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Universidade de Évora

Curso de Música – Ramo de Interpretação Saxofone


História da Música Ocidental VI
Prof. Filipe Mesquita

Avant-Garde

Marco António Neves Leal


Évora 16/05/2023

1
Índice

Introdução ..................................................................................................................................... 2

História .......................................................................................................................................... 3

Teoria ............................................................................................................................................ 4

Música ........................................................................................................................................... 5

John Cage ...................................................................................................................................... 7

4’33”.............................................................................................................................................. 9

Conclusão .................................................................................................................................... 10

Bibliografia ................................................................................................................................. 11

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Introdução

Ao realizar este trabalho, sobre o tema Avant-Garde, para a disciplina de História


da Música Ocidental VI, do curso de Música, no ramo de Interpretação em Saxofone,
debruço-me um pouco sobre a história do período avant-garde, refiro as várias teorias de
ensaístas deste movimento, explico como é que a música deste período se destaca das
restantes e por fim falo sobre um dos compositores que foram importantes na época John
Cage e de uma das suas obras, a sua composição mais famosa e também a mais
controversa.

A Avant-Garde (em português vanguarda) significa a guarda avançada ou a parte


frontal de um exército. O seu uso metafórico iniciou-se no princípio do século XX. Nas
artes e na literatura, o termo avant-garde identifica um novo género de arte, uma arte
experimental e um artista experimental, que geralmente é esteticamente inovador, embora
inicialmente fosse ideologicamente inaceitável para o meio artístico da época. A metáfora
militar de uma guarda avançada identifica os artistas e escritores que inovaram no estilo
de arte até então, especialmente na forma e assunto, desafiaram os conceitos artísticos e
estéticos das formas de arte estabelecidas e das tradições literárias do seu tempo, assim
como, os artistas que criaram o anti romance e o surrealismo. Estes estavam à frente do
seu tempo.

Os artistas do vanguardismo, como estrato de uma sociedade, promoveram


políticas progressistas e radicais e defendem a reforma social através de obras de arte. No
ensaio da obra "O Artista, o Cientista e o Industrial" (1825), Benjamin Olinde Rodrigues
identificou como obrigação moral dos artistas "servir como vanguarda" do povo, porque
"o poder das artes é, de fato, o caminho mais imediato e rápido" para realizar reformas
sociais, políticas e económicas.

Na cultura, as experiências artísticas do vanguardismo ultrapassaram os limites


estéticos das normas sociais, como as ruturas do modernismo na poesia, ficção, drama,
pintura, música e arquitetura, ocorridas no final do século XIX e início do século XX. Na
história da arte, as funções socioculturais da arte vanguardista vão desde Dada (1915-
1920), passando pela Situationist International (1957-1972), até o pós-modernismo dos
poetas da língua americana (1960-1970).

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História

O termo militar francês avant-garde foi originalmente usado pelos militares


franceses para se referir a um pequeno grupo de reconhecimento que explorava à frente
da força militar principal. Na política Francesa o termo vanguarda tornou-se na
identificação dos reformistas políticos de esquerda que requeriam mudanças políticas
radicais na sociedade francesa no século XIX. Em meados do século XIX, como termo
cultural, a vanguarda identificou um género de arte que defendia a arte como meio estético
e político para realizar mudanças sociais na sociedade.

Somente no final do século XIX a L'art d'avant-garde começou a romper com a


sua identificação e com as causas sociais de esquerda para se alinhar mais às questões
estéticas. O vanguardismo geralmente refere-se a grupos de pensadores, escritores e
artistas que expressam as suas ideias e experimentam novas abordagens que desafiam os
cânones vigentes. As ideias do vanguardismo, especialmente quando abrangem questões
sociais, muitas vezes são gradualmente assimiladas pela sociedade, criando um ambiente
para o surgimento de novas ruturas e de uma nova geração de radicais. Desde o século
XX, o termo arte vanguarda identifica um estrato que compreende romancistas e
escritores, artistas e arquitetos cujas perspetivas criativas, ideias e obras de arte
experimentais desafiam os valores culturais da sociedade burguesa contemporânea.

Nos EUA, na década de 1960, as mudanças pós-segunda Guerra Mundial na


cultura e na sociedade americanas permitiram que artistas do vanguardismo produzissem
obras de arte que abordassem os assuntos da época. Estes temas geralmente abordavam a
oposição política e a conformidade cultural inerente à cultura popular e ao consumismo
como modo de vida e como visão de mundo.

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Teoria

Vários escritores têm tentado, com sucesso limitado, mapear os parâmetros da


atividade vanguardista. O ensaísta italiano Renato Poggioli proporciona uma das mais
conhecidas análises de vanguardismo como um fenómeno cultural no seu livro editado
em 1962, Teoria dell'arte d'Avanguardia (Teoria da arte de vanguarda). Levantando
muitos aspetos históricos, sociais, psicológicos e filosóficos do vanguardismo. Poggioli
ultrapassa instâncias individuais da arte, poesia e música para mostrar que os
vanguardistas podem compartilhar certos ideais e valores que se manifestam na adoção
de um estilo de vida não conformista. Ele vê a cultura da vanguarda como uma variedade
ou subcategoria da vida boémia, que é uma prática de um estilo de vida não convencional,
alegre, simples e despreocupado.

Outros autores têm procurado esclarecer e ampliar o estudo de Poggioli. O crítico


literário Peter Bürger escreveu a Teoria do Avant-Garde (1974) olhando para a adesão do
Establishment as obras de arte socialmente críticas e que sugerem cumplicidade com o
capitalismo, "a arte como instituição neutraliza o conteúdo político do trabalho
individual".

O ensaio de Bürger também influenciou o trabalho de historiadores da arte


contemporânea americana como o alemão Benjamin H.D. Buchloh (nascido em 1941)
que defende uma abordagem dialética das posições políticas de artistas de vanguarda e
do género vanguardista de arte, enquanto os críticos mais antigos, como Bürger,
continuam a ver o neo-avant-garde do pós-guerra como uma reciclagem vazia das formas
e das estratégias das duas primeiras décadas do século XX. Outros artistas, como Clement
Greenberg (1909-1994), viram-no de forma mais positiva, como uma nova articulação
das condições específicas da produção cultural, no período do pós-guerra. Buchloh, na
coletânea de ensaios o neo-avant-garde e a Indústria Cultural (2000), argumenta
criticamente uma abordagem dialética para essas posições. A crítica posterior teorizou as
limitações dessas abordagens, observando as suas áreas circunscritas de análise, incluindo
o eurocentrismo, machismo e definições específicas de género.

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Música

A música de vanguarda pode ser distinguida da música experimental pela forma


como adota uma posição extrema dentro de uma certa tradição, enquanto a música
experimental está fora da tradição. Alguns exemplos de compositores do vanguardismo
do século XX são: Arnold Schoenberg, Richard Strauss (na sua primeira obra), Charles
Ives, Igor Stravinsky, Anton Webern, Edgard Varèse, Alban Berg, George Antheil
(apenas nos seus primeiros trabalhos), Henry Cowell (também nos seus primeiros
trabalhos), Harry Partch, John Cage, Iannis Xenakis, Morton Feldman, Karlheinz
Stockhausen, Pauline Oliveros, Philip Glass, Meredith Monk, Laurie Anderson, e
Diamanda Galás.

Num sentido histórico, alguns musicólogos usaram o termo "música de


vanguarda" para as composições radicais que sucederam à morte de Anton Webern em
1945, mas outros discordam. Por exemplo, Ryan Minor escreve que este período começou
com o trabalho de Richard Wagner, enquanto Edward Lowinsky cita Josquin des Prez. O
termo também pode ser usado para se referir a qualquer tendência, após 1945, da música
modernista não definível como música experimental, embora às vezes inclui um tipo de
música experimental caracterizada pela rejeição da tonalidade. Um exemplo comum
citado de música de vanguarda é o 4'33" (1952) de John Cage.

Embora alguma música modernista também seja vanguardista, uma distinção


pode ser feita entre as duas categorias. Segundo o estudioso Larry Sitsky, como o
propósito da música de vanguarda é necessariamente a crítica política, social e cultural,
de modo que ela desafia os valores sociais e artísticos provocando ou instigando o
público, compositores como Igor Stravinsky, Richard Strauss, Arnold Schoenberg, Anton
Webern, George Antheil e Claude Debussy, podem razoavelmente ser considerados
vanguardistas nos seus primeiros trabalhos (que foram entendidos como provocativos,
quer os compositores os pretendessem ou não dessa forma), mas Sitsky não considera o
rótulo apropriado para as suas músicas posteriores. Por exemplo, modernistas do período
pós-segunda Guerra Mundial, como Milton Babbitt, Luciano Berio, Elliott Carter,
György Ligeti e Witold Lutosławski, nunca conceberam a sua música com o propósito de
atrair um público e, portanto, não podem ser classificados como vanguardistas. No
entanto, outros compositores como John Cage e Harry Partch, pelo contrário,
permaneceram vanguardistas ao longo das suas carreiras criativas.
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Na década de 1960 surgiu uma onda de música livre e vanguardista no género
jazz, encarada por artistas como Ornette Coleman, Sun Ra, Albert Ayler, Archie Shepp,
John Coltrane e Miles Davis. Na música rock da década de 1970, o significado da palavra
"arte" era geralmente entendido como "agressivamente vanguardista" ou
"pretensiosamente progressista". Artistas pós-punk do final dos anos 1970 rejeitaram
sensibilidades tradicionais do rock em favor de uma estética vanguardista.

Uma característica proeminente da música de vanguarda é romper várias regras e


regulamentos da cultura tradicional, a fim de transcender os princípios criativos
estabelecidos e hábitos de apreciação. A música de vanguarda persegue a novidade na
forma e no estilo musical, insistindo que a arte está acima de tudo. Assim, cria um mundo
sonoro transcendental e misterioso. A metáfora, símbolo, associação, imagem, sinestesia
e perceção são amplamente utilizados em técnicas de música de vanguarda para escavar
o mistério do coração humano e o fluxo da consciência, de modo a que muitos eventos
aparentemente não relacionados, mas essencialmente muito importantes, se entrelacem
em estruturas e formas de vários níveis.

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John Cage

John Milton Cage Jr. nasceu em Los Angeles, na Califórnia, a 5 de setembro de


1912. Foi um compositor, teórico musical, escritor e artista dos Estados Unidos. A sua
matéria prima foi o cotidiano (tudo o que já existia, mas que passava despercebido ao
sentimento geral). Ele elevou o barulho-ruído ao status de música, fazendo o mesmo com
o silêncio. Pesquisou novas estruturas musicais, até descobrir que não precisava delas.
Definido por Augusto de Campos como musico-poeta-pintor, John Milton Cage é o
compositor da famosa peça "4'33"", pela qual ficou célebre. Foi um dos primeiros a
escrever sobre o que ele chamava de música de acaso (o que outros decidiram rotular de
música aleatória), música em que alguns elementos eram deixados ao acaso, usava
processos aleatórios, tal como o fez no plano poético. Também ficou conhecido pelo uso
não convencional de instrumentos e pelo seu pioneirismo na música eletrónica. Sendo
considerado uma das figuras chave do vanguardismo artísticas do pós-guerra, influenciou
muitos artistas de todo o mundo e integrou o movimento Fluxus, que abrigava artistas
plásticos e músicos.

Um fato pouco conhecido sobre a vida de John Cage é que ele era interessado nos
estudos anarquistas (principalmente autores como: Henry David Thoreau e Emma
Godman), denominando as suas ideias até como "um tecno-anarquismo à la Kostelanetz".
Algumas frases de conteúdo anarquista escritas por Cage estão na Composition in
retrospect: "Sem políticos, sem polícia”; “Não ao governo, apenas educação”; “A
anarquia é pratica"; “Nós devemos realizar o impossível, nos desfazer do mundo das
Nações, introduzindo o jogo da inteligência anárquica no mundo”; “Nós sabemos que o
melhor governo é não existir governo”.

Muitos críticos têm o Cage como um dos mais influentes compositores


estadunidenses do século XX, principalmente pela sua parceria com o coreógrafo Merce
Cunningham.

John Cage estudou com Henry Cowell (1933) e Arnold Schoenberg (1933–1935),
ambos conhecidos pelas suas inovações radicais na música. Entretanto, as maiores
influências de Cage vêm da Ásia. Através dos seus estudos de filosofia indiana e do
budismo nos anos 40, Cage chegou à ideia de música aleatória, que começou a compor
em 1951. O I Ching (texto clássico chinês) tornou-se numa importante ferramenta de

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composição para Cage pelo resto da vida. Numa conferência, em 1957, sobre música
experimental, descreveu a música como "um jogo sem propósito, que é uma afirmação
da vida - não uma tentativa de trazer a ordem no caos nem sugerir aperfeiçoamentos na
criação, mas simplesmente um jeito de acordar para a própria vida que estamos
vivendo".

O compositor John Cage faleceu a 12 de agosto de 1992, em Nova Iorque.

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4’33”

A obra mais conhecida de Cage é "4'33", que é uma obra que marcou o
vanguardismo, e foi composta em 1952. Ela não utiliza sons deliberados. Os músicos a
apresentá-la não tocam nada durante o tempo especificado no título, ficando apenas
quietos durante esse tempo, diante do instrumento. A peça 4'33" estreou a 29 de agosto
de 1952, no Maverick Concert Hall em Woodstock, em Nova York. Uma das inspirações
para a partitura foram as Pinturas Brancas de Robert Rauschenberg.

O título especifica um tempo de execução de 4 minutos e 33 segundos, sendo


identificadas as durações dos três movimentos, com a instrução Tacet para os três
movimentos, ou seja, não há tons audíveis ao longo da obra, apenas silêncio. Na estreia,
o pianista David Tudor indicou os três movimentos fechando e abrindo a tampa do piano.
De acordo com a partitura, a duração da peça pode ser escolhida livremente, e somente o
título deve dar esse valor exato em minutos e segundos. Embora o título possa variar em
função da duração escolhida, prevaleceu a designação 4'33″, valor da estreia. O número
de intérpretes e o tipo de instrumentos (não) utilizados também podem ser selecionados
livremente. Em quase todas as apresentações há ruídos feitos por ouvintes não
familiarizados com a obra como sinal de impaciência. Da mesma forma, são frequentes
os aplausos durante a performance por parte de ouvintes familiarizados com a obra. Como
resultado, cada performance de 4'33″ “soa” diferente.

Esta composição chocou o paradigma da música ocidental, que explicava a música


como uma série ordenada de notas, e foi numa forma de provocação a esta ideia da música
ocidental que Cage compôs esta obra. Apesar deste caráter provocativo, ele conseguiu
destacar a importância do silêncio na música, e por consequência, ampliar os limites da
arte contemporânea.

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Conclusão

Depois de analisar o que é o género musical Avant-Garde e como a música de


vanguarda influenciou outros estilos musicais, conclui-se que este tipo de música é difícil
de entender, mas vale a pena explorá-lo.

Alguns autores dizem que a música de vanguarda ultrapassa os limites, porque usa
escalas incomuns, ritmos atípicos e modos não convencionais fora do que é
tradicionalmente aceite como sistema diatónico. Os músicos de vanguarda estão sempre
na dianteira do que é considerado novo, diferente ou experimental. Isso significa trabalhar
com o que alguns consideram apenas um ruído estranho.

Estão associadas à música de vanguarda características musicais específicas:


repetição e temas que são construídos ao longo do tempo; figuras e tipos de progressões
de acordes diferentes dos da música moderna e elementos musicais que são difíceis para
o ouvinte comum entender ou apreender.

No parecer de alguns críticos, o futuro da música de vanguarda é incerto,


atendendo a que, por um lado, pode ser vista como um género que está em constante
evolução e mudança, mas por outro parece estar morrendo. na minha opinião, este estilo
músical continua a sua evolução, não de forma tão choicante como foi por exemplo a obra
4’33’’, mas de forma mais ligeira.

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Bibliografia

KRAUSS, Rosalind - Originality Of The Avant-Garde And Other Modernist


Myths.[s.ed.]. MIT PRESS LTD, 1986. 319p.

NOGUEIRA, Isabel - Teoria da Arte no Século XX. 2º ed.. Impressa pela Universidade
de Coimbra, 2014, 166p. (coleção de ensino).

Philharmoniker, B. (3 de 11 de 2020). John Cage: 4'33''/ Petrenko · Berliner


Philharmoniker. Obtido de https://www.youtube.com/watch?v=AWVUp12XPpU:
https://www.youtube.com/watch?v=AWVUp12XPpU

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