Trabalho em âmbito da disciplina de Arte e Contra Reforma Docente Sandra Costa Saldanha
O mundo artístico foi gravemente alterado pelos acontecimentos da Contra
Reforma, que, para este, significou uma mudança total não só no dever e na posição do artista na sociedade, como também uma mudança na expressão e na liberdade artística da época. Como consequência, a Contra Reforma e as suas repercussões por toda a Europa tem sido um grande alvo de pesquisa, exploração e debate por artistas e historiadores célebres. Procurando cada um apresentar uma ótica diferente de como a Contra Reforma contribuiu para a mudança artística da época, quer seja nas telas dos pintores da Igreja Católica Romana, quer seja nas composições musicais feitas em Augsburgo por compositores de renome. Isto define essencialmente a amplitude a qual o assunto da Contra Reforma terá sido estudado. Neste trabalho, irei analisar, porém, o quão estudado tem sido o impacto não só da Contra Reforma no mundo artístico, mas precisamente a sua influência na música sacra da época. Irei também sintetizar a bibliografia que organizei, resumindo brevemente cada referência e a sua contribuição para o meu tema. Para começar, irei descrever o meu processo de seleção da bibliografia. Com o tema que está em questão, procurei obras que conciliavam o contexto histórico-cultural da época da Contra Reforma com obras que aprofundam o caráter técnico e teórico da música que se fez na época. Com este objetivo em mente, consegui então filtrar as obras que merecem ser salientadas como base referencial para o meu trabalho. Primeiro, uma obra absolutamente incontornável, a obra de Donald J. Grout e Claude V. Palisca “A História da Música Ocidental”, escrita em 1988, que relata detalhadamente e organizadamente a evolução da música feita no Ocidente global desde as composições gregas e o seu uso de tetracordes até às obras de Igor Stravinsky já no Séc. XX. Donald J. Grout serve como um dos exemplos de um escritor e musicólogo essencial no mundo da história da música, focando-se maioritariamente na história da ópera. São muito importantes para o trabalho, também, uma série de artigos e dissertações feitas para jornais de música ou para livros que englobam temas maiores. Por exemplo, acho importante destacar a dissertação de Robin A. Leaver escrita em 1992, chamada “Christian Liturgical Music in the Wake of the Protestant Reformation” retirada do livro Sacred Studies and Social Change: Liturgical Music in Jewish and Christian Experience . Nesta dissertação, Leaver apresenta-nos uma série de temas que se podem considerar úteis para a questão do meu trabalho, representando não só os aspectos históricos e culturais que terão proporcionado a mudança da música sacra, como também mostra os aspectos focais da música luterana e a música protestante. Robin A. Leaver dedicou uma grande parte dos seus estudos à hinologia, que se mostra no seu uso de exemplos de hinos - desconstruídos e analisados silabicamente - para reforçar as mudanças técnicas que surgiram na música sacra. Outro exemplo importante de dissertações importantes para o meu trabalho é a obra de Karl G. Fellerer e de Moses Hadas, presente no jornal The Musical Quarterly em 1953 chamado “Church Music and the Council of Trent”. Neste artigo, Fellerer e Hadas metem o seu foco especificamente na relação entre o Concílio de Trento e a música sacra, destacando também a presença dos valores humanistas na sua relação. É, também, importante destacar não só a importância de Moses Hadas no mundo do estudo da História Antiga, como também a importância de Karl G. Fellerer no estudo da música católica. Karl G. Fellerer irá ser um escritor citado incessantemente no meu trabalho, devido ao facto de que a sua obra dedica-se puramente ao estudo da música sacra e da música italiana desde o século XVI até ao século XX. As obras mencionadas serão, então, a base do meu trabalho. Porém, terei de destacar também várias referências bibliográficas que, apesar de serem demasiado específicas, servem-me para reforçar e aprofundar vários aspectos importantes do tema em questão. A primeira obra é a de Janet K. Page, escrita em 2014 titulada de “Convent Music and Politics in Eighteenth Century Vienna”. Este livro aborda e explora a relação entre as cortes de Habsburgo e os conventos de Viena, procurando encontrar o laço entre a música sacra e a piedade - uma das virtudes da Igreja Católica - e o laço entre a corte e a igreja. Page, nesta obra, irá estabelecer obras como oratórios e sepolcri e analisá-las de modo a expor a forma como os conventos se adaptaram a uma nova era com novas formas de pensar e novas ideologias. Outro assunto que desperta interesse na obra de Page é a questão das mulheres no convento e a sua importância, chegando até a mencionar compositoras de renome vienesas. Outra obra que merece ser salientada é a dissertação de Michele Fromson para o Journal of the Royal Musical Association - outro jornal académico como o The Musical Quarterly - titulada de “A Conjunction of Rhetoric and Music: Structural Modelling in the Italian Counter Reformation Motet”, em que, ao contrário do resto das obras mencionadas, vemos não só uma pouca quantidade de informação relacionada com o contexto histórico-cultural, como vemos também uma análise incrivelmente extensa das características técnicas e teórico-musicais, na qual Fromson fala principalmente sobre as técnicas que os compositores italianos da Contra Reforma aplicavam nas suas obras. Considero este artigo particularmente interessante e relevante pois reforça o meu conhecimento sobre a vertente técnica das obras musicais da Contra Reforma, que me ajudará a exemplificar as ideias presentes no meu trabalho. Em suma, pode-se afirmar que este tema encontra-se num entremeio delicado entre um assunto com demasiada informação - chegando a um ponto que seria pouco relevante - e um assunto com muita pouca informação ao ponto que não me seria disponível uma base de referências bibliográficas. Irei pegar nas obras selecionadas, processar a informação presente e resolver a questão abordada com base nessa informação, procurando também estender a quantidade de bibliografia para o meu trabalho.