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Toda a arte é romântica, pois, embora possa ir buscar a sua matéria à vida
real, transforma-se, criando assim, um mundo novo, que necessariamente se
afasta, em maior ou menor grau, do mundo de todos os dias. A arte romântica
difere da arte clássica pelo maior ênfase que dá a este carácter de distância e
estranheza, com tudo o que esse ênfase pode implicar em termos da escolha e
do tratamento do material.
O romantismo, neste sentido genérico, não é um fenómeno de uma época bem
determinada, antes se manifestou em diversos momentos e sob diversas
formas.
Teatro La Scala de Milão, onde, entre outras, estrearam as óperas Otelo e Falstaff
Descrição de três obras
Il Trovatore
Um texto discutível aliado a uma musicalidade contagiante, cheio de
temperamentos efusivos, mas também contendo melodias
introspectivas, como é o caso do coro das freiras, e a Ai Nostri Monti
fazendo parte da cena final. O enredo foi extraído de um drama
espanhol, que conta a história de uma criança abandonada, e de uma
cigana mentalmente perturbada, que deseja vingar a morte de sua mãe
na fogueira; do amor de uma nobre dama espanhola por um
desconhecido, e o feito cruel do conde que a deseja em vão e assassina
seu rival para depois constatar que o desconhecido não era filho da
cigana, mas seu próprio irmão. Matança, sangue, assassinatos, ódio,
dramas, vingança constituem o violento pano de fundo deste drama
fatal, de acordo com o espírito da época, em contraste com o terno
amor de Leonora, que despreza a morte, e com a doçura maternal da
cigana. Rossini não estaria com razão quando afirmou que Verdi fora
excepcionalmente dotado para esse género de libreto? Il Trovatore,
cantado com possantes vozes de brio italiano, atinge ainda hoje
sensacional efeito.
La Traviata
Soou pela primeira vez no dia 6 de Março de 1853 no Teotro Fenice em
Veneza, Verdi desenvolve aqui um tema contemporâneo, de flagrante
actualidade, retirado do romance de Alexandre Dumas Filho, de grande
sucesso, A Dam das Camélias. Essa mulher foi uma personagem
supostamente verídica, uma jovem do demi-monde parisiense que
conquistou os corações de personalidades ilustres (entre as quais o
próprio Dumas e, segundo se diz, também Liszt) chamada Alphonsine
Duplessis, que teria morrido tísica com 24 anos de idade, sendo
sepultada em um sumptuoso túmulo de mármore num dos velhos
cemitérios de Paris. Dumas troca-lhe o nome para Marguerite Gautier, e
o fiel libretista de Verdi, Piave, a denomina Violetta Valéry. As maiores
intérpretes do teatro disputaram esse papel, e na cena lírica La Traviata
comprovou-se como um evento totalmente inédito: a morte causada por
uma inevitável moléstia, em lugar dos costumeiros punhais, venenos e
batalhas; a vida social contemporâneas dos salões, salas de jogo, salões
de baile, o idílio do amor campestre abrem novas perspectivas ao
compositor. Em vez da heroína, que em Cherubini, Bellini, Donizetti e
nas obras anteriores do próprio Verdi padecia de morte nobre, temos
agora a mulher que vive na sua época, não mais em palácios e castelos,
ou no meio de acontecimentos bíblicos ou históricos, porém inserida no
século da burguesia, o século XIX, nas festas do mundo elegante, na
idílica vida a dois numa propriedade campestre, em delírios do prazer
sensual, ou no silêncio de uma jovem vida que se extingue. Verdi
concebe a sua La Traviata com uma surpreendente riqueza vocal,
comparável aos aspectos físicos da personagem apresentada por
Dumas. Violetta Valéry veio a ser um excepcional papel para belas vozes
de soprano, exigindo não só técnica vocal como também capacidade
dramática.
O público da noite de estreia, no entanto, pareceu não se emocionar
muito com tudo isso; justifica-se a indiferença por um erro da direcção
e da escolha de uma intérprete excessivamente robusta para o papel da
jovem tísica. Mais tarde a frieza desse público cederia aos rios de
lágrimas que ainda haveriam de correr. Verdi, porém, objectivo e
aparentemente desinteressado como sempre fora, telegrafou a um
amigo após a malfadada noite: “Noite passada, La Traviata, um fracasso.
Minha culpa ou dos intérpretes? Os tempos julgarão.” Na verdade, não
foi preciso esperar por muito tempo: com uma nova apresentação da
obra em outro teatro de Veneza, a 6 de Maio de 1854, tem início a
trajectória triunfal da ópera La Traviata pelo mundo fora.
Aída
No ano de 1870 Verdi tranquilo nos seus amados campos de Sant’Agata
quando recebe uma incumbência incomum. Melhor dizendo, uma
solicitação, pois o destacado maestro já não se inclina mais perante
incumbências. Alguns meses antes fora fundado no promissor Egipto
um teatro de ópera em estilo italiano, estreando com o Rigoletto de
Verdi. Naquele momento Cairo converte-se no palco dos
acontecimentos mundiais com a abertura do Canal do Suez, construído
pelo francês Lesseps, que vem facilitar as comunicações marítimas entre
o Ocidente e o Oriente. Uma ópera comemorativa seria o evento ideal
para coroar as festividades programadas. Num vasto leque de
compositores destacou-se o nome de Verdi, num primeiro momento ele
nem queria ouvir falar no assunto, mas certo dia recebe uma
correspondência anónima contendo um interessante argumento para
uma ópera egípcia. Ele exigia 150,000 francos em ouro, uma pequena
fortuna que nenhum outro compositor jamais exigiu. As suas exigências
são atendidas e Verdi dá inicio ao trabalho de Aída.
O respeitado egiptólogo francês Mariette Bey havia esboçado a história
durante as surpreendentes escavações de que participara no vale do
Nilo, enquanto o director da ópera Cómica de Paris, Camille du Locle, a
escreveu. Verdi passou as responsabilidades da versão italiana do
libreto a António Ghislanzoni e contribuiu com não poucas ideias e
sugestões, como costumava fazer com quase todas as suas óperas. A
composição manteve-o ocupado durante os últimos meses de 1870,
mas a estreia teve de ser adiada. A guerra Franco-Prussiana e o cerco de
Paris fizeram com que se tornasse inviável o transporte para o Cairo dos
cenários e figurinos, confeccionados nessa cidade. Assim é que, a 24 de
Dezembro de 1871, ocorreu a histórica estreia de Aída, gravada com
letras douradas na história da música. A encenação e o sucesso foram
grandiosos. Centenas de egípcios representaram a si mesmos nas
brilhantes cenas de multidão. Músicos militares do Egipto, atendendo às
solicitações do próprio Verdi, soaram seus longos trompetes de prata,
no cortejo triunfal de Radamés; a cena do pôr-do-sol sobre o Nilo não
resultara exótica, mas autêntica. Um público de um milhar de pessoas
aclamou com entusiasmo o compositor – mas ele não viera, pois não
suportava viagens marítimas. O “camponês” não confiava no mar.
Entretanto, passaram-se apenas algumas semanas até que ele pudesse
ver sua criação predilecta ganhar vida sobre o palco. A 7 de Fevereiro de
1872, ele, que não era dado ao sentimentalismo, curvou-se comovido
frente às homenagens do seu povo, no Scala de Milão, considerando
esta como sendo a última obra de uma carreira já dada por encerrada há
tempos. No final desta ópera, que termina tão suavemente, sucedeu
uma tempestade de aplausos, obrigando Verdi a retornar repetidas
vezes à cena. Aída contém, em proporções exactas, com exemplar
equilíbrio, tudo aquilo que é necessário em termos de sensibilidade
musical e efeito cénico para cativar o público. Ao lado das cenas
festivas, as marchas triunfais, as canções e danças dos escravos, os
conflitos dos prisioneiros, etc, inserem-se momentos de total
interiorização. A fúria do ciúme da filha do faraó, Amneris, soa de modo
totalmente diferente do amor da refém da etíope, Aída ; o magnífico
herói Radamés protesta, de forma comovente, contra a acusação injusta
de alta traição; o príncipe da Abissínia, Amonasro, incógnito entre os
prisioneiros de guerra, invoca a imagem cruel e sangrenta da Pátria,
incitando a filha Aída a lutar contra o povo de seu amado. Portanto, essa
obra não poderia terminar de outra maneira qual não fosse a morte dos
amantes, numa das mais lindas cenas de toda a literatura operística. Em
um íntimo abraço, os dois seres partem deste mundo para pertencer um
ao outro na eternidade. Duas vozes que se fundem em uma melodia
indescritivelmente doce, ao som de um violino que os acompanha até ao
paraíso.
Aída de Verdi percorreu o mundo numa velocidade admirável, mesmo
em comparação aos dias de hoje, com meios de comunicação muito
mais rápidos e possibilidades técnicas incomparavelmente superiores
em todos os aspectos. Todos os teatros importantes de ópera
executaram-na num intervalo de poucos anos, frequentemente com o
texto traduzido.
Companhias intinerantes levaram-na aos mais longínquos recantos da
Terra onde a cultura europeia pudesse chegar. Uma batuta de marfim
repousa no estúdio de trabalho de verdi, com uma inscrição em pedras
preciosas: ”Aída”, um presente vindo Oriente, lembrando a memorável
estreia de Aída. Verdi lamenta com ironia: “Logo essa ópera, à qual dei o
mais curto dos nomes...”
Aída em representação
Obras realizadas
Ernani 1833
Oberto 1839
Nabucco 1842
I lombardi 1843
I due foscari 1844
Alzira 1845
Giovanna d’Arco 1845
Attila 1846
Macbeth 1847
I masnadieri 1847
Il corsaro 1848
La battaglia di legnano 1849
Luisa Miller 1849
Stiffelio 1850
Rigoletto 1851
Il trovatore 1853
Les vêpres siciliennes 1855
Uno ballo in maschera 1859
La forza del destino 1862
Don Carlos 1867
Aída 1871
Otelo 1887
Falstaff 1893
Índice
O romantismo
Biografia
Obras realizadas
Giuseppe Verdi
Vida e obra