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O Modernismo

nas Artes
Música e Dança
Música e Cultura Ocidentais II
Sergei Diaghilev (1872-1929)
Os Ballets Russes
• É a primeira grande companhia independente de bailado.
Foi fundada por Diaghilev em 1909, sendo por ele dirigida
até o ano da sua morte.
• Congrega criadores de diferentes vertentes artísticas, entre
os que se destacam: Picasso, Cocteau, Matisse, Braque,
Miró, Dalí, Stravinsky, Satie…
• Inaugura a época dos grandes coreógrafos
contemporâneos. Por esta companhia passam Fokine,
Nijinsky, Massine, Nijinska, Balanchine e Lifar.
• Em 1917, apresentam-se pela primeira vez em Portugal. A
crítica não foi favorável.
O Sol da Noite [Le Soleil de nuit] é uma fantasia de manicómio,
indiscutivelmente caricatural. O impenetrável simbolismo deste bailado
causa espanto. Espécie de ode futurista, concebida por farsantes e
dançada por malucos, esta peça de baile interessa pelo imprevisto
ineditismo dos seus processos, pelo contorcionismo alvar a que obriga
os seus intérpretes e pela originalidade dos seus trajes. O cenário não
vale nada.

Crítica de Rodrigues Alves publicada em A Lucta. Apud Companhia Olga Roriz


Igor Stravinsky
(1882-1971)
• Inicia uma prolífica relação artística com Diaghilev em 1909. Desta
colaboração nascem importantes bailados, como O pássaro de
fogo (1910; coreografia de Fokine), Petrushka (1911; coreografia
de Fokine), A sagração da primavera (1913; coreografia de
Nijinsky) e Pulcinella (1920; coreografia de Massine).

• Stravinsky introduz o modernismo musical nos bailados russos:

Até aí, Diaghilev dependia dos nacionalistas russos, a companhia estava


mergulhada nas raízes da música popular e essa situação era dissonante
com a dança, que era já crua, dura, brutal, muito próxima das rupturas do
modernismo que vinham das artes plásticas.
(Rui Vieira Nery)
Le sacre du printemps
Igor Stravinsky

• Estreia a 29 de Maio de 1913, no Théâtre des


Champs-Elysées, em Paris. É todo um escândalo
para o público e para a crítica.

• É a segunda coreografia criada por Nijinsky para


os Ballets Russes.

• A obra está inspirada em rituais russos pagãos. A


inspiração primitivista é reforçada musicalmente
a nível rítmico.
R. C. Qual era a capacidade de julgamento de Diaghilev com relação à
música? Por exemplo, qual foi a sua reacção a Le Sacre du Printemps
quando a ouviu pela primeira vez?
l.S. Diaghilev, mais do que uma boa capacidade de julgamento musical,
tinha um imenso faro para reconhecer a potencialidade de êxito de uma
música, ou de uma obra de arte em geral. Apesar da sua surpresa quando
toquei para ele, ao piano, o começo de Sacre (Les Augures Printanieres),
apesar da sua atitude irónica, ao princípio, para com a longa linha de
acordes repetidos, ele rapidamente compreendeu que a razão daquilo era
outra que não minha inabilidade para compor música mais diversificada;
viu imediatamente a seriedade da minha nova linguagem musical, sua
importância e a vantagem de capitalizá-la. Isto foi, parece-me, o que ele
pensou ao ouvir Le Sacre pela primeira vez.

Stravinsky & Craft (1959), Conversasations with Igor Stravinsky


«Uma entrevista com o
Senhor Strawinsky»
Registo de imprensa que
recolhe a má recepção na
estreia da Sagração.
Entrevista completa em:
https://gallica.bnf.fr/ark:/1214
8/bpt6k75397776/f1.item.zoo
m
O período neoclássico
de Igor Stravinsky

• É um dos compositores mais representativos deste


estilo musical.

• O período neoclássico de Stravinsky vai de finais da


década de 1910 até inícios da década de 1950.

• Pulcinella (1920) é o primeiro bailado de Stravinsky


neste novo estilo.
Pulcinella (1920)

• Música de Stravinsky, coreografia de Massine e


decorados e vestuário de Picasso.
• Tem como modelo a Commedia dell’Arte italiana.
• A história do bailado, inspirada num argumento
de 1700, foi supostamente encontrada por
Diaghilev em Nápoles.
• Diaghilev propõe a Stravinsky a orquestração de
umas peças atribuídas a Pergolesi. O resultado
musical é uma obra em estilo de pastiche,
próxima ao original, mas com uma orquestração
e organização claramente contemporânea.
O original de Picasso para Pulcinella era muito diferente da pura
commedia dell'arte que Diaghilev queria. Seus primeiros desenhos de
figurinos inspiram-se nas indumentárias do período Offenbach, com
rostos emoldurados por costeletas em vez de máscaras. Quando os
mostrou, Diaghilev foi muito brusco: "Ó, não é nada disso" e começou a
explicar como Picasso devia fazer. A noite terminou com Diaghilev
jogando os desenhos no chão, pisoteando-os e batendo a porta ao sair.
No dia seguinte, foi necessário todo o charme de Diaghilev para
reconciliar o insultado Picasso, mas Diaghilev conseguiu que ele fizesse
uma Pulcinella commedia dell'arte. Eu poderia acrescentar que Diaghilev,
no princípio, também foi contra a minha música para Pulcinella. Esperava
uma orquestração severa, bem comportada, algo muito doce.

Stravinsky & Craft (1959), Conversasations with Igor Stravinsky


Domenico Gallo, Trio Sonata No. 1 em Sol
Maior
“The many slogans proclaiming the ‘new’ that emerged in Paris during these
years, such as the New Simplicity and l’esprit nouveau (the New Spirit), reflect
both a strong desire for change and a lack of consensus about what the new
music should be and do. As a result, even the most widely used term,
Neoclassicism, turns out to be quite difficult to define. Although the label is
most closely associated with the postwar music of Stravinsky and the young
generation of French composers, Neoclassical elements can be found in the
works of composers from several national traditions and widely divergent
aesthetic orientations (…). In the interwar years, the term generally denoted
the use of eighteenth-century styles, genres, and techniques; new ways of
incorporating elements of tonal harmony; and an emphasis on simplicity and
clarity. But Neoclassicism also embraced allusions to the sounds of the music
hall, the newest dance styles, jazz, machine art, and subject matter ranging
from the classicism of ancient Greece to scenes of everyday life in the city.
Rather than attempting to pin down a single definition of Neoclassicism, we
will explore how composers moved freely among these incongruous
possibilities, sometimes, as in Parade, combining them in a single work.”

J. Auner (2013), «Neoclassicism, and the Art of Everyday»


Erik Satie (1866-1925)
“A arte de todos os dias”

• A sua música não se destaca pelos seus logros


técnicos, mas por ser uma forma de arte simples e
"democrática“.
• Na década de 1910 ocorre uma transformação
inesperada em torno da figura de Satie: de ser
considerado um compositor menor passa a ser
compreendido como uma figura central da vida
artística francesa. Jean Cocteau tem um papel
central nesta reconsideração da figura de Satie.
Parade (1917)

• Música de Erik Satie, coreografia de Léonide Massine,


decorados e vestuário de Pablo Picasso e libreto de Jean
Cocteau.
• Neste bailado convergem diferentes vertentes estilísticas,
como o surrealismo, o cubismo e a music-hall.
• O espectáculo foi intitulado pelo poeta Guillaume Apollinaire
como “surrealista”. Este termo iria dar nome ao movimento
que nasce na década de 1920, da mão de André Breton.
• A história apresenta um pequeno grupo de teatro itinerante
nas ruas de Paris. As personagens desfilam perante os
transeuntes, com o intuito de atraírem a sua atenção para
assistirem ao espectáculo. A performance inclui dois
managers – um francês e outro americano –, um mágico
chinês, uma menina americana, um cavalo e dois acrobatas.
• A estreia, a 18 de Maio de 1917, no Théâtre du Châtelet, em
Paris, foi um escândalo.
Parade e o futurismo

• Em 1913, Luigi Russolo publica o manifesto L'arte dei Rumori (A Arte


dos Ruídos). Aí, o pintor defende a superioridade do ruído perante o
som musical.
A vida antiga foi só silêncio. No século XIX, com a invenção das máquinas, nasce o Ruído. Hoje, o
ruído triunfa e reina soberano sobre a sensibilidade dos homens.

• Parade inclui sons considerados “extra-musicais”. Destacam-se os


sons de sirenas, máquinas de escrever, hélices de avião, aparelhos de
morse, roletas de lotaria e pistolas.
Parade e a música popular

• O bailado congrega referências à música popular americana e à


música popular francesa.

• “That Mysterious Rag”, de Irving Berlin & Ted Snyder, é uma das
referências à música popular no bailado. Este tema era um ragtime
popular na década de 1910, em Paris.
Satie’s “Parade”
(2016)
Koji Yamamura

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