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O encontro diário com Cristo e a reflexão sobre Sua palavra nos conduz
para além do mero conhecimento, para uma atitude de amizade,
confiança e amor. A autêntica meditação cristã não é feita em primeiro
lugar para dela tirar proveito. Se isto acontecer, é uma coisa a mais,
porém ela tende a uma única finalidade: aumentar a comunhão com
Deus.1
Alguns dentre vós dizem: ‘Não sou monge, tenho mulher, filhos e
negócios do meu lar pelos quais sou responsável’. Mas aí está o que
destrói tudo: você estima a leitura das divinas Escrituras reservada só
aos monges, quando ela seria bem mais necessária a você que a eles.
Quem vive no mundo e aí recebe feridas a cada dia tem muito maior
necessidade de remédios. Também há um mal maior do que não ler, é
acreditar que a leitura é vã e inútil. Conclui-se finalmente que tal
maneira de viver sem lectio é uma prática inspirada por satanás.2
1
Enzo Bianchi, in: Lectio divina ontem e hoje, p. 44.
2
São João Crisóstomo, apud: Lectio divina ontem e hoje, p. 64.
Lectio divina
I. A oração vocal
2700. Pela sua Palavra, Deus fala ao homem. É nas palavras, mentais ou vocais,
que a nossa oração toma corpo. Mas o mais importante é a presença do
coração Àquele a Quem falamos na oração. «Que a nossa oração seja atendida
não depende da quantidade de palavras, mas do fervor das nossas almas».
II. A meditação
III. A contemplação
A contemplação procura «Aquele que o meu coração ama» (Ct 1,7), que é Jesus,
e n'Ele o Pai. Ele é procurado, porque desejá-Lo é sempre o princípio do amor, e
é procurado na fé pura, esta fé que nos faz nascer d'Ele e viver n'Ele. Nesta
modalidade de oração pode, ainda, meditar-se; todavia, o olhar vai todo para o
Senhor.
2715. A contemplação é o olhar da fé, fixado em Jesus. «Eu olho para Ele e Ele
olha para mim» – dizia, no tempo do seu santo Cura, um camponês d'Ars em
oração diante do sacrário. Esta atenção a Ele é renúncia ao «eu». O seu olhar
purifica o coração. A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos do nosso coração;
ensina-nos a ver tudo à luz da sua verdade e da sua compaixão para com todos
os homens. A contemplação dirige também o seu olhar para os mistérios da
vida de Cristo. E assim aprende «o conhecimento íntimo do Senhor» para mais
O amar e seguir.
2720. A Igreja convida os fiéis para uma oração regular: orações quotidianas,
Liturgia das Horas, Eucaristia dominical, festas do ano litúrgico.
25. É necessário, por isso, que todos os clérigos e sobretudo os sacerdotes de Cristo e
outros que, como os diáconos e os catequistas, se consagram legìtimamente ao
ministério da palavra, mantenham um contacto íntimo com as Escrituras, mediante a
leitura assídua e o estudo acurado, a fim de que nenhum deles se torne «pregador vão
e superficial da palavra de Deus, por não a ouvir de dentro», tendo, como têm, a
obrigação de comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da
palavra divina, sobretudo na sagrada Liturgia. Do mesmo modo, o sagrado Concílio
exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os religiosos, a que aprendam
«a sublime ciência de Jesus Cristo» (Fil. 3,8) com a leitura frequente das divinas
Escrituras, porque «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo». Debrucem-se,
pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de
palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão
espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos
Lectio divina
A leitura espiritual
152. Há uma modalidade concreta para escutarmos aquilo que o Senhor nos quer dizer
na sua Palavra e nos deixarmos transformar pelo Espírito: designamo-la por «lectio 6
divina». Consiste na leitura da Palavra de Deus num tempo de oração, para lhe
permitir que nos ilumine e renove. Esta leitura orante da Bíblia não está separada do
estudo que o pregador realiza para individuar a mensagem central do texto; antes pelo
contrário, é dela que deve partir para procurar descobrir aquilo que essa mesma
mensagem tem a dizer à sua própria vida. A leitura espiritual dum texto deve partir do
seu sentido literal. Caso contrário, uma pessoa facilmente fará o texto dizer o que lhe
convém, o que serve para confirmar as suas próprias decisões, o que se adapta aos
seus próprios esquemas mentais. E isto seria, em última análise, usar o sagrado para
proveito próprio e passar esta confusão para o povo de Deus. Nunca devemos
esquecer-nos de que, por vezes, «também Satanás se disfarça em anjo de luz» (2
Cor 11, 14).
153. Na presença de Deus, numa leitura tranquila do texto, é bom perguntar-se, por
exemplo: «Senhor, a mim que me diz este texto? Com esta mensagem, que quereis
mudar na minha vida? Que é que me dá fastídio neste texto? Porque é que isto não me
interessa?»; ou então: «De que gosto? Em que me estimula esta Palavra? Que me atrai?
E porque me atrai?». Quando se procura ouvir o Senhor, é normal ter tentações. Uma
delas é simplesmente sentir-se chateado e acabrunhado e dar tudo por encerrado;
outra tentação muito comum é começar a pensar naquilo que o texto diz aos outros,
para evitar de o aplicar à própria vida. Acontece também começar a procurar
desculpas, que nos permitam diluir a mensagem específica do texto. Outras vezes
pensamos que Deus nos exige uma decisão demasiado grande, que ainda não estamos
em condições de tomar. Isto leva muitas pessoas a perderem a alegria do encontro com
a Palavra, mas isso significaria esquecer que ninguém é mais paciente do que Deus Pai,
ninguém compreende e sabe esperar como Ele. Deus convida sempre a dar um passo
mais, mas não exige uma resposta completa, se ainda não percorremos o caminho que
a torna possível. Apenas quer que olhemos com sinceridade a nossa vida e a
apresentemos sem fingimento diante dos seus olhos, que estejamos dispostos a
continuar a crescer, e peçamos a Ele o que ainda não podemos conseguir.
Quando você voltar para casa, deveria tomar a Escritura e com sua
esposa e seus filhos relerem e repetirem juntos a palavra ouvida (na
igreja); [...] Volte para casa e prepare duas mesas, uma com os pratos
dos alimentos e outra com os pratos da Escritura; que o marido repita o
que foi lido na igreja... Faça de sua casa uma igreja.3
[...] podes ver como os ditos degraus se ligam uns aos outros entre si. E
como um precede a outro, tanto no tempo, como na causalidade.
Qual primeiro fundamento, vem a leitura. Ela fornece a matéria e nos
leva à meditação.
A meditação, por sua vez, perscruta com maior diligência o que se deve
desejar e, como que cavando, acha e mostra o tesouro. Mas, como não
pode por si mesma obtê-lo, leva-nos à oração.
A oração, elevando-se a Deus com todas as suas forças, obtém o tesouro
desejável, a suavidade da contemplação.
Sobrevindo a contemplação, ela recompensa o trabalho dos três
degraus referidos, embriagando a alma sedenta com o orvalho da
doçura celeste.
A leitura é feita segundo um exercício mais exterior, a meditação,
segundo uma inteligência mais interior, a oração, segundo o desejo; a
contemplação passa acima de todo sentido.
O primeiro degrau é dos principiantes; o segundo, dos que progridem; o
terceiro, dos fervorosos; o quarto, dos bem-aventurados.
Esses degraus são de tal modo ligados, e de tal forma servem uns aos
outros, que os precedentes pouco ou nada aproveitam sem os seguintes,
e os seguintes, por sua vez, nunca ou só raramente podem ser
adquiridos sem os precedentes.
3
São João Crisóstomo, apud: Lectio divina ontem e hoje, p. 41 e 65.
4
In: Lectio divina ontem e hoje, p. 28-29.
Lectio divina
Acende tua santa luz no meu coração, a fim de que meu espírito penetre para
além das palavras escritas com tinta. 8
Concede, ó meu Senhor, por tua graça e tua misericórdia, que a tua lembrança
nunca desapareça do meu coração, nem de dia nem de noite. Amém.
Filoxênio de Mabboug5
5
In: Uma Lectio divina na Bíblia, na História de Israel, na Liturgia.
Lectio divina www.cursoscatolicos.com.br
Lectio Meditatio Oratio Contemplatio
O que Leia a passagem da Escritura Reflita, saboreie as palavras. Responda espontaneamente ao Descanse em Deus.
fazer pela primeira vez. Permita que tenham eco em seu continuar a escutar a frase,
coração. sentença ou palavra.
Como Antes de iniciar a Lectio, reze Fique atento ao que fala ao seu Uma vez que Deus falou Simplesmente “permaneça com” a
fazer pedindo a luz do Espírito Santo. coração. É hora de “ruminar”, conosco, trata-se agora de presença de Deus, abrindo-se a uma
Escute a leitura com “o ouvido saborear a Palavra de Deus. Na responder. Talvez surja uma escuta mais profunda da Palavra de
do seu coração”. meditação vamos questionando, oração de louvor, Deus.
confrontando a passagem com agradecimento ou petição. Caso se sinta levado de volta às
a nossa vida, por meio do Ofereça essa oração e depois Escrituras, siga a sugestão do
Espírito Santo. retorne à repetição da palavra Espírito.
em seu coração.
O que Que frase, sentença ou mesmo Permita um ou dois minutos de Leia a passagem de novo e Permita a Deus que fale no silêncio.
mais você palavra se destaca para você? silêncio. responda espontaneamente à Permita alguns minutos de silêncio.
pode Comece a repetir essa frase, palavra de Deus. Permita um ou Para estender a Prática: Depois do
fazer sentença ou palavra vez após dois minutos de silêncio. descanso, inclua a frase, sentença ou
vez, permitindo que ela se fixe palavra em sua atividade diária e
profundamente em seu coração. escute-a, reflita sobre ela, reze e
descanse com ela o tempo que puder
durante o dia. “Orai sem cessar”.
Dicas O que fala o texto? Esteja O que diz o texto de forma O que o texto me faz responder O que a Palavra faz em mim? É o
atento aos detalhes: o ambiente, pessoal para mim? Este é o ao Senhor? A oração nasce próprio Deus que age em nossas
o desenrolar dos momento de se colocar diante como fruto da meditação. Os vidas. É permitir a ação de Deus que
acontecimentos, os da Palavra. sentimentos nos levam a dar recebe a nossa oração e nos leva ao
personagens, os diálogos, a Ao invés de ficar voltando ao uma resposta a Deus. Através Seu coração. Na contemplação nós
reação das pessoas; procurando texto a todo o momento, se já o do Espírito Santo, nos é somos impelidos a ser como Cristo.
perceber os seus sentimentos, tivermos no nosso coração as suscitado o louvor, a súplica, a
as questões mais interessantes, coisas ficam mais fáceis. oração penitencial, a oferta.
as palavras e trechos que
chamam mais atenção.
Cuidados Não estamos lendo um livro Não se trata de buscar Lembremos que a presença de Deus
qualquer. Nós estamos lendo as sentimentos. Trata-se de buscar é uma presença ativa. Jesus está
Sagradas Escrituras, que são um uma verdade. A verdade do presente, Se doando a nós. Então,
instrumento para nós amor de Cristo manifestada por permaneçamos nessa presença como
entrarmos em contato com nós. É importante que, quando o evangelista São João, que se
Jesus ressuscitado. Então, nós pegamos um trecho do reclinou no peito do Mestre (cf. Jo
precisamos ler as Sagradas Evangelho, compreendamos que 13, 23). Não sentimos nada, não
Escrituras num sentido nele Cristo pensava em nós pensamos nada, esquecemos de nós;
espiritual, que nos leve ao particularmente. somente miramos e desejamos a
Cristo. Deus.
Lectio divina
A Lectio Divina é uma leitura reflexiva das escrituras. É um método de oração que nos
leva ao significado mais profundo das escrituras e à transformação de nossas vidas. A
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leitura contemplativa das Escrituras é perfeitamente compatível com a interpretação bem
fundada da Bíblia.
[...] como poderemos evitar que, meditando coisas erradas e vãs, se transgridam os
limites constituídos pelos santos Pais, a não ser que sejamos antes instruídos a tal
respeito pela leitura ou pelo ensino?
O ensino, de certo modo, se relaciona com a leitura, o que nos leva habitualmente a
dizer que lemos para nós mesmos ou para os outros, mas também o que ouvimos dos
mestres. 6
Referências
6
Guigo II, cartuxo, in: Lectio divina ontem e hoje, p. 29.