra, em gramas (g); Ag)~ rX Pm x ^ em +^eignih)xW x0,^5<
i/kg)l
CursoSConcurso

Mais recentemente, Seidl et al (apud Garriott, Um homem com 70kg e l,75m de altura apre­
2003, p. 63) apresentaram equações que permitem sentaria um fator Widmark (r) igual a 0,78, diferen­
determinar com maior precisão o “fator Widmark” ça considerável em relação ao valor inicial de 0,7
(r) para homens (rH) e mulheres (rM), levando em proposto.
consideração a composição hídrica total do orga­ Qualquer que seja a adaptação, entretanto, é
nismo, com base na proporção do peso em quilos necessário ter sempre em mente que a equação de
(kg) e da altura em centímetros (cm): Widmark fornece apenas uma estimativa, aplicável
r H„ - 0,31608~ 0,004821 X Peso... + 0,004632xA ltura,(cm). à média da população, porque são inúmeros fatores
’ ’ (Kg)
que podem alterar as taxas de absorção, distribuição
rM- 0 ,3 1 2 2 3 -0 ,0 0 6 4 4 6 X Peso(kg) + 0,004466 x Altura(cm) e eliminação do álcool no sangue.

5.3. As bebidos alcoólicos mido, de acordo com as doses comercialmente ser­


vidas em bares e restaurantes para cada espécie de
A quantidade de álcool nas bebidas comerciais
bebida (40 a 50 ml para licores e destilados, 130 ml
é geralmente indicada em graus Gay-Lussac (em ho­
para vinhos e 300 ml para cerveja), multiplicadas
menagem ao físico e químico francês Louis Joseph
Gay-Lussac), que denotam o volume percentual de pela densidade do álcool, que é de 0,7893 g/ml.

etanol na bebida. O quadro abaixo dáumaideia da graduação alcoó­


Para se avaliar a quantidade de álcool ingerida, lica de diferentes bebidas, tanto em graus Gay-Lussac
entretanto, não basta saber a concentração de eta­ (GL) como em percentual, do volume da dose usual e
nol. É preciso considerar também o volume consu­ da massa de etanol contida em cada dose padrão:

Bebida Graus G i % do volume Dose usual (ml) Eianol (g)

Absinto 53 a ó8 53 a 68 40 a 50 17 a 27
Aguardente de cana 30 a 50 30 a 50 40 a 50 9 a 20
Aquavit 42 a 45 42 a 45 40 a 50 13a 18
Bagaceira, groppa ou graspa 35 a 54 35 a 54 40 a 50 11 a 21
Brandy ou conhaque fino 36 a 54 36 a 54 40 a 50 11 a 21
Campari 28,5 28,5 40 a 50 9 a 11
Medicina Legai ii

Carpano 16 16 40 a 50 5a 6
Cerveja 3a 6 3a 6 300 7a 14
Cinzano 16 16 40 a 50 5a 6
Conhaque 36 a 54 36 a 54 40 a 50 11 a 21
Creme de cassts 16 16 40 a 50 5a 6
Drambuie 40 40 40 a 50 13a 16
Gin 35 a 50 35 a 50 40 a 50 11 a 20
Licores diversos 24 a 60 24 a 60 40 a 50 8 a 24
Marasquíno 30 30 40 a 50 9 a 12
Martini 16 16 40 a 50 5a 6
Pisco 38 a 54 38 a 54 40 a 50 12 o 21
Rum 38 a 40 38 a 40 40 a 50 12a 16
Steinhãger 38 38 40 a 50 12a 15
Tequila 35 a 40 35 a 40 40 a 50 11 a 16
Vinho do Porto 19 a 22 19 a 22 40 a 50 6a 9
Vinho licoroso 14a 18 14a 18 40 a 130 4 a 18
Vinhos em geral 7 a 14 7 a 14 130 7 a 14
Vodka 35 a 90 35 a 90 40 a 50 11 a 36
Whisky 40 a 60 40 a 60 40 a 50 13 a 24

Levando em consideração a equação de Wid- (26 a 48 g de álcool), terá, ao final de 2 horas, uma
tnark e conhecendo a quantidade de álcool ingeri­ alcoolemia esperada (Ce) de aproximadamente
do, podemos estimar a concentração sanguínea em 0,2 g/l (para uma ingestão de 26 g de álcool) a 0,6 g/l
um dado momento. (para uma ingestão de 48 g de álcool).
Assim, um homem de 70 kg, com 1,75 m de
altura (r = 0,78), que ingerir duas doses de whisky

= r X X + X X
^(9) PfKg} EÍC eis, ^^g/l/h) V
26 = 0,78 X 70 X [(Ce + 0,15 X 2) X 0,95]

48 = 0,78 X 70 X [{Ce + 0,15 X 2) X 0,95]

5A Os novos Sfmiites do Código CTB

de Trânsito Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou


de qualquer outra substância psicoativa que de­
A Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008, bus­ termine dependência (Redação dada pela Lei n.
cando coibir de modo mais eficiente a embriaguez ao 11.705, de 19 de junho de 2008):
volante, apontada como uma das principais causas Infração — gravíssima (Redação dada pela Lei n.
dos acidentes em trânsito, alterou o Código de Trân­ 11.705, de 19 de junho de 2008);
sito Brasileiro (Lei n. 9.294, de 15 de julho de 1996). Penalidade— multa (cinco vezes) e suspensão do
Pela nova sistemática, qualquer concentração de direito de dirigir por 12 (doze) meses (Redação
álcool por litro de sangue sujeita o condutor às pe­ dada pela Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008);
nalidades administrativas previstas no art. 165 do Medida administrativa — retenção do veículo até a
Código de Trânsito: apresentação de condutor habilitado e recolhimento
CursoSConcurso

do documento de habilitação (Redação dada pela Lei camentos ou alimentos, ou a referência a


n. 11.705, de 19 de junho de 2008). doenças crônicas ou situações clínicas, que
possam interferir no exame, uma vez que
Art. 276. Qualquer concentração de álcool por todos os casõs estão contemplados nesta
litro de sangue sujeita o condutor às penalidades margem de tolerância”.
previstas no art. 165 deste Código (Redação dada
pela Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008). O crime de embriaguez ao volante também foi
modificado.
Não obstante a infração administrativa ficar
caracterizada, segundo a letra da lei, pela presen­ CTB
ça de qualquer concentração de álcool no sangue, o Redação anterior:
Decreto n. 6.488, de 19 de junho de 2008, que re­
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pú­
gulamentou os arts. 276 e 306 do CTB, estabeleceu
blica, sob a influência de álcool ou substância de
como margem de tolerância provisória, até regu­ efeitos análogos, expondo a dano potencial a in-
lamentação pelo CONTRAN, a alcoolemia de dois columidade de outrem:
decigramas por litro de sangue (0,2g/l de sangue) Penas: detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, mul­
ou um décimo de miligrama por litro de ar expelido ta e suspensão ou proibição de se obter a permissão
pelos pulmões (0,1 mg/l de ar), no caso de a análise ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
ser feita por intermédio de um etilômetro.
Posteriormente, a Nota Técnica n. 15, de 10 de Nova redação:

julho de 2008, editada pelo Ministério da Saúde e Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pú­

ainda não regulamentada pelo CONTRAN, ratifi­ blica, estando com concentração de álcool por litro

cou os valores do Decreto n. 6.488, de 19 de junho de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas,
ou sob a influência de qualquer outra substância
de 2008, especificando que “a margem de tolerância
psicoativa que determine dependência: (Redação
a ser estabelecida para todos os casos deverá ser de
dada pela Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008).
0,2 g/l — dois decigramas por litro de sangue —
Penas: detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
com sua equivalência para a concentração de álcool
multa e suspensão ou proibição de se obter a permis­
por litro de ar expelido pelos pulmões, aferido pelo
são ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
etilômetro”, com base nos seguintes argumentos:
Parágrafo único. O Poder Executivo federal esti­
“o consumo de pequenas quantidades de
pulará a equivalência entre distintos testes de al­
álcool, até 1 (uma) dose-padrão de bebida
destilada ou fermentada, poderá ser detec­ coolemia, para efeito de caracterização do crime

tado pelo exame até cerca de duas horas tipificado neste artigo. (Parágrafo único acrescido
após a ingestão, garantindo a eficácia da pela Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008).
medida de controle;
doses maiores que 1 (uma) dose-padrão Como se observa, o crime que era de perigo con­
serão identificadas com segurança, não ha­ creto, reclamando a demonstração do dano potencial
vendo risco de falso-negativo no exame; à incolumidade de terceiros, passou a ser de perigo
o índice proposto exclui das sanções previstas abstrato, sendo suficiente para a sua caracterização a
na lei as situações em que o uso de medica­ demonstração de uma alcoolemia igual ou superiora 6
mentos e de anti-sépticos bucais, cuja com­
decigramas por litro de sangue (0,6g/l), valor que pas­
posição tenha algum nível de etanol, possa,
sou a integrar o tipo penal como elemento objetivo.
eventualmente, ser detectado no exame;
bombons ou chocolate recheados com be­
bida alcoólica (licor) ingeridos, em quanti­ 5.5 O etilômetro (bofômefro)
dades usuais, imediatamente antes do teste
do etilômetro, não serão detectados; e O hálito característico das pessoas que ingeri­
a adoção do índice proposto torna desne­ ram bebidas alcoólicas há muito tem sido utilizado
cessária a elaboração de elenco de medi­ como indício de um possível estado de embriaguez.
Medicina Legal li

Etilômetros ou “bafômetros” são instrumentos, 5.5. L Â Resolução n. 206/06


portáteis ou não, destinados a medir a concentra­ do CONTRÂN
ção de etanol pela análise de ar pulmonar profundo,
utilizáveis para fins probatórios. A Resolução n. 206, de 20 de outubro de 2006,
do CONTRAN, estabelece os procedimentos e os
Existem várias tecnologias disponíveis para
detecção do teor alcoólico a partir do ar expirado: limites que permitem a afirmação de que o condu­

célula eletroquímica (células de combustível), absor­ tor de um veículo estava sob influência de álcool ou
ção de radiação infravermelha, cromatografia, senso­ substâncias de efeitos análogos:
res cerâmicos ( Taguchi gas sensors) e outros métodos
Resolução CONTRAN n. 206/06
que variam em função das necessidades de precisão
e exatidão e das condições em que os testes serão rea­ Art. 1- A confirmação de que o condutor se en­

lizados, mas cuja análise foge ao escopo deste traba­ contra dirigindo sob a influência de álcool ou de

lho. Os mais comuns são os dois primeiros. qualquer substância entorpecente ou que deter­
mine dependência física ou psíquica, se dará por,
Qualquer que seja a tecnologia, os etilômetros
são providos de um bocal descartável no qual a pes­ pelo menos, um dos seguintes procedimentos:

soa examinada sopra até o esvaziamento dos pul­ I — teste de alcoolemia com a concentração de
mões. Os aparelhos são ligados a uma impressora álcool igual ou superior a seis decigramos de ál­
que fornece o horário e o resultado do exame. cool por litro de sangue;

É sabido que as concentrações de álcool no san­ Ií — teste em aparelho de ar alveolar pulmonar


gue e no ar alveolar expirado apresentam um alto (etilômetro) que resulte na concentração de álcool
grau de correlação e seguem um padrão de elimina­ igual ou superior a 0,3 mg por litro de ar expelido
ção paralelo com o decorrer do tempo. Estudos de­ dos pulmões;
monstram que o fator de equivalência entre a massa III— exame clínico cora laudo conclusivo e firma­
de etanol diluído na corrente sanguínea e a conti­ do pelo médico examinador da Polícia Judiciária;
da no ar exalado é de aproximadamente 2,000:1 a
IV — exames realizados por laboratórios espe­
37 °C (temperatura corpórea). Isso significa que a
cializados, indicados pelo órgão ou entidade de
quantidade de etanol determinada em 2.000 ml (2
trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em
litros) de ar alveolar exalado corresponde à de eta­
caso de uso de substância entorpecente, tóxica ou
nol contida em 1 ml de sangue total.
de efeitos análogos.
Baseado nessa correlação, o Decreto n. 6.488, de
19 de junho de 2008, estabeleceu que uma alcoole- Embora ainda em vigor, entendemos que a Re­
mia de 0,6g/l de sangue eqüivale a uma concentração solução n. 206/06 foi parcialmente revogada pela
de 0,3mg/l de ar alveolar pulmonar expirado, para Lei n. 11.690, de 9 de junho de 2008, no que toca
fins de caracterização do crime do art. 306 do CTB. aos limites de alcoolemia caracterizadores das infra­
ções, administrativa e penal, previstas no CTB.
Decreto n. 6.488/08
Art. 2^ Para os fins criminais de que trata o art.
306 da Lei n. 9.503, de 1997 — Código de Trân­ 5.5.2. Presunção de culpa
sito Brasileiro, a equivalência entre os distintos
A Lei n. 11.275, de 7 de fevereiro de 2006, alte­
testes de alcoolemia é a seguinte:
rou a redação do art. 277 do Código de Trânsito
I — exame de sangue: concentração igual ou
Brasileiro para admitir, no caso de recusa do mo­
superior a seis decigramas de álcool por litro de
sangue; ou torista em se submeter à perícia ou ao teste do “ba-

II — teste em aparelho de ar alveolar pulmonar


fômetro” (etilômetro), que o estado de embriaguez,
(etilômetro): concentração de álcool igual ou su­ caracterizador da infração administrativa do art. 165,
perior a três décimos de miligrama por litro de ar possa ser comprovado mediante a obtenção de outras
expelido dos pulmões. provas em direito admitidas (§ 2^).
CursoSConcurso

CTB O Anexo, a que se refere 0 caput ào dispositivo


Art. 277. Todo condutor de veiculo automotor, acima transcrito, traz 0 seguinte questionário:
envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
Resolução CONTRAN n. 206/06
de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir
sob a influência de álcool será submetido a testes I. Quanto ao condutor:

de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro a. Nome


exame que, por meios técnicos ou científicos, em b. Número do Prontuário da CNH ou do
aparelhos homologados pelo CONTRAN, permi­ documento de identificação;
tam certificar seu estado. c. Endereço, sempre que possível.
§ Ia Medida correspondente aplica-se no caso de II. Quanto ao veículo:
suspeita de uso de substância entorpecente, tóxi­ a. Placa/UP;
ca ou de efeitos análogos. b. Marca.
§ 2®No caso de recusa do condutor à realização III. Quanto ao fato:
dos testes, exames e da perícia previstos no caput
a. Data;
deste artigo, a infração poderá ser caracterizada
b. Hora;
mediante a obtenção de outras provas em direito
c. Local;
admitidas pelo agente de trânsito acerca dos no­
d. Número do auto de infração.
tórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor,
resultantes do consumo de álcool ou entorpecen­ rV. Relato:

tes, apresentados pelo condutor. a. O condutor:


L Envolveu-se em acidente de trânsito;
Regulamentando o dispositivo, a Resolução n. 206, ii. Declara ter ingerido bebida alcoólica;
de 20 de outubro de 2006, do CONTRAN, em seu
Em caso positivo, quando:
a r t 2% previu que:
iii. Declara ter feito uso de substância tóxi­
ca, entorpecente ou de efeito análogo.
Resolução CONTRAN n. 206/06
Em caso positivo, quando:
Art. No caso de recusa do condutor à realiza­
iv. Nega ter ingerido bebida alcoólica;
ção dos testes, dos exames e da perícia, previstos
no artigo 12, a infração poderá ser caracterizada v. Nega ter feito uso de substância tóxica,

mediante a obtenção, pelo agente da autoridade entorpecente ou de efeito análogo;

de trânsito, de outras provas em direito admiti­ b. Quanto à aparência, se 0 condutor apre­

das acerca dos notórios sinais resultantes do con­ senta:

sumo de álcool ou de qualquer substância entor­ i. Sonolência;


pecente apresentados pelo condutor, conforme ii. Olhos vermelhos;
Anexo desta Resolução. iií. Vômito;
§ ls Os sinais de que trata 0 caput deste artigo, que iv. Soluços;
levaram 0 agente da Autoridade de Trânsito à cons­ v. Desordem nas vestes;
tatação do estado do condutor e à caracterização da
vi. Odor de álcool no hálito.
infração prevista no artigo 165 da Lei n. 9.503/97,
c. Quanto à atitude, se o condutor apresenta:
deverão ser por ele descritos na ocorrência ou em
i. Agressividade;
termo específico que contenham as informações
ii. Arrogância;
mínimas indicadas no Anexo desta Resolução.
iii. Exaltação;
§ 2s O documento citado no parágrafo ls deste ar­
iv. Ironia;
tigo deverá ser preenchido e firmado pelo agente
da Autoridade de Trânsito, que confirmará a recu­ v. Falante;

sa do condutor em se submeter aos exames previs­ vi. Dispersão.


tos pelo artigo 277 da Lei n. 9.503/97. d. Quanto à orientação, se 0 condutor:
Medicina Legai II

i. sabe onde está; e razoável que a atual, até porque o policial ou agen­
ii. sabe a data e a hora. te da autoridade de trânsito não pode ser mais que
e. Quanto à memória, se o condutor: mera testemunha e nunca se subsumir na figura de

i. sabe seu endereço; perito, especialmente em matéria de natureza médi­


ca, ainda que para caracterização de infração mera­
ii, lembra dos atos cometidos;
mente administrativa.
f. Quanto à capacidade motora e verbal, se
o condutor apresenta:

i. Dificuldade no equilíbrio; 5.6. Alcoolismo agudo —


ii. Fala alterada;
embriaguez normal
' V. Afirmação expressa de que: O alcoolismo agudo, ou embriaguez alcoólica,
De acordo com as características acima descritas, pode ser normal ou patológico.
constatei que o condutor (nome do condutor) Na embriaguez normal, comum, o usuário desen­
do veículo de placa (placa do veículo), (está/não volve os sintomas em três fases distintas:
está) sob a influência de álcool, substância tóxica, 1) Fase da excitação ou do macaco — O in­
entorpecente ou de efeitos análogos e se recusou divíduo mostra-se inicialmente desinibi­
a submeter-se aos testes» exames ou perícia que do e eufórico, com vivacidade mental e
permitiriam certificar o seu estado. motora.
VI. Dados do Policial ou do Agente da Autorida­ 2) Fase da confusão ou do leão — A intoxi­
de de Trânsito: cação progride e surgem comportamentos
antissociais, como irritação e agressivida­
a. Nome;
de, Os pensamentos tornam-se confusos e
b. Matrícula; comumente refletem quadro depressivo,
c. Assinatura. 3) Fase siderativa, comatosa ou do porco — O
ébrio, finalmente, não consegue mais man­
Note-se que antes da alteração do art. 277 do ter-se em pé e cai em sono profundo, que,
Código de Trânsito Brasileiro, o caput do disposi­ na dependência da quantidade de álcool
tivo previa: “Todo condutor de veículo automotor, ingerida, pode acarretar coma e morte.
envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo
de fiscalização de trânsito, sob suspeita de haver ex­ Há certa discrepância entre os diversos auto­
cedido os limites (de alcoolemia) previstos no artigo res quanto à alcoolemia necessária para determinar
anterior (art. 276), será submetido a testes de alcoo­ cada fase, até porque existem grandes variações in­
lemia, exames clínicos, perícia, ou outro exame que dividuais. O quadro e o gráfico a seguir dão uma
por meios técnicos ou científicos, em aparelhos ho­ noção das dosagens em cada fase (apud Simonin,
mologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu 1962, p. 586 e 587, corrigido para g/l e para o equi­
estado”. Redação, convenhamos, bem mais técnica valente no ar alveolar):

Concentração
Fase
' ml/litro de sangue g/lítro de sangue mg/!itro de ar alveolar

Sem intoxicação aparente 0,5 a 1,5 0,39 a 1,18 0,19 a 0,59

Da excitação ou do m acaco i 1,0 a 2,0 0,79 a 1,58 0,39 a 0,79

Da confusão ou do íeão { 2,0 a 4,0 1,58 a 3,16 0,79 a 1,58

Siderativa, comatosa ou do porco 4,0 a 5,0 3,16 a 3,95 1,58 a 1,97

Dose mortal 4,0 a 6,0 '3,16 a 4,74 1,58 a 2,37


CursoSConcurso

Outra maneira de dosar a alcoolemia é através quatro tipos, conforme o quadro abaixo (in Précis
da Tabela Internacional de Laâd e Gibson, que mede âe mêdecine légale, 1917, pág. 700):
a concentração de álcool no sangue em percentuais
(apud Vargas, 1990, p. 166): Agressiva O alcoólatra apresenta grande
ou violenta agressividade com pequenas doses
da substância, podendo, inclusive,
12 Grau de 0,005 a 0,014% de álcoo! no sangue praticar crimes.

22 Grau de 0,015 a 0,049% de álcool no sangue Excitomofora Inquietação e fúria destrutiva, com
acessos de raiva e destruição.
32 Grau de 0,050 a 0,149% de álcool no sangue Convulsiva Além dos impulsos destruidores,
42 Grau de 0,150 a 0,299% de álcool no sangue seguem-se episódios convulsivos,
epileptiformes.
52 Grau de 0,300 a 0399% de álcool no sangue
Deürante Delírios com ideias de autoacusação
62 Grau de 0,400 a 0,600% de álcool no sangue e tendência ao suicídio.

5.7. Alcoolismo agudo — 5 A Alcoolismo crônico


embriaguez patológica Enquanto o alcoolismo agudo é geralmente epi­
sódico, o alcoolismo crônico é uma deformação per­
A embriaguez patológica, segundo Delton Croce
sistente do psiquismo, similar a uma doença mental,
(1998, p. 97), é a que se manifesta em descendentes
consistindo na intoxicação progressiva do organis­
de alcoólatras, pessoas predispostas e com persona­ mo pelo uso habitual do álcool.
lidades psicopáticas.
Para que se instale, é necessário o consumo con­
Embora ingerindo pequenas quantidades, essas tínuo e regular de bebidas alcoólicas por tempo bas­
pessoas apresentam respostas incomuns aos efeitos tante prolongado. Identificam-se quatro períodos
do álcool que, segundo Ch. Vibert> podem ser de (apud Zacharias, 1991, p. 29):
Medicina Legai il

Período instabilidade emocional, tensão e No delírio alcoólico superagudo, além da mesma


ocuito angústia que somente cessam com o sintomatologia delirante, instala-se um completo
consumo do áicool. A ingestão é estado de desagregação mental, caracterizado pela
geraimente às escondidas e o indivíduo
não mostra sintomas de embriaguez. total insensibilidade ao meio ambiente e perda da

Período A ação nociva do álcooi já se faz sentir capacidade de julgamento e raciocínio.


prodrômico em pequenos lapsos de memória
(amnésia lacunar). A necessidade da
bebida torna-se evidente. Os amigos 5.9.2. Depressão alcoólica aguda
e fqmiliares com eçam a manifestar
preocupação. A intoxicação prolongada pelo álcool conduz o

Período instaia-se a dependência. 0 indivíduo alcoólatra à perda da autoestima com conseqüente


básico não consegue parar de beber e quase depressão e tendência ao suicídio.
sempre se embriaga. Abandona o
emprego e a família, torna-se irritadiço
e agressivo, descuida da higiene 5.9.3. Alucinose auditiva aguda
pessoal e da alimentação. Certo grau
de impotência está presente. É uma derivação do delirium tremens em que
Período A ingestão de álcool inicia-se já pela predominam mais alucinações auditivas que visuais,
crônico manhã. Nesse período é que vamos O alcoólatra pensa ouvir vozes de comando e repro­
encontrar os sintomas mais graves da
intoxicação alcoólica, com perda do vação que podem tornar-se crônicas e até conduzir à
amor próprio e da dignidade pessoai. esquizofrenia. A tendência ao suicídio está presente.
Crises de agressividade podem compelir
o alcoólatra à prática de crimes. Estão
presentes as psicoses alcoólicas {ver 5.9.4. Paranóia alcoólica •— delírio
itens 5.9 e 5.10). de ciúmes
Descritamàaímentepor Kmepelin, apsicose alcoó­
5.9. Psicoses alcoólicas com lica traduz-se por ideias recorrentes de insegurança
sintomas psiquiátricos no relacionamento amoroso e familiar. O alcoólatra
desenvolve um sentimento doentio e não fundamen­
5.9.1. Delírio alcoólico
tado de desconfiança em relação ao companheiro
O delírio alcoólico pode ser subagudo, agudo (.delírio de ciúmes), a quem passa a perseguir, vigiar e
ou superagudo. acusar de traição indiscriminadamente.

No delírio alcoólico subagudo, também conheci- O descuido com a higiene pessoal, uma impotên­
do como encefalose alcoólica subaguda (apud Vargas, cia moderada e a diminuição da libido podem acen­
1990, p. 242), o alcoólatra apresenta sinais de irrita­ tuar o quadro, na medida em que o parceiro passa a
ção e insônia, agitação, sudorese intensa e delírios desenvolver certa repulsa aos contatos sexuais, fazendo

que se traduzem por comportamentos e falas com com que a desconfiança do alcoólatra aumente.

seres imaginários. Não raro, em razão das violentas crises que pode
despertar, o viciado pode ser levado ao cometimento
São freqüentes os relatos de visões de animais
de crimes.
assustadores (zoopsias)ycomo cobras ou aranhas. Os
ataques costumam ocorrer no final da tarde para a
noite e acometem, preferencialmente, os alcoólatras 5.9.5. Dipsomania
com idade superior a 40 anos.
Embora, no passado, tenha sido descrita com
No delírio alcoólico agudo ou delirium tremens, o certa frequência na literatura médica, a dipsomania
viciado apresenta sintomas muito semelhantes aos do é atualmente um quadro raro que se caracteriza por
delírio subagudo, apenas mais acentuados. A qualidade crises em que o alcoólatra sente uma necessidade
e a quantidade das alucinações aumentam significati­ incontrolável de consumir bebidas alcoólicas em
vamente, sendo comum a procura pelo suicídio. grande quantidade.
CursoSConcurso

Interessante é o fato de o dipsômano permane­ Ocorre em uma pequena parcela dos alcoóla­
cer absolutamente abstêmio entre as crises, que são tras crônicos e provavelmente está associada à ca­
cíclicas, de duração bastante variável e geralmente rência de vitaminas do complexo B.
precedidas de sintomas depressivos, como tristeza Clinicamente inicia-se com vômitos, falta de coor­
profunda, insônia ou inapetência. denação motora (ataxia), insônia e alucinações (si­
Quando não encontra a bebida, o dipsômano milares às do delirium tremens). A deterioração mental
chega a ingerir álcool puro ou mesmo gasolina. agrava-se rapidamente, podendo chegar à inconsciên­
cia (estupor) e morte em curto período de tempo.

5.10. Psicoses alcoólicas


com sintomas psiquiátricos 5.10.3. Encefalopatia porfo-cava
e neurológicos É uma síndrome que aparece no alcoólatra por­
tador de cirrose hepática caracterizada por transtor­
5.10.1. Ps/cose polineurítica
nos de consciência em níveis variados, em decor­
de Korsakoff
rência de alterações circulatórias relacionadas com
Também chamada de sínârome de Korsakoff, a o sistema porta (sistema de circulação do fígado),
psicose polineurítica de Korsakoff costuma aparecer que levam a um aumento da amônia no sangue.
nos estágios mais avançados do alcoolismo crôni­ Os sintomas neurológicos englobam perturba­
co, embora seja observada também em intoxicações ções da consciência, do humor, tremores muscula­
por arsênico e monóxido de carbono. res iftapping), coma hepático e morte (apud Vargas,
Manifesta-se com mais frequência entre as 1990, p. 249).
mulheres e após os 50 anos de idade, podendo sur­
gir como conseqüência de uma crise de delirium 5.10.4. Síndrome de Marchiafava
tremens.
Quadro raro que acomete alcoólatras crôni­
Clinicamente, caracteriza-se por transtornos de
cos, especialmente viciados em vinho tinto italiano
memória, particularmente a amnésia de fixação, que
(acredita-se que em razão de impurezas metálicas),
faz com que o doente esqueça os fatos mais recentes
caracterizado pela necrose de áreas específicas do
de sua vida. Desorientação no tempo e no espaço,
cérebro (corpo caloso e comissura anterior).
criação de relatos imaginários (fabulação) e falsos
Os sintomas compreendem um quadro psicó­
reconhecimentos são também sintomas comuns.
tico agudo consistente em incoordenação motora
Fisicamente a síndrome manifesta-se por pa­
(ataxia), desorientação e confusão, que evoluem para
ralisias e paresias (perda parcial da mobilidade), apatia completa, hemiplegia (paralisia da metade do
acompanhadas de atrofias e dores musculares que corpo), coma e morte.
atingem preferencialmente os membros inferiores,
dificultando a movimentação do doente.
5.10.5. Epilepsia alcoólica
O prognóstico é reservado, pois a evolução
conduz quase sempre à demência alcoólica. A recu­ Cerca de 15% dos alcoólatras crônicos chegam a
peração, quando ocorre, é bastante lenta, podendo apresentar ataques epileptiformes, crises convulsivas
os sintomas perdurar por vários anos. cuja origem é atribuída ao uso imoderado do álcool.
Atualmente questiona-se a relação do álcool
com distúrbios epileptiformes, acreditando-se que,
5.10.2. Encefalopatia de Wemicke
na maioria das vezes, ele possa funcionar apenas
A maior parte dos autores não reconhece a en­ como “disparador” de uma condição preexistente.
cefalopatia de Wemicke como uma entidade autô­ Tanto isso é verdadeiro que, cessado o alcoolis­
noma, incluindo os sintomas na própria síndrome mo, desaparecem as crises convulsivas sem necessi­
de Korsakoff. dade de medicação própria.
Medicina Legai II

5.10.6. Demência alcoólica a) usuário ou experimentador ocasional (art.


16 da Lei n. 6.368/76);
0 termo é normalmente utilizado para descre­ b) usuário dependente (art. 19 da Lei n.
ver as fases finais da síndrome de Korsakoff. Consiste 6.368/76);
em uma grande deterioração da memória e da capa­ c) traficante (art. 12 da Lei n. 6.368/76); e
cidade intelectual, levando a progressiva e irreversí­ d) traficante dependente (arts. 12 e 19 da Lei
vel decadência moral e física. n. 6.368/76).

5.11. Exame de avaliação de A Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, trou­

dependência de drogas xe algumas alterações importantes. Primeiro, porque


fez nítida separação entre o usuário e o traficante, de­
A Lei n. 6.368, de 21 de outubro de 1976 (Lei de pendentes ou não, colocando-os, inclusive, em títulos
Tóxicos), identificava quatro situações possíveis em diversos, e, em segundo lugar, porque multiplicou as
relação à dependência (Vargas, 1990, p. 190): figuras penais:

usuário (ocasional ou não) — art. 28

traficante e assemelhados — art. 33 e §§


maquinário destinado à fabricação — art. 34
associação para o fim de tráfico — art. 35
Lei n. 11.343/06 financiamento ou custeio ao tráfico — art. 36
informante eventual do tráfico — art. 37 dependentes ou não
prescrição ou ministração culposa de droga — art. 38
condução de embarcação ou aeronave
sob o efeito de droga — art. 39

O exame de avaliação de dependência de dro­ dependente de substância psicotrópica, não significa


gas, assim denominado pelo art. 56, § 2% da Lei n. seja ele inimputável” (JTAcrimSP, 67/253). É necessá-
11.343/06, objetiva inicialmente distinguir aquele rio, em um segundo momento, verificar o grau dessa
que é dependente de droga (seja usuário, trafican­ dependência para poder avaliar a imputabilidade do
te ou assemelhado) e, portanto, não tem possibili­ agente de acordo com o que dispõem os arts. 45 a 47
dade, sem ajuda especializada, de furtar-se ao uso da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006:
do fármaco, daquele que consome eventualmente
(usuário ocasional) ou aufere vantagem econômica Lei n. 11.343/06
no comércio irregular dos entorpecentes (traficante Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão
ou assemelhado) sem deles se utilizar. da dependência, ou sob o efeito, proveniente de
caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao
Lei n. 11.343/06
tempo da ação ou da omissão, qualquer que te­
Art. 56....
nha sido a infração penal praticada, inteiramente
§ 2^ A audiência a que se refere o caput deste
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
artigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias
determinar-se de acordo com esse entendimento.
seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se
determinada a realização de avaliação para ates­ Parágrafo único. Quando absolver o agente, reco­

tar dependência de drogas, quando se realizará em nhecendo, por força pericial, que este apresentava,

90 (noventa) dias (grifo nosso). à época do fato previsto neste artigo, as condições
referidas no caput deste artigo, poderá determi­
Não basta, porém, constatar ou não a dependên­ nar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento
cia física e/ou psíquica, pois “o simples fato de o réu ser para tratamento médico adequado.
CursaSConcurso

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço últimas, as hipóteses de semi-imputabilidade como
a dois terços se, por força das circunstâncias pre­ causa de redução de pena.
vistas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao Note-se que não se trata de semidependência,
tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
figura inexistente na anterior (Lei n. 6.368/76) e na
de entender o caráter ilícito do fato ou de determi­
atual legislação brasileira sobre tóxicos, mas sim de
nar-se de acordo com esse entendimento.
semirresponsabilidade.

Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base O dependente podt, ao tempo da ação ou omis­
em avaliação que ateste a necessidade de encami­ são, ser totalmente capaz, parcialmente capaz ou in­
nhamento do agente para tratamento, realizada capaz de entender a natureza ilícita de sua conduta
por profissional de saúde com competência espe­ e/ou de agir de acordo com essa compreensão.
cífica na forma da lei, determinará que a tal se pro­ Em geral, os dependentes leves são imputâveis, já
ceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
que perfeitamente capazes de entender o caráter ilí­
cito dos atos praticados e de determinar-se de acor­
São oito situações distintas:
do com esse entendimento.
a) o agente, em razão de dependendo, era intei­
ramente incapaz de entender o caráter iJicito A dependênda moderada pode levar à semi-impu-
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06); tabilidade, com conseqüente redução da pena (art. 46
b) o agente, em razão de dependência, era intei- da Lei n. 11.343/06), e a dependência severa, à inim-
ramenteincapaz de determinar-se de acordo putabiliâade (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06), ex­
com o entendimento sobre o caráter ilícito
cluindo a responsabilidade penal.
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06);
c) o agente, sob o efeito de droga, proveniente
leve — imputabilidade — aplica-se a pena
de caso fortuito ou de força maior, era intei-
moderada— semi-imputabilidade — pena
ramenteincapaz de entender o caráter ilícito
Dependência reduzida
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06);
severa — inimputabilidade — isenta
d) o agente, sob o efeito de droga, proveniente
de pena
de casofortuito ou deforça maior, era inteira­
mente incapaz de determinar-se de acordo
com o entendimento sobre o caráter ilícito É importante lembrar que, se o agente não de­
do fato (art. 45, caput, da Lei n. 11.343/06); pendente estiver sob efeito de droga que não seja
e) o agente, em razão de dependência, era par­ proveniente de caso fortuito ou força maior, não po­
cialmente incapaz de entender o caráter ilí­
derá beneficiar-se da isenção ou da redução de pena
cito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06);
(actio libera in causa — art. 28, II, do CP), podendo
f) o agente, em razão de dependência, era
parcialmente incapaz de determinar-se de até ter sua pena agravada (embriaguez preordenada
acordo com o entendimento sobre o caráter — art. 61, II,/, do CP).
ilícito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06); Ainda com relação à inimputabilidade ou semi-
g) o agente, sob o efeito de droga, provenien­ imputabilidade, seguindo a orientação anterior (do Có­
te de caso fortuito ou de força maior, era
digo Penal e da Lei n. 6.368/76), a nova Lei de Drogas
parcialmente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06); também adotou o critério biopsicológko. Dessa for­

h) o agente, sob o efeito de droga, provenien­ ma, para se reconhecer a ausência ou a diminuição da
te de caso fortuito ou de força maior, era capacidade cognitiva do autor, é sempre necessário
parcialmente incapaz de determinar-se de que ocorra a conjunção de três fatores (Mendonça e
acordo com o entendimento sobre o caráter Carvalho, 2007, p. 176):
ilícito do fato (art. 46 da Lei n. 11.343/06).
a) a causa biológica, ou seja, a constatação de
que o agente era dependente ou que agiu
Nas quatro primeiras, temos a inimputabilida- sob efeito de droga em razão de caso for­
de, com a conseqüente isenção de pena. Nas quatro tuito ou força maior;
Medicina Legal II

b) a conseqüência psicológica, consistente em art. 150, § is, do Código de Processo Penal (45 dias),
determinar se, em razão da causa biológica, salvo demonstrada necessidade de dilação.
era o agente inteira ou parcialmente inca­
paz de entender o caráter ilícito do fato ou Lei n. 11.343/06
de determinar-se de acordo com esse en­ Art. 48....
tendimento; e
§ 22 Tratando-se da conduta prevista no art. 28 des­
c) o elemento temporal de a conseqüência
ta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo
psicológica existir no instante da prática
o autor do fato ser imediatamente encaminhado
do ato.
ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se
A perícia, entretanto, na maioria dos casos, só
termo circunstanciado e providenciando-se as re­
poderá afirmar a dependência e o eventual compro­ quisições dos exames e perícias necessários.
metimento psíquico do autor do fato incriminado.
Se estava ele sob o efeito da droga no momento do Ocorre que, para os crimes mais graves, a nova
crime, se podia entender o caráter ilícito do fato ou Lei de Drogas estabeleceu o prazo de 90 dias entre o
de determinar-se segundo tal entendimento naque­ recebimento da denúncia e a audiência de instrução
le exato momento são questões que precisam ser e julgamento nos casos em que foi determinada a
complementadas por outros meios de prova. perícia (art. 56, § 2s).
Não haveria sentido admitir prazo menor para
os casos em que o autor permanece em liberdade.
5.11.1. Procedimento para realização
Sendo assim, entendemos que o novo prazo para
do exam e
realização do exame de avaliação de dependência de
A nova Lei de Drogas não tratou do procedi­ drogas é hoje de 90 dias, em qualquer hipótese, fa­
mento para realização do exame de avaliação de de­ cultado às partes o oferecimento de quesitos.
pendência de drogas, que continua sendo realizado
Lein. 11.343/06
segundo o rito previsto nos arts. 149 a 154 do Códi­
go de Processo Penal para o incidente de insanidade, Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia
e hora para a audiência de instrução e julgamen­
no que couber.
to, ordenará a citação pessoal do acusado, a inti­
mação do Ministério Público, do assistente, se for
5.11.2. Prazo para realização da perícia o caso, e requisitará os laudos periciais.

A Lei n. 11.343/06 prevê procedimentos diver­


sos conforme o tipo de delito praticado, § 2& A audiência a que se refere o caput deste ar­

Para as condutas previstas no art. 28, se cometi­ tigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias se­
guintes ao recebimento da denúncia, salvo se de­
das isoladamente, o rito deve ser o da Lei n. 9.099, de
terminada a realização de avaliação para atestar
26 de setembro de 1995 — Juizados Especiais Crimi­
dependência de drogas, quando se realizará em
nais (art. 48, § l£, da Lei n. 11.343/06). Nos demais
90 (noventa) dias.
casos (crimes tipificados nos arts. 33 a 39), o rito deve
ser o das Seções I e II do Capítulo III (arts. 50 e s.).
Em relação à conduta do art. 28 da Lei n. 11.343/06 5.11.3. Quesitos
(usuário), como não há possibilidade de prisão em Os quesitos mais comuns, baseados no texto de
flagrante (art. 48, § 2^), o exame, se requisitado, lei, continuam sendo os mesmos:
será realizado em sede do Juizado Especial Crimi­ 1) era o examinado, ao tempo da ação ou omis­
nal. Nesse caso, no silêncio da nova legislação, o são, dependente de droga(s)? De qual(is)
prazo, em princípio, seria aquele preconizado pelo droga(s)?
CursoSConcurso

2) em caso de resposta afirmativa ao quesito an­ à época do fato previsto neste artigo, as condições
terior, a dependência era física ou psíquica? referidas no caput deste artigo, poderá determi­
3) era o examinado, ao tempo da ação ou omis­ nar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento
são, em razão da dependência de droga{s), para tratamento médico adequado.
inteiramente incapaz de entender o caráter Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base
ilícito do fato ou de determinar-se segun­
em avaliação que ateste a necessidade de encami­
do esse entendimento?
nhamento do agente para tratamento, realizada
4) era o examinado, ao tempo da ação ou omis­
por profissional de saúde com competência espe­
são, em razão da dependência de droga(s),
cífica na forma da lei, determinará que a tal se pro­
parcialmente capaz de entender o caráter
ceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.
ilícito do fato ou de determinar-se segun­
do esse entendimento?
A grande novidade, entretanto, fica por conta do
5) era o examinado, ao tempo da ação ou
encaminhamento facultativo ao tratamento, mesmo
omissão, em razão de estar sob o efeito de
aos inimputáveis.
droga(s), inteiramente incapaz de enten­
der o caráter ilícito do fato ou de determi- Pela sistemática da revogada Lei n. 6.368/76,
nar-se segundo esse entendimento? uma vez reconhecida a dependência e a inimputabi­
6) era o examinado, ao tempo da ação ou lidade, o juiz era obrigado a determinar o tratamento
omissão, em razão de estar sob o efeito de em regime de internação ou ambulatorial (arts. 10
droga(s), parcialmente capaz de entender e 29). Ao dependente com capacidade diminuída,
o caráter ilícito do fato ou de determinar- o magistrado impunha a pena e dispensava trata­
se segundo esse entendimento?
mento médico em ambulatório interno do sistema
7) necessita o examinado de tratamento? Qual
penitenciário (art, 11).
o indicado?
8) em caso de resposta afirmativa ao quesito Lei n. 6.368/76 (REVOGADA)
anterior, é necessária a internação hospitalar
Art. 29. Quando o juiz absolver o agente, reconhe­
do examinado para tratamento? Por quê?
cendo por força de perícia oficial, que ele, em ra­
zão de dependência, era, ao tempo da ação ou da
5.12. Tratamento médico e medida omissão, inteiramente incapaz de entender o cará­
de segurança ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento, ordenará seja o mesmo
A Lei n. 11.343/06 trouxe algumas inovações submetido a tratamento médico.
importantes relacionadas com o tratamento aplicá­
vel aos inimputáveis e semi-imputáveis, esclarecen­
Art. 10. O tratamento sob regime de internação
do a dúvida que durante anos permeou a jurispru­
hospitalar será obrigatório quando o quadro clí­
dência em relação à interpretação do art. 29 da Lei
nico do dependente ou a natureza de suas mani­
n. 6.368/76, a respeito da possibilidade ou não de festações psicopatológicas assim o exigirem.
tratamento aos semi-imputáveis.
§ la Quando verificada a desnecessidade de inter­
Pela simples leitura do parágrafo único do art. 45 nação, o dependente será submetido a tratamen­
(inimputabilidade) e do art. 47 (semi-imputabilida- to em regime extra-hospitalar, com assistência do
de), verifica-se que tanto ao inimputável quanto ao serviço social competente.
imputável é possível o encaminhamento para trata­
mento médico adequado. Art. 11. Ao dependente que, em razão da prática de
qualquer infração penal, for imposta pena priva­
Lein. 11.343/06
tiva de liberdade ou medida de segurança detentiva
Art. 45.... (inimputabilidade) será dispensado tratamento em ambulatório in­
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reco­ terno do sistema penitenciário onde estiver cum­
nhecendo, por força pericial, que este apresentava, prindo a sanção respectiva.

i 136
Medicina Legal II

5.12.1. Inimputabifidade inafastável conseqüência é a da imposição de medi­


da de proteção social, que é, no caso, o tratamento,
Pela nova sistemática, reconhecendo a inim-
porque, tendo sido praticado crime em razão da de­
putabiliâaãe do agente, o juiz necessariamente de­
pendência, há perigo social que não pode simples­
cretará a absolvição e decidirá sobre a necessidade
mente ser desconsiderado. Entender o contrário se­
ou não de encaminhar o réu a tratamento médico
ria suicídio jurídico, social e moral” (2007, p. 151).
adequado que continua tendo a natureza jurídica
de medida de segurança.
5.12.2. Espécie de tratamento
Sendo o caso de reconhecimento de embria­
a ser aplicado
guez resultante de caso fortuito ou força maior, não
há falar em aplicação de qualquer tratamento, daí a Quanto à espécie de tratamento que deve ser
faculdade conferida ao juiz para analisar e decidir aplicado (internação ou ambulatorial), embora a
sobre o caso concreto. decisão seja do magistrado, deve basear-se nas con­
No caso da inimputabilidade por dependência, clusões do relatório médico, que indicará para cada
o tratamento continua sendo obrigatório. caso a medida mais adequada.
Alguns autores têm entendido que, mesmo que De qualquer forma, a medida não comporta pra­
o magistrado determine o encaminhamento para zo mínimo e será aplicada por tempo indeterminado,
tratamento, este será facultativo e só poderá ser persistindo até que seja constatada a cessação de peri-
implementado com a concordância do agente (ver culosidade por laudo médico (CP, art. 97, § ls).
Mendonça e Carvalho, 2007, p. 179).
Ousamos discordar.
5.12.3. Semi-impufabilidade
Se, por um lado, é bem verdade que o trata­
mento é facultativo no tocante à possibilidade de o Com relação aos semi-imputáveis, a situação é
magistrado, ao reconhecer a inimputabilidade, de­ um pouco diversa, pois a nova Lei de Drogas, se­
cretá-lo ou não, por outro, no caso de ser o trata­ guindo a orientação anterior, previu uma exceção
mento necessário, a regra é a da obrigatoriedade de ao sistema vicariante do Código Penal, segundo o
sua aplicação. qual aos semírresponsáveis pode ser aplicada pena

Note-se que o parágrafo único do a rt 45 diz reduzida ou, por substituição, medida de segurança

que o juiz “poderá determinar, na sentença, o seu (CP, art. 26, parágrafo único, c/c o art. 98).

encaminhamento para tratamento médico adequa­ Já na revogada Lei n. 6.368/76 (art. 11), ao re­
do”. Encaminhar, aqui, tem o sentido de conduzir, conhecer a semirresponsabilidade, o magistrado de­
levar, fazer com que, e não o de simplesmente mos­ via aplicar a pena reduzida, mas decretava, também,
trar um caminho que pode ou não ser seguido. tratamento médico em ambulatório interno do sis­

Entendimento diverso levaria ao absurdo de tema penitenciário.

se permitir que um toxicômano severo, que tenha O mesmo sistema foi adotado pela Lei n, 11.343/06,
cometido vários homicídios em razão da dependên­ porém de forma mais clara, afastando qualquer dú­
cia, possa ser absolvido e escolher se deseja o trata­ vida de interpretação,
mento ou prefere continuar consumindo o fármaco Reconhecendo que o agente, em razão de de­
e matando impunemente. pendência ou sob o efeito de droga, proveniente de
Nesse sentido, o magistério de Greco Filho e caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo
Rassi: “O juiz não poderá determinar o tratamento se da ação ou da omissão, a plena capacidade de en­
se tratar de absolvição em razão de caso fortuito ou tender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
força maior, hipótese em que não há o que se tra­ de acordo com esse entendimento, o juiz aplica­
tar. Se, porém, a absolvição decorre da dependência rá a redução de um a dois terços na pena corres­
que, como já se expôs, é doença mental, a única e pondente (art. 46), Entendendo, porém, que existe
CursaSConcurso

a necessidade de tratamento, poderá, cumulativa­


mente, determinar “que a tal se proceda” (art. 47), V — requisição de tratamento médico, psico­
observado o disposto no art. 26: lógico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou
ambulatorial;
Lei n. 11.343/06
VI — inclusão em programa oficial ou comuni­
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço
tário de auxílio, orientação e tratamento a alcoó­
a dois terços se, por força das circunstâncias pre­
latras e toxicômanos;
vistas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao
tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determi­ QUESTÕES
nar-se de acordo com esse entendimento.
Farmacodependência
Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base
em avaliação que ateste a necessidade de encami­ (DP/SP 04/90) O usuário de uma droga psi-
nhamento do agente para tratamento, realizada coativa, com o decorrer do tempo, normal­
por profissional de saúde com competência espe­ mente passa a necessitar de maiores doses da
cífica na forma da lei, determinará que a tal se pro­ substância em questão para obter o mesmo
ceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei. efeito que antes conseguia com doses mais re­
Art. 2 6 .0 usuário e o dependente de drogas que, duzidas. Isto se deve ao fenômeno:
em razão da prática de infração penal, estiverem
a) da tolerância;
cumprindo pena privativa de liberdade ou sub­
b) da dependência física;
metidos a medida de segurança, têm garantidos
os serviços de atenção à sua saúde, definidos pelo
c) da resistência;
respectivo sistema penitenciário. d) do vício.

5.13. Tratamento médico no ECA


A Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatu­
to da Criança e do Adolescente), não previu trata­
mento médico ou ambulatorial para o dependente
como conseqüência da prática de ato infracional,
mas apenas as medidas protetivas constantes do art. (DP/SP 02/91) O fato de uma pessoa necessi­
101, V e VI, que podem ser aplicadas ao infrator ou tar de doses cada vez maiores de determinada
a qualquer criança ou adolescente em situação de droga psicoativa, para sentir os mesmos efei­
risco (art. 98 do ECA): tos com a mesma intensidade, caracteriza a:
a) dependência;
ECA
b) tolerância;
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao ado­
c) resistência;
lescente são aplicáveis sempre que os direitos reco­
nhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: d) hipersensibilidade.

I — por ação ou omissão da sociedade ou do Es­


tado;
II — por falta, omissão ou abuso dos pais ou res­
ponsável;
III — em razão de sua conduta.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses pre­


vistas no art. 98, a autoridade competente poderá (DP/SP 06/91) Um indivíduo, com o decorrer
determinar, dentre outras, as seguintes medidas: do tempo, necessita de doses cada vez maiores
Medicina Legal II

de álcool etílico para lhe sentir os efeitos ine-


| H (DP/SP 01/95) Diz-se que um indivíduo so­
briantes. Este fenômeno recebe o nome de:
fre vício em relação a uma droga psicoativa
a) tolerância; quando ele:
b) dependência;
a) necessita de doses cada vez maiores para
c) contumácia; sentir os mesmos efeitos;
d) alcoolemia. b) é psicologicamente dependente da droga;
c) é fisicamente dependente da droga;
d) é usuário de mais de um tipo de droga.

(DP/SP 01/93) Famosa cantora brasileira ne­


cessitava de doses cada vez maiores de entor-
pecente, a fim de que fossem obtidos os mes- I Q I (DP/SP 02/88) O hábito é considerado, nos
mos efeitos com a mesma intensidade, Este tóxico-dependentes, como:
quadro, em Medicina Legal, é denominado:
a) resultado de dependência psíquica;
a) resistência; b) resultado de dependência física;
b) repristinação; c) resultado de tolerância;
c) fissura passiva; d) costume de tomar drogas.
d) tolerância.

Embriaguez
■■■■
g y j g (DP/SP 03/92 e DP/SP 07/93) Indivíduo usuá-
H J | (DP/SP 04/93) A embriaguez:
rio habitual de determinada droga psicoativa,
a) é produzida exclusivamente pelo álcool
que ao ser privado desta experimenta trans­
etílico;
tornos de ordem fisiológica, tem:
b) é definida unicamente pela dosagem de ál­
a) tolerância;
cool no sangue;
b) resistência;
c) é caracterizada fundamentalmente pelos
c) dependência; sintomas e sinais clínicos;
d) intoxicação. d) exclui sempre a imputabilidade penal.
CursoSConcurso

(DP/SP 01/95) A embriaguez patológica: (DP/RJ — 2000) A embriaguez pode consti-


a) ocorre em doentes mentais; tuir-se em agravante ou em atenuante penal.
b) se observa quando pequenas doses produ­ Constitui agravante da pena a embriaguez:
zem grandes efeitos; a) voluntária;
c) eqüivale à dipsomania; b) acidental;
d) é sinônimo de alcoolismo crônico. c) culposa;
d) preordenada;
e) patológica.

(DP/SP 01/03) A embriaguez patológica se


caracteriza pela:
a) dependência física ao álcool por uso imo~
derado e freqüente;
Psicolépticos
b) desproporção entre a intensidade da em­
briaguez e a quantidade de álcool ingerida; (DP/SP 03/90) Uma droga psicoléptica:

c) grande tolerância ao álcool por uso habitual; a) é alucinógena;


d) ocorrência de demência por embriaguez b) acelera as funções psíquicas;
crônica. c) deforma a percepção da realidade;
d) provoca diminuição das atividades cerebrais.

(DP/RJ— 2001) O princípio da actio libera in


causa adotado na avaliação da imputabilidade
penal em casos de embriaguez:
(DP/SP 06/91) São drogas psicolépticas:
a) aplica-se apenas aos casos da embriaguez
a) morfina, haxixe e mescalina;
preordenada;
b) diazepínicos e barbitúricos;
b) isenta de responsabilidade as pessoas que
c) anfetaminas e diazepínicos;
cometem crimes em estado de embriaguez;
d) barbitúricos e mescalina.
c) justifica a imputabilidade de quem come­
te delitos sob estado de embriaguez;
d) é a base da isenção de pena na embriaguez
fortuita;
e) não se aplica aos casos de embriaguez
culposa.

(DP/SP 03/91) Drogas que suprimem a sen­


sação de angústia, de ansiedade, produzindo a
de tranqüilidade, são:
a) psicolépticas;
Medicina Legal II

b) psicodislépticas; c) as anfetaminas;
c) estimulantes; d) o LSD e a maconha.
d) psicoanalépticas.

(DP/SP 02/92) Classifica-se como droga psí~


Psicoanalépticos coanaléptica:
a) a maconha;
(DP/SP 04/91) Utilizadas como moderado­
b) o álcool etílico;
res de apetite, drogas psicoativas que supri­
mem a sensação de fome são classificadas c) o LSD;

como: d) a metanfetamina.

a) psicolépticas;
b) psicoanalépticas;
c) psicodislépticas;
d) psicodistônicas.

J j (DP/SP 02/93) Sensação de aumento das ca­


pacidades física e mental, supressão das sen­
sações de fadiga, de sono, de fome e de sede
são efeitos de drogas:
a) psicóticas;
KU (DP/SP 03/88, DP/SP 04/88 e DP/SP 01/94A)
b) psicodislépticas;
Em Toxioologia Forense, classificam-se como
c) psicolépticas;
substâncias psicoanalépticas:
d) psicoanalépticas.
a) o álcool etílico e o cloreto de atila;
b) as anfetaminas;
c) os barbitúricos;
d) o LSD e a cocaína.

(DP/SP 01/03) A substânda química, quando


ingerida, provoca uma certa euforia, aumenta
a autoconfiança, elimina as sensações de fadi­
ga, sono, fome e sede. Deduz-se que ela é uma
18 (DP/SP 04/89) São drogas psicoanalépticas: droga:
a) os diazepínicos; a) psicodinâmíca;
b) o álcool-etílíco e o “lança-perfume”; b) psicoléptica;
Curso6£oncurso

c) psicoanaléptica; b) psicoléptica;
d) psicodisléptica. c) psicoanaléptica;
d) psicodisléptica.

Psicodislépticos
(DP/SP 01/98) As drogas psicodislépticas: (DP/SP 01/93) A partir do cacto conhecido

a) estimulam o sistema nervoso central; como “peyote” obtém-se:

b) inibem o sistema nervoso central; a) mescalina;

c) estimulam ou inibem o sistema nervoso b) haxixe;


central; c) morfina;
d) nem estimulam nem inibem o sistema d) “skunk”
nervoso central.

Ópio, heroína e morfina


B i (DP/SP 01/91 e DP/SP 01/92) Uma substân­ (DP/SP 03/89) Obtém-se a heroína a partir:
cia química que provoca alucinações é classi­
a) da mescalina;
ficada como substância psicoativa:
b) da cocaína;
a) psicoléptica;
c) do ópio;
b) psicoanaléptica;
c) psicodisléptica; d) do peyote.

d) hipnógena.

(DP/SP 03/93 e DP/SP 05/93) Entre as subs­

(DP/SP 01/00) Substância extraída de deter­ tâncias capazes de causar toxicomanias, pode­

minada espécie vegetal, ao ser ingerida, pro­ mos dizer que a morfina, a heroína, a codeína,

porciona visões de divindades, espíritos be­ o iáudano de Sydenhart e o elixir paregórico

néficos e maléficos, em rituais místicos. Tal são derivados:


substância pode ser considerada: a) do ópio;
a) psicomimética; b) do cânhamo;
Medicina Legal II

mmgem
c) da coca;
H U (DP/SP 02/92 e DP/SP 01/94A) Encontra-se
d) dos barbitúricos.
o delta-9-tetrahidrocanabinol:
a) na coca;
b) nopeyote;
c) no ópio;
d) na maconha.

H i l (DP/SP 04/89) A morfina é obtida:


a) da maconha;
b) de cogumelo;
c) da papoula;
d) da coca.
| 2 | (DP/SP 01/93) Em tema de entorpecentes, ao
elemento ativo da “Cannabis sativa L” dá-se o
nome científico de:
a) tetrahidrato de carbono;
b) tetrahidrocativenol;
c) tetrahidrocetiva;
Q j j j (DP/SP 06/91) A partir da papoula pode-se d) tetrahidrocanabinol
obter:
a) amescalina;
b) apsilocibina;
c) a lisergiamida;
d) a morfina.

g g g (DP/SP 01/90 e DP/SP 03/90) Extraindo-se a


seiva das inflorescências de Cannabis sativa
(cânhamo), obtém-se:
a) o ópio;
b) amescalina;
Maconha, haxixe e skunk
P fl c) apsilocibina;
jy U (DP/SP 03/89) O haxixe é extraído:
d) o haxixe.
a) da coca;
b) da maconha;
c) da papoula;
d) do cogumelo.

(DP/SP 01/93) O “skunF é obtido da (do):


a) mistura de cocaína com maconha;
CursoSConcurso

b) cultivo de determinadas espécies de ma- b) a psilocibina;


conha em estufas especiais; c) a mescalina;
c) introdução de ácido lisérgico (LSD) em d) o LSD.
bolas de haxixe;
d) enxerto de mudas de papoula no arbusto
da maconha.

Q Ü Jj (DP/SP 03/93) Ataxia locomotora, midría-


se, alucinações auditivas (visão da música),
visuais (psicodélicas), tremores, sudorese,
Ácido lisérgico — LSD distorção da personalidade, alteração da sen­
sibilidade, excitação e depressão, delírios, ilu­
(DP/SP 01/89 e DP/SP 04/89) O ácido lisérgi-
sões paranoides são sinais característicos das
co é uma droga:
intoxicações por:
a) psicodisléptica;
a) maconha;
b) psicoanaléptica;
b) cocaína;
c) psicoeuléptica;
c) crack;
d) psicoléptica.
d) ácido lisérgico (LSD 25).

(DP/SP 02/90 e DP/SP 04/90) A dietilamida


do ácido lisérgico, mais conhecida por LSD, é: Álcool etílico
a) extraída do ópio; (DP/SP 02/94) É classiíicado(a) como droga
b) extraída do cogumelo; psicodisléptica:

c) extraída do cacto; a) o álcool etílico;


d) sintetizada quimicamente em laboratório. b) a cocaína;
c) oLSD;
d) a maconha.

(DP/SP 04/92 e DP/SP 07/93) A partir de uma


substância produzida pelo fungo conhecido ____
como “esporão do centeio” foi sintetizada(o):Q Q j (DP/SP 01/88, DP/SP 03/88 e DP/SP 04/92)
a) a heroína; O álcool etílico, substância psicoativa, social
Medicina Legal II

e legalmente tolerada, consumida largamente Delirium tremens


em quase todos os países do mundo:
(DP/SP 04/91) Delirium tremens é um qua­
a) não provoca no usuário dependência; dro clínico observado nas intoxicações por:
b) não provoca tolerância; a) opiáceos;
c) provoca tolerância, mas não dependência; b) álcool etílico;
d) provoca tolerância e dependência. c) LSD;
d) haxixe.

n n n p ffij
(DP/SP 07/93) O segundo período da into­ y Q (DP/SP 02/92) “Delirium tremens” é um qua­
xicação por álcool etílico, caracterizada pelas dro patológico próprio:
perturbações psicossensoriais profundas, de­
a) da psicose endógena;
nomina-se fase:
b) da esquizofrenia;
a) comatosa;
c) dos estados febris agudos;
b) eufórica;
d) do alcoolismo crônico.
c) agitada;
d) depressiva.

Q J (DP/SP 04/93) Zoopsias, com visão de ani­


mais geralmente minúsculos, são manifesta­
ções que se verificam em alcoólatras, habitual­
(DP/SP 02/89) A ingestão freqüente e imode- mente durante a(o):
rada de álcool etílico: a) alucinose alcoólica;
a) pode levar à dependência, mas não à tole­ b) embriaguez aguda;
rância; c) dipsomania;
b) pode levar à tolerância, mas não à depen­ d) “delirium tremens
dência;
c) pode levar à dependência e à tolerância;
d) não leva à dependência e nem à tolerância.

J jjJ J J (DP/SP 01/94A) Ao atingir a fase de “deli­


rium tremens” o alcoólatra sofre alucinações
típicas, nas quais ele:
CtirsoS£oncurso

a) vê animais, em geral diminutos;


(DP/SP 06/93) A alucinação auditiva ocorre,
b) ouve vozes imaginárias e ameaçadoras;
habitualmente:
c) vê figuras monstruosas;
a) no “ãelirium tremens”;
d) vê as pessoas e os objetos diminuídos.
b) na alucinose alcoólica;
c) na embriaguez aguda fortuita;
d) na Síndrome de Korsakoff.

j
!
Capítulo

Psicopatologia Forense

policial, mas apenas pelo juiz, de ofício ou a reque­


1. PSIQUIATRIAEPSICOLOGIA
rimento das partes (Croce, 1998, p. 528).
FORENSE
Sob o título de psicopatologia forense costu­
2. NORMALIDADE E
mam-se englobar dois grandes ramos da medicina
ANORMALIDADE
legal, a psicologia forense e a psiquiatria forense.
A primeira, psicologia forense, estuda a perso­ Porot definia personalidade como “a síntese de

nalidade normal e os fatores que nela influem, quer todos os elementos que concorrem para a conforma­

sejam de natureza biológica, quer sejam de natureza ção mental de uma pessoa, de modo a comunicar-lhe

mesológica (do meio, ecológica) ou social. fisionomia própria” (Maranhão, 2002, p. 339).

A psiquiatria forense ocupa-se, por sua vez, dos A constituição biopsicológica de um indivíduo é

transtornos anormais da personalidade, as chamadas bastante complexa, nela influenciando inúmeros fa­

“doenças mentais”, os retardos mentais, as demên- tores que oscilam desde a própria conformação física

cias, as esquizofrenias e outros transtornos psicóticos até o conjunto de experiências pessoais vivenciadas.

ou nao. Assim, não se pode dizer que exista uma “per­


sonalidade normal”, não há um limite rígido, uma
psiquiatria forense linha divisória clara entre o que se convencionou
Psicopatologia forense
psicologia forense chamar de normalidade e anormalidade.
O que se procura estabelecer, entretanto, é se o
Alguns autores falam, ainda, em psicologia judi­ indivíduo carrega ou não os sinais patológicos que
ciária como a aplicação da psicologia aos processos são característicos das principais moléstias mentais
civis e criminais. conhecidas, ou seja, o conceito de normalidade vem
O psicopatologista forense pode ser chamado por exclusão. É normal todo indivíduo que não tem
para esclarecer questões relacionadas com a capa­ sinais próprios de nenhuma enfermidade mental
cidade civil e a imputabilidade penal. Ê a única pe­ catalogada e que, por isso, consegue viver em socie­
rícia que não pode ser determinada pela autoridade dade de forma harmônica.
CursoSConcurso

3. CAPACIDADE CIVIL ECRIMINAL Prevê o art. 26 do Código Penal que:

Para que alguém possa ter capacidade penal CP

e civil e, consequentemente, responder pelos seus Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença

atos, é necessário que apresente saúde mental e ma­ mental ou desenvolvimento mental incompleto

turidade psíquica. ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omis­


são, inteiramente incapaz de entender o caráter
penal — imputabilidade ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
Responsabilidade
civil — capaáâade esse entendimento.
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a
A imputabilidade penal implica ter o agente ple­ dois terços, se o agente, em virtude de perturbação
no discernimento dos seus atos ou de determinar-se da saúde mental ou por desenvolvimento mental
de acordo com esse entendimento. A possibilidade de incompleto ou retardado não era inteiramente
responsabilização penal aparece como conseqüência capaz de entender o caráter ilícito do feto ou de
dos atos praticados diante desse entendimento. determinar-se de acordo com esse entendimento.

Da leitura atenta do texto de lei deduz-se que:

inteiramente incapaz doença mental


de discernir o caráter desenvolvimento mental incompleto
ilícito do fato desenvolvimento mental retardado

inimputáveis
inteiramente incapaz doença mental
de determinar-se de acordo desenvolvimento mental incompleto
com o entendimento desenvolvimento mental retardado

Imputabilidade penal

relativamente incapaz perturbação da saúde mental


de discernir o caráter desenvolvimento mental incompleto
ilícito do fato desenvolvimento mental retardado

semi-imputáveis
relativamente incapaz de perturbação da saúde mental
determinar-se de acordo desenvolvimento mental incompleto
com o entendimento desenvolvimento mental retardado

A respeito da imputabilidade penal, ver também I — os menores de dezesseis anos;


item 5.11: Exame de avaliação de dependência de drogas. II — os que, por enfermidade ou deficiência men­
A capacidade civil por outro lado, pode ser de­ tal, não tiverem o necessário discernimento para a
finida como a aptidão para adquirir direitos e con­ prática desses atos;
trair obrigações por conta própria, sem a necessida­ III — os que, mesmo por causa transitória, não
de de representação legal. puderem exprimir sua vontade.

Os arts. 3^ e 4s do Código Civil determinam que:


Art. 4^ São incapazes, relativamente a certos atos,

CC ou à maneira de os exercer:

Art, 3^ São absolutamente incapazes de exercer I — os maiores de dezesseis e menores de dezoito


pessoalmente os atos da vida civil: anos;
Medicina Legal II

II — os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e retardos mentais


os que, por deficiência mental, tenham o discer­ epilepsias
nimento reduzido; Doenças mentais neuroses

III — os excepcionais, sem desenvolvimento psicopatias

mental completo; psicoses {inclui a esquizofrenia)

IV — os pródigos.
Sendo assim, e em se tratando de obra destina­
Parágrafo único. A capacidade dos índios será re­
da a concursos públicos, optamos por apresentar a
gulada por legislação especial.
nomenclatura atual, proposta pela Associação Psi­
Note-se que o novo Código Civil (Lei n. 10.406, quiátrica Americana (DSM— IV), associada, quan­

de 10 de janeiro de 2002) alterou significativamente do possível, à terminologia referida pelos principais

a redação dos arts. 5s e 6^ do Código de 1916. autores, ainda que desatualizada.

Com relação aos absolutamente incapazes, supri­ Apenas para conhecimento, transcrevemos, a
seguir, as classificações dos transtornos mentais, se­
miu as expressões “loucos de todo o gênero”, “surdos-
gundo o CID — 10 e o DSM — IV.
-mudos” e “ausentes, declarados tais por atos do juiz”.
O CID — 10 agrupa os transtornos mentais
No que toca aos relativamente incapazes, redu­
e comportamentais em onze categorias distintas,
ziu a maioridade civil para 18 anos e acrescentou
conforme o esquema a seguir:
“os ébrios habituais, viciados em tóxicos e excep­
transtornos mentais orgânicos, inclusive
cionais” como passíveis de semirresponsabilidade,
os sintomáticos;
transtornos mentais e comportamentais
4. NOTASOBREANOMENCLATURA devido ao uso de substância psicoativa;

ECLASSIFICAÇÃODOS esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e


transtornos delirantes;
TRANSTORNOS MENTAIS transtornos do humor (afetivos);
A questão da denominação e classificação dos transtornos neuróticos, transtornos relaciona­
dos com o stresse transtornos somatoformes;
transtornos mentais torna bastante difícil a elabo­
síndromes comportamentais associadas a
ração de um esquema didático que englobe todas as
disfunções fisiológicas e fatores físicos;
orientações, porque a nomenclatura contemplada
transtornos da personalidade e do com­
pela Organização Mundial de Saúde (CID — 10) di­ portamento do adulto;
verge das classificações da Associação de Psiquiatria retardo mental;
Americana (DSM — III e DSM — IV), sendo que transtornos do desenvolvimento psicológico;
estas também diferem substancialmente entre si. transtornos do comportamento e transtor­
Além disso, como bem observa Heber Soares nos emocionais que aparecem habitualmen­
te durante a infância ou a adolescência;
Vargas (1990, p. 207), "praticamente, quase todos os
transtorno mental não especificado.
livros de Medicina Legal ou de Psiquiatria Forense
ainda se cingem às antigas classificações das doenças
O DSM— IV divide os transtornos mentais em
mentais”, que são diferentes daquelas supracitadas.
dezesseis categorias:
Por outro lado, não houve modificação substan­
transtornos geralmente diagnosticados pela
cial quanto ao conteúdo teórico da maior parte dos primeira vez na infância ou adolescência:
transtornos mentais, cujas entidades clássicas, repre­ — retardo mental;
sentadas pelos retardos mentais, epilepsias, neuroses, — transtornos da aprendizagem;
psicopatias e psicoses, permanecem relativamente es­ — transtornos das habilidades motoras;
táveis na literatura médica específica, embora com — transtornos da comunicação; transtor­
outras denominações. nos invasivos do desenvolvimento;
CursoSConcurso

— transtornos de déficit de atenção e do — transtornos primários do sono;


comportamento diruptivo; — transtornos do sono relacionados a
— transtornos da alimentação da primei­ outro transtorno mental;
ra infância; transtornos do controle dos impulsos não
— transtornos de tique; classificados em outro local;
— transtornos da excreção; ♦ transtornos da personalidade;
— outros transtornos da infância e da outras condições que podem ser foco de
adolescência; atenção clínica:
delirium, demência> transtorno amnéstico — fatores psicológicos que afetam a con­
e outros transtornos cognitivos; dição médica;
transtornos mentais devido a uma condi­ — transtornos dos movimentos induzi­
ção médica geral; dos por medicamentos;
transtornos relacionados a substâncias: — problemas de relacionamento;
— transtornos relacionados ao álcool;
— problemas relacionados ao abuso ou
— transtornos relacionados à anfetamina; negligência;
— transtornos relacionados à cafeína; — condições adicionais que podem ser
— transtornos relacionados à cannabis; um foco de atenção clínica,
— transtornos relacionados à cocaína;
— transtornos relacionados a alucinó­
Há uma tendência atual no sentido de conside­
genos;
rar, além da sintomatologia em si, a quantidade e a
— transtornos relacionados a inalantes;
qualidade desses sintomas para fixação do diagnós­
— transtornos relacionados à nicotina;
tico, Assim, um mesmo conjunto de sintomas pode
— transtornos relacionados a opioides;
caracterizar um transtorno menos ou mais severo,
— transtornos relacionados à fenciclidina;
na dependência do grau de comprometimento do
— transtornos relacionados a sedativos,
psiquismo do paciente.
hipnóticos ou ansioliticos;
— transtornos relacionados a múltiplas
substâncias;
5. LIMITADORES E
— transtornos relacionados a outras subs­
tâncias ou substâncias desconhecidas;
MODIFICADORES DA
esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; CAPACIDADE CIVIL E
transtornos do humor; IMPUTABILIDADE PENAL
— transtornos depressivos;
— transtornos bipolares; Vimos que o indivíduo pode ser considerado

transtornos de ansiedade; normal quando não é portador de qualquer das pa­

transtornos somatoformes; tologias mentais conhecidas e consegue conviver

transtornos factícios; de forma harmônica na sociedade. Com base nesse

transtornos dissociativos; conceito é possível afirmar que será normal e, por­

transtornos sexuais e da identidade de tanto, responsável toda pessoa que não apresentar

gênero: limitadores ou modificadores da capacidade civil ou


— disfunções sexuais; imputabilidade criminal
— parafilias; O quadro a seguir, adaptado de similar propos­
— transtornos da identidade de gênero; to por Delton Croce (1998, p. 530), indica os princi­
transtornos alimentares; pais limitadores e modificadores da responsabilida­
transtornos do sono: de civil e imputabilidade penal:
Medicina Legal li

raça
idade
sexo
biológicos emoção e paixão
agonia
epilepsia
cegueira

dissonias
transtornos do sono
parassonias — sonambulismo

transtornos mistos da linguagem receptivo/expressiva (surdimutismo)


psicopatológicos transtornos da linguagem expressiva — afasia
Fatores limitadores transtornos obsessivo-compulsivos — prodigalidade
ou modificadores
da capacidade civil embriaguez
transtornos relacionados a substâncias
e da imputabilidade penal toxicofilias

estados demenciais
retardos mentais (oligofrenias)
psiquiátricos esquizofrenias e outros transtornos psicóticos

(neuroses)
transtornos diversos
(psicoses)

civilização
mesológicos
psicologia das multidões

legais — reincidência penal

O quadro acima, principalmente no que toca há autores, como Genival França (1998, p. 344), que
aos fatores psicopatológicos e psiquiátricos, é me­ incluem esse conceito apenas para análise.
ramente exemplificativo, pois há um sem-número
A raça em si não pode ser considerada fator
de transtornos mentais que podem levar ao com­
modificador da capacidade civil ou imputablidade
prometimento da capacidade civil ou da imputabi­
penal. Já ficou amplamente demonstrado que não
lidade penal e que não são normalmente abordados
pela literatura médico-legal. existem raças inferiores ou superiores, o que há são

Neste trabalho, iremos nos ater aos tópicos características culturais e econômicas que em dado

mais usuais, adaptando, como salientado, a nomen­ momento histórico podem favorecer esta ou aquela
clatura ultrapassada às classificações modernas. comunidade ou grupamento étnico. Existem traba­
lhos, entretanto, como o polêmico The bell curve (A
curva do sino), de Richarâ J. Herrnstein e Charles
6. FATORES BIOLÓGICOS
Murray, que pretendem afirmar a diferente habili­
6.1. Raça dade intelectual ou a tendência inata de determina­

O fator raça não é incluído no quadro original das raças para a criminalidade.

apresentado por Delton Croce (1998, p. 530), mas Ver considerações do item 1.4.
Curso&Concurso

6.2. Idade razão do sexo, mas, como vimos, de um particular


estado mental da parturiente.
A idade tem aparecido como fator determinan­
Há, por outro lado, algumas alterações do psi-
te tanto em relação à imputabilidade penal quanto
quismo relacionadas com períodos críticos da evolu­
à capacidade civil. Os menores de 18 anos são consi­
ção do organismo feminino, como a gestação, a lacta-
derados inimputáveis, em razão de desenvolvimen­
ção, o climatério, ou mesmo ligadas ao ciclo menstruai.
to mental incompleto, e, portanto, não se sujeitam
Tais alterações, entretanto, se por um lado podem
às sanções da lei penal, ficando apenas adstritos às
traduzir modificações de humor ou emotividade,
medidas protetivas e socioeducativas previstas pelo
salvo em casos absolutamente anormais, não devem
Estatuto da Criança e do Adolescente.
influir na capacidade ou imputabilidade da mulher.
Os maiores de 18 anos e menores de 21 anos,
A tendência atual, aliás, é a de suprimir qual­
considerados à época do fato, devem ter suas penas ne­
quer diferença de tratamento entre os sexos. Nesse
cessariamente reduzidas (art. 6 5 ,1, do CP), sendo os
sentido, por exemplo, o atual Código Civil igualou
prazos prescricionais contados pela metade (art. 115
a idade núbil do homem e da mulher em 16 anos
do CP).
(art. 1.517 — antigo art. 183, XII) e estabeleceu o
A idade avançada também foi considerada pelo limite de 60 anos para a adoção obrigatória do regi­
legislador penal como atenuante genérica (art. 65, me matrimonial de separação de bens, independente
I, do CP), merecendo o maior de 70 anos, à época do sexo dos nubentes (art. 1.641, II — antigo art. 258,
da sentença, o mesmo tratamento do menor de 21 parágrafo único, II).
quanto à redução dos prazos prescricionais.
Além disso, os maiores de 70 anos beneficiam-se
6.4. Emoção e paixão
do sursis etário (art. 77, § 2% do CP), que permite
que sejam suspensas condenações de até 4 anos, e da Emoção e paixão são estados emocionais que se
prisão em albergue domiciliar (art. 1 1 7 ,1, da LEP). diferenciam tão somente pelo tempo de duração.
Pela lei civil, os menores de 16 anos são absolu­ Na emoção, o sentimento é geralmente fugaz, mo­
tamente incapazes (art. 3% I, do CC), e os menores mentâneo, enquanto na paixão é mais duradouro.
de 18 anos, relativamente incapazes (art. 4% I, do Tanto um como o outro levam a alterações or­
CC), podendo os maiores de 16 anos ser emancipa­ gânicas, por exemplo, aumento dos batimentos car­
dos nas hipóteses previstas no art. 5s> I, do CC. díacos e respiratórios, sudorese e diurese intensas.

A lei civil também se preocupou com os valetu- Ao lado, produzem um comprometimento das fun­

dinários, prevendo, por exemplo, a aposentadoria ções mentais superiores, diminuindo a capacidade
compulsória aos 70 anos ou restringindo o regime de raciocínio e de autodeterminação.

matrimonial para as pessoas maiores de 60 anos (art. O Código Penal não considera a emoção como
1.641, II, do Código Civil). causa de exclusão da imputabilidade (art. 2 8 ,1), po­

O Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 12 de dendo, entretanto, operar como atenuante genérica

outubro de 2003, é também um bom exemplo do (art. 65, III, c) ou causa de diminuição de pena no ho­

reconhecimento, pelo ordenamento jurídico, de micídio (art. 121, § I2) e lesão corporal (art. 129, § 42).

que o idoso, em razão de suas peculiaridades físicas, A emoção e a paixão são geradas pelo sistema
deve receber tratamento especial do Estado. límbicoy região cerebral que engloba o tálamo, hipo-
tálamo, hipófise e hipocampo (Croce, 1998, p. 534).
Em alguns casos patológicos, o desequilíbrio do sis­
6.3. Sexo
tema HmbicOy quer por excesso de estimulação, quer
O sexo, na lei penal, é apenas considerado como por estimulação insuficiente, pode levar a estados
atenuante no crime de infanticídio. Mesmo assim, emocionais que oscilam desde o sentimentalismo ex­
não se pode considerar que a atenuação decorra em tremado até a ira ou o medo. Nessas hipóteses, após
Medicina Legal II

um exame psiquiátrico, poderá ser possível constatar do CPC), ou da necessidade do testamento público
a inimputabilidade ou semi-imputabilidade. (a rt 1.867 do CC).

CPC
6.5. Agonia Art. 405. Podem depor como testemunhas todas as
pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.
A agonia pode ser definida como o conjunto de
fenômenos que aparecem na fase final de doenças § ls São incapazes:

agudas ou crônicas e prenunciam a morte.


Na verdade não é a proximidade da morte que IV — o cego e o surdo, quando a ciência do fato
depender dos sentidos que lhes faltam.
leva à invalidade dos atos praticados, mas sim a pos­
sibilidade de o paciente não poder expressar livre­
CC
mente a sua vontade.
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento
Como o agônico depois da morte não mais po­ público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes,
derá ratificar ou retificar os seus atos, para que as uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a
ações praticadas pelo moribundo possam ter algum outra por uma das testemunhas, designada pelo
valor é normalmente recomendada a presença de testador, fazendo-se de tudo circunstanciada

testemunhas. menção no testamento.

6 .6 . Epilepsia 7. FATORES PSICOPATOLÓGICOS

Remotamente denominada “mal sagrado”, a 7.1. Transtornos do sono


epilepsia é uma das doenças mais antigas da huma­
Existem três estados mentais principais nos se­
nidade. O termo deriva do grego e significa “sur­
res humanos: vigília, sono e sonho. O sono é desenca­
preender”, em razão das crises que se instalam de
deado pela presença de mediadores neuroquímicos
maneira súbita e inesperada.
que atuam sobre o sistema nervoso e literalmente o
Não é uma “doença mental”, mas uma afecção forçam a dormir.
do sistema nervoso central, de caráter normalmente O sonho (ou sono paradoxal) é necessário para
crônico e que se manifesta por alterações sensitivas, a saúde do indivíduo.
motoras ou psíquicas, como perda dos sentidos,
A privação do sono e principalmente do sono
amnésia e convulsões.
paradoxal pode levar a perturbações mentais, aluci­
Se provocados entre os ataques, os epilépticos nações e morte.
podem reagir de modo desmedido, dando causa a O sono normal em princípio não altera a ca­
crimes bastante violentos. pacidade ou a imputabilidade. É possível, porém, a
ocorrência da chamada “embriaguez do sono”, es­
6.7. Cegueira tado imediatamente anterior à perda da consciên­
cia, antes do sono, ou ao retorno à vigília, após ele.
A cegueira, por si só, não pode ser considerada Nesses momentos a capacidade de intelecção está
um fator modificador da imputabilidade penal ou grandemente comprometida.
da capacidade civil. Demonstrado claramente que alguém cometeu
Entretanto, há situações em que o cego experi­ um delito nesse estado de semiconsciência, deve ser
menta algumas limitações legais. tido como irresponsável, já que seus atos são puramen­
É o caso, por exemplo, da incapacidade para te mecânicos, e não dirigidos por vontade própria.
depor como testemunha quando a ciência dos fa­ Dentre os transtornos do sono, o DSM — IV
tos depender do sentido da visão (art. 405, §1% IV, indica:
CursoSConcurso

dissonias O que se tem demonstrado é que o hipnotizado


transtornos primários parassonias — somente age até os limites daquilo que faria sem estar
do sono hipnotizado, ou seja, jamais executará ordens que fo­
sonambulismo
Transtornos rem contrárias aos seus princípios éticos e morais.
do sono transtornos do sono relacionados a outro Por esse motivo, o estado hipnótico não tem
transtorno mental sido aceito como atenuante ou dirimente, poden­
outros transtornos do sono do, entretanto, operar como agravante se a vítima
estiver hipnotizada.
Dissonias são “transtornos primários de inicia­
ção ou manutenção do sono ou de sonolência ex­
7.2. Transtorno misto da linguagem
cessiva, caracterizados por um distúrbio na quan­
receptivo/expressiva —
tidade, qualidade ou regulação de ritmo do sono”
surdimufismo
(DSM — IV, p. 525).
Parassonias são “transtornos caracterizados por O Código Civil de 1916, em seu art. 52, III, in­
eventos comportamentais ou fisiológicos anormais, dicava, como absolutamente incapazes de exercer
ocorrendo em associação com o sono, estágios es­ pessoalmente os atos da vida civil, os surdos-mudos
pecíficos do sono ou transições do sono para a vi­ que não pudessem exprimir a sua vontade.
gília. Diferentemente das dissonias, as parassonias Com extrema felicidade, o novo Código Ci­
não envolvem anormalidades nos mecanismos ge­ vil, atento aos avanços da psicologia e psiquiatria,
radores dos estados de sono e vigília, nem o tempo substituiu a redação anterior para considerar como
de ocorrência do sono e da vigília. Ao invés disso, absolutamente incapazes todos aqueles que, mesmo
as parassonias representam a ativação de sistemas por causa transitória, não podem exprimir sua von­

fisiológicos em momentos impróprios, durante o tade (a rt 3^, III).

ciclo de sono-vigília. Em particular esses transtor­ A nova redação ampliou, destarte, o rol de pos­
nos envolvem a ativação do sistema nervoso autô­ sibilidades, para englobar não apenas os portado­
nomo, do sistema motor ou de processos cognitivos res de transtornos da linguagem (entre os quais os
durante o sono ou as transições entre sono-vigília. surdos-mudos), como também os que exibam ou­

Diferentes parassonias ocorrem em diferentes mo­ tras perturbações que comprometam e viciem o seu

mentos durante o sono, e parassonias específicas consentimento.

frequentemente ocorrem durante estágios especí­ De qualquer modo, tanto a inimputabilidade


ficos do sono. Os indivíduos com parassonias em quanto a incapacidade somente podem ser reconhe­

geral se apresentam com queixas de comportamen­ cidas por exame pericial para averiguação da possi­

to incomum durante o sono, ao invés de queixas bilidade de expressão livre da vontade e capacidade

de insônia ou sonolência excessiva durante o dia” de compreensão dos fatos.

(DSM — IV, p. 550).


Dentre as parassonias, encontramos o transtorno 7.3. Transtornos da linguagem
de sonambulismo, perturbação mental relativamen­ expressiva — afasia
te comum na infância, em que o indivíduo perde a
Afasia é a perda completa da fala. O afásico,
consciência, tem alguns dos sentidos diminuídos,
embora não apresentando demência ou alterações
mas mantém a atividade locomotora, podendo an­ do aparelho fonador, é inteiramente incapaz de
dar e desviar-se de objetos colocados em seu trajeto. compreender a palavra falada ou escrita e de mani­
O hipnotismo é uma forma de “sonambulismo festar-se nesse sentido. Sendo assim, a afasia é um
provocado”, um processo de sugestão em que o in­ estado patológico modificador da capacidade e da
divíduo adentra em um estado de transe e fica sob o imputabilidade que pode levar à irresponsabilidade
domínio relativo do hipnotizador. penal ou civil.
Medicina Legal II

Não se deve confundir afasia com disartria. tabilidade penal, estudam-se as chamadas doenças
Nesta, o indivíduo apenas não consegue falar em mentais, “termo inadequado, utilizado para com­
decorrência de lesões nervosas, mas compreende preender todas as alterações mórbidas da saúde
tudo que é dito, balbucia palavras e pode expressar- mental, qualquer que seja a sua origem” (Vargas,
se por outros meios que não a fala. 1990, p. 195).
Como bem salienta Genival França (1998, p.
7.4. Transtornos obsessivo- 355), a expressão doença mental “não se ajusta bem
-compulsivos — prodigalidade ao que se quer atingir, porque se entende como sinô­
nimo de enfermidade da mente. Não sendo a mente
Os transtornos obsessivo-compulsivos são ca­
algo material, tecnicamente não admite uma doença.
racterizados essencialmente por ideias obsessivas
A mente não é local do corpo, mas uma atividade,
ou comportamentos compulsivos recorrentes que o
uma função. Ademais, doença mental não pode ser
paciente, embora ciente do absurdo e da inutilidade
igual a doença do cérebro. Enfermidade do cérebro
do que faz, não consegue evitar.
é, a saber, um tumor, uma esclerose múltipla, uma
A prodigalidade é uma forma de transtorno
neurossífilis. E, na hora em que as enfermidades de­
compulsivo em que a pessoa, sem qualquer justifica­
nominadas mentais demonstram doença, os pacien­
tiva, dilapida seu patrimônio de forma desordenada,
chegando a comprometer a própria subsistência. tes começam a ser transferidos da psiquiatria para
outros setores. O retardo mental, para a Pedagogia; a
Os pródigos são tidos como relativamente inca­
neurossífilis, para a Neurologia; o delírio das doenças
pazes (art. 4% IV, do CC), podendo praticar certos
infecciosas, para a Medicina Interna”.
atos da vida civil, desde que devidamente assistidos
por um curador. Assim, embora na literatura jurídica ainda seja

Alguns outros transtornos obsessivos, como a de uso corrente, a tendência atual é sua substitui­
oniomania (compulsão para comprar tudo que vê) ção pela expressão “transtorno mental” (vide Lei n.
e a cibomania (compulsão para o jogo), se forem ca­ 10.216, de 6 de abril de 2001).
pazes de comprometer todos os haveres do pacien­ Dentre os fatores psiquiátricos de interesse mé­
te, podem dar margem à interdição civil (Gomes, dico-legal, segundo a classificação do DSM — IV
2003, p. 524). podemos citar:
estados demenciais;
7.5. Transtornos relacionados retardos mentais (oligofrenias);
a substâncias — embriaguez * esquizofrenias e outros transtornos psicó­
e toxlcomanias ticos;
transtornos diversos (neuroses).
A embriaguez, no direito penal brasileiro, somen­
te poderá levar à inimputabilidade se completa e pro­
veniente de caso fortuito ou força maior. Nas demais
8.1. Estados demenciais
hipóteses, ou será agravante ou irrelevante penal. Segundo a Organização Mundial de Saúde, “a
Para o direito civil, os ébrios e toxicômanos são demência é uma síndrome devida a uma doença ce­
relativamente incapazes (art. 4% II), podendo, ain­ rebral, usualmente de natureza crônica ou progres­
da, constituir injúria grave de modo a dar margem siva, na qual há comprometimento de numerosas
à separação judicial. funções corticais superiores, tais como a memória,
Os temas já foram analisados no Capítulo IV. o pensamento, a orientação, a compreensão, o cál­
culo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem e
o julgamento”. Pode ser observada na doença deAl-
8. FATORES PSIQUIÁTRICOS
zheimer, em doenças cerebrovasculares e em outras
Dentro do capítulo dos fatores psiquiátricos afecções que atingem primária ou secundariamente
como modificadores da capacidade civil e impu­ o cérebro.
CursoSConcurso

8.2. Retardos mentais (oligofrenlas) de modo independente” (CID — 10, p. 361). Ad­
mite quatro graus: leve, moderado, severo e profundo
Retardo mental é a “parada do desenvolvimen­
(DSM — IV, p. 40).
to ou desenvolvimento incompleto do funciona­
O vocábulo oligofrenia, atualmente em desuso,
mento intelectual, caracterizados essencialmente
mas ainda citado por vários livros de medicina le­
por um comprometimento, durante o período de
gal como indicativo do retardo mental de qualquer
desenvolvimento, das faculdades que determinam o
nível global de inteligência, isto é, das funções cog­ origem, é um termo genérico, que significa “pouco

nitivas, de linguagem, da motricidade e do compor­ espírito”.


tamento social. O retardo mental pode acompanhar As oligofrenias admitiam três graduações, con­
um outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer forme a gravidade:

Quocienfe
idade menta! Descrição
intelectual
Idiotia Inferior a 25 Inferior a 3 anos Os idiotas profundos (retardo menta/ profundo) não
falam, têm vida psíquica inferior aos animais
superiores e não conseguem cuidar de si.
Imbecilidade Eníre 25 e 50 Eníre 3 e 7 anos Conseguem faiar e aprender algumas tarefas,
podendo prover sua própria subsistência. Têm
sexualidade precoce e por vezes praticam certos
atos de pequena delinqüência.
Debilidade mental Entre 50 e 90 Entre 7 e 12 anos Podem prover a própria subsistência, embora não
tenham condição de competir com pessoas normais.
Alguns conseguem atingir até o nível superior, mas
jamais serão profissionais de renome. Quanto à
criminalidade, são facilmente irritáveis, podendo chegar
a cometer delitos de lesão corporal ou homicídio.

Os portadores de retardos mentais severos e pro­ recidos, que aparece de forma episódica, eventual
fundos ( idiotas e imbecis) são penalmente inimputá­ ou progressiva, e que apresenta uma variada gama
veis por serem inteiramente incapazes de entender de manifestações associadas à perda da afetividade,
o caráter ilícito de eventual ato criminoso praticado desinteresse pelos fatos normais da vida e associação
ou de determinarem-se de acordo com esse enten­ extravagante de idéias, como comportamentos con­
dimento. Da mesma forma, devem ser tidos como traditórios, chegando a pessoa a ouvir vozes e à de­
absolutamente incapazes para os atos da vida civil. terioração progressiva da inteligência.
Os portadores de retardos mentais leves e mo­ Surge geralmente na adolescência, entre os 15 e os
derados (débeis mentais) podem, com certas limita­ 25 anos, tendo prognóstico bastante sombrio, já que
ções, exercer atos da vida civil, sendo considerados apenas 30% dos pacientes evoluem favoravelmente.
relativamente incapazes. Na esfera penal, devem ser
São descritas cinco formas clínicas fundamen­
rotulados como semi-imputáveis, por não serem in­
tais (DSM — IV, p. 268):
teiramente capazes de entender o caráter ilícito dos
atos praticados ou de determinarem-se de acordo indiferenciada (simples)
com esse entendimento. desorganizada (hebefrênica)
Esquizofrenia catatônica

8.3. Esquliofrenias e outros paranoide


residual
transtornos psicóticos
A esquizofrenia é um transtorno mental decor- Na forma indiferenciada ou simples há um en-
rente de fatores orgânicos não perfeitamente escla- fraquecimento progressivo do psiquismo que pode
Medicina Legal II

conduzir até a demência. Não costuma apresentar incluindo o que se entende pelos obsoletos insani­
outras espécies de manifestações mais severas senão dade e loucura.
o desinteresse geral por tudo e todos e perda gradual Dentre as psicoses, destacam-se os transtornos
da inteligência. Existem sintomas que satisfazem o bipolares (antiga psicose maníaco-depressiva).
diagnóstico de esquizofrenia, mas não preenchem Os transtornos bipolares são caracterizados "por
os critérios gerais para os demais subtipos. dois ou mais episódios nos quais o humor e o ní­
Na forma desorganizada ou hebefrênica, além da vel de atividade do sujeito estão profundamente
debilidade do psiquismo, surgem outras manifesta­ perturbados, sendo que este distúrbio consiste em
ções, como ideias absurdas, alterações de ânimo vio­ algumas ocasiões de uma elevação do humor e au­
lentas que vão desde a apatia ou o sentimentalismo mento da energia e da atividade (hipomania ou ma­

até a ira extrema. Frequentemente assumem posições nia) e, em outras, de um rebaixamento do humor e

de salvadores do mundo ou enviados dos céus. de redução da energia e da atividade (depressão)”


(CID — 10, p, 325).
Na forma catatônica os esquizofrênicos costu­
França (1998, p. 356) esclarece que “a fase de
mam permanecer por tempo prolongado parados
hipomania é mais perigosa, estado em que os sen­
na mesma posição. Raramente apresentam delírios,
timentos de poder, euforia, autoconfiança e oti­
mas são bastante impulsivos, podendo chegar ao
mismo estão mais exaltados, levando o paciente a
homicídio ou até à autolesão.
irrefietidas atitudes, negócios fantásticos, compras
Na forma paranoide, o esquizofrênico sente-se
astronômicas, criações de empresas e iniciativas es-
arrebatado, dominado por forças externas que não
drúxulase inconseqüentes”.
consegue explicar. Predominam as alucinações e os
Na fase depressiva, podem chegar ao suicídio.
delírios. Normalmente desconfiam de tudo e todos,
“São sempre suicídios bem planejados, friamente
apresentando acusações generalizadas e infundadas,
concebidos, cuja execução é rigorosamente revesti­
como se o mundo conspirasse contra eles.
da de precaução, inclusive com a preocupação de
Na forma residual há registro de pelo menos deixar a família numa situação melhor. Podem ain­
um episódio de esquizofrenia, mas o quadro clínico da matar a esposa e os filhos, antes de tirar a própria
por ocasião do exame não aponta sintomas positi­ vida, como forma de evitar o sofrimento e a desonra
vos próprios, como alucinações, delírios, discurso dos seus” (França, 1998, p. 356).
ou comportamento desorganizado. Existem apenas
evidências caracterizadas pela presença de sintomas 8,3.2. Transtornos da personalidade
negativos, como afeto embotado, discurso pobre e (personalidades psicopáticas)
vontade diminuída.
Os transtornos da personalidade, antigamente
Genival França (1998, p. 356) lembra que a
chamados de personalidades psicopáticas, englobam:
“esquizofrenia pode levar a uma variedade muito
personalidade paranóica ou paranoide;
grande de delitos, exóticos e incompreensíveis pela
personalidade esquizoide;
sua inutilidade. Os mais graves são decorrentes da
personalidade esquízotípica;
forma paranoide. Em regra, o crime desses pacien­
personalidade antissocial (dissociai);
tes é repentino, inesperado e sem motivos”.
transtorno de personalidade com instabili­
dade emocional;
&3. L Psicoses —transtornos bipolares personalidade histríônica;
personalidade narcisista;
O termo psicose é utilizado, de uma manei­ personalidade esquiva (ansiosa);
ra geral, para apontar qualquer transtorno mental personalidade dependente;
diverso dos estados demenciais, retardos mentais personalidade obsessivo-compulsiva (anan-
(oligofrenias) e transtornos diversos (neuroses), cástica).
Curso8£oncurso

8.3.3. Personalidade paranóica ou é difícil de determinar, e sua evolução corresponde


paranoide em geral àquela de um transtorno da personalida­
de” (CID — 10, p. 320).
“Transtorno da personalidade caracterizado
por uma sensibilidade excessiva face às contrarieda­
des, recusa de perdoar os insultos, caráter descon­
8.3.6. Personalidade anfissocial ou
fiado, tendência a distorcer os fatos interpretando
dissociai (sociopatas)
as ações imparciais ou amigáveis dos outros como “Transtorno de personalidade caracterizado por
hostis ou de desprezo; suspeitas recidivantes, injus­ um desprezo das obrigações sociais, falta de empa-
tificadas, a respeito da fidelidade sexual do esposo tia para com os outros. Há um desvio considerável
ou do parceiro sexual; e um sentimento combativo entre o comportamento e as normas sociais estabe­
e obstinado de seus próprios direitos. Pode existir lecidas. O comportamento não é facilmente modi­
uma superavaliação de sua auto-importância, ha­ ficado pelas experiências adversas, inclusive pelas
vendo frequentemente auto-referência excessiva” punições. Existe uma baixa tolerância à frustração
(CID — 10, p. 351). Também chamada de persona­ e um baixo limiar de descarga da agressividade, in­
lidade expansiva, fanática ou querelante. clusive da violência. Existe uma tendência a culpar
os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis
8.3.4. Personalidade esquizoide para explicar um comportamento que leva o sujeito
a entrar em conflito com a sociedade” (CID — 10,
“Transtorno da personalidade caracterizado p. 352). Também chamada de personalidade amo­
por um retraimento dos contatos sociais, afetivos ral, associai ou sociopática.
ou outros, preferência pela fantasia, atividades soli­
tárias e a reserva introspectiva, e uma incapacidade
8.3.7. Transtorno de personalidade
de expressar seus sentimentos e a experimentar pra­
com instabilidade emocionai
zer” (C ID — 10, p. 352).
(borderfine e impulsivo)
8.3.5. Personalidade esquizotfpica “Transtorno de personalidade caracterizado
por tendência nítida a agir de modo imprevisí­
“Transtorno caracterizado por um comporta­ vel sem consideração pelas conseqüências; humor
mento excêntrico e por anomalias do pensamento imprevisível e caprichoso; tendência a acessos de
e do afeto que se assemelham àquelas da esquizo­ cólera e uma incapacidade de controlar os com­
frenia, mas não há em nenhum momento da evo­ portamentos impulsivos; tendência a adotar um
lução qualquer anomalia esquizofrênica manifesta comportamento briguento e a entrar em conflito
ou característica. A sintomatologia pode comportar com os outros, particularmente quando os atos im­
um afeto frio ou inapropriado, anedonia (NA— in­ pulsivos são contrariados ou censurados. Dois tipos
capacidade de ter prazer ou divertir-se); um com­ podem ser distintos: o tipo impulsivo, caracterizado
portamento estranho ou excêntrico; uma tendência principalmente por uma instabilidade emocional
ao retraimento social; ideias paranoides ou bizarras e falta de controle dos impulsos; e o tipo ‘borâer-
sem que se apresentem ideias delirantes autênticas; line\ caracterizado, além disto, por perturbações
ruminações obsessivas; transtornos do curso do da autoimagem, do estabelecimento de projetos e
pensamento e perturbações das percepções; perío­ das preferências pessoais, por uma sensação crônica
dos transitórios ocasionais quase psicóticos com de vacuidade, por relações interpessoais intensas e
ilusões intensas, alucinações auditivas ou outras e instáveis e por uma tendência a adotar um compor­
ideias pseudodelirantes, ocorrendo em geral sem fa­ tamento autodestrutivo, compreendendo tentativas
tor desencadeante exterior. O início do transtorno de suicídio e gestos suicidas” (CID — 10, p. 353).
Medicina Legal II

8.3.8. Personalidade narcisista rotina com um exagero dos perigos ou dos riscos
potenciais em situações banais” (CID — 10, p. 353).
A característica essencial da personalidade nar­
cisista consiste na emotividade excessiva e busca de
atenção, que se inicia na idade adulta e está presente 8.3.?2. Personalidade dependente
em vários contextos. (astênica)
Os indivíduos com esse transtorno de per­ “Transtorno da personalidade caracterizado
sonalidade sentem desconforto quando não são o por: tendência sistemática a deixar a outrem a to­
centro das atenções; apresentam comportamento mada de decisões, importantes ou menores; medo
geralmente inadequado, sexualmente provocante de ser abandonado; percepção de si como fraco e
ou sedutor, utilizando constantemente a aparência incompetente; submissão passiva à vontade do ou­
física para chamar a atenção sobre si; têm tendência tro (por exemplo, de pessoas mais idosas) e uma di­
à dramatização e consideram os relacionamentos ficuldade de fazer face às exigências da vida cotidia­
mais íntimos do que realmente são (conceito adap­ na; falta de energia que se traduz por alteração das
tado do DSM — IV, p. 620). funções intelectuais ou perturbação das emoções;
tendência freqüente a transferir a responsabilidade
8.3.9. Personalidade hisfriônica para outros” (CID — 10, p. 354).

“Transtorno da personalidade caracterizado


Nota necessária
por uma afetividade superficial e lábil, dramatiza­
Foram implementadas profundas modifica­
ção, teatralidade, expressão exagerada das emoções,
ções na nomenclatura e classificação dos transtor­
sugestibilidade, egocentrismo, autocomplacência,
nos mentais. As personalidades patológicas, men­
falta de consideração para com o outro, desejo
cionadas no item anterior, refletem a posição atual
permanente de ser apreciado e de constituir-se no
da Organização Mundial de Saúde (CID — 10) e da
objeto de atenção e tendência a se sentir facilmente
Associação Psiquiátrica Americana (DSM — IV) a
ferido” (CID — 10, p. 353).
respeito do tema.
Como a quase-totalidade dos livros de medici­
8.3.10. Personalidade obsessivo- na legal mantém a classificação antiga e consideran­
-compulsiva (anancástica) do que boa parte dos laudos psiquiátricos ainda faz
“Transtorno da personalidade caracterizado uso da nomenclatura tradicional, apresentamos, a
por um sentimento de dúvida, perfeccionismo, seguir, um breve resumo do que a doutrina entende
escrupulosidade, verificações, e preocupação com por personalidades psicopáticas.
pormenores, obstinação, prudência e rigidez exces­
sivas. O transtorno pode se acompanhar de pensa­ 8,3,13. Personalidades psicopáticas
mentos ou de impulsos repetitivos e intrusivos não
atingindo a gravidade de um transtorno obsessivo- Os portadores de personalidades psicopáticas são

-compulsivo” (CID — 10, p. 353). indivíduos que, embora não apresentem transtornos
da inteligência, registram severas alterações da afeti­
vidade, dos instintos, do temperamento e do caráter.
8.3.1L Personalidade ansiosa (esquiva)
Vários são os termos utilizados para indicar a
“Transtorno da personalidade caracterizado personalidade psicopática, por exemplo: “oligofrênicos
por sentimento de tensão e de apreensão, insegu­ morais” (Bleuler), “degenerados” (Magnan), “estupi­
rança e inferioridade. Existe um desejo permanente dez moral” (Baer)y“semiloucos” (Grassei) ou, segun­
de ser amado e aceito, hipersensibilidade à crítica e do o conceito de Székely, todo “aquele que apresenta
a rejeição, reticência a se relacionar pessoalmente, uma instabilidade mental patológica, sem perda de
e tendência a evitar certas atividades que saem da suas funções intelectuais” (Croce, 1998, p. 560).
CursoSConcurso

Genival França (1998, p. 358) assevera que na sendo aqueles cuja “principal característica é a im­
verdade não são personalidades doentes ou patológi­ possibilidade de experimentarem sentimentos de
cas, mas sim anormais, cujo traço característico é o afeto, simpatia ou valoração das demais pessoas.
distúrbio da afetividade ou do caráter, com a manu­ Não conhecem a bondade, a piedade, a vergonha,
tenção da inteligência. a misericórdia e a honra. Desde a infância demons­
Os portadores de personalidade psicopática pre­ tram anormalidades pelas manifestações de cruel­
cisam de tratamento especializado e, quando come­ dade, mitomania, precocidade sexual e delinqüên­
tem delitos, devem ser tidos como semi-imputáveis. cia. Seus crimes são desumanos, frios, impulsivos,

Há várias classificações, como as de Kraepelin e bestiais. Não admitem ser fiscalizados. Realizam

Kurt Schneider, atos movidos pelas suas paixões, pelo domínio dos
componentes instintivos de sua personalidade.
Segundo Kraepelin as personalidades psicopá­
Praticam o mal por necessidade. Sentem sua falta,
ticas classificam-se em irritáveis, instáveis, instinti­
como o faminto o alimento, e só assim se acham
vas, tocadas, mentirosas e fraudadoras antissociais e
equilibrados e serenos, recebendo tranqüilos e eu­
disputadoras (Croce, 1998, p. 560).
fóricos a conseqüência dos seus feitos” (atual perso­
Para Kurt Schneider, as personalidades psico­
nalidade antissocial ou dissociaI).
páticas dividem-se em:
Psicopatas anancásticos ou inseguros de si mes­
psicopatas hipertímicos mos — são pessoas inseguras, com complexo de
psicopatas depressivos inferioridade e dominadas por ideias recorrentes
psicopatas sem sentimentos, surgidas sem explicação aparente e que podem levar
amorais ou perversos a intenso sofrimento (atual personalidade obsessivo-
psicopatas anancásticos ou -compulsiva ou anancástica).
inseguros de si mesmos
Psicopatasfanáticos— são dominados por ideias
Classificação das psicopatas fanáticos
filosóficas, religiosas e políticas. Quando assumem a
personalidades psicopatas necessitados de valorização
liderança de algum grupo humano, apresentam ge­
psicopáticas ou carentes de afeto
ralmente atitudes extremadas, podendo levar à guer­
segundo Kurt Schneider psicopatas lábeis de estado de ânimo
ra ou aos massacres (atual personalidade paranóica).
psicopatas explosivos, irritáveis
ou epileptoides Psicopatas necessitados de valorização ou caren­
psicopatas abúlicos ou de tes de afeto — sua principal característica é desejar
instintividade débil parecer mais do que efetivamente são. Normalmen­
psicopatas astênicos te tornam-se mentirosos e fanfarrões (atual trans­
torno de personalidade narcisista).
Psicopatas hipertímicos — têm grande tendên­ Psicopatas lábeis de estado de ânimo — têm rea­
cia às disputas, escândalos e desajustes familiares. ções desproporcionais, com crises de irritação e de­
Seu estado de ânimo oscila entre a tranqüilidade e pressão, sendo perigosos nos momentos de impulso
a fúria extrema e desproporcional (atualpersonali­ (atual transtorno de personalidade com instabilidade
dade histriônica). emocional).
Psicopatas depressivos — frequentemente che­ Psicopatas explosivos, irritáveis ou epileptoides
gam ao suicídio e raramente à criminalidade. Seu — são extremamente irritáveis, reagindo violen­
estado de ânimo é caracterizado pela depressão tamente aos menores estímulos externos. São dos
constante e pelo pessimismo (atual transtorno de mais perigosos, pois podem chegar ao homicídio,
personalidade esquízoide). às lesões corporais e a crimes passionais. Com certa
Psicopatas sem sentimentos, amorais ou perver­ frequência não conseguem recordar-se do que fize­
sos— Genival França (1998, p. 358) os define como ram quando em estado de exaltação.
Medicina legal II

Psicopatas abúlicos ou de instintividaãe débil— não 8.3J 4, Síndromes psicopáficas


têm vontade própria, sendo facilmente sugestionáveis
Alguns autores, ao largo das classificações tra­
(atual transtorno de personalidade ansiosa-esquiva),
dicionais, preferem falar em síndromes psicopáficas,
Psicopatas astênicos — sentem-se muito can­
com sintomas comuns, mais relacionados com o
sados, fatigados, dominados pelos sentimentos de
transtorno de personalidade antissocial ou dissociai
incapacidade e inferioridade. Têm tendência às (psicopatas sem sentimentos} amorais ou perversos).
drogas e comumente chegam ao suicídio (também São exemplos os roteiros de H. Cleckley, Gray e Hu-
podem ser classificados no atual transtorno de per­ tchison e W. MacCord e /. MacCord (in Maranhão,
sonalidade dependente). 2003, p. 86):

Síndromes psicopáficas
H. Cleckley Gray e Hutchison MacCord e MacCord
Encanto superficial e boa É emocionaimente imaturo.
inteligência.
Ausência de delírios ou outros sinais
de pensamento ilógico.
Ausência de manifestações
psiconeuróticas.
Inconstância.
Infidelidade e insinceridade.
Falta de remorso ou vergonha. É incapaz de sentir culpa. Sente escassos sentimentos de culpa.
Falta-lhe senso morai.
Conduta antissocial Falta-lhe controle sobre os impulsos. É altamente impulsivo.
inadequadamente motivada. As ações dos psicopatas carecem de
planejamento.
Faíta de ponderação e fracasso Não aprende pela experiência. Movido por desejos incontroiados.
em aprender peia experiência.
Egocentrismo patológico e É egocêntrico. Desviada capacidade de amar.
incapacidade de amar.
Pobreza geral nas relações É incapaz de estabelecer relações É associai.
afetivas. significativas.
Falta específica de esclarecimento A punição não ihe altera o
interior f/ns/gM). comportamento.
Irresponsabilidade nas relações Falta-lhe senso de responsabilidade.
interpessoais.
Tendência a conduta fantástica É agressivo.
com ou sem uso de áícooi.
Raramente suicidas.
Vida sexuai impessoal, trivial
e pobremente integrada.
incapacidade de seguir um plano É crônica ou periodicamente Cada momento é uma fração de
de vida. antissocial. tempo desvinculada das demais.

É claro que qualquer dos dados, considerado lisados em conjunto e persistentes é que podem ca-
isoladamente e sem continuidade no tempo, não racterizar uma eventual síndrome psicopática (Ma-
pode levar a um diagnóstico. Apenas quando ana- ranhão, 2003, p. 138).
CursoSConeurso

8.4. Transtornos diversos — — amnésia dissociativa;


neuroses — fuga dissociativa;
— transtorno dissociativo de identidade;
Sob o nome genérico de neuroses, a doutrina — transtorno de despersonalização;
pretende incluir uma gama de transtornos mentais transtornos do humor:
atualmente designados como transtornos de ansieda­ — transtornos depressivos;
de, transtornos somatoformes, transtornos do humor, transtornos factícios.
transtornos dissociativos ou transtornos factícios, Não obstante apresentarem-se sob as mais va­
A neurose representa um conflito interno, de riadas formas, segundo Porot (in Maranhão, 2003,
personalidade, entre os princípios éticos, morais e p. 64), as neuroses têm sintomas relativamente co­
religiosos e os impulsos instintivos e as exigências do muns que se caracterizam por:
mundo exterior, gerando alto grau de ansiedade. a) perturbação afetiva, mais ou menos cons­
O neurótico, ao contrário do psicótico, não tem ciente, que se expressa por uma hiperemo-
alterado o seu senso de realidade. “Vive e reconhece tividade parasita;
perfeitamente a realidade que o circunda, é incon­ b) comportamento de inadaptação à realida-
de e ao meio social, por impossibilidade
formado com ela, sofre, angustia-se, procura meca­
de desviar o interesse de si mesmo e usar a
nismos de defesa, conscientes e inconscientes, que
atividade para objetivo da vida prática;
desencadeiam um sistema de segurança contra os
c) sensação de insuficiência afetiva e sexual (em
conflitos internos, tentando estabelecer o equilíbrio sentido amplo), por incapacidade de sobre­
para tomar a vida suportável. Nem sempre conse­ pujar os conflitos da via moral íntima;
gue, o sofrimento aumenta, a neurose se agrava.” d) uma insatisfação vital que se traduz por:
(Palomba, Loucura e crime, 1996, p. 131). I— desordens neurovegetativas;
Entre os principais transtornos de fundo neu­ II — fuga dos objetos simbolicamente re­
rótico podemos citar: lacionados ao conflito;
transtornos de ansiedade: III — atos mágicos de anulação do conflito;
— transtornos de pânico com ou sem IV — conversão da tensão emocional em
agarofobia (medo de ficar só em locais expressões corporais.
públicos);
— fobia simples; Juridicamente, é bastante discutível se esses qua­
— fobia social; dros (neuroses) deveriam ser incluídos entre os modi­
— transtorno obsessivo compulsivo; ficadores da imputabilidade penal e capacidade civil.
— transtorno de estresse pós-traumático;
Raramente os neuróticos se tornam crimino­
— transtorno de ansiedade generalizada;
sos, e quando isso acontece em poucas ocasiões é
transtornos somatoformes:
possível ligar o comportamento criminoso ao trans­
— transtorno de somatização;
torno mental
— transtorno conversivo;
— transtorno doloroso; Heber Vargas (1990, p. 199) apresenta um qua­
— hipocondria; dro comparativo entre os transtornos classificados
transtornos dissociativos: como neuróticos e psicóticos:

Neurose Psicose
Comportamento geral Leve grau de descompensação da Elevado grau de descompensação da
personalidade, não sendo atingidos o personalidade; o contato com a realidade
contato com a realidade e a situação é muito atingido. O psicótico fica
social. impossibilitado de atuação social.
Natureza dos sintomas Grande amplitude de sintomas psicológicos Grande amplitude de sintomas psicológicos,
e somáticos. Não há, porém, alucinações com delírios, alucinações, embotamento
ou outros desvios extremos no pensamento, emocional e outros comportamentos
sentimento ou ação. anormais.

162
Medicina Legai ii

Orientação Raramente perde a orientação ambiental. Geralmente perde a orientação ambientai.


Autoconhecimento Tem geralmente certa compreensão da Raramente tem compreensão da natureza
natureza de seu estado psíquico. de seu estado psíquico.
Aspectos sociais Raramente o seu comportamento social Frequentemente o seu comportamento
é prejudicial ou perigoso para si e para a é prejudicial ou perigoso para si e para a
sociedade. sociedade.
Tratamento médico Raramente necessita de internação Geralmente precisa de internação
hospitalar. hospitalar.
Tratamento jurídico Salvo em situações especialíssimas, é Em geral é penalmente inimputável e
imputável e capaz. incapaz civümente.

Sob influência da multidão parece haver dimi­


9. FATORES MESOLÓGICOS
nuição da racionalidade, fazendo brotar no indiví­
9.1. Civilização — silvícolas duo uma disposição instintiva para a violência, que
pode chegar à prática do homicídio.
“índio ou silvícola é todo indivíduo de origem e
Os chamados crimes multitudinários, para o
ascendência pré-colombiana que se identifica e é
nosso Código Penal, constituem apenas uma ate­
identificado como pertencente a um grupo étnico
nuante genérica (art. 65, III, e), não afastando a im­
cujas características culturais o distinguem da so­
putabilidade penal.
ciedade nacional” (art. 3^ da Lei n. 6.001/73).

Quanto ao grau de integração, os índios podem 10. FATORES LEGAIS —


ser considerados isolados> em vias de integração ou
REINCIDÊNCIA PENAL
integrados (art. 4s da Lei n. 6.001/73). Os não inte­
grados ficam sujeitos a um regime tutelar previsto A reincidência opera no direito penal como
na Lei n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973 (Estatu­ agravante genérica e pode ser definida como a prá­
to do índio). tica de um novo crime depois de o agente ter sido
O Código Penal não faz referência expressa aos condenado por um delito anterior.
silvícolas. Entretanto, os índios não aculturados ou
CP
inadaptados podem ser considerados semi-imputá-
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam
veis, porque o choque de culturas muitas vezes não
a pena, quando não constituem ou qualificam o
permite por parte do silvícola a intelecção do caráter
crime:
ilícito do ato praticado, fazendo jus a uma atenua­
I — a reincidência;
ção da pena (art. 56 da Lei n. 6.001/73). Os índios
aculturados ou adaptados, por outro lado, têm de­ Art, 63. Verifica-se a reincidência quando o agen­
senvolvimento mental suficiente para compreender te comete novo crime, depois de transitar em jul­
o caráter ilícito do ato praticado e, portanto, devem gado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o
ser tidos como imputáveis. tenha condenado por crime anterior.

9.2. Psicologia das multidões 11. TEMPERAMENTO


Não é preciso dizer que indivíduos absolu­ Entende-se por temperamento “a tendência
tamente normais e sem qualquer tendência à vio­ constitucional do indivíduo para reagir de certo
lência, quando influenciados por multidões em modo ao meio ambiente” (Campbell, Dicionário de
tumulto, agem de forma totalmente irracional. Os psiquiatria, 1986, p. 600). De acordo com os estí­
exemplos são bastante comuns, como saques du­ mulos externos, algumas pessoas são mais tranqüi­
rante manifestações públicas ou mesmo violência las, outras mais vigorosas, algumas mais recatadas,
nos estádios de futebol. outras mais impulsivas etc.
Curso8£oncurso

Essas tendências pessoais podem ser reconhe­ a) pícnico, caracterizado por um corpo de
cidas desde a infância e não se confundem com o contornos arredondados, com amplas ca­
caráter, que é um conceito mais amplo. vidades corporais, ao qual se associa uma
tendência à personalidade ciclotímica, al­
A maior parte dos autores considera o tempera­
ternando estados de euforia e hiperativi-
mento como fator irrelevante em termos de modifi­
dade com outros de depressão, tristeza e
cação da imputabilidade penal e da capacidade civil.
inatividade;
Genival França (1998, p. 347), ao contrário, entende
b) leptossômico, portador de um corpo del­
que o temperamento deve ser considerado, pois não gado ao qual se associa uma tendência à
é possível colocar em uma mesma balança delitos co­ personalidade esquizotímica, ou seja, que
metidos por pessoas com temperamentos impulsivos, tende à esquizofrenia, que mostra reações
que agem de inopino, e os praticados por pessoas com desproporcionais às situações vividas;
temperamentos tranqüilos, que perpetram o crime de c) atlético, possuidor de um corpo bem de­
modo estudado, planejado, com precisão e frieza. senvolvido ao qual corresponde tendência
a uma personalidade viscosa, maçante; e
As classificações mais comuns, em medicina
d) dispíástico, caracterizado por um corpo
legal, relacionadas com o temperamento são as de
que não se enquadra em nenhum dos três
Ernest Kretschmer e de W. Shelâon, que procuram
tipos anteriores e que demonstraria tam­
estabelecer uma relação entre a constituição física
bém uma tendência à personalidade ciclo­
do indivíduo e a sua personalidade. tímica (a maioria dos autores ignora esse
O primeiro imaginou quatro tipos básicos de quarto tipo, incluindo suas características
indivíduos: no pícnico).

Classificação de Krefscfimer
Tipo Variáveis Tipo
morfológico Sensibilidade R/fmo psíquico Psicomotiiidade temperamental

Pícnico Varia na diatesia Mobil X parado Esfímuiável Ciclotímico


Leptossômico Varia na psicoestesia SaSfa entre dois modos inerte e rígido Esquizotímico
de pensar e sentir
Atlético Explosivo X fieugmático Mantém Esfímuiável, mas lento Viscoso
Dispíástico Varia na diafesia Mobil X parado Estímulável Ciclotímico

Sheldon estudou cerca de4.000 estudantes do sexo Os endomorfos e viscerotônicos seriam indivíduos
masculino, e depois estendeu suas observações para o com excesso de peso e com tendência à redução das
sexo feminino, concluindo que, em 80% dos casos, há tensões e interesse geral por conforto, glutonaria,
uma relação entre o somatotipo e o temperamento. cordialidade e sociabilidade.
Sheldon estabeleceu o seguinte quadro: Os mesomorfos e somatotônicos seriam pessoas
de compleição física normal e personalidade em
Tipologia de Sheldon
que predominam a atividade muscular e a necessi­
Constituição Temperamento
dade da afirmação pelo uso do corpo.
Endomorfismo Viscerotonia
Finalmente os ectomorfos e cerebrotônicos se­
Mesomorfismo Somatotonia
riam aqueles de frágil compleição física e cuja per­
Ecíomorfismo Cerebrotonía
{Quadro baseado em similar proposto por Maranhão, sonalidade é marcada pela introversão e predomí­
2002, p. 344.) nio da atividade mental sobre a física.
Medicina Legal II

QUESTÕES c) o fim do surto da doença mental;


d) a recuperação da capacidade de entendi­
Imputabilidade mento;
i (DP/SP 01/91) A imputabilidade tem como e) a cessação da periculosidade.
elementos essenciais:
a) vontade, inteligência e desenvolvimento
mental completo;
b) vontade, inteligência e personalidade emo­
tiva preexistente;
c) desenvolvimento mental incompleto, von­
tade e intensa reação emotiva; H (DP/RJ — 2001) O art. 26 do Código Penal
d) vontade, inteligência e intensa emoção. brasileiro adotou o critério biopsicológico
para a avaliação da imputabilidade penal Tal
critério consiste em:
a) diagnosticar doença mental ou desenvol­
vimento mental incompleto ou retardado
no acusado;
b) determinar que a alteração mental do agente é
capaz de impedir o entendimento da ilicitude;
(DP/SP 03/93) São elementos da imputabi- c) estabelecer nexo de causalidade entre a al­
lidade: teração mental do criminoso e o delito;
a) desenvolvimento mental completo, inteli­ d) aferir o grau de periculosidade do agente;
gência, vontade; e) provar que o agente não entendia a ilicitu­
b) responsabilidade, inteligência, maioridade; de, ou não tinha capacidade de autodeter­
minação no momento do crime.
c) culpabilidade, desenvolvimento mental
incompleto, responsabilidade;
d) amadurecimento espiritual, vontade, ida­
de maior de 21 anos.

Retardos mentais
(DP/SP 01/94B) “Idiota” é o débü mental com QI:
a) abaixo de 20;
b) entre 20 e 40
(DP/RJ— 2000) Quando uma pessoa comete
um crime em função de doença mental, tem c) entre 40 e 60

que ser submetida a medida de segurança, d) entre 40 e 80.

que pode ser de internação em manicômio


judiciário. O critério para interrupção dessa
medida tem por base:
a) o transcurso de um ano;
b) o transcurso de dois terços da pena a que
poderia ter sido condenado;
CtirsoSConcurso

(DP/SP 02/91) A interrupção precoce e pa­ (DP/SP 03/93) A desagregação do pensamento


tológica do desenvolvimento da inteligência e a concatenação de impulsos e gestos de um
caracteriza a: tipo delituoso ou suicida caracterizam a(s):
a) oligofrenia; a) mania e síndrome maníaca;
b) hebefrenia; b) melancolia e síndrome depressiva;
c) esquizofrenia; c) esquizofrenia;
d) paranóia. d) psicoses senis e pré-senis.

D (DP/SP 07/93) As perturbações psíquicas (per­


sonalidades patológicas) do desenvolvimento m (DP/SP 06/93) São inimputáveis, por total

e da continuidade, representadas pelos atra­ incapacidade de entender o caráter criminoso

sos ou infranormalidades, denominam-se: de seus respectivos atos, os:

a) oligofrenias; a) dotados de personalidade psicopática;

b) demências; b) neuróticos;

c) alienações; c) esquizofrênicos;

d) neuroses. d) os mencionados nas alternativas anterio­


res, em geral.

Esquizofrenias e outros transtornos psicóticos


B (DP/SP 05/91) A dissociação das faculdades
psíquicas— com quebra de harmonia entre o
B lB (DP/SP 01/00) Pode-se admitir que a ré, ao
matar o próprio filho, estava inteiramente
pensamento, sentimento e ação, e a perda do privada da capacidade de entender o caráter
contato racional do doente com o meio exte­ criminoso de seu ato, se na ocasião ela:
rior — é característica: a) era portadora de personalidade psicopática;
a) da esquizofrenia; b) estava sob estado puerperal;
b) da epilepsia;
c) sofria de esquizofrenia;
c) das neuroses;
d) sofria de neurose compulsiva.
d) das crises nervosas.
Medicina Legai ii

Personalidades psicopáticas c) delinqüente psicótico;


d) neurótico.
12 (DP/SP 03/92) Ausência de sentimento, ten­
dência à impulsividade, agressividade, ausên­
cia de sentimento de culpa, incapacidade de
aprender pela experiência e falta de motiva­
ção adequada caracterizam:
a) a psicose;
b) a neurose;
(DP/SP 01/03) São sintomas comuns que in­
c) a hebefrenia;
tegram uma síndrome psicopática (manifes­
d) a personalidade psicopática.
tação de personalidade psicopática):
a) excitação afetiva com instabilidade emo­
cional, fuga de ideias e atos desordenados;
b) afetividade embotada em que a ideação
e a afetividade mostram-se dissociadas e
perda de contato com a realidade;
c) manifestação de intensa angústia com um
comportamento de inadaptação à realida­
I B I (DP/SP 02/94) Um indivíduo dotado de per- de, incapacidade de desviar o interesse de
sonalidade psicopática tem capacidade de: si mesmo e sensação de insuficiência afe­
a) entender comprometida e a de se deter­ tiva e sexual;
minar conservada; d) egocentrismo patológico, falta de remor­
b) entender preservada e a de se determinar so ou vergonha, pobreza geral nas relações
afetivas e incapacidade de seguir um pla­
comprometida;
no de vida.
c) entender e a de se determinar compro­
metidas;
d) entender e a de se determinar preservadas.

Temperamento
I Q (DP/SP 01/94B) Segundo a classificação bio-
lógicq de Kretschmeryo indivíduo pícnico é:
EU (DP/SP 01/02) Criminoso portador de per­ a) baixo, magro e introvertido;
sonalidade patológica, caracterizada por po­ b) baixo, gordo e introvertido;
breza nas reações afetivas, conduta antisso- c) baixo, gordo e extrovertido;
cial inadequadamente motivada, carência de d) alto, magro e extrovertido.
valor, ausência de delírios, falta de remorso
e senso moral, incapacidade de controlar os
impulsos e aprender pela experiência e puni­
ção denomina-se:
a) delinqüente essencial;
b) psicopata;
CursoSConcurso

Questões diversas
20 (DP/SP 03/92) A dosagem de fosfatase ácida na
(DP/SP 01/89) A positividade da reação de identificação de esperma constitui uma prova de:
Adler significa que: a) orientação;
a) o material examinado pode ser sangue; b) probabilidade;

b) o material examinado certamente é sangue; c) certeza;


d) individualização.
c) o material examinado é sangue humano;
d) o material examinado é sangue de deter­
minado indivíduo.

W l (DP/SP 04/91 e DP/SP 01/92) A dosagem de


fosfatase ácida em material colhido da vagina
é realizada com o objetivo de se comprovar:
a) a presença do esperma;
(DP/SP01/94B) A reação de Adler é uma pro­ b) a gravidez;
va de: c) o aborto;

a) orientação de que o material examinado é d) o parto recente.

sangue;
b) certeza de que o material examinado é
sangue;
c) orientação de que o material examinado é
esperma;
(DP/SP 01/90) Cristais de Teichmann se for­
d) certeza de que o material examinado é es­
mam a partir do:
perma.
a) esperma;
b) colostro;
c) sangue;
d) mecônio.

$ £ (DP/SP 01/89, DP/SP 03/89 e DP/SP 01/94A)


Em Medicina Legal, a dosagem de fosfatase
ácida é indicada na pesquisa de: (DP/SP 03/89) Os cristais de Teichmann ser­
vem como orientação na pesquisa de:
a) sangue;
a) secreção vaginal;
b) saliva;
b) esperma;
c) leite;
c) sangue;
d) esperma.
d) saliva.
Medicina Legal II

(DP/SP 03/93) Uma prova cristalográfica fei­ (DP/SP 05/93) A prova de Teichmann é con­
ta em material encontrado em local de crime siderada como prova de:
revelou, após as reações características, os a) suspeita;
cristais de Teichmann. Tal prova é positiva b) orientação;
para diagnóstico de: c) individualização;
a) saliva; d) certeza.
b) esperma;
c) sangue;
d) urina.

g j j (DP/SP 02/88 e DP/SP 01/94B) Os cristais de


Florence são encontrados nas perícias médi-
co-legais de material retirado de manchas de:
(DP/SP 03/91) Os cristais de Florence e os de a) esperma;
Teichmann indicam que as manchas exami­ b) leite;
nadas são, respectivamente, de: c) sangue;
a) sangue e sangue; d) urina.
b) esperma e sangue;
c) esperma e esperma;
d) saliva e esperma.

|jjj^j (DP/SP 02/92) Os cristais de Florence indi­


cam que o material examinado é:
a) provavelmente sangue;
(DP/SP 03/92) Ao exame de determinada b) provavelmente esperma;
mancha em tecido, obtiveram-se cristais de c) certamente sangue;
Teichmann. A mancha é: d) certamente esperma.
a) provavelmente do sangue;
b) certamente de sangue;
c) de sangue humano;
d) de sangue de determinado indivíduo.

(DP/SP 03/89) Uma criança com tipo san­


guíneo AB, tendo como mãe uma mulher de
tipo sanguíneo A, deve ter por pai um homem
com sangue:
CursóSConcurso

a) obrigatoriamente do tipo B; a) Corin-Stokes e Baecchi;


b) do tipo B ou AB; b) Florence e Barbério;
c) do tipo B ou O; c) Robine Mello;
d) do tipo A ou B. d) Selingman e Roberts.

(DP/SP 01/2000) A pesquisa de esperma- E l (DP/SP 05/93) As reações de Florence e Barbé­


tozoides em secreção retirada do interior rio são as mais correntes para a pesquisa de:
da vagina, para a comprovação de conjunção a) cristais de ácido úrico na urina;
carnal, deve ser feita, habitualmente, atra­ b) líquido amniótico;
vés de:
c) esperma;
a) exame ao microscópio;
d) cristais de oxalatos na saliva.
b) dosagem de fosfatase ácida;
c) análise de DNA;
d) observação de cristais de Teichmann.

(DP/SP 03/92) A reação de Uhlenhuth, quan­


do positiva, indica:
a) apenas que o material analisado provavel­
J j J j j (DP/SP 05/91) Para diagnóstico de certeza na mente é sangue;
pesquisa de espermatozóide, emprega-se: b) apenas que o material analisado certa­
a) a reação de Florence; mente é sangue;
b) o reagente de Corin Stockes; c) que o material examinado é sangue de de­
c) a reação de Bokarius e De Dominicis; terminada espécie de animal;
d) a reação de Barbério. d) que o material examinado é provavelmen­
te diferente de sangue.

(DP/SP 03/93) Nos casos em que não é encon­


trado espermatozóide na secreção colhida da I ^ Q j (DP/SP 04/88 e DP/SP 02/93) Ao examinar
vagina de uma mulher vítima de estupro, será manchas nas roupas de um cadáver encontra­
necessária para a caracterização de esperma no do em um terreno baldio, o perito pesquisou,
material enviando para exame a reação de: preliminarmente, a formação de cristais de
Medicina Legal li

■■■
Barbério. Ora, partiu-se da suposição de que
| ^ j| (DP/SP 01/95) A prova de Verderau serve
a mancha era de:
para determinar:
a) sangue;
a) se o recém-nascido nasceu com vida;
b) saliva;
b) se a morte deu-se por intoxicação por ór-
c) mecònio; gano-fosforado;
d) esperma. c) se o disparo de arma de fogo foi à curta ou
longa distância;
d) se o ferimento foi post-mortem.

(DP/SP 01/95) Constituem provas de orien­


tação na perícia de sangue a prova de:
a) Van Deen; (DP/SP 01/95) Os cristais de Westenhofer~Ro-
b) Pacini-Hoffmann; cha~Valverde aparecem no sangue do cadáver:

c) Teichmann; a) 1 dia após a morte;

d) Winâendorff. b) 3 dias após a morte;


c) 8 dias após a morte;
d) 15 dias após a morte.
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Respostas

C apítulo 1— Balística forense

l-D 25-B 5-A 33-D

2-C 26-A 6-B 34-D

3-B 27-D 7-C 35-D

4-C 28-D 8-C 36-C

5-C 29-D 9-A 37-C

6-D 30-A 10-B 38-B

7-A 3 l-D 11-D 39-C

8-D 32-B 12-C 40-B

9-C 33-D 13-B 41-A

34-A 14-C 42-A


10-D
35-B 15-D 43-D
11-D
36-B 16-D 44-D
12-D
17-B 45-A
13-A 37-D
18-A 46-A
14-A 38-B
19-D 47-D
15-B 39-B
20-A 48-C
16-D 40-B
21-C 49-A
17-C 41-D
22-A 50-D
18-D 42-B
23-B 51-D
19-D 43-D
24-E 52-C
20-D 44-A
25-C 53-B
21-C 45-B
26-D 54-A
22-D 46-D
27-A ' 55-A
23-D 47-C
28-C 56-D
24-B
29-D 57-D

Capítulo II —- Sexologia forense 30-B 58-C

1-C 3-A 31-D 59-C

2-B 4-C 32-B 60-B


CursoSConcurso

61-B 68-D 63-C 66-A


62-D 69-D 64-A 67-C
63-A 70-B 65-C
64-C 71-B
Capítulo IV -- Toxlcologia
65-B 72-C
1-A 25-A
66-C 73-D
2-B 26-C
67-D 74-B
3-A 27-A
Capítulo III — Tanafologia 4-D 28-C
1-D 32-C 5-C 29-D
2-E 33-C 6-C 30-B
3-B 34-B 7-D 31-D
4-B 35-D 8-C 32-D
5-B 36-A 9-B 33-D
6-C 37-B 10-B 34-B
7-C 38-B 11-C 35-A
8-B 39-A 12-D 36-D
9-A 40-A 13-D 37-D
10-A 4,1~C f 14-B 38-D
11-B 42-B Í5-A 39-A
12-D 43-A 16-B 40-D
13-C 44-C 17-B 41-C
14-A 45-C 18-C 42-C
15-A 46-D 19-D 43-B
16-A 47-B 20-D 44-0
17-A 48-B 21-C 45-D
18-B 49-B 22-D 46-A
19-A 50-B 23-C 47-B
20-C 51-B 24-D
21-C 52-C
22-A 53-D C apítulo V - - Psicopatolo

23-B 54-D 1-A 10-C


24-A 55-C 2-A 11-C
25-D 56-A 3-E 12-D
26-D 57-A 4-C 13-B
27-C 58-D 5-B 14-B
28-B 59-B 6-A 15-D
29-C 60-D 7-A 16-C
30-A 61-C 8-A 17-A
31-A 62-C 9-C 18-A

178
Medicina Legal ii

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