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Meu precioso amigo André Schalitt é a prova viva de que a fé genuína e a comunicação

com Deus sempre serão prioridade na vida dos fiéis. Oração é uma prática que nunca
deveria cair em desuso na vida pessoal do cristão, na vida da família, na vida das
comunidades de fé. André foi muito feliz ao escrever sobre este tema ao mesmo tempo
com simplicidade, profundidade, objetivi-dade e fundamentação. A maior fundamentação
é a base escritu-rística sobre a qual ele calcou suas argumentações, seus alertas e suas
conclusões. Recomendo este livro com alegria e entusiasmo, ao mesmo tempo que
parabenizo o autor e todos que o lerem.
ABE HUBER
Pastor da Paz Church, conferencista e escritor

Mais uma vez tenho a honra de apresentar um livro de André Schalitt, um amigo a quem
aprendi a admirar e respeitar. Dessa vez, ele escreve sobre um dos assuntos mais
importantes da vida cristã. Embora haja muitos livros sobre o assunto, o leitor verá que
há um novo frescor e enfoques diferentes neste assunto já tão explorado. A razão é que o
autor não escreve apenas na teoria, mas revela com sua escrita e experiências que tem
intimidade com Deus e pratica a disciplina da oração. Este livro é uma convocação e um
chamado. Este alerta se une ao clamor dos joelhos fiéis que se dobram todos os dias,
orando por um avivamento genuíno e bíblico.
SILMAR COELHO
Pastor, escritor e doutor em Teologia e liderança

Com este livro, o querido André Schalitt deu a todos nós um grande presente. Esta obra
abastecerá e inspirará sua vida de oração. Permita que este livro possa alertá-lo, guiá-lo e
abençoá-lo nesta hora gloriosa e crítica.
COLIN DYE
Pastor, escritor e fundador do Instituto Bíblico Internacional de Londres (Inglaterra)

Com lágrimas nos olhos, finalizei a leitura do mais recente livro de meu amigo, o pastor
André Schalitt. Esta obra é, cer-tamente, uma inspiração e um verdadeiro desafio para
todo aquele que tem fome de Deus e busca conhecê-lo e ser usado por ele. À medida que
eu abria as páginas desse tesouro, crescia dentro de mim um forte fervor espiritual e um
desejo imenso de encontrar-me mais e mais com o meu Criador. A cada capítulo, meu
coração tornava-se mais sedento por um novo Pentecostes. Apaixonado por almas
perdidas, fui sendo nutrido com uma ardente expectativa de ser totalmente cheio do
Espírito Santo e usado por ele conforme a sua vontade.
ARI CAETANO NASCIMENTO
Pastor, presidente e fundador da Comunidade Evangélica Cristã de Vila da Penha

Como fiquei feliz em comentar a respeito deste livro de An-dré Schalitt! Você vai se
deparar com um belo livro, que traz bases bíblicas, citações de escritores diversificados e
histórias de milagres por meio da oração. Você vai se inspirar por meio dessa leitura.
Cada sentença a respeito da oração citada neste livro me estimula mais à busca pela face
do meu Deus. Eu o encorajo a acessar este conhecimento, pois ele potencializará sua vida
de oração com mais resultados.
JOEL PEREIRA
Pastor do Projeto Vida em Volta Redonda (RJ)
Copyright © 2023 por André Schalitt
Publicado por GodBooks Editora

Edição Maurício Zágari


Preparação Luiz Henrique Soares
Revisão Marcos Stefano Couto
Capa Marcus Nati
Diagramação Luciana Di Iorio

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998, que torna ilegal a reprodução total ou
parcial deste livro, por quaisquer meios (PDFs, eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), ou o seu
compartilhamento, mesmo sem fins lucrativos, sem prévia autorização, por escrito, da editora.

CIP-Brasil. Catalogação na publicação


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
S297

Schalitt, André
Nas mãos do Criador — O poder e o impacto da oração: fundamentos e prática / André Schalitt. — 1. ed. — Rio de
Janeiro : GodBooks, 2023.
176 p.
ISBN 978-65-89198-57-4
1. Oração. 2. Vida cristã. 3. Teologia. 4. Espiritualidade. I. Título
CDD: 241.9
CDU: 242
Categoria: Teologia

Publicado no Brasil com todos os direitos reservados por:


GodBooks Editora
Home page: www.godbooks.com.br

1ª edição: março de 2023


Sumário

Apresentação — Hernandes Dias Lopes


Prefácio — Bob Sorge
Prefácio — Josué Valandro Jr.
Introdução

1. Posicione-se como filho


2. Alinhamento e graça
3. A ação mais poderosa da terra
4. O ponto de partida
5. Deus se importa!
6. Em contato com Deus
7. Oração, fé e razão

Referências bibliográficas
Sobre o autor
Apresentação

M inha alegria em apresentar aos leitores esta obra, da lavra do meu precioso amigo
André Schalitt, decorre de vários fatores.
Primeiro: o tema reveste-se de uma importância vital para a igreja contemporânea. A
oração é o oxigênio da igreja. Por meio dela somos fortalecidos, orientados e consolados.
A oração é a chave do avivamento e a alavanca do crescimento saudável da igreja.
Segundo: o tema foi abordado com sólida consistência bíblica. O autor revela não
apenas um apurado conhecimento das Escrituras, mas também um douto conhecimento
da história da igreja. Enriquece essa joia literária com muitos exemplos de homens e
mulheres de Deus que viveram de forma superlativa a vida cristã e nos legaram lindas
experiências de oração.
Terceiro: o tema foi tratado com acuracidade teológica. O autor não lida com o assunto
de forma puramente acadêmica nem faz desta obra um relato de experiências pessoais. Ele
conjuga teologia saudável com piedade pessoal. Na verdade, jamais podemos separar
doutrina e vida, credo e conduta, ortodoxia e piedade. André nos brinda com uma obra
que aliança a boa teologia com a santa devoção pessoal.
Quarto: o autor tem credencial para tratar do tema. Há muitos estudiosos que escrevem
sobre oração com singular desenvoltura, mas apenas do ponto de vista acadêmico. Falam
do que não experienciam. Tratam do que não conhecem na prática. André, nesta obra,
abre o seu coração e partilha conosco suas próprias experiências. A vida do autor, na
verdade, recomenda sua obra. Sua vida é avalista de suas palavras.

HERNANDES DIAS LOPES


Pastor, escritor e conferencista
Prefácio

uando oramos, estamos buscando a face de Deus. Davi escreveu: “Quando tu


Q disseste: ‘Busca a minha face’, meu coração te disse: ‘A tua face, Senhor, eu
buscarei’” (Sl 27.8).
Ao buscar a face do Senhor em oração, eu gosto de buscar aspectos específicos de seu
rosto. Quando João viu uma revelação de Jesus em Patmos, João descreveu alguns dos
aspectos do rosto de Cristo que busco em oração.
Eu procuro seus cabelos e cabeça brancos (Ap 1.14), que falam comigo sobre seus anos,
sabedoria e entendimento. Ele é totalmente sábio, e seus pensamentos são elevados,
sublimes e perfeitos. Em oração, procuro saber o que ele está pensando. E eu o adoro por
sua sabedoria, dizendo a ele que sua liderança em minha vida é perfeita. Ele é o Ancião
dos Dias, com experiência e conhecimento infinitos, por isso digo a ele repetidamente que
desejo a mente de Cristo.
Procuro os seus olhos, que são como chama de fogo (Ap 1.14). Ele vê por meio de tudo.
Ele vê os motivos do coração que estão por trás de cada palavra que falamos. Ele vê tudo
o que está acontecendo no mundo, e sabe exatamente o que está acontecendo. Quando
busco seus olhos, procuro ver o que ele vê. Peço-lhe que coloque colírio nos meus olhos
para que eu possa ver mais claramente (Ap 3.18). Seus olhos de fogo também me dizem
que ele sente muito intensamente tudo o que contempla, e eu quero que a mesma
intensidade de fogo preencha meu coração.
Procuro seus ouvidos porque quero ouvir o que ele está ouvindo. E busco o seu nariz
porque quero discernir o que ele está discernindo.
Então procuro sua boca, porque quero ouvir as suas palavras. Eu tremo diante da
afiada espada de dois gumes do juízo que procede de sua boca (Ap 1.16). E eu quero
ouvir a sua voz, que é como o som de muitas águas (Ap 1.15).
Quando quaisquer águas correm, elas emitem um amplo espectro de frequências
sonoras. Na presença de águas torrenciais, você ouvirá estrondos, bem como tinidos altos
de gotículas borbulhantes se colidindo — e todas as frequências concebíveis entre elas.
Muitas águas vão “falar” com você em níveis infinitos de som. O mesmo acontece com a
voz de Cristo. Cada palavra que ele fala se comunica em vários níveis. Uma frase pode
falar com seu passado, seu presente e seu futuro. Ele pode falar simultaneamente à sua
mente, coração, emoções e circunstâncias. Pode repreender, corrigir, confortar, encorajar
e iluminar, tudo ao mesmo tempo. Uma palavra de Cristo pode significar uma coisa para
você hoje, e então significar algo totalmente novo e revigorante amanhã. Sempre que ele
fala uma palavra para você, ele está sempre dizendo mais do que você jamais poderia
imaginar ou compreender.
E, finalmente, busco o semblante de Cristo, que João disse ser como o sol brilhando em
sua força (Ap 1.18). Seu semblante fala de seu favor. Peço a ele que brilhe a luz de seu
semblante em minha vida e me favoreça com bênçãos, sabedoria, compreensão e orações
respondidas.
Quando João recebeu sua revelação de Cristo, ele estava sozinho, aprisionado na ilha
de Patmos. Sozinho em sua prisão, João era impotente para fazer qualquer coisa. E
quando Jesus está no céu, isso parece um tanto remoto e distante, por assim dizer. Mas
quando Jesus entrou na prisão de João, Jesus mais João significavam uma história
mundial transformada. O que quero dizer é que o livro do Apocalipse que saiu desta
parceria transformou a história do mundo.
Meu amigo André escreveu este livro maravilhoso para inspirar sua vida de oração.
Que presente! Ao se dedicar à oração, que Jesus entre em seu mundo, e que a história do
mundo seja mudada por meio de sua parceria. Este é o deleite e o poder da oração.
Busque seu rosto!
BOB SORGE
Autor dos best-sellers Segredos do lugar secreto e Não é o fim, é o início
Kansas City (EUA)
Prefácio

N inguém que se defina como cristão desprezaria o assunto oração. São milhares de
publicações, canções e pregações sobre este assunto essencial da vida cristã. À
primeira vista, este seria apenas mais um livro sobre o assunto. Mas ao percorrer as linhas
de cada capítulo, me dei conta de que estava diante de uma obra diferenciada
biblicamente, pedagogicamente capaz de atingir a mente do leitor e espiritualmente capaz
de atear fogo ao coração de um servo de Deus.
O autor parte da constatação da realidade que o mundo vive, e da resposta precária da
igreja a tudo isso, para detalhar princípios sólidos para se ter uma vida de oração. Seus
argumentos contundentes são respaldados por citações de renomados teólogos da história
cristã e por experiências marcantes na vida do próprio autor, que, humildemente, mostra
suas descobertas paulatinas sobre este “segredo” de vitória que nunca foi segredo.
Já na Introdução, encontramos lições preciosíssimas sobre a importância da oração. São
percepções muito interessantes sobre o que ocorre na vida de quem ora. A partir daí,
identificamo-nos sobre o que nos impede de orar mais e o que a oração traz sobre a vida
da pessoa, da igreja e da sociedade. Temos uma aula profunda de teologia bíblica da
oração.
Chama atenção como, em alguns momentos, o autor é incisivo e nos provoca profunda
reflexão, como quando afirma: “Deixar de orar é o mesmo que desprezar a cruz”.
Confesso que me deu arrepio pensar que a diminuição de minha vida de oração tem a ver
com toda minha gratidão e fé no sacrifício da cruz. A oração acaba sendo um medidor
crucial sobre o quanto de cristianismo verdadeiramente eu tenho na minha vida. Com
base bíblica, Schalitt revela que “a aproximação com o Senhor é a maior e mais
importante prerrogativa da oração”, e que apesar da oração “ser um dos temas mais
publicados pelas editoras e mais falados na igreja, é também, ao mesmo tempo, o menos
praticado entre a maioria dos cristãos”. Pura e contundente verdade que nos explica por
que a apostasia tem tomado a muitos que um dia foram igreja, infelizmente.
A leitura do livro nos tonifica a desejar viver com intensidade uma vida de oração, a
fim de experimentar realidades espirituais que de outra forma é impossível se viver. Isto se
dá pela profundidade da exposição bíblica, mas também pelos exemplos magníficos de
grandes heróis da fé que realmente impactaram suas gerações mais por suas orações que
por suas pregações.
Identifico-me ainda mais com o livro porque presenciei o quanto a oração foi vivência
do próprio autor em um dos capítulos mais lindos de sua vida, que foi a chegada de sua
filha Luísa, após diagnósticos que desprezavam a realização deste sonho. Schalitt fala do
que vive e do que estuda. Não é só teologia e não é só experiência. É tudo junto para mais
facilmente atingir a todos. Aleluia!
Não tem como ler este livro e ser o mesmo diante da oração. Parabenizo o pastor André
Schalitt e dedico este prefácio a todas as pessoas que querem sair da esfera do natural
para uma vida dominada pelo sobrenatural.

JOSUÉ VALANDRO JR.


Pastor da Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro (RJ)
Introdução

S ituações difíceis estão cada vez mais presentes na vida do ser humano. Doenças físicas e
emocionais, ativismo, crises econômicas, corrupção, desigualdade social, desrespeito,
crises conjugais, decepções, perdas, declínio moral, medo, traição, violência, enfim, todos
nós conhecemos alguém que está em luta com uma ou algumas dessas situações. O fato é
que este mundo está submerso numa realidade extremamente desafiadora e hostil.
Conforme está escrito, “o mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19).
Todavia, diante de nós existem duas possibilidades: a primeira é passar por estes
desafios sozinhos, lutando com as próprias forças a fim de vencer os intentos deste
mundo; a segunda é passar por estes desafios com a ajuda do Deus criador.
Se a sua escolha for a segunda possibilidade, então você precisará ser uma pessoa de
oração, pois toda ajuda divina vem por meio desta prática. “Tudo o que Deus é, e tudo o
que ele tem, pode ser recebido por meio da oração”, já dizia o querido amigo que já está
com o Pai, Myles Munroe.[Nota 1]
Um acontecimento fascinante marcou a Segunda Guerra Mundial. Um médico do
exército norte-americano chamado Desmond T. Doss decidiu ir à guerra para defender
seu país, mas se recusou a pegar em uma arma. Baseando suas ações no entendimento de
que ele poderia defender seu país salvando vidas e não matando inimigos, Doss
decididamente queria ir à guerra, mas nada poderia mudar sua ideia de ir sem tocar em
uma arma.
Depois de intensas pressões vindas de todos os lados e muitos desafios pessoais, o
soldado Doss acabou sendo aceito como paramédico numa companhia de atiradores.
Trabalhando na ala médica durante a Batalha de Okinawa, ocorrida na ilha de Okinawa,
no arquipélago de Ryukyu (sul das quatro maiores ilhas do Japão), Doss começou a
resgatar soldados feridos. Mesmo colocando sua própria vida em risco, com grande
bravura, a cada resgate, Doss orava pedindo a Deus que o ajudasse a salvar mais um, e
assim, 75 homens feridos naquele campo de batalha foram resgatados, muitos deles de
situações bastante improváveis.
Sem portar armas, o soldado Desmond Doss teve uma importante participação na
Batalha de Okinawa, resgatando tantos amigos feridos. Tornou-se herói de guerra e
recebeu do governo norte-americano a mais importante condecoração militar de seu país,
a Medalha de Honra do Congresso, entregue pelo então presidente Harry S. Truman. No
ano de 2016, Hollywood lançou um filme intitulado Hacksaw Ridge (no Brasil, Até o
último homem), dirigido pelo famoso ator e diretor Mel Gibson, contando esta história.
Posteriormente, Doss ressaltou que seus pedidos de ajuda a Deus em oração para salvar
mais um foram o fator decisivo em sua missão. Mesmo divergindo das posições teológicas
de Desmond Doss, que era um adventista, sua postura em buscar em Deus a ajuda para
conseguir salvar mais um nos inspira a buscar a ajuda de Deus para superar os desafios da
vida em um mundo tão turbulento.
A oração proporciona fortalecimento e intimidade com Deus, que é o único que pode
fornecer paz para suportar as adversidades e poder para superar qualquer desafio.
Portanto, quem deseja a ajuda de Deus e prova do seu agir e graça, deve dedicar-se à
oração.
Sendo assim, esta prática deve ser a principal reação do cristão contra as imposições
deste mundo. Por isso, o meu conselho a todo cristão é: substitua o medo, a dúvida, a
crítica, a murmuração, a inquietação, a justiça própria, a vingança e a mágoa pela prática
da oração, e então vencerá os intentos do mundo.
Lembrando que a oração não elimina os desafios da vida, mas atrai a ajuda de Deus. E
quando Deus está presente, não há obstáculo que não possa ser vencido, fracasso que não
possa ser superado, medo que não possa ser exterminado, violência que não possa ser
extinta e dor que não possa ser sarada.
E ainda é importante saber que orar é colocar a expectativa na pessoa certa. Afirmo isto
por três razões: Primeiro: o Senhor nunca decepciona ou falha com os que o buscam, mas
sempre age cooperando para o bem (Rm 5.5; 8.28; Sl 119.116). Orar a Deus é confiar em
sua rica e perfeita bondade, além da sua reta justiça e fidelidade.
Segundo: sozinho, você não pode mudar as coisas, mas Deus pode, e esta é a razão que
faz a oração ser tão especial. Ela transforma qualquer coisa, porque Deus tem o controle
de tudo. Não existe um milímetro quadrado de tudo que existe, que ele não tenha
domínio. Como disse Abraham Kuyper, em sua palestra inaugural na abertura da
Universidade Livre de Amsterdã no ano de 1880, proclamando a grandeza de Deus por
meio da seguinte frase: “Não existe uma única polegada de toda a área da vida humana
sobre a qual Cristo, que é soberano de tudo, não declare: ‘É minha!’” . [Nota 2]
Terceiro: o Senhor está de braços abertos para aqueles que o buscam de todo coração,
conforme está escrito: “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o
vosso coração” (Jr 29.13). Davi escreveu: “Perto está o Senhor de todos os que o
invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo dos que o temem;
ouvirá o seu clamor, e os salvará” (Sl 145.18-19). Já o apóstolo João afirmou: “E esta é a
confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos
ouve” (1Jo 5.14).

Minha experiência com a oração


A minha confiança no assunto não se limita ao campo teórico, até porque é impossível
falar de oração sem ter tido experiências com essa prática. Essas experiências estão
baseadas em fatos vividos desde a minha infância, mas, sobretudo, com a clara
consciência de que Cristo me deu o direito de ser chamado de filho de Deus, e como filho,
tenho livre acesso a ele.
Ao longo dos anos, tenho percebido coisas magníficas, tais como:
Orar me aperfeiçoa. Concordo com o teólogo e escritor Richard J. Foster, quando
escreveu que “a oração é a avenida central que Deus usa para transformar-nos”.[Nota 3]
Isso significa que muitas mudanças que precisamos, tornam-se reais à medida que oramos.
Quando oro pedindo coragem, o Senhor me dá inimigos para vencer; quando peço por
paciência, ele não tira as situações estressantes do meu caminho, mas me dá graça para
suportar e superar; quando eu peço forças, ele me dá desafios para me fazer forte; quando
peço por mais obreiros para me ajudar na obra, ele envia pessoas para serem discipuladas
e treinadas; quando peço sabedoria, ele me dá equações complexas para solucionar;
quando peço por provisão, ele me dá ideias novas e energia para trabalhar; se eu peço
amor, ele me dá pessoas carentes e difíceis para eu amar; quando peço por crescimento,
ele mostra as ferramentas e orienta sobre como construir a escada que leva ao
crescimento. E, assim, o Senhor vai me moldando e aperfeiçoando, segundo os seus
perfeitos desígnios.
Orar pelos outros também me abençoa. O doutor Wesley Duewel, que dedicou 75 anos
da sua vida em missões mundiais, além de ter abençoado milhões de pessoas ao redor do
mundo por meio dos seus livros, ensinou que “a oração é o caminho certo para a bênção,
e a oração é o maior meio de ser uma bênção para outros. A oração é o dom de Deus para
abençoar outros”.[Nota 4] Esta é uma indubitável certeza que tenho, no entanto, de uma
forma maravilhosa, sempre que eu dedico períodos de orações por outras pessoas,
percebo concretamente, de forma automática, o cuidado e o agir de Deus para com a
minha vida e a da minha família. O que eu entendo com isso? Bom, só consigo crer que as
bênçãos que Deus envia para aqueles que são alvos da minha intercessão, também passam
por mim.
Orar por aqueles que me fizeram mal me ajuda a perdoá-los e a seguir em frente. Não
estou isento de chateações. Quem lida com bastantes pessoas sabe que está sujeito a
momentos de decepções. Mas a oração tem me ensinado de uma forma muito clara que
nos meus momentos a sós com Deus, em que oro por alguém que me prejudicou em
alguma coisa, sentimentos de amor e perdão brotam dentro de mim. Na maioria das vezes
isso ocorre instantaneamente. Creio que isso é o cumprimento da promessa de Cristo, que
disse: “Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai
que está nos céus” (Mt 5.44).
Orar gera ideias criativas. Os mais relevantes projetos e ideias que tive em minha vida
nasceram quando estive de joelhos diante de Deus. É como se o Espírito Santo esclarecesse
coisas e me fizesse enxergar realidades e direções que antes pareciam inexistentes.
Orar me torna uma pessoa equilibrada. Eu adquiro uma confiança crescente nos planos
e propósitos que Deus tem por trás de cada situação. Por essa razão, eu não preciso me
desesperar caso algo tenha saído da forma que eu não esperava.
Orar me coloca em lugares onde fisicamente eu não posso chegar. Quando eu oro por
um missionário que realiza sua missão, por exemplo, em uma determinada região da Ásia,
eu estou colaborando diretamente com o seu trabalho naquela região. Torno-me um
apoio direto para ele. Quando eu oro por uma pessoa que está hospitalizada sem poder
receber visita, é como se eu estivesse lá, pessoalmente, dando o meu apoio. Quando eu
oro por uma igreja em outro continente que está passando por alguma dificuldade, é
como se eu estivesse pessoalmente somando para a superação que ela necessita.
Orar faz de mim um colaborador de qualquer ministério e qualquer pastor do mundo.
Quando eu era jovem, li o livro Evangelismo por fogo e fiquei impactado com o que Deus
estava realizando na África por meio do ministério do Reinhard Bonnke. Então perguntei
a Deus: “O que faço para ser um canal de bênção para o ministério do irmão Bonnke?”.
A resposta do Senhor ao meu coração foi: “Ore constantemente por ele”. E assim fiz, até
o dia em que o Reinhard foi recolhido por Deus. Eu oro por diversos pastores e igrejas de
várias partes do Brasil e do mundo. A maior parte deles não me conhece e provavelmente
jamais ouvirão falar sobre mim, mas amo orar por eles. A oração torna possível o meu
apoio a qualquer pessoa.
Orar torna o meu dia mais seguro. De uma forma impressionante, as orações que faço
logo quando me desperto geram em mim uma segurança em relação à minha família e às
minhas atividades daquele dia. Trabalho de uma forma mais confiante. Eu me agarro nas
palavras do salmista, que disse: “É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É
melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes” (Sl 118. 8-9).
Orar me livra de decisões erradas. Não há como enumerar as vezes em que o Espírito
Santo falou ao meu coração acerca de uma decisão que eu tinha que tomar. Sempre que
eu ouvi o Espírito, as decisões prosperaram e foram eficazes. Como ensinou o doutor
John Haggai: “A oração dissipa o nevoeiro da ignorância humana. As pessoas que oram,
a despeito das suas limitações acadêmicas, são recipientes de uma perspectiva correta e de
uma compreensão viva consentidas por aquele que é a ‘Verdade’”.[Nota 5] Uma vez que
decisões erradas colocam o futuro em risco, prefiro seguir a orientação bíblica: “Confie
no Senhor de todo o seu coração e não se apoie no seu próprio entendimento. Reconheça
o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos
seus próprios olhos; tema o Senhor e afaste-se do mal” (Pv 3.5-7).
Orar me faz ter a certeza de que Deus tem um plano maior e melhor que o meu.
Aprendi no campo da oração que Deus, como sendo o Bom e Perfeito Pai, não atende
todas as minhas petições. Ele até permite que eu insista em algumas coisas e fracasse, mas
é para me mostrar que os planos que ele tem a meu respeito são maiores e melhores.
Estou convicto que a oração é um convite a Deus, para que ele faça a sua obra em minha
vida.
Orar me aproxima dos propósitos que Deus tem para mim. O precioso amigo Bob
Sorge, autor de livros que têm edificado milhares de pessoas ao redor do mundo,
comentou que “o poder da oração se dá não em convencer Deus sobre minha agenda, mas
em aguardar para ouvir a agenda dele.”[Nota 6] Está escrito: “O Senhor faz tudo com um
propósito” (Pv 16.4). Uma coisa importante que eu aprendi é que Deus não trabalha com
aquilo que eu acho que é bom ou necessário, mas com propósitos. Não adianta eu ser
bem-sucedido em algo que ele não me mandou fazer. Isso seria uma distração.
O pastor Rick Warren, em seu famoso livro Uma vida com propósito, exemplificou a
questão da seguinte forma:

Você não criou a si mesmo, logo não há jeito de dizer a si mesmo para que foi
criado! Se eu lhe entregar uma invenção desconhecida, você não terá como saber sua
serventia nem a própria invenção terá a capacidade de lhe dizer. Somente o criador
ou o manual do fabricante poderá mostrar sua utilidade.[Nota 7]

A oração me coloca em contato com o meu Criador, e, assim, me livro das distrações e
passo a conhecer os propósitos dele para a minha vida.
Orar me torna uma pessoa mais eficiente. É como se Deus estivesse comigo nas tarefas
mais complicadas da vida, dando-me direcionamento e força, além de mandar pessoas
para me apoiar. Clemente de Alexandria disse: “Orar é manter a companhia com Deus”.
[Nota 8]◘ Esta é uma realidade que eu não posso abrir mão.

Orar me dá uma visão além da minha vista. O apóstolo Paulo disse que “estamos
andando pela fé, não pela vista”(2Co 5.7). Deus tem me permitido enxergar cenários em
que outros, de forma natural, não enxergam. Estes cenários são criados pela fé,
aperfeiçoados pela oração e concretizados pela ajuda de Deus.
Orar faz com que o Espírito Santo me capacite para aquilo que eu fui chamado para
fazer. O comentário de Phillips Brooks à sua congregação foi um despertamento para
mim:

Não orem por uma vida mais fácil. Orem para ser homens e mulheres mais fortes.
Não orem por tarefas dentro da sua capacidade. Orem para que sua capacidade
esteja à altura de suas tarefas.[Nota 9]

Ao seguir essa instrução, pude vivenciar de um modo muito especial a capacitação


divina para cumprir aquilo que Cristo me confiou.
Orar de acordo com a Palavra de Deus torna a minha oração eficaz. Percebi que o
alinhamento entre as minhas orações e a Palavra de Deus é necessário. Ao fazer isto, trago
à luz os princípios ordenados e as leis estabelecidas pelo Senhor descritos na Bíblia. Deus
zela por sua Palavra (Jr 1.11).
O teólogo e escritor Dietrich Bonhoeffer escreveu a respeito da importância de orar de
acordo com as Escrituras, a fim de nos curar da confusão do nosso coração:

Ao repetir as próprias palavras de Deus, começamos a orar a ele. Não oramos com a
linguagem errada e confusa de nosso coração; mas pela palavra clara e pura que
Deus falou a nós por meio de Jesus Cristo, devemos falar com Deus, e ele nos
ouvirá.[Nota 10]

Vale frisar que as Escrituras oferecem a matéria-prima para uma oração eficaz. Pense
comigo: A Palavra de Deus aperfeiçoa (2Tm 3.16-17), limpa (Jo 15.3), santifica (Jo
17.17), liberta (Jo 8.32) e discerne os pensamentos e os propósitos do coração (Hb 4.12).
E ainda mostra que o Senhor nos ama (Jo 3.16); que não precisamos ter medo (Is 41.10-
14); que o Senhor cuida de nós (1Pe 5.6-7); nos fortalece (1Pe 5-10); nos dá a verdadeira
paz (Jo 14.27); traz provisão no momento de necessidade (Fp 4.19); cura (Jr 17.14),
sustento (Sl 55.22); e a segurança de que podemos recorrer a ele nos momentos de
ansiedade (Fp 4.6-7), e que ele é o nosso socorro bem presente (Sl 46.1). Por isso que ao
orar em alinhamento à Palavra, reafirmamos todas essas verdades em nossa vida.
Tenho aprendido também que, na oração, eu não tenho que me concentrar na duração,
mas naquele a quem eu estou orando. Descobri, na prática, que o segredo da oração não
está em sua duração, mas na sinceridade das minhas palavras e em Deus, a quem as
palavras são direcionadas. O Senhor é aquele que eu devo focar quando estiver orando.
Não meu relógio. Um passo já é melhor do que nenhum. Meu relacionamento com Deus
não é algo programado, mas um estilo de vida.
O diabo muitas vezes soprou em minha mente a ideia de que se eu orasse apenas alguns
minutos, a oração seria fraca e sem efeitos, e, assim, não valeria a pena. Isso tinha se
tornado uma “boa” desculpa para não ter uma vida ativa de oração. Mas foi orando que
Deus me libertou deste pensamento falido. Aprendi que, muitas vezes, a constância pode
ser mais eficaz do que a duração. Oração não é como uma audiência com alguma
autoridade política em que, muitas vezes, existe uma necessidade de se definir algo em um
determinado espaço de tempo. A oração é como um relacionamento de pai e filho, com
liberdade de se conversar quantas vezes forem necessárias, sem limitações ou
determinações de tempo. Deus nunca estará impossibilitado de ouvir as orações dos seus
filhos.

Este livro
Quando minha esposa, Patrícia, e eu recebemos a informação de um conceituado médico,
especialista em fertilização, de que a gravidez para ela seria algo muito difícil de
acontecer, os nossos pensamentos reagiram de uma forma um tanto confusa. Isso porque,
dentro de nós, um grande duelo começou a acontecer: fé versus tristeza. À medida que o
médico dava as explicações sobre a extrema dificuldade de ela engravidar, ora eu
assimilava a ideia de que um milagre aconteceria, ora a ideia de não termos filhos
biológicos parecia ser o caminho a aceitar.
Mas neste duelo, a fé venceu. Decidimos então buscar a realização do nosso sonho no
campo da oração. Muitos pastores e amigos no Brasil e de outros países passaram a orar
conosco. Um desses amigos de oração foi o querido Josué Valandro Jr., pastor sênior da
Igreja Batista Atitude da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Lembro-me que após um
momento de comunhão, ele orou especificamente sobre nosso dilema. Unânimes, sentimos
claramente a visitação de Deus. O Senhor estava ali, poderoso e gracioso, agindo de modo
especial naquela tarde. Em seguida, o pastor Josué disse a Patrícia e a mim: “Está nas
mãos do Criador.” Esta frase moveu algo dentro do meu coração. Eu pensei: “Então está
nas melhores mãos”.
Uma semana depois, o Haroldo Kuzma, pastor sênior da Igreja ABA de Blumenau,
Santa Catarina, pouco antes de iniciar sua pregação em uma conferência em São Paulo,
dirigiu uma palavra a Patrícia e a mim: “Esse sonho está nas mãos do Criador.” Desde
então, passei a descansar em Deus com uma segurança impenetrável.
Passados alguns dias, a Patrícia entrou na sala de oração da nossa igreja, e ali,
expressou toda sua sinceridade a Deus, dizendo: “Senhor, tu que sondas o meu coração e
conheces o mais profundo da minha alma, sabes o quanto eu quero ser mãe, mas, Senhor,
eu também sei que os teus planos são perfeitos, e estou preparada para aceitar a tua
vontade em relação a isso”.
Após essa oração, Patrícia me liga para compartilhar sobre a oração que ela havia feito,
e concluiu a nossa conversa repetindo a frase antes dita pelos pastores Josué e Haroldo:
“Está nas mãos do Criador.” Eu não havia dito a ela o quanto esta frase havia me tocado
antes. Por isso, ao ouvi-la novamente, senti que o nosso sonho estava próximo. Detalhe:
não me lembro de ouvir a Patrícia dizer esta frase em outra ocasião.
De fato, estava muito próximo. O exame seguinte veio positivo, e hoje a nossa filha
Luísa alegra os nossos corações de uma forma maravilhosa.
Foi por esta experiência que decidi intitular este livro Nas mãos do Criador, e meu
objetivo é compartilhar sobre os movimentos espirituais que ocorrem quando oramos e
colocamos tudo nas poderosas mãos de Deus.
Escrever este livro foi um divisor de águas para mim. À medida que o Espírito Santo me
direcionava sobre o tema, ao mesmo tempo eu era duramente confrontado por ele. E
ainda, ao tornar esses direcionamentos em práticas, passei a provar de experiências
divinas singulares. Produzir este material deu um upgrade em minha vida como cristão.
Há autores excelentes que nos presentearam com obras empolgantes sobre o tema
oração, e muitos deles são citados nas páginas a seguir. Mas o que Deus ministrou a mim
a respeito deste assunto e me impulsionou a compartilhar tem por objetivo oferecer um
tônico espiritual para aqueles que desejam viver algo a mais em sua vida. Minha proposta
com o tema não é oferecer somente uma teologia sobre oração, mas te desafiar a entrar
em uma realidade que só aqueles que possuem a oração como estilo de vida podem viver.
O meu desafio com este livro é fazê-lo crescer por meio da prática da oração e assim,
colaborar para que você possa viver em Cristo o que ainda não viveu. Faço minhas as
palavras que o apóstolo Paulo dirigiu a seu amado discípulo Timóteo: “[...] que os
homens orem em todos os lugares, levantando mãos santas...” (1Tm 2.8).
Espero que você seja edificado e que a sua paixão pela prática da oração seja
fortalecida. Afinal, como disse Samuel Chad wick: “A maior preocupação do diabo é
afastar os cristãos da oração. Ele não teme os estudos, nem o trabalho e nem a religião
daqueles que não oram. Ele ri de nossa labuta, zomba de nossa sabedoria, mas treme
quando nós oramos”.
Notas do Capítulo

Nota 1 - MUNROE, Myles. Compreendendo o propósito e o poder da oração. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2019, p.
37. [Voltar]
Nota 2 - STOTT, John. Ouça o Espírito, ouça o mundo. São Paulo: ABU, 2005, p. 43. [Voltar]
Nota 3 - FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina. São Paulo: Vida, 1983, p. 31. [Voltar]
Nota 4 - DUEWEL, Wesley L. Toque o mundo através da Oração. Candeia, 1996, p. 32. [Voltar]
Nota 5 - HAGGAI, John E. Como vencer a preocupação. São Paulo: Vida, 1981, p. 184. [Voltar]
Nota 6 - SORGE, Bob. Segredos do lugar secreto. Belo Horizonte: Atos, 2010, p. 21. [Voltar]
Nota 7 - WARREN, Rick. Uma vida com propósitos. São Paulo: Vida, 2003, p. 9. [Voltar]
Nota 8 - HOUSTON, James. Orar com Deus. São Paulo: Abba Press, 2003, p. 7. [Voltar]
Nota 9 - WIERSBE, Warren W. & David W. Princípios poderosos para o serviço cristão. São Paulo: Shedd Publicações,
2013, p. 101. [Voltar]
Nota 10 - BONHOEFFER, Dietrich. Orando com os Salmos. Curitiba: Encontro Publicações, 1995, p. 23. [Voltar]
1
Posicione-se
como filho

Segundo o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor, por
intermédio de quem temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele.
EFÉSIOS 3.11-12

uando minha esposa me comunicou da sua gravidez, as sensações dentro de mim


Q foram indescritíveis. Aquela notícia significava o ápice do nosso projeto como
família. Era o selo de uma história marcada por desafios, superações, provisões e
milagres. Foi um presente formidável que Deus nos deu.
A partir de então, demos início à organização e ao planejamento do maior projeto da
nossa vida familiar. Renunciamos a alguns planos pessoais para viver a gestação e o
nascimento da nossa amada primogênita. A nossa expectativa e ansiedade em vê-la em
nossos braços cresciam diariamente.
Até que esse dia chegou! E quando ouvi o choro da nossa Luísa pela primeira vez, senti
algo que antes não havia sentido. Era o som mais esperado da minha vida. Mais tarde,
apreciando as maravilhosas sensações de ser pai, parei para refletir sobre quanto eu amo a
minha filha e quanto quero tê-la perto de mim em todo o momento.
Foi com este amor de pai que eu passei a ter uma melhor noção do amor de Deus para
com todos os seus filhos. Um amor que expressa o desejo de estar perto o tempo todo. O
pai quer ter seus filhos próximos e deseja ouvi-los, porque os ama. Assim, Deus quer seus
filhos por perto e deseja nos ouvir pela mesma razão, porque ele nos ama. Para muitas
pessoas, a prática da oração está relacionada a algo como “conversando com Deus". No
entanto, esta afirmação representa uma parte de algo muito maior. A proposta da oração
é mais do que apenas se comunicar com Deus, é intimidade com Deus. É entrar nesse
estado de estar tão perto do Senhor que podemos realmente senti-lo.
Muitos ainda enxergam Deus a partir de uma mentalidade limitada, que projeta uma
imagem irreal sobre quem ele realmente é. Seria como se ele fosse um ser inalcançável,
fechado em sua realidade majestosa e sem acesso. Mas Jesus ensinou os seus discípulos a
pensarem em Deus como sendo o “Pai que está no céu”. Jesus não ensinou seus discípulos
a se aproximarem do trono do Senhor ou do Altíssimo temerosos e receosos, mas ele os
encorajou a entrar na presença do Deus eterno como crianças carentes que se aproximam
de um pai amoroso, sábio e generoso.
O professor Alan Pieratt, Ph.D. em Ciências da Religião e missionário da Missão
americana WordVenture, observou que “o convite a chamar Deus de ‘Pai’ mostra que o
Deus a quem oramos é pessoal e em certo sentido tão próximo como um membro da
família”.[Nota 1]
Neste capítulo quero te convidar a pensar sobre a oração como sendo a ação legítima
da plena relação com o Pai celestial. O fundamento desta afirmação encontra-se tanto na
criação do homem quanto na obra de Cristo na cruz. Vou discorrer sobre isto.

Deus nos quer perto dele


A primeira realidade a ser fundamentada no coração de cada cristão é que Deus criou o
homem para tê-lo perto dele. Em Gênesis 1.26-27 vemos a determinação de Deus em criar
o homem e compartilhar com ele sua imagem e semelhança:

E Deus disse: — Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa


semelhança. Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus,
sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os animais que
rastejam pela terra. Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou.

Em seguida, nos versos 28-30, vemos o primeiro registro de comunicação entre Deus e
o homem:

E Deus os abençoou e lhes disse: — Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a


terra e sujeitem-na. Tenham domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus
e sobre todo animal que rasteja pela terra. E Deus disse ainda: — Eis que lhes tenho
dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas
as árvores em que há fruto que dê semente; isso servirá de alimento para vocês. E
para todos os animais da terra, todas as aves dos céus e todos os animais que
rastejam sobre a terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes servirá de
alimento. E assim aconteceu.

Este relato de Gênesis aponta para a ideia de que o relacionamento com o Criador é a
prerrogativa número um do ser humano ao ser criado. Diferentes de todas as demais
coisas criadas, a primeira ação do homem foi a comunicação com Deus, e esta interação
tornou-se um privilégio que só o ser humano possui.
E notemos também que parte do próprio Deus essa interação. Sempre foi a vontade do
Criador o relacionamento com o homem por ele criado. Deus criou o homem à sua
imagem e semelhança para tê-lo perto de si. A. W. Tozer, considerado como um dos mais
profundos pensadores teológicos do século 20, refletiu:

O propósito de Deus, ao criar Adão e Eva, resume-se no que eles fariam por Deus,
que nada mais em toda criação tinha condição de fazer. Deus era exclusivamente
deles e de nada mais. Diferentemente de todo resto, nesse mundo místico e
maravilhoso cria-do por Deus, Adão e Eva podiam adorar a Deus, e Deus ansiava
por aquela adoração. Ao cair da tarde, Deus descia e passeava pelo jardim do Éden
com o homem e a mulher, onde eles lhe ofereciam reverência e adoração com
alegria. Em nenhuma passagem lemos que Deus descia e abraçava uma árvore,
passeava ao lado de animais ou plantas que ele havia criado ou conversava com
algum animal. Somente Adão e Eva podiam dar a Deus o relacionamento que ele
desejava. Este era o propósito exclusivo, não compartilhado por qualquer outra
criação de Deus.[Nota 2]

Apesar da queda e suas consequências, o desejo de Deus em relação à humanidade


continua sendo o mesmo hoje, tal como no princípio. As Escrituras afirmam que o desejo
de Deus é que todos sejam salvos (1Tm 2.4) e passem a relacionar-se com ele. Mas não
meramente uma relação de amigos, mas de Pai e filho.
E o meio pelo qual este relacionamento com Deus se torna real é a oração.
Uma das definições mais comuns sobre oração a aponta como o meio de conexão entre
o Criador e a sua principal criação: o homem. Sendo assim, a prática da oração representa
a valorização e o posicionamento da parte do homem, diante do plano original de Deus.
Na perspectiva neotestamentária, a prática da oração é uma ação baseada em um
direito que Cristo maravilhosa e graciosamente conquistou para todo cristão na cruz (Hb
8.6; Hb 9.15, Hb 12.24; Gl 3.19-20). Como mediador, Jesus tornou legítima a todos
aqueles que nele creem e vivem a realidade de serem filhos de Deus.
Orar ao Deus-Pai é uma ação legitimamente fundamentada na obra realizada por
Cristo na cruz!
Mas por que se fez necessário um mediador? A resposta baseia-se no fato de estarmos
unidos pactualmente a Adão. A fim de que todos nós pudéssemos ser salvos da ira divina,
o Senhor teve que enviar um mediador, ou seja, aquele que intervém para reconciliar. A
expressão grega para “mediador” tem o sentido daquele que se coloca entre duas pessoas
com a intenção de promover paz entre elas.
Deus é santo e o pecado é uma afronta direta a ele. Por isso que o Senhor e o homem
estavam separados (Is 59.1-2).

Os terríveis efeitos do pecado


Sem dúvidas, a maior tragédia da história humana ocorreu quando Adão e Eva
desobedeceram ao Senhor (Gn 3). Os efeitos deste pecado foram avassaladores, atingindo
toda a criação. Começando pelo distanciamento de Deus. O Criador se afastou da sua
criatura e a criação entrou em um terrível colapso espiritual, moral e físico. A união entre
o homem e a mulher passou a ser submetida a tensões, e até a harmonia com a natureza
se rompeu, tornando-se para o homem estranha e hostil. O mundo em que vivemos hoje
não é o mundo bom que Deus criou (Gn 1.31). O castigo descrito em Gênesis 3.17-18
revela que o pecado do homem causou a maldição contra a terra, resultando em espinhos,
cardos problemáticos e uma mudança na maneira do mundo natural (Rm 8.19-22). A
criação passou a se submeter à servidão da corrupção. Ao desobedecer ao Senhor, Adão
começou a manifestar esta corrupção ao se esconder de Deus (Gn 3.10), com quem
anteriormente desfrutava de companhia (Gn 1.28; Gn 2.8; Gn 19.22). A descrição de
Deus “andando” no jardim sugere que havia comunhão entre ele e Adão (Gn 3.8). Adão
não era pecador quando foi criado, mas caiu do estado de inocência e de comunhão com
o Senhor. Ficou constrangido em relação a si mesmo (Gn 3.10), quando antes ele não
tinha constrangimento algum (Gn 2.25). Passou a se justificar (Gn 3.12), quando
anteriormente nenhuma de suas ações ou pensamentos precisava de explicações.
Anteriormente, quando ouvia a voz do Senhor, ele não tinha medo, mas depois da
desobediência, passou a temer a presença de Deus (Gn 3.8).
Como descendente de Adão, a partir de então, toda a humanidade entrou no mundo
separada de Deus e sujeita à sua ira (Ef 2.1-3; Rm 5.19). A criação foi inundada pelo
pecado e, assim, a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5.12).
A morte é o resultado de uma vida longe de Deus.

O mediador da cruz
O plano do diabo, executado no Éden, afastou o homem de Deus. Entretanto, ali mesmo,
por iniciativa amorosa do próprio ofendido, Deus estabeleceu uma sentença sobre o
diabo, afirmando que sua cabeça seria esmagada (Gn 3.15), ou seja, o seu plano maligno
que separou o homem do Senhor seria destruído.
No Conselho Eterno, Jesus — Filho de Deus se dispôs a tomar a natureza humana para,
como Deus e homem, efetuar a reconciliação mediante o seu sacrifício na cruz (2Co 5.18-
19).[Nota 3]
Nesta mediação, Jesus Cristo se coloca como o nosso representante e o representante de
Deus, a fim de defender os interesses de Deus, que deseja reconciliar-se com o homem e
livrá-lo da sua ira, e o homem pecador carente de perdão.
A audiência de reconciliação ocorreu perto de Jerusalém (Jo 19.20), mais
especificamente em um monte chamado Calvário (em hebraico Gólgota — Mt 27.33; Mc
15.2; Lc 23.33; Jo 19.17), há mais de dois mil anos. Lá, Cristo, o mediador, usando uma
cruz, realizou o trabalho mais importante da história.
Só lembrando que o Calvário era o “monte das caveiras”, ou seja, um lugar de morte.
Foi neste lugar que a cruz que Cristo carregava foi fincada junto ao seu corpo e o sangue,
derramado para a redenção de todo aquele que nele crê, gerando, então, vida eterna.
Cristo transformou um lugar de morte em um de vida. Um lugar maldito em bendito. E
esse efeito transformador continua vigente, transformando miseráveis pecadores em filhos
regenerados e santos.
O sacrifício de Jesus Cristo consumado no Calvário, literalmente, fez com que os planos
do diabo caíssem conforme a sentença dada por Deus logo após a queda de Adão, e deu a
todo aquele que crê em Cristo e em sua obra na cruz o direito de se reconectar com o
Criador. O apóstolo Pedro afirmou que: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a
justiça...” (1Pe 2.24).
O nosso mediador, Jesus, veio à terra viver como um humano, com o intento de nos
resgatar do pecado, da morte e da influência do mal. Para isso, ele escolheu renunciar às
prerrogativas que eram suas. Renunciou à glória (Mt 17.2) e ao poder absoluto (Mt
28.18), e tornou-se homem de dores, um simples trabalhador (Is 53.3). Para descer ao
mundo e ser o nosso Redentor, precisou de corpo físico (Hb 10.5) e não poderia utilizar a
sua eternidade e imutabilidade (Jo 8.58; Hb 13.8). Dispensou seu direito de realizar sua
vontade como rei (Ap 17.14) e agiu indiretamente por meio da oração a Deus Pai (Jo
11.42). Ele foi para a cruz intencionalmente, mesmo diante de tanto opróbrio e dor.
Sendo Deus, poderia livrar-se da cruz, mas não o fez. Morreu a nossa morte a fim de nos
libertar do pecado e nos dar vida plena. Embora Jesus tivesse o direito de usar a
prerrogativa de ser como Deus para agir preferiu submeter-se à morte na cruz para nos
salvar e nos reconciliar com o Pai (Fp 2.5-11).
O famoso teólogo John Owen (1616–1683) observou bem:

Pode-se dizer que há dois propósitos na morte de Cristo, um principal e um


secundário. O propósito principal da morte de Cristo era glorificar a Deus. Em
todas as coisas que faz, Deus pretende, primeiramente, demonstrar sua própria
glória. Todas as coisas existem principalmente a fim de glorificar a Deus para
sempre (Ef 1.12; Filipenses 2.11; Romanos 11.36). Mas a morte de Cristo tem
também um propósito secundário, ou seja, salvar homens e mulheres de seus
pecados e levá-los a Deus.[Nota 4]

John Stott comentou que “a cruz é a maior evidência pública do valor que Deus nos
dá”.[Nota 5] Mesmo havendo em nós rebeldia e escolhas erradas, ainda assim, Deus enviou
seu filho Jesus que decidiu sofrer e morrer, colocando-se como sendo o pagamento que
compra a nossa liberdade e direito de voltar à presença do Pai.
O sacrifício de Jesus anula os efeitos da desobediência na vida daqueles que se rendem a
ele. Como disse Stephen Charnock:

Consideremos atentamente o Cristo crucificado, o remédio para todas as nossas


desgraças. Sua cruz assegurou uma coroa, sua paixão fez expiação por nossa
transgressão. Sua morte tirou o poder da lei, seu sangue lavou a alma do crente. Sua
morte é a destruição de nossos inimigos, a fonte de nossa felicidade e o testemunho
eterno do amor divino.[Nota 6]

Se em Adão somos tratados como pecadores, em Cristo somos tratados como justos.
Lembrando que o intento da crucificação de Cristo é atemporal e universal, e todos
aqueles, em qualquer época e lugar, podem alcançar o perdão de seus pecados, morrendo
com Cristo na cruz, mas vivendo de forma gloriosa com ele (Rm 6. 4-11).

Loucos, porém, poderosos


Algumas lembranças da minha infância são realmente valiosas. Entre elas, uma em que os
meus pais cantaram juntos em um culto da pequena congregação em Brasília, que eles
pastoreavam. Eles pediram aos presentes para abrirem seus hinários Harpa Cristã no hino
de número 291, e todos juntos cantaram a canção:

Rude cruz se erigiu


Dela o dia fugiu
Como emblema de vergonha e dor
Mas contemplo essa cruz
Porque nela Jesus
Deu a vida por mim, pecador.

Sim, eu amo a mensagem da cruz


‘Té morrer eu a vou proclamar
Levarei eu também minha cruz
‘Té por uma coroa trocar.

O modo simples, porém fervoroso em que todos cantaram gerou uma resposta doce e
ao mesmo tempo poderosa, vinda dos céus. A graça de Cristo era intensa, parecia que
podíamos tocá-lo. Não havia bons equipamentos de som e nem sequer um violão para
acompanhá-los, mas isso não era empecilho. As vozes não se casavam muito bem, uns
desafinados, outros chorosos, mas sem dúvidas, o som que podia ser ouvido naquela
pequena comunidade saía de seu coração.
Confesso que fui entender a profundidade da letra dessa canção alguns anos mais tarde,
quando busquei compreender melhor o significado da cruz para a vida cristã. Hoje
entendo a razão que levava aqueles simples irmãos que congregavam naquela pequena
comunidade a cantar esta canção de uma forma tão grata e apaixonante. Hoje me
emociono sempre que ouço ou canto essa canção, não apenas pela melodia, mas pelas
verdades contidas em sua letra.
Tento imaginar o coração do evangelista George Bernnard, quando compôs essa canção
intitulada por ele como Old Rugged Cross, em 1913, na cidade de Albion, Michigan.
Conta-se que, em meio a duras provações, ele refletiu sobre o significado da cruz. Ele se
convenceu de que “a cruz era muito mais do que um símbolo religioso, era o coração do
evangelho”.[Nota 7]
De fato, não há evangelho sem a obra de Cristo na cruz. Qualquer mensagem que não
inclua os seus efeitos não é a mensagem que Cristo deixou que levássemos adiante. A
mensagem da cruz não é uma opção, dentre várias outras, mas a única. Não existe outra
base para a nossa vida a não ser a realidade que foi gerada a partir da obra da cruz, como
comentou Bonhoeffer:

É pela cruz, só pela cruz, que Cristo chega à vida, à ressurreição, à vitória? Esse é
justamente o tema maravilhoso da Bíblia que assusta a tantos: que o único sinal
visível de Deus no mundo seja a cruz. Cristo não é arrebatado gloriosamente da
terra para o céu, seu destino é a cruz. E precisamente lá onde está a cruz, está
próxima a ressurreição. Onde todos ficam desconcertados diante de Deus, onde
todos se desesperam com Deus, é exatamente lá que Deus está bem perto e Cristo
está vivamente presente. Onde a decisão entre a fidelidade e a deslealdade está por
um fio, está Deus e está Cristo por inteiro. Onde o poder das trevas quer violentar a
luz de Deus, é lá que Deus triunfa e julga as trevas.[Nota 8]

Já John Stott explicou que:

Primeiro, a cruz é o fundamento de nossa justificação. Cristo nos resgatou do


presente mundo perverso (1.4) e nos redimiu da maldição da lei (3.13). E o motivo
pelo qual ele nos livrou desse cativeiro duplo é que possamos nos apresentar
audazmente na presença de Deus como filhos e filhas, sermos declarados justos e
recebermos a habitação do seu Espírito.

Segundo, a cruz é o meio de nossa santificação. É aqui que entram as outras três
crucificações. Fomos crucificados com Cristo (2.20). Crucificamos a nossa natureza
caída (5.24). E o mundo está crucificado para nós, como nós estamos para o mundo
(6.14). De modo que a cruz é mais que a crucificação de Jesus; inclui a nossa
crucificação, a crucificação da nossa carne e a crucificação do mundo.

Terceiro, a cruz é o assunto de nosso testemunho. Devemos apresentar um cartaz do


Cristo crucificado ante os olhos do povo, de modo que vejam e creiam (3.1). Ao
fazermos isso, não devemos expurgar o evangelho, extraindo dele seu escândalo ao
orgulho humano. Não, qualquer que seja o preço, preguemos a cruz (o mérito de
Cristo), não a circuncisão (o mérito do homem); é o único modo de salvação (5.11;
6.12).

Quarto, a cruz é o objeto de nossa glória. Que Deus nos livre de gloriarmos em algo
mais (6.14). Todo o mundo de Paulo girava em torno da cruz. Ela enchia a sua
visão, iluminava a sua vida, aquecia o seu espírito. Ele se “gloriava” nela.
Significava mais para ele do que qualquer outra coisa. Devíamos ter a mesma
perspectiva.[Nota 9]

Não há como ter intimidade com Deus sem antes compreender o significado da obra
que Cristo realizou na cruz e assimilar essa verdade de forma prática. Por isso, o pastor e
teólogo Erwin W. Lutzer comentou que “só a cruz, corretamente compreendida, pode nos
levar à casa do Pai”.[Nota 10] Já o missionário americano do século 19. George Dana
Boardman disse: “A cruz é a única escada alta o suficiente para tocar o limiar do céu”.
Em 2013, Billy Graham deixou uma poderosa mensagem a milhões de pessoas nos
Estados Unidos por meio da Campanha My Hope America (Minha Esperança América).
Nela, o doutor Graham disse que “a cruz é ofensiva porque confronta diretamente o mal
que domina grande parte deste mundo...Uma razão por que a cruz é uma ofensa às
pessoas é porque ela requer, não sugere, mas requer um novo estilo de vida em todos
nós”.[Nota 11]
Com essas palavras, Billy Graham resumiu bem o que o apóstolo Paulo desejou
transmitir quando disse: “Porque a palavra da cruz é loucura...” (1Co 1.18). A mensagem
da cruz se torna uma loucura, porque ela vai na mão contrária das tendências deste
mundo e da natureza humana.
Observe que no versículo de 1Coríntios 1.18, o apóstolo Paulo separou as pessoas em
dois grupos. O primeiro é formado por aqueles que “perecem”, e o outro grupo refere-se
aos salvos. Os que fazem parte do primeiro grupo são pessoas incrédulas, que não
compreendem como um homem judeu transferiu para si a dívida do pecado de toda a
humanidade, entregando-se em uma cruz para levá-los à salvação. Para os que perecem
isso seria uma tolice. No entanto, Paulo contrasta esse tipo de pensamento com o
pensamento daqueles que são salvos, os cristãos. De forma taxativa, Paulo escreveu:
“Para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”.
Todos os seres humanos se enquadram em um desses grupos: “aqueles que estão
perecendo” e “aqueles que estão sendo salvos”. Não há outra categoria. Quando se rejeita
a palavra da cruz, a consequência é a aproximação da morte. Por outro lado, “os que
estão sendo salvos” são regenerados por Deus e seus corações estão abertos à palavra da
cruz.
A razão de Paulo utilizar a expressão “loucura para os que perecem” era porque a
crucificação sempre foi considerada um ato horrível e a cruz representava uma morte
vergonhosa. De fato, a cruz romana foi instrumento inventado pelos persas e mais tarde
adotado pelos romanos para punir os erros contra o governo da época. Normalmente, os
que eram condena-dos à cruz tinham que usar um cartaz definindo seu crime em volta do
pescoço. Após a crucificação, o cartaz era pregado na cruz. O governo romano queria que
todos estivessem cientes da parte culpada, do crime que cometeu e das consequências de
tal irregularidade. E assim a mensagem da cruz passou a ser loucura para aqueles que
estão perecendo.
Contudo, para nós, os salvos, a cruz possui uma perspectiva completamente oposta, por
isso que ela é o poder de Deus.
Existe poder maior do que esse? A morte de Jesus na cruz prova o amor de Deus por
nós e é o caminho que nos conduz de volta para ele. Tamanha expressão não pode ser
compreendida por aqueles que andam em escuridão espiritual, por isso que, para o
mundo, isto é loucura.

Livre acesso ao Pai


Ao entregar sua vida, Jesus estava dizendo a todos os que creem: “Eu abri a porta do Céu
para que vocês se acheguem até ao Pai. Vocês agora são aceitos simplesmente por estarem
em mim pela fé, portanto, entrem com intrepidez ao trono do Pai. O acesso a ele é
irrestrito, dia e noite podem desfrutar da sua presença, e isto está garantido em mim. O
meu Pai é agora o Pai de todos vocês”.
Na carta aos Efésios, Paulo confirma que em Cristo “temos acesso ao Pai em um
mesmo Espírito”. E acrescenta: “assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas
concidadãos dos santos, e da família de Deus” (Ef 2.18-10).
Esta é a razão pela qual oramos a Deus em nome de Jesus. Deus ouve as nossas orações
por causa de Cristo. Dizer “em nome de Jesus” no final das orações, não é apenas uma
conclusão formal da oração, nem é uma fórmula mágica que garante a resposta, mas
significa reconhecer nossa absoluta dependência de Jesus, o mediador, para nos tornar
aptos a chegar a Deus como filhos, e apresentar as nossas necessidades. Portanto, oramos
em nome de Jesus porque reconhecemos que, por nossa conta, não temos o direito de
comparecer diante de Deus.
O apóstolo Paulo escreveu:

Segundo o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor, por
intermédio de quem temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele.
EFÉSIOS 3.11-12
O apóstolo João reafirma:

Deus enviou um homem chamado João para falar a respeito da luz, a fim de que,
por meio de seu testemunho, todos cressem. Ele não era a luz, mas veio para falar da
luz. Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo.
Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. Veio a seu próprio
povo, e eles o rejeitaram. Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o
direito de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram segundo a ordem natural,
nem como resultado da paixão ou da vontade humana, mas nasceram de Deus.
JOÃO 1.6-13

Este é o maior de todos os privilégios concedidos à humanidade: o direito, a ousadia e a


liberdade de estar diante do Deus altíssimo a qualquer momento, e ainda, como filhos. O
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), removeu a culpa de todos os
que creram em sua obra redentora (Jo 3.16) , e por meio disso, os autorizou a se
apropriarem da posição e da herança dos filhos do Deus criador.
O direito de ter livre acesso ao Pai, em Cristo, alcança a sua plenitude aqui na terra por
meio da oração. Isso significa que orar é desfrutar dos efeitos da obra de Jesus realizada
na cruz, e usufruir o livre acesso a Deus.
Por outro lado, quando se deixa de orar, se deixa de desfrutar desse livre acesso ao Pai,
e, inconscientemente, fortalece-se os planos do diabo em afastar o homem de Deus.
Portanto, querido irmão, a oração nos coloca na posição de filhos amados que se
relacionam com o Pai celestial. É o símbolo da liberdade que há no pleno relacionamento
de pai e filho, como bem observaram os irmãos Kendrick, ao escreverem que “a oração
permite que os filhos de Deus interajam com o pai celestial da mesma forma como filhas e
filhos queridos se dirigem aos pais terrenos (Mt 7. 9-11)”.[Nota 12] A oração nos permite
ter este tipo de relacionamento com Deus. Não apenas baseado em nossas necessidades,
mas, sobretudo, na plenitude dos cuidados do bom e perfeito Pai celestial.
Pense comigo sobre o privilégio: a oração sempre foi uma ação poderosa em todas as
épocas. No Antigo Testamento, vemos o agir de Deus em resposta ao clamor de muitos.
Foi assim na era patriarcal, com homens como Sete, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e
Jó.[Nota 13] Na era monárquica, com Saul, Davi, Samuel, Salomão, Asa, Josafá e Ezequias.
[Nota 14] E na era profética, com Elias, Eliseu, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, e com os

profetas posteriores.[Nota 15], [Nota 16] A diferença é que, nestes períodos, Deus tratava os
que oravam como sendo seu povo. Hoje, por causa de Cristo, Deus olha para os que oram
como sendo seus filhos.
Esta é a essência da oração: a comunhão relacional com nosso Pai celestial. Um dos
pastores e escritores cristãos mais influentes nos últimos dois séculos, Andrew Murray
(1828– 1917), escreveu sobre isso:

A primeira coisa no quarto de oração é: eu preciso encontrar meu Pai. A luz que
brilha no quarto deve ser: a luz do semblante do Pai. O ar fresco do céu com o qual
Jesus o encherá e a atmosfera pela qual vou respirar e orar são: o amor de Deus Pai
e sua infinita paternidade. Assim, cada pensamento ou petição que emitirmos serão
simples, sinceros, de uma confiança infantil no pai. É assim que o Mestre nos ensina
a orar: ele nos introduz na presença viva do Pai.[Nota 17]

Por isso que esse ato não é um mero ritual religioso, mas da expressão mais íntima e do
ponto mais elevado da vida cristã, pois ela oportuniza a união com Deus em qualquer
tempo e a revelação de todos os seus cuidados paternos.
Deus quer que oremos porque só assim poderemos sentir seus atributos de Pai. O
Senhor nos convoca à oração porque esta é a forma de ele dizer: “Estou aqui, conte
contigo, eu sou o seu Pai!”
Concordo com as colocações do escritor Paul Miller, quando comentou:

“Pai nosso”: é assim que começa a oração ensinada por Jesus. Você é o centro da
afeição do Pai Celeste. É nessa afeição que você encontra descanso para a sua alma.
Se afastarmos a oração do coração acolhedor de Deus (como fazem muitos ensinos
sobre o Pai Nosso), ela se tornará uma tarefa legalista. Cumprimos nossa
responsabilidade, porém não tocamos o coração de Deus. Quando vamos a ele
“cansados e sobrecarregados”, encontramos o coração do Pai; o céu alcança a terra
e é feita a vontade de Deus.[Nota 18]

Conclusão
A busca pelo relacionamento genuíno e sincero com Deus Pai por meio da oração é a
nossa resposta a tudo aquilo que Cristo, o mediador da cruz, realizou em nosso favor no
Calvário. Deixar de orar é o mesmo que desprezar a cruz.[Nota 19]
Portanto, o privilégio de orar é um dos mais preciosos prêmios que Cristo concedeu à
toda igreja. É o troféu para aqueles que compreenderam e receberam o triunfo do
Salvador na cruz do Calvário. É a virtude vigorosa daqueles que são discípulos de Jesus.
Notas do Capítulo

Nota 1 - PIERATT, Alan. B. Oração: Uma nova visão para uma antiga oração. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 67.
[Voltar]
Nota 2 - TOZER, A. W. O propósito do homem. Belo Horizonte: Motivar, 2009, p. 22-23. [Voltar]
Nota 3 - RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida Nova,
2007, p. 459. [Voltar]
Nota 4 - OWEN, John. Por Quem Cristo Morreu? São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2011, p. 32-33.
[Voltar]
Nota 5 - STOTT, John. Ouça o Espírito, ouça o mundo. São Paulo: ABU, 2005, p. 102. [Voltar]
Nota 6 - BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana: doutrina para a vida. São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 519.
[Voltar]
Nota 7 - WYRTZEN, Donald John, in: OSBECK, Kenneth W., 101 More Hymn Stories. Grand Rapids: Kregel
Publications, 1985, p. 317. [Voltar]
Nota 8 - BONHOEFFER, Dietrich. Reflexões Sobre a Bíblia. São Paulo: Loyola, 2008, p. 28. [Voltar]
Nota 9 - STOTT. John. A cruz de Cristo, São Paulo: Vida, 2006, p. 158. [Voltar]
Nota 10 - LUTZER, Erwin. Quem é Você Para Julgar? Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 83. [Voltar]
Nota 11 - Foi uma iniciativa evangelística promovida pela Associação Billy Graham, visando incentivar e equipar igrejas
locais com o fim de proclamar o evangelho de Jesus Cristo. Neste projeto, cada cristão poderia compartilhar
a mensagem do evangelho com amigos, familiares, colegas e vizinhos por meio de programas de vídeos que
apresentam testemunhos e mensagens acerca de Jesus e tudo que ele fez por amor. [Voltar]
Nota 12 - KENDRICK, Stephen & Alex. O plano de batalha para oração. Niterói: BV Books, 2018, p. 21. [Voltar]
Nota 13 - Gn 4.26; Gn 6.9-13; Gn 7; Gn 13.4; Gn 18.23-33; Gn 25.21; Gn 28.20-22; Êx 14.13-15; Êx 32.10-14; Jó
40.3-5; Jó 42.1-6. [Voltar]
Nota 14 - 1Sm 14.35-37; 1Sm 23.2; 1Sm 4-10-12; 2Sm 7.18-22; 2Sm 12.16; 2Sm 22.1; 2Sm 24.17; 1Cr 21.26; 2Cr
14.11; 2Cr 20.3-13; 1Rs 3.5-9; 1Rs 8.22-53; 2Rs 19.15-19; Is 36 e 39. [Voltar]
Nota 15 - 1Rs 17.20-22; 2Rs 4.32-35; Is 6.5-11; Is 25.1-9; Is 26.3; Is 26.7-9; Jr 1.1-8; Jr 3.22; Jr 3.33; Jr 12.1-4; Lm
1.20-22; Ez 4.14; Ez 9.8; Ez 20; Ez 49; Dn 2.17-18; Dn 9.4-10, Dn 9.4-13, Dn 9.4-16, Dn 9.4-18, Dn 9.4-
19. [Voltar]
Nota 16 - Jl 1.19-20; Am 7.5; Jn 2.2-9; Hc 1.2-4. [Voltar]
Nota 17 - MURRAY, Andrew. Com Cristo na escola da oração. Curitiba: Publicações Pão Diário, Curitiba: Editor dos
Clássicos, 2012, p. 34-35. [Voltar]
Nota 18 - MILLER, Paul. O poder de uma vida de oração, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 37. [Voltar]
Nota 19 - WIERSBE, Warren. Comentário Bíblico Expositivo do Novo Testamento. São Paulo: Geográfica Editora,
2006, p. 281. [Voltar]
2
Alinhamento
e graça

A aproximação com o Senhor é a maior e mais importante prerrogativa da oração.


Como trabalhei no capítulo anterior, oração para o cristão se trata do meio pelo qual
Deus, por iniciativa própria, proveu para que todo aquele que foi lavado e remido pelo
sangue precioso de Cristo, o grande Sumo Sacerdote possa se aproximar ousadamente do
seu trono de graça e desfrutar do seu favor, conforme está escrito:

Tendo, pois, Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que adentrou os
céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que
não possa se compadecer das nossas fraquezas; pelo contrário, ele foi tentado em
todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Portanto, aproximemo-nos do
trono da graça com confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos
graça para ajuda em momento oportuno.
HEBREUS 4.14-16

O autor de Hebreus acrescentou ainda:

Portanto, meus irmãos, tendo ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de
Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, pela sua
carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos com um
coração sincero, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má
consciência e o corpo lavado com água pura.
HEBREUS 10.19-22

Estar continuamente diante de Deus com liberdade é o maior privilégio que um homem
pode encontrar enquanto caminha por este mundo. Aqueles que descobriram o caminho a
Deus pela obra da cruz e pela prática da oração, descobriram o sentido da vida e o
segredo da paz.
O salmista Davi desejou viver isso descomedidamente: “Ó Deus, tu és o meu Deus, eu
te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa
terra seca, exausta e sem água. Quero contemplar-te no santuário e avistar o teu poder e a
tua glória” (Sl 63.1-2). E assim como o salmista, devemos desejar de forma extrema a
aproximação com Deus, uma vez que as portas do seu Santuário foram abertas pelo nosso
Senhor e Salvador Jesus.
Orar continuamente
Indubitavelmente, uma das mais valiosas orientações que o apóstolo Paulo deixou em
suas cartas foi: “Orem continuamente” (1Ts 5.17). Obedecer a esta orientação permite
que cada crente viva pelo menos seis realidades:
1º: uma vida de dependência total de Deus. Orar continuamente significa manter-se
dependente do Senhor e incluí-lo em cada situação da vida. Creio que Deus não deseja
participar somente de alguns momentos dos seus filhos, mas sua vontade é de estar
presente e participar ativamente de cada situação, ajudando, direcionando e se movendo.
Depender de Deus é fazer o que for necessário para mantê-lo por perto o tempo todo;
2º: manter-se espiritualmente ativo. Por que isso é necessário? Bom, antes de tudo, é
importante lembrar que está escrito que “o homem natural não compreende as coisas do
Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo...” (1Co 2.14-15).
Manter-se espiritual é manter-se capaz de discernir as movimentações do Espírito Santo.
A outra razão é que um cristão lida com a realidade espiritual, e isso significa que existe
uma interação com o invisível, que só pode ser acessado por meio da fé e vivido por meio
da oração. Enquanto a fé oferece a certeza daquilo que não se vê (Hb 11.1), a oração traz
a realidade. Nesta perspectiva, a terra e suas limitações deixam de ser a sua linha de
chegada e os recursos espirituais passam a estar disponíveis;
3º: jamais abandonar a prática da oração. Aos Romanos, Paulo escreveu: “Alegrai-vos
na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração” (Rm 12.12); e aos
Colossenses fez a mesma exortação: “perseverai na oração” (Cl 4.2). Orar continuamente
é ser perseverante nessa prática.
Na oração o fraco se torna forte e o humilde é exaltado. O medo desaparece e, no
lugar, a coragem se estabelece. A insuficiência do homem é suprida pela suficiência de
Deus, e a vida árida passa a ser um campo fértil. Deus envia suas torrentes divinas à terra
seca, mudando sua realidade. A desesperança é aniquilada e a esperança é firmada com
raízes profundas nos cuidados paternos do Pai celestial. A alma vazia é preenchida pela
presença do Espírito Santo. Pela oração, Deus desfaz o colapso e coloca todas as coisas
em ordem. Quando o homem esgota seus recursos, reconhece sua falência e clama pelo
socorro divino, Deus, em resposta, restaura a sua sorte. Quando um servo, que se sente
solitário, recorre a Deus, O Senhor o levanta como um exército poderoso. A oração
aquece o cristão em tempos de frieza, coloca-o de pé em tempos de dificuldades, em
marcha em tempos de cansaço, em progresso em tempos de estagnação e em santidade em
tempos de corrupção.
4º: a convicção de que Deus faz questão que saibamos que ele está disponível em
qualquer hora e em qualquer lugar para nos ouvir. O acesso a Deus pela oração é
irrestrito. É livre para todo aquele que deseja buscá-lo. O Senhor nunca estará ausente do
campo da oração. Nunca haverá uma conexão ruim ou um mau momento. Jamais haverá
um sinal de ocupado ou em espera, conforme está escrito:

Então vocês me invocarão, se aproximarão de mim em oração, e eu os ouvirei.


Vocês me buscarão e me acharão quando me buscarem de todo o coração.
JEREMIAS 29.12-13.

Cheguem perto de Deus, e ele se chegará a vocês...


TIAGO 4.8

Essa aproximação com o Senhor não é um ato físico, mas uma ação invisível do
coração, e podemos fazê-lo em qualquer momento, seja dirigindo, seja caminhando,
parado ou em movimento, deitado ou em pé, na rua ou em casa. Enfim, não existem
lugares ou momentos específicos; podemos entrar no Santuário de Deus e nos aproximar
dele a qualquer hora por meio da oração.
5º: possibilita o alinhamento com a vontade de Deus e a manifestação a seu favor. A
oração constante conduz o cristão com liberdade até o Senhor e, ao mesmo tempo, traz o
seu agir ao cristão. É um canal eficiente para um crescente relacionamento com o Criador
do Universo, bem como para conhecer o seu poder e vontade, e experimentar sua graça
dia após dia.
6º: permite expressar o amor que se tem por Deus. A vida de oração contínua revela o
amor que se tem por Deus, pois quem realmente ama, quer estar constantemente perto.
Portanto, quem ama a Deus ama a prática da oração, pois este é o meio de tê-lo sempre
por perto e reafirmar o amor que sente por ele.
Mas a oração também revela o amor que Deus tem por nós. Está escrito: “Eu amo os
que me amam” (Pv 8.17). Assim como os pais que querem ouvir seus filhos porque os
amam, Deus quer ouvir seus filhos pela mesma razão, porque ele os ama.
Portanto, essas seis verdades revelam o quanto é preciosa a orientação do apóstolo
Paulo. Seguir seu conselho e orar continuamente sugerem o abandono do conceito errado
de que a prática da oração é algo estritamente ligado a momentos específicos, e a
estabelece como sendo um estilo de vida. Ou seja, formar a ideia de que a oração não tem
a ver com o entrar na presença de Deus, mas de viver na presença de Deus.

Por que não oramos mais?


Gosto do conceito oferecido no Dicionário da Bíblia de Almeida acerca da oração:

Uma aproximação da pessoa a Deus por meio de palavras ou de pensamento, em


particular ou em público. Inclui confissão (Sl 51), adoração (Sl 95.6-9; Ap 11.17),
comunhão (Sl 103.1-8), gratidão (1Tm 2.1), petição pessoal (2Co 12.8) e intercessão
pelos outros (Rm 10.1). Para ser atendida, a oração requer purificação (Sl 66.18), fé
(Hb 11.6), vida em união com Cristo (Jo 15.7), submissão à vontade de Deus (1Jo
5.14-15; Mc 14.32-36), direção do Espírito Santo (Jd 20), espírito de perdão (Mt
6.12) e relacionamento correto com as pessoas (1Pe 3.7).[Nota 1]

Pensando neste conceito e meditando em temas ligados à oração, seus efeitos ao longo
da história dos avivamentos dos trabalhos missionários, sua importância no crescimento
espiritual e numérico de igrejas locais, seus impactos em pessoas que possuíam a oração
como sendo um estilo de vida, questiono: por que não oramos mais?
Infelizmente, a oração ainda tem sido um recurso pouco explorado. Apesar de ser um
dos temas mais publicados pelas editoras e mais falados na igreja, é também, ao mesmo
tempo, o menos praticado entre a maioria dos cristãos.
Às vezes, imagino que Deus nos observa e diz: “Eu tenho tanto para fazer, por que não
oram mais? Não fiquem contentes e satisfeitos com o que já possuem, sabendo que sou
um Deus ilimitado. Vocês poderiam viver muito mais caso se dedicassem, se passassem
mais tempo comigo em oração”.
Mesmo sabendo que Deus ouve orações, mesmo sabendo que ele quer que oremos, e até
que devemos orar, ainda assim, muitos não priorizam a oração. Qual é a razão disto?
Sinceramente, não sei. Talvez seja o ativismo ou talvez seja uma série de experiências
dolorosas que fazem surgir desânimos e desmotivações. Talvez seja uma teologia ruim ou
algum mal-entendido doutrinário. Talvez seja o orgulho ou a culpa. Talvez seja uma
combinação dessas coisas. Mas algo continuamente atrapalha a vida de oração de muitos.
Uma das minhas desculpas era a questão do tempo, no entanto, eu parei para pensar;
uma semana tem 168 horas. A carga horária normal de trabalho no Brasil é de 40 horas.
A média de horas de sono e intervalos para refeições somam aproximadamente 77 horas,
sobrando então 51 horas na semana. O brasileiro que vive em uma grande cidade gasta
em média de 1 hora e 20 minutos a 2 horas 07 minutos para se deslocar (ida e volta) para
as atividades principais do dia, isso de segunda a sexta-feira. Subtraindo da média mais
alta, daria cerca de 11 horas, restando então 40 horas. Se tirarmos apenas uma hora por
dia de oração, ainda sobrarão 33 horas na semana para as outras atividades, sobretudo
com a família. Se fizermos esses cálculos baseados em 24 horas, de segunda a sexta-feira,
restarão 3 horas por dia livres. Então, refleti: o problema era realmente a falta de tempo
ou estava priorizando outras coisas?

Os perigos de uma vida sem oração


O pouco ou a falta de contato com o sobrenatural por meio da oração gera uma realidade
perigosa: crentes inseguros, instáveis e incompletos. A vida cristã se torna árida, os
púlpitos se reduzem a palcos e as igrejas a estruturas. O agir divino se detém e os crentes
se limitam às suas próprias forças. O ministério se torna um fardo pesado e a paixão pela
missão da igreja se enfraquece. A fé se torna triste e os cristãos, dependentes de homens
falíveis, limitados e passageiros.
Essa é uma das razões por que muitos se encontram cansados e desanimados em nossas
congregações. Há mais de dois séculos, Charles Spurgeon disse que “alguns cristãos
navegam em águas espirituais tão baixas, que a quilha do barco arrasta no fundo durante
seu trajeto para o céu, em vez de serem conduzidos por uma maré cheia”.[Nota 2] Esta
colocação mostra uma realidade de muitos cristãos que vivem de forma rasa, e de líderes
que parecem ser arrastados pelas obrigações do ministério.
Também é um tanto comum ouvir pessoas dizendo, após tentarem resolver as
dificuldades de suas próprias maneiras e fracassarem: “Ah, agora só oração!” Como se se
orar fosse a última opção. Já outros fazem da oração algo parecido com uma caixa de
segurança em que, no alto, está escrita a frase “Quebre e aperte o botão em caso de
emergência”, pois parece que a oração só serve como um aparelho de socorro ou de fuga
de uma situação de perigo iminente.
Muito embora a oração seja de fato o meio de recebermos a ajuda de Deus em qualquer
hora e situação, conforme está escrito: “Invoque-me no dia da angústia; eu o livrarei, e
você me glorificará” (Sl 50.15), para o crente em Jesus, deve ser muito mais que um
aparato de emergência. Precisa ser encarada e vivida como um presente divino que Cristo
concedeu além da salvação e o ponto o ponto de partida de todas as ações, sabendo que,
na oração, o Criador interage com a criatura, respondendo e falando ao seu espírito.
Costumo dizer que oração não é um cardápio de pedidos, mas é uma ferramenta de
alinhamento com Deus em que a sua vontade se estabelece na vida de quem ora, assim
como também a sua graça. Como bem colocou Leonard Ravenhill: “Se ao orar nos
limitarmos a apresentar uma lista de pedidos diante do Rei do universo, estamo-nos
restringindo à menor de todas as facetas dessa prática tão complexa”.[Nota 3]
Orar não é só a chave da despensa de Deus, mas também um convite para se sentar à
sua mesa. Ao contrário do que muitos pensam, não é como uma audiência com uma
autoridade política em seu gabinete, mas se trata de uma conversa entre pai e filho na sala
de sua casa. Na oração, o servo é chamado de filho.
E ainda, a oração é a afirmação de confiança no Senhor e na sua vontade. Por outro
lado, a falta de comprometimento com a oração revela a falta de confiança em Deus.

A bênção da oração
Ah! Se entendêssemos a relevância da definição que o doutor Martyn Lloyd-Jones
apresentou: “Oração verdadeira significa agarrar-se a Deus e não deixá-lo ir”.[Nota 4] Ah!
Se orássemos mais, se buscássemos mais a Deus. Viveríamos com mais confiança,
sofreríamos menos, passaríamos pelas tempestades da vida de cabeça erguida. Temos
perdido muito por não orarmos com intensidade.
Em 1998 eu conheci o doutor Larry Lea, que na época era mundialmente conhecido
como um pregador de temas ligados à oração. Participei da sua conferência, e os seus
ensinamentos e testemunhos sobre os efeitos da oração, quando praticada de uma forma
habitual, foram edificantes. Em seu livro Nem uma hora?, ele escreveu algo que
compartilho sem receios:

A oração vai operando uma obra sobrenatural em nós, permeando cada aspecto de
nossa vida, dando-lhe uma nova configuração. Sentimos o coração impregnado da
presença de Deus e das suas promessas. Descobrimos as prioridades dele para nossa
vida, aprendemos a observá-las e a alinhar com elas nossas petições; aprendemos a
nos apropriar das provisões de Deus para nossas necessidades. Começamos a gozar
maior alegria e senso de realização em nosso relacionamento com os outros, e isso
coloca nossa vida numa dimensão inteiramente nova.[Nota 5]

De fato, a oração oferece uma nova configuração de vida e nos permite ser aquilo que
Deus deseja, para então agir em sua obra da forma que ele determinou.
É impossível falar sobre tudo que a oração pode proporcionar, pois ela é dirigida ao
Deus que tudo pode. Não há um ponto final. Não existem limites. Na oração tudo pode
acontecer, inclusive aquilo que não podemos explicar ou entender. A oração pode gerar
tudo que Deus deseja gerar.
Mas ainda quero que reflita comigo sobre duas importantes realidades que a oração
proporciona:
Primeiro, ela faz com que Deus e o homem trabalhem juntos. D. L. Moody, que foi um
homem poderosamente usado pelo Senhor, compartilhou que “na origem de cada grande
movimento de Deus, encontramos uma figura ajoelhada”.[Nota 6] O Todo-Poderoso
estabeleceu a oração como parte de seu plano para realizar sua vontade neste mundo; ele
decidiu agir por meio das orações do seu povo.
A Deus pertence todo o poder, e a oração da igreja é o meio pelo qual este poder se
manifesta neste mundo. Sendo assim, a oração é o fator determinante da ação divina. Se
não orarmos, o Senhor nada fará. Não que ele precise de nós, mas porque ele mesmo
estabeleceu que fosse desta maneira. Na verdade, eu entendo como sendo um ato de amor
e bondade de Deus para conosco, pois ele deseja que façamos parte das suas ações e
milagres neste mundo. É como se ele estivesse dizendo: “Bata que eu abro, busque que vai
achar, peça que eu darei” (Mt 7.7-8; Lc 11.9-10).
Um dos autores na área da oração mais prestigiados na história da igreja moderna foi
Edward M. Bounds (1835–1913). Os ensinamentos compartilhados em seus livros são
referências de pesquisas sobre o tema nas principais instituições de ensino teológico no
mundo. Entre muitas lições importantes que Bounds expôs, uma em especial todos nós
precisamos assimilar e viver:

Deus, por seu próprio impulso, submeteu-se à lei da oração e obrigou-se a responder
às orações dos homens. Ele estabeleceu que a oração será o meio pelo qual agirá por
intermédio dos homens à medida que estes orem, o que ele não fará de outra forma.
A oração é um compromisso divino específico, uma ordenança do céu pela qual
Deus propôs realizar seus desígnios na terra, executar e tornar eficiente o plano da
salvação.

Quando dizemos que a oração põe Deus em ação, queremos dizer simplesmente que
o homem tem em seu poder, pela oração, a possibilidade de levar Deus a realizar sua
própria vontade entre os homens de uma forma que não agiria se não se fizessem
orações.[Nota 7]

O pastor e escritor Jack W. Hayford, em seu famoso livro Orar é invadir o impossível,
comentou que “a oração é, em essência, uma parceria do filho redimido de Deus
operando lado a lado com ele para a realização de seus propósitos redentores na terra”.
[Nota 8]
Essa é a razão pela qual as Escrituras dão tanta ênfase à prática da oração.[Nota 9] E
ainda nos ensina a orar de forma direcionada, por exemplo: uns pelos outros (Tg 5.16);
pelos líderes governamentais (1Tm 2.2); pelos incrédulos (1Tm 2.3-4); pelos irmãos
cristãos (Ef 6.18); pelos ministros do evangelho (Ef 6.19-20); pela igreja perseguida (Hb
133); pelo envio de novos obreiros (Lc 10.2); pelos inimigos (Lc 6.28); pelos ministérios
(2Ts 3.1); pelo amadurecimento e fortalecimento dos crentes (Cl 1.19-10); pelos enfermos
e atormentados (Tg 5.14-16); pelos que estão enredados pelo pecado (1Jo 5.16); enfim,
Deus decidiu agir neste mundo em resposta oração. Sendo assim, assim, ele conta com as
orações da sua igreja.
Essa afirmação não fere a soberania de Deus, pois ele mesmo determinou que fosse
assim. Ele estabeleceu que suas ações fossem em resposta às orações do seu povo. Ele
determinou que o seu trabalho neste mundo fosse em conjunto com os seus filhos.
Um dos mais proeminentes escritores cristãos da atualidade, Philip Yancey, em seu livro
Oração: ela faz alguma diferença? , escreveu:

Utilizando a oração, em vez de outro meio mais direto, Deus mais uma vez escolhe o
estilo que mais amplia a liberdade humana no mundo. Deus espera receber pedidos,
o que, de forma inescrutável, torna a atividade divina dependente de nós. Será que o
reino – ou a "vontade de Deus" – avança mais lentamente por causa dessa escolha?
Sim, da mesma forma que os pais diminuem o rit-mo de seus passos quando seu
bebê está aprendendo a caminhar. O objetivo deles é equipar outra pessoa, não a si
mesmos.[Nota 10]

Enquanto oramos, o Pai nos aperfeiçoa a fim de trabalhar-mos juntos em sua obra.
Foi por isso que Jesus, o santo Filho de Deus, quando esteve entre nós como homem,
teve a oração como base do seu estilo de vida.[Nota 11] Jesus não se permitiu viver neste
mundo sem estar em constante contato com Deus em oração. E mesmo depois de ter
subido ao céu, estando à direita de Deus, ele continua a orar, desta vez, por nós. Cristo
está sentado à direita de Deus e sussurra nossas orações no ouvido do Pai (Rm 8.34; Hb
7.25).
Yancey comentou:

Depois de fazer um levantamento da prática da oração de Jesus, percebo que seu


exemplo responde a uma pergunta crucial sobre a oração: ela é importante? Quando
as dúvidas se insinuam e eu me pergunto se a oração é uma forma santificada de
falar comigo mesmo, lembro-me de que o Filho de Deus, que havia criado tudo com
sua palavra e que sustenta tudo que existe, sentiu uma necessidade premente de
orar. Orou como se a oração fizesse diferença, como se o tempo dedicado à oração
tivesse exatamente a mesma importância do tempo dedicado a cuidar de pessoas.
Descartar a oração, concluindo que ela não tem importância, significa achar que
Jesus foi iludido.[Nota 12]

Já o pedido de oração do apóstolo Paulo aos Colossenses reafirma que, para se realizar
a obra de Deus, é necessário oração:

Continuem a orar, vigiando em oração com ação de graças. Ao mesmo tempo, orem
também por nós, para que Deus nos abra uma porta à palavra, a fim de falarmos do
mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado.

Orem para que eu torne esse mistério conhecido, como me cumpre fazer.
COLOSSENSES 4.2-4

No livro de Efésios vemos novamente Paulo pedindo oração para a eficácia do seu
ministério:

E orem também por mim, para que, no abrir da minha boca, me seja dada a
palavra, para com ousadia tornar conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou
embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me
cumpre fazer.
EFÉSIOS 6.19-20

Pense na colocação feita pelo doutor John Piper, um dos mais respeitados teólogos da
atualidade, sobre esse assunto em uma das suas pregações:

O próprio Deus, o Soberano do universo, ordenou que a oração causasse as coisas.


Tiago 4.2 diz: “Nada tendes, porque não pedis”. Isso significa que as coisas não vão
acontecer porque Deus determinou que elas aconteçam, pois o texto diz exatamente
o oposto. A oração faz as coisas acontecerem, e elas não acontecerão se você não
orar. Por isso, é um tremendo privilégio orar. E se você não participa com Deus para
mudar as coisas ao seu redor pela oração, então você é um grande tolo. É por isso
que oramos. Porque Deus compartilha conosco o reger do Universo.[Nota 13]

Já em seu livro Irmão, nós não somos profissionais, o doutor Piper esclareceu:

A oração é a combinação de causas primárias e causas secundárias. E representa a


junção do nosso frágil corpo condutor com um relâmpago celeste. É impressionante
o fato de Deus desejar realizar sua obra por intermédio do seu povo. E é ainda mais
impressionante saber que, para o cumprimento de seus planos, ele ordena que lhe
peçamos para realizá-los. Deus ama abençoar seu povo. E ama ainda quando seus
feitos são resposta de oração.[Nota 14]

O conceituado teólogo Millard J. Erickson afirmou que as Escrituras evidenciam que,


“em muitos casos, Deus opera em um tipo de parceria com os seres humanos. Deus não
age se os seres humanos não fazem sua parte”.[Nota 15] A oração é o meio de firmarmos
esta “parceria” com Deus, e só então as coisas erradas são consertadas, os enfermos são
curados, os presos no pecado são libertados e grandes manifestações vindas do céu são
liberadas.
Quando penso neste aspecto da oração, vejo o quanto os verdadeiros cristãos são
privilegiados. Deus faz questão de nos unir a ele, e, juntos, manifestar neste mundo a sua
bondade, amor, misericórdia e graça. A oração torna os cristãos participantes diretos das
ações de Deus neste mundo.
Segundo, abre as portas para uma ação incomum de Deus. Existe um forte clamor por
um avivamento em nosso tempo. No entanto, enquanto não houver um despertamento
para a prática da oração, o avivamento dificilmente virá, pois “a oração é um pré-
requisito absoluto para um avivamento”, afirmou o Dr. James W. Goll, fundador do
Ministério God Encounters.[Nota 16]
Vale frisar que a oração não somente precedeu avivamentos na história bíblica. Ela
também esteve no começo de todo grande reavivamento histórico da igreja. O Dr. J.
Edwin Orr (1912-1987), PhD pela Universidade de Oxford e renomado historiador na
área de avivamentos, respaldado por anos de profundas pesquisas voltadas para as ações
incomuns do Espírito Santo ao longo da história cristã, por diversas vezes deixou claro
que nunca houve um despertamento espiritual ou um avivamento que não tenha sido
precedido por muita oração.
O que Deus fez entre os anos 1949 e 1952, em um pequeno vilarejo de Barvas, em
resposta as orações das “frágeis” irmãs Peggy Smith, de 82 anos, que era quase cega, e
Christine Smith, de 84 anos, que possuía uma grave limitação física por conta de crises
provocadas pela artrite, além da idade já avançada, foi, de fato, impressionante. Elas
foram movidas por compaixão em relação à situação espiritual do vilarejo, e começaram
a orar intensamente pela transformação daquele lugar, crendo na promessa descrita em
Isaias 44.3, que diz: “Porque derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca”.
Elas oravam de dia e de noite, às vezes, na humilde casa onde moravam; outras vezes,
com muito esforço, faziam questão de ir de casa em casa e por todo o vilarejo conduzindo
momentos de oração com grande expectativa de que Deus cumpriria sua promessa. Eram
senhoras frágeis pela idade, mas poderosas pela oração.
Numa certa manhã de orações intensas, Peggy teve uma visão de igrejas lotadas e
centenas de pessoas vindo ao encontro de Deus.[Nota 17] Foi quando ela mandou um
recado ao pastor James Murray MacKay, falando que um avivamento estava para chegar.
Ele reuniu a liderança local da igreja e oraram intensamente por muitos meses. Foi nesse
período, durante um congresso, que o pastor MacKay recebeu uma sugestão de um
pregador para as reuniões de despertamento espiritual que ele gostaria de promover em
sua igreja. O nome sugerido foi do pastor escocês Duncan Campbell. Após o evento,
MacKay foi visitar as irmãs e, nessa visita, antes mesmo de ele comentar com elas a
sugestão do pregador, Peggy lhe disse que Deus lhe havia dado o nome do pregador que
deveria conduzir as reuniões no vilarejo. Seu nome: Duncan Campbell.
Com a chegada de Cambpell, as expectativas das irmãs Smith começaram a ser
superadas. O Espírito Santo se movia em cada reunião, diariamente. Multidões vinham de
longe em busca de Cristo. Novos cultos e reuniões de oração foram surgindo para atender
a multidão sedenta por Deus. Um avivamento tocou aquele lugar com grande poder. O
Dr. Wesley Duewel publicou:

Deus estava respondendo poderosamente às insistentes orações por um


reavivamento nas Hébridas. Nas primeiras vezes em que Duncan pregou em Barvas,
o povo de Deus orava durante horas, e às vezes por toda a noite. Então, o povo
constrangido pelo Espírito de Deus, afluía para a igreja. Uma vez lotada, enormes
multidões se reuniam ao redor dela. Um grande número de pessoas sentiu o
convencimento do pecado, e o reavivamento espalhou-se por toda as partes da ilha.

A surpreendente ação do Espírito Santo sempre corria. Os jovens, que até então não
se persuadiam a ir à igreja, vinham em grande número, convencidos do pecado. Eles
rompiam em lágrimas e se derramavam em oração diante de Deus. Os beberrões
mais inveterados também eram ganhos para Deus e se tornavam testemunhas do seu
poder.
Durante quatro semanas em Barvas, Duncan conduziu quatro cultos todas as noites:
às sete, às dez, à meia-noite e às três da manhã.[Nota 18]

Este grande despertar espiritual foi atribuído à dedicada prática de oração das irmãs
Smith e de outras pessoas que entenderam que, por meio da oração, a terra pode se
conectar ao céu.
Terceiro, a oração é um privilégio dos cidadãos do céu. Uma das pessoas que mais me
influenciaram diretamente foi o querido irmão Russell Shedd. Ele foi o meu grande
incentivador no ministério de escrever livros, além de um precioso conselheiro ministerial.
As viagens e as caminhadas matinais que fizemos algumas vezes juntos eram sempre
marcadas por maravilhosas reflexões bíblicas e, consequentemente, crescimento espiritual.
O interessante é que os temas que sempre vinham à tona em nossas conversas ao longo de
anos de amizade eram a oração e a vida eterna. Russell Shedd exalava grande paz e forte
empolgação ao falar sobre estes assuntos. O seu estilo de vida mostrava que ele não tinha
muito interesse nas provisórias realidades deste mundo. O encontro pleno com Deus era,
sem dúvida, o grande desejo da sua alma.
Sua ida ao lar eterno ocorreu na madrugada de 26 de novembro de 2016. Mas poucas
semanas antes, em um singelo vídeo (aliás, singeleza era sua grande característica), Shedd
compartilhou que o sofrimento que ele estava passando nos últimos meses era realmente
uma experiência muito boa, pois ele se sentia se desmamando do mundo e prestes a subir
para o lar eterno. Sua frase foi concluída com um “graças a Deus!” cheio de esperança.
Russell Shedd possuía uma clara e sólida consciência acerca da cidadania celestial que
os verdadeiros crentes em Jesus possuem. A vida eterna era uma realidade presente em sua
caminhada com Cristo, e isso o fazia ser um homem de oração.
Uma das mais sólidas convicções que temos na caminhada cristã é que, em Cristo,
recebemos a cidadania celestial. Esta cidadania não apenas nos torna habitantes legítimos
do céu e participantes do reino de Deus, mas também nos impõe um padrão de vida
baseado nos princípios e na santidade daquele que governa esse reino.
Paulo escreveu à igreja em Filipos que “a nossa pátria está nos céus, de onde também
aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). A palavra “pátria” refere-se a
uma comunidade onde se tem um estatuto oficial, e nela uma pessoa pode se registrar
como sua cidadã.
Os cristãos espalhados por todo o mundo têm em Cristo uma única e divina pátria. Este
conceito foi estabelecido por Cristo quando afirmou: “O meu reino não é deste
mundo”(Jo 18.36), e todos aqueles que entregaram suas vidas a ele receberam o direito de
viver como cidadãos deste reino.
A certeza dessa nova pátria gera no coração do cristão uma alegria que o mundo não
pode oferecer, como afirmou o estudioso e comentarista bíblico William Hendriksen: “O
lar divino é necessário, pois nada na terra pode nos satisfazer”.[Nota 19]
Já o especialista em Novo Testamento Donald Guthrie chama a atenção para outro
ponto, explicando que a palavra “pátria” (gr. patris) não se refere apenas a um lugar para
habitar, mas a uma pátria onde uma nação pode encontrar suas raízes.[Nota 20] Isso
significa que pertencer à pátria celestial equivale a encontrar raízes celestiais, compartilhar
de uma natureza santa e divina.
A oração é a prática mais relevante dos cidadãos do céu que estão nesta terra. É o
símbolo atenuante da cultura daqueles que pertencem ao reino de Deus. É a ação que
transcende nacionalidades e culturas terrenas e eleva o cristão ao ambiente celestial,
abrindo o caminho para que o reino de Deus venha a este mundo.
Lembro-me de uma das mais intensas reuniões de oração de que participei: foi em
Buenos Aires, Argentina, no ano de 2013 e, por cerca de três horas, alguns dos pastores
mais influentes daquele país permaneceram de joelhos, em choro e clamor ardente por
perdão e cura da nação. Talvez eu fosse o único brasileiro presente, mas o meu coração se
alinhou com os corações dos pastores ali reunidos e, naquele período, chorei e clamei pelo
país como se fosse a minha nação. Passei por situações semelhantes em outros países
como Suíça, Bélgica, Espanha e França. Em Portugal, por diversas madrugadas, eu ficava
horas e horas de joelhos ou em frente à janela do meu quarto, no sexto andar do prédio,
com as mãos direcionadas para as cidades do Barreiro e de Lisboa, orando pela salvação e
transformação daquele país. Em cada uma delas, era como se eu fosse um nativo daquela
nação e, de um modo que não sei explicar, eu conseguia sentir as dores e as necessidades
espirituais de cada país e isso me fazia clamar com fervor. Eu entendi que esse sentimento
nasceu porque eu sou cidadão do reino de Deus. A oração transpõe as barreiras nacionais
e une a igreja de Cristo espalhada em toda a terra em um só corpo.
Em outra ocasião, no ano de 2007, me envolvi como colaborador de mobilização na
Campanha Mundial de Oração no Brasil.[Nota 21] Vi, durante meu trabalho nesta
campanha, que a oração estava quebrando barreiras religiosas e denominacionais, unindo
cristãos reformados e pentecostais, de diferentes culturas e idiomas, com o único
propósito de ter a glória de Deus revelada com poder e graça aqui na terra. Vi os cristãos
de diferentes contextos unidos como uma só pátria, a celestial.

Conclusão
A oração é um presente divino porque nos possibilita vivenciar com intensidade realidades
espirituais que, de outra for-ma, não poderiam ser vividas. Concordo plenamente com as
palavras do prestigiado evangelista do início do século 20 Oswald Chambers, que disse:

[...] a oração não nos prepara para maiores obras; a oração é a maior obra.
Encaramos a oração como um exercício racional de nossas melhores habilidades,
com o objetivo de nos preparar-mos para o serviço de Deus. Segundo o ensino de
Jesus Cristo, a oração é a operação do milagre da redenção em mim, que produz em
outros o milagre da redenção, pelo poder de Deus.[Nota 22]

Lembrando que quem ouve as orações é aquele que tem todo o poder e domínio sobre
tudo que existe, conforme o salmista declarou: “O Senhor Altíssimo é tremendo, é o
grande rei de toda a terra” (Sl 47.2). A oração é um meio de graça que nos permite
encontrar esse grande Deus, conforme está escrito: “[...] os que me procuram me
encontram” (Pv 8.17). A partir de então, nada mais se torna impossível.
Notas do Capítulo

Nota 1 - DICIONÁRIO DA BÍBLIA DE ALMEIDA. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p. 120. [Voltar]
Nota 2 - BONNKE, Reinhard. Evangelismo por fogo. Curitiba: Cfan, 2003, p. 142. [Voltar]
Nota 3 - RAVENHILL, Leonard. Por que tarda o pleno Avivamento. Belo Horizonte: Betânia, 1989, p. 59. [Voltar]
Nota 4 - LLOYD-JONES, Martyn. Avivamento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, p. 308.
[Voltar]
Nota 5 - LEA, Larry. Nem uma hora? Belo Horizonte: Betânia, 1989, p. 2. [Voltar]
Nota 6 - MENDES, Paulo. Meus cem dias de oração. Campinas: Batista Independente, 2011, p. 12. [Voltar]
Nota 7 - BOUND, Edward M. A arma da oração. São Paulo: Vida, 2016, p. 21. [Voltar]
Nota 8 - HAYFORD, Jack W. Orar é invadir o impossível. São Paulo: Vida, 1984, p. 102. [Voltar]
Nota 9 - 1Ts 5.17; Ef 6.18; Fp 4.6; 1Pe 3.12; 1Pe 4.7; Tg 5.16; Mt 21.22; Jo 14.13-14; Mc 11.24; Sl 107.28-30.
[Voltar]
Nota 10 - YANCEY, Philip. Oração: ela faz alguma diferença? São Paulo: Vida, 2007, p. 178. [Voltar]
Nota 11 - Mt 14.23; Mc 24.32; Lc 3.21; Lc 5.15-17; Lc 6.12; Lc 9.18; Lc 9.28; Lc 11.1; Lc 22.32; Lc 23.34; Lc 24.30;
Jo 11.41-42; Jo 14.16; Jo 17.1-24. [Voltar]
Nota 12 - YANCEY, Philip. Oração: ela faz alguma diferença? São Paulo: Vida, 2007, p. 94. [Voltar]
Nota 13 - PIPER, John. Vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch? v=TYFauU0w2-A. Acessado em
25.03.2020. [Voltar]
Nota 14 - PIPER, John. Irmão, nós não somos profissionais. São Paulo: Shedd Publicações, 2009, p. 69. [Voltar]
Nota 15 - ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 403. [Voltar]
Nota 16 - GOLL, James W. Tormenta de Oración. Buenos Aires: Peniel, 2012, p. 31. [Voltar]
Nota 17 - DUEWELL, Wesley. Heróis da vida cristã. São Paulo: Vida, 2001, p. 28. [Voltar]
Nota 18 - DUEWELL, Wesley. Heróis da vida cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 30. [Voltar]
Nota 19 - HENDRIKSEN, William. A Vida Futura Segundo a Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 261. [Voltar]
Nota 20 - GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 219-220. [Voltar]
Nota 21 - Um movimento de oração que começou na África do Sul, onde cristãos sentiram o chamado de Deus para
buscá-lo em arrependimento e para convidarem cristãos de todas as partes para se unirem em oração por
suas cidades e nações. [Voltar]
Nota 22 - CHAMBERS, Oswald. Tudo Para ele. Belo Horizonte: Betânia, 1988. p. 33. [Voltar]
3
A ação mais
poderosa da terra

Clama a mim, e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não


sabes.
JEREMIAS 33.3

E ntre os anos de 1905 e 1907, um pequeno grupo de crentes famintos por uma
renovação espiritual tinha sido excluído da Segunda Igreja Batista de Los Angeles e,
eventualmente, começou a se reunir na casa de Richard e Ruth Asberry, na Rua Bonnie
Brae North, 214. Nas primeiras reuniões feitas ali havia entre sete e quinze pessoas,
incluindo as crianças, que, juntas, oravam e buscavam por uma ação semelhante à
ocorrida no dia de Pentecostes, conforme descrito em Atos 2. Na medida em que os sinais
e as manifestações espirituais aconteciam, mais pessoas se juntavam e se alinhavam no
mesmo propósito.
Numa determinada noite de oração, o Espírito Santo visitou aquela casa com um poder
transbordante. Jennifer A.Miskov, Ph.D e pesquisadora na área de avivamentos,
compartilhou que a prima de Ruth Asberry, Jennie Evans Moore, que morava do outro
lado da rua, começou a manifestar o dom de línguas, e se sentia como se um vaso
houvesse se quebrado dentro dela e águas se agitassem por todo o seu ser. Tomada pelo
Espírito Santo, ela falou seis idiomas diferentes e cada uma dessas línguas foi interpretada
em inglês.[Nota 1]
Novas e impressionantes manifestações de Deus passaram a ocorrer naquela casa por
meio das orações, resultando em curas e manifestações de dons, ao ponto de a casa não
mais suportar a quantidade de pessoas. Foi quando decidiram se mudar para outro prédio
e, então, encontraram um galpão na Rua Azusa, 312. Lá funcionava uma espécie de
depósito um tanto danificado por um incêndio, mas antes, fora um local de culto da Igreja
Metodista Episcopal. No entanto, um incêndio maior estava por vir àquele lugar, não
físico, mas espiritual, e que se espalharia para muitos lugres ao redor do mundo. Ali, o
primeiro culto na Missão da Rua Azusa aconteceu no dia 14 de abril de 1906.
O líder daquele grupo era um homem humilde, sem muito estudo, filho de ex-escravos,
mas com uma disposição incomum para orar: William Joseph Seymour. Frank Bartleman
escreveu que, durante as reuniões, Seymour costumava se sentar atrás de duas caixas
vazias, uma em cima da outra, e mantinha a cabeça dentro de uma delas, em oração.[Nota
2] Estudiosos desse avivamento acreditam que a razão de Seymour fazer isso era a forma
de ele declarar: “Senhor, eu me escondo para que tu sejas o único a ser visto neste lugar”.
Por três anos, o Espírito de Deus fluiu grande e graciosamente naquela rua, assim como
em toda Los Angeles. O Senhor estava salvando e libertando pessoas das mentiras do
diabo, batizando com o Espírito Santo, manifestando dons e curando doentes. Miskov
afirma: “O chão ficava coberto de muletas e bengalas que eram deixadas para trás depois
que as pessoas eram curadas. A missão tinha uma sala de oração no andar de cima para
orar pelos enfermos. Era quase uma ocorrência diária as pessoas serem curadas de vários
problemas, inclusive câncer, reumatismo, paralisia, tuberculose e muitas outras
enfermidades”.[Nota 3] Houve relatos de pessoas curadas antes mesmo de chegar ao prédio.
A missão estava aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, com a participação de
centenas de pessoas que vinham de todos os Estados Unidos e de diversos outros países.
Elas levavam consigo, no retorno a seus lugares de origem, uma chama especial do
Espírito Santo.
Esse movimento, que começou com intensos períodos de oração, despertou milhares de
cristãos para a obra missionária. Muitos deles foram enviados para diferentes nações,
onde, por meio de pregações ousadas e fervorosas, influenciaram milhões de pessoas ao
redor do mundo.
O evangelho escrito por Lucas nos mostra uma situação interessante. No capítulo 4,
versículos 31-37, vemos Jesus expulsando um espírito imundo de um homem possesso.
Em seguida, Lucas apresenta Jesus curando a sogra de Pedro e realizando curas diversas
por meio da imposição de mãos (Lc 4.38-40). No capítulo 5, vemos o milagre da pesca
maravilhosa (Lc 5.1-7); a cura de um leproso (Lc 5.12-13); e a cura de um paralítico (Lc
5.17-26). No capítulo 6.17-18, Lucas comenta que uma grande multidão se reuniu para
ouvir Jesus e ser curada de doenças. No capítulo 7.1-10, Jesus libera uma palavra de cura
sobre o servo de um centurião; em seguida, movido de compaixão, Jesus interrompe um
cortejo fúnebre de um filho de uma viúva, tocando no caixão e ressuscitando o jovem (Lc
7.11-16). O capítulo continua narrando que Jesus curou muitos que tinham males,
doenças graves e espíritos malignos, e concedeu visão a muitos que eram cegos (Lc 7.21).
No capítulo 8.22-25, Jesus acalma uma tempestade; e nos versos 26-39, Jesus age
libertando um homem endemoninhado. Do verso 40 ao 55, Jesus cura uma mulher
hemorrágica, que sofria desta doença há 12 anos; e ressuscita a filha de Jairo, o principal
da sinagoga local. No capítulo 9 lemos o episódio da multiplicação dos pães e peixes (Lc
9.10-17); e a libertação de um menino possesso por espíritos malignos (Lc 9.37-45).
Quanta coisa maravilhosa, não é mesmo? Quantos de nós não gostaríamos de ter
experiências assim para contar?
No entanto, verifique comigo o texto do capítulo 11.1 de Lucas: “Certo dia Jesus
estava orando em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse:
‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele’”.
Observe que de tudo o que Jesus fez, os discípulos pediram justamente o ensino sobre a
prática da oração. Eles não pediram: “Senhor, ensina-nos a expulsar demônios, ou a
controlar tempestades. Ensina-nos a multiplicar pães e peixes e a ressuscitar mortos.
Ensina-nos a curar leprosos, dar vista aos cegos ou fazer uma pesca maravilhosa.” Os
discípulos queriam algo muito maior que tudo isso, eles queriam aprender a orar. Eles
sabiam que era pela oração que Jesus fazia todas aquelas maravilhosas obras. Os
discípulos pediram para Jesus lhes ensinar sobre a fonte de todos os seus feitos, pois
haviam entendido que o milagre é o resultado, mas a oração é o meio. Eles queriam
aprender a orar porque a oração é a ação mais poderosa da terra.
Tive a oportunidade de visitar algumas vezes o Museu da Reforma e o Muro dos
Reformadores em Genebra, na Suíça. Lá, lemos e ouvimos muitos relatos empolgantes de
alguns reformadores, em especial, de John Knox, um reformador escocês comprometido
com a pregação do evangelho e dedicado à prática da oração. Uma das histórias mais
contadas diz que, certa vez, a Rainha Mary Guise da Escócia, uma católica de-vota,
declarou temer mais as orações de John Knox do que um exército de dez mil homens.
Séculos depois, Charles Spurgeon comentou que “quando John Knox subiu as escadas
para interceder a Deus pela Escócia, foi o maior evento da história da Escócia”.[Nota 4]
Este é um exemplo que retrata a poderosa realidade da prática da oração.
Cyril J. Barber, que é pastor emérito da igreja de Plymouth em Whittier, Califórnia,
escreveu que a oração é “a maior força da terra”.[Nota 5] Sem dúvida, esta é uma das mais
certeiras definições sobre a oração que podemos encontrar, pois, indubitavelmente, os
seus efeitos produzem resultados além dos limites do homem.
Como ocorreu com Josué, por exemplo, que foi líder dos israelitas na conquista da
Terra Prometida. Em uma das suas experiências, ele orou ao Senhor na presença de todo
o Israel e o sol parou e a lua se deteve (Js 10.12-13).
Dr. Wilbur O’Donovan Jr., que é missionário há mais de três décadas e leciona no
Evangelical Theological College, em Addis Adeba, Etiópia, relatou a seguinte história:

Caleb, missionário que trabalhava com uma agência africana, recebeu a tarefa de
plantar igrejas entre pessoas tradicionais em uma aldeia rural em seu país. Não
havia nenhum cristão na aldeia, e os mais velhos da aldeia não estavam interessados
no evangelho. Eles conservavam com firmeza suas crenças tradicionais. Alguns
meses de pregação não tinham dado nenhum resultado. Caleb orava por uma
vitória.

Naquele ano não caiu chuva suficiente. As sementes tinham sido plantadas, mas as
primeiras plantinhas tenras estavam secando, com pouca esperança de colheita. A
chuva era desesperadamente necessária. Caleb viu nisto uma oportunidade para o
evangelho e aproximou-se dos mais velhos da aldeia. Perguntou-lhes se gostariam
que ele orasse ao Deus da Bíblia por chuva. Eles estavam mais que dispostos a
deixá-lo orar. Porém, Caleb impôs condições para sua oração.

Eles concordariam que, se o Deus da Bíblia respondesse com chuva, sua Palavra (a
Bíblia) era a verdade? Eles creriam que Jesus é a pessoa por meio de quem as
orações são respondidas, e o único por quem as pessoas podem obter perdão dos
pecados, como ele estivera lhes dizendo? Os mais velhos concordaram com as
condições de Caleb.

Caleb voltou para sua casa e começou a orar. A verdade da Palavra de Deus e as
vidas dessas pessoas estavam em jogo. Caleb ficou 28 horas de joelhos, orando.
Finalmente, o Senhor enviou uma chuva demorada e pesada. Caleb vagueou pela
lama até a cabana onde os mais velhos da aldeia estavam reunidos. Eles estavam
prontos para ouvir e prontos para crer. Pouco tempo depois, os crentes começaram
a reunir-se na casa de Caleb para orar e ler a Palavra de Deus. Uma igreja foi
plantada, e ela cresce até hoje.[Nota 6]

Mas o que torna a oração a maior força da terra?


Priscilla Shirer , escritora, palestrante e atriz que protagonizou o filme Quarto de
guerra, lançado no Brasil em 2015, comentou em seu livro que “a oração é o portal que
traz o poder do céu aqui para a terra”.[Nota 7] Esta é uma colocação muito certa, pois a
oração é a porta de acesso ao poder de Deus nas regiões celestiais.
A Bíblia nos ensina que Deus age em resposta à oração (Mt 7.7-11; Tg 5.16), e
conforme está escrito em Isaías 43.13, agindo Deus, quem impedirá? Sendo assim, a
oração é a maior força da terra, pois, por meio dela, o Deus imparável age revelando sua
inesgotável fonte de poder. Como escreveu Edward M. Bounds, a oração “pode fazer
qualquer coisa que Deus possa fazer”.[Nota 8]
Pense comigo acerca de alguns fatos:
Cerca de duzentas mil pessoas entregaram sua vida a Cristo entre os anos 1831 e 1835
em Rochester, Nova Iorque, quando Charles Finney iniciou ali as suas campanhas
evangelísticas.[Nota 9] Por diversas vezes, Finney afirmou que este grande agir de Deus foi
gerado por meio da oração. Daniel Nash e Abel Clary, intercessores fiéis de Finney, iam
antes dele às cidades onde ele iria pregar e clamavam a Deus, choravam em oração por
essas cidades. Às vezes, eles se contorciam e gemiam de agonia pela salvação das almas.
Cerca de um milhão de pessoas entregaram suas vidas a Cristo entre os anos de 1857 e
1859 nos Estados Unidos, sendo que, à época, a população do país girava em torno de
apenas 30 milhões. Esta colheita teve seu início em reuniões de oração numa pequena
congregação na Rua Fulton, em Nova Iorque, dirigidas pelo empresário Jeremiah
Lanphier.
Na Irlanda do Norte, no ano de 1859, jovens seminaristas começaram a orar dizendo:
“Senhor, ajude-nos a fazer algo mais em sua obra!". E como resultado, quase cem mil
pessoas receberam a Cristo como salvador de suas vidas, influenciando a sociedade
irlandesa tanto no aspecto espiritual quanto no moral e no social. Em muitas áreas de
Ulster a criminalidade caiu praticamente a zero, à medida que Deus se movia em resposta
à oração.
Em 1950, os alunos do Instituto Bíblico Argentino, dirigido pelo irmão Edward Miller,
decidiram orar a Deus buscando a revelação da sua glória em seu país, a Argentina, e
como resultado, os maiores estádios de futebol do país ficaram cheios, praças e escolas
foram tomadas por pessoas que passavam horas e horas em oração e adoração a Deus, e
as igrejas locais se uniram no único propósito de proclamar que Jesus Cristo é o Senhor.
Em 1990, a igreja em Uganda superou a perseguição por meio da oração dos cristãos,
que se reuniam nas madrugadas. Enquanto as autoridades políticas pediam perdão pelos
pecados da nação, a igreja vivia um crescimento jamais visto em toda sua história. Houve
relatos de que uma igreja saiu de sete para dois mil membros em duas semanas.
Em 1989 e 1990, a Romênia viveu o maior movimento de salvação em sua história por
meio das orações dos cristãos que passavam horas e horas em clamor ao Senhor. Numa
ocasião, cerca de duzentos mil ateus estavam reunidos na praça da cidade de Timisoara
para protestar, quando um pastor batista chamado Peter Dugalescu começou a pregar, e
em pouco tempo, aquela multidão gritava em alta voz: “Exista Dumnezeu! Exista
Dumnezeu! Exista Dumnezeu!” (Existe um Deus! Existe um Deus! Existe um Deus!).
Foi por meio da oração que investidas de governos contra o cristianismo caíram, como
quando a União Soviética defendia consistentemente o controle, a supressão e a
eliminação dos cristãos, encorajando o ateísmo. Muitos cristãos foram presos. Em 1982,
iniciou-se uma campanha de oração envolvendo os cristãos perseguidos. Esta campanha
durou sete anos. Em 1988, a economia soviética entrou em colapso e até o então
presidente Gorbachev, à procura de apoio para seus programas de reestruturação,
prometeu que os cristãos seriam reconhecidos e as igrejas reabertas. Neste mesmo ano,
dezenas de milhares de Novos Testamentos foram enviados aos cristãos por toda a União
Soviética. Pouco tempo depois, a Missão Portas Abertas, liderada pelo irmão André,
promoveu uma campanha de distribuição de um milhão de Novos Testamentos.
No mês de outubro de 1989, cerca de 70 mil pessoas se reuniram do lado de fora da
Igreja Nikolai, em Lípsia, Alemanha, orando por paz e mudança em seu país. Em 9 de
novembro, o muro de Berlim veio à ruína, assim como também o bloco comunista do
Leste Europeu. A igreja voltou a ter liberdade nesta região.
Eu poderia compartilhar dezenas de relatos extraordinários que foram construídos no
solo da oração. Entretanto, eu tenho uma informação ainda maior e melhor para você: o
Deus que proporcionou todas essas situações maravilhosas continua o mesmo, e o seu
grande poder está em um reservatório que só pode ser acessado por meio da oração. Isso
mesmo! A oração é a chave de acesso ao poder de Deus e o meio pelo qual esse poder se
manifesta a nós.
O que eu estou dizendo é que, por meio da oração, podemos mergulhar na fonte
inesgotável do poder de Deus e passamos a ter a oportunidade de fazer com que todos os
relatos descritos anteriormente não fiquem apenas nos livros de História.
Existe muito mais no ambiente celestial, pronto a ser revelado a todos aqueles que estão
em Cristo, do que aquilo que já vivemos até aqui, e essas coisas só podem se manifestar
por meio da oração. Por isto está escrito: “Clama a mim, e responder-te-ei e anunciar-te-ei
coisas grandes e firmes, que não sabes” (Jr 33.3). Creio que Deus tornou disponível o
infindável reservatório de seu poder, e nossas orações são os meios pelos quais ele libera
esse poder em nós e por meio de nós. Conforme está nas Escrituras, os grandes atos de
Deus entre os homens se manifestaram em resposta às orações do seu povo (1Rs 18.36-
39; At 4.23-31).

Elias — um homem que orava


Lembremo-nos do profeta Elias, que viveu no século 9 a.C., durante os reinados de Acabe
e Acazias, no reino do norte. Elias também não vinha de uma família rica e tampouco de
uma determinada classe sacerdotal. Diríamos hoje que Elias era um homem desconhecido,
de uma família desconhecida e de um lugar desconhecido, pois vinha de Tisbé, um
pequeno lugarejo sem tanta importância. Elias era um típico improvável. No entanto,
Deus o usou durante um período realmente importante na história de Israel para se opor a
um rei iníquo e trazer despertamento espiritual ao povo.
Quando ele foi chamado, Elias não hesitou em assumir sua missão, mesmo que
parecesse que sua vida seria ameaçada pelo rei iníquo. As experiências por ele vividas
estão entre as mais destacadas nas Escrituras. Os relatos do seu ministério estão
registrados nos livros de 1 e 2Reis (1Rs 17; 2Rs 2).
Elias, sendo um homem dedicado à oração, nos trouxe exemplos sensacionais que
evidenciam a oração como sendo a ação mais poderosa da terra. Por meio das suas
experiências, é possível entender situações singulares, por exemplo: Primeiro: na oração, o
homem se alinha com Deus e recebe autoridade diante dos homens. Está escrito: “Então
Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor Deus de Israel,
perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a
minha palavra” (1Rs 17.1).
Evidenciamos duas frases especiais:
A primeira é: “vive o Senhor Deus de Israel perante cuja face estou”. Isso demonstra
uma conexão profunda entre Deus e o seu profeta. Um relacionamento face a face. Este
alinhamento foi construído pelo constante diálogo em oração entre o Senhor e Elias. Isto
deu a Elias a certeza de que Deus o respaldaria.
Querido leitor, só se levanta com autoridade diante dos homens aquele que se prostra
diante de Deus em oração. Elias falou com convicção ao rei Acabe porque, antes, ele tinha
conversado com o rei dos reis, o Deus todo-poderoso.
A outra frase é: “senão segundo a minha palavra”. Aqui Elias não estava agindo com
despeito, vingança ou capricho, mas como ministro de Deus que reconhece sua vontade.
Este alinhamento, conquistado por meio da oração, fez com que o profeta tivesse a
certeza de que a sua palavra estava de pleno acordo com os planos e propósitos do
Senhor.
Podemos ver a mesma realidade no capítulo 3 de Atos dos Apóstolos, quando Pedro e
João subiam para a oração da nona hora e se depararam com um coxo que era colocado
ali para pedir esmolas. Ao dizer: "O que eu tenho isto te dou, em nome de Jesus, levanta e
anda!", Pedro usou da mesma autoridade vista no exemplo de Elias.
Ainda no livro de Atos, podemos acompanhar o relato de Lucas da pregação de Paulo
em Trôade:

Um jovem, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, adormecendo


profundamente durante a prolongada mensagem de Paulo, vencido pelo sono, caiu
do terceiro andar abaixo. Quando o levantaram, estava morto. Mas Paulo desceu,
inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: — Não fiquem alvoroçados, pois ele está
vivo. Subindo de novo, Paulo partiu o pão e comeu. E lhes falou ainda muito tempo
até o amanhecer. E, assim, partiu. Então conduziram vivo o rapaz e sentiram-se
grandemente confortados.
ATOS 20.9-12

Na obra Novo Testamento interpretado, Champlin enfatizou: “‘[...] morto [...]’ Lucas
foi testemunha ocular do fato, e esse foi o seu veredicto”.[Nota 10] Paulo foi até o jovem
morto e, abraçando-o, simplesmente disse: “Não fiquem alvoroçados, pois ele está vivo”.
Paulo estava tão alinhado com Deus que bastou apenas dizer tais palavras para que o
jovem Êutico tornasse a viver.
As pessoas que se dedicam à oração se alinham com o coração Deus e transmitem
palavras de fé, respaldadas pelo agir soberano do Senhor. Elas se tornam condutoras da
verdade de Deus e canais da revelação da sua glória.
Segundo: na oração, o homem obtém provisão para as suas necessidades. Em 1Reis 17
vemos que Deus providenciou alojamento para Elias próximo ao ribeiro de Querite e o
alimentou, dia a dia, por meio de corvos (versículos 2-6). Então o riacho secou (versículo
7), de modo que Deus providenciou outra acomodação em Serepta, e a sua provisão foi
suficiente (versículos 8-16).
Mas o que é provisão? Trata-se da ação de prover o necessário. Está relacionada com o
cuidado de uma pessoa para com a outra. Dentro do que eu estou falando, refere-se aos
cuidados de Deus para com a sua igreja. O Senhor assiste do céu os seus filhos na terra, e
como o bom e perfeito Pai, por meio da oração, dá sua provisão divina a eles, conforme
suas necessidades.
Certa ocasião, Patrícia e eu estávamos em uma rápida passagem por Paris — França,
para uma série de pregações. Em uma noite livre, decidimos passear pela cidade. Pegamos
o trem na vila onde ficava a residência em que estávamos hospedados em direção ao
centro de Paris. Depois de alguns momentos agradáveis pelas ruas da "Cidade Luz",
percebemos que tínhamos extrapolado o horário e precisaríamos voltar. A caminho da
estação, um rapaz, vendedor ambulante de souvenir, veio até nós para dizer que pessoas
mal-intencionadas estavam nos seguindo e que seria bom tomarmos cuidado para não
sermos roubados. Então, ficamos alerta.
Ao chegar à estação, os guichês de atendimento de compra de bilhetes estavam fechados
e os totens de autoatendimento só recebiam moedas, e o que tínhamos não era o
suficiente. Além da barreira do idioma, por conta do dia e do horário, a movimentação na
estação era pequena e quase não havia ninguém com quem pudéssemos tentar trocar
cédulas por moedas. Pensamos em acionar um motorista de aplicativo ou táxi, mas os
nossos celulares não tinham sinal de internet nem telefônico.
Lembro-me de ter pegado a mão da Patrícia e orar: “Pai, nos ajude a voltar”. E em
seguida, de uma forma que não sei explicar, ficamos tranquilos, sabendo que algo iria
acontecer. Pensávamos que, a qualquer momento, surgiria a oportunidade de trocarmos
as cédulas por moedas; entretanto, em pouco mais de um minuto após a breve oração, um
grupo de jovens turistas entrou na estação e duas jovens que faziam parte desse grupo
vieram em nossa direção. Uma delas falou em espanhol: “Boa noite! Nós compramos por
engano dois bilhetes de trem a mais e gostaríamos de vendê-los. Vocês estariam
interessados?” Patrícia e eu trocamos olhares e sorrisos diante do que estava acontecendo,
quais seriam as probabilidades de algo assim acontecer por obra do acaso? Compramos
os dois bilhetes e embarcamos no trem. Depois, já no caminho de volta, conversamos
sobre como Deus proveu aqueles bilhetes e manifestou seus cuidados paternos naquela
situação.
Cristo, em seu ensinamento aos discípulos, nos assegura que a provisão de Deus pode
ser alcançada mediante oração. A expressão “o pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mt
6.11) remete à ideia de uma dependente solicitação de provisão diária.
Um fator importante da provisão de Deus é que ela surge quando o Senhor é colocado
em primeiro lugar, e isso se relaciona à obediência incondicional e à prática de oração.
Elias vivenciou os cuidados de Deus por ser alguém que orava e obedecia.
Terceiro: na oração, o homem experimenta ações milagrosas de Deus. Meditemos no
texto de 1Reis 17.17-24.

E depois destas coisas sucedeu que adoeceu o filho desta mulher, dona da casa; e a
sua doença se agravou muito, até que nele nenhum fôlego ficou. Então ela disse a
Elias: Que tenho eu contigo, homem de Deus? Vieste tu a mim para trazeres à
memória a minha iniquidade, e matares a meu filho? E ele disse: Dá-me o teu filho.
E ele o tomou do seu regaço, e o levou para cima, ao quarto, onde ele mesmo
habitava, e o deitou em sua cama, E clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus,
também até a esta viúva, com quem me hospedo, afligiste, matando-lhe o filho?
Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor
meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o Senhor ouviu a
voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu. E Elias tomou o
menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu à sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu
filho vive.

Pela oração, o natural é rompido por ações divinas e as piores situações podem ser
revertidas, os doentes podem ser curados, os perdidos podem ser salvos; de fato, não há
limite para os milagres que Deus pode realizar quando seu povo ora. Lembrando que
milagres são intervenções divinas que contra-riam o rumo natural das coisas ou aquilo
que é humanamente lógico. É quando uma situação transcende o limite do homem.
Vale frisar que, a cura física, especificamente falando, é uma realidade presente no
campo da oração. Lemos nas Escrituras que Isaque “orou ao Senhor por sua mulher,
porque ela era estéril. O Senhor ouviu as orações dele, e Rebeca, a mulher de Isaque, ficou
grávida” (Gn 25.21). Do mesmo modo, Raquel sofreu durante muito tempo com a
esterilidade. Ela orou ao Senhor, e o autor de Gênesis compartilhou: “E lembrou-se Deus
de Raquel; e Deus a ouviu, e abriu a sua madre” (Gn 30.22). Raquel foi a mãe biológica
de dois filhos de Jacó: José, que se tornou governador do Egito, e Benjamim.
Cura física é uma realidade explícita no Novo Testamento. Começando por Cristo, pois
os evangelhos compartilham diversos testemunhos de cura que ele realizou. Por exemplo,
Mateus escreveu: “Os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os
surdos ouvem, os mortos são ressuscitados...” (Mt 11.5-6). Mas depois que Cristo
retornou ao céu, as curas continuaram acontecendo por meio dos seus apóstolos.
Além da cura do coxo na porta do templo por meio de Pedro, já citado no tópico
anterior (At 3.1-6), Saulo teve sua visão restaurada após a imposição de mãos de Ananias
(At 9.17,18); um paralítico chamado Enéias recebeu a cura por meio de Pedro (At 9.33-
35); uma mulher chamada Dorcas ressuscitou após a oração de Pedro (At 9.36-41); um
coxo foi curado durante o período em que Paulo pregava em Listra e Derbe, cidades da
Licaônica (At 14.8-10); a ressurreição de Êutico, quando Paulo foi até ele, o abraçou e
disse: “Não vos perturbeis, que a sua alma nele está” (At 20.9-10); o pai de Públio foi
curado por meio da oração de Paulo, assim como outros habitantes de Malta (At 28.7-9).
O médico Lucas ainda compartilha outras situações de cura, como em Atos 5.14-16:

Em número cada vez maior, homens e mulheres criam no Senhor e lhes eram
acrescentados, de modo que o povo também levava os doentes às ruas e os colocava
em camas e macas, para que pelo menos a sombra de Pedro se projetasse sobre
alguns, enquanto ele passava. Afluíam também multidões das cidades próximas a
Jerusalém, trazendo seus doentes e os que eram atormentados por espíritos imundos;
e todos eram curados.

Também em Atos 19.11-12.

Deus fazia milagres extraordinários por meio de Paulo, de modo que até lenços e
aventais que Paulo usava eram levados e colocados sobre os enfermos. Estes eram
curados de suas doenças, e os espíritos malignos saíam deles.

A cura física é uma realidade tão presente, que o apóstolo Tiago aconselhou:

Entre vocês, há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da
igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A
oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido
pecados, ele será perdoado.
TIAGO 5.14-15

Tiago mostrou neste texto que a oração é capaz de curar tanto o corpo físico quanto o
corpo espiritual.
A graciosa atividade de cura física deve ser vista como uma realidade em nossos dias,
alcançável por meio da oração. Acredito que ser um discípulo de Jesus, além de
manifestar o seu estilo de vida, significa também fazer o que ele fez pelas pessoas — e isso
envolve também a cura. Não que a cura esteja em quem ora ou na oração em si, mas em
Cristo, que ouve e atende ao pedido feito conforme sua vontade.
Os queridos amigos Guilherme e Valdirene entenderam esta verdade e têm vivido
experiências maravilhosas com curas físicas. Uma dessas curas ocorreu durante uma breve
reunião evangelística realizada no sítio deles, quando, no momento da oração, o Espírito
Santo direcionou Valdirene a orar com imposição de mãos em um senhor, conhecido de
sua família, que estava sofrendo com um estado avançado de câncer. Ao impor suas
mãos, ela sentiu como se a virtude divina a atravessas-se e atingisse aquele senhor. Ao
final da oração, convicta de que Deus havia curado aquele homem, ela disse: “Creia que
esta noite você recebeu a sua cura”. A mudança no semblante daquele senhor foi
significativa. Passados alguns dias e sem dores pelo corpo, aquele senhor foi ao seu
médico, e ao fazer exames, ele e sua família tiveram a grata surpresa: de fato, o câncer
havia sumido. Ele ficou curado.
A filha mais velha desse casal, Laura, na época com 8 anos, também teve uma
experiência de cura por meio da sua oração. Valdirene, depois de uma queda, ficou com
fortes dores em um dos seus braços. As dores eram tantas que os medicamentos pareciam
não fazer efeito. Depois de algum tempo e ainda com dores fortes, Valdirene pediu à sua
filha Laura que impusesse as suas mãos e orasse por cura. Laura, então, colocou suas
mãos na região da dor e orou. De uma forma instantânea, a dor cessou e não mais voltou.
Eu mesmo provei a cura proveniente da oração. Quando eu tinha 10 anos, fui
diagnosticado com uma desordem física caracterizada por fraqueza e atrofia muscular,
que ocorre pela ausência ou formação inadequada de proteínas essenciais para o
funcionamento da fisiologia da célula muscular. A característica principal é o
enfraquecimento progressivo da musculatura esquelética, prejudicando os movimentos.
Depois de mais alguns dias internado e sem nenhuma melhora, os médicos entenderam
que o tratamento seria longo e, por essa razão, eu poderia continuá-lo em casa sob
algumas condições, entre elas, severo acompanhamento fisioterapêutico. E, assim, fui para
casa. Meu estado físico era o mesmo de quando eu saí do hospital.
No mesmo dia, os meus pais firmaram o compromisso de buscar a minha cura no
campo da oração. E assim fizeram. À medida que oravam, eu sentia que eu podia fazer
movimentos que antes eu já não conseguia. A força estava gradativa-mente voltando às
mãos, aos braços e às pernas. E em um determinado momento eu me levantei e meus pés
se firmaram. Comecei a dar passos sem nenhuma ajuda. As orações continuaram até que
o Senhor me enviou a cura completa. Fui curado absolutamente em resposta à oração. O
retorno ao médico foi apenas para reafirmar a completa recuperação.
As ações milagrosas de Deus não param, mas continuam se revelando por meio
daqueles que se dedicam à oração.
Quarto: na oração, o homem é mantido de pé no tempo de provações, problemas e
fracassos. Em 1Reis 19, vemos a ternura com que o Senhor lidou com seu servo Elias, que
estava cansado e frustrado, e quão graciosamente o Médico Divino o restaurou. Isso
aconteceu por meio de um diálogo entre o Senhor e Elias.
Todos nós já tivemos uma noite mal dormida, um dia estressante ou um período de
muitas demandas. Já nos sentimos esgotados e completamente “sem bateria” — isso
acontece com todo mundo, uma hora ou outra. Mas o problema maior é que, muitas
vezes, até mesmo quando chegamos a esse ponto, não conseguimos aproveitar melhor a
oportunidade que temos de recorrer a Deus em oração. Preocupamo-nos em como nosso
dia poderia ter sido ainda mais produtivo, e não nos damos conta do quanto orar é
fundamental neste processo de ser produtivo.
Recordo-me de uma ocasião em que me peguei aflito, cansado e pensativo em relação a
algumas tarefas do ministério. Um sentimento de tristeza e frustração - por conta das
dificuldades, decepções, impedimentos, impossibilidade e até incapacidade de realizar
alguns planos - me deixaram angustiado.
Lembro-me de ter questionado a mim mesmo sobre o porquê de muitas coisas não
estarem dando certo ou não se concretizarem como eu havia pensado. Mesmo mesmo
usando a experiência de tantos anos de ministério missionário e pastoral; mesmo
utilizando o conhecimento adquirido pelas leituras de inúmeros livros; mesmo usando as
técnicas que obtive por meio dos muitos seminários, cursos, congressos e conferências de
que participei ao longo da vida; e mesmo recorrendo à mentoria de muitos amigos, líderes
relevantes em nosso país e de fora, ainda assim, muitos planos que nasceram no meu
coração em relação ao ministério não saíram do papel — e isso para mim foi
desalentador.
Comecei uma luta interna contra a frustração e a tristeza. Foi quando orei a Deus de
uma forma simples, porém profunda e íntima, dizendo: “Senhor, o que eu faço?”
Os momentos seguintes foram de silêncio e lágrimas. De repente, de uma forma que
não sei bem explicar, uma voz disse ao meu espírito: “André, você está usando as
ferramentas erradas." Eu abri meus olhos e soube que Deus estava falando comigo.
Então, com muita expectativa, eu perguntei a ele: “E qual é a ferramenta certa, Senhor?”
Após mais alguns poucos segundos de silêncio, aquela mesma voz disse ao meu espírito:
“Oração é a ferramenta certa. Tudo que tenho está disponível para você, mas só posso
liberar por meio da sua oração”.
Meu coração se encheu de alegria, minha motivação foi renovada e tive minhas forças
revitalizadas. Deus havia me mostrado a ferramenta certa para fazer tudo aquilo que ele
confiou a mim para fazer.
Enquanto eu confiava somente na minha experiência, as coisas eram mais difíceis e
tensas, mas como disse o salmista: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os
que a edificam” (Sl 127.1). Aprendi que a oração é a ferramenta certa porque atrai o
favor de Deus, e, consequentemente, tudo se torna mais leve. O Senhor me direciona
naquilo que me cabe fazer e realiza aquilo que eu não consigo. Quando eu oro e faço o
meu melhor, Deus faz o resto.
Embora esta tenha sido uma experiência pessoal com Deus, eu acredito que a oração é,
sem dúvida, a principal ferramenta para o desenvolvimento e o crescimento pessoal e
ministerial, pois orar é falar com aquele que está no trono e que possui todo o poder,
autoridade e controle sobre tudo que existe. Orar é associar-se a Deus, e tudo pode
acontecer se clamarmos de acordo com a sua vontade (1Jo 5.14-15).
Querido leitor, se você sente que todas as suas opções foram esgotadas, lembre-se que a
oração pode ter sucesso onde outros meios falharam. Deus, por meio da oração, abre os
olhos, muda os corações, oferece discernimento, cura as feri-das e concede sabedoria para
prevalecer diante das lutas diárias (Tg 1.5). Na oração, a sua fraqueza vai de encontro à
onipotência divina, e a partir de então você poderá fazer tudo que Deus te mandou.
Portanto, ore e faça o seu melhor, e Deus fará o resto em resposta às orações. Confie
nas Escrituras que dizem: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me
glorificarás” (Sl 50.15).

Conclusão
O apóstolo Tiago — irmão de sangue de Jesus -, fez um comentário interessante sobre
esse grande profeta: “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos,
e orou com fervor para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não
choveu. Depois, orou de novo, e então o céu deu chuva, e a terra produziu os seus frutos”
(Tg 5.17-18).
Vale frisar este trecho: “homem semelhante a nós”. Elias era uma pessoa comum, como
você e eu. Teve medo, sentiu solidão, fugiu, pediu para morrer, ficou deprimido. Mas
Elias também aprendeu a viver na presença de Deus em oração. Esta talvez seja a maior
necessidade da igreja hoje: pessoas que vivam na presença de Deus em oração.
O Deus de Elias está pronto para atender as orações que irão mudar realidades, fazer
cair os inimigos, curar os enfermos, gerar provisões, restaurações e renovações. O Senhor
espera ouvir orações ousadas, compatíveis com o que ele é; e está pronto para atendê-las
conforme sua soberania e propósitos.
Notas do Capítulo

Nota 1 - MISKOV, Jennifer A. Azusa em Chamas. Brasília: Chara, 2017, p. 48-49. [Voltar]
Nota 2 - BARTLEMAN, Frank. A história do Avivamento da rua Azusa. São Paulo: Impacto, 2016, p. 58. [Voltar]
Nota 3 - MISKOV, Jennifer A. Azusa em chamas. Brasília: Chara, 2017, p. 78-80. [Voltar]
Nota 4 - BOND, Douglas. A poderosa fraqueza de John Knox. Fiel: São José dos Campos, 2016, p. 52. [Voltar]
Nota 5 - BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Vida, 1982, p. 17. [Voltar]
Nota 6 - O’DONOVAN JR., Wilbur. O Cristianismo bíblico da perspectiva africana. São Paulo: Shedd Publicações,
1999, p. 11. [Voltar]
Nota 7 - SHIRER, Priscilla. Oração fervente. BV Books: Niterói, 2016, p. 16. [Voltar]
Nota 8 - BOUNDS, E.M, Purpose in prayer. Moody Press: Illinois, Chicago, 1914, p. 96. [Voltar]
Nota 9 - DUEWEL, Wesley L. O Fogo do avivamento. Hagnos: São Paulo, 2015, p. 81. [Voltar]
Nota 10 - CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado. Hagnos: São Paulo, 2014, p. 522. [Voltar]
4
O ponto
de partida

E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua
vontade, ele nos ouve.
1JOÃO 5.14

M eunascipaie foiessaordenado ao ministério pastoral no ano de 1978. Três anos mais tarde, eu
realidade me fez crescer e passar cada fase da vida dentro do contexto de
uma igreja local. Talvez esta seja a razão que me faz ser alguém tão apaixonado pela
igreja local. Meu primeiro ministério foi no teatro, aos 7 anos de idade. Passei pelo
ministério de louvor, liderança de evangelismo e missões. Fui missionário transcultural,
coordenador da Escola Bíblica e, no ano de 2005, ordenado ao ministério pastoral. Além
das atribuições do pastoreio, eu ainda passei a coordenar o seminário teológico da nossa
igreja e a lecionar em outras instituições. Ao longo desses anos de muito trabalho, Deus
tem me ensinado lições preciosas que me têm sustentado e me conduzido. Entendo que as
mais importantes são:

1. A oração deve ser o ponto de partida de cada ação e decisão;


2. Não fui chamado para fazer líderes. Fui chamado para fazer discípulos de Jesus
capazes de liderar a sua igreja;
3. Tenho que ser amigo de todos, mas relacionamento (algo mais profundo) deve ser
apenas com aqueles que edificam;
4. Ser bem-sucedido em algo que Deus não me mandou fazer é o mesmo que fracassar;
5. O que faz a diferença na minha vida é aquilo que me exige;
6. A igreja existe para aqueles que ainda não fazem parte dela. Como pastor, eu não
posso negligenciar isso;
7. A simplicidade me mantém na missão que Deus me confiou;
8. Para ser um pastor aprovado, preciso ser um marido e pai aprovado;
9. Eu faço o que faço não apenas pelo peso da responsabilidade, mas, sobretudo, pelo
amor que tenho por Jesus e sua igreja;
10. Ficar ofendido nunca resolve uma situação;
11. O meu crescimento está relacionado ao crescimento das pessoas ligadas a mim;
12. A minha vista é inimiga da minha visão;
13. É preciso separar os “Pedros” dos “Judas”;
14. Servir a Deus e sua igreja já é a minha recompensa;
15. Preciso sempre manter o meu coração ensinável e a intelectualidade ativa.

Espero em breve publicar algo explicando cada uma destas lições, entretanto,
logicamente, neste capítulo vou discorrer sobre a lição número 1 desta lista, e explicar
sobre o porquê a oração deve ser o ponto de partida de qualquer ação ou decisão.
Existem quatro tipos de pessoas na igreja:
O primeiro tipo é aquele que ora, mas não se dispõe ao trabalho. Essa pessoa ainda não
compreendeu que, a vida cristã é uma vida ativa e dinâmica, e acredita que pelo fato de
ter orado, já cumpriu sua tarefa em sua missão como igreja. Existem dois problemas com
essa pessoa: 1) Ela acha que a oração é uma tarefa, quando, na verdade, a oração, seja ela
de forma pessoal ou intercessória, parte da natureza de vida de todo aquele que nasceu de
novo. É uma necessidade vital de todo cristão, assim como a água é para o corpo; 2) Ela
não entendeu que a vida cristã envolve um padrão de comportamento e uma missão
claramente comissionada por Cristo a todo aquele que o segue (Mt 28.18-20; Mc 16.15;
At 1.8). Não há exceções. Todo o crente em Jesus é chamado para uma ação além da
oração, pois somente agindo, a pessoa pode viver a plenitude da vida cristã. Embora
existam diversos ministérios e diversos dons (1Co 12), a oração é para todos.
O segundo tipo é aquele que age segundo a sua capacidade e conhecimento e não ora
pedindo a Deus a direção ou a bênção para aquilo que vai fazer. Simplesmente confia em
suas habilidades. A pessoa com este perfil se cansa mais rapidamente, se frustra, se
desanima e desiste mais facilmente — isso porque decidiu confiar somente em si próprio.
As Escrituras nos trazem orientações opostas à confiança em si próprio, como em
Provérbios 28.26: “Quem confia apenas em si mesmo é insensato...” Já o profeta
Jeremias, ao profetizar contra os filhos de Israel, fez a seguinte observação: “Assim diz o
Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o
seu coração do Senhor” (Jr 17.5). E o apóstolo Paulo foi taxativo ao escrever: “Não que
por nós mesmos sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo
contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2Co 3.5).
O terceiro tipo é aquele que age segundo a sua capacidade e conhecimento e depois
comunica a Deus pedindo a bênção para que sua iniciativa possa dar certo. Mesmo
contando com o socorro de Deus, como escreveu o autor de Hebreus: “Cheguemo-nos,
pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça
a fim de sermos socorridos no momento oportuno” (Hb 4.16), normalmente, dispõe de
mais tempo, energia e esforço para corrigir os resultados ou até mesmo recomeçar.
Este perfil lembra muito a história de Jonas, que não consultou a Deus em oração
quando desceu a Jope, e nem quando comprou a passagem para Társis. Não orou quando
a tempestade assolava o navio, e nem quando o mestre do navio ordenou que ele clamasse
ao seu Deus (Jn 1.5). Entretanto, ao ser engolido pelo grande peixe nas profundezas do
mar, orou conforme está escrito: “Então Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor, seu
Deus, e disse: ‘Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do
abismo, gritei, e tu ou-viste a minha voz’” (Jn 2.1-2). Foi necessária uma sucessão de fatos
desagradáveis para que Jonas pudesse reconhecer o valor da oração. Como ele mesmo
disse: “Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e
subiu a ti a minha oração, no teu santo templo” (Jn 2.7).
O quarto tipo de pessoa é aquele que, antes de tudo, ora. Ela pede a Deus direção,
capacitação, bênção e age na expectativa de que o Senhor dará respaldo divino a suas
habilidades e ações. É aquela que sabe que Deus direciona sua vida em todos os aspectos e
áreas, por isso procura andar alinhado com ele para não perder tempo e energia, e ainda,
se manter sempre motivado.
As Escrituras trazem respaldo a este quarto tipo de pessoa. Cito um exemplo: o
apóstolo Paulo, em sua carta a seu discípulo Timóteo, que ele chama de “filho”, ofereceu
orientações sobre questões espirituais e ministeriais, tocando na questão do estilo de vida
e da forma como o jovem Timóteo deveria se portar diante dos perigos que viria a
enfrentar (1Tm 1.18-19). No entanto, Paulo conclui as instruções no início do capítulo
seguinte, apresentando algumas prioridades: “Antes de tudo, peço que se façam súplicas,
orações, intercessões e ações de graças em favor de todas as pessoas” (1Tm 2.1).
O apóstolo, movido pelo Espírito Santo, afirma a Timóteo que a sua prioridade deve
ser a de orar a Deus. A expressão grega para “antes de tudo” é próton pas que indica
“ponto de partida”. Isso significa que antes de qualquer ação ou postura, é necessário
falar com Deus em oração.
As outras expressões são: a) “súplicas” ( deesis), que indica o “ato de pedir”, ou
“petição”. “Esse tipo de oração é motivado por uma necessidade.”[Nota 1] O termo tem o
sentido de necessidade do suplicante e de sua própria insuficiência. Hernandes Dias
Lopes, sobre este termo, escreveu: “A oração começa com o reconhecimento da nossa
total dependência de Deus. A oração é a insuficiência humana aproximando-se da
suficiência divina”;[Nota 2] b) “orações” ( proseuche), tem o sentido de “dirigir-se a Deus”;
c) “intercessões” ( enteuxis), segundo o Dicionário Vine, “é um termo técnico para
descrever a aproximação a um rei, e, assim, para se chegar a Deus em ‘intercessão’” . [Nota
3] Hernandes Dias Lopes foi mais específico ao comentar que a expressão traz a ideia de

entrar na presença do rei para fazer uma petição;[Nota 4] por fim, d) “ações de graças” (
eucaristia), sugere uma atitude de gratidão ou o ato de louvar a Deus pelo que tem feito
por nós.
Embora esses termos, de modo específico, pareçam sugerir diferentes caminhos, na
verdade, implicam em oração em todas as suas formas e aspectos, de acordo com todas as
relações nela implicadas. Como disse o doutor John Kelly, o objetivo de Paulo é “insistir
na centralidade da oração, e não oferecer uma análise sistemática dos seus tipos”.[Nota 5]
Sendo assim, a oração, portanto, independente do foco, deve ser o ponto de partida. O
princípio de toda ação, decisão e trabalho.
A oração promove o alinhamento entre Deus e a sua igreja. Entre o Senhor e seus
obreiros. Sem a oração não há alinhamento com o Senhor.
Jesus não iniciou a sua missão e depois orou. Ao contrário, sua obra teve como ponto
de partida a oração. Lucas descreveu:

Ao ser todo o povo batizado, Jesus também foi batizado. E aconteceu que, enquanto
ele orava, o céu se abriu, o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como
pomba, e do céu veio uma voz, que dizia: “Você é o meu Filho amado; em você me
agrado”.
LUCAS 3.21-22
Neste texto percebemos que três situações distintas ocorreram enquanto Jesus orava: 1)
O céu se abriu: isso significou que a terra não era o limite e o mundo não ditava as regras
e tampouco impunha suas condições. O céu aberto revelou que os recursos divinos
estavam disponíveis para Jesus realizar a sua missão; 2) O Espírito Santo desceu: Deus
enviou o seu agente executivo, o Espírito Santo, para trabalhar com Cristo na obra que
lhe foi confiada; 3) Deus reafirmou seu compromisso paterno com Cristo, e expressou sua
alegria pelo seu amado filho: os evangelhos mostraram que em Cerca de 50 vezes Jesus
chama Deus de “Pai”, vivenciando este relacionamento em cada momento da sua vida
terrena.
Posteriormente, Jesus, antes de tomar a histórica decisão da escolha dos doze apóstolos,
sentiu necessidade de passar uma noite inteira em oração (Lc 6.12-13).
Vemos o mesmo princípio com Davi. Em 1Samuel 23.1-5, antes de tomar a urgente
decisão de agir contra os filisteus, Davi consultou o Senhor por duas vezes. Na primeira
vez, Deus disse: “Vá, ataque os filisteus, e livre a cidade de Queila”. Talvez, tomado por
um sentimento de dúvida por conta da opinião dos seus homens que disseram: “Temos
medo aqui em Judá, quanto mais indo a Queila lutar contra as tropas dos filisteus”, Davi
vai consultar novamente Deus. A resposta do Senhor foi: “Levante-se e vá até Queila,
porque estou entregando os filisteus em suas mãos”. Davi colocou a oração a Deus como
sendo o primeiro passo de sua decisão.
Importa frisar que Deus não se importou com o fato de Davi consultá-lo para tratar do
mesmo assunto duas vezes. Ao contrário, na segunda vez o Senhor foi mais claro ainda,
afirmando que ele entregaria os filisteus nas mãos de Davi.
Deus não se importa com quantas vezes você recorra a ele em oração acerca de alguma
decisão que tenha que tomar ou atitude que deva ter. Na verdade, a exemplo do que
vimos na experiência de Davi, à medida que você ora, o Senhor apresenta novos
esclarecimentos, gerando a certeza daquilo que ele mandou fazer.
Ao orar e buscar a direção de Deus, você não perderá tempo diante de uma decisão ou
de uma ação importante ou urgente. Ao contrário, você atrairá Deus não apenas para a
decisão e ação, mas para os resultados.
Portanto, antes de tudo, ore!
Com nossa perspectiva humana limitada, não podemos conhecer todos os aspectos das
situações que enfrentamos; Mas Deus sim, e a oração faz com que o Senhor se mova,
agindo inclusive em situações que não conhecemos, mas que precisam ser trabalhadas.
Eu costumo dizer que a dinâmica que envolve Deus e o cristão no ambiente de oração é
semelhante a de um piloto de avião comercial e um controlador de voo na torre de
comando. A função de um controlador de voo é monitorar o avião durante sua viagem,
dar autorizações aos pilotos, instruções e informações necessárias sobre o espaço aéreo,
com o objetivo de evitar intercorrências no trajeto, auxiliar em situações climáticas,
prevenir colisões entre aeronaves e alertar sobre os obstáculos nas imediações dos
aeroportos. Ele vê aquilo que o piloto não consegue ver, e o instrui para que tudo ocorra
da melhor forma possível. Muitas dessas instruções incluem até mesmo mudança de rota.
O piloto, apesar de todo o auxílio eletrônico, experiência e competência, possui um
campo de visão limitado, e para alçar voo, fazer o trajeto e aterrissar de forma segura,
precisa de informações e direcionamentos que só um controlador de voo pode oferecer. O
piloto, então, mesmo sem ver, segue as instruções que recebe e completa bem a viagem.
Por isso, a boa comunicação entre os dois é indispensável. Essa dinâmica faz da aviação
civil o meio de transporte mais seguro do mundo.
Deus é como esse controlador de voo e nos oferece o auxílio necessário para que a
nossa jornada comece e termine bem. As instruções que recebemos dele nos possibilitam
fazer de modo seguro e bem-sucedido aquilo que devemos fazer.
Sendo assim, a oração não pode ser um apêndice na vida cristã, mas deve se tornar o
ponto de partida e a prioridade em todo o percurso de vida do cristão.

Três efeitos da oração


Em primeiro lugar, a oração potencializa o nosso trabalho no Reino. Como escreveu um
dos maiores incentivadores de missões mundiais, doutor Oswald Smith: “O homem pode
ser maravilhosamente habilitado e preparado para o serviço de Deus, mas se não tiver
aprendido a prevalecer em oração, não pode esperar a bênção de Deus no seu trabalho”.
[Nota 6]
Dentre as minhas paixões literárias estão as biografias de pessoas que foram relevantes
na história da igreja ao longo dos séculos. Li sobre a vida e ministério de homens como
John Huss, Martinho Lutero, John Knox, Nikolaus von Zinzen-dorf, John Wesley,
George Whitefield , David Brainerd, Jonathan Edwards, George Müller, Charles Finney,
Dwight Lyman Moody, Charles Spurgeon, Evans Roberts, Jeremiah Lanphier, Duncan
Campbell, Billy Graham, Richard Wurmbrand, irmão André — e a lista continua.
Os relatos que contam suas caminhadas estão repletos de fatos que envolvem
diretamente a prática da oração. Isso confirma a ideia de que a oração potencializa as
vidas daqueles que servem a Cristo, tornando-os capazes de fazerem “algo a mais” para
Deus.
Lembrando que este “algo a mais” foi o que colocou esses nomes acima citados na
história cristã. O homem natural possui um limite, mas o homem de oração sempre
poderá contar com o próprio Deus para ir além, pois a oração rompe a barreira do limite
humano e permite que o Senhor intervenha, abrindo caminhos e possibilidades para que
uma ação ainda maior possa ser feita. A missionária Rosalee M. Appleby, que colaborou
diretamente com a renovação espiritual de algumas igrejas no Brasil, compartilhou o
seguinte relato:

[...] depois de estudar durante 15 anos os movimentos religiosos, é impressionante


observar que nunca houve grandes bênçãos nas coisas espirituais sem muita oração.
Assim como cada ser que nasce neste mundo representa uma mãe que agonizou por
ele, cada triunfo no reino espiritual representa alguém que agonizou por ele. Oração
fervorosa, perseverante e sincera é a única maneira de conseguir a vitória.[Nota 7]

O missionário Erlo Stegen, por exemplo, vivenciou experiências incomuns durante o


avivamento que irrompeu sobre os Zulus, na África do Sul, entre 1960 e 1970. Este
avivamento, assim como outros ao longo da história cristã, foi gerado no campo da
oração.
Os relatos deste maravilhoso movimento são de fato, impactantes: as pessoas iam aos
cultos sem sequer serem convidadas. De fato, eram atraídas pelo próprio Espírito Santo.
Houve muitas conversões de feiticeiros e de pessoas libertas de terríveis opressões e
possessões demoníacas. Por diversas vezes, durante os cultos, fogueiras eram acesas para
queimar os milhares de amuletos de feitiçaria, livros de ocultismo e símbolos de bruxaria
que as pessoas traziam voluntariamente.
Os ladrões e os corruptos passaram a devolver as coisas que haviam roubado. As
mudanças nas vidas dos convertidos foram incríveis. As palavras de Stegen nos oferecem a
dimensão do que aconteceu:

Era como se o próprio ar estivesse encharcado com a presença de Deus. Só quem


experimentou algo assim sabe do que eu estou falando. As pessoas que chegavam
naquela área eram imediatamente convencidas dos seus pecados e levadas ao
arrependimento, simplesmente por estarem na presença de Deus.[Nota 8]

Além dessas curas espirituais, o avivamento também foi marcado por curas físicas.
Muitos testemunharam a cura de doenças graves, paralisia, surdez, cegueira, lepra,
infertilidade, e outras várias. Stegen compartilhou inúmeras experiências que ocorreram
nos cultos em Mapumulo. Segundo ele, “paralíticos eram traduzidos e colocados no chão,
e mesmo antes que o culto começasse, alguns começavam a andar”.[Nota 9]
A oração faz com que o nosso trabalho na obra do Senhor seja potencializado por meio
da ação divina.
Por exemplo, a pregação deixa de ser apenas uma transmissão de conhecimento e passa
a ser uma mensagem viva. Pude experimentar tal verdade algumas vezes, como quando
uma família inteira se entregou a Cristo depois que um senhor, membro desta família,
teve sua visão restaurada após anos sem poder enxergar por conta de uma grave doença
em seus olhos. A cura dele aconteceu enquanto eu estava pregando um sermão sobre cura.
Em outra ocasião, um homem cético em relação à fé cristã decidiu visitar a igreja, a
pedido do seu filho, para me ouvir pregar. Este homem havia perdido parte do
movimento do seu braço direito por conta de um acidente de moto. Ele ouviu o sermão
sobre cura e decidiu provar a veracidade do que eu estava falando. Ele disse a si mesmo:
“Só acredito no que esse pregador está dizendo se eu voltar a movimentar normalmente o
meu braço.” Em seguida, ele ergueu o seu braço de uma forma que antes não conseguia e
fez todos os movimentos normais, como se nunca tivesse sofrido algum acidente. Ele
entregou a sua vida a Cristo e tem se dedicado a servir a igreja local com paixão.
A potencialização que a oração promove para a realização da obra de Cristo não fica
apenas nos limites dos púlpitos, mas se espalha para todos os ministérios que servem na
igreja. Os relatos são diversos e vão de casais restaurados e entregues a Cristo por meio de
projetos com crianças a surgimento de grandes movimentos missionários em escolas e
universidades. De conversões genuínas e milagres em pequenos grupos ou células à
transformação de bairros, até mesmo cidades.
Importa saber que, quando Deus nos convoca para orar, ele não está pedindo somente
para termos alguns momentos de conversa com ele, mas o que deseja é que tenhamos uma
oportunidade de vivenciar o que ele tem para nós. O Senhor nos entrega pela oração tudo
o que é necessário para garantir o êxito daquilo que somos chamados para fazer.
Em segundo lugar, a oração colabora diretamente com o crescimento da igreja. A
oração é parte inerente à igreja de Cristo. Ao ler o livro de Atos, vemos a prática da
oração presente em vários momentos da da trajetória da igreja; depois da ascensão de
Cristo e antes do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, os apóstolos
“perseveravam unânimes em oração” (At 1:14). Após a descida do Espírito Santo, a igreja
de Jerusalém permaneceu ativamente comprometida com esta prática (At 2.42); quando a
perseguição começou, os apóstolos se voltaram para Deus em oração e “unânimes,
levantaram a voz a Deus” (At 4.23-31). Tempos depois, depois Tiago foi morto pela
espada e Pedro posto na prisão. No entanto, “havia oração incessante a Deus por parte da
igreja a favor dele” (At 12.5).
Também vemos os apóstolos comprometidos com a oração. Por exemplo, Pedro e João
no templo (At 3.1-100. Depois, diante de novos desafios que surgiram com o crescimento
da igreja, os apóstolos deixaram claro que a oração, junta-mente com o estudo da
Palavra, eram prioridades em suas vidas (At 6.4). Após isso, a igreja continuou crescendo
e se expandindo, inclusive em meio à perseguição (At 8.1 - 4), e foi estabelecida em várias
regiões (At 9.31). Aldeias inteiras tornaram-se cristãs (At 9.35), os gentios se converteram
a Cristo (At 13.48-49), e igrejas eram erguidas na Ásia Menor e na Europa (At 14.1-28,
At 16.5, At 11, At 12; At 17.4). Vemos Paulo e Silas: após receberem açoites, são
lançados na prisão. Lá, eles “oravam e cantavam louvores a Deus” (At 16.25). Vemos
depois o encontro de Paulo com os presbíteros da igreja de Éfeso, onde ele tinha
trabalhado laboriosamente por três anos. Ajoelhando-se, orou com todos eles (At 20.36-
38).
Os apóstolos cumpriram com poder e graça a missão que lhes foi confiada. Daí em
diante, a oração continuou presente na igreja ao longo dos séculos, passando pelas
reformas, avivamentos e pelos grandes movimentos missionários e igrejas locais crescentes
em todo o mundo.
Amo estudar sobre o crescimento de igrejas. Já li diversos livros e artigos sobre o tema,
e sempre que tenho oportunidade, dedico-me a estudar as histórias das igrejas que mais
crescem no mundo, procuro conhecer a biografia dos seus líderes, descobrir a visão e as
estratégias que Deus deu a cada uma, o contexto cultural, as atividades que estão
desenvolvendo atualmente, e até os tipos de sermões e de estudos que são ministrados. O
que tenho observado é que as histórias de muitas delas são bastante semelhantes,
especialmente em relação aos problemas sofridos.
A maioria dos líderes dessas igrejas que crescem foi traída, enfrentou sérios problemas
financeiros, tanto no âmbito pessoal como ministerial, superou graves crises familiares,
venceu doenças, prevaleceu diante de acusações e perseguições, e deve a sustentação dos
seus ministérios à mão de Deus que se moveu em resposta às orações desses líderes. E,
ainda, unanimemente, esses líderes de igrejas crescentes devem à oração não somente a
sustentação, mas também as direções que resultaram no crescimento.
Eu pude conversar sobre este tema algumas vezes com o querido amigo doutor Joel
Comiskey — renomado pesquisador e especialista em crescimento de igrejas em células.
Em suas pesquisas envolvendo as maiores congregações em células do mundo, ficou claro
que o fator que mais gera o crescimento nos pequenos grupos, e consequentemente na
igreja local, é a oração constante dos seus líderes. A conclusão que tenho é que a oração é
a ferramenta certa para o crescimento da igreja, pois ela potencializa aqueles que
desenvolvem a visão local.
E ainda ao estudar sobre a relação entre a oração e o crescimento da igreja, percebo que
a oração cria uma atmosfera que neutraliza as ações malignas nas mentes e corações das
pessoas que são alvos dos trabalhos evangelísticos da igreja local.
O pastor David Yonggi Cho, por exemplo, iniciou sua igreja com um pequeno grupo de
cinco pessoas que se reuniam debaixo de uma tenda em um cemitério local. No início da
década de 1960, ele começou a orar a Deus pedindo mil novos membros por ano, por
meio da estratégia que Deus colocou em seu coração. Até 1969, sua igreja alcançou mil
novos membros todos os anos. Em 1970, ele decidiu buscar em oração mil almas por mês,
totalizando doze mil almas por ano, e assim aconteceu. Confiante no poder da oração,
suas metas foram aumentando e sua igreja se tornou a maior do mundo.[Nota 10] Ao
estudar a história e os relatos desta igreja, nota-se que, por meio da oração, Deus
abençoou as estratégias evangelísticas, tornando-as eficazes e, ao mesmo tempo, anulando
o trabalho do diabo naquela região.
Algo parecido ocorreu com o missionário John Hyde, ao chegar a Índia. Sua primeira
oração no solo daquele país foi: “Senhor, eu quero ganhar uma vida para Jesus por dia.”
Crendo que Deus responderia sua oração, ele fez a sua parte. Dentro de um ano, de um
ano 400 pessoas foram salvas e batizadas. No ano seguinte, Hyde orou pedindo a Deus
que o ajudasse a levar para Cristo duas pessoas por dia e, naquele ano, ano foram salvas e
batizadas 700 pessoas. Hyde então orou, pedindo três pessoas por dia, e Deus lhe deu.
Depois pediu quatro, e milhares de pessoas responderam ao chamado da salvação e foram
batizadas. Durante sua jornada em terras indianas, John Hyde levou para Jesus cerca de
100 mil pessoas.
Hyde empreendeu muitas horas em oração, tanto que ficou conhecido como “o homem
que orava”. Segundo ele:

[...] quando nos mantemos perto de Jesus, é ele quem atrai as almas a si mesmo por
meio de nós, mas é necessário que ele seja levantado na nossa vida: isto é, temos de
ser crucificados com ele. Em alguma forma, é o ‘eu’ que se levanta entre nós e ele, e
por isso o ‘eu’ precisa ser tratado como ele foi. O ‘eu’ precisa ser crucificado.
Somente então Cristo será levantado na nossa vida, e ele não pode deixar de atrair
almas a si mesmo. Tudo isso é resultado de união e comunhão íntimas, ou seja,
comunhão com ele nos seus sofrimentos.[Nota 11]

Em terceiro lugar, a oração atrai o socorro divino em momentos de crise. Cristo deixou
claro:

Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, eu os escolhi e os designei para
que vão e deem fruto, e o fruto de vocês permaneça, a fim de que tudo o que
pedirem ao Pai em meu nome, ele lhes conceda.
JOÃO 15.16

O socorro e o reforço que você precisa para fazer aquilo que Cristo o mandou, você
encontra na oração. Lembremo-nos também das palavras de Davi:

Deus diz: Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; eu o protegerei, porque
conhece o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu
estarei com ele; eu o livrarei e o glorificarei.
SALMOS 91.14-15

Recordo-me de um dia em que acompanhei meu pai em uma visita pastoral à residência
de uma família que havia visitado nossa igreja poucos dias antes. Eu devia ter na época
uns 9 anos de idade. Ao atravessarmos o portão principal da casa, notei um grande cão da
raça pastor-alemão que me olhava fixamente, rosnando e mostrando o perigo que ele
carregava nos seus dentes afiados. Era uma imagem assustadora. Mas o cão estava preso
com uma coleira e uma corrente entrelaçadas em uma barra de ferro fixada no chão.
Em determinado momento, enquanto os moradores da casa nos recepcionavam, escutei
um som de algo se partindo. Olhei para trás e aquele cão feroz havia encontrado em jeito
de quebrar sua coleira e estava vindo ferozmente em minha direção.
Então gritei: “Paaaaaiiiii!” E ele imediatamente se colocou entre mim e o cão, bateu o
pé no chão e disse: “Pare!” De uma forma que eu não sei explicar, o cão parou, e logo os
seus donos o seguraram e o prenderam novamente.
Senti-me o filho mais orgulhoso do mundo, pois meu pai não apenas me protegeu, mas
inibiu com autoridade o ataque daquele cão.
É exatamente assim que eu vejo a oração no relacionamento que temos com o nosso Pai
celestial. Ao chamarmos por seu nome em oração, ele se coloca entre nós e aquilo que nos
traz perigo. Com autoridade, ele inibe a ação dos inimigos, livrando-nos de todo mal, pois
ele é o nosso socorro bem presente (Sl 46.1).
Lembremo-nos do rei Josafá, que, encurralado por numerosos inimigos fortemente
armados e prontos a atacar a cidade de Jerusalém (2Cr 20.2), recorre a Deus em oração,
dizendo:

Ó nosso Deus, acaso não executarás o teu juízo contra eles? Porque em nós não há
força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós. Não sabemos o
que fazer, mas os nossos olhos estão postos em ti (2Cr 20.12).

O Senhor então respondeu: “[...] Assim diz o Senhor: Não tenham medo nem se
assustem por causa desta grande multidão, pois esta batalha não é de vocês, mas de Deus”
(2Cr 20.15).
O socorro de Deus em resposta às orações continua nas Escrituras. Por exemplo, no
capítulo 12 de Atos, em que Lucas compartilha um maravilhoso acontecimento ocorrido
quando a igreja crescia com poder e graça. Herodes matou o apóstolo Tiago (irmão de
João e primo de Jesus) e prendeu Pedro, também com a intenção de matá-lo. A
perseguição e a matança de cristãos eram agradáveis aos olhos dos judeus.
O versículo cinco descreve que Pedro era guardado na prisão, vigiado por 16 soldados;
no entanto, a igreja orava incessantemente por ele. O que aconteceu em seguida foi
extraordinário, conforme está escrito:

Eis que sobreveio o anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a
Pedro na ilharga, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos
as cadeias. E disse-lhe o anjo: Cinge-te, e ata as tuas alparcas. E ele assim o fez.
Disselhe mais: Lança às costas a tua capa, e segue-me. E, saindo, o seguia. E não
sabia que era real o que estava sendo feito pelo anjo, mas cuidava que via alguma
visão. E, quando passaram a primeira e segunda guarda, chegaram à porta de ferro,
que dá para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram
uma rua, e logo o anjo se apartou dele.
ATOS DOS APÓSTOLOS 12.7-10

O Senhor respondeu à oração da igreja que clamava incessantemente por socorro a


Pedro. Um anjo foi enviado para conduzi-lo à libertação.
Está escrito:

Os justos clamam, o Senhor os ouve e os livra de todas as suas tribulações.

SALMOS 34.17

Na angústia, invoquei ao Senhor e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a
minha voz e aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.
SALMOS 18.6

O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra. Ele não permitirá que você
tropece; o seu protetor se manterá alerta, sim, o protetor de Israel não dormirá; ele
está sempre alerta!
SALMOS 121.2-4

Conclusão
Uma das definições que eu tenho a respeito da oração é que ela é uma espécie de centro de
recursos onde encontramos, por meio da graça, da misericórdia e da vontade de Deus,
diversos meios de ajuda divina para a nossa vida, especialmente para o cumprimento da
nossa missão como igreja de Cristo.
Resta-nos tornar a oração um hábito, e, assim, provar de tudo que ela possibilita e
promove. Ressalta-se que a oração que dá o acesso à fonte do poder de Deus deve fazer
parte daquilo que somos em nosso dia a dia, ou seja, constante, arraigada, contínua. Os
teóricos da oração não tocam o coração de Deus e não acessam a fonte do seu poder,
como afirmou o escritor S. D. Gordon (1859-1936):

Os grandes sobre a terra são as pessoas que oram... Não são [...] aqueles que falam
sobre oração, nem aqueles que dizem acreditar na oração, nem ainda aqueles que
ensinam sobre a oração; são aqueles que dedicam tempo à oração.[Nota 12]
Notas do Capítulo

Nota 1 - Bíblia de estudo MacArthur. Notas de Rodapé. [Voltar]


Nota 2 - LOPES, Hernandes Dias. 1Timóteo – O pastor, sua vida e sua obra. São Paulo: Hagnos, 2014, p. 54. [Voltar]
Nota 3 - VINE, W.E, UNGER, Merril F, WHITE JR, William. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 718.
[Voltar]
Nota 4 - LOPES, Hernandes Dias. 1Timóteo – O pastor, sua vida e sua obra. São Paulo: Hagnos, 2014, p. 55. [Voltar]
Nota 5 - KELLY, John N.D. I e II Timóteo e Tito – Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 64.
[Voltar]
Nota 6 - SMITH, Oswald. O homem que Deus usa, São Paulo: Vida, 2007, p. 18. [Voltar]
Nota 7 - APPLEBY, Rosalee M. O preço do poder. São Paulo: Renovação Espiritual, 1964, p. 88-89. [Voltar]
Nota 8 - STEGEN, Erlo. Avivamento na África do Sul. Recife: Os Puritanos, p. 42. [Voltar]
Nota 9 - Idem, p. 61-62. [Voltar]
Nota 10 - CHO, David (Paul) Yonggi. A quarta dimensão. São Paulo: Vida, 2007, p. 26 [Voltar]
Nota 11 - John Hyde (1865-1912), o Apóstolo da Oração. [Voltar]
Nota 12 - SHEDD, Russel P. A oração e o preparo de líderes. São Paulo: Shedd Publicações, 2001, p. 33-34. [Voltar]
5
Deus se
importa!

Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.
SALMOS 34.15

U ma senhora foi trabalhar em uma fábrica de costura. No primeiro dia de trabalho, o


gerente a instruiu: “Se o fio ficar atado, me ligue!” A senhora acenou positivamente
com a cabeça e iniciou o seu trabalho. Em um determinado momento, o fio ficou atado.
Ela tentou corrigir o problema usando várias técnicas de costura que ela conhecia, mas
não conseguiu. Desistindo, ela chamou o gerente e disse: “Fiz o melhor que pude com esse
nó.” “Não”, disse o gerente, “o melhor que você poderia ter feito seria me ligar”.
As Escrituras deixam a mesma instrução para nós:

Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo
conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de
Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos
pensamentos em Cristo Jesus.
Filipenses 4.6-7

O que o apóstolo Paulo está orientando aqui é que não precisamos nos inquietar por
situação alguma, pois podemos recorrer a Deus. Esta é a melhor atitude a ser feita. O
Senhor não se sentirá incomodado com sua petição; pelo contrário, ele quer que você o
chame. Como escreveu o querido Hernandes Dias Lopes, “uma das verdades mais
consoladoras das Escrituras é que Deus ouve nossas orações”.[Nota 1]
Veja a experiência de Gideão. Ele fora chamado por Deus para conduzir a libertação do
seu povo. Porém, estava em dúvida se o Senhor realmente o usaria para libertar Israel do
domínio estrangeiro. Então orou, propondo um teste, conforme está escrito:

Então Gideão se dirigiu a Deus, dizendo: Se realmente queres livrar Israel por minha
mão, como disseste, eis que eu porei uma porção de lã na eira. Se o orvalho estiver
somente nela, e a terra ao redor estiver seca, então saberei que irás livrar Israel por
meio de mim, como disseste.
Juízes 6.36-37

Deus atende a essa oração e efetua o milagre, dando assim a Gideão, por duas vezes, a
confirmação que ele pedira. Só então Gideão posicionou-se e agiu.
Muitas vezes, o Senhor nos pede coisas que, quando olha-mos para nós mesmos, nos
julgamos incapazes. Mas, nesta experiência de Gideão, podemos perceber que o mesmo
Deus que o chamou para a obra trará, pela oração, confirmações que lhe oferecerão
segurança. Ele não vai se incomodar com o seu pedido.
Portanto, definitivamente, o melhor que podemos fazer, independentemente da
situação, é orar. O pastor norte-americano Greg Laurie estava certo ao afirmar que
“muitos de nós estamos perdendo muitas coisas que Deus tem, simplesmente porque não
pedimos. Orar não deve ser o nosso último recurso, mas, sim, a primeira coisa a ser
feita”.[Nota 2] Já o autor do livro de Hebreus aconselhou: “Cheguemo-nos, pois,
confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça a fim
de sermos socorridos no momento oportuno” (Hb 4.16).
A experiência do rei Ezequias é um exemplo valioso que mostra o quanto é importante
recorrer a Deus em qualquer cenário. Ezequias foi rei de Judá no período entre 729 a 686
a.C. Ele assumiu o trono aos 25 anos e empreendeu uma grande reforma espiritual em
Judá, conduzindo o povo ao plano traçado por Deus para Israel. Segundo as Escrituras:

[...] fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai.
Confiou no Senhor, Deus de Israel, de maneira que depois dele não houve seu
semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele. Porque se
apegou ao Senhor, não deixou de segui-lo e guardou os mandamentos que o Senhor
ordenara a Moisés.
2Reis 18.3-6

Por esta razão, o seu reinado foi caracterizado por prosperidade e milagres, incluindo a
derrota e a morte de Senaqueribe, um dos maiores imperadores da Assíria.
Mas uma situação em especial acerca de Ezequias chamou-me a atenção,
principalmente porque envolve uma ação misteriosa de Deus em resposta à oração.
Acompanhe o relato descrito em 2Reis 20.1-5:

Por esse tempo, Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal. O profeta Isaías,
filho de Amoz, foi visitá-lo e lhe disse: Assim diz o Senhor: Ponha em ordem a sua
casa, porque você morrerá; você não vai escapar. Então Ezequias virou o rosto para
a parede e orou ao Senhor, dizendo: Ó Senhor, lembra-te de que andei diante de ti
com fidelidade, com coração íntegro, e fiz o que era reto aos teus olhos. E Ezequias
chorou amargamente. Antes que Isaías tivesse saído do pátio central, a palavra do
Senhor veio a ele, dizendo: Volte e diga a Ezequias, príncipe do meu povo: Assim diz
o Senhor, o Deus de Davi, seu pai: Ouvi a sua oração e vi as suas lágrimas. Eis que
eu vou curá-lo e, ao terceiro dia, você subirá à Casa do Senhor.

Podemos destacar alguns pontos neste texto e refletir: Primeiro: nenhum cenário é
definitivo quando se trata de um homem fiel que ora. Em meio aos seus triunfos, o rei
Ezequias é tomado por uma enfermidade mortal. Alguns comentaristas bíblicos ressaltam
que o estado da doença estava avançado ou terminal. O profeta Isaías, em sua visita, foi
taxativo ao dizer: “Assim diz o Senhor: ‘Ponha em ordem a sua casa, porque você
morrerá; você não vai escapar’.” A situação estava supostamente definida.
Isso me lembra de alguns outros acontecimentos relatados nas Escrituras, como, por
exemplo, em Marcos 5, em que se conta a respeito de Jairo, o principal da sinagoga local,
que recorreu a Cristo quando sua filha estava à beira da morte. A Bíblia mostra que ela se
aproximou de Jesus e suplicou insistentemente para que fosse à sua casa e impusesse as
mãos sobre sua filha para que ela pudesse ser curada. Jesus foi com ele à sua casa. No
entanto, no caminho veio a notícia da morte de sua filha. O que Jairo temia lhe
aconteceu, e para muitos, a situação estava definida: “Porque incomodas o mestre? Tua
filha já morreu” (Mc 5.35).
Lembro-me também das palavras dirigidas por Marta a Jesus, acerca da morte de
Lázaro, sepultado há quatro dias: “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria
morrido”(Jo 11.21).
Quantas situações aparentemente definidas, não é mesmo?
No entanto, para uma pessoa de oração, aquilo que é humanamente definitivo, pode ser
o início de uma experiência empolgante com o Senhor, até pelo fato de que ele está acima
de qualquer limite, cenário ou realidade humanas. Como Criador e Soberano do universo,
não há nada que se sobreponha à sua mão e que não esteja sujeito à sua vontade e à sua
ação.
Voltando a falar sobre a filha de Jairo, que havia morrido. Em Marcos 5.36, Cristo
pareceu não se importar com o fato da situação ter chegado ao limite ou ao ponto final na
perspectiva humana. Ele apenas disse a Jairo: “Não temas, crê somente.” O final desta
história foi marcado pela ressurreição da menina. Enquanto para muitos a morte da filha
de Jairo foi o fim, para Jesus foi o meio pelo qual o seu poder e amor foram revelados, e
para Jairo e sua família significou uma mudança total em suas histórias de vida.
O mesmo aconteceu por ocasião da morte de Lázaro. A “ficha já tinha caído” para os
familiares e amigos de Lázaro e o luto era a dolorosa realidade a ser enfrentada. Mas
Marta, cheia de esperança, disse a Jesus: “Agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus
to concederá” (Jo 11.22). Jesus deu uma resposta que mais uma vez mostra a verdade de
que Deus está acima do limite humano: “Teu irmão há de ressuscitar”(Jo 11.23). A Bíblia
compartilha o desfecho desta história da seguinte maneira:

E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres
ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão
que está em redor, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou
com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés
ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e
deixai-o ir.
João 11.41-44

Não há cenários neste mundo que sejam definitivos para Deus.


No ano de 2018, uma senhora gestante e que frequentava nosso Grupo de Crescimento
(célula) descobriu que o filho que ela estava gerando sofria de uma grave doença. O
médico obstetra da senhora lhe deu a triste notícia: o filho que ela esperava sofria de
hidrocefalia.
Os meses seguintes foram angustiantes para aquela senhora, que se preparava
psicologicamente para receber e tratar com amor seu filho.
Faltando poucos dias para o nascimento do bebê, a mãe chegou angustiada, pouco
antes de iniciarmos o nosso Grupo, pois ela havia estado com seu obstetra, que mais uma
vez confirmou a doença do bebê e as sérias implicações deste mal. Depois de ouvir todo o
desabafo daquela senhora, minha esposa Patrícia decidiu impor as mãos sobre a barriga
dela e, com muito amor e fé, orou com ousadia. No final de sua oração, Patrícia lhe disse:
“Descanse no Senhor!”.
Até o dia em que a senhora deu à luz, e para a surpresa dela e do médico obstetra que
vinha acompanhando sua gestação desde o início e que conduziu o parto, o bebê nasceu
sem nenhum sinal de hidrocefalia. Os exames realizados após o nascimento ofereceram
um diagnóstico negativo em relação à doença. O médico, sem poder dar explicações, ficou
sem entender, mas a senhora, ao ver o médico confuso, logo lhe disse: “Deus fez o milagre
em resposta à oração!”.
O rei Ezequias, por conhecer Deus, sabia que ele poderia atender sua petição. Por isso
ele, em sinal de profunda entrega, colocou seu rosto contra a parede e orou (2Reis 20.2-
3), pedindo ao Senhor que o fim daquela história fosse outro.
A oração pode mudar qualquer coisa.
Segundo: a autoridade da oração está relacionada com a conduta de vida. Ezequias
orou, dizendo: “Ó Senhor, lembra-te de que andei diante de ti com fidelidade, com
coração íntegro, e fiz o que era reto aos teus olhos.” Ao dizer estas palavras, Ezequias não
estava dando uma de orgulhoso em relação às suas atitudes fiéis a Deus nem tampouco se
vangloriando pelos seus feitos, como fez o fariseu na parábola contada por Jesus, descrita
no evangelho de Lucas 18.10-14. Ele também não estava cobrando alguma recompensa
por sua fidelidade e retidão. O que Ezequias estava declarando dizia mais a respeito de
Deus do que de si mesmo. Por conta das suas experiências com o Senhor, Ezequias sabia
que ele respondia às orações daqueles que eram fiéis e retos aos seus olhos. Era como se
Ezequias estivesse dizendo: “Lembra-te que tu és o Deus que atende os fiéis e retos, e eu
sou um deles”.
Por isso Tiago ressaltou em sua carta que a “oração feita por um justo pode muito em
seus efeitos” (Tg 5.16). Não se pode ignorar a figura do justo em uma oração eficaz. Este
termo ( justo) no grego corresponde a dikaíos e indica a justiça, a retidão ou a excelência
moral, e refere-se àquele que está em pleno acordo com a justiça de Deus e que alinha seus
pensamentos e ações com as Sagradas Escrituras, estabelecendo um modelo bíblico de
vida (Rm 4.3). A oração daqueles que possuem este perfil tem uma atenção especial de
Deus, pois suas vidas respaldam seus pedidos. Por esta razão a oração feita pelo justo
pode muito em seus efeitos.
Salomão ensinou: “O Senhor está longe dos ímpios, mas a oração dos justos escutará”
(Pv 15.29). E os salmistas usaram muito este termo (hebraico: tsadikk) para expressarem
o favor de Deus aos justos:

Pois tu, Senhor, abençoarás ao justo; circundá-lo-ás da tua benevolência como de


um escudo.
Salmos 5.12

[...] porque Deus está na geração dos justos.


Salmos 14.5

Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós


que sois retos de coração.

Salmos 32.11

Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.
Salmos 34.15

Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas.


Salmos 34.19

Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias.


Salmos 34.17

Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e ele te susterá; não permitirá jamais que o
justo seja abalado.
Salmos 55.22

O justo se alegrará no Senhor, e confiará nele, e todos os retos de coração se


gloriarão.
Salmos 64.10

A luz semeia-se para o justo, e a alegria para os retos de coração.


Salmos 97.11

Aos justos nasce luz nas trevas...


Salmos 112.4

Enfim, Deus age com amor e misericórdia para com todos, mas os justos, aqueles que
estão alinhados com a sua justiça em fidelidade e retidão, possuem uma atenção divina
diferenciada. Por isso a base da oração de Ezequias estava centrada na forma em que ele
vivia. Ele tinha uma história de fidelidade e devoção a Deus, e, consequentemente, sua
aprovação. Ele era um justo e isso dava autoridade à sua oração.
Terceiro: Deus se importa com o que queremos. O texto de 2Reis 20 também mostra
que Ezequias “chorou amargamente” (versículo 3), revelando o quanto ele queria sua
cura. Deus, por sua vez, não resiste à oração de um crente fiel e justo. O versículo seguinte
mostra que “antes que Isaías tivesse saído do pátio central, a palavra do Senhor veio a ele,
dizendo: “Volte e diga a Ezequias, príncipe do meu povo: Assim diz o Senhor, o Deus de
Davi, seu pai: ‘Ouvi a sua oração e vi as suas lágrimas. Eis que eu vou curá-lo...’”
(versículos 5-6). Deus se importou com o pedido de Ezequias e decidiu mudar o seu
destino, dando-lhe a cura e preservando sua vida.
Deus, mesmo sendo soberano e absoluto, não é insensível aos nossos pedidos.
Lembremo-nos do que ocorreu com Neemias, que foi copeiro do rei persa Artaxerxes I,
e, posteriormente, governador de Jerusalém, responsável por reconstruir os muros da
cidade. Num certo dia, Artaxerxes, que estava sendo servido por Neemias, notou que o
semblante do então copeiro esboçava tristeza. O rei perguntou o motivo da tristeza a
Neemias, que, por sua vez, confessou: “Como não estaria triste o meu rosto, estando a
cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assola-da, e tendo sido consumidas as suas
portas a fogo?” (Ne 2.3). A Bíblia então relata: “E o rei me disse: Que me pedes agora?
Então orei ao Deus dos céus, e disse ao rei: Se é do agrado do rei, e se o teu servo é aceito
em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para
que eu a reedifique” (Ne 2.4-5).
Esta oração que Neemias fez durou apenas um instante, somente em um breve intervalo
entre a pergunta do rei (“Que me pedes agora?”) e o pedido (“Peço-te que me envies a
Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique”). No entanto, Deus
ouviu, e movido pela petição, acredito que o Senhor fez com que o rei Artaxerxes
atendesse ao pedido e o enviasse para reconstruir a cidade. Deus se importou com a
petição de Neemias.
Dennis Rodman, ex-jogador de basquete americano, da National Basketball
Association (NBA), pelo famoso time do Chicago Bulls, da década de 1990, disse: “Se
existe um ser supremo, ele tem um montão de coisas a mais com que se preocupar do que
com meus problemas idiotas.”[Nota 3] Infelizmente, Rodman não é o único a pensar desta
maneira. Por alguma razão, muitas pessoas criaram uma imagem irreal de Deus,
tornando-o insensível às necessidades e aos problemas do ser humano. E, pior ainda,
apesar de ser um pensamento deísta, muitos que compartilham deste tipo de pensamento
fazem parte do rol de membros das igrejas locais, espalhadas pelo mundo. São pessoas
que ainda não compreenderam Deus como sendo o Senhor e ao mesmo tempo Pai
daqueles que o buscam por meio de Cristo Jesus.
Em muitos aconselhamentos que fiz ao longo dos anos como pastor, ouvi diversas
pessoas questionarem se realmente Deus se importava com o que elas queriam ou
precisavam. Já houve perguntas como: “Mesmo tendo pessoas com sonhos maiores e mais
importantes para o mundo, será que Deus se importa com o meu sonho pessoal? Ou será
que Deus se importa com esse problema que estou passando, mesmo sendo pequeno
diante de muitos outros que pessoas estão enfrentando?”
Minhas respostas sempre eram as mesmas: “Sim, Deus se importa!” Deus, como
Criador de todas as coisas, não te daria a capacidade de sonhar ou de planejar se ele não
se importasse com isso. Ele também não vê um problema como nós vemos, de modo
pequeno ou grande. Todavia, ele tem uma lição por trás do problema, independente do
seu nível, que ele quer que você aprenda, para então te ajudar a resolvê-lo, conforme o
propósito dele.
Já me questionaram: “Pastor, eu posso orar para vender o meu carro?” Outro
perguntou: “Eu posso orar para ir bem na prova da faculdade?” Para ambas as perguntas,
a resposta é sim! Reforço: Deus não é apenas o Senhor das grandes coisas, mas também
das pequenas e simples. A intimidade de pai e filho é vista nos pequenos gestos. Deus quer
fazer parte da sua vida, e não apenas dos grandes momentos. Acredite, Deus se importa
com a venda do seu carro e também está interessado em que você vá bem na prova da sua
faculdade. Ressalta-se que crer que Deus ouve as petições para coisas simples não anula a
responsabilidade de quem pede de fazer a sua parte.
Portanto, independentemente da situação, do pedido ou das circunstâncias, o melhor a
se fazer é apresentar para Deus em oração. Não adianta ficar com a necessidade ou a
petição - seja ela complexa ou aparentemente simples - aprisionada na mente, mas
entregar ao Senhor é o que deve ser feito. Eu costumo dizer que quando se ora a Deus,
entregando as petições, surge um sério risco de ser atendido.

Um coração sincero é a chave


O que torna uma oração poderosa?
Eu pensei bastante a respeito desta questão, e cheguei à seguinte conclusão: uma oração
poderosa é o encontro de palavras sinceras, da parte de quem ora, com a perfeita vontade
do Deus que as ouve. Ou seja, o alinhamento entre a sinceridade do homem e a verdade
da Palavra de Deus é o que faz uma oração ser poderosa.
O autor do livro de Hebreus escreveu:

Portanto, meus irmãos, tendo ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de
Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, pela sua
carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos com um
coração sincero, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má
consciência e o corpo lavado com água pura.
Hebreus 10.19-22

Veja a importância de se aproximar de Deus com um coração sincero, ou seja, com um


coração perfeito, completamente imbuído da verdade (Hb 10.26). O coração é nosso ser
interior, nossos pensamentos, nossas motivações, emoções, nossa vontade e nosso caráter.
O comentarista bíblico Henry O. Wiley (1877-1961) escreveu: “Deus sempre olha o
coração e vê além das retenções e superficialidades. O coração sincero é honesto diante de
Deus e, com ardor e sem fingimento, deseja ser tornado santo.”[Nota 4] Deus quer que
entremos em seu santuário em oração, desarmados de nós mesmos e munidos de toda a
sinceridade que temos. Mesmo conhecendo o mais profundo da nossa vida, ainda assim,
ele espera que o busquemos sem ter nada a esconder.

As Escrituras ressaltam o valor da sinceridade: Quem anda em sinceridade, anda


seguro.
Provérbios 10.9

E bem sei eu, Deus meu, que tu provas os corações, e que da sinceridade te agradas.
1Crônicas 29.17

A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade.
Amém.
Efésios 6.24

Portanto, a oração sincera é um instrumento que Deus usa para quebrar a opressão
maligna, remover juízos, libertar cativos, liberar a força do céu, proporcionar um
ambiente para a cura e a renovação espiritual.

E as petições não respondidas?


Talvez você diga: “Espere um momento! Se Deus se importa com as nossas petições, então
por que não tenho respostas a todas as minhas orações?” Bom, antes de qualquer coisa, é
importante ressaltar que Deus se importa com os seus pedidos, mas ele se importa mais
ainda com você. E quando você entende isto, você passa a assimilar melhor as outras
possíveis respostas de Deus às suas petições.
Às vezes, Deus retarda as respostas, e uma das razões é para nos manter dependentes
dele. Quando Elias orou para que Deus mandasse chuva, mesmo que Deus tivesse
prometido enviar, ele não respondeu instantaneamente. Foram necessárias sete tentativas
da parte de Elias antes que a primeira nuvem fosse vista no céu. Então, às vezes, Deus
detém sua resposta para nos manter dependentes e ligados a ele.
Deus também pode retardar sua resposta até que estejamos alinhados com os seus
propósitos. Pude perceber isto na experiência vivida pela minha cunhada Priscila, que
orou durante 23 anos para que pudesse engravidar. Paralelo às orações, ela e seu marido
fizeram todos os tratamentos possíveis, mas sem nenhum sucesso. No entanto, logo no
início das suas tentativas, Priscila recebeu uma palavra de Deus, que testificou em seu
espírito que ela iria engravidar. Mas os anos se passaram e a gravidez não chegava. Foi
quando eles decidiram adotar um casal de crianças. Um ano e meio após a adoção, a
Priscila recebeu a notícia que estava grávida. Deus respondeu segundo o seu propósito e a
seu tempo. Estava nos planos de Deus que essas duas crianças fossem adotadas, o que não
ocorreria se a gravidez da Priscila tivesse vindo antes.
Não podemos nos esquecer de que Deus se move pelos seus propósitos. Lembremo-nos
do que ocorreu com Ana. Sua história é relatada nos dois primeiros capítulos de 1Samuel.
Ana desejava um filho, mas não o podia ter, e isso machucava a sua alma. Chama a
atenção o fato de que Ana não tinha nenhum problema de saúde que causava sua
esterilidade, mas ela estava nesta condição porque o Senhor a deixou estéril (1Sl 1.5).
Por que Deus faria isso com Ana? Sem dúvida, porque tinha um propósito maior. O
desígnio de Deus não era simplesmente dar um filho a Ana, mas, sim, gerar dela um
profeta e um líder para Israel. Para que isso ocorresse, Ana teria que entregar este sonho a
Deus. E foi exatamente o que ela fez. Ela orou dizendo: “Ó Senhor dos Exércitos, se tu
deres atenção à humilhação de tua serva, te lembrares de mim e não te esqueceres de tua
serva, mas lhe deres um filho, então eu o dedicarei ao Senhor por todos os dias de sua
vida” (1Sl 1.11). Esta era a oração que Deus queria ouvir de Ana. Após isso, o texto
relata: “Ana engravidou e, no devido tempo, deu à luz um filho. E deu-lhe o nome de
Samuel, dizendo: ‘Eu o pedi ao Senhor’” (1Sl 1.20).
Ana se alegrou e fez uma linda oração de agradecimento e conhecimento da soberania e
onipotência de Deus: “Meu coração exulta no Senhor; no Senhor minha força é exaltada.
Minha boca se exalta sobre os meus inimigos, pois me alegro em tua libertação. Não há
ninguém santo como o Senhor; não há outro além de ti; não há rocha alguma como o
nosso Deus” (1Sl 2.1-2).
Já Samuel tornou-se uma das figuras mais notáveis das Escrituras. Tornou-se profeta,
juiz e um dos maiores líderes do povo de Israel. Foi a pessoa mais proeminente desde
Moisés nos tempos do Antigo Testamento (Jr 15.1). Este era o propósito de Deus. Ele não
queria que Ana apenas gerasse um filho, mas um grande líder para Israel.
Mas as bênçãos desse alinhamento com o propósito de Deus não param por aí. O texto
narra: “O Senhor foi bondoso com Ana; ela engravidou e deu à luz três filhos e duas
filhas. Enquanto isso, o menino Samuel crescia na presença do Senhor” (1Sl 2.21). Ana
entregou seu sonho a Deus, e Deus lhes deu muito mais.
Que lições podemos extrair desta experiência de Ana? Primeiro: às vezes o próprio
Deus impossibilita a realização de algo, até que ocorra um alinhamento com a sua
vontade. Segundo: Deus surpreende. O alinhamento da oração com os propósitos de Deus
gera resultados muito além do esperado. Terceiro: quando o propósito de Deus se
cumpre, a alegria toma conta do coração de quem ora. Quarto: quando a oração é feita
segundo os propósitos de Deus, todos saem ganhando.
Deus também responde dizendo “não”, e isto está de igual modo diretamente
relacionado aos seus propósitos. Por exemplo, no Jardim do Getsêmani, Jesus tinha total
consciência do sofrimento que estava por vir, a tal ponto que ele se prostrou com o rosto
em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Mt 26.39). Mas
Deus, conforme o seu santo e perfeito propósito, cumpriu sua vontade em seu filho.
Tempos depois, o apóstolo Paulo ressaltou que Deus “não poupou seu próprio Filho, mas
o entregou por todos nós” (Rm 8.32).
Já o próprio apóstolo Paulo compartilhou uma experiência em que sua oração não foi
respondida:

E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações, foi-me posto
um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu
não me exalte. Três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me
disse: “A minha graça é o que basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na
fraqueza.” De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre
mim repouse o poder de Cristo.
2Coríntios 12.7-9

É importante observar que a “negativa” de Deus ao pedido de Paulo teve uma razão
cognoscível, uma explicação. Ainda que Paulo tivesse recebido o “não” de Deus, por
razões claramente expostas no versículo 9, ele podia continuar focado em sua jornada
ministerial.
Imagine um pai que dá tudo o que o filho pede? Pode parecer bom, no entanto,
normalmente, o filho se torna um mimado, e filhos mimados sofrem mais nos períodos de
lutas e crises. Como cristãos, não estamos isentos de crises e lutas. Todavia, o bom e
perfeito Pai celestial nos prepara para enfrentá-las e vencê-las, e parte deste treinamento
de fortalecimento é dizendo “não” a muitas das nossas petições.
Querido irmão, quando Deus diz “não”, é por causa dos seus planos perfeitos e suas
próprias razões inescrutáveis. É aqui que temos que confiar nele e em seus caminhos
oniscientes.
Deus nos ama e ama muito, e é justamente por nos amar tanto, que ele não atende
todas as petições. Ele ouve as nossas orações, mas não atende todos os nossos pedidos,
pois ele conhece todos os fatores que jamais conheceremos. A Bíblia nos ensina algo
fundamental sobre Deus e que deve ser completamente assimilado:

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos


caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais
altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos
caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.
Isaías 55.8-9

Citando o prestigiado teólogo e doutor Millard J. Erickson: “O crente pode orar com
confiança, sabendo que o nosso sábio e bom Deus nos dará não necessariamente o que
pedimos, mas o que é melhor”.[Nota 5] Sendo assim, se Deus não responder conforme
desejamos é porque ele está vendo algo que não somos capazes ver, e pelo seu grande
amor e cuidado, prefere dizer “não” ou “aguarde”.
Portanto, lembre-se: Deus se importa com a sua petição, mas ele se importa mais com
você!

Conclusão
Não tenha receios em sua oração, mas compartilhe com Deus cada situação de sua vida,
cada detalhe dos seus projetos, cada sentimento presente no seu coração e cada
pensamento em sua mente. Fale com ele sobre os seus sonhos, ainda que pareçam
pequenos. Coloque aos pés do Senhor aquilo que lhe parecer impossível ou imutável e
confie nos seus perfeitos e seguros propósitos.
O resultado da sua oração pode surpreender você.
Notas do Capítulo

Nota 1 - LOPES, Hernandes Dias. Jonas: um homem que preferiu morrer a obedecer a Deus. Hagnos: São Paulo, 2008,
p. 76. [Voltar]
Nota 2 - LAURIE Greg. A igreja que abala o mundo, São Paulo: United Press, 2002, p. 48. [Voltar]
Nota 3 - YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus lia. São Paulo: Vida, 2000, p. 35. [Voltar]
Nota 4 - WILEY, Orton H. A excelência da Nova Aliança em Cristo. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2009, p. 446.
[Voltar]
Nota 5 - ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 404. [Voltar]
6
Em contato
com Deus

Então vocês me invocarão, se aproximarão de mim em oração, e eu os ouvirei.


Vocês me buscarão e me acharão quando me buscarem de todo o coração.
JEREMIAS 29.12-13

Cheguem perto de Deus, e ele se chegará a vocês...


TIAGO 4.8

uero aqui expressar a minha homenagem a um homem cuja biografia é uma das
Q mais fascinantes da história cristã. Sua jornada teve início em setembro de 1934,
quando adolescente (16 anos). Apaixonado por beisebol, seu sonho era ser um
jogador profissional deste esporte. Até o dia em que foi convencido por um amigo a
participar de um culto dirigido pelo prestigiado pastor de origem batista, Mordecai Ham.
Tratava-se de uma campanha evangelística de onze semanas na cidade de Charlotte,
estado da Carolina do Norte, EUA.
Mesmo com um pouco de resistência, as palavras ministradas pelo pastor Mordecai
penetraram de forma profunda na alma do garoto. Como destacou o escritor Bill H.
Ichter, “as palavras do pregador tocaram algo nele. Compreendeu que era verdade.
Aquela noite, enquanto o coro cantava Tal qual estou, o jovem Billy entregou a sua vida a
Cristo. Andou até a frente como profissão pública da sua nova fé.”[Nota 1]Anos mais tarde,
em uma pregação, Billy revelou que quando o convite de se entregar a Cristo foi feito, sua
resposta foi: “Senhor, eu vou.” E acrescentou: “Eu sabia que eu estava indo em uma nova
direção”.
Aquela decisão mudou radicalmente a vida do jovem William Franklin “Billy” Graham
Jr. Naquele instante, seus pensamentos, sonhos e motivações passaram a ser
completamente voltados para Cristo. Definitivamente, o sonho de ser jogador profissional
de beisebol foi substituído pelo sonho de tornar Cristo conhecido em todo o mundo. Billy
compreendeu que foi reconciliado com Deus, e, junto, recebeu o ministério da
reconciliação. Ele mesmo comentou:

Após entregar meu coração ao Senhor Jesus Cristo — me arrependendo de meus


pecados e colocando toda a minha vida em suas mãos — renunciei aos meus sonhos,
junto com o meu bastão, e abracei completamente os planos de Deus, com fé que ele
me guiaria durante todo o caminho. Ele o fez, o faz e o fará.
Continuei fã de beisebol, não necessariamente de um time, mas do jogo em si — o
trabalho em equipe, a estratégia e o desafio de derrotar o adversário. Mas o beisebol
não estava nos planos de Deus para mim. Porém, ele me ensinou a integrar todos
esses componentes importantes para servi-lo. O Senhor me abençoou com um time
de homens e mulheres cujo coração se uniu ao meu — juntos, guiamos os outros em
direção ao lar eterno em Cristo.

A bola de beisebol pode ser lançada em direção ao ponto mais distante do maior
estádio, mas a Palavra de Deus viaja pelos confins mais longínquos da Terra,
proclamando as Boas-Novas da salvação. [Nota 2]

O jovem Billy Graham passou a se dedicar a aprender a Bíblia se matriculando no


Florida Bible Institute (atual Trinity College of Florida), e, posteriormente, avançou em
seus estudos no prestigiado Wheaton College em Chicago. Lá conheceu sua esposa Ruth,
e no verão de 1943, se casaram.
Focados na missão de levar a mensagem salvadora de Jesus ao redor do mundo, o casal
Graham doou sua vida para este propósito, e se envolveu em vários trabalhos
missionários. Além disso, Billy e sua Ruth eram muito dedicados à oração, e sabiam que a
prática constante e intensa deste ato abriria novos e criativos caminhos para a pregação.
Sobre esse aspecto, John N. Akers comentou que “a oração era uma prática constante em
sua vida, ele permanecia em oração até mesmo quando estava pregando ou conversando
com alguém”.[Nota 3]
De dificultosas viagens e pregações para pequenos públicos, com oração, fidelidade e
foco, Billy chegou a compartilhar o amor de Cristo em reuniões públicas como nenhum
outro evangelista. Pessoalmente, pregou para mais de 200 milhões de pessoas, além de
outros tantos milhões por meio de materiais impressos e online, além de vídeos, filmes e
programas de TV. Cerca de três milhões de pessoas atenderam aos seus apelos para seguir
a Cristo.[Nota 4]
Em uma tarde de 1948, Graham reuniu sua equipe ministerial e juntos elaboraram uma
lista de “quatro mandamentos” que preservariam as normas bíblicas que tratavam de
honra e pureza absoluta em sua equipe. São elas: 1) Não ter ganância por dinheiro.
Decidiram evitar qualquer procedimento que pudesse provocar nas pessoas um
sentimento de culpa por não darem dinheiro, ou que sugerisse que conseguiriam obter o
favor de Deus por ofertar ainda mais; 2) Serem completamente fiéis às suas esposas. Billy
Graham não viajava sozinho, nem comia sozinho com qualquer outra mulher que não
fosse sua esposa; 3) Sustentar as igrejas locais. Billy Graham e seu grupo concordaram em
não criticar os ministros locais. Desejavam cooperar com todos que pudessem ajudá-los a
divulgar o evangelho; 4) Serem verdadeiros em sua publicidade e relatório. Billy Graham
não queria se exaltar. Ele só queria exaltar a Jesus. Assim, seus anúncios usavam temas
como “Cristo para esta crise!”, o que era do que dizer o quanto ele ou seu grupo eram
importantes.[Nota 5]
Prestes a completar 93 anos, Billy Graham publicou uma reflexão: “Quando olho para
trás, vejo o quanto a mão de Deus me guiou. Sinto seu Espírito comigo hoje, e o mais
reconfortante é a certeza de que ele não irá me abandonar durante o último trecho do
meu caminho para casa.”[Nota 6] Ele ainda comentou que a velhice foi a maior surpresa da
sua vida, entretanto, o maior triunfo ainda estava por vir: a vitória sobre a morte, que o
conduziria à presença eterna do Salvador e Senhor Jesus Cristo.[Nota 7], [Nota 8]
Quando o questionaram sobre qual seria seu maior arrependimento, esta foi a sua
resposta: “Meu maior arrependimento foi não ter orado mais.” E ainda disse: “Se eu
pudesse começar tudo de novo, teria passado mais tempo em oração”.
No dia 21 de fevereiro de 2018, Billy Graham foi recolhido por Deus para o merecido
descanso na eternidade. Entretanto, os frutos gerados pelo seu ministério permanecem nos
quatro cantos do planeta. Poucos meses antes de sua morte, em um vídeo publicado pela
associação que leva o seu nome, Billy Graham, bastante fragilizado por conta dos seus 99
anos, aconselhou o mundo, dizendo: “Dobre os joelhos e ore, até que você e Deus sejam
amigos íntimos”.
Sem dúvidas, este foi um dos mais relevantes conselhos que o doutor Graham deixou
para a nossa geração de cristãos. Orar até alcançar uma amizade íntima com o Criador é,
certamente, o ponto mais elevado que o ser humano pode chegar neste mundo.
Vamos discorrer melhor sobre a relevância deste conselho.
Pense comigo: Deus o conhece melhor do que você a si mesmo. Ele sabe das ações e
movimentos que você já fez, faz e fará (Is 46.10). Parafraseando o salmista Davi, ainda a
palavra não chegou à sua boca, mas o Senhor já a conhece inteiramente (Sl 139.4). Ele o
conhece a partir das suas raízes mais profundas. Não há emoção, sentimentos,
pensamentos, motivações, desejos ou sonhos que fiquem ocultos a ele, nem mesmo por
um milésimo de segundo. Deus nunca será surpreendido por você. Ele sabe tudo a seu
respeito de uma forma muito além do que você possa conhecer sobre si mesmo. Enfim,
indubitavelmente, Deus conhece o seu coração e sabe de todas as intenções que há nele.
No entanto, surge uma grande pergunta: e você conhece o coração de Deus?
Todos nós sabemos que Deus conhece o nosso coração; entretanto, o nosso maior
desafio como cristãos é conhecer o coração dele. No coração estão todas as vontades,
desejos, planos e sonhos, e tal metáfora (“conhecer o coração de Deus”) significa ter
acesso e saber quais são as suas vontades, desejos, planos e sonhos.
Isto está ligado à intimidade. Um relacionamento íntimo tem como proposta a troca de
conhecimento em relação ao outro, visando a confiança e a honra. Por conta da
intimidade, eu e minha esposa criamos um alinhamento tão especial que conseguimos nos
comunicar apenas pelo olhar. Pelo tom da voz dela eu consigo discernir as emoções e as
vontades que ela tem no momento. Conheço os sonhos e os desejos do coração dela,
assim como ela conhece os sonhos e desejos que há em meu coração. Com isso a
confiança está estabelecida e um ambiente de cumplicidade e honra está formado entre
nós.
Portanto, intimidade é conhecer a outra pessoa, e por meio deste conhecimento, honrá-
la sob a plataforma da confiança e da cumplicidade. A intimidade oferece informações
acerca do outro com o propósito de direcionar atitudes de confiança que promovem a
honra.
Com Deus a perspectiva é a mesma. O relacionamento que devemos ter com ele deve
ter o objetivo de conhecer a sua vontade até alcançar a sensibilidade de identificá-la. Não
apenas nas grandes decisões e escolhas; também nas coisas mais básicas e simples da vida,
e, assim, honrá-lo.
E é exatamente isso que Deus espera de nós: que busquemos conhecer os desejos do seu
coração por meio de um relacionamento íntimo. No livro do profeta Oséias, encontramos
uma preciosa exortação sobre isso: “Conheçamos e prossiga-mos em conhecer o Senhor”
(Oséias 6.3). Deus não quer que o conheçamos de forma parcial; ele deseja uma
intimidade que revele os desejos e planos que tem, tanto em relação à sua obra neste
mundo quanto ao que ele tem especificamente para cada um de nós. Assim, conhecendo-o
mais profundamente, a nossa confiança nele se solidificará e nós poderemos honrá-lo
plenamente.
A intimidade com Deus é como um trem que se movimenta em um trilho com duas
bases. A primeira base deste trilho é a Palavra do próprio Deus. Charles Spurgeon
chamou a Bíblia de “manuscrito de Deus”.[Nota 9] E comentou que se trata

da obra escrita do Deus vivo; cada letra foi escrita por um dedo Todo-poderoso;
cada palavra saiu dos lábios eternos, cada frase foi ditada pelo Espírito Santo. [...]
Em toda parte vejo que é Deus quem fala. É a voz de Deus, não do homem; as
palavras são as palavras de Deus, as palavras do Eterno, do Invisível, do Todo-
Poderoso, do Jeová desta terra.[Nota 10]

As Escrituras são a fonte na qual descobrimos os princípios e os planos de Deus nesta


terra, e o lugar onde está estabelecido o padrão de vida que ele deseja para todos os seus
filhos. A Bíblia é a voz de Deus dizendo a maneira que ele quer que vivamos. É o guia
santo para o nosso comportamento diário, a nossa formação de ideias e a revelação da
glória de Deus. Como escreveu Paulo a seu discípulo Timóteo: “Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído
para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17).
Sem esta parte do trilho, o trem (intimidade) não pode se mover. Sem a Bíblia, a
intimidade com Deus é ilusória. Jesus disse que “se alguém me ama, guardará a minha
palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada” (Jo 14.23). Dizer:
“Eu te amo, Deus!”,não significa muita coisa, mas guardar a sua Palavra, sim!
A segunda base do trilho que conduz à intimidade com Deus é a oração. Este ato não se
trata de um mero ritual religioso, mas da expressão mais íntima e do ponto mais elevado
da vida cristã, pois é o meio que nos une a Deus e, consequentemente, nos permite
desfrutar, a qualquer tempo, da sua magnífica presença. Como escreveu Hope
MacDonald em seu livro Jesus, ensina-nos a orar! :

Gosto de pensar na oração como uma conversa entre dois amigos que se amam e se
entendem mutuamente. É por meio da oração que vemos o amor de Deus e o seu
poder operando em nossa vida, bem como na vida das pessoas por quem oramos.
Como resultado, a oração nos torna vivos espiritualmente; sentimos novamente
fome e sede de estar perto de Deus por mais tempo. A oração é a chave que abre a
porta para um mundo inteiramente novo.[Nota 11]

Quanto mais você se dedicar à oração, mais Deus se revela a você, pois na oração surge
a oportunidade de se abrir inteiramente a Deus, e à medida que você faz isso, Deus se
revela a você. A partir de então, Deus passa a ser não apenas o Deus dos relatos bíblicos,
mas também o Deus da sua história de vida.
E é assim que a intimidade com Deus acontece. Na Palavra, Deus oferece toda a sua
verdade e esclarece todas as condições para se tornar íntimo dele. Na oração, essa
intimidade é concretizada.
Sublime é a comunhão que a oração estabelece; por ela, ocorre uma solene
correspondência entre o Criador e a criatura. Alguém disse que quando oramos “o
homem se eleva até o Senhor, de onde tudo vem, e Deus desce até o homem, para tudo
dar”. O Senhor, mesmo coberto de majestade e glória, desce até o homem, conforme está
escrito: “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos que o invocam em
verdade” (Sl 145. 18).
Por esta razão, Deus deseja que a comunicação com cada crente seja habitual (1Ts
5.17). O Senhor não quer e nem precisa de partes ou sobras de tempo, ele quer a pessoa
por inteiro. Por isso que a oração deve ser mais do que momentos, um estilo de vida e
uma base sólida do seu relacionamento com o Senhor.

Uma breve perspectiva da grandeza de Deus


O escritor Steve Miller apresentou uma reflexão sobre quem é Deus e o que ele é capaz de
fazer para prestar uma grande ajuda aos seus servos:

• Deus é onipotente — ele é todo-poderoso e nada pode invalidar sua vontade;


• Deus é onisciente — ele tudo sabe e não é pego de surpresa pelos acontecimentos; ele
sabe exatamente o que o futuro nos reserva;
• Deus é onipotente — ele está em toda parte e está sempre conosco;
• Deus é todo-suficiente — ele pode suprir todas as nossas necessidades físicas e
espirituais.[Nota 12]

É óbvio que nesta vida nunca alcançaremos o conhecimento sobre a real imensidão do
nosso Criador; entretanto, é possível encontrarmos traços que estimulam a nossa
imaginação e nos permitem vislumbrar humanamente, portanto, de forma limitada, o
quão grande ele é, e, mesmo assim, nada do que conhecemos pode ser comparado a ele.
Deus se revela nas Escrituras como um ser infinito, eterno, autoexistente e como a
causa primária de tudo o que existe. Nunca houve um momento em que Deus não
existisse, conforme afirma Moisés: “Antes que os montes nascessem e se formassem a
terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). Em outras palavras,
Deus existiu eterna e infinitamente antes de criar o universo finito. Ele é anterior a toda
criação, no céu e na terra, está acima e independe dela. “O único que possui imortalidade,
que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele
honra e poder eterno. Amém!” (1Tm 6.16).
Doutor Benjamin L. Clausen, PhD pela Universidade do Colorado, que trabalha junto
ao Geoscience Research Institute da Califórnia, comentou que “a natureza nos convida a
reconhecer seu Criador e a sondar seus mistérios”. De fato! Imaginemos o nosso planeta,
com oito bilhões de habitantes repartidos nas mais complexas e diferentes culturas,
línguas e costumes. Temos uma impressionante biodiversidade que descreve a riqueza e a
variedade natural. É interessante pensar no que a taxonomia revela sobre a variedade de
animais existentes, pois os cálculos chegam a um milhão e trezentas mil espécies. O nosso
planeta é realmente fascinante. Calcula-se que o peso da Terra é de aproximadamente
6.586.242.500.000.000.000.000 (seis sextilhões, quinhentos e oitenta e seis quintilhões,
duzentos e quarenta dois quatrilhões e quinhentos trilhões) de toneladas, e o seu volume é
de 1.083.319.780.000 quilômetros cúbicos. Isso corresponde a um trilhão e oitenta e três
bilhões trezentos e dezenove milhões e setecentos e oitenta mil cubos justapostos, um
junto ao outro, e cada um deles com um quilômetro de altura e um de comprimento.[Nota
13] Estamos falando de algo, realmente, muito grande.

Observando o Sol, que nos acompanha todas as manhãs, ele é apenas uma estrela de
tamanho médio (chamada de quinta grandeza), sendo a mais próxima de nós, com uma
distância de cerca de 149.600.000 (cento e quarenta e nove milhões e seiscentos mil)
quilômetros.[Nota 14] Ele possui um volume mais de um milhão de vezes maior do que a
Terra.[Nota 15] A massa total que o Sol possui é de aproximadamente 1.
989.000.000.000.000.000.000.000.000 de toneladas.[Nota 16] Se os números em relação a
Terra são de tirar o fôlego, imagine os que se referem ao Sol. Agora, perceba que este Sol
que conhecemos é somente um dentre mais de 100 bilhões de sóis de tamanho médio em
meio a outras 200 a 400 bilhões de outras estrelas presentes somente em nossa galáxia, a
Via Láctea.[Nota 17], [Nota 18]
Por citar a Via Láctea, achei riquíssimo o comentário do doutor Russell Shedd sobre
ela:

Estima-se que o diâmetro desta “roda” de incontáveis estrelas seja em torno de cem
mil anos luz. Uma vez que a conhecida velocidade da luz alcança 350.000
quilômetros por segundo, basta multiplicar este número astronômico mais uma vez
para se chegar ao diâmetro da galáxia em quilômetros. A distância ultrapassa
completamente nossa capacidade de imaginação.[Nota 19]

Isso falando da Via Láctea, a nossa galáxia. Agora, em uma visão mais ampla, teremos
outra perspectiva de grandeza quando analisamos o universo visível. O professor Adauto
Lourenço, físico e criacionista, escreveu sobre a grandeza do universo:

• Tamanho: 93 bilhões de anos luz. Um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros.


Isso seria cerca de 900 bilhões de trilhões de quilômetros.
• Massa: 8X1052 kg. Esse número equivale a 8 mil trilhões de trilhões de trilhões de
trilhões de quilos.
• Números de estrelas: Entre 30 sextrilhões a um septilhão. Esse número equivale a
cerca de três vezes o número de todos os grãos de areia de todas as praias da Terra.
• Número de galáxias: Aproximadamente 170 bilhões no universo observável.[Nota 20]

O judeu Yosef Bitton foi um pouco mais ousado ao afirmar que o número de galáxias
no universo visível chega a 200 bilhões.[Nota 21] O fato é que apesar de todos estes
cálculos, e por mais que estes números impressionem e nos deem uma ideia da
grandiosidade do universo, ainda assim, não temos condições reais de dimensionar tudo
isso. A nossa razão ou intelecto não é capaz de assimilar tantos números ou informações
com exatidão. Só conseguimos perceber que se trata de algo realmente muito grande.
Baseando-nos nessas poucas informações sobre o nosso planeta e o universo,
meditemos nas seguintes passagens bíblicas:

Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos.
SALMOS 19.1

No princípio firmaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos.
SALMOS 102.25

Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu
exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele
grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar.
ISAÍAS 40.26

...Eu sou o Senhor, que fiz todas as coisas, que sozinho estendi os céus, que espalhei
a terra por mim mesmo.
ISAÍAS 44.24

Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo
foi criado por meio dele e para ele.
COLOSSENSES 1.16

O doutor John Piper nos faz refletir:

O objetivo de Deus a cada fase da criação e salvação é magnificar a sua glória. É


possível magnificar com um microscópio ou com um telescópio. Um microscópio
magnifica ao fazer com que criaturas microscópicas pareçam maiores do que são.
Um telescópio magnifica ao fazer com que astros gigantescos (como as estrelas), que
parecem minúsculos, mostrem-se mais próximos do que realmente são. Deus criou o
universo para magnificar a sua glória da forma como um telescópio magnifica os
astros.[Nota 22]

O teólogo João Calvino apresentou três metáforas interessantes sobre o que a criação
fala a respeito de Deus:

1. A criação é um teatro ofuscante em que a glória de Deus pode irradiar;


2. A criação é um espelho, lembrando-nos de que podemos conhecer Deus apenas por
sua reflexão. Nem criança pequena confunde uma foto com a pessoa viva de carne e
osso.
3. A criação é o vestido de Deus. Ele é invisível, mas torna suas “roupas” visíveis, para
mostrar que ele está realmente presente.[Nota 23]
Já o doutor Robert Jastrow (1925-2008), um astrônomo, físico e cosmólogo americano,
fundador do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da National Aeronautics and
Space Administration (NASA), fez um comentário fascinante:

Agora vemos como a evidência astronômica leva a uma visão bíblica da origem do
mundo. Os detalhes divergem, mas os elementos essenciais presentes tanto nos
relatos astronômicos quanto na narração do Gênesis são os mesmos: a cadeia de
fatos que culminou com o homem começou repentinamente e num momento preciso
no tempo, num flash de luz e energia.

Para o cientista que tem vivido pela fé no poder da razão, a história termina como
um sonho ruim. Ele escalou as montanhas da ignorância; está prestes a conquistar o
pico mais elevado e, quando se lança sobre a última rocha, é saudado por um grupo
de teólogos que estão sentados ali há vários séculos.[Nota 24]

O cientista e doutor Francis S. Collins, que entrou para a história da ciência moderna
por dirigir o Projeto Genoma Internacional, escreveu com muita autoridade que “Deus
não pode ser ameaçado pela nossa mente minúscula e seus esforços por compreender a
magnitude de sua criação.”[Nota 25] Doutor Collins também escreveu:

A ciência não é a única forma de aprender. A visão de mundo espiritual fornece


outra maneira de encontrar a verdade. Os cientistas que negam isso deviam ser
orientados a levar em conta os limites de seus instrumentos, como representado de
forma muito simpática numa parábola contada pelo astrônomo Arthur Eddington.
Ele descreveu um homem que começou a estudar no fundo do mar usando uma rede
com o tamanho de pouco mais de sete centímetros e meio. Após ter apanhado
muitas criaturas selvagens e incríveis nas profundezas, ele concluiu que não existiam
peixes no fundo do mar com menos de sete centímetros e meio de comprimento! Se
estamos usando a rede científica para apanhar nossa visão particular da verdade,
não devemos nos surpreender se ela não apanha as evidências do espírito.[Nota 26]

Doutor Collins acrescenta ainda:

Os crentes em Deus fariam bem em seguir a orientação de Copérnico, que


encontrou, ao descobrir que a Terra girava em torno do Sol, uma oportunidade de
celebrar, em vez de diminuir a grandeza de Deus: “Conhecer as obras poderosas de
Deus; compreender sua sabedoria e majestade e poder; apreciar, em certo grau, o
maravilhoso trabalho de suas leis, sem dúvida, tudo isso deve ser uma maneira
agradável e aceitável de louvar o Altíssimo, a quem a ignorância não pode ser mais
grata que o conhecimento”.[Nota 27]

Todas essas surpreendentes informações sobre o universo são, de fato, demais para a
nossa mente, e só revelam a ex-tensão de algo que foi feito pelo nosso Deus criador.
Ainda assim, eu sigo a afirmação de Tomás de Aquino, que disse: “O máximo que
conhecemos de Deus é nada em relação ao que ele é”.[Nota 28]
Mas, ao mesmo tempo, tudo isso nos oferece uma sólida segurança, pois o Deus que
criou todas essas coisas é o mesmo que está com os ouvidos inclinados e as mãos
estendidas nos esperando diariamente no lugar secreto.
Isaac Newton (1642-1727) foi considerado um dos mais influentes cientistas que já
existiu. Foi sepultado na Abadia de Westminster como um herói nacional inglês. Cristão
convicto, Newton fez uma afirmação vibrante:

Eu posso pegar meu telescópio e olhar milhões de quilômetros no espaço, mas posso
deixá-lo de lado, ir ao meu quarto, fechar a porta, ajoelhar-me em fervente oração e,
assim, enxergar mais do céu e chegar mais perto de Deus do que conseguiria com
todos os telescópios e agências materiais do mundo.[Nota 29]

A oração me faz conhecer Deus de uma maneira que a ciência jamais vai poder
conhecer, e me conecta com ele.
Portanto, quando orar, lembre-se que o seu contato é o Deus infinitamente poderoso e
criador do universo. Como proclamou o profeta Daniel: “Todos os povos da terra são
como nada diante dele. Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os
habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão nem de dizer-lhe: ‘O que
fizeste?’” (Dn 4.35).
Ao crer nisto, nada mais pode ser impossível. Não há doença que ele não cure e nem
problema que ele não resolva. Não existe crise que possa deter a sua mão nem dor que ele
não possa aliviar. Não há tempestade que ele não possa controlar nem exércitos que ele
não possa vencer. Ele está acima de governos, de reis, presidentes, atletas, artistas,
multinacionais e todos os recursos da terra, como escreveu o profeta Isaías: “Ele é o que
está assentado em seu trono, acima da cúpula da terra, cujos habitantes são para ele como
gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para nela
morar” (Is 40.20). Aleluia!
Um relacionamento profundo com o Senhor é algo incrível! Uma vez que a alegria
celestial consiste em estar na presença do Senhor, sem qualquer pecado a obstruir-nos,
certamente buscar a presença dele agora tem que ser aquilo que mais ansiamos, e as
portas da sala do trono de Deus estão abertas para isso. Que possamos fazer valer a
orientação do autor do livro de Hebreus, que aconselhou: “Cheguemos, pois, com
confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a
fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4.16).

Conclusão
A oração nos conecta ao céu, e a terra deixa de ser um limite. Ela nos leva ao lugar onde
Deus está (Hb 4.16), e ele, por sua vez, inclina os seus ouvidos para nos ouvir (1Pe 3.12) e
move os seus braços com as palavras que fluem do nosso coração. Os anjos do céu se
mobilizam na expectativa de atender o comando de Deus (Dn 9.20-23) e os demônios, no
inferno, estremecem diante da resposta do Senhor.
Portanto, querido leitor, ouse fazer orações compatíveis com a grandeza de Deus; ouse
mudar sua própria vida por meio da oração; ouse mudar a realidade de vidas por meio de
orações intercessórias; ouse orar sabendo que o Deus todo-poderoso está disposto a ouvi-
lo.
Notas do Capítulo

Nota 1 - ICHTER, Bill H. Se Os hinos falassem. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista (JUERP), s/d, p. 328. [Voltar]
Nota 2 - GRAHAM, Billy. A caminho de casa: vida, fé e como terminar bem. São Paulo: Europa, 2012, p. 16-17.
[Voltar]
Nota 3 - _________ . Minhas últimas palavras. São Paulo: Vida, 2018, p. 179. [Voltar]
Nota 4 - dem, p. 21. [Voltar]
Nota 5 - JACKSON, Dave e Neta. Campeões da fé. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 219-220. [Voltar]
Nota 6 - GRAHAM, Billy. A caminho de casa: vida, fé e como terminar bem. São Paulo: Europa, 2012, p. 16. [Voltar]
Nota 7 - Idem, p. 15. [Voltar]
Nota 8 - Idem, p. 28. [Voltar]
Nota 9 - SPURGEON, Charles H. The new Park Street pulpit, sermon # 15, p. 111. [Voltar]
Nota 10 - Idem. [Voltar]
Nota 11 - MACDONALD, Hope. Jesus, ensina-nos a orar! São Paulo: Mundo Cristão, 1989, p. 10. [Voltar]
Nota 12 - MILLER, Steve. Liderança espiritual segundo Moody. São Paulo: Vida, 2005, p. 94-95. [Voltar]
Nota 13 - Disponível em http://www.webciencia.com/04_terra.htm#ixzz3wIPQ8a JQ. Acessado em 16/07/2019.
[Voltar]
Nota 14 - LOURENÇO, Adauto. Como tudo começou. São José dos Campos: Fiel, 2007, p. 88. [Voltar]
Nota 15 - SHEDD, Russell. Criação e graça. São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 15. [Voltar]
Nota 16 - LOURENÇO, p. 86. [Voltar]
Nota 17 - SHEDD, p. 15. [Voltar]
Nota 18 - LOURENÇO, Adauto. Gênesis 1 e 2. São José dos Campos: Fiel, 2011, p. 140. [Voltar]
Nota 19 - SHEDD, Russell. Criação e graça. São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 15. [Voltar]
Nota 20 - LOURENÇO, Adauto. gênesis 1 e 2. São José dos Campos: Fiel, 2011, p. 151-152. [Voltar]
Nota 21 - BITTON, Yousef. Decifrando a criação. São Paulo: Sêfer, 2013, p. 128. [Voltar]
Nota 22 - PIPER, John. Plena satisfação em Deus. São José dos Campos: Fiel, 2009, p. 22. [Voltar]
Nota 23 - SHEDD, Russell. Criação e graça. São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 14. [Voltar]
Nota 24 - JASTROW, R. Godandthe astronomers. New York: Norton and Company, 1978, p. 116. [Voltar]
Nota 25 - COLLINS, Francis S. A linguagem de Deus. São Paulo: Gente, 2007, p. 233. [Voltar]
Nota 26 - COLLINS, Francis S. A linguagem de Deus. São Paulo: Gente, 2007, p. 233-233. [Voltar]
Nota 27 - Idem, p. 234. [Voltar]
Nota 28 - BLANCHARD John. Pérolas para a vida. São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 39. [Voltar]
Nota 29 - GRAHAM, Billy; CARTER, Jimmy. Você pode mudar o seu mundo: 101 histórias de pessoas que fizeram a
diferença. Rio de Janeiro: Habacuc, 2005, p. 177. [Voltar]
7
Oração, fé
e razão

uando tratamos do tema oração, fé e razão, logo vem à mente o irmão George
Q Müller. Este homem se tornou um pregador do evangelho cujo legado alcançou
gerações, especialmente, por sua fé e extraordinária confiança na prática da oração.
Deus o usou tão expressivamente em sua igreja local — Plymouth Brethren -, que de um
começo simples e com poucas pessoas, a congregação cresceu passando a ter 18.227
membros. Em 1835, ele abriu um orfanato para crianças pobres em Bristol, com o
objetivo de prover cuidado para crianças pobres e sem perspectivas em suas vidas, e
mostrar a todos que Deus é um Pai presente e supriria quaisquer necessidades daqueles
que orassem e confiassem somente nele. Ele ensinou:

Se queremos que a nossa fé se fortaleça, não deveríamos recuar diante das


oportunidades de ela ser provada e, com isso, por meio da provação, ser fortalecida.
[Nota 1]

E sob esta afirmação, Müller vivenciou obras maravilhosas. Houve ocasiões que, em
seu orfanato, não havia nada para as crianças comerem no café da manhã. Ainda assim,
ele conduzia as crianças para o refeitório e depois orava, pedindo a Deus o alimento para
aquela manhã. E de uma forma divina, alguém batia na porta com o alimento necessário
para todas as crianças. Isso ocorreu algumas vezes.
Müller abrigou, educou e treinou mais de dez mil crianças. Cerca de 26 milhões de
dólares foram enviados a ele para a alimentação e a construção de cinco prédios para
orfanatos em resposta às suas orações ao longo de 34 anos.
O autor do prefácio da autobiografia de Müller escreveu que “no seu quarto de oração,
a sós com Deus e a Bíblia, ele cingia os lombos do seu entendimento e polia sua armadura
para as batalhas do dia.”[Nota 2] A impressionante biografia deste homem tornou-se uma
das maiores referências de fé e oração em todos os tempos. Ele documentou cerca de 50
mil respostas de oração em sua vida.[Nota 3] Um amigo de Müller lhe perguntou qual o
período aproximado em que ele investia em oração e a resposta foi:

Algumas horas todos os dias. E ainda vivo no espírito de oração; oro enquanto
ando, enquanto deitado e quando me levanto. Estou constantemente recebendo
respostas. Uma vez persuadido de que certa coisa é justa, continuo a orar até
receber. Nunca deixo de orar!... Milhares de almas têm sido salvas em respostas às
minhas orações... Espero encontrar dezenas de milhares delas no céu... O grande
ponto é nunca deixar de orar antes de receber a resposta.[Nota 4]

Enfim, George Müller, um homem fé, piedoso e fiel a Deus, consequentemente, viveu de
modo extraordinário sob a plataforma da oração.
A história de Müller nos inspira a buscar por uma fé mais ampla e uma vida de oração
mais sólida. Isso não significa que viveremos o que ele viveu, até porque isso limitaria os
planos de Deus para as nossas vidas, mas nos desafia a crer que a fé e a oração, juntas,
podem gerar grandes ações da parte de Deus com as nossas vidas.
Jesus ensinou sobre a importância da fé na prática da oração:

Ao que Jesus lhes disse: — Tenham fé em Deus. Porque em verdade lhes digo que, se
alguém disser a este monte: “Levante-se e jogue-se no mar”, e não duvidar no seu
coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso digo a vocês
que tudo o que pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim será com
vocês.
MARCOS 11.22-24

O que Jesus está transmitindo nesta fala é que a eficácia da oração está sujeita à fé. Isso
porque Deus requer fé da parte dos que oram (Hb 3.12; Hb 11.6; Jr 29.12-14; Tg 1.5-8;
Tg 5.15). A oração não é algo passivo ou algo mágico, mas é uma ação de fé. Já a fé
prepara o caminho e direciona a oração ao coração de Deus, tornando-a eficiente. A fé é a
ponte que conecta a terra ao céu, colocando frente a frente o homem com o seu Criador.
Por isso que eu costumo dizer que a fé e a oração são irmãs inseparáveis.
Certa vez, ouvi o pastor Haroldo Kuzma dizer que “um minuto de oração com fé é
mais eficaz do que dez horas de oração sem fé.” De fato, a oração sem a fé seria apenas
palavras. Seria como usar a chave certa na porta errada: não importa o tempo que você
tente, a porta não se abrirá.
Orar com fé é levar diante de Deus as necessidades e descansar nele, confiantes que ele
responderá de acordo com os planos e propósitos que ele tem (1Jo 5.14-15). Portanto, a
fé é o meio legítimo pelo qual o cristão se apropria do que Deus tem a oferecer. A cura
divina, os dons do Espírito, o chamado ministerial e, principalmente, o perdão de nossos
pecados e o dom da vida eterna são recebidos pela fé. Por isso ela é fundamental na
prática da oração.
A fé é o fundamento do caráter cristão. Sem ela, não temos acesso a Deus. Aquele que
deseja tocá-lo em oração deve acreditar nele e em tudo o que ele faz, conforme escreveu o
autor de Hebreus: “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima
precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam” (Hb 11.6).
Vamos entender melhor sobre a fé.
O teólogo reformado e escritor R. C. Sproul observou que “a fé é um conceito
multifacetado, e os cristãos se esforçam para entender com exatidão o que é fé.”[Nota 5]Já
Charles Spurgeon, em seu sermão sobre fé, falou algo um tanto curioso: “Difícil por ser
fácil. Porque não há nenhuma dificuldade em ter fé. Ela parece obscura justamente por ser
tão clara.”[Nota 6] Em outra ocasião ele disse: “Geralmente cometemos os nossos maiores
erros nos assuntos mais fáceis, achando tudo tão simples, que não pedimos a Deus que
nos guie, e julgando que nossa capacidade será suficiente”.[Nota 7]
São, no mínimo, interessantes estas colocações, pois, de fato, a fé parece ser algo
simples em seu conceito, quando, na realidade, ela é bem mais profunda do que se
imagina.
Etimologicamente, a palavra “fé” tem origem na palavra hebraica emunâ, podendo ser
traduzida tanto por “fé” quanto por “fidelidade”. A expressão grega pistia indica a noção
de acreditar, e o latim fides remete a uma atitude de fidelidade. Ambas as expressões nos
direcionam a crer com fidelidade em Deus. Sendo assim, num ponto de vista prático, a fé
é crer em Deus e ser fiel a ele.
O teólogo e ex-diretor do Wycliffe Hall, em Oxford, W. H Griffith-Tomas (1861-1924)
sugeriu uma definição interessante para a fé:

[A fé] afeta toda a natureza do homem. Começa com a convicção da mente com
base na evidência adequada; continua na confiança do coração ou emoções com
base na convicção e é coroada no consentimento da vontade, por meio do qual a
convicção e a confiança são expressas em conduta.[Nota 8]

Algumas pessoas gostam de se referir a si mesmas como sendo pessoas de fé. Apesar
disso, em muitas dessas pessoas, ao serem consultadas acerca deste assunto, logo se pode
notar que não existe um claro entendimento sobre o que efetiva-mente significa ser “uma
pessoa de fé”. Para muitos cristãos, o termo está somente associado à limitada ideia de se
estar inserido em uma igreja local, crendo nos ensinamentos expostos e aguardando o
encontro com Deus na eternidade.
Embora a fé cristã envolva os pontos citados ao final do parágrafo anterior, eu entendo
que a melhor compreensão acerca dela nos conduz também a uma plena apreciação do
que realmente seja a vida cristã, e isso envolve, além da alegria de pertencer a uma igreja
local e aguardar esperançosamente a vida eterna, o amor a Deus acima de todas as coisas,
o amor ao próximo e a si mesmo, andar sobrenaturalmente à medida que, fielmente,
obedecemos a Deus, e, definitivamente, jamais desanimar, pois a fé reconhece a soberania
de Deus sobre todas as coisas e descansa em seus cuidados e propósitos.
Outro aspecto importante a ser abordado é que muitos ensinos sobre a fé têm limitado
sua aplicação somente à ideia de receber algo de Deus por meio do seu uso, como, por
exemplo: “Tenha fé para receber sua vitória!” Embora a fé seja, certa-mente, o meio pelo
qual Deus abençoa seu povo, conduzindo-o a vitórias, o campo de ação da fé é mais
abrangente... A começar pela afirmação de que o homem não é capaz de alcançar nenhum
conhecimento salvífico sem a fé na graça de Cristo.
O pecador é justificado pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Paulo
ensinou: “[...] pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto (a salvação) não vem de vós, é
dom de Deus; não (vem) de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). O doutor
Alister McGrath, professor de Teologia em Cambridge e Oxford, compartilhou que “a fé,
por sua vez, nos une ao Cristo ressurreto e coloca à nossa disposição tudo que Jesus
conquistou por meio da obediência e da ressurreição, incluindo o perdão, a graça e a vida
eterna.”[Nota 9] Na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo ensinou:

Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da
qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo
para todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos
da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da
redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação
mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia
deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; mas, no presente,
demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em
Jesus.
ROMANOS 3.21-26

Doutor McGrath reafirma que, por meio da fé, “o cristão passa a estar em Cristo.
Estabelece-se um vínculo dinâmico entre o cristão e o Cristo que salva, trazendo em sua
esteira a participação em tudo o que ele conquistou para nós por meio de sua
obediência.”[Nota 10] O conhecido teólogo latino Emilio Antonio Nuñez, em sua preleção
na abertura do Segundo Congresso Latino-americano de Evangelização — Clade II, em
outubro de 1979, disse: “A fé é a mão que recebe a dádiva de Deus em Jesus Cristo... Por
meio da fé fazemos nossos os benefícios de Cristo crucificado e ressuscitado. É nesses
benefícios que descansa nossa segurança eterna de salvação.” O apóstolo Paulo, movido
por sua fé, fez a seguinte declaração em sua carta aos Gálatas:

Sabemos que ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus
Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé
em Cristo, e não pela prática da lei, porque pela prática da lei ninguém será
justificado. Se, porém, procurando ser justificados em Cristo descobrimos que nós
mesmos somos pecadores, será Cristo então ministro do pecado? De modo algum!
Se reconstruo o que destruí, provo que sou transgressor. Pois, por meio da lei eu
morri para a lei, a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo. Assim, já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a
pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
GÁLATAS 2.16-22

Outro ponto importante sobre a fé é que ela impulsiona o cristão para a santificação. A
santificação é o processo que nos permite nos assemelharmos à natureza de Cristo. A fé só
tem sentido quando ela nos aproxima de Deus e molda a nossa maneira de viver de
acordo com o evangelho, tornando vivo em nós o verdadeiro cristianismo.
Isso nos remete a duas realidades: primeiro, a remoção gradual da impureza e da
corrupção da natureza humana (Rm 6.6; Gl 5.24); segundo, o desenvolvimento gradual
de uma nova vida consagrada a Cristo Jesus (Rm 6.4-5; Cl 2.12; Cl 3.1-2; Gl 2.19).
O próprio Cristo ensinou: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo,
tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Aqui vemos três exigências de Jesus que
só podem ser cumpridas por meio da fé.

• Negar a si mesmo: mais do que esperar os benefícios de Cristo, a fé promove a ação


sacrificial do homem, objetivando torná-lo um discípulo de Jesus. O “negar a si
mesmo” consiste numa batalha travada contra a nossa natureza pecaminosa e
nossos desejos ligados ao mundo, “porque tudo o que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do
Pai, mas do mundo” (1Jo 2.16). O objetivo da autonegação é desfazer o velho
homem: “Sabemos isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que
o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6.6); e
vivificar o novo homem em Cristo: “E vos revistais do novo homem, que segundo
Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.24).
• Tomar diariamente a sua cruz: está falando de um processo de santificação no qual
diariamente assumimos o preço na carne de vencer o pecado. Trata-se de uma
crucificação diária com o propósito de vencer aquilo que nos faz errar o alvo. “E os
que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl
5.24); “Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o
corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6.6).
• Segui-lo: este é um convite para sermos iguais a ele. Imitá-lo. Seguir seus passos.
Buscar o conhecimento da sua Palavra e vivê-la sem reservas. Trilhar pelos seus
caminhos e fazer o que ele fez. Aprender com ele, tornando-se seus discípulos.
Sermos suas sombras e continuarmos sua missão.

A fé nos impulsiona a ser como Cristo, seguindo-o, buscando-o, obedecendo-o,


temendo-o, adorando-o, imitando-o, confiando a ele tudo que nos diz respeito. O
reformador Martinho Lutero já dizia que “a fé une a alma a Cristo, tal como a noiva ao
seu noivo.[Nota 11] Com este exemplo, Lutero mostra um vínculo harmônico que a fé
produz entre nós e Cristo.
Se a fé que você diz ter não o leva a ter uma vida com e como Cristo, então o que você
tem é apenas um sentimento religioso.
A fé também é alimentada pela Palavra de Deus.
Em Mateus 8.5-13, um centurião pediu para que Cristo liberasse a sua palavra de cura
para seu criado que jazia em sua casa, paralítico e violentamente atormentado, e isso seria
o suficiente para que a cura ocorresse — o que de fato aconteceu.
Lucas 5.1-8 mostra que Pedro trabalhou a noite inteira, mas não havia pescado
absolutamente nada. No entanto, quando Jesus o orientou a ir a alto-mar e lançar a rede,
Pedro lhe respondeu: “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas,
sobre a tua palavra, lançarei a rede” (Lc 5.5). Mais tarde, Jesus vinha andando por sobre
as águas em direção ao barco onde os discípulos estavam (Mt 14. 22-29). Com a fé
firmada na Palavra de Cristo, talvez pela experiência da pesca maravilhosa, Pedro disse:
“Senhor! Se és tu, manda-me ir ao teu encontro por sobre as águas” (Mt 14.28). Bastou
apenas Jesus dizer “vem” e isso foi o suficiente para fazer com que Pedro saísse do barco e
caminhasse sobre as águas.
O problema nesta história de Pedro começou quando ele reparou na força dos ventos
(Mt 14.30) e esqueceu que foi pela Palavra de Jesus que alguns passos sobre as águas se
tornaram possíveis. Quando se troca a fé na Palavra de Cristo pelo cenário turbulento, o
sobrenatural que emana de Cristo deixa de fluir.
A fé precisa estar imune a contaminações externas. O mundo no qual vivemos conspira
contra a fé do cristão e procura, contundentemente, diversas formas de contaminá-la. A
melhor forma de manter a imunidade da fé é buscar a Palavra de Deus. Nas Escrituras a
fé é fortalecida, como esclareceu o querido doutor Russell Shedd:

A fé que crê que Deus fará o que se pede não nasce às pressas, não nasce em meio à
poeira das ruas e ao ruído das multidões. Ela nasce no lugar secreto e, para que se
desenvolva, é necessário tempo, o abrir da Palavra e um coração reverente. Num
coração assim entrará uma fé simples, porém poderosa, de que o que for pedido será
realmente realizado. Nosso Senhor declarou: “Tudo é possível ao que crê”.[Nota 12]
MARCOS 9.23

E, por último, a fé exige movimentação. Eu costumo com-parar a fé com um músculo


do nosso corpo que precisa ser movimentado para que não se atrofie. O exercício
constante da fé faz com que ela seja fortalecida e cresça de forma saudável. A Bíblia
ensina sobre os sinais (gr. semeion) prometidos por Cristo àqueles que crerem e
anunciarem a sua Palavra:

E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão os demônios;
falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera,
não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora, o
Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de
Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o
Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém.
MARCOS 16.17-20

O critério número um para que os sinais prometidos por Cristo sejam manifestados em
seus discípulos é crer. Crer que tudo que Cristo disse que aconteceria, como sinais da sua
presença no trabalho dos discípulos, realmente é real.
O segundo critério é movimentar-se. Para que os sinais prometidos por Cristo possam
se revelar em seus discípulos, é necessário transformar o crer em ação. O texto diz que
“estes sinais seguirão os que crerem”. Para seguir, é necessário haver movimentação. Não
se segue o que fica estagnado. A movimentação é a prática daquilo em que se crê.
A junção do “crer” e do “agir” gera os sinais prometidos por Cristo. O texto mostra
que “tendo eles partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e
confirmando a palavra com os sinais que se seguiram” (Mc 16.20) . Os sinais seguem
aqueles que se movimentam pela fé nas palavras de Cristo.
A fé supera a razão, mas não a ignora.
O fideísmo é um sistema de doutrinas defendido no século 19 por Albert Sabatier,
baseado na opinião de que os pilares da fé cristã são inalcançáveis à razão e, portanto, a
fé deve ser fundamentada apenas sob uma perspectiva espiritual. O apologista Boulenger,
em seu livro Manual de apologética, expressou que o fideísmo afirma ou exagera na
“incapacidade da razão”, e que a existência de Deus não pode ou pode? ser demonstrada
por meio da razão.[Nota 13] Já Sabatier comentou que “Deus não é um fenômeno que se
possa observar fora de si, nem uma verdade demonstrável por um racionalismo lógico.
Quem o não sente no coração, jamais o encontrará fora. O objeto do conhecimento
religioso só se revela pelo próprio conhecimento religioso”.[Nota 14]
Embora o conceito fideísta pareça razoável a muitos cristãos ao redor do mundo, sinto-
me particularmente impelido a recuar diante da ideia de que a razão é dispensável no que
tange à fé cristã. Apoio a ideia que Spurgeon compartilhou em seu livro All of grace (
Toda a graça): “A fé não é cega — ela começa em fatos se sabe sabe serem verdadeiros -;
não é teórica ou romântica — a fé confia inteiramente e arrisca seu próprio destino na
verdade da revelação”.[Nota 15]
A fé não é cega, pois ela consegue enxergar os efeitos da obra de Cristo na cruz, assim
como todas as promessas de Deus para o seu povo, descritas nas Escrituras. O que isso
significa? Que se Deus prometeu segurança, minha fé me faz ter a plena confiança nisto, e
andarei seguro. Se Deus prometeu provisão, a fé me faz esperar a provisão porque o
Senhor prometeu. Eu não sei de que forma ela virá, mas eu sei que posso esperá-la porque
ele prometeu. Se o Senhor prometeu a vida eterna, minha fé me faz descansar e confiar
nisto. Eu não posso ver a minha casa celestial, mas eu sei que ela está lá, pronta, porque
Cristo disse que nele eu encontraria a vida eterna em um lar eterno. Minha fé nessas
coisas não é cega, mas está alicerçada na Palavra de Deus, sabendo que ele existe.
Creio que a fé supera a razão, mas não a ignora. A razão é um fator importante para a
compreensão de Deus, não do que ele realmente seja em sua plenitude, pois, de fato, não
há como o intelecto humano e suas limitadas premissas mensurarem a grandeza do Deus
criador. No entanto, a razão nos permite assimilar alguns dos seus atributos, sua
divindade, majestade, domínio e propósitos para com a sua criação, assim como também
a necessidade que temos de nos aproximar dele. A razão descortina, por meio da
iluminação que vem do Espírito Santo, a compreensão da condição do homem sem Deus,
aflorando a necessidade de buscá-lo.
Toda a criação, assim como a vida, morte e ressurreição de Jesus, o Filho unigênito de
Deus, não são assuntos meramente espirituais, mas históricos e literais. A nossa fé se
baseia na literalidade desses fatos. Por exemplo: se oramos pelos doentes e enfermos, é
porque temos fé que Cristo efetua a cura por meio da oração. Mas essa fé que gera a cura
de doenças e enfermidades está baseada na Palavra de Deus, que revela que a cura faz
parte dos efeitos gerados na morte e ressurreição de Cristo (Is 53.4-5), comprovado no
ministério dos apóstolos, conforme relatos do historiador Lucas no livro de Atos dos
apóstolos.
As próprias Escrituras mostram que somos chamados a amar a Deus tanto com os
nossos corações como com as nossas mentes, conforme escrito em Marcos 12.30:
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo
o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.” O amor a
Deus é algo emocional, mas também precisa ser racional, e esta verdade proporciona um
equilíbrio necessário.
Indubitavelmente, a fé em Deus não vem porque somos intelectualmente superiores aos
outros, ou porque tivemos a sorte de nascermos com uma personalidade crédula. John
Stott, em seu livro Crer é também pensar, comentou que “Deus fez o homem à sua
própria imagem, e um dos aspectos mais nobres da semelhança de Deus no homem é a
capacidade de pensar.”[Nota 16] Ele ainda escreveu: [...]

se não usamos a mente que Deus nos deu, condenamo-nos à superficialidade


espiritual, impedindo-nos de alcançar muitas das riquezas da graça de Deus. Ao
mesmo tempo, o conhecimento nos é dado para ser usado, para nos levar a cultuar
melhor a Deus, nos conduzir a uma fé maior, a uma santidade mais profunda, a um
melhor serviço.[Nota 17]

O arqueólogo cristão e doutor Rodrigo Silva expressou sua opinião sobre esse tema da
seguinte forma:

Não creio que a razão possa substituir a fé ou ter prioridade em relação a ela, mas
também não vejo como poderia compreender e aceitar as proposições da fé
(especialmente aquelas reveladas por Deus) senão por meio do exercício das
habilidades racionais.[Nota 18]

Um dos grandes nomes da história da ciência foi o físico, matemático e astrônomo


Galileu Galilei, que acreditava convictamente em Deus. Galileu equilibrou a questão da fé
e da razão da seguinte maneira:

Não me sinto forçado a acreditar que o mesmo Deus que nos agraciou com senso,
razão e intelecto, pretendeu que renunciássemos a seu uso.[Nota 19]

Talvez, o desafio seja descobrir como a fé e a razão se inter-relacionam no processo


pelo qual a fé cristã é justificada ou estabelecida como verdadeira. Para melhor
entendimento, vamos definir o papel de cada uma.

Primeiro: fé
Fé é garantia em Deus. O autor do livro de Hebreus apresentou uma definição de fé como
sendo o “firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não
veem” (Hb 11.1). Analisemos:
A palavra hypostasis (traduzida como “firme fundamento”) indica uma realidade
inquestionável e firmemente estabelecida. O termo era utilizado para um título de
propriedade, ou seja, quando alguém comprava um terreno, ele recebia este título de
propriedade, garantindo que aquele terreno agora pertencia à pessoa que o comprou. O
que o autor de Hebreus estava querendo transmitir aos leitores acerca da fé é que ela se
trata de algo substancial, concreto, sólido, garantido. Por isso algumas traduções utilizam
o termo “firme fundamento”.
A palavra “esperam” não implica em um mero pensamento positivo como, por
exemplo: “Espero que o tempo esteja bom na próxima semana.” Em vez disso, o termo
indica uma expectativa confiante que se tem quando existe uma boa razão para acreditar.
Portanto, a palavra “esperam” indica uma garantia profundamente enraizada.
A palavra “prova” ( elegcho) tem o sentido de evidência, verificação, modo pelo qual
algo é provado ou testado. Mas também pode ser definida como sendo uma “convicção
interior”.[Nota 20]
Já a frase “as coisas que não veem” confirma que a fé não é baseada naquilo que você
vê, mas naquilo que você compreende. Tentarei exemplificar a partir das ideias a seguir.
Primeiro: a existência de Deus não pode ser provada de modo direto por meio da
ciência. No entanto, de modo indireto, sim. Este modo indireto está relacionado a
algumas descobertas e evidências históricas, arqueológicas; enfim, por meio de braços da
ciência que comprovam boa parte das histórias bíblicas. Entretanto, Deus é Deus e não
precisa da ciência para provar que ele existe. O Criador não depende em nada da sua
criação, tampouco para validar sua existência. Ele é real e você pode senti-lo ao abrir o
seu coração para ele.
Segundo: a ideia é bastante simples. Imagine um amigo seu que está em outro país e liga
para compartilhar contigo uma informação do seu interesse. Você vai acreditar no que ele
está falando porque você sabe que ele existe, mesmo não o vendo. O relacionamento do
cristão com Deus parte da mesma ideia. Ele está em seu glorioso trono, mas fala
diretamente com você por meio das Escrituras Sagradas. A alma enxerga aquilo que os
seus olhos físicos não conseguem. Deus e sua Palavra são tão reais quanto o contato que
você faz com um amigo pelo celular.
O famoso pastor e escritor A.W. Tozer comentou:

Há certo provérbio antigo que diz: “Ver é crer”. Obviamente, há crenças que
dependem da visão, porém elas são apenas conclusões de testemunho dos sentidos.
A fé do Novo Testamento, por outro lado, está voltada ao invisível, diferindo-a de
qualquer outro tipo de crença existente.[Nota 21]

Segundo: razão
A razão é uma capacidade que Deus nos deu, que nos permite tirar conclusões e
inferências de outras informações, como as informações que ele nos deu em sua Palavra.
Os professores de filosofia do Boston College, Peter Kreeft e Ronald K. Tacelli, no livro
Manual de defesa da fé, estabeleceram um conceito muito prático sobre a razão:

Entendo que, a razão consiste em distinguir tudo aquilo que ela própria pode
conhecer. A lógica clássica aristotélica supõe que qualquer verdade pode ser:

a. Podemos compreender, por exemplo, de que material é feita uma estrela apenas por
meio da razão humana, e isso não é parte da revelação divina. Também podemos
compreender por que o universo é tão bem ordenado. A razão humana nos diz que
deve haver uma inteligência sobre-humana por trás da criação do universo. Esse
segundo exemplo está citado na revelação divina, enquanto o primeiro não. Além
disso, podemos compreender qual é o plano de Deus para a salvação da humanidade
apenas por meio da razão humana ou apenas por meio da revelação divina.
b. Com relação ao segundo “ato da mente”, lembramos que podemos saber que o
planeta Plutão existe apenas por meio da razão humana. Isso não é parte da
revelação divina. Também podemos descobrir a existência histórica de Jesus apenas
utilizando a razão, com base em pesquisas históricas. Esta última verdade está
incluída na revelação divina, enquanto que a primeira não está. Entretanto, não
podemos descobrir apenas pela razão que Deus nos ama de tal maneira que deu seu
Filho para morrer por nós. Só podemos saber disso pela fé na revelação divina.
c. Por fim, podemos provar, por exemplo, o teorema de Pitágoras apenas pela razão
humana, pois este não consta da revelação de Deus. Também só pela razão podemos
provar que a alma não morre com o corpo. Isto é possível usando bons argumentos
filosóficos. Essa doutrina também está incluída na revelação divina. Entretanto, não
podemos provar que Deus é trino; podemos apenas crer, porque ele nos revelou essa
verdade.

O ato da razão, distinto do objeto da razão, inclui todos os atos pessoais e


subjetivos da mente por meio dos quais (a) compreendemos, (b) descobrimos e (c)
provamos qualquer verdade.[Nota 22]

A razão, embora desgastada e influenciada pelos desastres provocados pelo pecado, nos
oferece certo alicerce que nos proporciona a compreensão acerca da fé e de seus efeitos na
vida do cristão. A fé pode ser demonstrada pela razão, seja dedutivamente (a partir de
premissas teológicas) ou indutivamente (a partir de experiências comuns).

Boas amigas
A conclusão que cheguei sobre a relação da fé com a razão é que elas são boas amigas e
andam sempre juntas, embora tenham atribuições diferentes. O teólogo e pensador
Agostinho comentou sobre a coerência da fé e da razão da seguinte forma:

Longe de nós pensarmos que a fé nos leva a rejeitar e a fugir da razão, dado que
nem sequer poderíamos acreditar se não tivéssemos almas racionais. É próprio da
razão reconhecer que a fé deve preceder a razão no tocante a certas verdades que
fazem parte da doutrina de salvação e de cuja compreensão não seremos ainda
capazes, embora o sejamos mais tarde. E isto porque, purificando o coração, a fé
apreende e transporta consigo a luz da grande razão... Por isso, parece muito
razoável que a fé preceda a razão... É a razão que nos persuade de que a fé deve
preceder certa grande razão; por isso, por mínima que seja, essa primeira razão é
prévia à fé.[Nota 23]

Embora exista uma amizade entre elas e uma parceria necessária, a fé é superior à
razão. Na verdade, a fé dá sentido à razão pela plena certeza da verdade da Palavra de
Deus. Como disse Boyer: “A fé é uma preparação para o entendimento daquilo em que se
acredita. Ela purifica a mente.”[Nota 24] Creio que a racionalidade humana em relação à fé
precisa estar exatamente na compreensão lógica de que a fé precisa repousar no Deus
todo-poderoso, portanto, no âmbito sobrenatural, como ensina o autor de Hebreus (Hb
11.1). Ou seja, o pensamento racional do cristão é conduzir a sua fé numa perspectiva
sobrenatural, confiando em seus resultados no natural.
Portanto, a fé supera a razão, e isso porque ela se baseia em Deus e tudo o que diz
respeito a ele está muito além da nossa compressão. E só a fé pode alcançar um pouco
desta gloriosa realidade de Deus. Já a razão, esta não pode ser ignorada, pois ela nos traz
as conclusões de que sem a fé não podemos experimentar um pouco deste tão grande
Deus. Sendo assim, a melhor definição é a seguinte: a fé nos faz alcançar o que a nossa
razão não consegue e assimila o que a nossa razão não compreende.

Conclusão
A proposta da vida cristã não tem a ver com uma vida autos-suficiente. Ao contrário
disto, se trata de uma vida de confiança plena e dependente de Deus. Para isso, a fé é
fundamental. A partir de então, as orações feitas com fé fazem Deus se movimentar. E
quando o Senhor se movimenta, não há nada que possa detê-lo.
Querido leitor, desenvolva um nível de fé que lhe permita subir até a sala do trono de
Deus, e, ao olhar para ele, você possa chamá-lo de amigo! Não aceite nada menos do que
isso.
Ore com fé!
Notas do Capítulo

Nota 1 - GROESCHEL, Craig. Esperança na escuridão. São Paulo: São Paulo: Vida, 2019, p. 83. [Voltar]
Nota 2 - MÜLLER, George. A autobiografia de George Müller. Londrina: IDE, 2004, p. 13. [Voltar]
Nota 3 - KENDRICK, Stephen e Alex. Plano de batalha para oração. Niterói: BV Books, 2016, p. 122. [Voltar]
Nota 4 - BOYER. Orlando. Heróis da fé. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 124. [Voltar]
Nota 5 - SPROUL, R.C. O que é fé? São José dos Campos: Fiel, 2013, p. 7. [Voltar]
Nota 6 - SPURGEON, Charles. The Metropolitan Tabernacle pulpit. Londres: Passmore & Alabaster, Londres, 1895, p.
101. [Voltar]
Nota 7 - __________ . Um ministério ideal. São Paulo: PES, 1991, Vol. 1, p. 53. [Voltar]
Nota 8 - MCGRATH, Alister. O deus de Dawkins. São Paulo: Shedd Publicações, 2008, p. 109. [Voltar]
Nota 9 - MCGRATH, Alister. Apologética cristã no século XXI. São Paulo: Vida, 2008, p. 107. [Voltar]
Nota 10 - Idem, p. 108. [Voltar]
Nota 11 - Luther’s works (54 v.: Augsburg Press, 1974-90), v. 31, p. 351. [Voltar]
Nota 12 - SHEDD, Russel P. A oração e o preparo de líderes. São Paulo: Shedd Publicações, 2001, p. 20-21. [Voltar]
Nota 13 - BOULENGER, A. Manual de apologética. Porto: Imprensa Moderna, 1950, p. 34. [Voltar]
Nota 14 - Idem, p. 14-15. [Voltar]
Nota 15 - SPURGEON, Charles. All of grace. Illinois, Chicago: Moody Press, 1984, p. 47. [Voltar]
Nota 16 - STOTT, John. Crer é também pensar: A importância da mente cristã. São Paulo: ABU, 1994, p. 8. [Voltar]
Nota 17 - Idem, p. 43 [Voltar]
Nota 18 - SILVA, Rodrigo. O ceticismo da fé. Barueri: Ágape, 2018, p. 92. [Voltar]
Nota 19 - GALILEU. Carta à grã-duquesa Cristina, 1615. [Voltar]
Nota 20 - GINGRICH, F. Wilbur e DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007,
p. 70. [Voltar]
Nota 21 - TOZER, A. W. Vivendo como um cristão: os ensinamentos de 1Pedro. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 2017,
p. 14-15. [Voltar]
Nota 22 - KREEFT, Peter e TACELLI, Ronald K. Manual de defesa da fé. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2008, p. 43-
44. [Voltar]
Nota 23 - Razão e fé no pensamento de Santo Agostinho, Manoel da Costa Freitas (in Didaskalia, fasc. 1 e 2, 1999,
p.253. [Voltar]
Nota 24 - Idem, p. 253. [Voltar]
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Conheça outra obra de ANDRÉ SCHALITT

A VERDADEIRA BATALHA ESPIRITUAL


Muitos erros e absurdos têm sido ensinados sobre batalha
espiritual, maldição hereditária, cobertura espiritual,
retaliação demoníaca e doutrinas semelhantes. Neste livro,
que tem prefácio de Hernandes Dias Lopes e Josué
Valandro Jr., a verdade do evangelho destrói de forma
definitiva todo engano sobre a guerra espiritual — que é
real, mas precisa ser vivida de forma correta e bíblica.

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Sobre o autor

André Schalitt é membro da equipe pastoral da Igreja Batista Atitude, com sede na Barra
da Tijuca (RJ). É professor de Teologia, pesquisador nas áreas de liderança e crescimento
de igrejas, escritor e palestrante. Atua especificamente no ensino teológico e na formação
de líderes, além de promover treinamentos para líderes e ações teológicas no Brasil e no
exterior. Casado com Patrícia e pai de Luísa.
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