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História da Música e Análise IV Licenciatura em Música

Professora: Elisa Lessa Andreia Pinto Castro A87113

O. Messiaen

“Quarteto para o Fim dos Tempos”

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ÍNDICE

Introdução.....................................................................................................................3
Olivier Messiaen...........................................................................................................4
Quarteto para o Fim dos Tempos..................................................................................7
Comentários Analíticos da Obra...................................................................................9
Exemplo de Gravação da Obra...................................................................................11
Webgrafia...................................................................................................................12

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INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa acerca de Olivier Messiaen e a sua famosa obra, Quarteto para o Fim
dos Tempos, procura-se aprofundar os conhecimentos acerca deste incrível
compositor do século XX e do quão revolucionária foi alguma da sua música,
nomeadamente a obra em questão devido às suas características e ideias únicas que
trouxeram novas ideias e enriqueceram a cultura musical na época.

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Olivier Messiaen
Oliver Messiaen nasceu a 10 de dezembro de 1908 em Avignon e faleceu a 28 de
abril de 1992 em Paris. Foi um compositor, organista e professor de francês e à parte
disse era músico. As fontes da sua música podem ser atribuídas, por um lado, à
tradição dos órgãos franceses e, por outro, às inovações de Debussy, Stravinsky e
Bartók. No entanto, logo no início da sua carreira, encontrou um sistema modal com
um som completamente individual, e assim permaneceu-se fiel a esse sistema,
mesmo quando ampliou consideravelmente as possibilidades do seu estilo após a
Segunda Guerra Mundial. Messiaen estava sozinho na sua alegre fé católica entre os
principais compositores do século XX que era novamente inabalável, por mais que ele
tenha valorizado culturas não europeias, especialmente indianos e japoneses. Como
professor, instruiu muitos dos compositores mais importantes das próximas duas
gerações.

De uma certa forma a vida de Messiaen como artista começou antes de ele nascer,
pois a sua mãe, Cécile Sauvage, escreveu um ciclo de poemas durante a gravidez,
L'âme en bourgeon, ao qual o seu futuro filho é obviamente referido. Ele orgulhava-se
disso e, aos sessenta anos, gravou uma sequência de improvisações de órgãos nos
poemas e também escreveu o prefácio para uma republicação destas em 1991. O seu
pai era Pierre Messiaen, professor de inglês e tradutor de Shakespeare, de quem
Messiaen herdou, à exceção das habilidades linguísticas (ele era monoglota).
Messiaen tinha uma grande admiração pelas peças de Shakespeare, que como um
menino de oito a dez anos, ele apresentou em cinemas para seu irmão mais novo,
Alain. Entre as idades de sete e nove anos, começou também a compor e a tocar
piano. Por volta dessa altura, a família estava em Grenoble, exceto Pierre, que estava
em serviço de guerra no exército.

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De acordo com o próprio relato de Messiaen, ele começou na música sem professor
e era igualmente independente de qualquer estímulo à devoção religiosa que sentia
desde tenra idade.

Após a guerra, a família se reuniu em Nantes. Eles estavam lá por apenas seis meses,
mas durante esse tempo Messiaen conheceu seus primeiros professores: Véron e
Gontran Arcouët de piano e Jehan de Gibon de harmonia. Messiaen já era
musicalmente sofisticado e, desta forma, como presentes de Natal, exigia partituras
vocais operísticas e, portanto, estava familiarizado com obras de Mozart, Gluck,
Berlioz e Wagner, para além de peças de piano de Debussy e Ravel. O seu professor
de harmonia, Gibon deu-lhe a partitura da obra Pelléas et Mélisande de Debussy, e
isso o surpreendeu bastante. Em 1919, a sua família mudou-se para Paris, e ele
entrou no Conservatório ainda muito jovem.

Além de Jean Gallon, e do seu irmão Noël, com quem teve aulas particulares ao longo
dos anos de Conservatório, seus professores foram também Georges Falkenberg de
piano, Georges Caussade de contraponto e fuga, César Abel Estyle de
acompanhamento de piano, Marcel Dupré de órgão e improvisação, Maurice
Emmanuel de história da música, Paul Dukas de composição e por fim Joseph
Baggers de tímpanos e percussão. Este último estudo de Messiaen sugeriu que ele já
estava talvez motivado por Les noces, de Stravinsky, que ele viu naquele momento,
olhando além das normas ocidentais. Certamente outros professores poderiam ter
dado também algum incentivo nessa direção. Os professores Dupré e Dukas também
apontaram para a modalidade e foram modelos para o aluno de outras maneiras:
Dupré mostrou que o órgão, para o qual Messiaen foi atraído como compositor
católico, poderia ser um instrumento virtuoso e Dukas forneceu um exemplo de
consciência artística.

A nova música em Paris naquela época era representada principalmente por


Stravinsky e pelos ex-membros mais proeminentes de Les Six: Honegger, Milhaud e
Poulenc.

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Messiaen admirava algumas obras de todos esses compositores, e a obra Le sacre
du printemps era vital para ele.

Em 1930, Messiaen deixou o Conservatório e, em setembro de 1931, assumiu o cargo


de organista na Igreja da Trinité, em Paris, onde por mais de 60 anos foi encarregado
de um dos grandes instrumentos de Cavaillé-Coll que era um construtor de órgãos
francês. Os seus principais trabalhos dos próximos anos foram todos para o seu
próprio instrumento ou para a orquestra, ou para ambos, desde que L'Ascension
(1932–34) foi disponibilizado nas duas formas. Qualquer que fosse o género, o
objetivo declarado da sua música era o mesmo, e permaneceu o mesmo até sua
morte. Assim o objetivo era para manifestar as doutrinas da fé cristã. O seu maior
trabalho do período foi o ciclo de órgãos La Nativité du Seigneur (1935). L'Ascension
tinha sido precedido por peças orquestrais relacionadas com o pecado e a redenção.
Outras das suas obras que foram Les offrandes oubliées (1930), Le tombeau
resplendissant (1931) e Hymne au Saint-Sacrement (1932).

Durante a Batalha de França, Messiaen foi feito prisioneiro de guerra, e enquanto


estava aprisionado compôs o Quatuor pour la fin du temps ("Quarteto para o fim dos
tempos") para os quatro instrumentos disponíveis: piano, violino, violoncelo e
clarinete. A obra foi estreada por Messiaen e pelos seus amigos prisioneiros perante
uma audiência de reclusos e guardas prisionais. Ao sair da prisão em 1941, Messiaen
foi nomeado professor de harmonia, e, em 1966, professor de composição no
Conservatório de Paris, até à sua reforma em 1978. Compôs ainda uma sinfonia
(Turangalîla Symphonie) onde utiliza o instrumento denominado Ondes Martenot, que
era um instrumento musical eletrónico com teclado, criado em 1928 por Maurice
Martenot. Trata-se de um dos instrumentos musicais eletrónicos iniciais, e era
originalmente muito semelhante ao teremim. Produz um som ondulante com válvulas
termiónicas de frequência oscilatória. Na sua obra, de inspiração mística, a linguagem
musical caracteriza-se por um ritmo novo e elementos exóticos. Messiaen ao longo
da sua vida produziu muitas obras e teve grande sucesso devido à unicidade do seu
estilo.

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Em 1978, Messiaen foi obrigado a se reformar do Conservatório devido às regras de
idade. Ensinou análise desde 1947 e composição desde 1966, e alguns dos seus
alunos foram Barraqué, Stockhausen, Xenakis, Goehr, Murail e George Benjamin.

Messiaen adorava ensinar, amava os seus alunos e mantinha contacto com muitos
deles. Mas a reforma deu-lhe mais oportunidade para viajar pelo mundo em busca de
performances. Ele tornou-se uma figura familiar nas salas de concerto: benigno,
sorriso gentil, sempre acompanhado por Loriod, atento e cortês com quem quisesse
fazer perguntas ou pedir um autógrafo, habitualmente sem gravata, exceto quando
fossem necessárias roupas de noite. Entre as muitas honras concedidas a Messiaen
durante o seu último quarto de século, está o nome de uma montanha de Utah, o
Monte Messiaen.

Quarteto para o Fim dos Tempos


Messiaen estava incorporado no exército Francês em 1939, e em 1940 o compositor
é capturado e transportado para um campo provisório e, mais tarde, para o campo de
prisioneiros de Stalaga, na cidade de Görlitz na Silésia, a leste da cidade de Dresden.
Foi aqui em condições precárias que o compositor compôs o “Quarteto para o fim dos
Tempos”, uma das suas poucas obras para música de câmara, mas certamente uma
das mais simbólicas de todo século. Uma das suas grandes influências, foi Claude
Debussy, cuja ópera Pelléas et Melissande foi, nas palavras de Messiaen, uma
verdadeira revelação.

No que toca à génese do quarteto, a princípio Messiaen escreveu uma pequena peça
para Violino , Violoncelo e clarinete, intitulada Intermède, para ser interpretada por
outros três prisioneiros: O violinista Jean Le Boulaire, o viloncelista Étienne Pasquier
e o clarinetista Henri Akoka, a quem o compositor se juntou, mais tarde, quando
conseguiu arranjar um piano.

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Todo o Quarteto foi escrito progressivamente à volta desta secção, que acabou por
se tornar no seu quarto andamento que tem o nome de “Intermède”. No entanto, não
é certo se ao escrever a obra o compositor tinha uma ideia predefinida da sua estrutura
final, ou se os andamentos foram acrescentados um a um, de forma mais espontânea.

O quarteto foi escrito “Em homenagem ao Anjo do Apocalipse, que levanta a mão ao
céu e diz: ‘Não haverá mais tempo’.” De facto, a mensagem religiosa, mesmo se
subjetiva, era central para Messiaen e quase toda a sua obra musical gira à volta dela.
Para o compositor, a música era um meio para exprimir a sua fé e não um fim em si.
Nesta perspetiva, podemos então dizer que Messiaen foi um compositor deveras
original. Como nos indica a dedicatória do quarteto, o compositor baseou-se no
décimo capítulo do livro do Apocalipse de São João, o último livro da bíblia, que
Messiaen cita, com adaptações, no prefácio à partitura. No entanto o próprio
compositor afirmou: “Não quis, de forma alguma, fazer um comentário do Apocalipse,
mas simplesmente motivar o meu desejo de cessação com o tempo.” Ideia que, no
Quarteto, é sobretudo representada pela incerteza rítmica generalizada. A estreia da
obra deu-se a 15 de janeiro de 1941 no campo de detenção.

Antes da sua execução, Messiaen deu uma palestra dizendo aos prisioneiros e
soldados alemães: “Em primeiro lugar, este quarteto foi escrito para o fim do tempo,
não como um jogo de palavras sobre o tempo de cativeiro, mas para o fim dos
conceitos de passado e futuro: isto é, para o começo da eternidade, e para tal confiei
no magnífico texto da revelação…”

A Natureza musical da peça é, como já foi referido, muito particular. “A sua linguagem
musical é essencialmente imaterial, espiritual e católica. Modos que produzem uma
espécie de ubiquidade tonal, melódica e harmónica, transportam aqui o ouvinte em
direção à eternidade no espaço ou ao infinito.”

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Comentários Analíticos da Obra
A obra “Quarteto para o Fim dos Tempos” de Messiaen é composta por 8 andamentos.
Os nomes de cada um deles são, respetivamente: Liturgie de cristal; Vocalise pour
l’ange qui annonce la fin du temps; Abime des oiseaux; Intermède; Louange a l’eternite
de Jesus; Danse de la fureur, pour les sept trompettes; Fouillis d’arcs-en-ciel, pour
l’ange qui announce la fin du temps e Lourange a l’immortalite de Jesus.

A estruturação do Quarteto em oito andamentos é explicada por Messiaen da seguinte


forma: “Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo Sábado
divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e converte-se no oito da luz
inextinguível e da paz inalterável”.

Messiaen fornece-nos uma perspetiva mais subjetiva sobre o contexto da criação e o


significado de cada uma das secções, prestando particular atenção às cores e texturas
evocadas pelos sons.

O primeiro andamento inicia com o despertar dos pássaros entre as três e as quatro
horas da manhã. Um melro ou um rouxinol solista improvisa, acompanhado por um
conjunto de trilos que simbolizam a auréola de chilros perdidos do alto das árvores.
Esta cena transposta para o plano religioso significa o silêncio harmonioso no
paraíso/céu.

O segundo andamento encontra-se dividido em três partes. A primeira e a terceira


parte são muito breves e evocam o poder do anjo poderoso coroado por um arco-íris
e vestido por uma nuvem, que coloca um pé na terra e o outro no mar. A secção
central, ou seja, a segunda parte, apresenta as harmonias inatingíveis do paraíso.
Suaves cascatas de acordes no piano criam um carrilhão distante que envolve a
melodia sendo uma espécie de cantochão do violino e violoncelo.

O terceiro andamento é solo de clarinete. A simbologia deste andamento indica que o


abismo é o tempo com as suas tristezas e aborrecimentos.

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Os pássaros, pelo contrário, sendo o oposto do tempo, são o nosso desejo de luz, de
estrelas, de arco-íris e de canções jubilantes.

O quarto andamento é um Scherzo, de carácter menos íntimo que os outros


andamentos sendo, por isso, mais extrovertido. No entanto, está na mesma
relacionado com eles através de citações rítmicas e melódicas.

No quinto andamento Jesus é considerado um Verbo. Uma enorme frase e


extremamente lenta do violoncelo exprime com amor e devoção a eternidade deste
Verbo poderoso e doce, para quem os anos jamais terão fim. Assim, a melodia
desenvolve-se numa espécie de distância terna e suprema de forma majestosa.

O sexto andamento é, ritmicamente, a secção mais característica da obra. Os quatro


instrumentos em uníssono soam como gongos e trompetes (as primeiras seis
trompetes do apocalipse e as várias catástrofes a elas associadas e a trompete do
sétimo anjo que anuncia a consumação do mistério de Deus). Ocorre a utilização de
valores adicionados, ritmos aumentados ou diminuídos e ritmos não reversíveis. A
música é muito sólida e composta por temerosas sonoridades e blocos cheios de fúria.

No sétimo andamento são repetidos alguns trechos do segundo andamento. O


poderoso anjo aparece e sobretudo o arco-íris que o envolve, que simboliza a paz, a
sabedoria e uma vibração luminosa e sonora.

No oitavo e último andamento desta obra há um longo solo de violino que corresponde
ao violoncelo do quinto andamento que funciona como um segundo louvor. E porquê
este segundo louvor? Este dirige-se especialmente à segunda natureza de Jesus, à
Jesus-Homem, ao Verbo feito carne, ressuscitado para nos dar a vida. Tudo é amor.
Na música, a sua subida lenta em direção ao extremo do registo agudo é a elevação
do homem em direção ao seu Deus, do filho de Deus até ao Pai, da criatura divinizada
até ao paraíso.

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Em relação a esta obra podemos salientar ainda a estreita relação entre o segundo e
o sétimo andamentos e, também, as semelhanças entre o quinto e o oitavo, dois
andamentos que são baseados em obras compostas anteriormente por Messiaen:
Fêtes des Belles eaux (1937) e Diptyque (1930).

Exemplo de Gravação da Obra


https://www.youtube.com/watch?v=zYpBHc8px_U

Optei por esta gravação da obra porque penso que está muito bem conseguida e
interpretada devidamente seguindo as ideias musicais e próprias das características
da música de Messiaen. Cada instrumento executa a sua parte devidamente e
transmite todo o tipo de ideias que a própria peça assim o pede. É notável mudanças
de “cor musical” e de contrastes entre os sons dos instrumentos com o objetivo de
transmitir uma boa interpretação da obra que é o Quarteto para o Fim dos Tempos.

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Webgrafia
New Grove Dictionary of Music

Links:

https://sociologiarte.wordpress.com/2013/06/06/quarteto-para-o-fim-dos-tempos-
messiaen-ricardo-pinho/

http://pqpbach.sul21.com.br/2008/12/14/olivier-messiaen-1908-1992-quarteto-para-
o-fim-dos-tempos-2/

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