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“A etnomusicologia é uma disciplina científica que estuda a música nas suas múltiplas
dimensões, nomeadamente a social, a cultural, a política, a cognitiva e a estética, e.o.
Caracteriza-se pela abordagem multidisciplinar, cruzando perspectivas teóricas e
metodológicas da musicologia, da antropologia, da sociologia, da história, da linguística,
da psicologia, da etnocoreologia e dos estudos culturais.” (Castelo Branco, 2010:419)
Folclore na Europa
- Constantin Brailoü
- Artigo “Le Folklore Musicale”
Reflete sobre conceitos/categorias: Folclore, tradição, povo
- Etnomusicólogo Holandês
- Trabalho de campo na Índia Holandesa e Indonésia
- Influência de Hornbostel e Sachs
- Livro extenso sobre a etnomusicologia (bibliografia)
- Musicologica: A Study of the Nature of Ethnomusicology, Its Problems, Methods, and
Representative Personalities
- Desenvolve o nome “etno-musicologia”, depois “etnomusicologia”
Anos 50 - EUA
- Fundação da Society for Ethnomusicology
- Preocupação com o estudo da música na cultura
- Definida como método de estudo, não definido em termos dos tipos de música a ser
estudada
- Utiliza métodos da antropologia na pesquisa, com ênfase na observação participante
- A música é vista no seu contexto sociocultural e analisada em termos dos processos que
enforma
- Especial ênfase na importância da visão interna, apreendendo a música a partir “de dentro”
- Dominada por grandes nomes – Kunst, Merriam, Nettl, Seeger, Blacking, Hood,
Anos 60 e 70
- A escola do Oeste (Califórnia)
- A figura central é Mantle Hood (1918/2005)
- Desenvolve a noção de “Bi-musicalidade” em 1960
- Defendia que é preciso aprender a praticar; uma noção de “Turning
Native”.
- Parte de uma posição mais musicológica
- Escola do Este (Nova Iorque)
-Escola centrada na figura de Alan Merriam
- Defendiam que é necessária uma observação imparcial e contextualizante partindo de uma
ligação com a antropologia
Conceitos
Processo de conceptualização acerca da música: para um sistema funcionar tem que haver
conceptualização do comportamento que irá produzir o som.
Segundo Merriam: “Todo o sistema musical é fundado sobre uma série de conceitos que
explicam a música das sociedades em geral, definindo-a e integrando-a na vida de todos os
Homens. Estes conceitos constituem a base da prática musical e da produção do som (...)”
- Etnomusicólogo Suíço
- Elabora uma tese de doutoramento - Dan, da Costa do Marfim
- Três partes no seu estudo: estudo descritivo dos instrumentos musicais; Conceções
sobre a Música e a sua integração com a cultura; Funções da música e os músicos
“Os Venda ensinaram-me que a música nunca pode ser uma coisa em si mesma e que
toda a música é música popular, no sentido que não pode ser transmitida ou ter um
significado fora das relações sociais. As distinções entre os graus de complexidade
superficial e os diferentes estilos e técnicas musicais não nos revelam nada de útil
sobre as intenções e as efetivas potencialidades expressivas da música, ou sobre a
organização intelectual que a sua criação requer”
Enrique Camara: “A musicalidade é algo muito mais profundo e importante para o
homem que as complexidades existentes na superfície de cada género, repertório ou
obra musical
Blacking: “Se a análise formal não começa pela análise da situação social que
enforma a música, não tem sentido.”
Charles Seeger e Georg Herzog
- Seeger - promove a reflexão, crítica e propostas inovadoras - Propõe um campo de
estudos holístico: A musicologia estuda a música total do homem
- Herzog - Eclético: combina diferentes perspetivas e métodos de várias proveniência
(Berlim; USA )
- Herzog, sobre o estilo musical Yuma (índios norte-americanos)
- Visão globalizante com a descrição estilística do repertório tribal;
- Aprofundou o estudo relacional entre línguas tonais, estilos musicais que as usam e
sistemas sonoros
- Reviu as classificações estilísticas de repertórios tribais à luz das contigências
históricas
Alan Lomax
A importância da performance
- Performance practice (ed.) Gerard Béhague; participação de Richard Baumann, entre
outros
- “A qualidade emergente da performance reside na inter-relação entre recursos
comunicativos, competência individual e os objetivos dos participantes, no contexto
de uma situação particular”;
- The Ethnography of Musical Performance, (1980) Norma McLeod y Marcia Herndon;
- Anthony Seeger: perguntar “O quê? Onde? Como? Quando? Quem? Porquê?”
- Em vez de perguntar se há uma relação entre música e sociedade, devemos antes
perguntar: Que tipo de relação específica existe? Que significa isso para a sociedade e
para a sua música?
- Steven Feld efetuou a sua pesquisa de terreno com os Kaluli, na Papua Nova Guiné e
dessa surgiu, em 1982, o livro Sound and Sentiment: Birds, Weepping, Poetics and
Song in Kaluli Expression
- Os Kaluli habitam na floresta tropical a norte do declive do Monte Bosavi (outrora um
vulcão), na Papua Nova Guiné.
- O seu objetivo central foi o de construir uma interpretação simbólica que
demonstrasse como as modalidades expressivas são constituídas por códigos
performativos que comunicam ativamente sentimentos profundos e reconfirmam
princípios mitológicos.
- Três influências metodológicas e teóricas no seu trabalho: 1) Do Estruturalismo de
Claude Lévi-Strauss – relaciona os símbolos de forma lógica, embora sempre baseado
nos exemplos reais que viveu da experiência direta, vendo como estes impulsionaram
atividades significativas – sendo a posição estrutural do investigador: descodificador,
tradutor; 2) A descrição detalhada e etnografia interpretativa de Clifford Geertz –
como uma espécie de trabalho de detetive: acumular e reunir os dados, dividir,
separar, editar e finalmente interpretar: posição hermenêutica – pessoa que
experiencia, intérprete; 3) Etnografia do paradigma da comunicação Deel Hymes,
dividido em quatro níveis:
o Descrição minuciosa e especificação de participantes, modos, canais, códigos,
contextos, forma da mensagem, atitudes que acontecem simultaneamente
caracterizando o evento.
o As variedades e coocorrências dentro destes componentes.
o Como se relacionam capacidades e formas com funções, competência e
performance das atividades para os participantes e sociedade.
o A atividade do sistema é considerada como um todo nos termos da sua
subsistência, manutenção e equilíbrio, bem como na relação com outros
sistemas.
• Música e Identidade
O que é identidade?
• Como Timothy Rice referiu, a literatura sobre identidade é “bastante confusa” sobre
como exatamente a palavra “identidade” é definida (2007: 21).
• Stuart Hall define a identidade como um processo de produção que nunca está
completa e que se constitui a partir de dentro e não de fora (2004: 318)
• Identidade
•
• [...] as imaginações do eu em mundos de ação, como produtos sociais ... vividos na e
pela atividade” mas também definidos como“ formações psico-históricas que se
desenvolvem ao longo da vida, povoando terrenos íntimos e motivando a vida social
[.. .] [Identidades] são um meio fundamental pelo qual as pessoas se preocupam e
cuidam do que está a acontecer ao seu redor [...] [São] bases importantes a partir das
quais as pessoas criam novas atividades, novos mundos e novas formas de ser
(Dorothy Holland et al. 1998: 5).
OITOCENTOS
•Cancioneiro de músicas populares publicado por César das Neves e Gualdino Campos, no
Porto (1893, 1895 e 1898 ).
Sistematização
ESTADO NOVO
• Folclorização
• Os estudos sobre música tradicional apresentam uma perspectiva regionalista do país
associando géneros musicais e coreográficos e instrumentos musicais a identidades
regionais, e figuram um cânone constituído por géneros e repertórios tipificados e
cristalizados para cada região:
• a moda polifónica para o Baixo Alentejo,
• o cramol para o Douro Litoral,
• O vira para o Minho,
• o fandango para o Ribatejo,
• o corridinho para o Algarve,
• o bailinho para a Madeira, e.o.” (Castelo-Branco 2010:888).
Folclorização
• Como refere o antropólogo Jorge de Freitas Branco, “o processo de folclorização
caracteriza-se por uma acção coordenada de definição de diferenciações regionais
concertadas na unidade nacional. O sujeito povo tende a ser substituído pelo
complemento popular” (Branco 1995:169).
• A partir de finais dos anos 30, a prática folclórica institucionaliza-se, adquirindo
estatuto de assunto de estado. Vários organismos e agências governamentais ocupam-
se, entre outras atribuições sociais e culturais, da regulação política e estética do
folclore (FNAT, SNI, casas do povo).
• A mobilização de pessoas e vontades em torno desta prática performativa está na
origem da proliferação dos ranchos folclóricos. A partir da década de 1950, pode-se
falar de movimento folclórico na sociedade portuguesa.
• Exposição do Mundo Português, em 1940, apresenta-se ao país um folclorismo já
instituído em linguagem interpretativa da nação;
• em 1948, no Museu de Arte Popular, fixam-se as respectivas linhas tidas por
definitivas.
• A inauguração deste museu foi a consagração do processo de folclorização lançado
com o concurso; em simultâneo, a divulgação pública do universo arte factual
homologado no âmbito da institucionalização do folclore.
• 1959 - começa uma reflexão sobre os usos e abusos do folclore: rigor, trajes, etc.
• 1977 - Federação do Folclore Português
Vergílio Pereira
• Regente de coros, professor e compositor, em 1947 integrou a Comissão de
Etnografia e História da Província do Douro Litoral (órgão da Junta de Província do
Douro Litoral, em actividade entre 1937 e 1959).
• Recolhas no Douro, Minho, etc.
• Recolhas rigorosas de várias práticas
• Registos sonoros
Artur Santos
• Efectuou recolhas entre 1939 e 1965
• Açores, Madeira e Angola.
• Compositor e professor no Conservatório Nacional
• Procura institucionalizar a Etnomusicologia em Portugal.
• Trabalho influenciado pelas recolhas de Béla Bartok. Precisão das gravações e
transcrições.
• Circulou nos congressos internacionais (Jaap Kunst)
• Integrou a Comissão de Etnomusicologia da FCG.
Perspetivas académicas
• José Dias e o seu grupo: Margot Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e José Rendinha.
• Projeto Atlas Etnográfico de Portugal
• Publicações sobre Vilarinho das furnas. Depois Rio de Onor, Macondes
(Moçambique).
• Impacto do movimento folclórico e difusão do cavaquinho (anos 70)
• Ernesto Veiga de Oliveira - livro “Instrumentos Populares Portugueses”.
Etnomusicologia Aplicada
• Música e responsabilidade Social
• Etnomusicologia Aplicada - Ligação entre a pesquisa e a ação
• Trabalho realizado em benefício das comunidades
• Pesquisa participativa e projeto ação
• Objetivo de beneficiar a comunidade, social, cultural, financeiramente, etc.
• É centrada na música, mas sobretudo nas pessoas
• É guiada por princípios éticos de responsabilidade civil, direitos humanos, equidade
musical;
• Aplicada também fora do âmbito académico -ONG
• O caso do fado, Cante Alentejano
• Surgimento :
• 2007 - Criação do Grupo de estudo do ICTM - Etnomusicologia Aplicada
• 2008 - Conferência com 3 temas:
• História da ideia e compreensão da etnomusicologia em vários contextos sociais
• Apresentação e avaliação de projetos individuais, com ênfase na teoria e método.
• Etnomusicologia aplicada em situações de conflito
• Vários assuntos em discussão: Músicas ameaçadas, comunidades ameaçadas:
respostas da etnomusicologia
• Aplicações à musicoterapia e sistemas de cura
• Papel da Música em contexto de conflito e de paz
Etnomusicologia e Educação
• Que “música” ensinamos e aprendemos?
• O que nos diz o sistema de transmissão sobre uma cultura?
• Contextos formais e não-formais
• Convergência entre a Etnomusicologia, Educação e a Música na Comunidade
• Reflexão sobre a aprendizagem musical