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Fundações da Sociologia da Música e uma muito breve retrospetiva do seu

desenvolvimento até à atualidade


A criação de L’Enciclopédie na França do séc. XIX é dado como um passo para a democratização do
conhecimento musical e partilha do conhecimento. Este momento leva a um nascimento do ensino de
música mais aberto, que culmina no aparecimento de conservatórios pela europa no séc. XIX
1922: Os fundamentos racionais e sociológicos da música (Max Weber)
1930-1970: A produção de Theodor Adorno define e fundamenta o campo da sociologia da música,
através da discussão de problemas relativos a múltiplas dimensões da música na e como sociedade.
1940-1960: Teóricos como Paul Lazarsfeld (1946) examinam as indústrias musicais e os padrões de
públicos, problematizando a cultura de massas, a cultura juvenil e o conceito de desvio
1951: Com influências da Escola de Chicago e Max Weber, Alfred Schutz problematiza a
constituição social da consciência subjetiva e objetiva nas relações de execução musical e de escuta
publicando Fazer música em conjunto, um estudo das relações sociais
1950-1960: Sociologie de La Musique de Marcel Belvianes e as obras de Alphons Silbermann
aprofundam, de modos distintos as bases sociais da música, pela inquirição dos usos e funções da
música em diversas circunstancias abrangendo aspetos como o estatuto social dos músicos, ou as
relações entre os artistas, a obra e o público
1960-1980: Torna-se mais regular a publicação de estudos que estabelecem diversas abordagens às
práticas musicais em contextos sociais e podem já encontrar-se referências cujo pendo sociológico e
crítico é mais desenvolvido
1977: Jacques Attali trata a música de um ponto vista socioeconómico procurando discutir o modo
como este proporciona uma análise da sociedade. O autor identifica as mudanças de estatuto do
músico (ao longo da história, discutindo-os com instrumentos económicos e sociológicos).
A crescente atenção dada à investigação no campo da cultura popular abre o campo à publicação dos
primeiros ensaios no campo da sociologia das músicas populares urbanas, que se expandem
designadamente nos EUA, Grã-Bretanha, Alemanha e França, mas não exclusivamente
1978: Simon Frith escreve The Sociology of Rock. Posteriormente Andy Bennet
1980-1990: Pierre Bourdieu (A distinção) e Howard Becker (Mundos Artísticos)
• Nota-se uma crescente incidência no papel do intérprete e do ouvinte nos estudos de domínio
sociológico, como determinamos na produção de significado de uma obra musical. A
experiência musical é encarada como cooperativa, colaborativa e contingente.
• Os teóricos que começam a publicar nestes anos são em grande medida, responsáveis pelo
modo como reconhecemos hoje a disciplina, e pela expressão que esta veio a conquistar ao
longo das últimas décadas
1993: Antoine Hennion - La passion musicale. Une Sociologie de la médiation
1993: Norbert Elias - Mozart, Retrato de um génio
1995: Tia DeNora - Beethoven and the construcion of genius
1998: Christopher Small – Musicking
Mário Vieira de Carvalho implementa área no nosso país
• A FCSH inaugura a disciplina em Portugal, no curso de CM, em 1985, sob a tutela MVC
• Em 1997, funda o CESEM, Centro de Estudos em Sociologia e Estética Musical (FCSH), que
se mantém em atividade
Nos últimos anos a disciplina conhece uma expansão em precedentes, graças (entre muitas obras) a
publicações como:
2015: The Routledge Reader on the Sociology of Music - John Shepard e Kyle Devine
2022: Convergências musicais: gosto, identidade e mundo – Paula Gomes-Ribeiro et al
2022: The culture sociology of art and music. New directions and new discoveries – Lisa
McCormick
2023: The Routledge hadbook to sociology of music education – Ruth Wright et al
2023: Toward a sociology of music therapy: musicking as a cultural immunogen – Even Rudd

Max Weber (1864-1920)


A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905) – como se desenvolve a sociedade moderna.
Enquanto Marx considera o capitalismo como a principal força da modernidade, e Émile Durkheim
a industrialização, Max Weber põe o foco nos processos de racionalização e secularização, advogando
uma abordagem mais subjetiva (interpretativa)
Porque é Max Weber importante para o pensamento em música?
• Primeiro teórico que escreve um volume sobre “Sociologia da Música”;
• Concentrando-se no processo histórico delimitado entra a alta idade média europeia e o século
XVIII, o autor examina as razões das transformação;
• Weber acredita que a sociedade ocidental reflete a tendência da racionalização no seu sistema
– politico, cientifico, legal e comercial - o que a fez desenvolver como uma sociedade
moderna. Associa-se à ideia de progressiva burocratização.
Os fundamentos racionais e sociológicos da música (1911)
Havendo uma afinidade intrínseca entre a música e a sua conceção do mundo esta surgia-lhe como
mais racional e irracional de todas as arte.
O autor põe em evidência a crescente preponderância da ação racional no desenvolvimento do mundo
ocidental. Para isso estabelece um estudo sistemático do sistema tonal como incorporação da
racionalidade das sociedades modernas ocidentais.
À sua investigação sobre a música ocidental está inscrita no quadro analítico, conceptual e histórico
das suas investigações sobre o racionalismo ocidental moderno.
A primeira parte do volume privilegia o lado formal da constituição dos sistemas sonoros/musicais,
em que os fatores históricos, e sobretudo sociológicos, atuam como coadjuvantes; a segunda parte,
apresenta uma análise predominantemente sociológica do desenvolvimento dos instrumentos
musicais.
Relação entre transformação de meios técnicos, fatores económicos, desenvolvimentos artísticos e a
organização de mercados:
• Relação direta entre o sentido da expressão artística e as condições da sua produção.
Em relação à notação, Weber assinala a sua importância na racionalização da música defendendo que
apenas a “elevação da música polivocal à condição de uma arte escrita produziu então verdadeiros
«compositores» e assegurou as condições polifónicas do Ocidente, em oposição às de outros povos,
duração, repercussão e desenvolvimento continuado (Weber, p. 119):
• A invenção da notação musical e “fixação” escrita da música [partitura], intensifica a
especificidade cultural e racional da música “erudita”.
Em relação aos instrumentos, Weber examina o processo de racionalização na construção dos
instrumentos e a sua relevância nos planos da criação, circulação e receção musical. Aborda o violino,
órgão, piano.
• Weber discute o modo como o material sonoro foi racionalizado culminando, no ocidente, na
afinação temperada
• O temperamento, a harmonia, o sistema tonal, constituem a grande realização do racionalismo
ocidental na esfera musical
A escrita musical permitiu o desenvolvimento da figura do artista profissional e do virtuoso (no
processo de racionalização do material) - 3 grandes centros musicais: Londres, Paris e Viena:
• Sistema de Estrelato, do Virtuoso (Artistas musicais): F. Liszt; Clara Schumann;
Mendhelsson; F. Chopin; Paganini.
Weber fala da que considera ser a “posição atual imperturbável” do piano
• A abundância de literatura que lhe é dedicada;
• A sua adaptada ao uso doméstico (Uso por parte do sexo feminino);
• A primazia como instrumento de aprendizagem (Uso por parte do sexo masculino);
• A adequação a peça mobiliária da cultura burguesa.
Weber, admirador de Wagner e de Nietzsche. Wagner como encarnação contemporânea da face
dionisíaca da música, sobretudo Tristão, onde as esferas eróticas e estéticas se uniam.

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