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O Romantismo

Toda a arte é romântica, pois, embora possa ir buscar a sua matéria à vida
real, transforma-se, criando assim, um mundo novo, que necessariamente se
afasta, em maior ou menor grau, do mundo de todos os dias. A arte romântica
difere da arte clássica pelo maior ênfase que dá a este carácter de distância e
estranheza, com tudo o que esse ênfase pode implicar em termos da escolha e
do tratamento do material.
O romantismo, neste sentido genérico, não é um fenómeno de uma época bem
determinada, antes se manifestou em diversos momentos e sob diversas
formas.

“Liberdade guiando o povo” - Delacroix

Uma das características fundamentais do romantismo é o seu pendor para o


ilimitado, em dois sentidos diferentes, embora relacionados entre si. A arte
romântica aspira a transcender uma época ou um momento determinado, a
captar a eternidade, a recuar até aos confins do passado e projectar-se no
futuro, a abarcar o mundo inteiro e mesmo as vastas distâncias do cosmos.
Por oposição aos ideais clássicos da ordem, do equilíbrio, do autodomínio e da
perfeição dentro de limites bem definidos, o romantismo ama a liberdade, o
movimento, a paixão e a busca do inatingível.
A personalidade do artista confunde-se com a obra de arte; a clareza clássica
é substituída por uma certa obscuridade e ambiguidade intencional, a
afirmação clara pela sugestão, pela alusão ou pelo símbolo. As próprias artes
tendem a confundir-se uma com as outras; a poesia, por exemplo, pretende
adquirir as qualidades da música, e a música as características da poesia.
Se a distância e o ilimitado são românticos, então a música é a mais romântica
de todas as artes. O seu material – sons e ritmos sujeitos a uma determinada
ordem – está completamente desligado do mundo concreto dos objectos, e
esta característica confere, por si só, à música uma especial capacidade de
evocar o fluxo das impressões, dos pensamentos e das emoções que é do
domínio próprio da arte romântica. Só a música instrumental – música pura ,
livre do peso das palavras – pode atingir de forma perfeita este objectivo de
comunicar emoções. A música instrumental é, por conseguinte, a arte
romântica ideal. O seu alheamento do mundo, o seu mistério e o seu
incomparável poder de sugestão, actuando directamente sobre o espírito, sem
a mediação das palavras, fizeram dela a arte dominante, a mais representativa
de todas as artes do século XIX.

“Chuva, vapor e velocidade”


William Turner

“incêndio na Câmara dos Comuns”


William Turner
Biografia

Giuseppe Verdi nasceu em Roncole, perto de Bussetto, a 10 de


Outubro de 1813 e faleceu em Milão, a 27 de Janeiro de 1901.
Verdi impôs-se como um dos dois gigantes da arte lírica do século XIX.
Estreada em 1842 no scala de Milão, a sua terceira ópera, Nabucco,
trouxe-lhe uma glória confirmada no seguinte por os Lombardos.
A Itália tinha enfim encontrado o compositor cujas preocupações
morais, políticas e estéticas correspondiam às mais profundas
aspirações populares.
Os anos 50 desse século, com Rigoletto (1851), O Trovador e La
Traviata (1853), marcaram uma viragem maior numa obra glorificada
pelo mundo inteiro e que conheceria novos cumes com Um Baile de
máscaras (1859) , Don Carlos (1867), Aída (1871), Otello (1887) e
Falstaff (1893), sem esquecer o célebre Requiem, escrito em 1874.
Hoje ainda, e não somente em Itália, o nome de Giuseppe Verdi é
sinónimo de arte popular, no sentido mais nobre do termo.
Giuseppe Verdi – obra

A carreira de Giuseppe Verdi resume praticamente a história da música


italiana nos cinquentas anos que se seguiram às óperas de Donizetti.
Com excepção de Requiem e algumas outras composições sobre textos
sagrados, de um pequeno número de canções e um quarteto de cordas,
todas as obras publicadas de Verdi foram escritas para o palco. A
primeira destas vinte e seis obras foi produzida em 1839 e a última em
1893.
Verdi nunca cortou com o passado nem fez experiências radicais com
base em teorias novas, a sua evolução foi no sentido de um refinamento
progressivo da concepção e das técnicas, e a verdade é que, ao cabo
deste processo, Verdi levou a ópera italiana a um grau de perfeição
nunca ultrapassado depois dele.
Um desenvolvimento normal, tão diferente do curso que tomavam as
mutações musicais nos países do Norte, só foi possível porque a Itália
possuía uma longa e ininterrupta tradição lírica. A ópera era aí
acarinhada por um povo inteiro, o conflito entre o artista e a sociedade
- como, de resto, boa parte das outras contradições subjacentes à
atitude romântica na Alemanha e a França – não existia em Itália. A
única questão de fundo que afectou profundamente a música italiana foi
o nacionalismo, mas nesse aspecto Verdi deu mostras da maior firmeza.
Verdi acreditava que cada nação devia cultivar o tipo de música que lhe
era próprio, manteve, no seu estilo musical, a mais resoluta
independência e deplorou sempre a influência das ideias estrangeiras
sobre as obras dos compatriotas mais jovens. Muitas das primeiras
óperas incluem coros que eram apelos mal disfarçados ao patriotismo
dos compatriotas em luta pela unidade nacional e contra a dominação
estrangeira nos anos agitados do renascimento nacional, a popularidade
de Verdi aumentou ainda mais quando o seu nome se converteu num
símbolo patriótico e num grito de revolta.
Outra característica ainda mais profunda e basicamente nacional era ,
em Verdi, a adesão incondicional ao ideal da ópera como drama humano
– contrastando com o ênfase dada na Alemanha à natureza romantizada
e ao simbolismo mitológico -, drama que devia ser expresso
fundamentalmente através de uma melodia vocal solística simples e
directa, por oposição à exuberância coral e orquestral da grande ópera
francesa. A independência de Verdi não era, no entanto, absoluta, nem
podia sê-lo. Além da influência genial de Beethoven, a quem venerava
mais do que a qualquer outro compositor, e da evidente dívida para com
os seus antecessores Donizetti, Bellini, Rossini, Verdi aprendeu muito
com a harmonia e a orquestração de Meyerbeer, mas nunca aceitou o
que quer que fosse sem ter primeiro assimilado plenamente,
integrando-o na linguagem pessoal.
A vida criadora de Verdi pode ser dividida em três fases, culminando a
primeira Il trovatore e La traviata (1853) e a segunda em Aída (1871), da
terceira apenas fazem parte Otelo (1887) e Falstaff (1893). Com
excepção de Falstaff e de uma obra de juventude que não foi bem
recebida pelo público, todas as obras de Verdi são sérias. Os temas
foram, na sua maioria, adaptados pelos libretistas a partir de textos de
vários autores românticos: Schiller , Vítor Hugo, Dumas Filho, Byron,
Sribe ou de dramaturgos espanhóis; de Shakespeare, além de Macbeth,
foram extraídos os temas das duas últimas óperas, habilmente
adaptados por um amigo de Verdi, o poeta e compositor Arrigo Boito
(1842-1918); o arbumento de Aída foi desenvolvido a partir de um
enredo esboçado por um egiptólogo francês, Mariette, quando esta
ópera foi encomendada Verdi.
As principais exigências de Verdi em matéria de libretos eram a
presença de emoções fortes e de contrastes acentuados, bem como a
rapidez da acção, a plausabilidade da intriga não era fundamental. Por
conseguinte, a maior parte dos enredos são melodramas tempestuosos
e sangrentos, cheios de personagens inverosímeis e de coincidências
ridículas, mas com inúmeras oportunidades para as melodias animadas,
vigorosas e violentas, que são particularmente características do
primeiro estilo de Verdi. Alguns aspectos estruturais são comuns a
muitas das óperas de Verdi. Na sua forma mais típica, a ópera de Verdi
é em quatro grandes partes – quatro actos, ou três actos e um prólogo,
ou três actos divididos em cenas, por forma a aproximar-se da divisão
quadripartida, a segunda e a terceira partes têm importantes finais de
conjunto, na terceira há geralmente um grande dueto, e a quarta
começa muitas vezes com uma cena de oração ou outra forma de
meditação para um solista, muitas vezes acompanhado pelo coro. Este
esquema demonstrou a sua eficácia em termos teatrais, como o atesta o
facto de Verdi, depois de o adoptar nas primeiras obras, o ter
conservado, sem grandes alterações, até mesmo na Aída e no Otelo.

Teatro La Scala de Milão, onde, entre outras, estrearam as óperas Otelo e Falstaff
Descrição de três obras

Il Trovatore
Um texto discutível aliado a uma musicalidade contagiante, cheio de
temperamentos efusivos, mas também contendo melodias
introspectivas, como é o caso do coro das freiras, e a Ai Nostri Monti
fazendo parte da cena final. O enredo foi extraído de um drama
espanhol, que conta a história de uma criança abandonada, e de uma
cigana mentalmente perturbada, que deseja vingar a morte de sua mãe
na fogueira; do amor de uma nobre dama espanhola por um
desconhecido, e o feito cruel do conde que a deseja em vão e assassina
seu rival para depois constatar que o desconhecido não era filho da
cigana, mas seu próprio irmão. Matança, sangue, assassinatos, ódio,
dramas, vingança constituem o violento pano de fundo deste drama
fatal, de acordo com o espírito da época, em contraste com o terno
amor de Leonora, que despreza a morte, e com a doçura maternal da
cigana. Rossini não estaria com razão quando afirmou que Verdi fora
excepcionalmente dotado para esse género de libreto? Il Trovatore,
cantado com possantes vozes de brio italiano, atinge ainda hoje
sensacional efeito.

La Traviata
Soou pela primeira vez no dia 6 de Março de 1853 no Teotro Fenice em
Veneza, Verdi desenvolve aqui um tema contemporâneo, de flagrante
actualidade, retirado do romance de Alexandre Dumas Filho, de grande
sucesso, A Dam das Camélias. Essa mulher foi uma personagem
supostamente verídica, uma jovem do demi-monde parisiense que
conquistou os corações de personalidades ilustres (entre as quais o
próprio Dumas e, segundo se diz, também Liszt) chamada Alphonsine
Duplessis, que teria morrido tísica com 24 anos de idade, sendo
sepultada em um sumptuoso túmulo de mármore num dos velhos
cemitérios de Paris. Dumas troca-lhe o nome para Marguerite Gautier, e
o fiel libretista de Verdi, Piave, a denomina Violetta Valéry. As maiores
intérpretes do teatro disputaram esse papel, e na cena lírica La Traviata
comprovou-se como um evento totalmente inédito: a morte causada por
uma inevitável moléstia, em lugar dos costumeiros punhais, venenos e
batalhas; a vida social contemporâneas dos salões, salas de jogo, salões
de baile, o idílio do amor campestre abrem novas perspectivas ao
compositor. Em vez da heroína, que em Cherubini, Bellini, Donizetti e
nas obras anteriores do próprio Verdi padecia de morte nobre, temos
agora a mulher que vive na sua época, não mais em palácios e castelos,
ou no meio de acontecimentos bíblicos ou históricos, porém inserida no
século da burguesia, o século XIX, nas festas do mundo elegante, na
idílica vida a dois numa propriedade campestre, em delírios do prazer
sensual, ou no silêncio de uma jovem vida que se extingue. Verdi
concebe a sua La Traviata com uma surpreendente riqueza vocal,
comparável aos aspectos físicos da personagem apresentada por
Dumas. Violetta Valéry veio a ser um excepcional papel para belas vozes
de soprano, exigindo não só técnica vocal como também capacidade
dramática.
O público da noite de estreia, no entanto, pareceu não se emocionar
muito com tudo isso; justifica-se a indiferença por um erro da direcção
e da escolha de uma intérprete excessivamente robusta para o papel da
jovem tísica. Mais tarde a frieza desse público cederia aos rios de
lágrimas que ainda haveriam de correr. Verdi, porém, objectivo e
aparentemente desinteressado como sempre fora, telegrafou a um
amigo após a malfadada noite: “Noite passada, La Traviata, um fracasso.
Minha culpa ou dos intérpretes? Os tempos julgarão.” Na verdade, não
foi preciso esperar por muito tempo: com uma nova apresentação da
obra em outro teatro de Veneza, a 6 de Maio de 1854, tem início a
trajectória triunfal da ópera La Traviata pelo mundo fora.
Aída
No ano de 1870 Verdi tranquilo nos seus amados campos de Sant’Agata
quando recebe uma incumbência incomum. Melhor dizendo, uma
solicitação, pois o destacado maestro já não se inclina mais perante
incumbências. Alguns meses antes fora fundado no promissor Egipto
um teatro de ópera em estilo italiano, estreando com o Rigoletto de
Verdi. Naquele momento Cairo converte-se no palco dos
acontecimentos mundiais com a abertura do Canal do Suez, construído
pelo francês Lesseps, que vem facilitar as comunicações marítimas entre
o Ocidente e o Oriente. Uma ópera comemorativa seria o evento ideal
para coroar as festividades programadas. Num vasto leque de
compositores destacou-se o nome de Verdi, num primeiro momento ele
nem queria ouvir falar no assunto, mas certo dia recebe uma
correspondência anónima contendo um interessante argumento para
uma ópera egípcia. Ele exigia 150,000 francos em ouro, uma pequena
fortuna que nenhum outro compositor jamais exigiu. As suas exigências
são atendidas e Verdi dá inicio ao trabalho de Aída.
O respeitado egiptólogo francês Mariette Bey havia esboçado a história
durante as surpreendentes escavações de que participara no vale do
Nilo, enquanto o director da ópera Cómica de Paris, Camille du Locle, a
escreveu. Verdi passou as responsabilidades da versão italiana do
libreto a António Ghislanzoni e contribuiu com não poucas ideias e
sugestões, como costumava fazer com quase todas as suas óperas. A
composição manteve-o ocupado durante os últimos meses de 1870,
mas a estreia teve de ser adiada. A guerra Franco-Prussiana e o cerco de
Paris fizeram com que se tornasse inviável o transporte para o Cairo dos
cenários e figurinos, confeccionados nessa cidade. Assim é que, a 24 de
Dezembro de 1871, ocorreu a histórica estreia de Aída, gravada com
letras douradas na história da música. A encenação e o sucesso foram
grandiosos. Centenas de egípcios representaram a si mesmos nas
brilhantes cenas de multidão. Músicos militares do Egipto, atendendo às
solicitações do próprio Verdi, soaram seus longos trompetes de prata,
no cortejo triunfal de Radamés; a cena do pôr-do-sol sobre o Nilo não
resultara exótica, mas autêntica. Um público de um milhar de pessoas
aclamou com entusiasmo o compositor – mas ele não viera, pois não
suportava viagens marítimas. O “camponês” não confiava no mar.
Entretanto, passaram-se apenas algumas semanas até que ele pudesse
ver sua criação predilecta ganhar vida sobre o palco. A 7 de Fevereiro de
1872, ele, que não era dado ao sentimentalismo, curvou-se comovido
frente às homenagens do seu povo, no Scala de Milão, considerando
esta como sendo a última obra de uma carreira já dada por encerrada há
tempos. No final desta ópera, que termina tão suavemente, sucedeu
uma tempestade de aplausos, obrigando Verdi a retornar repetidas
vezes à cena. Aída contém, em proporções exactas, com exemplar
equilíbrio, tudo aquilo que é necessário em termos de sensibilidade
musical e efeito cénico para cativar o público. Ao lado das cenas
festivas, as marchas triunfais, as canções e danças dos escravos, os
conflitos dos prisioneiros, etc, inserem-se momentos de total
interiorização. A fúria do ciúme da filha do faraó, Amneris, soa de modo
totalmente diferente do amor da refém da etíope, Aída ; o magnífico
herói Radamés protesta, de forma comovente, contra a acusação injusta
de alta traição; o príncipe da Abissínia, Amonasro, incógnito entre os
prisioneiros de guerra, invoca a imagem cruel e sangrenta da Pátria,
incitando a filha Aída a lutar contra o povo de seu amado. Portanto, essa
obra não poderia terminar de outra maneira qual não fosse a morte dos
amantes, numa das mais lindas cenas de toda a literatura operística. Em
um íntimo abraço, os dois seres partem deste mundo para pertencer um
ao outro na eternidade. Duas vozes que se fundem em uma melodia
indescritivelmente doce, ao som de um violino que os acompanha até ao
paraíso.
Aída de Verdi percorreu o mundo numa velocidade admirável, mesmo
em comparação aos dias de hoje, com meios de comunicação muito
mais rápidos e possibilidades técnicas incomparavelmente superiores
em todos os aspectos. Todos os teatros importantes de ópera
executaram-na num intervalo de poucos anos, frequentemente com o
texto traduzido.
Companhias intinerantes levaram-na aos mais longínquos recantos da
Terra onde a cultura europeia pudesse chegar. Uma batuta de marfim
repousa no estúdio de trabalho de verdi, com uma inscrição em pedras
preciosas: ”Aída”, um presente vindo Oriente, lembrando a memorável
estreia de Aída. Verdi lamenta com ironia: “Logo essa ópera, à qual dei o
mais curto dos nomes...”

Aída em representação
Obras realizadas

Ernani 1833
Oberto 1839
Nabucco 1842
I lombardi 1843
I due foscari 1844
Alzira 1845
Giovanna d’Arco 1845
Attila 1846
Macbeth 1847
I masnadieri 1847
Il corsaro 1848
La battaglia di legnano 1849
Luisa Miller 1849
Stiffelio 1850
Rigoletto 1851
Il trovatore 1853
Les vêpres siciliennes 1855
Uno ballo in maschera 1859
La forza del destino 1862
Don Carlos 1867
Aída 1871
Otelo 1887
Falstaff 1893
Índice

O romantismo

Biografia

Giuseppe Verdi – obra

Descrição de três obras

Obras realizadas
Giuseppe Verdi
Vida e obra

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