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EXPRESSÃO?
RESUMO
Esta pesquisa objetiva observar o estatuto da música popular através de duas propostas
filosóficas, de Adorno e de Schiller. Acreditamos na relevância do tema porque analisa uma
realidade com a qual nos deparamos no dia a dia, e nós como educadores devemos ter uma
posição fruto da reflexão e não do senso. Neste sentido, trazemos a proposta que Theodor
Adorno expõe no O fetichismo na música e a regressão da audição que faz uma dura
apreciação à música popular e, por outro lado, veremos a sugestão de Friedrich Schiller em A
educação estética do homem, na qual apresenta o papel da arte na formação humana. Para
Adorno, a Indústria Cultural é o conjunto de meios de comunicação como o cinema, o rádio, a
televisão, os jornais e as revistas, que formam um sistema poderoso para gerar lucros. Assim,
o poder de esta indústria é ser acessíveis às massas, de tal maneira que os proprietários as
manipulam e controlam. A indústria cultural impõe sua ideologia às massas impedindo a
formação de indivíduos autônomos, capazes de pensar conscientemente. Adorno distingue a
música erudita ou séria da música industrial ou comercial. Nesta última situar-se-iam o jazz,
blues, rock, pop, etc., que seriam consideradas como de regressão auditiva. Já Schiller
concebe a arte como expressão da liberdade do artista: “a arte é filha da liberdade e quer ser
legislada pela necessidade do espírito, não pela privação da matéria”. Podemos compreender,
com Schiller, que a criação artística não pode ser determinada por algum modo de produção.
A música popular, como manifestação artística, adquire um papel liberador e progressivo
desde a reflexão de arte em Schiller. O trabalho é dividido em dois capítulos o primeiro é a
proposta de Adorno, o segundo trata da proposta de Schiller e, finalmente fazemos umas
considerações à maneira de conclusão.
PALAVRAS-CHAVE: Regressão auditiva, liberdade, arte, música popular.
ABSTRACT
The paper aims to highlight the status of the popular music through two visions, Adorno and
Schiller. We believe in the importance of the topic because it is a cultural movement of large
popular expression that permeates all social strata, economic and age groups, without gender
or ethnicity. In this sense, we will discuss the proposal that Theodor Adorno exposes the
Fetishism in music and the regression of listening that makes a harsh critique of popular
music and on the other hand, treat the proposal of Friedrich Schiller in The Aesthetic
Education of Man, which presents the role of art in human development. For Adorno, the
culture industry is the set of media such as film, radio, television, newspapers and magazines,
which form a powerful system to generate profits. Thus, the power of this industry is to be
accessible to the masses, so that the owners manipulate and control. The cultural industry
imposes its ideology to the masses by preventing the formation of autonomous individuals,
capable of thinking consciously. Adorno distinguishes classical music or serious music
industrial or commercial. This last would jazz, blues, rock, pop, etc., Which would be
regarded as regression hearing. Already Schiller conceives art as an expression of freedom of
the artist: "Art is the daughter of freedom and want to be legislated by the need of the spirit,
not by privation of matter." We can understand with Schiller which artistic creation can not be
determined by any method of production. The popular music as artistic expression, gets a
liberating role and progressive since the reflection of art in Schiller. The work is divided into
two sections the first is the proposal to Adorno, the second deals with the proposal of Schiller
and finally make some considerations on the way to completion.
KEYWORDS: Regression hearing, freedom, art, popular music.
INTRODUÇÃO
Neste estudo sobre a música levantamos duas propostas estéticas, primeiro a visão de
música e arte de Adorno, que traz uma influencia platônica focada na harmonia matemática e
na segunda parte trataremos a Schiller que tem também uma influência platônica, mas que
está relacionada a uma expressão de equilíbrio, que ele denomina lúdico e libertador. A
proposta é observar que Adorno faz uma crítica não unicamente ao Jazz e a música popular,
senão à música em geral incluindo a chamada séria. Este autor manifesta críticas em torno do
capitalismo, que torna todo o que toca em mercadoria e inviabiliza a produção artística. A
crítica de Adorno nos sugere que em quanto tenhamos uma cultura de alienação e fetichismo,
será impossível ter arte ou desenvolver gosto estético.
Por outro lado, a proposta de Schiller, com antecedentes platônicos também, mostra
uma necessidade de desenvolver em todos os indivíduos o gosto estético, através de uma
aproximação da arte. De fato, observamos uma visão educadora que envolve uma formação
estética, equilibradora e libertadora. Temos que considerar que para Schiller o equilíbrio que a
arte proporciona, não discrimina nenhuma manifestação estética, neste sentido a música
popular está contemplada, assim como qualquer manifestação artística, desde que atinja o
desejado equilíbrio.
Adorno desenvolveu suas posições teóricas básicas entre meados dos anos 30 e o fim
da década de 40 e vislumbra a música popular como a realização mais perfeita da ideologia do
capitalismo monopolista. A crítica de Adorno está direcionada à política cultural do nazismo
que se apropriava de todo o legado cultural e filosófico alemão e o transformava em
instrumento de alienação e manipulação das massas.
Com a rejeição às formas de música que alteram a paz, Adorno rejeita a música
popular que sai dos padrões disciplinadores. Esta exclusão e rejeição tem uma origem
platônica e afasta o prazer da ordem superior que a música alcança, uma ordem
contemplativa, que tem como objetivo disciplinar e elevar a condição humana. A música seria
é atemporal em quanto que a popular segue os padrões da moda e é efêmera e altamente
mutável.
Quer o ouçam discorrer com metro, ritmo e harmonia acerca da arte de fazer
sapatos, quer sobre a estratégia militar ou o tema que for, tal o natural
fascínio que exerce com seus recursos. Porém, se despirmos asa criações dos
poetas desse colorido musical e as apresentarmos em expressões comuns,
bem sabes, tenho certeza, a que ficam reduzidas (PLATÃO, 2000, 601b)
Ao falar de metro, ritmo e harmonia, Platão alude a uma beleza quase matemática,
onde deve primar a ordem e a regularidade, que mantêm tudo sob controle. O ritmo e a
harmonia não devem estar unicamente na música, senão no cotidiano, na vida dos militares e
artesãos, por exemplo. Esta ordem e medida devem ser sempre respeitadas. Por essa razão, os
artistas são mal vistos porque desvirtuam esta concepção. Eles não se acolhem a este conceito
de harmonia, sua arte está corrompida pela cor e os ornamentos, que pretendem despertar
gozo.
Platão não aceita a sensualidade como fonte de prazer, os sentidos só podem ser
aceitos como um termo mediador na procura de conhecimento, na procura da verdade. A
função cognitiva da sensibilidade deve prevalecer sob a função estimulante dos apetites, eles
são erógenos e estão governados pelo princípio do prazer.
Numa sociedade onde a arte já não tem nenhum lugar e que está
abalada em toda a reacção contra ela, a arte cinde-se em propriedade
cultural coisificada e entorpecida e em obtenção de prazer que o
cliente recupera e que, na maior parte dos casos, pouco tem a ver com
o objecto. (ADORNO, 1970, p. 27)
A crítica de Adorno esta vinculada com a crítica social. A arte burguesa é vista como
arte de entretenimento. A indústria cultural transforma a arte em diversão, em especial a
música, que perde todo seu valor estético em meio a um universo de mercadorias. O impacto
dessa desvalorização é medido pelo fetichismo da mercadoria. Ante isso Adorno apela a
erradicar o prazer da obra de arte:
Quando Adorno avalia o gosto musical das pessoas, ele alude não a um gosto estético
próprio do indivíduo, senão a uma situação à qual os indivíduos estão expostos devido à
sociedade de consumo, assim,
O que está em jogo neste juízo musical já não é estético, senão um condicionamento
que limita a liberdade do indivíduo. A sensibilidade estética fica atrofiada.
Friedrich Schiller, autor das Cartas sobre a Educação Estética do ser Humano
(1791-1793) ressalta a importância da educação estética para a formação do indivíduo. Para
este autor, a realidade está formada pelas condições materiais das que faz uso o artista (tinta,
papel, sons, técnicas, idioma, exercícios, regras, etc.) e a forma representa o espírito do artista,
a intenção que o material expressa. O artista tem que ter as duas condições para expressar sua
arte, sua mensagem.
Schiller concebe a beleza como o ideal superior platônico, eterna e indivisível, que
está num ponto de equilíbrio estático e “não se pode encontrar na realidade um efeito estético
puro”, mas, esta beleza platônica tem um reflexo na obra de arte, nela se plasma e consegue
uma realidade concreta. “A excelência de uma obra de arte apenas pode residir numa maior
aproximação desse ideal de pureza estética”. Ele considera a beleza ideal como único
referencial que guia a procura da beleza, mas este autor valoriza a obra de arte real porque, “a
beleza no plano da experiência será pelo contrário, eternamente dupla, porque numa oscilação
pode ser perturbado o equilíbrio de duas maneiras” (SCHILLER, 1993, p. 65).
Observamos que para Schiller a experiência estética faz confluir emoção e razão,
reações culturalmente ricas, que agrupam os instrumentos dos quais nos servimos para
aprender o mundo que nos rodeia. Os dois princípios opostos que se equilibram na
experiência estética são de um lado, a forma que expressa o sentimento, o subjetivo, e se
manifesta de maneira espontânea e, de outro, a matéria que representa o racional, o objetivo,
as regras, a técnica. “No caso do homem espiritual, a beleza da experiência estética o afasta da
forma e o aproxima da matéria para equilibrá-lo” (SCHILLER, 1993, p. 69).
Este equilíbrio proposto pela estética é uma fusão cuidadosa de dois elementos que
mobilizam o indivíduo: o sentimento e o entendimento. De tal maneira que, “não se note no
todo qualquer traço de divisão” e é necessária esta união para a “perfeita unidade”. O
equilíbrio proposto por Schiller entre sentimento e entendimento é fundamental para poder
chegar ao conceito de beleza, por isso:
Os filósofos que, não refletirem sobre este tema, se deixam cegamente dirigir
pelo seu sentimento, não poderão chegar a um conceito de beleza, uma vez
que não distinguem nenhum aspecto isolado no total da impressão sensível.
Os outros, que tomam em exclusivo, o entendimento como guia, nunca
poderão atingir um conceito da beleza, uma vez que no total da mesma nada
mais discernem para além das partes, permanecendo para eles o espírito e a
matéria eternamente separados, mesmo na sua mais perfeita unidade. (1993,
p. 70).
Se se pretende que o [indivíduo] seja capaz e este apto para elevar-se a partir
do estreito círculo dos fins naturais, para fins racionais, nesse caso ele deverá
já se ter exercitado dentro dos primeiros, tendo à vista os últimos,
executando a sua determinação física com uma certa liberdade de espírito,
i.e., de acordo com as leis da beleza. (SCHILLER, 1993, p. 79).
A arte é um caso privilegiado de razão e sensibilidade, tanto para o artista que cria
obras concretas e singulares quanto para o apreciador que se entrega a elas para encontrar-lhes
o sentido. O verdadeiro artista utiliza razão e intuição na expressão da sua arte. Ele vê, ou
ouve, o que está por trás da aparência exterior do mundo, para um artista um bloco de
mármore deixa de ser uma pedra para ser um meio físico de expressar seus sentimentos. O
artista atribui significados ao mundo por meio da sua obra. O espectador lê esses significados
nela depositados, capta essa mensagem de razão e espiritualidade. Por exemplo, o rock pode
não despertar a beleza imediata, mas pode suscitar uma reflexão e valorizar o trabalho do
artista. O rock agrada as pessoas? Ele deve despertar o desejo da compreensão de quem vê o
deslumbramento. O expectador não só deve ficar no deslumbramento, deve penetrar na
intenção e no sentido do artista.
Para Schiller, o ideal do homem é alcançar a beleza através do jogo de equilíbrio, onde
o sensível e o racional se harmonizam. A atividade estética ajuda o homem a realizar-se. A
noção de jogo é fundamental na teoria estética de Schiller, de tal maneira que, “nunca
erraremos se buscarmos o ideal de beleza de um ser humano pela mesma via através da qual
satisfazemos o nosso impulso lúdico” (SCHILLER, 1993, p. 64). Tal impulso lúdico não é um
instinto particular e puramente espontâneo, ele é uma síntese entre um impulso sentimental
que estabelece a forma e uma força de ordem biológica que impõe o sensível. O lúdico se
converte “num projeto de otimização da natureza humana por intervenção do artifício, um
jogo sensível e reflexivo” (SCHILLER, 1993, p. 20).
Buscamos a arte pelo prazer que ela nos causa e “tal prazer provém da vivencia da
harmonia descoberta entre as formas dinâmicas de nossos sentimentos e as formas do objeto
estético” (DUARTE, 2004, p. 60). Uma sinfonia, um quadro, um romance, todos são refúgios
que nos dão prazer ou produzem emoção. No fundo, são os mesmos motivos que nos fazem
assistir um jogo de futebol. A diferença está nas emoções artísticas que são ricas e fecundas, o
prazer e a evasão só são “alienações” num primeiro momento: transformando nossa
sensibilidade, elas transformam também nossa relação com o mundo. (COLI, 1988, p. 112)
convertendo-se em experiência que enriquecem e nos integram ao mundo da arte.
A fruição da arte não é imediata, espontânea, um dom, uma graça, ela pressupõe um
esforço diante da cultura. Assim, para que possamos desfrutar ao assistir um esporte, é
necessário conhecer as regras desse jogo, do contrário, a emoção que transmite passará
despercebida. Para experimentar, com maior prazer a obra de arte temos que estar
familiarizados com sua forma de expressão.
Para poder vivenciar a arte temos que educar o que Schiller denomina: o gosto, que é
indispensável para compreender a percepção e os juízos estéticos. Mas, para educar o gosto, a
experiência estética deve comportar tanto os elementos subjetivos como os objetivos. Ter
gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. A própria presença da obra de arte é
que forma o gosto, isto é, transcende a percepção sensível, reprime as particularidades da
subjetividade, converte o particular em universal. De tal maneira que:
A educação do gosto deve contemplar que precisamos estar em harmonia com a razão
e a sensibilidade, isto é, aquele que quer experimentar a beleza de uma obra de arte tem que
ter, de um lado, a capacidade de apreciar a manifestação técnica da obra e, de outro, a
suficiente sensibilidade para valorizar a intenção do artista num conjunto que se pode
denominar: a beleza artística. À arte chega-se com disciplina e dedicação, tanto para ter a
capacidade de expressar através de um artifício a beleza, como para poder captá-la e decifrá-
la. O espectador não deve ficar num plano de observador superficial, tem que valorizar a
técnica e a sensibilidade do artista. Numa experiência estética estas características não se
separam. Porque do contrário acontece que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que Adorno tem uma visão pessimista da arte e a cultura, dada a época
que ele viveu entendemos seu ceticismo por conseguir fazer arte depois de Auschwitz.
Advertimos alguns pontos em comum entre estes filósofos. A exigência pela qualidade
da arte é observada tanto em Adorno como em Schiller. Também os dois desenvolvem além
de trabalhos filosóficos, um envolvimento com a arte, assim como uma forte influência
platônica. Mas, estes autores também se distanciam. Adorno adota um pessimismo extremo e
um desconhecimento à qualidade de arte, ele quase nega a possibilidade de realizar arte, já
seja de música ligeira ou séria. Já Schiller segue uma visão otimista, acredita na educação e na
necessidade de fazer uma educação estética. Ele observa que na arte o individuo consegue um
estado de liberdade, já seja através de manifestações artísticas populares ou tecnicamente mais
elaboradas.
Se para Adorno, a música está em uma situação degradada de mercadoria, e nesta
manifestação entendemos também a música popular, ele rejeita esta manifestação como
artística e faz parte de um momento histórico, que é de regressão da audição. Já Schiller
aceitaria a música popular, sempre que ele consiga atingir o requisito de toda manifestação
artística, isto é, estabelecer o equilíbrio entre sensibilidade e técnica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS