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11/12/2023, 11:08 ensaio sobre estética musical « cavernadolenhador

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"conhecimento livre sobre música"

ensaio sobre estética musical by Christhian Beschizza


Olá para todos os entusiastas do blog musical CAVERNADOLENHADOR.

Recentemente, escrevi um ensaio para a disciplina “filosofia da música”, ministrada pelo magistral
Celso Cintra na UFU. Achei pertinente a publicação desse ensaio aqui, uma vez que é sobre um
tema que eu pretendo abordar a algum tempo:

https://cavernadolenhador.wordpress.com/2012/10/19/ensaio-sobre-estetica-musical/ 1/6
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ENSAIO SOBRE ESTÉTICA MUSICAL

Esse ensaio é estruturado com base em quatro textos: “Rafael Subversivo


(http://ghiraldelli.pro.br/2012/05/05/rafael-subversivo/)“; duas matérias da revista Concerto de Abril
de 2012: “Contra a maldição da continuidade estética” e “Tolerância, diferenças e radicalidade”; e
“Música, pensamento escolástico e arquitetura gótica”.

Todos esses textos têm um tópico em comum: as transformações estéticas de cada período da
história, da Grécia Antiga passando pela Idade Média e até o Pós-Modernismo, com suas
semelhanças e diferenças. Para serem discutidos, porém, deve-se primeiro esclarecer:

O QUE É ESTÉTICA?

A estética, por definição, é um ramo da filosofia que reflete sobre a arte. A estética musical, por sua
vez, é o ramo da estética que analisa a música. Analisa em que aspectos?

A estética musical discute uma determinada música, músico ou estilo quanto a “o que” e “como” a
música inspira, onde muitos filósofos sem formação musical têm mais espaço para discussão. E
quem foram esses filósofos que discutiram música?

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BREVE HISTÓRIA DA ESTÉTICA MUSICAL

A filosofia da música começa na Grécia Antiga. Platão, em República, nos diz que a música tem
poder na alma, e por isso, deve ser regulada pelo governo na sua sociedade perfeita. Outro
exemplo é encontrado na filosofia de seu discípulo, Aristóteles, que menciona o efeito dos modos
musicais nas índoles das pessoas.

Até então, a música era regulada por proporções matemáticas, mas Aristóxeno, discípulo de
Aristóteles, propôs que a música deveria ser julgada pelo ouvido. Aristóxeno, que estudaria a
teoria da música, sugeriu ainda que a música não é subordinada à filosofia.

A reflexão sobre a música teve sua continuidade em filósofos da Idade Média com Boécio, Santo
Agostinho e Guido D’Arezzo. Apesar disso, foi no século XVIII que Baumgarten, filósofo alemão,
surgiu com a análise estética da arte no cenário filosófico. Sua obra influenciou Kant, que
reconhecia a beleza da música instrumental, mas ainda sim não a considerava rival das outras
artes, sugerindo que a música deveria veicular palavras na forma de canção e ópera.

Durante o Romantismo, compositores e críticos revolucionaram o conceito de música com suas


ideologias. Hoffmann propõe que a música como arte da composição instrumental. Alguns anos
depois, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer eleva a música instrumental ao pico de maior das
artes em sua grande obra O Mundo como Vontade e Representação.

O compositor Robert Schumann sugere a representação musical, idéia que é contraposta por
Eduard Hanslick, que afirmava que a música deveria ser apreciada por sua forma. Essa “Guerra
dos Românticos” fragmentou o pensamento da época em dois grupos: os formalistas, como
Hanslick, e os anti-formalistas, como Richard Wagner.

No século XX, modernistas discutem sobre a música não representar nada além dela mesma. Um
dos que apóiam esse conceito é o compositor alemão Igor Stravinsky, que dizia que “forma é tudo”
e que buscar por significado em música é uma distração da verdadeira experiência musical.

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Finalmente chegamos a Theodor Adorno, que distingue a música em dois gêneros referentes à
música popular e a música artística. Segundo sua teoria, a música popular é uma forma
industrializada de cultura que substitui a música “difícil” e crítica, que geraria reflexão sobre a vida
social. As necessidades falsas criadas pela indústria cultural podem ser criadas e supridas pelo
sistema capitalista, encapsulando o indivíduo em noções de beleza desonestas.

A RENOVAÇÃO NA MÚSICA

A arte é, em sua essência, criativa. E para criar, podemos usar um método já sistematizado, um
molde do que já se foi criado antes, ou, então, ultrapassar as fronteiras do que já se foi criado
anteriormente e moldar uma nova obra. A música, como arte, não foge a esse padrão.

Existem compositores que estruturam suas obras baseados em fórmulas conhecidas, mas também
existem aqueles que criam sua própria metodologia composicional. Existem aqueles que fazem os
dois. Enfim, o importante é que existem aqueles que inovam e tornam possível todas as diferenças
únicas que se encontra nas artes. Mas como isso se relaciona com a estética?

Desde os primórdios da história da música, novos estilos musicais enfrentavam a antiga prática em
busca de independência e supremacia. Essas grandes renovações estilísticas estiveram presentes na
estruturação da música modal, sucedida pela música tonal. No século XX, temos uma substituição
do sistema tonal, que desencadeou uma série de mudanças estéticas

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Durante a construção de um novo estilo, além da maneira de se fazer e tocar música, também se
abre espaço para novas propostas estéticas sobre esse estilo. Um bom exemplo disso é o livro
“Filosofia da Nova Música” de Adorno. É uma obra que aborda questões estéticas da música
contemporânea, propondo sistematizações e oferecendo um panorama da nova prática musical que
está se firmando.

Com tudo isso em pauta, para quê o músico estuda estética musical?

ESTÉTICA MUSICAL NA FORMAÇÃO DO MÚSICO

O que é música? O que não é musica? Por que isso é música e aquilo não? Essa música é melhor
que aquela música? Qual a função da música?

A estética musical pretende questionar e oferecer ferramentas para responder essas perguntas.
Essas questões são ou seriam respondidas diferentemente na visão de cada um dos filósofos e
músicos mencionados anteriormente, e por causa dessas respostas, elaboramos ainda mais nossas
próprias respostas. O estudo da estética musical, então, é um estudo histórico e filosófico, que
envolve o conhecimento e a reflexão.

Conhecimento em saber como a música foi tratada em cada período da história, reflexão em saber
quais aspectos podem ser filtrados e empregados em determinada situação. O estudo filosófico da
estética musical é fundamental para a formação do músico crítico. E quais são as características
desse músico crítico?

Um músico crítico, a meu ver, se diferencia pela sua proposta de encarar a música com seriedade,
como arte. E em seriedade eu quero dizer interesse, devoção e respeito. Esse músico se
especializará na técnica de seu instrumento, na teoria da música, na história de seu repertório e nas
reflexões por trás do que é ser músico e do que é música.

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Sem essa reflexão e conhecimento, o músico se rebaixa a um artista sem identidade. Um mero
‘tocador’, sem ter idéia do que faz e por que ele faz. E, como Boécio diria, aquele que não reflete
sobre o que faz não passa de uma besta de carga.

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musica, grécia antiga, idade media, musica erudita, musica popular, musica seria, renascentismo.

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