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A S C I C AT R I Z E S Q U E M E

MOLDARAM
Como Deus nos Encontra no Sofrimento

Vaneetha Rendall Risner

Éden Publicações
Direitos autorais © 2022 Éden Publicações

Título original em inglês: The Scars That Have Shaped Me


Copyright © 2022 by Éden Publicações

Originally Published in English by Desiring God with all foreign language ministry rights owned by Desiring God.
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Livros para seu deleite em Deus e Sua Palavra.

Produção editorial
Editor: Rafael Salazar
Capa & Arte Gráfica: Rebeca Salazar
Tradução: Rafael B. Salazar
Revisão: Rebeca Salazar e Eduardo Almeida
Diagramação: Marcos Jundurian

Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª edição (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo
indicação específica. Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida de qualquer maneira sem permissão por escrito,
exceto no caso de breves citações contidas em artigos críticos e revisões. Direcione suas solicitações ao editor no seguinte
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Impresso no Brasil / Printed in Brazil


Para Shalini
Sem você, nenhum capítulo desse livro existiria, porque
você me direcionou para Cristo nos dias mais escuros,
encorajou-me a registrar o amor e a fidelidade
de Deus e editou cada palavra que escrevi.
ÍNDICE

Página do título
Direitos autorais
Dedicatória
Endossos
Prefácio
Introdução
Parte 1: Um Modo Assombroso e Tão Maravilhoso
1: As Cicatrizes que me Moldaram
2: As Feridas do Bullying
3: Deus Está Mesmo Lá Fora?
4: Enterrando um Filho
5: Meu Corpo Falhando
6: Um Casamento Desmoronado
Parte 2: Atenta para a Minha Aflição
7: Lamento e a Beleza da Amargura
8: Clamando a Deus
9: Deus me Esqueceu?
10: Aconselhando a Mim Mesma no Sofrimento
11: Como Orar Quando a Vida Desmorona
12: Quando as Decepções Vêm
13: Quando o Desvio se Torna a Nova Estrada
14: Sonhos Despedaçados e Fé Abalada
15: A Agonia de Esperar
16: Implorando a Deus
17: Anseios Não Realizados
18: Dependência
19: Por que Deus Não Cura Todo Mundo?
20: Cadeira de Rodas e Adoração
21: Quando a Dor Nunca Acaba
22: E se o pior acontecer?
23: A solidão do sofrimento
24: O conforto dos outros
25: Quando Você Luta para Crer que Deus Te Ama
Parte 3: A alegria vem pela manhã
26: A Lente de Ações de Graças
27: Sempre em Exibição
28: A Graça Sempre Cura Mais Profundamente
29: Sofrimento é um Presente
30: Graça Sustentadora
31: A Incrível Promessa do Céu
Agradecimentos
ENDOSSOS
"Vaneetha escreve com criatividade, fidelidade bíblica, escrita comovente e uma autenticidade
experiencial que atrai outros sofredores. Aqui você encontrará uma vida testada e um amor pela
soberania de um bom e gracioso Deus."
JOHN PIPER, autor do livro Em Busca de Deus; fundador e professor no ministério
desiringGod.org

"As Cicatrizes que me Moldaram fará você chorar e se alegrar não apenas porque reluz com
autenticidade e integridade, mas também porque cada página aponta para o Descanso que é
encontrado em confiar sua vida Àquele que está no controle de tudo e é justo, poderoso sábio e
bom em todas as coisas.”
PAUL TRIPP, pastor, escritor, conferencista internacional

"Não consegui parar de ler este livro, exceto para limpar minhas lágrimas. Ler o testemunho de
Vaneetha sobre a bondade de Deus em sua dor era exatamente o que eu precisava. Sem dúvida,
outros também sentirão o mesmo. As Cicatrizes que me Moldaram me ajudou a processar minha
própria perda e dor e me deu esperança renovada para cuidar daqueles em minha vida que sofrem
de várias maneiras. Desfrutar da graça soberana de Deus em sua dor irá fortalecer sua fé como
nada que esse mundo pode oferecer e Vaneetha sabe como te guiar a essa água viva.”
GLORIA FURMAN, escritora de Maternidade Missional e Alive in Him

"Quando estamos sofrendo significativamente, é difícil escutar a verdade daqueles que nunca
passaram por algo parecido. Mas a credibilidade de Vaneetha Risner nos faz dispostos a nos
inclinar e ouvir. Sua escrita é fruto de sua experiência de dor profunda e no meio de sua rasgada
determinação de se agarrar a Cristo.”
NANCY GUTHRIE, autora de Hearing Jesus Speak into Your Sorrow

"Muitas vezes, imaginei como Vaneetha Risner suporta o sofrimento com tão incrível alegria,
graça e perseverança. Ainda não entendo isso, mas esse livro me deu um novo vislumbre do seu
mundo e do caráter de nosso Deus amoroso. Sincero, transparente, assustador e
maravilhosamente cheio de esperança, As Cicatrizes que me Moldaram pode fornecer força para
a jornada seja lá qual for sua situação.”
BRIAN FIKKERT, co-autor de When Helping Hurts: How to Alleviate Poverty Without
Hurting the Poor . . . and Yourself

"Quando estou um uma situação difícil e precisando receber profundamente de Deus, quero ouvir
de alguém que sabe e entende. Alguém que já passou por isso. Não consigo pensar em uma voz
melhor do que a de Vaneetha Risner. Em tanto crises rápidas quanto longas, lutas diárias
intensas, os insights de Vaneetha foram adquiridos no fogo da adversidade. Por isso, escuto. Ela
nos guia por um caminho que conforta minha alma e retifica minha postura - sou sua devedora.
Você também será quando beber profundamente da sabedoria que ela tem a oferecer.”
PAULA RINEHART, autora de Strong Women, Soft Hearts e Sex and the Soul of a Woman

"Na inalcançável lógica da sabedoria de Deus, essa mulher fiel com força física descrescente
tem, de todas as pessoas, a mais firme segurança na fidelidade pactual e confiabilidade de Deus.
Sua fé me ajudou a suportar as tempestades de minha própria vida e as palavras nessas páginas
farão o mesmo por você. Vaneetha Risner é verdadeira.”
MARGOT STARBUCK, autora de The Girl in the Orange Dress: Searching for a Father Who
Does Not Fail

"É difícil encontrar palavras para expressar quão vitalmente importante o testemunho de
Vaneetha tem sido para moldar minha vida e fé. Ela trilhou caminhos distintamente difíceis e
aventurou-se em águas espirituais profundas, ainda assim sempre recebendo viajantes como eu.
Essas páginas são cheias de vulnerabilidade e esperança, firmadas não no otimismo mas na
experiência real da fidelidade de Deus no sofrimento. É verdadeiramente oxigênio ter um
vislumbre da face de Deus nos olhos de Vaneetha.”
CHRISTA WELLS, artista musical, compositora

"Em As Cicatrizes que me Moldaram, Vaneetha prova ser uma hábil guia que pode nos conduzir
através dos vales da tragédia e dificuldade com tanto graça quanto verdade enquanto revela o
poder brilhante e redentivo de Deus na escuridão da miséria humana. Como seu amigo e pastor
por muitos anos, posso pessoalmente testificar que os caminhos sobre os quais Vaneetha guiará o
leitor foram trilhados por ela própria. Ela convida a todos nós a vermos a glória bondosa e
soberana de Deus nos momentos de provação e luta."
TOM MERCER, Pastor sênior, Christ Covenant Church, Raleigh, NC (EUA)

"As Cicatrizes que me Moldaram realiza aquilo que é quase impossível: Vaneetha conta-nos sua
história de sofrimento - que foi, e ainda é, grande - sem nos atrair a sua dor. Pelo contrário, com
graça e sabedoria ele nos guia a encontrar o caminho através de nossas próprias aflições rumo ao
coração de Deus. De alguma forma, ela descreve sua história de sofrimento intenso enquanto nos
cativa com sua experiência da bondade de Deus em meio à sua dor. O resultado? Nossos
corações são encorajados a confiarem e se submeterem a Jesus. Seu livro é um presente para
pessoas que sofrem e para aqueles que espiritualmente as acompanham.”
SALLY BREEDLOVE, Diretora Espiritual, Co-fundadora de JourneyMates, Autora e
Palestrante
PREFÁCIO
Joni Eareckson Tada

Antes De Você Ler


A maioria das pessoas pensa que viver com a tetraplegia seria algo totalmente
avassalador. E eles estão certos. É mesmo. Pouco depois de quebrar meu pescoço, conheci um
jovem na reabilitação que me disse que estava em uma cadeira de rodas há oito anos. Engoli
minha saliva, empurrando para baixo o pânico na minha garganta. Para mim, oito semanas de
paralisia parecia impossível. Mas oito anos?! Isso era inimaginável para mim, como uma
adolescente ferida na medula espinhal que ainda se revirava ao pensar em viver a vida sentada.
Mas isso foi há décadas atrás. Mal acredito que vivo sem usar as mãos ou pernas há
quase 50 anos. Ainda olho para trás e me pergunto, como consegui chegar até aqui? E como
passei por isso, na maior parte, com um sorriso? Mesmo depois de todo esse tempo, a paralisia
total ainda parece impossível.
Mas com Deus todas as coisas são possíveis. E sempre que tento explicar como
“cheguei” neste ponto, eu balanço minha cabeça com espanto.
Tem tudo a ver com Deus e sua graça sustentadora — não apenas a longo prazo, mas a
graça dada em pequenos momentos, como trampolins levando você de um tique do relógio para
o outro. E a beleza da graça de Deus é que ela aperta esses momentos difíceis juntos, eclipsando
os anos até que um dia você olha por cima do ombro e tudo o que você vê são cinco décadas de
Deus agindo.
Tente como quiser, você não consegue se lembrar do horror de tudo: a graça suaviza as
bordas das dores passadas, escolhendo apenas os destaques de importância eterna. O que lhe
resta é a paz que é profunda, a alegria que é inabalável, e a fé que é resistente como ferro. É a
substância dura, contudo bela, da qual Deus faz sua vida. Tipo... Quando isso aconteceu? Não
consigo dizer, mas louvo a Deus por sua incrível graça.
Vaneetha Risner diria o mesmo. Aqui está uma mulher que entende de sofrimento
profundo, com suas tristezas e alegrias. Talvez seja por isso que a considero uma amiga tão
próxima. Ela entende. Pessoas com dor se identificam com ela.
E ela oferece um tipo especial de sabedoria ao leitor em As Cicatrizes que Me
Moldaram. O livro que você tem em suas mãos não é nada menos do que incrível. A cada
capítulo, minha amiga carinhosamente mostra os degraus de sua própria jornada através do
sofrimento, ajudando-nos a entender as coisas difíceis, mas bonitas em nossas próprias vidas. ...
como Deus nos encontra em nosso sofrimento... e como somos mudados para sempre nele e
através dele.
Mais uma coisa. Vaneetha e eu reconhecemos que a vulnerabilidade é muito necessária
na comunicação de uma história poderosa. Mas também sabemos que nossos testemunhos na
verdade não alcançarão — ou mesmo mudarão — a vida do leitor. Só a palavra de Deus pode
fazer isso. E As Cicatrizes que Me Moldaram está transbordando de trechos de Salmos, fatias das
Escrituras e histórias da Bíblia que contam a história de Deus e seus propósitos em nossa dor.
Vaneetha nos lembra que as razões de Deus são perfeitas e que nosso Salvador, intimamente
familiarizado com o luto e o sofrimento, está constantemente suplicando a nosso favor no trono
do céu. O que poderia ser mais reconfortante do que isso?
E por isso estou honrada em escrever esta declaração de abertura para o livro dela. Pois
ambas sabemos que o sofrimento é um companheiro estranho e sombrio; mas um companheiro,
ainda assim. É um visitante indesejado; mas ainda assim, um visitante. Aflição é uma bênção
dolorida; mas é uma bênção da mão de Deus. É como Deus nos encontra em nosso sofrimento.
Oro para que As Cicatrizes que Me Moldaram inspire e refrigere seu coração —
especialmente se você estiver no meio de dificuldades ou mágoas. Então comece, vire a página, e
seja abençoado pela história de Vaneetha Risner. Antes de acabar, você estará olhando por cima
do próprio ombro e vendo muito mais do que dor e decepção — você verá as coisas
inequivocamente duras, mas verdadeiramente belas que Deus está fazendo em sua própria vida.
Joni Eareckson Tada
Centro Internacional de Deficientes Joni amd Friends
Agoura Hills, Califórnia (EUA)
INTRODUÇÃO

Eu quase intitulei este livro de He Makes My Griefs to Sing (Ele Faz Meu Luto Cantar),
[1]
porque a frase descreve tão lindamente o que Deus pode fazer em nosso sofrimento. Mas isso
poderia me fazer parecer eloquente e poética, quando não sou nenhum dos dois. Além disso, não
sei cantar. Pergunte a qualquer um que teve o privilégio de sentar perto de mim na igreja.
Então fazer minhas dores cantarem não é uma coisa bonita. Não só porque não consigo
sustentar uma melodia e não tenho ideia do que é um “tom”, mas também porque a música que
canto na minha dor não soa atraente. Muitas vezes é um clamor desesperado por ajuda, não um
comovente refrão de aleluia. Mas no final, Deus tomou minhas dores e as transformou em algo
belo. Ele realmente fez as minhas dores cantarem.
Sou bem familiarizada com o sofrimento. Muitos de vocês lendo este livro também são,
e o sofrimento esculpiu vazios em sua alma. Alguns de vocês podem até se sentir abandonados
por Deus, à medida em que as tribulações ameaçaram derrubá-los. Eu honestamente me senti
assim também, tanto como uma descrente quanto como uma cristã comprometida. Fui tentada a
me afastar dele com minha dor, imaginando o porquê de um Deus bom deixar seus filhos
sofrerem. No entanto, o Senhor provou ser abundantemente fiel, pois ele encheu aqueles lugares
vazios e ocos com uma alegria transbordante. Reclinando-me em Jesus, descobri que somente ele
é meu maior tesouro e caminhar com ele é a minha maior alegria.
Sinto-me honrada em publicar este livro com o ministério Desiring God, especialmente
porque o Senhor usou esse ministério para transformar a minha visão de sofrimento. Quase vinte
anos atrás, ouvi uma mensagem de John Piper sobre a soberania de Deus, e fui imediatamente
convencida de meu pecado por conta do quão terrena e antropocêntrica era a minha visão da
vida. Pela primeira vez, me conscientizei de como Deus usa o sofrimento e as provações na vida
dos crentes para o bem deles e sua glória. Como nada está fora do controle de Deus, percebi que
todas as minhas experiências poderiam aprofundar minha alegria eterna. O Senhor sabia que eu
precisaria dessa nova perspectiva para me sustentar, pois o sofrimento continuaria a marcar cada
década da minha vida.
Este livro nasceu desse sofrimento. Minha história começa na Índia, onde fui gerada por
pais cristãos. Quando criança, contraí poliomielite, muito tempo depois dela ter sido
praticamente erradicada. Como o médico nunca tinha visto poliomielite antes, ele me
diagnosticou errado e prescreveu o tratamento incorreto. Dentro de um dia, estava totalmente
paralisada. Os médicos na Índia deram pouca esperança para a minha recuperação e encorajaram
meus pais a procurar melhores cuidados médicos no Ocidente. Nos mudamos rapidamente para
Londres, onde passei por minha primeira cirurgia quando tinha dois anos. Aos treze anos, tinha
passado por 21 operações e tinha me mudado da Inglaterra para o Canadá e finalmente para os
Estados Unidos.
Vivi nesse “dentro e fora” do hospital a maior parte da minha juventude e aprendi a
andar, embora com um manco visível, aos sete anos. Embora a vida hospitalar fosse solitária e
isolada, eu me sentia segura e “normal” quando estava lá. Em casa, aproveitava do conforto de
uma família amorosa, mas era abertamente caçoada na escola. Sentindo-me uma pária, não
queria nada com Deus porque ele tinha permitido que tudo isso acontecesse. Mas quando eu
estava no ensino médio, Deus me encontrou na minha amargura e entreguei minha vida a ele.
Mudei-me para a faculdade e de lá fui para Boston por conta de meu primeiro emprego.
Vários anos depois, na pós-graduação, conheci e casei com um colega de classe, e logo tivemos
nossa primeira filha, Katie. Depois de três ocasiões de gravidezes mal-sucedidas, estava grávida
de novo com um filho, que descobrimos que nasceria com um sério defeito cardíaco. Paul fez
uma cirurgia bem-sucedida ao nascer, mas quando tinha dois meses, morreu por um erro médico.
Foi logo depois que ouvi o sermão de John Piper sobre a soberania de Deus, que mudou
radicalmente minha perspectiva sobre o sofrimento. Um ano depois tivemos outra filha, Kristi, e
me ocupei ao ser mãe de dois filhos, ensinar um estudo bíblico, e falar publicamente sobre o
conforto de Deus no meio da perda.
Vários anos depois, desenvolvi uma dor inexplicável no braço e fui diagnosticada com
síndrome pós-poliomielite. Esta doença envolve o aumento progressivo de dor e fraqueza, o que
pode potencialmente resultar em tetraplegia. A parte mais difícil para mim é que quanto mais
esforço eu fizer agora, menos força terei para o futuro.
Depois de anos se adaptando a essa nova vida cheia de limitações, meu marido decidiu
deixar nossa família. Em poucas semanas, ele se mudou para outro estado e nossa família,
outrora unida, entrou em colapso. Criar filhas adolescentes em meio ao caos e dor enquanto se
esforçava para modelar a graça provou ser algo além da minha habilidade. No entanto, me forçou
a confiar em Cristo de maneiras que nunca tinha feito antes. Embora não tenha sido minha
escolha o divórcio, nós eventualmente o fizemos, e fui confrontada a confiar em Deus em um
novo capítulo da minha vida. Um capítulo, como outros, que eu não queria começar, mas sabia
que aumentaria minha dependência de Deus.
Com o tempo, Deus me abençoou com um novo e maravilhoso marido, Joel, com quem
me casei em 2015. Antes de conhecer Joel, comecei a escrever um blog no final de 2013 por
solicitação de vários amigos. Escrever era uma maneira de me lembrar da fidelidade de Deus.
Comecei, então, a postar artigos para outros ministérios, animada de que Deus usaria minhas
palavras para encorajar meus companheiros de sofrimento. Este livro é uma compilação de
alguns desses escritos.
Embora o livro tenha uma ordem proposital, os capítulos individuais não precisam ser
lidos sequencialmente. A primeira seção contém em grande parte a minha história de vida; a
seção do meio está centrada em encontrar Deus em várias provações; e a última seção aponta
para as bênçãos que Deus nos dá no sofrimento.
Escrevi este livro para qualquer um que tenha experimentado perdas, particularmente
aqueles que estão lutando com elas agora. Mas descobri que no meio de uma tempestade, não
consigo ler ou processar demais ao mesmo tempo. Por conta disso, cada capítulo é breve e pode
ser lido sozinho. Oro para que o Senhor use estas palavras para sustentar aqueles que estão
sofrendo, iluminando os tesouros inestimáveis que Deus nos dá nos lugares mais sombrios.
PARTE 1: UM MODO
ASSOMBROSO E TÃO
MARAVILHOSO
Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no
ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de
um modo assombroso, e tão maravilhoso fui
feito. (Salmo 139:13-14)
1: AS CICATRIZES QUE ME
MOLDARAM

Por muito tempo, desprezei minhas cicatrizes.


Passei a maior parte da minha vida escondendo-as, mantendo minhas pernas cobertas o
máximo possível. Minhas cicatrizes me disseram que eu não era como todo mundo. Disseram-
me que não era atraente, que era uma estranheza, um tipo de aberração. Algumas pessoas se
orgulham de suas cicatrizes; elas comunicam coragem. Elas mostram aos outros o que eles
suportaram. Carregam consigo histórias de bravura e aventura.
Mas para mim, com cicatrizes cobrindo as duas pernas, não eram medalhas para
exibição, proclamando minha bravura. Eram, pelo contrário, deficiências para esconder,
lembrando-me diariamente das minhas falhas — lembrando-me que eu estava danificada.
Na adolescência, eu queria desesperadamente um corpo perfeito, esperando que um
corpo perfeito me fizesse sentir aceita. Em vez disso, vi no espelho um corpo deformado pela
poliomielite e ainda marcado pelas 21 operações que vieram a seguir. Em um mundo repleto de
imagens computadorizadas de modelos impecáveis, era um desafio acreditar que minhas
imperfeições físicas eram belas.
Então esconder minhas cicatrizes era natural. Dessa maneira, ninguém podia ver como
eu era imperfeita. Dessa maneira, poderia parecer mais normal. Dessa maneira, não seria
humilhada. Minhas cicatrizes eram simplesmente lembretes informes da minha dor.
Eu odiava ir à piscina, ou à praia, ou a qualquer lugar em que minhas pernas pudessem
ser vistas. Mesmo que ninguém olhasse abertamente, imaginava que todos eram repelidos pelas
minhas cicatrizes. Presumia que se eles vissem o meu verdadeiro eu, não seria aceita. Estava
convencida de que minhas cicatrizes me deixavam feia.

Quando Cicatrizes Comunicam


Por pouco tempo, uma amiga próxima do colégio me convenceu a mostrar minhas
pernas na praia. Ela disse que minhas cicatrizes podem ser feias para mim, mas para todos os
outros, elas representavam força e coragem. Para todos os outros, revelavam o que eu tinha
suportado apenas para andar. Para todos os outros, eles eram apenas parte do que eu tinha
passado. E por um tempo, mostrei minhas pernas, mas eu lentamente voltei a cobri-las. Era mais
fácil assim.
Voltei a acreditar nas mentiras que tinha contado a mim mesma: eu era mais valiosa se
ninguém pudesse ver minhas cicatrizes.
Escondi minhas marcas de ferimentos e me senti confortável fazendo isso por décadas.
Mas um dia, notei isso no Evangelho de João: “Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja
convosco! E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos
ao verem o Senhor” (Jo 20:19b-20).
Os discípulos reconheceram Jesus quando viram suas cicatrizes. E Tomé precisava sentir
as feridas dos pregos no Senhor para verificar se o Salvador ressurreto estava diante dele. Jesus
não precisava ter cicatrizes em seu corpo ressurreto. Seu corpo poderia ter sido perfeito,
impecável, sem cicatrizes. Mas ele escolheu manter suas cicatrizes para que seus discípulos
pudessem validar sua identidade. E ainda mais importante, para que pudessem ter certeza de que
ele tinha conquistado a morte.
A canção de Michael Card, “Known by the Scars” (Conhecido pelas Cicatrizes),
expressa essa verdade muito lindamente.
As marcas da morte que Deus escolheu nunca apagar
As feridas da guerra eterna do amor
Quando o reino vier com seus filhos aperfeiçoados
Ele será conhecido pelas cicatrizes[2]
Deus escolheu não apagar essas marcas de morte — as feridas de seu amor por nós —
para que nosso Salvador sempre seja conhecido por suas cicatrizes. Em vez de imperfeições
físicas, as cicatrizes de Jesus são incrivelmente belas. Elas representam seu amor e nossa
salvação.

Os Lugares Onde Fui Curada


Ao passo que considerava essas verdades, algo despertou em mim. Minhas cicatrizes são
significativas e preciosas. Não deveria continuar a escondê-las. Sou reconhecida por elas; elas
me fazem única. Elas são parte integral de quem eu sou. Elas mostram que, através de Cristo, sou
uma conquistadora — que sofri e, pelo poder do Espírito Santo, superei. Minhas cicatrizes me
lembram que Deus é suficiente e que a perfeição física não é nosso objetivo. Uma vida vivida
para a glória de Deus é infinitamente mais valiosa.
As cicatrizes representam mais do que eu jamais imaginei. Elas podem ser belas. O
dicionário diz que “uma cicatriz é uma marca deixada por uma ferida curada”[3]. Uma ferida
curada. Minhas cicatrizes significam cura. E mesmo que minhas feridas carnais iniciais tenham
sarado, ainda há uma cura mais profunda na aceitação.
Comecei a notar cicatrizes mais à medida que olhava em minha volta. Havia algo
cativante sobre as pessoas que não tinham medo de serem elas mesmas: autênticas,
desmascaradas e sem vergonha das feridas que as moldavam. Sua vulnerabilidade era magnética.
Era atraída a elas. Para aprender com sua auto-aceitação. Ouvir suas histórias. Ver sua coragem.
Aprendi que muitas vezes é bom perguntar às pessoas sobre suas cicatrizes. Contanto
que eu faça isso respeitosamente. E amorosamente. Perguntar desmistifica as cicatrizes e permite
que as pessoas compartilhem sobre aquilo que as moldou. Porque todas as cicatrizes têm uma
história.
Eu percebi que quando mostramos nossas cicatrizes, inspiramos outros a fazerem o
mesmo.
Aqueles de nós com cicatrizes devem vesti-las como joias, lembretes preciosos do que
temos sofrido. Não há problema em mostrar nossas imperfeições. É até corajoso. E talvez
descubramos a beleza em nossas cicatrizes.
2: AS FERIDAS DO BULLYING

“Aleijada. Você é uma aleijada. Você não pertence aqui!” Segundos depois de ouvir as
zombarias, senti a dorzinha de cascalho batendo nas minhas costas. Ele se espalhou ao longo do
caminho, e ouvi um grupo de meninos rindo. Olhei para cima para ver quem eles eram, mas
estavam escondidos de vista.
Enquanto a chuva de pedras continuava, um menino baixo e pesado saiu das sombras.
Ele riu enquanto imitava meu manco visível e me deu um leve empurro com desprezo. Tentei
manter meu equilíbrio, mas em segundos, fui ao chão na calçada.
Imediatamente os meninos se dispersaram e tudo ficou em silêncio. A área estava
deserta. Estava sozinha.
Sentei-me lá por um minuto, lutando contra as lágrimas e tentando recuperar meus
pensamentos. Eu não sabia quem tinha feito isso, e não sabia o porquê, mas eu estava
envergonhada. Havia algo errado comigo.
Como não conseguia me levantar facilmente sem ajuda, esperei para ver se alguém viria.
Eventualmente, me arrastei para uma rocha próxima e, com muita dor, me pus de pé outra vez.
Aliviada por ninguém me ver, peguei meus livros, tentei me recompor e comecei a curta
caminhada até minha casa.
Eu não ia chorar. Nem ia parecer chateada. Iria ficar alegre.
Determinada a bloquear o que tinha acontecido, ignorei meu corpo dolorido enquanto
voltava para casa. Quando me aproximei da porta da frente, minha mãe correu para fora,
radiante. “Uau! Você caminhou para casa sem sua irmã pela primeira vez. Estou tão orgulhosa de
você!”
“Sim, eu também”, disse, forçando um sorriso.
Depois que entramos e minha mãe me serviu um copo de leite, comentei: “Ganhei um
adesivo hoje...”
Nunca contei a ela o que aconteceu naquele dia. Eu estava muito envergonhada. Tinha
apenas sete anos.

Minha Dor Secreta


Infelizmente, este não foi um incidente isolado de bullying infantil. Durante toda a
escola, sofri diferentes tipos de bullying. Alguns deles sutis. Alguns explícitos. Todos
humilhantes. E eu nunca falei sobre nada disso.
Tinha contraído poliomielite quando criança na Índia antes da minha data de vacinação.
Quase imediatamente depois, nos mudamos para o Ocidente em razão de meus cuidados
médicos. Passei a maior parte da minha juventude “dentro e fora” do hospital. Aos treze anos,
tinha sido submetida a 21 operações.
Uma vez que encontrei crueldade com tanta frequência, quase cheguei a esperar por ela.
Ninguém nunca me defendeu. Mesmo quando era intimidada na frente dos outros, eles olhavam
para o outro lado. Não queriam se envolver — e eu não esperava nada diferente.
Porque nunca contei a ninguém sobre ser zombada, tirei minhas próprias conclusões
sobre o que estava acontecendo. E com o tempo, o poder dessas conclusões tornou-se ampliado e
profundamente arraigado. Disse a mim mesma que algo estava errado comigo. Eu era a pária.
Não era digna de valor. Essas inseguranças tornaram-se minhas feridas invisíveis.
Compensava bem e aprendi a fazer amigos, mas por dentro eu estava sempre com raiva.
Essa raiva derreteu quando conheci Jesus aos dezesseis anos, depois de ler João 9. Deus me
mostrou, através das Escrituras, que assim como o homem cego de nascença, ele usaria a minha
deficiência para sua glória. Essa revelação mudou-me profundamente quando enxerguei minha
vida através de uma nova lente, uma que era maior do que apenas meu conforto.
Raramente pensava sobre o bullying na minha infância até anos depois, quando uma
rejeição dolorosa na minha vida adulta desencadeou essas emoções novamente. Embora a
situação fosse nova, os sentimentos de inadequação — de não ser o bastante, não ser importante
— pareciam estranhamente familiares. Era como se a carne tivesse sido arrancada das minhas
feridas invisíveis, deixando-me ensanguentada e crua de novo.

Enfrentando Meu Passado


Meus sentimentos me surpreenderam. Comecei a fazer diários sobre minha vida em um
esforço para curar e resolver minhas emoções. Ao passo que escrevi, memórias há muito
enterradas voltaram, carregando consigo todas as mentiras que eu acreditava. A mentira de que
minha deficiência me tornava inferior. De que não era intrinsecamente valiosa. Que era
defeituosa.
Compartilhei minha história com uma amiga enquanto procurava compreensão. Estava
hesitante no início, não tendo certeza se seria muito humilhante contar a alguém. Era uma adulta,
e trazer à tona o passado parecia infantil e inútil. No entanto, quando meu passado veio à tona,
algo começou a mudar. As mentiras do meu passado deixaram de ter o mesmo poder sobre mim.
Eu não era culpada pelo que tinha acontecido. O que os valentões fizeram e me disseram não era
realmente sobre mim. Era sobre eles.
Passei um tempo orando, pedindo a Deus para me mostrar a verdade. Precisava saber
quem eu realmente era. Ele me mostrou a beleza peculiar do evangelho. Vi que não sou definida
pelo que as outras pessoas me disseram ou fizeram. Sou definida por quem eu sou em Cristo. Só
Jesus pode me dizer quem eu sou. E ele me diz que sou amada. Aceita. De grande valor.
Posso ver como Deus usou o bullying na minha vida para me moldar. Através dessas
feridas, ele me deu compaixão, resiliência e graça. Ele está trocando minhas cinzas por beleza
enquanto cumpre sua promessa transformadora de usar minha deficiência para sua glória.[4]
3: DEUS ESTÁ MESMO LÁ FORA?

“Deus, se você é real, por favor, me mostre”.


Ele estava desesperado. Na prisão. Desesperançado. Sua vida era uma bagunça e ele
pensou em dar uma chance a Deus. Se Deus existisse, isto é.
Então, ele orou. E esperou. E procurou sinais de Deus. Não havia respostas escritas no
céu. Mas lentamente, Deus trouxe pessoas, circunstâncias e livros para abrir seus olhos. Um
companheiro de cela aleatório lendo um livro cristão da Christian Library International passou
adiante. O que levou a um estudo bíblico. E um mentor através da CLI. Logo ele soube. Sem
dúvida. Este Deus sobre o qual ele tinha ouvido falar era real de fato. E o tinha chamado de fora
da escuridão para a luz. E o mundo dele nunca mais seria o mesmo.
Enquanto ouvia o palestrante, agora fora da prisão e servindo no ministério em tempo
integral, fiquei grata e espantada. Grata por Deus nos chamar sem méritos nossos. E que ele use
pessoas, circunstâncias e ministérios para nos mostrar sua verdade. Espantada por eu ter falado
essas mesmas palavras a Deus na noite anterior àquela em que ele revelou-se a mim. “Deus, se
você é real, por favor, me mostre”.

Desespero
Minha história era bem diferente, mas minhas palavras foram ditas em meio ao
desespero também. A vida não estava saindo do jeito que eu queria. Meus dias pareciam sem
sentido. Minhas muitas perguntas pareciam irrespondíveis. Deus não podia ser real, eu tinha
presumido. Tinha desistido de acreditar em Deus muito tempo antes. Havia pouca evidência dele
no meu mundo. Minha vida tinha sido difícil.
Depois de contrair pólio quando criança, passei grande parte da minha infância no
hospital, isolada dos meus pais, da minha irmã e dos meus colegas. Enquanto a vida hospitalar
era solitária, era menos dolorosa do que o bullying constante que eu experimentava no mundo
real. Quase todos os dias, ouvia a palavra aleijada. Durante o ensino fundamental e médio,
enterrei a dor daquela provocação profunda, mas ela sempre me sussurrava que não tinha valor,
que não pertencia, que sempre seria uma estranha. Aprendi a rejeitar meus sentimentos, agradar
os outros, a ser a boa garota do lado de fora, enquanto por dentro eu era uma bagunça
egocêntrica.

Súplica
Eu cresci na igreja, mas não queria nada com este Deus do qual havia ouvido falar. Mas,
ao mesmo tempo, minha vida não tinha alegria — apenas amargura e raiva. Eu sabia que algo
estava faltando. Então, uma noite, na escuridão, clamei por Jesus. Queria que o assunto se
resolvesse. Eu me perguntava se Deus era real. Então, eu simplesmente sussurrei: “Deus, se você
é real, por favor, me mostre”. Minha pergunta foi sincera, e esperei por uma resposta, alguma
indicação de que tinha sido ouvida. Quando nada aconteceu, virei-me e dormi, minhas suspeitas
se confirmaram.
Quando acordei no dia seguinte, perguntava a mim mesma se conseguiria uma resposta.
Eu não esperava que sim. Mas para ter certeza, decidi ler a Bíblia. Esticando a mão à minha
cabeceira, puxei uma cópia novinha da Bíblia que tinha ficado lá intocada por anos.
Passando sem rumo através das páginas, eu lia quaisquer passagens em que meus olhos
pousavam. Elas não faziam sentido. Como de costume. Levítico tinha regras estranhas e
Crônicas tinha páginas intermináveis com listas de nomes. Eu estava prestes a guardar a Bíblia,
convencida de que Deus realmente não era real, quando parei para fazer uma pergunta.

Iluminação
“Por quê? Por que tudo isso aconteceu comigo? Se você é tão amoroso, por que eu tive
poliomielite? Por que tive que lutar a vida toda? Como você pode ser bom?” Eu dei uma passada
na Bíblia procurando respostas. Ela caiu aberta no Evangelho de João e comecei a ler em João 9:

Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos


perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem
nele as obras de Deus” (Jo 9:1-3)

A explicação de Jesus era um pouco diferente da pergunta dos discípulos: eles estavam
focando na causa da deficiência deste homem, enquanto Jesus falou sobre o propósito por trás
disso. De acordo com Jesus, isso não foi uma punição ou mesmo um infortúnio aleatório. Tinha
sido planejado o tempo todo por Deus. Essas palavras me tiraram o fôlego. Deus estava me
respondendo. Eu - arrogante, com dó de mim mesma, com raiva - estava sendo respondida pelo
Deus do universo.
Meu sofrimento tinha um propósito: trazer glória a Deus. Para alguns, essas palavras
podem parecer intrigantes. Talvez até perturbadoras. Mas quando são faladas a você pelo Deus
do universo, essas palavras mudam tudo. Foi o momento mais incrível da minha vida. Nunca
esquecerei dele. Mesmo agora, ao me lembrar daquela manhã, isso me leva às lágrimas. Assim
como Deus abriu os olhos de um cego para trazer glória a si mesmo, Deus estava abrindo meus
olhos. Pela primeira vez, pude vê-lo. Sentir sua presença. Entender que ele era real.

Salvação
Fechei minha Bíblia e me ajoelhei ao lado da minha cama. Quando o sol raiou no meu
quarto, entreguei minha vida a um Deus que eu não conhecia, mas tinha certeza que ele me
conhecia. Ele me criou com um propósito: para lhe trazer glória. E tudo o que eu tinha sofrido na
minha vida era para alcançar esse fim.
Deus, que me conheceu, assim como a cada um de nós, antes da fundação do mundo,
nos chama de forma única. Não baseado em nada que fizemos, mas baseado apenas em sua graça
irresistível. E esse chamado muitas vezes começa com ele respondendo uma simples oração. Não
uma pergunta teológica nem elaborada. Apenas um clamor sincero.
Então, se você não conhece Jesus, você consideraria orar: “Deus, se você é real, por
favor, me mostre?”
E então, olhe em volta para ver como ele está respondendo a você.
4: ENTERRANDO UM FILHO

Enterrar meu bebê foi devastador. Não fazia ideia de como lidar com a morte repentina e
inesperada dele. Verdade, Paul tinha nascido com um problema cardíaco, mas ele tinha
sobrevivido à cirurgia crítica depois do nascimento e estava indo bem. Ele tinha voltado do
hospital com três semanas de idade e, depois de um início devagar, começou a ganhar peso.
Oramos por tanto tempo e tão intensamente por esta preciosa criança, que tinha certeza
que a vida de Paul seria usada para glorificar a Deus. Mal podia esperar para ver como.
Com seu sorriso alegre, disposição fácil, e amontoado de cabelos encaracolados escuros,
ele encantou a todos nós. Ele era saudável e bonito. Até o médico que substituiu o cardiologista
regular de Paul ficou tão impressionado com o progresso de Paul que decidiu eliminar todos os
medicamentos cardíacos do nosso filho. Paul não precisava mais deles. Ele estava bem. No
começo, fui encorajada pelas boas notícias. Mas dois dias depois, Paul estava morto. Ele só tinha
dois meses.
Lutei para aceitar o que tinha acontecido: que a decisão tola de um médico levou a vida
do nosso bebê. Enquanto os observava baixar o caixão minúsculo de Paul, enterrei meus sonhos
para ele. Como sua vida poderia glorificar a Deus? Senti que nada de bom poderia vir de sua
morte inútil. Fiquei enlutada. Escrevi no diário. Plantei flores que floresceriam no mês de seu
nascimento e flores que floresceriam no mês de sua morte. Lentamente, Deus me curou com sua
presença reconfortante, mas ainda assim, perguntava a mim mesma como Deus poderia ser
glorificado através de uma morte tão repentina e sem sentido.

Segurada Nos Braços


Meses depois, compartilhei a história da vida e morte de Paul com uma nova amiga,
Christa Wells. Christa é uma cantora que posteriormente escreveu a música “Held”, que começa
com a história de Paul. A estrofe de abertura é crua:
Dois meses é muito pouco,
Eles o deixaram ir.
Não tinham cura súbita
E pensar que a Providência
Levaria uma criança de sua mãe
Enquanto ela ora, é chocante
O refrão fornece a resposta:
Isso é o que significa ser segurada
Como se sente quando o sagrado é rasgado de sua vida
E você sobrevive Isto é o que é ser amada e saber
Que a promessa era de que: quando tudo cair,
Nós seríamos segurados.[5]

As palavras do refrão ecoam minha experiência. Deus nos ama. Ele nos segura em nossa
dor. E por causa de seu amor e compaixão, podemos passar por qualquer coisa sabendo que ele
nunca nos deixará.
“Held” foi gravado por Natalie Grant em 2005 e ganhou inúmeros prêmios e tocou
inúmeras vidas. Ao ler mensagens de pessoas que sentiam o conforto de Deus em sua dor por
causa da canção, vi como a curta vida de Paul trouxe glória a Deus. Mas nenhuma das cartas me
impactou tanto quanto ver como impactou alguém em primeira mão.

Tocada
Tinha sido um dia miserável, cheio de chuva, e eu estava sentindo pena de mim mesma,
atrasada nos meus compromissos por causa do mal-tempo. Parcialmente encharcada, enfiei-me
em uma loja de sanduíches para pegar um almoço rápido. Ela não estava lotada, mas o rapaz que
fazia meu sanduíche parecia interminavelmente lento.
Ele não poderia ir um pouco mais rápido? Perguntava-me, enquanto suspirava
impaciente. Ele estava quase terminando, apenas rasgando a folha final de alface, quando a
música “Held” começou na rádio. Quando ouvi os acordes familiares, senti minha tensão e
irritação irem embora. Agradecida pelo atraso, sorri e me inclinei no balcão para aproveitar o
momento, sem pressa. Algo curativo tinha surgido do meu quebrantamento, e ainda estava me
curando.
Perdida em meus pensamentos, não notei que o jovem fazendo meu sanduíche tinha
parado. Quando olhei para cima, ele estava chorando. Nossos olhos se encontraram e ele se
desculpou, “Sinto muito. Você está com pressa? Você se importa se eu parar por um minuto e
ouvir essa música? Sabe, minha mãe morreu há alguns meses, e essa música foi a única coisa que
me ajudou a passar por isso. Significa muito para toda a minha família”.
Senti-me envergonhada por minha impaciência anterior. Recompondo-me, acenei com a
cabeça e sussurrei: “Por favor, sim. Leve o tempo que quiser. Eu amo essa música, também”.
O tempo parou quando este estranho e eu compartilhamos um momento sagrado juntos.
Fiquei em silêncio enquanto ele absorvia a música, dublando as palavras familiares enquanto as
recitava na minha cabeça. Quando a música acabou, lágrimas estavam escorrendo pelo meu rosto
também. Lágrimas de esperança. E redenção.

Propósito Em Meu Sofrimento


Eu sabia que a música tinha tocado milhares de pessoas, mas nunca tinha visto
evidências disso em primeira mão. Nunca tinha testemunhado seu impacto de cura em pessoas
quebradas. Nunca tinha entendido completamente a maneira como Deus estava usando-a para
confortar os outros. Nunca esquecerei esse dia. Ver propósito no meu sofrimento foi mais
redentivo do que jamais imaginei. Embora não tenha removido a dor, tirou seu ferrão agudo.
Saber que Deus estava usando minha perda tornou mais fácil suportá-la. Isso me ajudou a ver
como Deus usa todo o nosso sofrimento para nossa alegria e Sua glória.
Nenhuma das minhas outras provações foram memorializadas com uma canção, mas
Deus trouxe sentido a todas elas. A cada perda, ele me aproximou de si mesmo e me mostrou a
profundidade de seu conforto. Quanto mais profunda a tristeza, mais profundamente ele se
aproxima.
Deus também me encontra à medida em que converso com outros que experimentaram
seu próprio sofrimento. Muitas vezes fico tentada a me esquivar de compartilhar porque não
quero reviver a agonia. Muitas vezes é menos doloroso ser superficial com pessoas em
dificuldades. É mais fácil ficar desapegado. Mas, inevitavelmente, quando faço isso, acabo mais
vazia e sobrecarregada. Sei o quanto foi importante para mim falar com outros que trilharam
caminhos semelhantes. Eles foram capazes de oferecer conselhos e insights; entenderam as
tristezas únicas da minha provação particular e forneceram evidências de que a cura era
realmente possível. No poço, às vezes eu duvidava disso. Perguntava-me se conseguiria suportar.
Questionei se a dor iria parar algum dia. Não tinha certeza se voltaria a rir. Só de falar com
outros sofredores, já me deu esperança para o futuro. Deus nos usa para confortar uns aos outros
com o conforto que nós mesmos recebemos de Deus. É um privilégio e uma responsabilidade. E
ao dizermos aos outros sobre a fidelidade de Deus no meio da provação, isso nos lembra de novo
que Deus nunca nos abandonará. Embora possamos caminhar pelo vale da sombra da morte,
nunca caminharemos sozinhos.
5: MEU CORPO FALHANDO

Eu sempre quis ser autossuficiente. E trabalhei duro nisso. Contraí pólio quando criança
na Índia e fiquei tetraplégica logo depois que minha febre diminuiu. Mas, depois de várias
cirurgias, pude andar e, depois de operações adicionais, me tornei bastante independente. No
ensino médio, tinha aprendido a organizar minha vida em torno das minhas limitações.
Ir para a faculdade foi outro grande obstáculo, e eu me perguntava como sobreviveria.
Para surpresa de todos, aprendi a me adaptar, e quando me formei, tinha descoberto como me
virar sozinha. Depois de alguns anos de trabalho e depois da pós-graduação, casei e tive filhos,
grata de que a parte mais difícil da minha deficiência parecia ter ficado para trás.
Eu era uma típica mãe dona de casa, ocupada cuidando de meus filhos. Também gostava
de pintar, fazer scrapbooks e montar joias — basicamente qualquer coisa que eu pudesse criar
com minhas mãos. Comecei a vender minhas joias em uma loja local, mas logo depois
desenvolvi uma dor agonizante no meu braço direito. Fui ao médico, e depois de vários meses fui
diagnosticada com síndrome pós-poliomielite. Meus braços nunca se recuperariam. Os médicos
disseram que eu precisava reduzir a pressão sobre eles. Imediatamente. Radicalmente.
Permanentemente.
Disseram-me que a pós-poliomielite era uma condição degenerativa que resulta em
crescente fraqueza e dor. Minha energia era como uma quantia fixa de dinheiro em um banco -
eu poderia fazer saques, mas não depósitos. Então toda vez que eu usava esse braço, estava
perdendo força futura. De agora em diante, minha energia não poderia ser gasta em hobbies de
curto prazo: precisava me concentrar em ser capaz de me alimentar a longo prazo. Agora meus
braços só podiam ser usados para o essencial absoluto.
Esse diagnóstico me surpreendeu, virando minha vida confortável de cabeça para baixo.
Eu era uma esposa de 37 anos e mãe com duas filhas pequenas para criar. Era impensável que
um dia eu pudesse estar em uma cadeira de rodas em tempo integral, incapaz de cuidar de mim
mesma. Como Deus pôde fazer isso comigo? Eu chorei. Como poderia lidar com esses novos
obstáculos?

Perdas Devastadoras
Parei de fazer scrapbooks e encaixotei meu quarto cheio de materiais. Desisti de pintar e
fazer joias e cancelei minhas assinaturas de revistas de culinária. Fazia refeições simples e
recebia menos visitas. Embora todas essas perdas fossem difíceis, perder minha independência
foi a mais excruciante. Constantemente tinha que pedir ajuda para fazer tarefas cotidianas, coisas
que eu ansiava fazer por mim mesma.
Para mim, a perda de autossuficiência foi humilhante.
Odiava ser dependente de outras pessoas. Mas não tive escolha. Comecei a precisar de
ajuda ao dirigir longas distâncias, fazer o jantar, e ocasionalmente, até ao me vestir. Eu havia me
definido durante muito tempo como alguém que ajuda, e tive dificuldade com essa inversão de
papéis. Não queria ter necessidades; queria ser necessária. Não queria ser um fardo; queria
levantar os fardos dos outros. Não queria ser dependente. Eu queria ser autossuficiente. Todos os
dias eu lutava contra pedir ajuda. Queria desesperadamente fazer as coisas por mim mesma. E
chorava constantemente. Parecia injusto que as tarefas cotidianas, normalmente fáceis, fossem
exaustivas para mim.
No começo, estava com raiva. Então comecei a ficar deprimida. Não sabia se podia
aceitar essa nova vida. Eu me afastei de Deus. Questionei sua bondade e seu amor por mim e
imaginei que ele não iria responder às minhas orações, de qualquer maneira. Mas,
eventualmente, percebi que não poderia enfrentar esta provação sem Deus. Finalmente derramei
meu coração diante dele e pedi que me ajudasse a lidar bem com minhas perdas. Que me
mostrasse como minha dependência poderia ser alegre. Que me desse graça para lidar com o que
me foi entregue.
E Deus mudou tudo. Não ao mudar minhas circunstâncias, mas iluminando um caminho
através da escuridão. Ele me ensinou a orar, a pedir ajuda e a receber. Ele me deu vislumbres de
sua glória. Ele me mostrou como está usando minhas circunstâncias para me mudar.

A Batalha Diária
Foi uma luta constante. E se for completamente honesta, ainda é uma luta. Acho que
sempre será. Parte de mim sempre ansiará pela minha independência. Mas nesse anseio, aprendi
a me apoiar em Deus através da oração. Aprendi a oferecer a Deus meu lamento honesto —
minha raiva e tristeza derramada sem edições. Aprendi a dizer a Deus o que é difícil e admitir
que tenho receio de pedir ajuda. Aprendi que a oração muda minha perspectiva sobre minha
vida. Através da oração, lembro-me que o céu é real e que um dia terei um novo corpo.
Até lá, preciso da humildade para pedir ajuda. Pedir ajuda é sempre difícil porque sou
orgulhosa e prefiro não precisar de ninguém. Mas a maioria das pessoas está mais do que
disposta a ajudar — elas estão apenas esperando serem solicitadas. Às vezes as pessoas não
podem ajudar, e nessas situações devo aceitar isso graciosamente, sem ficar desanimada e sem
desistir. A primeira pessoa a quem peço nem sempre é a pessoa que Deus escolheu para ajudar.

Vislumbres Da Glória
Todo o processo é humilhante, mas essa dependência de Deus e dos outros cresceu
minha fé de maneiras incalculáveis. 2 Coríntios 4:16-17 diz: “Por isso, não desanimamos; pelo
contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se
renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso
de glória, acima de toda comparação”. Embora minha força esteja diminuindo, minha fé está
ficando mais forte, e um dia verei o que ele realizou através de meu sofrimento.
Posso demonstrar o valor sublime de Cristo quando sofro bem — quando aceito
alegremente circunstâncias que são menos que perfeitas, quando desisto da minha necessidade de
controlar. Voluntariamente renunciar à minha necessidade de ter as coisas exatamente como eu
quero é um ato de adoração.
Minha fé e meu caráter não são as únicas coisas que cresceram através das minhas
perdas. Minhas amizades e senso de comunidade também se aprofundaram tremendamente.
Tenho sido maravilhada e espantada com a disposição dos outros em ajudar, mesmo a um grande
custo para si mesmos. Vejo o amor de Cristo e como ele se importa comigo através do corpo de
Cristo. Enquanto meu corpo físico está se deteriorando, seu corpo tomou conta do meu,
enchendo-me de amor e bondade inesperada. Uma bondade que eu nunca teria conhecido, se não
precisasse dela.
Um amor que nunca teria experimentado, se tivesse me recusado a pedir ajuda.
Como dependo cada vez mais de Jesus, ele está gradualmente me transformando em sua
semelhança. Não há ninguém de quem eu mais gostaria de depender; não há ninguém com quem
eu prefira me parecer.[6]
6: UM CASAMENTO
DESMORONADO

Sobrevivi a tempestades devastadoras. Contrair pólio quando criança, viver no hospital


por anos, sofrer bullying na escola primária, suportar quatro terríveis perdas de gravidez, e
enterrar um filho bebê amado me tornaram dura como aço para aguentar quase tudo. Mas o
furacão que atravessou minha vida há vários anos me deixou mais aterrorizada e perplexa do que
jamais estive, ameaçando destruir minha fundação.
No final dos meus trinta anos, fui diagnosticada com síndrome pós-pólio, uma doença
debilitante marcada por crescente dor e fraqueza. Os médicos me disseram que precisava desistir
dos meus hobbies e focar no essencial. Se não o fizesse, disseram, em dez anos estaria em uma
cadeira de rodas em tempo integral, incapaz de me alimentar.
Eu reduzi minha atividade até o mínimo, avaliando diariamente o quanto deveria
realizar. Foi muito difícil, especialmente com duas filhas jovens. Mas lentamente, aprendi a me
ajustar. Então, seis anos depois, à medida em que profunda fraqueza estava se instalando, meu
marido por dezessete anos abandonou nossa família inesperadamente. Dentro de duas semanas,
ele se mudou para outro estado.

Profundezas Da Escuridão
Sua partida me mergulhou na temporada mais sombria da minha vida. Amigos traziam
refeições e me ajudavam a cuidar das minhas filhas em homeschooling enquanto me afundava
nas trevas. Perdi 4,5 quilos em algumas semanas, ficando na cama por dias sem comer, puxando
as cobertas sobre minha cabeça, esperando que fosse tudo um pesadelo. Mas com o passar dos
dias, a realidade se estabeleceu. Eu era uma mãe solteira com duas filhas adolescentes.
Minhas meninas estavam compreensivelmente zangadas, descontando seus medos e
frustrações em casa. Nossa outrora pacífica casa se transformou em uma zona de guerra, com
raiva e decepção colorindo cada conversa. Elas decidiram que não queriam ter mais nada a ver
com “meu” Deus e se perguntaram se ele era mesmo real. Eu chorava antes de dormir todas as
noites, muitas vezes sussurrando da minha cama, “Deus, você ainda me ama?” Às vezes eu
gritava na escuridão: “Deus, por que você me odeia?” Ficava pensando que o pior tinha acabado,
mas cada dia parecia trazer mais dor.

Uma Passagem Preocupante


Uma noite, em desespero, peguei minha Bíblia e comecei a fazer virar as páginas
aleatoriamente através dos Evangelhos. Eu precisava de um novo encontro com Jesus. Parei em
João 11, a ressurreição de Lázaro, e reli o episódio familiar.

Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e de sua irmã Marta.


Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele
a quem amas. Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para
morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela
glorificado”. Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. Quando, pois,
soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde
estava. (Jo 11:1-6)

Toda vez que leio essas palavras, elas me pegam. Como Jesus poderia amar Maria,
Marta e Lázaro e ainda atrasar? Se ele os amava, poderia ter ido imediatamente. Não precisava
deixar Lázaro morrer. Mas foi isso que aconteceu.
A resposta de Jesus me lembrou das maneiras em que ele me deixava sofrer. Por meses,
pedi a Deus pela libertação. E durante meses houve silêncio — assim como com Lázaro. Jesus
poderia ter ido a seu amigo, ou simplesmente dito uma palavra, e Lázaro teria sido curado. Mas
Jesus não fez nada.
Comecei a chorar quando percebi que este era o cerne da minha dor. Jesus poderia
consertar todas as minhas lutas em um instante. Ele poderia curar meu corpo, trazer meu marido
de volta, e mudar o coração das minhas filhas. Mas ele não estava fazendo nada. Senti como se
tivesse me abandonado, assim como ele tinha feito com Lázaro e suas irmãs.
A Bíblia diz que Jesus amava seus amigos, então ele se atrasou. Mas na minha maneira
de pensar, o amor resgata. O amor corre para ajudar. O amor responde. O amor não atrasa.

Buscando Na Escuridão
Queria entender essa passagem. Não fazia sentido para mim. E mais tarde, em João
11:40, o que Jesus significa quando diz a Marta: “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de
Deus?”
Deus promete mostrar a Moisés sua glória em Êxodo 33, e ele cumpre essa promessa
alguns versos mais tarde, em Êxodo 34, ao falar de seus próprios atributos. “Senhor , Senhor
Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a
misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado” (Ex 34:6-7).
Uma maior compreensão de quem Deus é, como Deus é, o que ele faz — essa foi a
glória revelada por Deus, não um brilhante flash de luz ou algum êxtase indefinido. E a resposta
de Moisés a esta glória foi a adoração. Esta é a primeira vez que a Bíblia registra a adoração
espontânea e pessoal de Moisés. E depois desse encontro, o rosto de Moisés brilhou. Ele tinha
mudado. Moisés era diferente.
Na minha dor, eu gritei a Deus: “Quero ver você, e quero acreditar que você é a meu
favor. Eu creio, ajude-me na minha incredulidade. Mostre-me sua glória”.
Então eu esperei. Em silêncio. Por muito tempo.
Presença De Deus Revelada
Eu considerei sobre o que eu tinha orado e lido. Ao passo em que o fiz, pude ver Deus
mais uma vez através da lente das Escrituras, e imediatamente sua presença parecia encher meu
quarto. Ver a glória de Deus era tão simples, mas tão profundo. Ele é misericordioso e gracioso.
Tardio para se irar. Grande em misericórdia e fidelidade. Esses atributos não eram apenas
intelectuais. Eles foram especificamente direcionados para mim.
Deus estava falando comigo. Assim como com Moisés, Deus estava revelando quem ele
é. Deus me amou o suficiente para não me salvar. Ele sabia que precisava vê-lo, sentir sua
presença, entender seu coração. Precisava dessas coisas mais do que precisava de resgate.
Sempre haverá algo novo do qual eu precise ser resgatada, mas este encontro com Deus ficará
comigo para sempre.
Jesus amava Maria, Marta e Lázaro o suficiente para mostrar-lhes sua glória para que
pudessem ser transformados. Ele os amava o bastante para deixá-los sofrer para que pudessem
experimentar seu conforto. Ele os amava o suficiente para atrasar sua vinda para que pudessem
aprender a andar pela fé. Ver sua glória levou Maria a oferecer sua adoração extravagante,
derramando perfume caro nos pés de Jesus. Meu “ver” me levou a adorar, também. Jesus parecia
mais próximo do que jamais esteve, mais terno do que jamais tinha entendido, e mais glorioso do
que jamais imaginei.
Mais de Jesus
Todos precisamos mais de Jesus. Um único momento com ele nos muda, assim como
mudou Maria, Marta e Moisés. A transição do lamento para a adoração não tem nada a ver com a
mudança de circunstâncias; somos nós que somos mudados encontrando Deus, vendo sua
bondade e poder, entendendo seu caráter.
Essa experiência me levou a adorar, me firmou de maneiras que não posso explicar, e
isso me transformou para sempre. Jesus disse: “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de
Deus?” (Jo 11:40).
E ver sua glória é um presente muito maior do que o livramento.[7]
PARTE 2: ATENTA PARA A
MINHA AFLIÇÃO
Atenta para a minha aflição e livra-me, pois
não me esqueço da tua lei. (Salmo 119:153)
7: LAMENTO E A BELEZA DA
AMARGURA

Quando a dor chega a quase nos estrangular e a escuridão é nosso amigo mais próximo,
o que devemos fazer?
Durante anos, achei que a melhor resposta era uma aceitação alegre. Uma vez que Deus
usa tudo para o nosso bem e sua glória, senti que a atitude mais honrada por Deus era parecer
alegre o tempo todo. Mesmo quando eu estava confusa e zangada. Mesmo quando meu coração
estava partido. E, especialmente, quando estava perto de pessoas que não conheciam Cristo.
Mas, desde então, aprendi a beleza de lamentar em meu sofrimento. O lamento destaca o
evangelho mais do que o estoicismo jamais poderia. Ouvir nosso autêntico lamento pode atrair
outros para Deus de maneiras inesperadas. Notei pela primeira vez o poder do lamento no livro
de Rute.

A Confiança De Noemi Em Deus


Durante muito tempo, eu havia visto Rute como a heroína indiscutível do livro que leva
seu nome, e Noemi como a personagem resmungadora de fé fraca e uma atitude negativa. Mas,
tendo andado em situações semelhantes por uma fração de sua jornada, tenho um novo respeito
pela profundidade da confiança de Noemi em Deus. Rute era uma testemunha ocular da fé de
Noemi. Ela viu que a fé se manteve firme, mesmo em circunstâncias horríveis. E por trás dela,
viu o Deus que ouviu o lamento de Noemi e não a condenou por isso, mesmo quando Noemi
falou francamente sobre sua decepção com Deus.
Lamentar a um deus teria sido estranho a Rute. O primeiro deus de Rute, o deus de
Moabe, era Quemos. Ninguém se atreveria a lamentar ou reclamar com ele. Deuses pagãos eram
apaziguados; não havia nenhuma relação pessoal com nenhum deles, especialmente com
Quemos, que exigia sacrifícios de crianças.
Mas Rute vê um Deus completamente diferente à medida em que observa Noemi. Noemi
confia em Deus o suficiente para dizer a ele como ela se sente. Embora ela diga, “o Senhor
descarreg(ou) contra mim a sua mão” (Rt 1:13), Noemi não se afasta de Deus com raiva. Ela fica
perto dele e continua a usar seu nome de aliança, Yahweh, pedindo-lhe para abençoar suas noras.
Noemi não para de orar; ela acredita que Deus ouve suas orações.
A confiança de Noemi é ainda mais evidenciada por sua determinação de viajar para
Belém sozinha. Se Noemi sentisse que Deus realmente a tinha abandonado, ela nunca teria
começado essa jornada. Ela teria ficado na cama, puxado as cobertas sobre sua cabeça, e morrido
em Moabe, amarga e com raiva de Deus. Mas ela não faz isso. Ela age em fé, confiando que
Deus irá prover para ela.
A confiança de Noemi é extraordinária, dadas as tragédias que ela sofreu. Ela e o marido
tinham deixado Israel por Moabe com seus dois filhos em busca de comida. Enquanto estavam
lá, seus filhos e marido morreram e ela foi deixada sozinha. Uma viúva. Uma mãe de luto. Uma
estrangeira. Sem meios para se sustentar. Entendo por que ela sentiu que a mão do Senhor tinha
sido contra ela. Na minha própria dor eu tenho clamado a Deus, “Por que você me odeia?”
Revisei minha vida, imaginando por que Deus se voltou contra mim.

A Honestidade De Noemi Com Deus


Mas para meu pesar, sempre fui muito reservada sobre minha dor. Hesitei em expressar
minha raiva e medos, preocupada com o que os outros poderiam pensar. O lamento pode ser
confuso, e quero que minha vida pareça arrumada. E eu tolamente imagino que minhas orações
estéreis de alguma forma fazem Deus parecer melhor. No entanto, Noemi é muito honesta.
Quando volta para sua cidade natal, ela não finge que está tudo bem. Ela não enfia a dor em um
armário e fecha a porta. Em vez disso, convida outros a espiar os cantos escuros de sua amargura
e frustração. Afirma que Deus lidou amargamente com ela e trouxe calamidade sobre ela.
Admite que está vazia.
Suas palavras podem ter deixado os habitantes da cidade desconfortáveis. Os lamentos
muitas vezes fazem isso. Mas sua humildade e honestidade absoluta também teriam atraído as
pessoas para ela. Eles poderiam passar pelo luto com ela. E poderiam lamentar suas próprias
perdas, também, sem temer a desaprovação de Deus ou o julgamento dos outros. As palavras de
Noemi são cruas, mas ela fala com sinceridade sobre Deus. Ela reconhece que ele está no
controle de todas as coisas e tudo é, em última análise, dele. Sua teologia é profundamente
centrada em Deus. Por trás do lamento de Noemi está uma profunda confiança e entendimento de
Deus. Ela não está ressentida com Deus e não se afastou dele. Muito pelo contrário, Noemi está
se movendo em direção a Deus com honestidade. Ela voltou para Belém, para o povo de Deus, e
está apresentando realisticamente o que aconteceu com ela.

Lamento Que Glorifica A Deus


E é no meio da dor e lamento de Noemi que Rute vem conhecer a Deus. Rute desiste de
tudo para seguir Noemi e seu Deus, que ela conheceu pessoalmente como Yahweh. Ela vê sua
fidelidade através de Noemi, uma mulher que passou por uma tragédia indescritível, mas
continua a seguir a Deus, falando com ele honesta e autenticamente. Este é um Deus digno de
adoração. Nossa autenticidade atrai outros para Deus, pois permite que eles sejam honestos,
também. Deus recebe de bom-grado o lamento que nos ajuda a nos agarrar nele. Sabe que nossa
tendência é fingir que está tudo bem (enquanto sufocamos por dentro) ou nos afastarmos de
Deus, acreditando que ele não se importa.
Lamentar nos mantém engajados com Deus. Quando lamentamos, convidamos Deus
para nossa dor para que possamos conhecer seu conforto, e outros possam ver que nossa fé é
real. Nossa fé não é uma fachada que erguemos para convencer a nós mesmos e aos outros de
que a dor não dói — é um carvalho que pode suportar as tempestades de dúvida e dor em nossas
vidas, e ficar mais forte através delas.
O lamento piedoso não repele as pessoas do evangelho, mas as atrai para o Senhor; e
fortalece, ao invés de destruir, a fé dos outros. Quando vivemos autenticamente, naturalmente
atraímos os outros para a graça de Deus. A dor e a amargura de Noemi poderiam ter afastado
Rute de Deus, já que Rute viu Noemi lutar com a bondade de Deus. Mas, em vez disso, Rute viu
que a esperança de Noemi - mesmo através de perdas catastróficas - estava em um Deus
soberano que era amoroso o bastante para ouvir e responder ao seu lamento.
E podemos ver que Deus ouviu o lamento de Noemi e o respondeu. Ele deu-lhe Rute.
Ele deu-lhe Boaz. Ele deu-lhe um neto, Obede, que estava na linhagem de Cristo. E ele deu a si
mesmo a ela, pois era disso que o coração dela mais precisava.
8: CLAMANDO A DEUS

Não gosto de lamentar. Parece pouco espiritual.


Cristãos fiéis são equilibrados e alegres. Eles se alegram no Senhor o tempo todo. Sem
sequer uma pitada de desânimo. Mesmo em circunstâncias difíceis, eles são inabaláveis. Nada os
derruba. Ou pelo menos, é o que eu sempre disse a mim mesma.
Mas quando a vida desmorona, acho quase impossível me alegrar. Em vez disso, me
pergunto por que Deus está permitindo mais uma provação na minha vida. Até duvido do amor
de Deus por mim. Sinto-me triste por tudo que perdi e insatisfeita com o que ganhei no lugar. Eu
me pergunto se a vida vai melhorar. Ou se Deus me abandonou indefinidamente.

Quando A Vida Pára De Fazer Sentido


Eu costumava responder refocando ativamente minha mente, determinada a ter uma
atitude positiva. Mas fazê-lo me deixou ainda mais vazia e infeliz do que antes. Então percebi
que as Escrituras nunca mandam que constantemente agíssemos como otimistas. Deus quer que
venhamos até ele em verdade. E assim a Bíblia não ameniza as emoções cruas de seus escritores
enquanto clamam a Deus em angústia, medo e frustração quando a vida deixa de fazer sentido.
Pessoas como Jeremias e Jó, Habacuque e Davi derramaram seus sentimentos honestos de
tristeza e decepção com Deus.
• Jeremias protesta a Deus: “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida
me dói e não admite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam?”
( Jr 15:18)
• Jó reclama: “Por isso, não reprimirei a boca, falarei na angústia do meu espírito,
queixar-me-ei na amargura da minha alma. (...) Então, me espantas com sonhos e com visões me
assombras; pelo que a minha alma escolheria, antes, ser estrangulada; antes, a morte do que esta
tortura. Estou farto da minha vida.” (Jó 7:11, 14-16)
• Habacuque lamenta: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-
te-ei: Violência! E não salvarás?” (Hb 1:2)
• Davi lamenta ao longo dos Salmos, nos dando um modelo de autenticidade com Deus.
No Salmo 13:1-2 ele grita: “Até quando, Senhor? Esquecerte-ás de mim para sempre? Até
quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com
tristeza no coração cada dia?”. No Salmo 22:1-2, ele lamenta: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus
meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego”.
A Bíblia é chocantemente honesta. E por causa disso, posso ser honesta também. Posso
reclamar e chorar, sabendo que Deus pode lidar com qualquer coisa que eu disser. O Senhor quer
que eu fale com ele, derrame meu coração e meus pensamentos puros porque ele já os conhece.

Navegando Pelo Luto


Esta conversa é diferente da murmuração dos filhos de Israel. Eles reclamaram de Deus
e Moisés um para o outro. Eu estou falando diretamente com Deus. Contando minhas dúvidas.
Pedindo que ele me ajudasse a ver. Esses santos que citei conversaram diretamente com Deus,
que foi o primeiro passo para a cura. Eles deram nome a suas decepções e expressaram suas lutas
diante dele. Eles precisavam saber que Deus os entendia. E que eles poderiam ser sinceros com
ele. Sem pretensões ou platitudes. Apenas honestidade crua, reconhecendo sua dor diante de
Deus.
Esse processo foi essencial para navegar em seu luto. E é para mim também. Quando
não reconheço minha dor, meus lábios podem dizer uma coisa, mas meu coração diz outra.
Começo a criar uma muralha em meu coração para que possa evocar alegria. Mas essas paredes
me deixam anestesiada para a emoção real, incapaz de experimentar prazer ou dor. Minha vida se
torna aplanada e começo a existir sem realmente viver.
Parte da vida real é estar disposto a enfrentar a tristeza. Não chafurdando na minha dor e
me recusando a ser consolada, mas honesta e abertamente dizendo a Deus onde estou e pedindo-
lhe para me mostrar a verdade. Deixando que ele, o Deus de todo o consolo, me console.
Deixando que ele, o Deus da esperança, me encha de esperança. E deixando ele, o homem de
dores e que sabe o que é padecer, suportar minhas tristezas em meu lugar.

Um Lugar Mais Profundo


Derramar meu coração diante de Deus me transforma. Como meus companheiros
bíblicos Davi, Habacuque, Jó e Jeremias, só posso experimentar a verdadeira alegria depois de
reconhecer minha tristeza. E quando o faço, me encontro em um lugar mais profundo com o
Senhor, que me ajuda a ver minhas decepções e dor sob uma nova perspectiva.
Davi, em última análise, diz nesses salmos de lamento: “Cantarei ao Senhor, porquanto
me tem feito muito bem” (Sl 13:6) e “Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o Senhor
os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração” (Sl 22:26).
Habacuque reconhece que sua esperança está apenas em Deus, quando declara: “Ainda
que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, ... todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no
Deus da minha salvação” (Hb 3:17-18).
Jó admite após seu encontro com Deus: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus
planos pode ser frustrado” (Jó 42:2).
E Jeremias vê que confiar em nosso Deus infalível nos muda como ele afirma: “Bendito
o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (Jr 17:7).
A verdade que emerge de nossos lábios depois de lamentarmos com o Senhor é
infundida por Deus. Aprendemos a confiar em Deus mesmo quando não podemos entender
nossas próprias dores no peito. Vi isso sendo demonstrado em minha própria vida várias e várias
vezes. É mais evidente em meus diários, onde expresso, sem vergonha, meus sentimentos mais
profundos a Deus. Os alegres louvores com orações de ação de graças. As amargas decepções
misturadas com raiva e dúvida. Já perguntei a Deus por que ele não me ama, e ouvi-o sussurrar
pelas Escrituras que ele me amou com um amor eterno.
Enquanto escrevo e oro, sinto o mover dele em minha vida. Ele me conforta. Me enche
de esperança. Suporta minhas aflições.
Não há problema em lamentar. É bíblico. E quando eu derramo meu coração diante de
Deus em oração, ele não me repreende. Em vez disso, ele me cerca. Ele firma meus pés em uma
rocha. Ele se torna “o meu escudo, a minha glória e o que exaltas a minha cabeça” (Sl 3:3).
9: DEUS ME ESQUECEU?

Alguns dias são mais difíceis que outros. Algumas manhãs, consigo ser alegre mesmo no
meio de circunstâncias difíceis, e outros dias esses mesmos problemas me sobrecarregam.
Alguns dias, acordo cheia de fé, e outros dias duvido que Deus se importe.

Invisível E Inconfundível
Foi uma daquelas manhãs difíceis quando o desânimo estava quase me sufocando. Eu
sabia que precisava de algo para me reanimar, então abri a Bíblia nos Salmos, meu “livro
padrão” para lamentos. Sou confortada pela disposição dos salmistas de colocarem suas dores
diante de Deus – de forma crua e sem filtros – e deixá-lo lidar com elas. Eu li o salmo 77, um
salmo de Asafe quando ele está desesperado.

Elevo a Deus a minha voz e clamo (...) para que me atenda. A minha alma recusa
consolar-se. (...) Esqueceu-se Deus de ser benigno? (...) Então, disse eu: (...)
Considero também nas tuas obras todas e cogito dos teus prodígios. Tu és o
Deus que operas maravilhas. Pelo mar foi o teu caminho as tuas veredas, pelas
grandes águas; e não se descobrem os teus vestígios (Sl 77: 1-2, 9-10, 12, 14,
19).

Meditei sobre a última linha por um bom tempo: “não se descobrem os teus vestígios”.
Asafe está se lembrando de uma época em que Deus guiou o povo de Israel, embora não
pudessem vê-lo. E ainda assim sua libertação foi tão milagrosa, tão extraordinária, tão
impossível, que só Deus poderia ter feito isso.
Preciso me lembrar das minhas próprias histórias. São evidências inconfundíveis de
Deus. Tempos em que o Senhor me ajudou. A Bíblia os chama de Ebenézers (1 Sm 7:12). Pedras
que nos lembram da presença de Deus, sua ajuda, sua fidelidade. Os israelitas frequentemente
reuniam essas pedras de lembrança, afirmando que sua vitória era o resultado da ajuda divina,
não da força humana. Lembrar do passado lhes deu esperança para o futuro.

Meu Quadro Ebenézer


Na verdade, tenho um quadro branco Ebenézer. Fiz este quadro por sugestão de uma
mentora espiritual. Estávamos falando de marcadores espirituais. Momentos cruciais. Encontros
com Deus. Ela me deu uma cesta de conchas para usar como minhas “pedras de lembrança”,
nomeando cada uma que achei significativa. Sentei-me e orei, pedindo a Deus que me lembrasse
de momentos específicos em que fui transformada por um encontro com ele.
Minha primeira concha simbolizou minha conversão. Quando cheguei a Cristo aos
dezesseis anos, Jesus virou minha vida de cabeça para baixo. Meses depois, meu líder da
Fellowship of Christian Athletes (Sociedade de Atletas Cristãos) disse que Deus usou o
compromisso radical dos discípulos para virar o mundo de cabeça para baixo. Eu queria que
Deus usasse minha vida assim também. Dei o nome de minha primeira concha de Cabeça para
Baixo.
Fui atraída a escolher uma estrela-do-mar como meu próximo marcador, que começou
ao ouvir um sermão de John Piper sobre a soberania de Deus. Enquanto ouvia, tive a profunda
sensação de que Deus estava prestes a mudar minha vida para sempre. Piper falou sobre servir a
Deus por prazer, não dever. Naquele dia, pedi a Deus para me dar um desejo apaixonado por ele
acima de todas as coisas. Eu nomeei esta concha de Deleite e coloquei-a ao lado da primeira.
Uma concha especial chamou minha atenção para o meu próximo Ebenézer, uma
resposta que mudou minha vida à oração. Uma oração que eu havia sussurrado por toda uma
década. Um pedido pelo qual tinha começado a procurar a Deus diariamente — prostrada, de
rosto no tapete, no meu quarto de estudos. Estava desesperada. Assim como o centurião disse a
Jesus para dizer a palavra e seu servo seria curado, pedi a Jesus que apenas dissesse a palavra.
Ele fez isso. E meu mundo mudou para sempre. Esta concha, chamei de Bendito seja o Nome.
Escolhi mais duas conchas, ambas representando encontros inconfundíveis com Deus.
Lembro-me de onde estava e o que estava acontecendo quando percebi que Deus estava falando
comigo. Depois de cada uma dessas experiências, estava profundamente transformada. Mais
tarde, gravei todas essas conchas em uma placa de espuma e escrevi o significado ao lado de
cada uma delas. Meu quadro Ebenézer.

O Fio Comum
Então hoje, eu costumo puxar o quadro e passar meus dedos pelas conchas. Vê-las
impulsiona minha fé. Assim como os israelitas, lembrar-me dos atos do Senhor me torna
agradecida por sua provisão no passado. Me dá coragem para confiar nele no presente. Isso me
dá esperança para o futuro. Sou grata quando olho para este quadro. Mas enquanto olho para as
conchas, percebo que elas têm algo em comum: sofrimento. Os momentos em que encontrei
Deus e senti sua presença eram todos compelidos pela dor.
Minha conversão ocorreu depois de dezesseis anos lidando com a poliomielite.
Dezesseis anos de uma vida com raiva de Deus, imaginando o que eu tinha feito para merecer
minha deficiência. Na noite anterior à minha conversão, perguntava-me se havia algum propósito
para o meu sofrimento. Ao ler João 9 no dia seguinte, descobri a resposta.
Ouvi o sermão sobre deleite semanas depois de enterrar meu filho, Paul. Estava lutando
na minha fé, imaginando por que eu tinha sido escolhida para tal sofrimento. Imaginando por que
meu filho tinha que morrer. Imaginando se Deus se importava. Piper afirmou em seu sermão que
Deus está em todo o nosso sofrimento, e ele usa tudo. Isso foi radical, mas estranhamente
reconfortante para mim enquanto lutava para entender a morte de Paul.
A resposta claríssima à minha oração, celebrada pela minha terceira concha surgiu de
uma situação difícil, também. Uma pela qual eu tinha procurado o Senhor por anos, alternando
entre desesperança e raiva. Estava cansada de esperar. Muitas vezes me perguntava se ele
responderia.
As outras duas conchas também têm fios semelhantes. De início, isso me incomoda. Por
que todos os meus marcadores estão relacionados com a dor? Por que meus momentos
transformadores com Deus estavam ligados ao sofrimento? Deus encontra todo mundo assim?
Eu olho para o Salmo 77 novamente. Asafe estava relembrando a travessia do Mar Vermelho.
Uma libertação milagrosa da opressão da escravidão. E nos momentos antes do milagre, o povo
de Israel estava desesperadamente com medo. Eles estavam entre o exército do faraó e a água.
Não havia saída humana.

Meus Pontos Baixos São Meus Pontos Altos


Estou começando a ver a conexão, tentando juntar tudo isso. Parece contra-intuitivo que
os pontos altos da minha relação com Deus estariam ligados aos pontos baixos em minhas
circunstâncias. Mas os caminhos de Deus, muitas vezes, não são o que eu espero. Talvez só
quando estou realmente desesperada posso ouvir a voz mansa e delicada do Senhor. Talvez
sofrimento e tristeza sejam o convite de Deus para conhecê-lo melhor. Talvez, como Laura Story
diz, as “provações desta vida — a chuva, as tempestades, as noites mais difíceis — são
misericórdias [de Deus] disfarçadas”.[8]
Então, sim, Deus está trabalhando em todos os cantos da minha vida bagunçada. Não,
Deus não esqueceu de ser gracioso. Embora suas pegadas não sejam vistas, elas são
inconfundíveis.
10: ACONSELHANDO A MIM
MESMA NO SOFRIMENTO

Não posso levar meu prato até a mesa.


Há não muito tempo, poderia fazê-lo facilmente. Mas com a síndrome de pós-
poliomielite, minha saúde está constantemente se deteriorando. Toda semana, enfrento novos
desafios, descubro coisas que não posso mais fazer, desisto de mais coisas que amo. Os médicos
me disseram que isso aconteceria. Mas como uma jovem mãe, havia outras coisas para se
preocupar. Presumi que a verdadeira luta seria daqui a décadas. Naquela época, podia facilmente
falar sobre isso, escrever sobre isso, e até filosofar sobre isso. Mas agora, como está
acontecendo, estou chateada.
Sento na varanda, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, inundada de emoção. Grito
dentro da minha casa vazia, “Deus, como você pode fazer isso comigo? Você não me ama? Eu
tenho sido fiel. Isso não conta para alguma coisa? Por que você não conserta isso?” Então,
termino minha “birra” com Deus e me afundo em auto-piedade. Decido que Deus responde às
orações dos outros, mas não às minhas. Que ele não está preocupado com a minha dor. Que meu
sofrimento não tem sentido.
Claro, estas são as mentiras de Satanás. Gostaria de não ouvi-las ou sabê-las de cor ou
repeti-las quase instintivamente. Gostaria que, no calor da batalha quando a vida está
desmoronando, minha primeira resposta fosse cheia de graça. Paciente. Semelhante à de Cristo.
Gostaria de saborear a doçura da graça sustentadora de Deus e nunca mais questioná-lo. Mas
infelizmente, não estou lá. Ainda não.
Então, fecho meus olhos e respiro profundamente. Preciso me arrepender. Preciso
escutar o conselho de Martyn Lloyd-Jones: parar de ouvir a mim mesma e começar a falar. Na
parte de trás de um envelope, anoto o que preciso lembrar a mim mesma. Sete princípios que
colocam o sofrimento em perspectiva. Sete coisas que devo fazer, mesmo quando choro.
1. Lembrar que Deus me ama. Sei o quanto o Pai ama a Jesus — e Jesus me ama da
mesma maneira. Incondicional, incansavel e apaixonadamente. Nada pode me separar do amor
de Deus. A cruz é um lembrete ardente disso. Jesus é sempre a meu favor. Ele simpatiza comigo
na minha fraqueza. Ele entende o meu sofrimento. Ele chora comigo na minha dor. Ele nunca vai
falhar comigo ou me abandonar. Ele me fortalece quando estou fraca. Ele me chama pelo nome.
Ele constantemente intercede por mim. Não são verdades meramente intelectuais. São realidades
práticas. Jesus sabe o que é difícil, testemunha cada dor que suporto, discerne os medos que não
consigo nem expressar. Ele está comigo enquanto choro. Ele espera até que eu o abrace. Ele me
sustenta na minha dor.
2. Falar com Deus. Preciso da ajuda dele, da perspectiva e do conforto dele. Saber
intelectualmente que esta aflição é para o meu bem não é suficiente. Preciso de um encontro com
o Deus vivo. E quando derramo meu coração diante dele, ele me encontra carinhosamente.
Quando me sinto desesperada, minhas orações não são longas ou eloquentes. Às vezes, são
apenas gemidos engasgados entre soluços. Às vezes, simples clamores de: “Ajude-me Jesus”. Às
vezes, apenas silêncio diante dele. Meu maior desafio é não virar as costas. Ou mergulhar na
minha raiva. Ou anestesiar a dor em algum outro lugar.
3. Abrir a Bíblia e começar a lê-la. Muitas vezes resisto a essa abordagem direto-no-
texto. Pode parecer tão acadêmica. Mas quando abro as páginas da Bíblia, Deus fala comigo,
sussurrando seu consolo, gritando suas promessas, mostrando sua graça através de seus escritores
inspirados — pessoas que foram brutalmente honestas quanto ao seu sofrimento. Eles me
orientam, dando o exemplo de que é aceitável lamentar. Expressar minha frustração. Expressar
minha emoção crua.
4. Lembrar-me que nunca estou sozinha no meu sofrimento. Além do nosso Deus Trino,
estou cercada por uma gloriosa nuvem de testemunhas que vêem cada luta que eu experimento
(Hb 12:1). Embora invisíveis para mim, elas fazem parte do reino espiritual, como as carruagens
de fogo que Geazi viu (2 Re 6:8-23). O mundo invisível. Este mundo é real. E sempre está
assistindo. Observando para ver se Deus é meu tesouro. Se eu ainda vou louvá-lo enquanto meu
corpo se deteriora. Se confiarei nele quando tudo parece trevas.
5. Recitar a fidelidade de Deus. Tenho um registro dos meus pontos altos espirituais,
meus inconfundíveis encontros com Deus, meus Ebenézers (1 Sm 7:12). Os tempos em que Deus
me salvou. Me surpreendeu com alegria. Me superou com sua presença. Quando estou sofrendo,
preciso rever esta lista. Ela me assegura que esta provação um dia passará, mas a fidelidade e o
amor de Deus nunca falharão. Muitas vezes eu releio diários antigos, vendo o que agonizei no
passado e depois lembrando como Deus me sustentou através disso. Isso me lembra que ele é
confiável e nunca me deixará desolada.
6. Focar minha mente no céu. Este mundo não é minha casa e está passando. Vai acabar
num piscar de olhos. E então a vida real começará. Vida sem mais lágrimas ou morte ou choro
ou dor. A Bíblia constantemente nos lembra que nossos sofrimentos atuais devem ser vistos à luz
da eternidade. Romanos 8:18 diz: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do
tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. Mesmo quando
a vida na Terra parece incansavelmente difícil, Deus tem toda a eternidade para nos dar seu
amor.
7. Lembrar que esta vida é toda sobre Deus. Tudo foi criado para magnificar a ele, cujos
caminhos são mais altos do que meus. Posso não entender como, mas Deus está fazendo algo
maior com a minha vida do que eu posso ver. Meu sofrimento nunca é sem sentido. Ele não será
desperdiçado. Deus vai, em última análise, usar todas as lutas para o meu bem e sua glória.
Ao rever essas verdades, sinto a paz avassaladora de Deus. Ele vai me guiar através
desta provação, como ele tem feito em todas as outras, pacientemente suportando minha
fraqueza, amorosamente falando através de sua palavra, consistentemente dando-me forças.
Essas verdades me lembram que Deus me ama ferozmente, cuida de mim ternamente, tem
propósito na minha dor, e um dia fará novas todas as coisas. Estou confortada ao saber que meu
sofrimento agora não pode ser comparado com o peso da glória que está por vir:

Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior
se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória,
acima de toda comparação,não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas
que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são
eternas (2 Co 4:16-18).

Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?
(Salmo 42:5)
11: COMO ORAR QUANDO A
VIDA DESMORONA

No meio de sonhos quebrados e dor arrebatadora, como devemos orar?


Será que devemos orar por cura e libertação, crendo que precisamos pedir apenas uma
vez e Deus pode fazer qualquer coisa? Ou será que devemos entregar nossos desejos a Deus,
confiando que, mesmo em nossa angústia, ele tem o plano perfeito para nós?
Sim. Quando a vida desmorona, Deus nos convida a fazer as duas coisas. No jardim do
Getsêmani, Jesus enfrentou um sofrimento inimaginável. Suando gotas de sangue, caiu no chão e
orou: “Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e
sim o que tu queres” (Mc 14:36). Jesus, em sua agonia, está nos ensinando por seu exemplo
como orar quando estamos desesperados.

Aba, Pai
Jesus não começa com “Deus todo-poderoso, Criador do céu e da terra”. Claro, Deus é
Senhor de tudo e merece honra e reverência. Mas Jesus escolhe um termo de proximidade: Aba.
Ainda que Aba não significasse “papai”, foi usado como um termo íntimo e pessoal para Pai.
Jesus está pedindo ao seu Pai para fazer algo por ele. Cresci chamando meu pai de “papai”, e
ainda faço até hoje. Era um grande nome quando estava feliz com ele, mas quando estava
chateada eu queria chamá-lo de “senhor”. Eu podia me sentir distante e desafiadora por dentro
quando dizia “senhor”, mas não havia como me separar dele quando falava “papai”. E meu pai,
que sabiamente reconhecia isso, insistia que eu o chamasse de papai depois de nossos
desentendimentos. Quando era capaz de usar esse nome sinceramente, ele sabia que nossa
reconciliação estava completa. Da mesma forma, preciso me aproximar de Deus na minha dor.
Ele é o Senhor Todo-Poderoso, mas também é meu Aba Pai (Rm 8:15). Preciso me aproximar
dele como tal.

Nada É Difícil Demais


Jesus sabe que Deus pode fazer qualquer coisa. Ele é dono do gado sobre milhares de
montanhas (Sl 50:10). Todos são seus servos (Sl 119:91). Nada é impossível para ele (Lc 1:37).
Embora eu conheça esses versículos das Escrituras de cor, muitas vezes duvido funcionalmente
da capacidade de Deus de mudar minha situação. Olho ao redor para minhas circunstâncias e
presumo que as coisas continuarão como estão. Mesmo orando, não procuro respostas
milagrosas. Minhas orações tornam-se mais como recitações ocas de pedidos do que petições
sérias de fé.
Mas no Getsêmani, Jesus sabe que seu Pai pode conceder seu pedido. Deus dá vida aos
mortos e traz à existência coisas que não são. E preciso me lembrar do poder ilimitado dele
quando minha situação parece insuperável.

Passa Este Cálice


O cálice que Jesus pede a Deus para remover não é um mero sofrimento físico.
Discípulos e mártires através das eras enfrentaram dor física sem medo. Jesus está angustiado
com um sofrimento que é infinitamente mais profundo. Ele está enfrentando a fúria aterrorizante
da ira de Deus sobre o nosso pecado. E ele está enfrentando essa ira sozinho, sem conforto de
cima.
Jesus sabe que Deus pode mudar esta situação horrível. Então ele pede. Ele quer que
Deus remova o próprio sofrimento que ele foi enviado para suportar, o sofrimento para o qual ele
voluntariamente veio, o sofrimento que garantiria a salvação para o seu povo. Jesus não foi
coagido a ir até a cruz. Ele entregou sua vida de sua própria vontade (Jo 10:18). Mas agora Jesus
está perguntando se há outra maneira - qualquer outra maneira - de Deus realizar seus propósitos.
Muitas vezes eu filtro meus pedidos. Devo pedir a Deus para aliviar meu sofrimento
quando sei que ele pode usá-lo? Será que está tudo bem pedir cura, ou isso é presunçoso? Será
que não devo pedir nada e aceitar o que me foi dado? Essa postura parece mais santa.
No entanto, Jesus pede a Deus para remover o cálice. Se Jesus pode pedir, eu também
posso. É apropriado pedir a Deus para remover meu sofrimento, mudar minha situação, me
guardar de mais dor. Ele anseia me dar boas dádivas. Implorei a Deus para curar amigos, salvar
membros da minha família, e dar clareza, e ele respondeu sim. Mas também implorei a Deus para
salvar meu filho à beira da morte, curar minha doença progressiva, e trazer de volta meu marido,
e ele disse não. Então, mesmo que não saiba como ele vai responder, meu pai ainda me pede para
pedir a ele seriamente pelas coisas que desejo.

Não Minha Vontade, Mas A Sua


Jesus finalmente entrega sua vontade à vontade de Deus. Quando negado seu desejo,
Jesus aceita completamente a decisão. Ele cambaleia em direção à sua execução sem murmúrio
ou reclamação.
Esse tipo de renúncia não é fácil para mim. Quando mantenho Deus à distância, posso
ficar desapegada, sem expectativas. Mas se eu me aproximar dele, mesmo quando realmente
acredito que ele pode mudar a situação, posso, no entanto, começar a exigir o resultado que eu
quero. Poderia verbalizar “Sua vontade seja feita”, mas ainda estar forçando minha própria
vontade. Deus, muitas vezes, tem que arrancar meus dedos do meu resultado desejado. Muitas
vezes fiquei arrasada quando ele me disse “não”, mas quando me submeto à sua vontade nessas
situações, mesmo com decepção e lágrimas, ele me garante que está trabalhando para o meu
bem.
Só enxergo parte do retrato. Ele tem um propósito em suas negativas.
O Pai disse não ao Filho. E esse “não” trouxe o maior bem de toda a história. Deus não é
genioso. Se ele disser não aos nossos pedidos, ele tem uma razão — talvez até dez mil. Talvez
nunca saibamos as razões nesta vida, mas um dia veremos todas elas. Por enquanto, devemos
confiar que suas recusas são sempre suas misericórdias para nós.

Corra Para O Seu Pai


E agora enquanto esperamos, ainda lutando para dar sentido às tempestades em nossas
vidas, vamos orar como nosso Salvador orou. Aproximemos-nos de Deus, acreditemos que ele
pode mudar nossa situação, vamos pedir-lhe ousadamente o que precisamos, e submeter nossa
vontade à sua.
Os planos do nosso Pai são sempre perfeitos. Sempre serão para o nosso bem e sua
glória.
12: QUANDO AS DECEPÇÕES
VÊM

A notícia foi completamente inesperada. E perturbadora. Assim que ouvi, meu coração
começou a bater e um calafrio varreu meu corpo. Não podia acreditar que isso estava
acontecendo. Chocada e desapontada, pedi imediatamente misericórdia a Deus. E a graça de
responder bem.
Quando tive tempo de me acalmar e pensar, pedi a Deus para consertar a situação —
mais precisamente, pedi-lhe para fazê-la desaparecer. Eu não queria enfrentar este problema e me
senti mal com o que poderia estar por vir. Eu queria que Deus o tirasse, fizesse tudo “certo”, me
impedisse de sofrer. Queria o caminho que tornaria isso mais fácil para mim.

Por Que Eu?


E então veio a minha terceira resposta. Estou menos orgulhosa dela. Pensei: Por que eu?
Por que coisas difíceis sempre acontecem comigo? As coisas estavam melhorando, mas agora
estão piorando de novo. Minha vida está cheia de decepção e dor, mas não deveria me
surpreender. Nada nunca acaba bem para mim.
Fico envergonhada quando escrevo essas palavras. Envergonhada de cair tão facilmente
em auto-piedade. Envergonhada de que convenientemente esqueço as bênçãos extravagantes de
Deus. Envergonhada de como sou rápida para reclamar. Eu não sou diferente do povo de Israel
que se lembravam do Egito como perfeito, mas enxergavam as circunstâncias após sua libertação
como intoleráveis. Reclamo a Deus de que minha vida seja mais difícil que a dos outros.
Presumo que todos os outros tenham saúde perfeita. Vidas plenas. Relacionamentos sem
conflitos. Carreiras de sucesso. Filhos prósperos. Problemas insignificantes. Resumindo,
superestimo meus problemas e minimizo as lutas dos outros.
Para ter um pouco de perspectiva, essa notícia decepcionante não foi relacionada a uma
mudança de vida. Era difícil de ouvir, mas não insuperável. Embora a longo prazo fosse um
evento insignificante, no momento, era consumidora de tudo.
Então, no meio da minha “festa” de auto-piedade, eu ligo para minha irmã. Ela é minha
rocha e minha verificação da realidade. Ela me mantém firme e me lembra da verdade quando eu
esqueço. Quando começo a falar sobre como minha vida é difícil, ela ouve. Ela concorda que é
uma situação difícil. Mas então eu começo a espiral para baixo, exigindo: “Por que eu? Por que
minha vida é mais difícil do que a de todos os outros?”
Ela faz uma pausa para escolher suas palavras cuidadosamente. “Eu sei que é
incrivelmente difícil agora. E orarei continuamente por você. Mas não acredite que sua vida seja
sempre mais difícil que a dos outros. A vida é dura. Para todos. Você nem sempre sabe pelo que
as outras pessoas estão passando”.
Suspiro enquanto me inclino para trás na minha cadeira. Ela está certa, é claro. Suas
palavras me lembram a citação na minha porta: “Seja gentil. Todos que você encontra estão
enfrentando uma luta da qual você não sabe nada”.[9] Todos nós lutamos. Nos preocupamos com
nossos filhos. Temos dias difíceis. Enfrentamos decepções. Sentimo-nos inadequados.
Cometemos erros que desejamos poder apagar.

Comece A Falar
Depois de falar ao telefone com minha irmã, lembro-me das palavras de Martyn Lloyd-
Jones: “Você já percebeu que a maior parte de sua infelicidade na vida é devido ao fato de que
você está ouvindo a si mesmo em vez de falar consigo?”[10] E então, começo a falar. Eu me
lembro de todas as bênçãos extravagantes que o Senhor derramou sobre mim. As bênçãos
pessoais, como meu marido amoroso e minha família que me apoia. E aquelas bênçãos
exclusivamente cristãs que são derramadas em todos os crentes, como a redenção, o perdão dos
pecados, a presença do Espírito Santo, e a promessa de vida eterna. Recebemos tudo isso,
juntamente com inúmeras outras garantias da Bíblia. Garantias como: “Sabemos que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o
seu propósito” (Rm 8:28). Romanos 8 me ajuda a ver que há um quadro maior. Não enxergo o
plano completo. Eu só consigo ver o hoje.
Lembrar-me de Romanos coloca minha vida em perspectiva. Deus não se surpreende
com notícias decepcionantes. Ele sabe de antemão e as usa para me conformar à imagem dele.
Enquanto reflito sobre a situação e o caráter de Deus, minha oração muda. Sou capaz de dizer:
“Embora eu não entenda esta situação, foi o Senhor que trouxe isso para a minha vida. Por causa
disso, sei que é bom. E sei que o Senhor vai usá-la – tanto para o meu bem quanto para a sua
glória. Quero confiar no Senhor. Ajude-me a fazer isso”.
Então, toda vez que penso na situação, decido procurar Deus. Em vez de me concentrar
no negativo, começo a orar para que Deus a use — na minha vida, pelo bem dos outros
envolvidos, para sua glória. Esta não é uma oração fácil. É uma escolha deliberada para afastar a
preocupação, a raiva e a autopiedade. Mas enquanto busco o Senhor e continuo falando com ele,
sou capacitada a levar meus pensamentos cativos. Lentamente, minha sensação de desespero se
dissipa.
Reconhecer que Deus vai usar esta provação me deixa mais calma. Então toda vez que
penso sobre o assunto, ao invés de ficar chateada e ansiosa, eu oro. Peço a Deus que opere na
situação. Para redirecionar minhas emoções. Para me ajudar a confiar nele. É fácil para mim tirar
conclusões precipitadas. Pensar que uma situação difícil vai levar à outra e depois à outra.
Muitas vezes extrapolo as dificuldades presentes para o futuro — que é o cerne de não confiar
em Deus. Essas dificuldades podem nunca se apresentar, mas mesmo que o façam, a graça de
Deus estará lá para me encontrar. Mesmo que o pior aconteça, Deus não falhará comigo.
Gostaria de lembrar dessas verdades quando surgem os problemas. Eu me preocupo
desnecessariamente quando poderia estar confiando em Deus. Não deveria ficar surpresa quando
as provações vêm. A Bíblia diz para esperar por elas. Elas me treinam e me refinam. Fazem um
trabalho profundo na minha alma. Revelam meu caráter.
Não sei como essa situação vai acabar, mas sei que Deus traz beleza das cinzas. Não
importa o que aconteça, sei que ele vai usá-la para o meu bem e sua glória. Não pode haver um
final melhor do que esse.
13: QUANDO O DESVIO SE
TORNA A NOVA ESTRADA

Este não é o bilhete que comprei. Foi o que pensei quando minha saúde fez um desvio e
me encontrei em uma estrada que não tinha antecipado. Uma estrada para a qual não estava
preparada. Uma estrada em que não queria viajar.
Laura Story entende como é isso. Tudo mudou radicalmente depois que seu marido foi
diagnosticado com um tumor cerebral. Vendo-o lutar para respirar e lidar com uma perda
significativa de memória, Laura implorou a Deus para curar seu marido e restaurar suas vidas de
volta ao jeito que haviam sido. A vida não tinha sido perfeita, mas tinha sido boa. Laura contou à
irmã de seu desejo de voltar à vida normal e livre de provações que ela tinha desfrutado antes. E
sua irmã respondeu perspicazmente: “Sabe, Laura, acho que o desvio em que você está é, na
verdade, a estrada”.[11]
O desvio em que você está é, na verdade, a estrada. Que pensamento aterrorizante.

Ansiando Pela Normalidade


Quando meus planos dão errado, sempre quero acreditar que fiz um desvio temporário.
Talvez seja um longo, mas espero que a estrada real, a estrada onde possa voltar a ser feliz e
realizada, seja logo à frente. Talvez seja logo ao virar a esquina, se puder simplesmente aguentar
firme.
Eu estava falando com uma amiga recentemente sobre esse desejo de voltar à
normalidade. Ela não sabe como lidar com seus problemas de saúde recém-desenvolvidos. Ela
deveria orar pela cura e esperar que Deus responda? Ou ela deveria aceitar a dor crônica e a
deficiência?
Entendo as perguntas dela. Eu mesma já as perguntei. Devo pedir sinceramente a Deus
que mude minhas circunstâncias? Devo me aproximar dele em oração, escrever meus pedidos, e
procurá-lo regularmente pelas coisas na minha vida que quero ver mudar? Coisas piedosas.
Restauração. Cura. Retornar ao ministério ativo. Ou devo reconhecer que estou em outro
caminho? Um que pode não trazer a cura e restauração que eu gostaria, mas sim uma
proximidade com Jesus que não poderia obter de outra maneira. Eu me apego vagamente à
expectativa de circunstâncias alteradas e me apego mais forte à esperança que nunca
decepcionará — a esperança que está enraizada em Jesus?
Sim.
Deus me convida a pedir que ele mude as coisas que desejo que sejam diferentes. Ele me
convida a perseverar. Confiar que minhas orações fazem a diferença. Mas, ao mesmo tempo,
Deus me pede para aceitar onde estou. Deixá-lo me encontrar na escuridão. Encontrar conforto
em sua presença. Vê-lo como mais importante do que qualquer mudança em minhas
circunstâncias. Deus me chama a fazer as duas coisas. Todos os dias. Em todas as estradas.

Ajustando-Se A Um Novo Normal


A velha estrada muitas vezes parece ser mais relaxante e fácil de dirigir. A nova estrada
pode ser esburacada e tortuosa, estreita com curvas afiadas. E eu me encontro ansiando pela
facilidade do que costumava ter. Mas o novo caminho também tem benefícios, talvez não
facilidade, mas no ver a vida de forma diferente. Mais reflexivamente. Realmente reconhecer a
realidade em vez de correr adiante, alheia ao meu entorno.
Mas independentemente do que ganhar, é um desafio aceitar que o desvio agora é o novo
caminho. Luto com essa realidade diariamente enquanto experimento novas fraquezas e dores
com a pós-poliomielite. Às vezes é temporário, mas muitas vezes é permanente. A perda se torna
o novo normal. E eu tenho que me ajustar.
No mês passado, estava indo para um prédio familiar quando percebi que não poderia
subir no meio-fio sem ajuda. Sem outras opções, eu relutantemente pedi ajuda a uma pessoa
caminhando. Ela foi calorosa e graciosa quando me ajudou e tivemos uma conversa encorajadora
andando juntos. Desde então, não consigo subir nas calçadas sem ajuda. Essa limitação alterará a
lista de onde sou capaz de ir sozinha, exigindo que eu planeje com antecedência. Para ser
honesta, não quero planejar com antecedência. Não gosto de limitações. E ainda assim, como
minha doce conversa com um estranho, tenho certeza que o Senhor tem bênçãos inesperadas ao
longo deste caminho.
Percebo que não posso me apegar ao passado. Não posso voltar para a velha estrada e
colocar tudo de volta do jeito que era. Algumas coisas vão melhorar com o tempo. Algumas
orações serão milagrosamente atendidas. Alguns sonhos se tornarão realidade. Mas a velha
estrada se foi. E na minha mente, muitas vezes será lembrada como melhor do que realmente era.
Os israelitas fizeram isso quando reclamaram depois que foram libertos da escravidão dizendo:
“Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos
alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa
vemos senão este maná” (Nm 11:5-6). Os israelitas esqueceram de mencionar que, embora
tivessem comida, eram escravos. Suas vidas no Egito não eram perfeitas. Eles clamavam
continuamente a Deus para libertá-los da escravidão.

Sem Olhar Para Trás


Então não olhe para trás, para o passado, e assuma que foi perfeito. Não foi nada. O meu
também não era perfeito. Este novo caminho em que estou, esburacado e tortuoso como possa
ser, é o caminho que Deus escolheu para mim. É a melhor estrada. A única que vale a pena
trilhar. Se eu continuar olhando para trás no velho caminho, focando no que perdi em vez do que
tenho, eu vou perder as recompensas do novo caminho. Preciso abrir meus olhos. Notar o que
está ao meu redor. Lembrar que Deus vai adiante de mim. Não preciso temer porque ele sabe o
que está por vir.
Como ele prometeu: “Guiarei os cegos por um caminho que não conhecem, fá-los-ei
andar por veredas desconhecidas; tornarei as trevas em luz perante eles e os caminhos
escabrosos, planos. Estas coisas lhes farei e jamais os desampararei” (Is 42:16). Deus está me
guiando neste novo caminho.
Estou no caminho certo. E você também.
14: SONHOS DESPEDAÇADOS E
FÉ ABALADA
Às vezes minha fé é abalada quando meus sonhos são destruídos. Eu me pergunto onde
Deus está no meio do meu sofrimento. Não consigo sentir a presença dele. Sinto-me sozinha e
com medo. Minha fé vacila. Questiono o que acredito há muito tempo. Pergunto-me o que é real,
especialmente quando minha experiência atual não corresponde às minhas expectativas.
Esse vacilar me incomoda profundamente. Já provei da bondade de Deus, desfrutei de
uma comunhão próxima com ele, encontrei descanso em seus cuidados ternos. Conheço seu
poder e seu amor. No entanto, no meio de uma luta profunda, não tenho respostas. Só perguntas.
João Batista entendeu esta luta enquanto esperava na prisão. Ele, acima de todos os
homens, sabia quem era Jesus. Mesmo no ventre, ele saltou de alegria na presença do Salvador
ainda não-nascido. No início do ministério de Jesus, antes de qualquer um de seus milagres, João
declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29). Ele batizou Jesus e
viu o Espírito de Deus descer sobre ele, testemunhando que Jesus é de fato o Filho de Deus.
E ainda assim, no auge do ministério de Jesus, João enviou uma mensagem para ele da
prisão, perguntando: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Mt 11:2-
3). Em certo momento, João tinha certeza de que Jesus era o Messias. Jesus confirmou sua
divindade ainda mais, realizando milagres, mas agora João estava se perguntando o que era
verdade. Por quê?

Expectativas Não Cumpridas


João sabia pelas Escrituras que aquele que dava visão ao cego, fazia o aleijado andar, e
pregava boas novas aos pobres certamente poderia “pôr em liberdade os algemados” como
estava profetizado em Isaías 61:1. Mas Jesus não fez isso por João.
Então, talvez neste momento, João duvidou do que sabia. Se Jesus era realmente o
Messias, João provavelmente esperava ter um papel em seu reino terreno. Ele não esperaria
começar com uma vocação tão alta - preparar o caminho do Senhor no deserto - apenas para
finalizar sua vida e seu ministério em uma pequena cela de prisão. Além disso, João pregou que
o Messias viria com um fogo insaciável. Com julgamento. Com poder. Ele provavelmente
esperava que isso fosse em sua vida.
Nenhuma dessas expectativas coincidiu com a realidade. E isso pode ter causado dúvidas
em João. Expectativas não cumpridas muitas vezes provocam essa resposta em mim,
especialmente quando tenho sido fiel. Ainda assim, Jesus não condena João por suas dúvidas.
Ele até diz que ninguém maior do que João jamais viveu. Ele entende por que João está fazendo
a pergunta. E a resposta de Jesus a ele reforça o que João já sabe: Jesus é, de fato, o Messias.
Ao mesmo tempo, Jesus sabe que o ministério público de João acabou. Assim como os
santos em Hebreus 11, João não receberia todas as promessas de Deus, mas poderia apenas vê-
las de longe. Ele não serviria com Jesus na terra ou veria a realização do reino de Deus. Mas um
dia ele o faria. Um dia ele veria sua parte gloriosa no magnífico plano de Deus. Ele, o último dos
profetas da antiga aliança, veria como Deus o usou para preparar o mundo para receber Jesus. E
João se alegraria.
Mas por enquanto, João tem que aceitar os planos do Messias para sua vida. Planos
diferentes do que ele imaginou. Ele tem que pensar no que sabe ser verdade ao invés de se fixar
em suas circunstâncias. Tem que lembrar-se quem é Deus e confiar nele de uma prisão sombria.
E assim é comigo.

As Dúvidas De João E As Minhas


Quando meus planos desmoronam e Deus me tira dos meus sonhos, devo confiar na
infinita sabedoria de Deus. Quando meu cálice de sofrimento parece encher demais, preciso
descansar em seu amor imensurável. Quando minha vida sai do controle, preciso lembrar da
soberania absoluta de Deus.
Posso não entender o que está acontecendo. Mas não posso parar de falar com ele. Ou
abandoná-lo em meus medos. Devo simplesmente ir a Jesus e dizer-lhe minhas dúvidas. Pedir a
ele para me ajudar a ver.
As dúvidas de João são as mesmas que as minhas. Pergunto-me se Deus é quem ele diz
que é. E se tudo está sob seu controle. E se ele realmente me ama. E quando duvido, Deus me
chama, como fez com João, a confiar no que sei ser verdade. Confiar nos princípios
fundamentais que conheço das Escrituras e da experiência - que Deus é completamente soberano,
amoroso e sábio. Nenhum pardal cai no chão fora de sua vontade.
Nesta vida, talvez eu nunca veja como Deus está usando minhas provações. Mas um dia
serei grata por elas. Tudo o que posso fazer agora é confiar que aquele que fez o manco andar e
os cegos verem, que morreu em uma cruz para que eu pudesse passar a eternidade com ele, vai
fazer a melhor coisa por mim.
Tudo se resume a confiança. Confiarei nas minhas circunstâncias que mudam
constantemente? Ou confiarei em Deus que é imutável?
Em Cristo, a rocha sólida, me firmo. Todo outro terreno é areia movediça.[12]

Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás
de mim o rosto? (Salmo 13:1)
15: A AGONIA DE ESPERAR

Esperar pode ser agonizante.


É mais difícil esperar quando estou incerta sobre o resultado, quando estou confiando em
Deus para o melhor enquanto me preparo para o pior. Seria muito mais fácil se eu tivesse um
bom resultado garantido. Ou pelo menos uma promessa específica de Deus para me agarrar,
alguma garantia para ancorar minhas orações. Mas Deus muitas vezes parece silencioso quando
estou esperando. Eu não tenho ideia se ele vai responder a minha oração, então parece que estou
esperando no escuro.
Eu li e reli Salmo 13:1-2, “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre?
Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma,
com tristeza no coração cada dia?” Ó Senhor, até quando?
Já fiz essa pergunta muitas vezes. Se eu soubesse que Deus responderia minha oração
com um sim, seria diferente. Mas sem essa garantia, mesmo um não seria mais fácil do que
“Espere”.

Quando Deus Diz Não


Vários anos atrás, procurei na Bíblia uma promessa que me ajudaria no meio de uma
espera torturante. Eu queria uma palavra que eu pudesse “reivindicar”. Um verso que me
garantiria uma eventual satisfação. Alguma coisa, qualquer coisa, para me apegar. Enquanto
esperava, li: “[Abraão] não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se
fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para
cumprir o que prometera” (Rm 4:20-21).
Embora eu admire a fé de Abraão, esta passagem muitas vezes me frustrou. Claro que
Abraão nunca vacilou. Ele teve uma palavra direta de Deus. Se tivesse uma promessa direta de
Deus, uma garantia da minha resposta, então ficaria contente em esperar, também. Abraão podia
esperar porque sabia que conseguiria o que queria no final. Queria que Deus me desse uma
promessa como a que ele tinha dado a Abraão. Então, continuei implorando a Deus por um sinal.
Nenhum veio. Nenhum versículo. Nenhuma confirmação. Apenas silêncio sobre essa
questão. Por anos. E no final, a resposta de Deus foi não.
No começo, parecia injusto. E sem propósito. Lutei para entender aqueles anos
aparentemente desperdiçados. Embora tenha me aproximado de Deus, de alguma forma senti que
tinha recebido um presente inferior. Coloquei isso fora de minha mente depois de um tempo. Era
inútil continuar pensando nisso. Mas sempre que lia essa passagem em Romanos, ela feria. Por
que Deus não me disse sua resposta desde o início?
Um Exemplo Sobre A Espera Certa
Vários anos depois, quando voltei a ler Romanos de novo na minha devocional, hesitei
em Romanos 4. Isso me lembrava dolorosamente daquele tempo de pedir e esperar. Sentindo-me
desconectada de Abraão, decidi olhar para sua vida em Gênesis. Vejo a humanidade de Abraão
em como ele às vezes duvidava da proteção de Deus. Ele até tentou cumprir a promessa de Deus
por conta própria através de Agar. Talvez ele pensasse que Deus precisava de sua ajuda e
engenhosidade.
Com esta parte, posso me identificar. A luta de Abraão com a impaciência parece muito
familiar. Muitas vezes tentei ajudar Deus a cumprir seus planos — ou seja, os planos que
gostaria que ele tivesse. Planos que me dariam o que eu quero. O que acho que mereço.
Ao estudar Gênesis, vejo que enquanto Abraão estava esperando, Deus estava
trabalhando. Moldando seu caráter. Ensinando-lhe paciência. Construindo a amizade deles. Foi
nessa espera de 25 anos que Abraão conheceu Deus intimamente. Foi naqueles anos
aparentemente desperdiçados que Deus o transformou. E depois de décadas de espera, Abraão
estava pronto para o teste supremo de sua fé, quando lhe pediram para sacrificar Isaque, o filho
da promessa. O filho que ele esperou.
Aí, finalmente enxerguei. Por que eu não tinha notado isso antes? A fé de Abraão não
estava enraizada na promessa de descendentes. Se fosse, ele nunca teria levado Isaque para ser
sacrificado. Ele não teria renunciado ao que Deus lhe havia prometido anos antes. Ele teria se
agarrado firmemente a Isaque, sentindo-se no direito a este filho. Pois Isaque foi o cumprimento
da tão esperada promessa de Deus a Abraão. Abraão não estava se agarrando à sua própria
compreensão do cumprimento da promessa de Deus. Deus poderia cumprir sua promessa como
quisesse, incluindo ressuscitar Isaque dos mortos se fosse preciso (Hb 11:19). Então, em última
análise, a fé de Abraão estava na confiabilidade de Deus.

A Resposta Mais Preciosa


A fé de Abraão não estava apenas na promessa. Sua fé estava enraizada Naquele que
prometeu.
Porque sua fé não estava no que Deus faria por ele, e sim no próprio Deus, Abraão
estava disposto a arriscar. Ele podia fazer o que Deus pedisse. Ele não estava se agarrando a um
resultado em particular. Ele estava se agarrando em Deus. A espera de Abraão fortaleceu sua fé.
Ensinou-lhe os caminhos de Deus. Mostrou-lhe a fidelidade de Deus. Abraão sabia que Deus
forneceria tudo o que precisava.
Tenho a mesma garantia que Abraão tinha - a que Deus fornecerá tudo o que preciso.
Quando essa promessa entra em meu coração, vejo minha espera de forma diferente. Talvez
Deus esteja fazendo com que eu - e você - esperemos pelas mesmas razões que ele fez Abraão
esperar: para forjar nossa fé. Para nos fazer atentos à voz dele. Para aprofundar nossa relação.
Para solidificar nossa confiança. Para nos preparar para o ministério. Para nos transformar em
sua semelhança.
Em retrospectiva, percebo que esta é a resposta mais preciosa que Deus pode nos dar:
espere. Isso nos faz nos apegarmos a ele ao invés de um resultado. Só Deus sabe do que preciso.
Eu não. Ele vê o futuro; eu não posso.
Sua perspectiva é eterna; a minha não é. Ele vai me dar o que é melhor para mim quando
for melhor para mim. Como Paul Tripp diz: “Esperar não é apenas sobre o que recebo no final da
espera, mas sobre quem eu me torno enquanto espero”.[13]
16: IMPLORANDO A DEUS

Uma vez, no meio de uma palestra, eu quase desabei. Enquanto contava como implorei a
Deus para salvar a vida do meu filho, senti meu peito apertar. Lembrei-me de como me sentia
desesperada. Como tinha certeza que minha insistência seria eficaz. O quanto eu queria compelir
Deus a fazer o que tinha pedido.
Afinal, ele é Deus. Nada é impossível para ele. Nunca quis tanto nada na minha vida, e
era quase inconcebível que Deus dissesse não a um pedido tão intenso.
Mas Deus disse não. Enquanto implorava pela vida do meu filho, ele estava morrendo.
Como um Deus bom deixa isso acontecer? Não conseguia entender isso. E lembrei-me
vividamente de muitas outras vezes em que implorei a Deus por coisas que ele havia me
recusado. Quando criança, implorei a Deus que me curasse. Aos vinte anos, implorei a Deus que
reparasse um relacionamento romântico quebrado. E há vários anos, implorei a Deus para trazer
meu marido de volta.

Teologia E O Espírito Santo


Eu me perguntava enquanto estava falando, “Por que Deus não responde às minhas mais
profundas orações?”. Claro, eu tinha pensado na minha teologia antes de entregar a mensagem.
Minha palestra era sobre encontrar Deus no meio da nossa bagunça. O ponto da minha palestra
era que Deus usa todas as coisas em nossas vidas para nossa alegria e sua glória.
Enquanto dizia as palavras “Implorei a Deus”, fiquei inundada com as emoções que senti
décadas antes. Mais uma vez, senti a dor crua de implorar a Deus e me perguntar por que ele não
tinha me respondido do jeito que queria. Na época, eu me sentia abandonada. Na época, parecia
que Deus não se importava.
Mas enquanto eu falava, o Espírito Santo me encontrou. Ele usou as palavras que estava
dizendo, e tinha escrito dias antes, para ministrar à minha alma naquele momento. Ele me
lembrou da verdade que, embora ele sempre ouça e responda às nossas orações, suas respostas
podem parecer totalmente diferentes do que esperamos. E mesmo quando ele nos dá lutas
dolorosas para suportar, ele nos carrega através delas.
Estava me dirigindo a um grupo de mulheres, muitas das quais tinham encontrado
dificuldades extraordinárias. Enquanto falava, estava grata pelo meu próprio sofrimento, mesmo
que não fosse tão profundo quanto o de algumas delas. Minhas palavras não eram frases que
tinha lido em um livro, mas palavras honestas que eu tinha vivido. Na minha própria vida, ficava
muito mais comovida ao ouvir a experiência de alguém com Deus do que ouvi-lo recitar fatos
sobre Deus.
Suas Recusas São Suas Misericórdias
No final da minha palestra, havia um senso esmagador do propósito de Deus. Fui
dominada por um amor por Cristo e uma alegria no que ele fez na minha vida. E naquela sala
cheia de mulheres que sofreram tanto, sua presença era tangível. Havia lágrimas e
arrependimento. Havia esperança e um amor renovado por Jesus. Eu estava em terra santa, grata
e espantada por estar testemunhando esta profunda obra do Espírito.
Enquanto ouvia esses preciosos relatos, vi um pequeno vislumbre do glorioso trabalho
que Deus está fazendo em todos nós. Vi que suas recusas são suas misericórdias, elas tinham me
moldado. Cada resposta com um “não” levou-me para mais fundo no coração de Deus, mais
fundo em sua palavra, mais fundo em oração.
Era agradecida por cada “não”, cada provação e dificuldade, cada aflição que me levou a
ficar de joelhos.
Na minha sabedoria finita, nunca teria escolhido o caminho que trilhei. Tem sido difícil e
cheio de esforço, e nenhuma das minhas lutas teve finais simples e felizes, encaixados
perfeitamente com um arco. Mas enquanto ouvia as histórias dessas mulheres, percebi que Deus
tinha me esculpido e me martelado, dito “não” quando implorei por “sim”, e ofereceu sua
presença quando eu queria seus presentes — porque ele tinha um plano muito maior para mim.
Parte disso era contar às pessoas sobre sua bondade no meio do sofrimento.
Sou grata porque não decido o meu futuro. Deus decide. Deixada por mim mesma,
minha jornada teria sido suave, navegando em águas espiritualmente rasas. Minha vida teria sido
cheia de prazeres temporários e de vazio perpétuo. Então, hoje, quando penso nos casos em que
Deus disse não, apesar da minha insistência, sou grata. Embora algumas recusas tenham deixado
uma dor na minha alma, não procuraria revertê-las — em parte porque muitas vezes vejo
propósito nelas, mas o mais importante porque sei que ele sempre fará o que é melhor para mim.
Mesmo quando não entendo por que, confio que Deus tem um propósito na minha dor.
Em Caminhando com Deus através da dor e do sofrimento, Tim Keller cita John
Newton dizendo:

Tudo deve cooperar para o bem; tudo é necessário que ele envia; nada pode ser
necessário que ele retém Renda-se às suas prescrições, e lute contra cada
pensamento que represente como desejável ser permitido escolher por si mesmo.
Quando você não pode ver seu caminho, esteja convencido de que ele é seu líder.
[14]

Tudo é necessário que ele envia. Nada pode ser necessário que ele retém.
Deus sabe o que preciso e escolheu para mim o que não teria escolhido sozinha, dada a
minha perspectiva limitada sobre a vida e a minha propensão para o meu próprio conforto. Mas
se tivesse a perspectiva de Deus e soubesse o que ele sabe, eu, sem dúvida, escolheria o que ele
me deu.
Foi tudo necessário.
17: ANSEIOS NÃO REALIZADOS

Fiquei sozinha por anos. Eu ansiava por me casar de novo, mas não queria admitir isso a
ninguém. Nem mesmo para mim.
Não queria depositar minhas esperanças em algo que poderia nunca acontecer. E se
nunca me casasse de novo, não queria parecer que eu tinha desperdiçado minha vida, não tinha
confiado em Deus, e não poderia ser contente. Receberia pena dos outros e sentiria vergonha de
mim mesma. Eu não queria isso.

Esqueça, Renda-Se, Negue, Repita


Então, enterrei meus sentimentos. Às vezes, esses sentimentos amassados ressurgiam e
eu pedia a Deus por um marido. Eu fazia anotações em meu diário sobre isso, orava
fervorosamente, e estava atenta a quem Deus poderia trazer. Então, tentava esquecer meus
anseios, entregá-los a Deus, e me convencer que não queria me casar, de qualquer maneira. Disse
a mim mesma, e a outras pessoas, que não era importante. Que eu estava completamente
contente. Que eu tinha chegado ao contentamento com onde eu estava.
Isso era uma mentira. Uma mentira que eu queria acreditar porque parecia que todos que
amavam Deus estavam satisfeitos com suas circunstâncias. Além disso, parecia melhor negar um
desejo que nunca poderia ser realizado do que seria manter o anseio. Certamente foi menos
doloroso. Outros haviam aceitado seus anseios não realizados. Eles tinham chegado a um acordo
com sua solteirice ou infertilidade ou carreiras desanimadoras. Quando finalmente esqueceram
seus desejos, ganharam uma sensação de estabilidade. Então, eu estava dividida sobre o que
fazer. Implorei a Deus que tirasse esse desejo, mas ele não o fez. Então, clamei para ele me
encontrar no meio desse anseio não realizado.
Por anos ele me encontrou lá. E então Deus me abençoou com um marido que está além
das minhas expectativas.

Realizada, Mas Ansiando


E, no entanto, em outras coisas — com anseios tão reais quanto intensos — Deus não me
deu o que eu ansiava. Ele me deixou com desejos não atendidos. Desejos que podem não ser
realizados deste lado do céu. Desejos com os quais posso viver sempre. Agora mesmo, quero um
corpo saudável que possa fazer as coisas que eu quero fazer. Com síndrome pós-pólio, estou me
deteriorando diariamente, muito mais rapidamente do que estou preparada. Em alguns dias,
acordo com dor intensa que dá lugar a uma dor maçante que se arrasta ao longo do dia. Nesses
dias, meus braços estão limitados a tarefas básicas como comer e se vestir. Se eu puder sequer
usá-los.
Tem sido doloroso. Já chorei e questionei Deus, implorando por libertação. Para mim,
como um tipo de personalidade “ajudante”, servir tem sido uma das minhas maiores alegrias. E
quando esse papel é invertido e eu sou a única que precisa ser servida, sinto-me inquieta.
Desconfortável. Um fardo. Quero ser a esposa perfeita que faz ótimas refeições, mantém uma
casa limpa, e tem energia ilimitada. Uma mãe atenciosa que serve seus filhos incansavelmente.
Uma amiga confiável com quem outros podem contar para qualquer coisa. Mas muitas vezes não
posso ser nada disso. Ao invés de servir, tenho que ser servida. Nos momentos mais
inconvenientes.
Amigos me encorajaram a relaxar e me contentar com minhas circunstâncias. Desistir do
meu desejo de que as coisas sejam diferentes. Dizem que é a única maneira de ter paz. Quem me
dera poder fazer isso. Tenho estado ciente há mais de uma década que meu corpo está falhando,
mas ainda é difícil não atender às necessidades físicas dos outros. Fui feita para servir. Então,
sempre que não posso fazer isso e os papéis são invertidos, eu fico em luto.
Essas limitações me incomodam diariamente. E sempre que o fazem, sou convidada a
entregá-las a Deus. Como um ato de adoração. Um sacrifício vivo. Uma oferta de fé e confiança
em Deus. A Bíblia diz que há grande ganho na piedade com contentamento (1 Tm 6:6). Deus
tem uma razão para todas as nossas circunstâncias. Devemos viver a vida ao máximo com o que
nos foi dado. Devemos aprender a ver sua graça e encontrar alegria onde quer que estejamos.
Ao mesmo tempo, não é saudável negar nossa dor e fingir que está tudo bem quando não
está. Tudo bem querer que as coisas sejam diferentes. É perigoso abafar nossos anseios,
empurrando-os tão fundo que somos desprovidos de emoções e paixão.

Honestidade É Melhor
É muito melhor ser completamente honesta com Deus. Oferecer meus anseios para ele.
Pedir-lhe para mudar a situação ou me dar a graça para lidar com isso. Estranhamente, esse
processo de clamar a Deus e ser honesta sobre a minha dor me atraiu para perto de Jesus.
Falso contentamento não faz isso. Muito pelo contrário, o contentamento fingido me
afasta de Cristo porque não posso nem ver a minha necessidade por ele. Amortecer nossos
desejos pode nos tornar estoicos, mas isso não nos fará seguidores apaixonados de Cristo. Um
“contentamento” que é resultado de suprimir nossos anseios leva a platitudes vazias na melhor
das hipóteses e hipocrisia amarga na pior delas.
Todos temos anseios. Clamar a Deus para realizá-los ou mudá-los ou nos dar força para
suportá-los fortalece nossa fé. Negar nossos anseios sob o pretexto de contentamento pode nos
afastar da dor, pode parecer mais espiritual, e pode nos tornar menos emocionais, mas pode levar
à morte espiritual.
Deus pode mudar meus desejos e trazer contentamento duradouro mesmo quando ele
nega meus queridos pedidos. Isso seria um grande presente. Mas nem sempre acontece assim. E
se isso não acontecer — se eu ainda sinto esses lugares crus na minha alma, se ainda anseio por
algo mais — ele pode querer que me incline para mais perto dele, confie nele mais
fervorosamente e me apegue com mais força. E isso é uma misericórdia também.
A vida é cheia de dor. Às vezes Deus milagrosamente nos liberta. Quando ele o faz, nos
alegramos e lhe damos glória. Ele faz todas as coisas novas e traz beleza das cinzas. Às vezes
não somos libertos, mas ele nos dá um verdadeiro contentamento em nossas circunstâncias, para
que o mundo possa ver sua paz e satisfação. E às vezes ele nos deixa com uma dor constante, um
lembrete de que este mundo não é nosso lar, e somos apenas estranhos passando por aqui.
Essa dor implacável é o que me deixa de joelhos, me traz a Jesus, me faz ansiar pelo céu.
E talvez no céu, agradecerei mais a Deus pelos meus anseios não realizados porque eles fizeram
o trabalho mais profundo e duradouro da minha alma.

Quanto a mim, porém, amargurado e aflito, ponha-me o teu socorro, ó Deus, em


alto refúgio. (Salmo 69:29)
18: DEPENDÊNCIA

Autossuficiência e independência são parte do estilo de vida americano. A maioria de


nós abraçou esses ideais. Eles nos permitem prover para nós mesmos com relativamente pouca
incerteza ou inconveniência.
Estamos todos propensos a ver nosso Criador como um bom plano de backup.
Trabalhamos para criar e controlar nosso futuro sem assistência externa, sabendo que Deus está
sempre lá se as coisas derem errado.

Adeus Autonomia, Olá Dependência


Eu estava operando muito bem nesse princípio até cerca de 15 anos atrás, quando um
diagnóstico de síndrome pós-pólio abruptamente terminou meu romance com a autonomia.
Desde então minha vida tem sido caracterizada pela dependência: dependência de amigos,
dependência da família, dependência de Deus.
A cada ano que passa, sou capaz de fazer menos por mim mesma. A cada ano devo
confiar mais nos outros. Com a pós-poliomielite, meus músculos acabarão parando de funcionar;
eles não podem ser rejuvenescidos. Eles estão morrendo lentamente. Como não faço ideia de
quanta força me resta, devo confiar em Deus para fornecer a energia que preciso todos os dias.
Minha condição é frustrante e assustadora. É difícil decidir para onde direcionar minha
energia em declínio, descobrir quais coisas boas devo recusar, porque são muito fisicamente
caras.

Orando Por Apenas O Suficiente


Como resultado, vários amigos começaram a orar para que minha força fosse como o
óleo e farinha da viúva de Sarepta. Para que sempre houvesse o suficiente. Que nunca tivesse
falta. Que minha energia nunca acabasse.
Lemos a história da viúva de Sarepta em 1 Reis 17. Todos os dias ela recebia óleo e
farinha suficientes para suas necessidades, mas não mais. E ela nunca soube se teria o que
precisava para o dia seguinte. Ela simplesmente sabia que se o Senhor não providenciasse todos
os dias, ela e seu filho morreriam de fome. Não tinha recursos próprios, nenhuma poupança para
ativar, nenhuma maneira de ver o futuro. Mas esta viúva tinha Deus. E ele era o bastante.
Sua história é uma bela imagem de total dependência de Deus. É um belo exemplo de
como Deus provê para nós. Uma linda ilustração de confiar nele para nossas necessidades
diárias. Linda, isto é, para outras pessoas. Adoro ver Deus trabalhar na vida dos outros dessa
maneira. Isso me inspira. Mas eu não quero tanta dependência absoluta na minha vida. Não
escolheria ser como a viúva de Sarepta.

Mas Quero Um Frasco Cheio


Não gosto de viver com escassez. Não gosto de ter o suficiente para atender às minhas
necessidades. Não gosto de ser dependente. Isso me faz sentir vulnerável. Na minha economia,
quero um frasco de óleo cheio e pote de farinha transbordando. Quero ver exatamente como e
quando Deus vai suprir minha necessidade. Quero uma garantia que posso verificar
independentemente.
Isso é porque, no fundo, prefiro depender de mim do que de Deus. Embora queira servi-
lo com todo o meu coração, confiar nele no escuro pode ser assustador; é muito mais fácil
quando o futuro parece brilhante. Prefiro louvar a Deus por sua provisão abundante do que
depender diariamente dele para atender às minhas necessidades básicas.
Felizmente, ele não me dá o que quero ou o que escolheria sozinha. Ele tem algo mais
magnífico em mente. Ele sabe que a minha segurança e confiança são melhor enraizadas nele,
não nas coisas boas que ele dá. Mesmo que seus presentes possam ser bênçãos maravilhosas, eles
não podem ser minha fonte de esperança.
É sábio economizar dinheiro para que tenhamos o suficiente para nos aposentarmos. Mas
enfrentar a aposentadoria com pouca poupança pode nos forçar a depender de Deus de maneiras
que uma grande conta bancária nunca faria. É maravilhoso ter uma ótima saúde e energia
ilimitada. Mas estar doente e depender de outros para nos ajudar pode levar-nos a ficar de
joelhos, mais rápido e por mais tempo, a cada dia. É uma alegria ter uma casa cheia de filhos
amorosos e obedientes. Mas clamar a Deus por causa da infertilidade ou crianças rebeldes pode
nos levar a uma relação mais profunda com ele.

Melhor É Ter Um Problema


“Não há maior misericórdia que conheça na terra do que a boa saúde, exceto a doença; e
isso tem sido, muitas vezes, uma misericórdia maior para mim do que a saúde”, disse Charles
Spurgeon. “É uma coisa boa estar sem problemas; mas é uma coisa melhor ter um problema, e
saber como obter graça o suficiente para suportá-lo”.[15]
É melhor ter um problema, e saber como obter graça o suficiente para suportá-lo. Isso
porque, no reino de Deus, a dependência é sempre melhor do que a autossuficiência. A
autossuficiência leva ao orgulho e ao egoísmo, enquanto a dependência leva à humildade e à
intimidade com o Senhor. Dependência rende bons frutos em nossas vidas. Como Spurgeon
aparentemente disse em outro lugar: “Aprendi a beijar a onda que me lança contra a Rocha
Eterna”.[16]
Qualquer coisa que me faça dependente de Deus é uma coisa boa, talvez a melhor coisa.
Isto é, claro, profundamente bíblico. O povo de Israel recebia maná todos os dias. Eles não
podiam prover para si mesmos, tinham que depender de seu Deus que tudo provê. Jesus ressaltou
a importância da dependência diária quando nos ensinou a orar, dizendo: “o pão nosso de cada
dia dá-nos hoje” (Mt 6:11). Só Deus fornece tudo o que precisamos todos os dias, até mesmo
nosso próprio fôlego. Qualquer sentimento de independência dele é, portanto, uma ilusão.

Lançada Contra A Rocha Eterna


Por causa do meu pecado, ainda não escolheria ser como a viúva de Sarepta. Não
escolheria dependência no lugar da independência. Eu não escolheria escassez em vez de
abundância. Mas como Deus os escolheu para mim, descobri que são como fontes de bênção
indescritível.
Agradeço que o Senhor continue a me dar o que é melhor para mim, não o que eu
escolheria para mim mesma. Estou consumida de desejo por meu próprio conforto; ele é
consumido no desejo pela minha alegria eterna. Meus lugares de fome e desolação tornaram-se
os lugares onde o vejo mais claramente. Ele não só atende a todas as minhas necessidades; ele
maravilhosamente me enche de si mesmo.
E, milagrosamente, estou aprendendo a ser grata por cada onda que me lança contra a
Rocha Eterna.
19: POR QUE DEUS NÃO CURA
TODO MUNDO?
Enquanto leio as palavras do meu antigo diário, lembro vividamente das minhas
emoções. Vergonha, humilhação, dúvida. O registro é datado de 16 de abril de 1983. Estava no
meu segundo semestre da faculdade.

Fé, Cura E “Cura De Fé”


Lembro-me bem do dia. Meus amigos sugeriram que fosse à reunião, mas eu era
resistente. Já tinha ido aos cultos de cura antes. Toda vez eu esperava uma cura milagrosa. Toda
vez acreditava que isso aconteceria. Toda vez que tinha voltado para casa desapontada. Queria
me proteger de mais frustrações, mas ao mesmo tempo, queria tanto ser curada. O dia todo me
senti inquieta, oscilando entre medo e ansiedade.
Embora tenhamos chegado cedo, o salão estava lotado. Os únicos lugares que restavam
eram na primeira fila. Enquanto caminhávamos até a frente do auditório, eu estava
dolorosamente ciente do meu manco. Todos sabiam que eu tinha vindo pela cura. Minha
presença parecia intensificar a excitação. Poderia dizer que todos estavam se perguntando se eles
iam testemunhar um milagre verificável.
Depois de um breve sermão, as pessoas começaram a fazer fila. Este evangelista
itinerante tocou as pessoas onde elas estavam com dores e orou por elas, ordenando- -lhes para
serem curadas em nome de Jesus. E todos foram curados. Dores no quadril, dores nos ouvidos,
enxaquecas — todas desapareceram imediatamente. Meu estômago estava “embrulhando”
quando alguém agarrou minha mão e me levou ao palco. Houve silêncio enquanto todos se
voltavam para mim. Eu estava aterrorizada.
Sentei em uma cadeira enquanto este homem puxava minhas pernas e me disse que uma
perna era mais longa que a outra. Ele consertou isso. Então ele tocou meus ombros e pernas,
tomou posse da minha cura, e me pediu para andar. Quando eu o fiz, nada era diferente. Ele orou
novamente. Ainda assim, nenhuma mudança. Ele ficou irritado. Talvez um pouco envergonhado.
Olhou para mim e disse: “Fiz tudo o que pude. O resto é com você”.
Ele se afastou e declarou com um aceno de desdém: “Vejo que você não tem fé para ser
curada. Precisa ir para casa e orar e pedir a Deus para lhe dar mais fé. Vou fazer outro culto de
cura e batismo amanhã. Se você tiver a fé, venha para essa reunião e você será curada”. Ele
voltou sua atenção para a próxima pessoa na fila enquanto meus amigos me ajudavam a sair do
palco.
Fiquei morta. Ninguém nunca tinha dito que era minha culpa antes. Ninguém tinha
questionado minha fé no processo. Ninguém me culpou pela minha deficiência. Sentei lá,
humilhada, tentando descobrir o próximo passo. Eu estava simultaneamente envergonhada,
insegura e irada.

Resultado
Naquela noite, escrevi meu diário. Eu comecei com, “Estou tão confusa e não sei o que
pensar... se você quer que eu seja curada Senhor, dê-me a fé. As dúvidas começaram a me
sobrecarregar. Eu me senti desesperada. No dia seguinte, escrevi: “Tenho tão pouca fé... você diz
que se não temos fé devemos pedi-la. Senhor, quero ser curada... me ajuda a confiar que vou
ser”.
Nos dias seguintes, minhas emoções estavam em uma montanha russa, alternando entre
implorar a Deus por fé para que fosse curada e demonizar este homem que me humilhou. Então
decidi que estava errado. Ele era um falso mestre. Minha fé era forte, e ninguém podia questioná-
la.
Eu precisava de graça. Graça para mim, para ver que minha cura não repousa em mim.
Graça para este homem, que estava tentando dar uma desculpa para justificar seu dom. Graça
para meus amigos, que estavam tentando me ajudar a discernir a verdade. Quando fui criticada,
presumi que não havia culpa minha. Foi um erro totalmente deste homem. Ninguém deveria ter
questionado minha fé. Mas quando olhei para o meu coração e o que estava na raiz da minha
revolta, vi meus próprios pecados de justiça própria, orgulho e arrogância.
Mas, ao mesmo tempo, não acredito que curandeiros da fé possam curar seja lá quem
quiserem. Só podem curar aqueles que Deus escolheu restaurar. A gloriosa mensagem do
evangelho é que o plano e as promessas de Deus não dependem de nós. Eles são totalmente
dependentes dele, pois ele fez tudo. Só Deus decide por quem e quando e onde a cura ocorrerá.

Espinhos Remanescentes E Espinhos Removidos


Pessoalmente, adoraria ser fisicamente curada. Ou pelo menos que minha deterioração
da pós-pólio parasse. Tornaria meus dias muito mais fáceis. Mas Deus, em sua sabedoria, optou
por não remover este espinho. Não entendo quando ou por que Deus escolhe curar. Permanece
um mistério. Gostaria de saber por que cristãos fiéis devotos morrem jovens de câncer e outras
pessoas não tão fiéis recebem cura inexplicável, ainda que os primeiros procurem Deus
diariamente e os últimos façam uma oração rápida. Não parece justo.
No entanto, eu mesma recebi uma cura física milagrosa. Quando tinha oito anos, usava
aparelhos no tornozelo. Os médicos disseram que eu não podia andar sem eles. Mas Deus mudou
isso em um instante através de um homem de fé que se sentiu chamado a vir à nossa casa e orar
por mim. Não uso esses aparelhos desde então, e os médicos até hoje estão surpresos. Não faz
sentido médico.
Então, por que Deus não foi até o fim e me curou completamente? Por que ele parou ao
me livrar do meu aparelho? Por que ele não fez o milagre mais surpreendente? Não tenho
certeza. Mas sei que Deus fez uma cura mais profunda na minha vida por causa da minha
deficiência. Ele me ensinou a confiar nele no escuro. Refinou meu caráter através da perda. E ele
me deu uma alegria incrível nele. Essas coisas são mais valiosas para mim do que a cura física.
O poder de Deus está sendo aperfeiçoado na minha fraqueza. Paradoxalmente, é muitas
vezes através de não ser curada, o clamar a Deus, o confiar nele quando dói, que enxergo Deus
mais claramente. Uma oração puritana do Vale da Visão, coloca desta forma: “Senhor, durante o
dia, as estrelas podem ser vistas de poços mais profundos, e quanto mais profundos os poços,
mais brilhantes suas estrelas brilham”.
Embora gostaria de entender os mistérios de Deus, não sinto que preciso. Minha mente
finita não pode compreender o infinito. Mas tenho certeza de que Deus é cheio de propósitos.
Tenho certeza que a vida não é aleatória e Deus não é frívolo. E se estou fisicamente curada ou
não, posso descansar na graça imutável de Deus.
Essa oração do Vale da Visão termina com isso: “Deixa que eu encontre tua luz em
minha escuridão, tua vida em minha morte, tua alegria em meu sofrimento, tua graça em meu
pecado, tuas riqueza em minha pobreza, tua glória em meu vale”.[17]
Pois em Cristo, realmente encontrei sua luz em minha escuridão e sua alegria em meu
sofrimento.
20: CADEIRA DE RODAS E
ADORAÇÃO
Os brincos da Joni chamam minha atenção.
Eles são de ouro martelado com bordas enrugadas que piscam brilhantes. Sou fascinada.
Já ouvi falar desses brincos. Eles já foram suaves e quadrados, polidos e perfeitos. Ela os
estimava — um presente inesperado de uma amiga. Mas ela inadvertidamente deixou cair um no
chão do escritório, esmagando-o debaixo do pneu da cadeira de rodas, o som de trituração
denunciando o dano.
Um joalheiro disse a ela que não podia consertá-lo. Mas ele poderia fazer o que estava
ileso combinar com o outro. Era um risco, mas ela decidiu confiar nele. Na sala dos fundos, ela
ouviu marteladas e trituração. Ele sabia o que estava fazendo? Mas, ele voltou com um segundo
brinco combinando. Marcado e mutilado. Mas estranhamente magnífico.

Beleza Batida
Eu fixo meus olhos nesses brincos. Eles são sofisticados. Do meu ponto de vista, não
estão marcados. Muito pelo contrário, parecem-se com o trabalho de um artesão habilidoso. O
dano produziu algo de tirar o fôlego.
A lição é vívida. Não quero lutar, pegar o caminho difícil, ser machucada. Prefiro uma
vida fácil e suave.
Mas é a batida que produz caráter, caráter esse que reflete a luz. Ao ver o ouro retorcido
brilhando, fico espantada com a beleza do que foi batido.
Enquanto falamos, meu olhar muda dos brincos de Joni para as mãos. Estamos jantando
e estou vendo ela comer. Isso não é curiosidade ociosa; sei com a pós-poliomielite que meus
braços estão falhando e eu também posso ter de lutar para me alimentar. Ela frequentemente
precisa de ajuda e deve se contentar com a forma como os outros a ajudam. Como cortam sua
comida, o que colocam em seu prato, quando podem atender às suas necessidades.
Como uma comilona, não posso imaginar comer dessa maneira. Quero que cada mordida
seja exatamente como eu imagino. Assisto e me pergunto se eu poderia aceitar ajuda com tanta
graça. Depois de um momento de observação, sei que não poderia. Pelo menos, não na minha
própria força. Digo a ela calmamente: “Joni, isso deve ser tão difícil - você nem sempre pode ter
as coisas do jeito que você quer”. Estou expressando minhas próprias lutas, meus próprios
medos, minha própria dor.
Ela ri e diz: “Eu sou uma pessoa tipo A, e com tetraplegia, nada é exatamente do jeito
que eu quero. Nada além da minha escrita”. Ela se inclina para mim, olha-me diretamente nos
olhos e declara com certeza inabalável: “Mas todas essas pequenas decisões, essas coisas
cotidianas que eu rendo, as escolhas que faço diariamente um dia brilharão em glória. Todas elas
vão contar”.

Tudo Conta
Engulo com força. Eu precisava ouvir isso. Essas pequenas escolhas, essas formas
aparentemente insignificantes em que tenho que abrir mão do que quero, quando ninguém vê e
ninguém mais sabe, todas elas contam. Porque alguém vê, e alguém sabe. Nenhum desses
sacrifícios será esquecido. Um dia, todos brilharão em glória. Todos contarão.
Penso nas entregas momento-a-momento. Suas escolhas de ser agradecida quando as
coisas não são perfeitas. Ela morrendo para si mesma. São atos de adoração. Elas têm um
significado eterno. Percebo que todas as minhas respostas importam também. Posso mostrar o
valor de Cristo quando sofro bem, quando aceito alegremente circunstâncias que são menos do
que perfeitas, quando abro mão de minha necessidade de controlar. Abrir mão do meu “direito”
de ter algo exatamente como quero pode ser um ato de adoração.
Joni Eareckson Tada me orientou de longe enquanto aprendi, através de sua escrita,
como persistir no meio do sofrimento. Ela demonstrou o que é ser entregue a Deus. Ela me
mostrou que a glória de Deus é algo pelo qual vale a pena sofrer, viver e morrer. Enquanto a
observava, silenciosamente afirmei: “Se é isso que a aflição faz na vida de alguém, se é assim
que poderia ser atraída a Deus, se esse é o caminho de mostrar Jesus a um mundo que observa,
pode me inscrever para o sofrimento”.
Joni me mostra que Deus é valioso não porque ele torna nossas vidas mais fáceis. Ele é
valioso porque ele é o Senhor do universo e conhecê-lo é melhor do que qualquer coisa nesta
vida. Conhecê-lo é a alegria final. Conhecê-lo vale qualquer provação que possamos suportar.
Este é um Deus digno de adoração. O Deus que tomou uma mulher que queria morrer
depois de ficar tetraplégica e a transformou de dentro para fora de modo que poderia mais tarde
dizer: “Sou grata pela minha tetraplegia”.[18]
O livro de Joni, When God Weeps (Quando Deus Chora), trouxe uma mudança de vida
para mim e ajudou a forjar minha teologia. Algumas das minhas citações favoritas são:

Nada acontece por acidente. (...) Nem mesmo a tragédia, Nem mesmo os pecados
cometidos contra nós.

Cada tristeza que provamos, um dia provará ser a melhor coisa possível que
poderia ter acontecido. Agradeceremos a Deus infinitamente no céu pelas
provações que ele nos enviou aqui.

Deus permite o que odeia para alcançar o que ama.

Ou Deus governa, ou Satanás define a agenda do mundo e Deus está limitado a


reagir. Nesse caso, o Todo-Poderoso se tornaria o garoto de limpeza de Satanás,
varrendo depois que o diabo pisoteou e fez o seu pior, encontrando uma maneira
de tirar o bem da situação de alguma forma. Mas não era o melhor plano dele
para você, não era o plano A, não era exatamente o que ele tinha em mente. Em
outras palavras, embora Deus consiga consertar as coisas, seu sofrimento em si
não teria sentido.

Colossenses 1:24 diz “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e
preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu
corpo, que é a igreja”. Não falta nada quando se trata do que Cristo fez na cruz.
Está consumado, assim como ele disse. Mas falta algo quando se trata de
mostrar a história da salvação para os outros. Jesus não está por perto em carne
e osso, mas você e eu estamos.

Quando sofremos e lidamos com isso com graça, somos como outdoors
ambulantes anunciando a forma positiva como Deus trabalha na vida de alguém
que sofre.

O maior bem que o sofrimento pode fazer por mim é aumentar minha capacidade
para Deus.[19]

Joni encerra seu livro de memórias inspirador, The God I Love (O Deus que Amo),
dizendo: “Há coisas mais importantes na vida do que andar”.[20]
E depois de conhecer Joni, tenho que concordar.
21: QUANDO A DOR NUNCA
ACABA
Gosto de dias ensolarados. Dias com pouco drama, estresse mínimo, sem dor. Quando
não há nada com que se preocupar e a vida é descontraída e fácil. Como beber limonada na
minha varanda com uma brisa fresca de verão no ar.
Mas quando olho para trás na minha vida, aqueles dias simples e alegres não são aqueles
pelos quais sou muito grata. Sou muito agradecida pelos dias em que tive que lutar pela fé. Os
dias em que clamei a Deus em desespero e dor. Os dias em que mal sobrevivi, lutei para
atravessar, me perguntei se a vida valia a pena, afinal. Os dias que me deixaram de joelhos. Estes
moldaram meu caráter, cresceram minha dependência, e me fizeram ver Jesus. Para mim, a
gratidão por esses dias é muitas vezes em retrospectiva. Olhando para trás, posso me alegrar com
o que Deus fez através dos meus testes de fé. Quando a dor se foi e só resta o fruto, vejo o valor
do meu sofrimento.

Provações Exaustivas
Mas para algumas provações, a dor nunca passa. Estas são as lutas diárias a longo prazo
que continuam a nos moer. Doença crônica. Um casamento difícil. Uma criança que é “atípica”.
Uma carreira decepcionante. Preocupações financeiras. Depressão.
Anseios não realizados. Quando vivemos com essas provações, tendemos a fantasiar
sobre o quão agradáveis e normais nossas vidas seriam sem elas. Sempre pensei: “Se não tivesse
que lutar com esse problema, poderia lidar com todo o resto. Esse problema supera todos os
outros e torna minha vida mais desafiadora do que a vida das pessoas ao meu redor”.
O que eu não enxergo é que este problema abrangente é o que está me aproximando de
Jesus. Aprendi com os santos, vivos e mortos, que preciso agradecer a Deus pelo meu mais
profundo sofrimento. Crentes que agradeceram a Deus pela cegueira, pela prisão e pela
tetraplegia. Sofrimento impensável, que a maioria consideraria insuportável, esses seguidores de
Cristo enxergaram como dons de Deus.
Presentes embrulhados em preto, mas, ainda assim, presentes.

O Que Dias Ensolarados Não Podem Fazer


Esses heróis - especificamente George Matheson, Alexander Solzhenitsyn e Joni
Eareckson Tada - me orientaram de longe, ensinando-me o valor dos meus espinhos. Em vez de
resumir seus pensamentos, quero deixar suas próprias palavras aqui, pois cada um descreve o que
Deus fez através de suas provações.
O primeiro, George Matheson, foi um conhecido pregador escocês cego que escreveu o
hino, “O Love That Will Not Let Me Go” (O Amor Que Não Me Deixará Ir). Ele diz de sua
cegueira:

Meu Deus, nunca Te agradeci pelo meu espinho. Agradeci-Te mil vezes pelas
minhas rosas, mas nem uma vez pelo meu espinho. Tenho estado ansioso por um
mundo onde vou obter compensação para a minha cruz, mas mas nunca pensei
na minha cruz como uma glória presente.

Ensine-me a glória da minha cruz; me ensine o valor do meu espinho. Mostre-me


que subi a Ti pelo caminho da dor. Mostre-me que minhas lágrimas fizeram
meus arco-íris.[21]

O segundo, Alexander Solzhenitsyn, foi um escritor russo que suportou campos de


prisão e trabalho forçado sob Joseph Stalin. Foi lá que ele se tornou cristão, e continuou a
escrever:

Foi-me concedido levar dos meus anos de prisão nas minhas costas curvadas,
que quase quebraram sob sua carga, esta experiência essencial: como um ser
humano se torna mau e como se torna bom. Na intoxicação de sucessos juvenis
senti-me infalível, e era, portanto, cruel. No ápice do poder, era um assassino e
um opressor. Nos meus momentos mais ruins, estava convencido de que estava
fazendo o bem, e estava bem abastecido com argumentos sistemáticos. Foi só
quando eu estava lá na palha da prisão que senti dentro de mim as primeiras
agitações do bem. Aos poucos foi revelado a mim que a linha que separa o bem e
o mal não passa por estados, nem entre classes, nem entre partidos políticos -
mas através de cada coração humano - e através de todos os corações humanos.
(...) É por isso que volto para os anos da minha prisão e digo, às vezes, para
espanto daqueles ao meu redor: “Bendita sejas, ó prisão!” Eu... já cumpri tempo
suficiente lá. Alimentei minha alma lá, e digo sem hesitação: “Bendita sejas, ó
prisão, por ter estado na minha vida!”[22]

A terceira, Joni Eareckson Tada, é uma escritora cristã, oradora e líder de ministério que
se tornou tetraplégica aos 17 anos após um acidente de mergulho. Joni diz:

A maioria de nós é capaz de agradecer a Deus por sua graça, conforto e poder
de sustentação em uma provação, mas não agradecemos a ele pelo problema,
apenas por encontrar Deus nele.

Mas muitas décadas em uma cadeira de rodas me ensinaram a não separar meu
Salvador do sofrimento que ele permite, como se um pescoço quebrado — ou no
seu caso, um tornozelo, coração ou casa quebrados — simplesmente
“acontecesse” e então Deus aparece após o fato para lutar e tirar algo bom
dele. Não, o Deus da Bíblia é maior que isso. Muito maior.

Assim como a capacidade de sua alma. Talvez essa cadeira de rodas tenha sido
uma tragédia horrível no começo, mas dou a Deus graças na minha cadeira de
rodas. (...) Sou grata pela minha tetraplegia. É uma contusão de uma bênção.
Um presente embrulhado em preto. É o companheiro sombrio que caminha
comigo diariamente, puxando e me empurrando para os braços do meu
Salvador. E é aí que está a alegria.

...

Sua “cadeira de rodas”, seja ela qual for, cai bem dentro dos decretos
abrangentes de Deus. Suas dificuldades e dor de cabeça vêm de sua sábia e
gentil mão e por isso, você pode ser grato. Nele e por ele.[23]

Agradeço a Deus por esses companheiros crentes, que me mostraram como minha dor é
preciosa. Nas mãos de um Deus todo-poderoso, minhas lágrimas fizeram meus arco-íris,
mostraram-me minha própria depravação, e me empurraram para os braços do meu poderoso
Salvador.
E todas essas bênçãos superam em muito a felicidade fugaz de beber limonada em dias
ensolarados.

Estou desesperada. O opróbrio partiu-me o coração, e desfaleci; esperei por


piedade, mas debal de; por consoladores, e não os achei. (Salmo 69:20)
22: E SE O PIOR ACONTECER?

Eu me peguei ficando com medo. Não é um medo que para o coração, abrangindo tudo,
mas o tipo que rói constante, que entra em seus ossos quando você ouve más notícias ou vê algo
dando errado. Quando você extrapola as tendências desanimadoras do presente para o futuro e
presume que as coisas nunca mudarão. Quando você pensa sobre onde está indo e sente seu
estômago apertar.
Perguntas permaneciam no fundo da minha mente. E se eu continuar nesse caminho? E
se nada melhorar? E se o pior acontecer?

E Se?
Passei a vida toda considerando os “e se”. Essas perguntas têm um jeito de me deixar
desconfortável, destruir minha paz, me deixando sem esperança. Quando possibilidades
negativas surgem diante de mim, não consigo controlar meus pensamentos. Só de perguntar “E
se...”, isso me perturba.
As pessoas na Bíblia também estavam perturbadas com perguntas de “e se”. Quando lhe
disseram para liderar os israelitas, Moisés perguntou a Deus: “E se eles não acreditarem em
mim?” O servo de Abraão perguntou sobre a futura esposa de Isaque: “E se a jovem se recusar a
vir comigo?” Os irmãos de José perguntaram: “E se José guardar rancor de nós?” Todos eles se
perguntavam o que aconteceria se as circunstâncias dessem errado. Assim como nós.
Todos nós enfrentamos uma incrível variedade de “e-ses”. Alguns são pequenos
inconvenientes, enquanto outros têm repercussões que potencialmente impactam uma vida. E se
eu perder meu emprego? E se eu nunca tiver filhos? E se eu tiver câncer? E se meu cônjuge
morrer? E se meu marido nunca me amar? E se meu filho nunca acreditar em Jesus?
A verdade desconfortável é que qualquer uma dessas coisas pode acontecer. Ninguém
está livre de tragédias ou dor. Não há garantias de uma vida fácil. Para qualquer um de nós.
Nunca.
Eu estava considerando essa realidade sóbria em um retiro silencioso anos atrás. Ao
longo de vários dias, eu tinha trazido numerosos anseios e pedidos perante o Senhor. Queria que
eles fossem realizados. Quando Deus faria isso? Enquanto escrevia meus pensamentos, senti
aquele medo familiar me agarrando.
Suficiente?
A pergunta ecoou em minha mente: E se meus anseios mais profundos nunca forem
atendidos e meus pesadelos se tornarem realidade? Eu nem queria entreter essa possibilidade.
Enquanto me sentava na capela vazia debruçada sobre minha Bíblia, senti Deus fazendo a mesma
pergunta com a qual lutei por décadas. “Sou suficiente? Mesmo que essas coisas assustadoras
aconteçam, eu sou suficiente para você?” Cada vez que essa pergunta tinha vindo à tona no
passado, eu tinha empurrado-a para fora da minha mente.
Mas na quietude da capela, sabia que precisava enfrentar isso. Senti Deus sussurrando
novamente: “Vaneetha, sou o suficiente? Se nenhum de seus sonhos se tornar realidade, eu sou
suficiente? Se sua saúde apenas deteriorar e você acabar em uma instituição, eu sou suficiente?
Se seus filhos se rebelarem e nunca andarem perto de mim, eu sou suficiente? Se você nunca se
casar de novo e nunca mais se sentir amada por um homem, eu sou o suficiente? Se seu
ministério não florescer e você nunca ver frutos dele, eu sou suficiente? Se o seu sofrimento
continuar e você nunca enxergar propósito nele, eu sou suficiente?
Gostaria de ter respondido automaticamente: “Sim, Senhor, você é suficiente”. Mas eu
agonizei. O peso dessas perguntas parecia esmagador. Não queria desistir dos meus sonhos,
entregar aquelas coisas que eram queridas para mim, abrir mão do que sentia ser direito. Refleti
sobre meu “contrato” não escrito com Deus, onde prometo fazer a minha parte se ele cumprir
meus anseios. Relutantemente admiti que parte do meu desejo de ser fiel estava enraizada na
minha expectativa de retorno. Deus não me deve nada? Mas e se eu não conseguisse?
Sabia que precisava abandonar meus desejos, mas era incapaz de fazê-lo sozinha.
Implorei ajuda a Deus. Para abandonar minhas expectativas. Deixar meus sonhos de lado e
abraçar os dele. Não predicar minha obediência em seus presentes. Chorei enquanto abria minhas
mãos, cheia de meus sonhos, e as entreguei a ele. Não queria amar a Deus pelo que ele poderia
fazer por mim. Queria amar a Deus pelo que ele é. Para adorá-lo porque ele é digno e não porque
eu esperava algo em troca.

Ainda Que
A presença de Deus sobreveio quando me ajoelhei na semi-escuridão e abandonei
minhas expectativas. Ele me lembrou que tenho algo muito melhor do que uma garantia de que
meus temidos “e-ses” não acontecerão. Eu tenho a garantia de que mesmo que eles aconteçam,
Deus estará lá no meio deles. Ele vai me carregar. Vai me confortar. Ele cuidará de mim. Deus
não me promete uma vida livre de problemas. Mas promete que estará lá no meio das minhas
tristezas.
Na Bíblia, Sadraque, Mesaque e Abednego não eram tiveram garantias de livramento.
Pouco antes de Nabucodonosor entregá-los ao fogo, eles pronunciaram algumas das palavras
mais corajosas já ditas. “Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da
fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a
teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Dn 3:17-18).
Mesmo que o pior aconteça, a graça de Deus é suficiente. Esses três jovens enfrentaram
o fogo sem medo porque sabiam que não importa o resultado, seria, em última análise, para o
bem deles e para a glória de Deus. Eles não perguntaram e se o pior acontecesse. Eles estavam
satisfeitos sabendo que mesmo que o pior acontecesse, Deus cuidaria deles.
Ainda que. Essas duas palavras simples podem tirar o medo da vida. Substituir “e se”
por “ainda que” em nosso vocabulário mental é uma das trocas mais libertadoras que podemos
fazer, fazer. Nós trocamos nossos medos irracionais de um futuro incerto pela garantia amorosa
de um Deus imutável. Vemos que ainda que o pior aconteça, Deus nos carregará. Ele ainda vai
ser bom. E ele nunca nos deixará.
No final de Habacuque, vemos outra bela imagem de “ainda que”. Habacuque quer
libertação para seu povo e implora a Deus para salvá-los. Mas ele conclui seu livro com um
requintado “ainda que”.

Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira
minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do
aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no
Deus da minha salvação. (Hb 3:17-18)
23: A SOLIDÃO DO SOFRIMENTO

Uma das coisas mais difíceis para mim acerca do sofrimento é a solidão.
Inevitavelmente me sinto solitária. Embora meus amigos possam ajudar, eles não podem
compartilhar minha tristeza. É um poço fundo demais. Quando a perda é recente, as pessoas
estão por toda parte. Elas ligam, oferecem ajuda, enviam cartões e trazem refeições. Seus
cuidados ajudam a aliviar a dor aguda. Por um tempo.
Mas então elas param. Não há mais refeições. O telefone fica estranhamente silencioso.
E a caixa de correio vazia. Ninguém sabe o que dizer. Não sabem o que perguntar. Então, na
maioria das vezes elas não dizem nada.
Às vezes, tudo bem. É difícil falar de dor. E eu nunca quero dó, com olhares tristes, o
aperto no braço, e a pergunta silenciosa, “Então, como você está?”. Não sei como responder a
isso. Não sei como estou. Parte de mim está arrasada. Nunca mais serei a mesma. Minha vida
está radicalmente alterada. Mas outra parte de mim anseia pela normalidade. Um retorno ao
familiar. Para se misturar na multidão.

Não Sei O Que Quero


Quero ser grata pelo apoio dos meus amigos. E nos melhores dias, posso enxergar e
apreciar todos os seus esforços. Mas nos piores dias, sinto-me frustrada e zangada. Pergunto-me
por que as pessoas não estão atendendo às minhas necessidades. Eles não sabem o que eu quero?
Não conseguem ler os sinais? Por que não descobrem o que me faria sentir melhor?
Não conseguem entender porque nem eu me conheço. Esta é a parte louca do luto para
mim. Não sei o que quero. Não faço ideia do que me satisfaça. E de alguma forma, não importa o
que os outros façam, eles não podem atender às minhas expectativas. Expectativas que são
inconstantes. E unilaterais. E refletem minha auto-absorção.
Dor intensa, física ou emocional, tem uma capacidade de estreitar meu mundo. Fico
fixada em mim mesma - minhas necessidades, minha dor, minha vida. De alguma forma,
esqueço que outras pessoas têm sua própria dor e suas próprias vidas. Elas querem ajudar, mas só
podem fazer uma parte.

Sozinha Com Deus


Embora esteja frustrada que os outros não estão aliviando minha dor, preciso lembrar
que há uma parte do sofrimento que devo suportar por mim mesma. Paulo aborda essa tensão.
Em Gálatas 6:2, ele diz: “Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo”. E
então, três versos depois, ele os lembra: “Porque cada um levará o seu próprio fardo” (Gl 6:5).
A palavra que Paulo usa para carga implica cargas que excedem nossa força. Na época
de Paulo, os viajantes muitas vezes tinham cargas pesadas para transportar. Outros os aliviariam
carregando o peso por um tempo. Sem ajuda, essas cargas podem ser esmagadoras. Isso pode ser
comparado com a ajuda tangível que podemos oferecer aos outros — nossos atos de serviço,
nossas orações contínuas, nossa presença física.
Sua palavra para fardo é algo proporcional à nossa força individual. Pode ser uma
mochila carregada por um soldado em marcha. Esse pode ser o trabalho contínuo de processar
nossa dor. As partes do nosso sofrimento que ninguém mais pode carregar por nós. Os fardos que
devemos carregar nós mesmos.
Mesmo os amigos mais próximos e atenciosos não podem estar conosco em nossa mais
profunda dor. Podem chorar conosco, mas não podem andar conosco o tempo todo.
Jesus entende isso. Em seus momentos de maior necessidade, seus amigos o
abandonaram. Amigos que disseram que morreriam por ele não conseguiam nem ficar acordados
e orar com ele.
Então, no jardim, Jesus se viu sozinho. Com Deus. Assim como nós. No final, somos
todos deixados sozinhos com Deus.

Para Onde Vou?


Então, o que fazemos quando nos sentimos drenados e vazios? Quando ninguém entende
nosso sofrimento e ninguém parece se importar? Quando nos sentimos desencorajados, cansados
e insuportavelmente solitários?
Leia a Bíblia e ore. Leia a Bíblia mesmo quando parecer que está comendo papelão. E
ore mesmo quando parecer que está falando com uma parede.
Parece simples? É mesmo. Também soa extremamente difícil? É isso também. Mas ler a
Bíblia e orar é a única maneira que já descobri para escapar da minha dor.
Não há atalhos para a cura. Muitas vezes gostaria que houvesse, porque gostaria de
seguir em frente longe da dor. Mas, em muitos aspectos, sou grata pelo processo transformador
que atravesso. Um processo que exige que eu leia a Bíblia e ore.

Não Apenas Ler


Quando digo para ler, não quero dizer apenas ler palavras por um tempo específico.
Quero dizer meditar sobre elas. Escrevendo o que Deus está me dizendo. Pedindo a Deus para se
revelar para mim. Acreditando que Deus usa as Escrituras para me ensinar e me confortar. Para
me ensinar coisas maravilhosas em sua lei (Sl 119:18). Para me confortar com suas promessas
(Sl 119:76).
Ler dessa maneira transforma papelão em maná. Eu concordo com Jeremias que disse:
“Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o
coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor , Deus dos Exércitos” (Jr 15:16).
Não Apenas Orar
E quando digo orar, não quero dizer uma recitação vazia de pedidos e palavras sem
sentido. Quero dizer, realmente orar. Falando com Deus tão honestamente quanto falaria com um
amigo. Orando através de um salmo. Desesperadamente clamando a ele. Pedindo ajuda
específica. Esperando que ele responda.
O que me transforma é passar tempo com Jesus, sentar com ele, lamentar, falar com ele e
ouvi-lo. Por mais que eu queira que os amigos me confortassem, ninguém nunca me conheceu
como Deus. As palavras de ninguém nunca me mudaram como as Escrituras o fazem. E a
presença de ninguém nunca me encorajou do jeito que o Espírito Santo faz. Meus amigos podem
me ajudar, mas não podem me curar. É apenas o Deus vivo, e sua palavra viva, que podem fazer
isso.
Esse caminho de sofrimento, de dor no coração, de solidão me leva diretamente ao meu
Salvador. Que é o único caminho que vale a pena tomar. Pois só Jesus pode me curar.
24: O CONFORTO DOS OUTROS

Quando a dor me sobrecarrega, anseio por companhia.


Quero que alguém fale comigo, chore comigo, sente-se comigo. Quero que alguém
coloque carne humana no conforto de Deus. Isso pode soar como pouco espiritual para algumas
pessoas. Sempre pareceu levemente não-espiritual para mim. Parecia fraco querer conforto dos
outros. Pensei que se só Deus fosse suficiente para atender a todas as minhas necessidades,
nunca mais iria querer outra pessoa.
E, claro, ele é suficiente. Precisamos da presença de Deus mais do que de qualquer outra
coisa. Ele é o Deus de toda consolação. Sua comunhão e amor são o que nossos corações mais
precisam.

O Presente Da Comunidade
No entanto, ao mesmo tempo, também anseio pelo conforto dos meus amigos. Preciso de
comunidade. E preciso mais agudamente quando estou sofrendo. Essa necessidade sempre me
pareceu de alguma forma profana. Uma parte da minha carne pecaminosa que um dia seria
redimida. Uma fraqueza que diminuiria com o tempo. Presumi que meu papel na comunidade
deveria ser apenas de servir, não receber.
Então eu vi. Quando notei pela primeira vez, me assustou. Em seus momentos mais
sombrios, Jesus queria seus amigos. Marcos 14:32-34 diz:

Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus
discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro,
Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A
minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai.

Jesus não queria ficar sozinho em seu sofrimento. Ele queria companhia humana. Jesus
não pediu aos seus discípulos para acompanhá-lo quando estava se comunicando com seu Pai.
Ele frequentemente levantou-se no início da manhã para estar com Deus sozinho. Mas vemos
que em sua hora de desespero, quando ele estava enfrentando uma agonia indescritível, pediu a
seus amigos para estarem com ele.

Simplesmente Humano
Uma vez que Deus, o Pai sempre teve comunhão ininterrupta na Trindade, ele nunca
sentiu falta de comunidade. Mas Jesus, no jardim, sabia que sua comunhão com Deus logo seria
completamente cortada, e ele desejava companheirismo. Claramente esse anseio não era
pecaminosamente fraco ou carente. Não refletia uma falta de confiança em Deus ou uma fé
frágil. Era simplesmente humano. Deus encarnado ansiou por comunhão. Porque Deus nos criou
para viver em comunidade.
Da mesma forma, nossos amigos muitas vezes anseiam por presença em seu sofrimento.
Cuidar deles à distância não é suficiente. Não estão procurando respostas para suas perguntas
mais profundas ou soluções para seus problemas mais urgentes. Só precisam da nossa presença.
Para alguns de nós, é uma tarefa difícil. Muito mais difícil do que parece. É mais fácil
contar histórias. Oferecer conselhos. Discursar sobre otimismo. Recitar um versículo bíblico ou
até mesmo entregar um mini-sermão. Isso é mais fácil do que ficar com alguém em sua dor.
Queremos alívio instantâneo, para nós e para nossos amigos. Por isso, é tentador tentar apressar
sua cura, corrigir seus problemas, aliviar suas dúvidas. Então, sentimos que conseguimos algo.

Simplesmente Sentando
Sentar parece tão inútil. Tão ineficiente. Tão sem propósito. E ainda assim é
incrivelmente valioso. Nossa presença por si só é um presente. Enquanto nos sentamos, nossos
amigos sofredores podem não responder à conversa. Alguns se comunicam pouco em sua dor.
Eles processam internamente. Não oferecem palavras. Talvez algumas lágrimas. Talvez um olhar
vago. Talvez apenas um vasto vazio.
Outras pessoas são processadores verbais, inundando-nos com palavras sobre como
estão se sentindo e o que estão pensando. A maioria dessas palavras não são cuidadosamente
pensadas. Ou totalmente teológicas. Na melhor das hipóteses, são gemidos dolorosos e não muito
destinados a avaliação ou julgamento.
Mas não importa como eles a processam, ninguém está nos pedindo um dilúvio de
palavras em resposta. Só querem alguém lá com elas.
Simplesmente estar presente com nossos amigos tem mais efeito curativo do que
podemos imaginar. Ainda me lembro de uma amiga que costumava passar lá em casa depois que
nosso filho, Paul, morreu. Ela raramente falava e, na maioria das vezes, sentava-se comigo
discretamente. Adorava recebê-la lá. Não achava que tinha que conversar. Mas, ao mesmo
tempo, sabia que ela ouviria se eu quisesse falar. Não queria ficar sozinha, embora eu nunca teria
expressado dessa forma. Simplesmente sabia que a presença dela era um grande conforto.
O autor Joe Bayly teve uma experiência semelhante depois de enterrar seu segundo filho.
Bayly diz:

Eu estava sentado, despedaçado pela dor. Alguém veio e falou comigo sobre os
negócios de Deus, de por que aconteceu, de esperança além do túmulo. Ele
falava constantemente, dizia coisas que sabia que eram verdade. Fiquei
impassível, só que queria que ele fosse embora. Ele finalmente foi.

Outro veio e sentou-se ao meu lado. Ele não falou. Não fez perguntas pensadas.
Apenas sentou-se ao meu lado por uma hora ou mais, ouviu quando eu disse
algo, respondeu brevemente, orou de forma simples, saiu.

Fiquei comovido. Fui confortado. Não gostei de vê-lo ir embora.[24]

Eu entendo o primeiro amigo de Bayly. Ele queria melhorar as coisas. Queria fazer algo,
e as palavras pareciam ser a resposta. Pensou que suas palavras trariam conforto.
Estou bem familiarizada com essa atitude. Quando há algo a ser feito, eu quero fazer.
Mas quando não há mais nada para fazer, costumo fugir. É menos desconfortável. Menos
desconfortável para mim, isso é.
O pediatra neonatal chamado Dr. John Wyatt não foge. Em sua prática médica, teve que
tomar decisões clínicas difíceis e dolorosas. Às vezes não há tratamentos para seus pacientes
minúsculos; seu treinamento e experiência não podem fazer mais nada. É então que Wyatt
simplesmente se senta e chora com os pais em luto. E talvez esse seja o seu maior serviço.
Ele diz em seu livro, Matters of Life and Death (Questões de Vida ou Morte),

Sofrimento em outro ser humano é um chamado para o resto de nós sermos


comunidade. É um chamado para estar lá. Sofrimento não é uma pergunta que
exige uma resposta, não é um problema que requer uma solução, é um mistério
que exige uma presença.[25]

Que lembrete poderoso de como podemos confortar aqueles que sofrem. E como os
outros podem nos confortar também. Pois o sofrimento é um mistério que exige uma presença.
25: QUANDO VOCÊ LUTA PARA
CRER QUE DEUS TE AMA

“Eu luto para crer que Deus me ama”.


Uma querida amiga me mandou isso meses atrás, e carreguei isso no meu coração desde
então. Entendo o que ela quer dizer. Esses sentimentos me bombardearam inúmeras vezes.
Muitas vezes, em dias em que o desespero me domina. Dias que começam lutando para sair da
cama, imaginando por que eu deveria continuar. Dias que são alimentados apenas pelo dever,
que é uma maneira excruciante de viver.
Esses são os dias em que eu me pergunto: Há mais na vida do que isso? Como posso
acreditar que Deus me ama quando estou existindo na melhor das hipóteses e me sentindo
despedaçada na pior delas? Olhava para a vida dos meus amigos e me sentia trapaceada. Sabia
que eles tinham suas próprias lutas, mas da minha perspectiva, Deus transmitia sol ao longo de
seus dias enquanto o meu era ofuscado por nuvens e chuva. Foi difícil ver o amor de Deus nisso.

Chuva Por Um Motivo


E a chuva na minha vida geralmente vinha quando eu menos esperava. Quando era o
mais inconveniente. Quando era o mais doloroso. A chuva parecia não ter outro propósito a não
ser trazer revolta e dor. Lutei para ver qualquer bem nela.
Porque no meio de ser moldado, é difícil ver qualquer coisa. Quando estou sendo
atingida pela chuva, tudo está nublado e cinza. Minha visão está obscurecida. Só consigo pensar
em encontrar a paz. Ficar seca. Se deliciando com a luz do sol. E imaginando se algum dia
chegarei lá.
Mas depois que a chuva passa, ou mesmo quando faz uma pausa, posso olhar ao redor e
ver o que Deus produziu através da tempestade. Uma dependência de Deus que é inconfundível.
Uma fé que foi testada. Uma confiança que não é afetada pelas circunstâncias. Quando Deus
agita o que pode ser abalado, o que resta é duradouro (Hb 12:27). E isso é um presente que
escapa comparação.
Como Joel 2:23 diz em uma tradução: “Exultem no Senhor, seu Deus! Pois ele envia as
chuvas na medida certa” (NVT).
Quando tenho um vislumbre da perspectiva de Deus, vejo minhas provações de um jeito
bem diferente. Vejo o que estão produzindo em mim, as maneiras que estão me moldando, e
como trazem glória a Deus. Posso ser grata pelo que Deus me ensina sobre si mesmo durante a
tempestade. Minha fé é muitas vezes fortalecida, meu amor por Deus é aprofundado, e meus
apegos mundanos parecem menos sedutores. E então, posso agradecer a Deus pela tempestade.
Posso ver que foi trazida a mim por um amor extravagante. Posso ver que a chuva que Deus
envia demonstra sua fidelidade.

Chuva Que Reenquadra


A Bíblia me mostra que a chuva é um presente de Deus. A chuva produz frutos em
nossas vidas. Com sol o tempo todo e sem chuva, ficamos frágeis e secos — úteis para ninguém
e nada. Frutos abundantes e que dão vida exigem chuva. D. A. Carson diz: “Uma das coisas que
os crentes em luto ou sofrimento têm é a perspectiva de serem mais frutíferos do que jamais
poderiam ter imaginado”.[26]
Então, na chuva, quando nossas provações são mais ferozes, Deus está demonstrando
seu amor por nós mais poderosamente. Quando nem sentimos sua presença, mas temos que
confiar em suas promessas, ele está fazendo um trabalho mais profundo do que poderíamos
imaginar. O sofrimento nos muda como nada mais pode. Ele nos atrai a Deus. Nos torna mais
compassivos, compreensivos e sábios. Produz perseverança e nos ensina a orar seriamente. Ele
reformula nossa perspectiva.
Aqueles que sofreram profundamente sabem como confortar os outros em sua dor. São
menos propensos a traçar linhas retas entre obediência e bênção porque entendem o mistério do
sofrimento, da vida e de Deus. Não há respostas fáceis com o luto, e fingir tê-las pode parecer
superficial na melhor das hipóteses e cruel na pior. Deus e seus caminhos são inescrutáveis, e
muitas vezes precisamos deixá-los assim sem oferecer explicações banais.
Ninguém pode entender ou explicar o sofrimento do outro. Assim como não posso
entender completamente ou explicar o meu próprio. Simplesmente devo confiar que ele está
usando todas as coisas para o meu bem. Para me envolver ao invés de me alienar. Para prosperar,
não para me machucar. Para me dar esperança e um futuro.
Sem o Senhor, estes últimos vinte anos teriam me feito amarga. Vinte anos que viram a
morte do meu filho, uma doença debilitante, e um casamento dissolvido, entre outras provações.
Mas esses vinte anos trouxeram uma intimidade com Cristo, uma alegria inabalável, e uma
consciência mais aguçada do meu pecado. E por causa de Jesus, essas bênçãos acabarão
superando toda a dor. Minha vida vacilou entre o sol glorioso e as terríveis chuvas. Nunca soube
quanto tempo essas temporadas durariam. Mas sei que ainda que ame a luz do sol, preciso da
chuva porque ela faz o trabalho mais profundo na minha vida. Não desejo uma vida livre de
dores para qualquer pessoa que amo. Uma vida livre de dor não é uma bênção. Uma vida livre de
dor rende pouco daquilo que é de valor eterno. A chuva que Deus envia demonstra sua
fidelidade.
Então, quero dizer à minha querida amiga:

Entendo como você se sente. Essas provações implacáveis podem fazer você
sentir que Deus não se importa, ou não te ama. Nada poderia estar mais longe
da verdade. Mesmo que Deus possa parecer distante, ele está mais perto agora
do que nunca.
Está fazendo coisas em sua vida que vão surpreendê-la quando for capaz de dar
um passo e olhar para elas. Esta chuva torrencial em sua vida é um sinal de seu
amor.

A chuva que Deus envia demonstra sua fidelidade a você.


PARTE 3: A ALEGRIA VEM PELA
MANHÃ
Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria
vem pela manhã. (Salmo 30:5)
26: A LENTE DE AÇÕES DE
GRAÇAS
Viver a vida com gratidão não foi fácil para mim.
Sei que deveria contar minhas bênçãos, mas, às vezes, é mais fácil contar minhas
misérias. Parece vir bem mais naturalmente. E misérias capturam meus pensamentos e
interrompem meus dias mais facilmente do que bênçãos. Mas contar minhas misérias parece
encolher minha alma, e no final estou mais infeliz do que quando comecei.
Contar minhas bênçãos pode ser árduo no início — um ato de obediência em vez de um
transbordamento de alegria — mas, no final, abre espaço em meu coração. Quando escolho focar
no que me foi dado, em vez de refletir no que estou perdendo, sinto-me mais feliz. Mais
contente. Menos agitada.
E quando escolho enfrentar minhas misérias diretamente e encontrar bênçãos nelas, algo
milagroso acontece. Enxergo toda a vida de forma diferente. Vejo minhas circunstâncias através
de uma lente de fé. E sou capaz de declarar com confiança que, mesmo nas piores circunstâncias,
Deus ainda é bom, e há muito pelo que agradecer.

A Perspectiva Dos Peregrinos


Durante anos, imaginei o primeiro Dia de Ação de Graças como a alegre celebração dos
peregrinos de uma colheita abundante, compartilhando com os povos indígenas a provisão
abundante de Deus em uma nova terra fértil. Mas celebrar o primeiro Dia de Ação de Graças foi
um ato de fé e adoração, não uma resposta natural à prosperidade e abundância.
No outono de 1620, o Mayflower partiu para a Virgínia com 102 passageiros a bordo.
Em 16 de dezembro, eles desembarcaram em Massachusetts, muito ao norte de seu destino, bem
quando o inverno estava se estabelecendo. Este clima do norte era muito mais severo do que o da
Virgínia, e os colonos não estavam preparados para a estação fria que se aproximava. O inverno
trouxe temperaturas amargas e doenças desenfreadas. O abrigo era rudimentar. A comida
escassa. Pessoas estavam morrendo.
Naquele inverno, todas, exceto três famílias, cavaram túmulos no solo duro da Nova
Inglaterra para enterrar um marido, esposa ou filho. Na primavera de 1621, metade dos
peregrinos tinham morrido de doença e fome. Ninguém ficou intocado pela tragédia.
No entanto, no meio dessas perdas monumentais, os peregrinos escolheram agradecer.
Eles viram nas Escrituras que os israelitas agradeceram a Deus em todas as suas circunstâncias.
Mesmo antes da provisão e libertação virem, os israelitas eram instruídos a agradecer. O rei
Josafá viu o poder da ação de graças quando os inimigos israelitas foram expulsos diante de seus
olhos enquanto louvavam a Deus (2 Cr 20). E as palavras que usaram eram semelhantes ao belo
refrão que percorre tantos salmos: “Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua
misericórdia dura para sempre” (Sl 118:1).
Os peregrinos e os israelitas escolheram ser gratos pelo que tinham, em vez de se
concentrar em tudo o que tinham perdido. Eles tiveram que procurar as bênçãos, ativa e
deliberadamente. Sua ação de graças não foi baseada em circunstâncias agradáveis, mas sim na
compreensão de que Deus merecia nossa gratidão tanto na prosperidade quanto na adversidade.
Sua gratidão não era uma fachada de “pensamento positivo”, mas uma confiança profunda e
firme de que Deus estava guiando todas as suas circunstâncias, mesmo quando a vida era difícil.
Enxergar suas vidas através de uma lente de gratidão mudou suas perspectivas.
Descobri que ver a vida através de uma lente de gratidão pode mudar tudo.

Escolha Seu Foco


Uma próxima amiga minha é fotógrafa. Ela vê coisas que eu nunca notaria. Podemos
passar dirigindo por um velho celeiro desbotado, e vejo um prédio dilapidado precisando de tinta
enquanto ela vê uma estrutura lindamente intemperada com grande caráter. Ela se concentra em
ângulos e linhas únicas, observando detalhes intrincados que nem são notados comigo. Ela está
disposta a olhar além do óbvio e apreciar as pequenas coisas. Minha amiga acaba com fotos de
cenário de tirar o fôlego que eu teria subestimado completamente. Tudo por causa do que ela
escolhe para focar suas lentes.
Da mesma forma, como vejo minha própria vida depende daquilo em que escolho focar.
De alguns ângulos, parece uma bagunça. Mas de outros pontos de vista, é lindo. Minha
perspectiva depende de onde direciono minhas lentes.
Vários anos atrás, quando fui diagnosticada com síndrome pós-pólio, fiquei arrasada. Os
médicos me disseram que meu diagnóstico significava deixar de lado o modo de vida com que
estava acostumada e começar uma vida totalmente nova. Uma vida onde eu fazia menos e
descansava mais. Uma vida onde meus braços deveriam ser usados para o essencial — sem
pintura, sem scrapbooking, sem cozinhar. Uma vida onde a dependência dos outros era
necessária e a independência era coisa do passado.
Esta nova vida era excruciante. Não pedi e certamente não queria. Não enxergava nada
para agradecer. Ao meu redor estava a perda. Parecia que tudo o que eu amava fazer tinha sido
levado. Conectar-se com as pessoas, mostrando hospitalidade, criando beleza — era isso que me
inspirava. E todas essas tomadas tinham sumido. Era lamentável, miserável e sem consolo.
No entanto, foi a partir desta perda desafiadora que minha escrita online começou. Na
mesma semana, três amigos separados me encorajaram a começar a escrever. Todos sentiram que
queriam me dizer isso depois de suas orações. Então, orei sobre isso também. E Deus parecia
confirmar suas palavras. Nunca tinha aspirado ser uma escritora. Certamente não me senti dotada
como uma. Até então, minha única escrita estava no meu diário privado com o Senhor.
Mas, ainda assim, comecei a escrever online em dezembro de 2013, principalmente por
obediência. Não exigiu esforço físico, já que eu poderia usar software ativado por voz para
colocar minhas palavras na tela. Poderia fazê-lo no meu próprio ritmo se eu estivesse exausta. E
poderia me conectar com outros sem sair de casa. Foi uma tremenda bênção e privilégio
compartilhar com as pessoas o que Deus me ensinou na escuridão.
Nunca teria escolhido este caminho eu mesma, e de certos ângulos minha vida parece
sombria. No entanto, de outros ângulos é linda. Vejo Deus me usando. Sou grata por tudo que ele
fez na minha vida. E estou animada com o futuro. Quando vejo minha vida com as lentes da ação
de graças, posso ver o quanto tenho que ser agradecida.
Não sei o que o futuro reserva para mim — ou para você — mas posso prometer isso:
aquele que te detém está guiando todas as suas circunstâncias. E por essa garantia, todos nós
podemos ser gratos.
27: SEMPRE EM EXIBIÇÃO
Os anjos e demônios estão constantemente observando para ver o quanto valorizamos
Deus.
Quando ouvi essa ideia, ela me mudou radicalmente. No começo, era inquietante pensar
que estava constantemente sendo observada. No entanto, tornou-se estranhamente reconfortante
quando percebi que não estava sozinha no meu sofrimento. Que havia um propósito maior para
eu ser fiel do que podia ver.

O Valor Do Sofrimento Invisível


Ao longo dos anos, muitas vezes me perguntava se meu sofrimento privado tinha muito
significado. Entendi que o sofrimento de Cristo, como a fidelidade dos mártires, inspirou crentes
e descrentes a ver o valor de Deus. Mas o sofrimento invisível do qual ninguém mais na Terra
estava ciente parecia inútil. Ou pelo menos me pareceu inútil.
Se ninguém sabia o que eu estava passando, como Deus poderia usá-lo? Se não
inspirasse os outros a amar mais a Jesus, isso realmente importava? Se ninguém estava lá para
observar, qual era o ponto de uma resposta piedosa?
E quando ouvi John Piper explicar o livro de Jó, vi que minha resposta ao sofrimento
importava. Não só para mim, mas porque um mundo que assiste, um mundo que eu não podia
ver nem ouvir, estava esperando para ver como responderia às provações.
O livro de Jó começa na sala do trono de Deus. Satanás está zombando de Deus,
alegando que Jó o valoriza pelo que ele, Jó, recebeu. Satanás afirma que se Deus tirar aquilo em
que Jó tem se apoiado, Jó amaldiçoará Deus em sua face. Em essência, ele implica: “Deus, Jó
realmente não ama você. Ele ama suas bênçãos. Adora você não por quem você é, mas pelo que
lhe dá”.
Este é um grande ataque ao valor de Deus. E depois que o pior aconteceu com Jó, a
esposa de Jó entra em desespero e diz a Jó para amaldiçoar Deus e morrer. Esta parece ser uma
grande vitória para Satanás. Talvez os demônios estivessem levantando os braços em
comemoração. Neste ponto, Piper conjectura que dez mil anjos estavam assistindo com
desânimo, imaginando o que Jó diria também. Mas quando ouviram Jó declarar: “temos recebido
o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (Jó 2:10), podemos imaginar vinte mil
braços angelicais subindo, com vozes proclamando: “Sim, Jó! Deus é mais valioso que sua
saúde. Obrigado por segurar firme!”.
A glória de Deus está em exibição para os anjos e demônios quando as pessoas
demonstram que seus corações estão satisfeitos apenas em Deus e não em seus presentes.
Quando declaramos que Deus é mais precioso do que nossa saúde, nossa felicidade, até mesmo
nossas próprias vidas, destacamos seu valor supremo para um público imenso e invisível.
Essa mensagem me ajudou a atravessar anos de luta.
Falo e escrevo sobre sofrimento, e às vezes minhas palavras inadvertidamente fazem
parecer melancólico e romântico. Quase nobre. Falar sobre “chorar até dormir” soa muito mais
bonito do que realmente é — sentir náuseas em um quarto escuro e solitário, com uma caixa
vazia de lencinhos e uma dor de cabeça forte de tanto soluçar.
Não há nada remotamente atraente sobre dor crua. Quando ninguém vê, ou sabe, ou
mesmo parece se importar. Quando a manhã traz uma dormência fria que permeia sua alma e faz
você se sentir completamente morto por dentro. Quando cada dia parece mais difícil do que o dia
anterior, e você se pergunta quanto tempo mais pode continuar. Quando a vida parece cansativa,
calejada e até mesmo assustadora, e a morte parece ser um alívio bem-vindo.
E ainda assim, no meio de circunstâncias esmagadoras, sabemos que algo mais está
acontecendo. Algo maior do que podemos imaginar. Algo que coloca nossa dor em um contexto
maior.

Os Olhos Do Nosso Público Invisível


Minha vida não diz respeito apenas sobre mim. É sobre Deus e sua glória. E por causa
disso, minha resposta importa. Mesmo quando parece que ninguém na Terra está assistindo.
Porque há seres nas regiões celestiais sempre assistindo. E o mais importante, Deus está
assistindo.
Efésios 3:10 diz: “pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora,
dos principados e potestades nos lugares celestiais”. Assim, a intenção de Deus é que através da
igreja - você e eu - sua sabedoria será conhecida pelos poderes e principados nos lugares
celestiais. Os anjos e demônios aprendem coisas sobre Deus vendo-nos responder à aflição.
O mundo espiritual está olhando quando seguramos nossa língua, mesmo que estejamos
tentados a falar indelicadamente. Quando estamos sofrendo em uma sala vazia e ninguém sabe.
Quando queremos amaldiçoar Deus e morrer e ainda assim escolhemos bendizer a Deus e viver.
A mensagem de Joni Eareckson Tada em uma recente conferência de mulheres abordou
este mesmo tema. Joni, que é tetraplégica, estava deitada acordada na cama às 2:00 da manhã,
enjoada da quimioterapia e se perguntando se tudo valia a pena. Mas de repente ela percebeu,

Algo dinâmico e eletrizante está em meu quarto escuro. O mundo invisível no


reino espiritual e todas as hostes celestiais, incluindo poderes e principados,
estão me observando. Eles estão me ouvindo. E com as minhas reações, eles
estão aprendendo sobre Deus e seu caráter através de mim — a pequena eu.

Eu não posso dizer quantas vezes eu fui capaz de persistir porque sei que minha
vida está em exibição Não sofremos em vão e nunca sofremos sozinhos. Minha
resposta às dificuldades nunca é isolada. Não é verdade que ninguém se importa
ou nota. As apostas são altas e a reputação de Deus está em jogo. É tudo pela
glória de Deus.
Quando o mundo espiritual vê os braços fortes de Deus te segurarem em sua
fraqueza, o Pai recebe a glória. O mundo espiritual nos vê perseverar sob
pressão e sabe o que eles pensam? “Ah, como o Deus dela deve ser grande para
inspirar tal lealdade através de tamanho sofrimento”.[27]

A fala de Joni me lembrou de novo que minha vida está sendo vivida diante de um
número incontável de seres. Todos os dias tenho a oportunidade de mostrar o valor de Cristo
para o mundo invisível que me assiste.
Posso glorificar a Deus quando sou injustamente acusada e optar por responder com
graça. Quando estou preocupada com um ente querido e escolho não temer. Quando estou cheia
de dor física ou emocional e escolho louvar a Deus mesmo assim. Todas essas escolhas
importam. Porque hostes celestiais estão assistindo. Não para nos julgar ou nos condenar. Mas
para ver se nosso Deus é digno de adoração. Se vale a pena viver por ele. E ainda mais, se vale a
pena morrer por ele.
Portanto, vamos continuar. Lute com alegria. Seja fiel. Nossas vidas estão sempre em
exibição.
28: A GRAÇA SEMPRE CURA
MAIS PROFUNDAMENTE
O devocional de Joni Eareckson Tada, Beside Bethesda (Ao lado de Betesda), começa
com essa dedicação: “Para meus amigos de dores que conheci ao redor do tanque de Betesda.
Com cada devocional neste livro, oro por eles. Esses amigos, como eu, que lidam diariamente
com dor. Juntos, estamos descobrindo que a graça sempre cura mais profundamente”.[28]
A graça sempre cura mais profundamente. Essas palavras me atingiram com força.
Entendo a verdade por trás delas. Para a maioria de nós, “a graça sempre cura mais
profundamente” é uma ideia linda, mas preferimos a cura física. Ou cura emocional. Ou o
retorno do nosso filho rebelde. Ou a reversão de um desastre financeiro. Essas coisas são
tangíveis. E visíveis. Um motivo de comemoração.
Mas a graça. É uma cura invisível. Para alguém de fora, nada parece diferente. A vida
ainda parece despedaçada e Deus pode parecer distante. Mas isso é só para o observador casual.
Na realidade, estamos profundamente mudados.
A graça nos dá coragem para enfrentar qualquer coisa, curadas de dentro para fora. Pois
essa cura não é só para esta vida, mas para a próxima. É soprada pelo Espírito, não é
compreensível humanamente. É permanente, não temporária.

Motivo Para Clamar


No entanto, ainda imploro a Deus pela cura temporária desta vida. E faço isso há
décadas. A primeira vez que me lembro de ter feito isso foi na terceira série. Todo mundo estava
jogando queimada enquanto eu estava sentada à margem, assistindo. Como sempre fiz. Tinha
ouvido na igreja que se você tem fé e não duvida, pode pedir qualquer coisa. Então pedi: “Deus,
por favor, por favor, cure-me agora. Agora, na frente da minha classe. Se você fizer isso, vou
fazer o que você quiser”.
Então eu corajosamente me levantei e andei pelo ginásio, esperando totalmente andar
sem mancar. Mas depois de alguns passos, percebi que meu mancar estava inalterado e minha
pequena fé esmagada. E eu desisti de Deus. Não tinha orado muito antes, mas naquele dia
concluí que Deus não era real.
Décadas depois, implorei a Deus para não tirar a vida do meu filho. Horas depois da
minha oração, segurei o cadáver dele no pronto-socorro. Deus não tinha trazido a cura pela qual
tinha implorado. Anos depois disso, clamei a Deus para trazer meu marido de volta. Quando ele
deixou nossa família, fiquei arrasada. Tinha certeza de que Deus eventualmente restauraria nossa
família. Então eu esperei e orei. Mas a restauração nunca chegou.
Deus respondeu “não” a cada um desses pedidos de cura. Cada vez, não conseguia
entender por quê. Tinha pedido coisas boas e tinha prometido glorificar a Deus quando fossem
respondidos. Na terceira série, fiquei com raiva e desiludida. Questionei o amor de Deus por
mim. E fui embora. Mais tarde, como seguidora de Cristo, tive uma resposta diferente. Embora o
“não” ainda fosse excruciante, continuei falando com Deus. Não podia ir embora. Às vezes,
minha vida devocional parecia vazia. Parecia que aqueles que tiveram o final feliz eram os
favoritos de Deus. E eu era, de alguma forma, uma filha menor porque não recebi o que queria.
Pelo menos, foi o que pensei. Não sabia que quando Deus negou cada pedido, ele estava
fazendo algo muito mais profundo na minha vida. Todos os dias, tinha que clamar a Deus por
misericórdia. Todos os dias, tinha que pedir força ao Espírito. Todos os dias, tinha que me apegar
a Jesus. Porque não havia outro lugar para ir e nada mais para se agarrar.
Eu li e orei, escrevi diários e chorei. Todos os dias. Dia após dia, aprendi a me apegar a
Cristo. E enquanto aprendia, ele derramava graça em mim. Graça para aceitar seus planos para
minha vida. Graça para receber seu poder na minha fraqueza. A graça de ver essa cura maior.
Pois a graça sempre cura mais profundamente.

Maior, Mais Profunda, Melhor


Minha cura saturada de graça não é superficial. É profunda e duradoura. Não pode ser
roubada por circunstâncias adversas. Levou a uma alegria permanente em Deus que eu não
trocaria por nada.
Joni continua dizendo em Beside Bethesda (Ao Lado de Betesda): “De alguma forma, no
meio de seu sofrimento, o Filho de Deus te chama para o santuário interior do próprio sofrimento
dele — um lugar de mistério e privilégio que você nunca esquecerá. Eu sofri, sim. Mas não
trocaria de lugar com ninguém no mundo para estar tão perto de Jesus”.[29]
De uma mulher que luta diariamente com tetraplegia e dor crônica e também sobreviveu
ao câncer de mama, isso quase parece loucura. Mas quanto mais tenho sofrido, mais entendo as
palavras dela.
Joni conta sobre o dia em que ela e seu marido, Ken, estavam no tanque de Betesda, em
Jerusalém. Muitas vezes ela tinha imaginado aquele tanque e se perguntou por que Jesus tinha
passado ao largo dela com relação à cura. No entanto, naquele dia em Jerusalém, Joni de repente
viu as coisas de forma bem diferente.
Ela escreve:

“Obrigada”, sussurrei. “Obrigada pela cura que você me deu. A cura mais
profunda. Ah, Deus, você foi tão sábio em não me dar uma cura física. Porque
esse ‘não’ significava ‘sim’ para uma fé mais forte em você, uma vida de oração
mais profunda, e uma maior compreensão de sua palavra. Ele purgou o pecado
da minha vida, me forçou a depender de sua graça, e aumentou minha
compaixão por outros que estão feridos. Esticou minha esperança, me deu uma
confiança animada e viva em você, despertou uma excitação sobre o céu, e me
levou a agradecer em tempos de tristeza.
Aumentou minha fé e me ajudou a te amar mais. Jesus, eu te amo mais”.

Ele não me deu a cura física que eu queria, mas a cura mais profunda que
precisava bem mais.[30]

Deus convida a todos nós para experimentar essa cura mais profunda. Este milagre de
um coração mudado ao invés de circunstâncias alteradas. Essa cura que fortalece nossa vida de
oração, aumenta nossa fé, e nos ajuda a amar mais Jesus. Essa cura que não é superficial ou
fugaz. Vai durar toda a eternidade.
Pois a graça sempre cura mais profundamente.
29: SOFRIMENTO É UM
PRESENTE
As provações podem ser uma bênção? Certamente elas não pareceram como bênçãos
quando eu estava no meio delas, mas ao refletir depois, percebo que elas foram o moldar da
minha fé.
Deus demonstrou vividamente essa verdade para mim através de uma discussão com
alguns amigos que tinham sido líderes de ministério há muito tempo. Anos antes, tinham ido a
uma conferência para ajudá-los a discernir onde o Senhor os estava levando. Na conferência,
cada um deles recebeu um grande pedaço de papel e pediram para traçar uma linha do tempo dos
pontos altos e baixos de sua vida. Mais tarde, eles conectaram esses pontos em um gráfico que
tinha grandes picos, significando momentos de realização e tempos de puro prazer, e vales
representando perda dolorosa, rejeição e solidão.
Depois de refletir sobre o que estava acontecendo nesses picos e vales, o conselheiro
então virou seus gráficos de cabeça para baixo. Ele disse: “Esta é a perspectiva de Deus sobre
seus pontos altos e baixos. É o oposto da sua perspectiva. Deus vê nossos momentos mais baixos
como nossos altos espirituais porque é quando ele está fazendo a obra mais profunda em nós. E é
a partir desses vales que Deus nos dá nossa plataforma para o ministério. Esses pontos baixos são
essenciais para nós enquanto discernimos nosso chamado e nossa caminhada com Cristo. A
partir deles vem nosso crescimento mais significativo e nossa maior dependência de Deus”.
Dos nossos pontos emocionais mais baixos vem nosso crescimento mais significativo.
Nossa maior dependência de Deus. Nossa plataforma para o ministério. É nestes pontos baixos
que Deus faz sua obra mais profunda em nós.

Inverta O Gráfico
É claro. Quão simples, mas quão profundo. Eu sabia que somos moldados por nossas
provações, mas fazer o simples exercício para mim tornou tudo muito mais claro.
Quando olhei pela primeira vez para o gráfico como tinha desenhado, antes de virá-lo de
cabeça para baixo, ver os pontos baixos me lembrou o quão agonizantes eles eram. Como
pareciam durar para sempre. Como me deixaram me sentindo sozinha e abandonada.
Honestamente, não senti que Deus estava fazendo algo que valesse a pena na minha vida
enquanto lutava com dúvida, medo e raiva. Deus muitas vezes parecia distante enquanto eu me
perguntava por que ele não respondia às minhas orações.
Olhar para os pontos altos do gráfico me fez sorrir. Eu podia ver a mão de Deus neles. Vi
respostas às minhas orações, realização dos meus sonhos, satisfação no meu trabalho. Eram
definitivamente tempos de alegria e abundância. Embora não fossem tempos de profundo
crescimento espiritual, eram tempos de gratidão. Eram importantes e davam vida, pois sem eles,
poderia ter caído em desespero.
Virar os gráficos de cabeça para baixo revelou uma imagem completamente diferente.
Retratou lindamente como a perspectiva de Deus é totalmente diferente da minha. Os vales
anteriores tornaram-se os topos das montanhas. Os tempos que havia sentido como agonizantes e
dolorosos me ensinaram a confiar em Deus e a me apoiar nele. Tornaram-se a base do meu
ministério. Muitas vezes, foram pontos de virada na minha vida e me treinaram para andar por fé
e não por vista.
Os eventos anteriores no topo da montanha não eram realmente meus pontos baixos
espirituais — enquanto virar o gráfico é útil, não quero levar a técnica muito longe — mas esses
momentos de pico eram muitas vezes estações de foco em mim mesma. Embora estivesse grata
pela forma como Deus me abençoou nos picos, precisava me proteger para não me tornar
arrogante ou orgulhosa desses eventos.

Valorize Os Vales
Já refleti muitas vezes sobre esse exercício quando estou lutando. Porque, quando estou
no poço, gostaria de eliminar todos os vales do meu gráfico. Ficaria feliz se a linha da minha
história de vida apresentasse picos frequentes para cima — tempos de sucesso e realização —
mas que pelo menos fosse mais plana. Assim não haveria mais vales, nem angústia, lágrimas ou
dor. Apenas felicidade. E isso soa maravilhoso.
Mas ao girar esse gráfico, eu encontraria uma vida espiritual chata, não-examinada e
infrutífera. Uma vida não-provada, marcada pela superficialidade e sentimento de direito. Uma
vida cheia de felicidade temporária, mas pouca alegria duradoura.
Sofrimento e provações são presentes. Eles refinam meu caráter, me atraem a Deus,
aprofundam minha fé. Moldaram minha teologia e esculpiram em mim a capacidade de grande
alegria. Em muitos aspectos, são as maiores bênçãos de Deus.
Anos atrás, estava falando com uma amiga que tinha experimentado poucas provações
na vida. Ela estava financeiramente próspera, tinha um casamento sólido, e desfrutava de
crianças com boa saúde, obedientes e amorosas. Por sua própria admissão, sua vida não faltava
nada. Mas então ela falou sobre as lutas que teve em sua fé. Deus parecia distante e vago para
ela. Ela invejava aqueles que tinham passado por sofrimento por causa da forma como os
transformou. Eles tinham uma paixão por Deus e uma frutificação no ministério que a animava.
Ela tinha certeza que havia algo em sua experiência com Deus que estava faltando.
Falamos sobre isso várias vezes, e eu queria que ela visse que sentir-se perto de Deus
não é a única coisa que importa. Às vezes precisamos ter fé no escuro, sem ter fortes emoções de
sermos atraídas por ele. A fé é muito mais relacionada a caminhar consistentemente com o
Senhor e confiar nele do que em sentir sua presença, ou ter “experiências” espirituais.
Mas ao mesmo tempo, entendia o que ela estava dizendo. A fé parece mais fácil para
aqueles que sofreram. É como se o sofrimento fosse um estranho presente de Deus, um dom que
relutantemente recebemos e sempre queremos retribuir. Mas tem um poder extraordinário para
nos mudar. Muda nossa perspectiva, nossa fé, nossa caminhada com Deus. Quando passamos por
provações, nunca mais somos os mesmos. O aprendizado acadêmico pode ser esquecido ou
descartado, mas as lições que aprendemos com o sofrimento são tecidas na malha do nosso ser.
Elas se tornam parte de nós.
No meio de provações, raramente sinto que o crescimento espiritual está acontecendo.
Muitas vezes estou deprimida e apenas tentando aguentar. A vida é cinza, e não vejo o trabalho
de Deus. Mas, em retrospectiva, é no aguentar firme, na confiança no escuro, na espera paciente
por Deus, onde ocorre o crescimento real.
Quero uma vida de profundidade e significado, uma vida que reflita Jesus acima de tudo,
uma vida marcada pela fidelidade e alegria nele. Mas essas qualidades são duramente
conquistadas, e para muitos de nós, para chegar lá devemos segurar as mãos do Sofrimento e
Tristeza, como o Muito Medo fez na alegoria, Hinds Feet on High Places (Pés de Corça sobre
as Alturas).[31]
Os vales da minha vida foram solitários e dolorosos, mas eles deram frutos que as
montanhas nunca conseguiram. Nesses vales escuros, aprendi a confiar em Deus. No final, isso
fez toda a diferença.
30: GRAÇA SUSTENTADORA

Eu entro no estudo bíblico hesitante. Esta semana estamos falando de oração. Não sei o
quanto devo ser honesta. Embora veja um enorme valor na oração, tive minhas próprias lutas
com ela. Especialmente quando as pessoas falam sobre suas respostas milagrosas. As que
acontecem logo após terem orado sobre algo pela primeira vez — enquanto orei sobre as coisas
por anos e nada mudou.
“Algumas das minhas orações permaneceram sem resposta por décadas”, comento
provisoriamente. Parece estranho dizer isso em voz alta. Minha evidente decepção parece tão
pouco espiritual, tão incrédula, tão superficial.

Desdenhoso De Graça
Mas então Florence diz algo que reconcentra minha atenção. Imediatamente, sei que as
palavras dela são para mim. “Nunca se ouve ninguém na Bíblia reclamando da abertura do Mar
Vermelho”, diz ela. “Todo mundo adora a graça que nos liberta. Mas os israelitas, como nós,
estavam insatisfeitos com o maná diário. Todos nós reclamamos da graça que apenas nos
sustenta”.
Todos nós reclamamos da graça sustentadora. A verdade disso me atinge com força.
Mal posso prestar atenção no restante da discussão enquanto penso. Minhas orações por
livramento foram respondidas com o dom do sustento? Será que não vejo que isso foi uma
resposta, também? E muitas vezes tão milagrosa quanto? Por que não sou grata pelo maná? O
cotidiano, a graça sustentadora de Deus.
Quando comento mais tarde com Florence como suas palavras estão ficando comigo,
como elas estão mudando tudo para mim, ela escreve isso para mim: “Lembro-me de estar
atordoada com a percepção de quanto eu amo a libertação e o quão pouco aprecio o sustento.
Essencialmente, estava dizendo : “Onde está a vitória no sustento — parece apenas sobreviver”.
Será que não estava sendo desdenhosa da graça?”.
Desdenhosa da graça. Exatamente. Sempre fui culpada disso.
Ao esperar pelo enorme e monumental livramento, do tipo em que posso colocar meu
problema na cama e nunca mais ter que orar sobre isso, esqueci da graça que continua me
atraindo para ele. As orações que podem parecer sem resposta, na verdade são cumpridas de
maneiras que me mantêm dependente, conectada, necessitada.

O Dom Da Dependência
O povo de Israel estava familiarizado com o dom da dependência. Maná caiu do céu para
que eles não passassem fome enquanto vagavam pelo deserto (Ex 16). Mas eles precisavam de
Deus para fornecê-lo diariamente; não eram capazes de armazená-lo. E assim eles não poderiam
evitar a dependência total de Deus.
Os israelitas receberam pão para que confiassem em Deus e vivessem por sua palavra.
Mas como eu, muitas vezes eles desdenharam (Nm 11). Maná era simples, pouco excitante,
monótono. Não foi o que pediram. Não foi extraordinário ou gloriosamente vitorioso como a
travessia do Mar Vermelho (Ex 14) ou alguns dos milagres ainda por vir, como a queda de Jericó
(Js 6) ou a cura de Naamã (2 Rs 5). Não impressionou as pessoas. Maná simplesmente supria
suas necessidades quando estavam no deserto. Tornou-se esperado. E era tido como certo.
Eu sei como eles se sentiram. Muitas vezes me sinto assim também. Não aprecio a
presença infalível de Deus ao longo do dia. Não reconheço que ele me fortalece quando estou
fraca. Ignoro o poder vivificador da palavra de Deus. Quero libertação milagrosa. Não um
sustento comum.
Mas ao olhar para trás na minha vida, vejo que Deus me libertou e respondeu algumas
orações com um “sim” retumbante de cair o queixo, maneiras inexplicáveis. Lembro-me dessas
respostas com gratidão e admiração. Mas as respostas de “espere” ou “não” fizeram um trabalho
muito mais profundo em minha alma. Me mantiveram ligada ao Doador e não aos seus dons.
Elas me forçaram a procurá-lo. E ao procurá-lo, encontrei uma alegria sobrenatural além de
qualquer comparação. Uma alegria não baseada nas minhas circunstâncias. Nada baseada na
minha libertação. Simplesmente baseada em sua presença terna.
Graça libertadora ou graça sustentadora. Qual é mais preciosa?

Precisamos Das Duas


Na graça libertadora, vemos a glória de Deus. Todos podem ver o milagre que ele faz
por nós. E geralmente nossas vidas são mais fáceis como resultado. Temos o que pedimos. E
agradecemos a Deus por isso. Mas depois de um tempo, voltamos ao negócio de viver. Novas
dificuldades surgem. E podemos até esquecer o que ele fez porque não voltamos a ele
continuamente.
A graça sustentadora também mostra a glória de Deus. Mas com a graça sustentadora, as
pessoas podem ver o milagre que ele faz em nós. Nossas vidas são mais fáceis porque nossa
perspectiva é diferente. Com a graça sustentadora, devemos continuar voltando para Deus. Esta
graça não é uma coisa única, assim como Maná não foi um evento único. Precisamos disso todos
os dias. E isso nos mantém dependentes de Deus. Com a graça sustentadora, temos mais de
Jesus. Seu conforto, sua proximidade, sua própria presença.
Tanto a graça libertadora quanto a graça sustentadora são essenciais na vida cristã. Estão
interligadas. Graça libertadora é vital. Precisamos orar por isso. É bíblico. A vida pode ser
incansavelmente difícil, e precisamos saber que a libertação é possível. Que nossas orações são
eficazes. Que nossa situação pode mudar. Sem a possibilidade de libertação, perderíamos a
esperança. Poderíamos parar de orar. Poderíamos sucumbir ao desespero total.
Mas é no pedir, até implorar, pela libertação, e na espera subsequente, que temos a graça
sustentadora, a graça de continuar no calor escaldante. E esta graça é acompanhada pela presença
íntima do Deus vivo. Então, quando estou sustentada, mas não liberta, Deus está me convidando
para ver o milagre que recebi. É uma resposta mais preciosa à oração do que eu jamais percebi.
Maná, meu pão de cada dia, o Pão da Vida em pessoa. Só ele me sustenta no deserto.
31: A INCRÍVEL PROMESSA DO
CÉU

Estou ouvindo uma palestrante, e ela está falando de um período difícil em sua vida.
Anos em que suas orações pareciam sem resposta e Deus parecia distante e indiferente. Anos em
que ela desistiu e até parou de orar. Anos em que nada parecia mudar.
Sou imediatamente atraída para a história dela porque entendo como isso se parece.
Lembro-me de sentir como se estivesse me afogando, imaginando se eu conseguiria respirar.
Ofegante por fôlego, aguentando, sobrevivendo — mas apenas por pouco. Foi quase uma década
antes que pudesse respirar profundamente novamente.
Sou grata por finalmente ter conseguido recuperar o fôlego. Mas nem todos podem. Há
pessoas que vivem em angústia dia após dia, mês após mês, ano após ano. E nada muda. Nunca.
Para eles, a vida nesta terra é apenas uma luta sem fim atrás da outra.

Não Nesta Vida


Em menor escala, muitos de nós lidamos com alguma luta pessoal específica que nunca
desaparecerá. A morte de um ente querido rasga um buraco aberto em nosso coração. Uma
doença irreversível e debilitante nos lembra diariamente de nossa mortalidade. Depressão crônica
nos embosca quando menos esperamos, trazendo consigo desespero e inércia. Filhos rebeldes,
casamentos difíceis, divórcio, ruína financeira, solidão, arrependimento. Parte dessa dor nunca
vai melhorar. Não nesta vida.
Tudo soa tão desesperador, e estou sentindo desespero pelos milhões de pessoas cujas
vidas são marcadas pela dor. Percebo que minha esperança muitas vezes repousa na suposição de
que as coisas eventualmente vão melhorar. E me pergunto: se elas nunca melhorarem, tudo
valeria a pena?
Enquanto penso nessa ideia, minha atenção é atraída de volta para a palestrante, e então
ela diz. As palavras que mudam tudo. “Um dia, no céu, todos os nossos anseios serão cumpridos
ou desaparecerão”.
É claro. É isso. É nisso que precisamos nos apegar. Essa é a verdade pela qual vale a
pena sofrer, vale a pena viver e vale a pena morrer.

O Dia Em Que Tudo Muda


O céu mudará tudo. As coisas podem ou não melhorar para nós nesta vida, mas um dia,
um dia glorioso, tudo será feito novo. Um dia, num piscar de olhos, tudo será mudado.
Por que não escrevo mais sobre o céu? Continuo me fazendo essa pergunta. Por mais
que eu tenha sido abençoada por conhecer Deus nesta terra e seu conforto e amor incrível no
meio de uma grande tristeza, isso deve empalidecer em comparação com as alegrias do céu.
A Bíblia constantemente nos lembra que nossos sofrimentos atuais devem ser vistos à
luz da eternidade. Romanos 8:18 diz: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do
tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”.
Paulo sabia que só essa vida nunca seria capaz de equilibrar a escala do sofrimento. Mas
nunca foi feita para isso. Fomos feitos para o céu, para a vida eterna. Olhar para esta vida no
contexto do céu é a única maneira de fazer sentido de sofrimento. Quanto mais compensar isso.
Randy Alcorn afirma:

2 Coríntios 4:17 (...) diz que a glória eterna supera em muito o nosso pior
sofrimento. Não é que o sofrimento temporário seja tão pequeno; é que a glória
eterna é tão imensa. Seu sofrimento pode ser uma formação rochosa do tamanho
da Rocha de Gibraltar. Mas suponha que você coloque essa rocha de um lado da
balança, então do outro lado você coloca o planeta Júpiter. Em si mesmos,
nossos sofrimentos podem ser pesados, mas compará-los com a glória eterna,
felicidade eterna, beleza sem fim e relacionamentos ininterruptos. Os pesos
relativos mudam nossa perspectiva, não é?[32]

Lendo esta comparação, fui convencida de minha miopia espiritual. Preciso me lembrar
por que estou aqui. Fui criada para glorificar a Deus e apreciá-lo para sempre — com a
esmagadora maioria do “para sempre” não gasto na Terra. Por causa da morte de Jesus na cruz,
posso passar toda a eternidade com Deus no céu.

Felizes Para Sempre


Que verdade de tirar o fôlego. Passarei a eternidade com Deus no céu. Mas muitas vezes
a vastidão dessa verdade me escapa porque minha imagem do céu é muito vaga e indefinida. Sei
que será glorioso porque Deus diz que será, mas não imaginei como será. Minhas ideias do céu
são abstratas, o que as torna menos atraentes, e às vezes me sinto enganada sobre as alegrias na
terra que talvez nunca experimente.
Essa perspectiva é exatamente o que Satanás quer que eu acredite. Satanás quer que
pensemos que esta vida contém prazeres que não podemos experimentar no céu. Que no céu
vamos sentar nas nuvens, tocando harpas, sem corpos físicos e sem “diversão” real. Que a
excitação desta vida é melhor do que aquilo que o céu oferece.
São mentiras patentes. A Bíblia diz que teremos corpos ressurretos. Corpos físicos. Não
seremos espíritos ou fantasmas desencarnados. Haverá um novo céu físico; uma nova terra física.
Deus criou o prazer e o maximizará no céu. O céu será incrível porque Deus é incrível.
Alcorn observa:

Ele fez nossos paladares, adrenalina, e as terminações nervosas que transmitem


prazer aos nossos cérebros. Da mesma forma, nossa imaginação e capacidade
de alegria foram feitas por Deus. Somos tão arrogantes a fim de imaginar que o
ser humano teve a ideia de se divertir? Quando os cristãos entendem que o céu é
um lugar físico emocionante em um mundo redimido com pessoas redimidas em
relações redimidas sem pecado e morte, onde há música, arte, ciência, esportes,
literatura e cultura, é uma grande fonte de encorajamento e motivação.[33]

Essa perspectiva de vida me encoraja a antecipar o céu. Tudo o que eu amo e anseio na
Terra estará lá, só que melhor. E vai mais do que compensar qualquer sofrimento que eu tenha
experimentado na Terra. A vida nesta terra pode ser incansavelmente difícil, e podemos viver
com dor interminável. Mas por causa do evangelho, Deus tem toda a eternidade para nos
derramar o seu amor. No céu não haverá mais lágrimas ou choro ou dor.
Como Alcorn diz: “‘Todos viveram felizes para sempre’ não é apenas um conto de
fadas. É a promessa de Deus comprada por sangue para todos que confiam no evangelho”.[34]
A promessa de Deus comprada pelo sangue para aqueles que confiam no evangelho é
que viveremos felizes para sempre no céu. Que garantia surpreendente. E um futuro glorioso.
AGRADECIMENTOS

Joel, meu amado marido, você trouxe alegria inimaginável à minha vida e me mostrou a
bondade de Deus de maneiras que não posso expressar.
Katie e Kristi, vocês são filhas incríveis e adoro ver vocês crescerem na sua fé,
regozijando-se com a beleza de Cristo em vocês.
Pai, Mãe e Shalini, vocês me deram meu primeiro gostinho de amor incondicional e
foram âncoras infalíveis ao longo da minha vida.
Jennifer e Lisa, minhas fiéis parceiras de oração, vocês me apoiaram de maneiras
incalculáveis durante nossos 20 anos de oração juntas.
Christ Covenant Church, vocês me apontaram para o nosso glorioso Deus ao adorarmos
juntos.
Aos leitores do meu blog, vocês permaneceram comigo enquanto lutava para encontrar
minha voz, me apoiaram ao longo do caminho, e me confiaram suas preciosas histórias.
Ao pessoal do DesiringGod, particularmente John Piper, que me ensinou a ver Deus em
todo o meu sofrimento, e David Mathis, que sugeriu que eu escrevesse este livro e me encorajou
durante todo o processo.
Há inúmeras pessoas que me orientaram, consciente e inconscientemente, ao longo dos
anos. Gostaria de poder agradecer a cada um aqui, pois fui moldada por suas palavras e suas
vidas.
Devo gratidão a todos vocês. Obrigada.

[1]
Baseado em uma linha do poema Joseph’s Coat (A Túnica de José) de George Herbert.
[2]
Michael Card, “Known by the Scars,” em Known by the Scars, Sparrow Records, 1983.
[3]
“Scar,” Dictionary.com. http://www.dictionary.com/ browse/scar. Acessado em 21 de Junho de 2016.
[4]
Conteúdo amplamente adaptado de “I Was Bullied as a Child,” publicado originalmente em 10 de setembro de 2014 em
Today’s Christian Woman (associado ao Christianity Today). http:// www.todayschristianwoman. com/articles/2014/september-
week-2/i-was-bullied-as-child.html. Acessado em 4 de outubro de 2016.
[5]
Christa Wells, “Held,” Weimarhymes Publishing, Inc., 2001.
[6]
Conteúdo adaptado de “The Hardest Thing to Ask For,” publicado originalmente em 7 de Janeiro de 2015 em Today’s
Christian Woman (associado a Christianity Today). http:// www.todayschristianwoman.com/ articles/2015/january-week-
1/hardest-thing-to-ask-for.html. Acessado em 10/4/2016.
[7]
Conteúdo adaptado de “From Wailing to Worship,” publicado originalmente em 5 de Abril de 2016 em Today’s Christian
Woman (associado a Christianity Today). http://www. christianitytoday.com/women/2016/ april/from-wailing-to-worship.html.
Acessado em 10/4/2016.
[8]
Laura Story, “Blessings,” em Blessings, New Spring, 2011.
[9]
Atribuída ao Reverendo John Watson, conhecido pelo pseudônimo Ian MacLaren, por volta de 1897.
[10]
D. Martyn Lloyd-Jones, Spiritual Depression: Its Causes and Cures (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1965), 20. [edição em
português: Depressão espiritual: suas causas e cura (São Paulo: Editora PES, 2017).
[11]
Caroline Lusk, “Storytelling: Laura Story finds blessings in the story gone different.” CCM Magazine, 7 de Maio de 2011.
[12]
Edward Mote, “My Hope is Built on Nothing Less,” Hymns of Praise. 1836.
[13]
Paul Tripp, “God’s Will for Your Wait (part 2),” Paul Tripp Ministries, 27 de Maio de 2013.
http://www.paultripp.com/articles/posts/godswillfor-your-wait-part-two. Acessado em 27 de Junho de 2016.
[14]
John Newton, The Letters of John Newton (Edinburgh: Banner of Truth, 1960), 180, citado em Timothy Keller, Walking with
God Through Pain and Suffering (New York: Penguin Group, 2013), 266.
[15]
Charles Spurgeon, “The Simplicity and Sublimity of Salvation,” pregado em 5 de Junho de 1892.
[16]
Essa citação é popularmente atribuída a Charles Spurgeon, mas a autora não conseguiu identificar a fonte.
[17]
Arthur Bennet,“The Valley of Vision.” The Valley of Vision: A Collection of Puritan Prayers and Devotions (Edinburgh:
Banner of Truth, 2003), xxv. [edição em português: O vale da visão: uma coletânea de orações puritanas (Brasília, DF: Editora
Monergismo, 2020).
[18]
Joni Eareckson Tada, prefácio do livro Choosing Gratitude: Your Journey to Joy de Nancy Leigh DeMoss (Chicago: Moody
Publishers, 2009), 12.
[19]
Joni Eareckson Tada and Steve Estes, When God Weeps: Why Our Sufferings Matter to the Almighty (Grand Rapids:
Zondervan, 1997), 56, 56, 84, 84, 101, 137.
[20]
Joni Eareckson Tada, The God I Love (Grand Rapids: Zondervan, 2003), 357.
[21]
George Matheson citado em L. B. Cowman, Streams in the Desert (Grand Rapids: Zondervan, 1996), 114.
[22]
22 Alexander Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago: 1918– 1956, Vol. 2, 615–617 citado por John Piper, “Thank You, Lord,
for Solzhenitsyn,” em Desiring God, 4 de Agosto de 2008. http://www.desiringgod.org/ articles/thankyou-lord-for-solzhenitsyn.
Acessado em 28 de Junho de 2016.
[23]
Joni Eareckson Tada, prefácio do livro Choosing Gratitude: Your Journey to Joy de Nancy Leigh DeMoss (Chicago: Moody
Publishers, 2009), 12.
[24]
Joseph Bayly, The View from a Hearse (Colorado Springs: David C. Cook Publishing, 1972) 40.
[25]
John Wyatt, Matters of Life and Death (Downers Grove: InterVarsity Press, 2009).
[26]
D. A. Carson, How Long, O Lord?: Reflections on Suffering and Evil (Grand Rapids: Baker Academic, 1990), 109.
[27]
Joni Eareckson Tada, “The Stakes Are Higher than You Think,” (palestra, True Woman Conference, Indianapolis, IN, 24 de
Setembro de 2010).
[28]
Joni Eareckson Tada, Beside Bethesda: 31 Days Toward Deeper Healing (Carol Stream: NavPress, 2016), Dedicatória.
[29]
Ibid., 81.
[30]
Ibid., 168.
[31]
Hannah Hurnard, Hinds’ Feet on High Places (Carol Stream: Tyndale, 1975).
[32]
Randy Alcorn, “C. S. Lewis on Heaven and the New Earth: God’s Eternal Remedy to the Problem of Evil and Suffering,”
Desiring God, 28 de Setembro de 2013, acessado em 21 de Junho de 2016. http:// www.desiringgod.org/messages/c-s-lewis-on-
heaven-and-the-new-earthgod-seternal-remedy-to-the-problem-of-evil-and-suffering.
[33]
Randy Alcorn, entrevista conduzida por Gavin Ortlund, “Looking Forward to a Heaven We Can Imagine,” The Gospel
Coalition, 9 de Março de 2015. https://www.thegospelcoalition.org/article/lookingforward-to-a-heaven-we-canimagine. Acessado
em 21 de Junho de 2016.
[34]
Ibid.

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