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BH/UFC

A MÚSICA DE CONSUMO NO MUNDO


-
ADMINISTRADO SEGUNDO ADORNO
JAZZ, MÚSICA POPULAR E INDÚSTRIA CULTURAL

A
celebração de datas a música apresentava para
especiais, como os DILMAR SANTOS DE MIRANDA* Adorno "um domínio par-
50 anos da primeira ticularmente rico para o
publicação da Dialektik der jogo de sua imaginação
Aufklârung (Dialética do RESUMO dialética" (Iay, 1977, p.
Esclarecimento), constitui O presente artigo apresenta as princi- 214).
pais idéias da teoria crítica de Theodor
um tempo propício para Adorno, tomando como base suas sis- O desencantamento,
revisitações do pensamen- tematizações no campo da estética ademais, do mundo, confor-
to de seus autores.' O pre- musical, bem como pontua algumas me o projeto da Aufelârung,
apreciações críticas à sua abordagem
sente ensaio visa celebrar sobre o jazz, gênro musical por ele pri- não deixa de lado o mundo
tal evento, com algumas vilegiado para radicalizar suas críticas à das artes, e o processo de
reflexões sobre a teoria crí- música popular de consumo.
racionalização que lhe é
tica em Adorno. A recor- afim encontrou na música
rência às ternatizações da • Professor-assistente do Departamento seu terreno privilegiado,
de Ciências Sociais e Filosofia da UFC,
Dialética do Esclarecimen- cursando atualmente, o doutorado em
conforme a rica análise rea-
to dar-se-á de forma indi- Sociologia da USp,ná área de concen- lizada em Os Fundamentos
reta, uma vez que os tração em Sociologia da Música. Racionais e Sociológicos da
aspectos centrais da teoria Música de Max Weber, obra
crítica, presentes na análise demolidora que fundante da Sociologia da música, da qual
este autor faz acerca da indústria cultural, no Adorno é devedor confesso.
C01pUS de sua obra cinqüentenária, encontram-
se prenunciados em muitos de seus ensaios Quando Adorno elabora sua
sobre a música, desde os anos vinte, como Philosophie der neuen Musik sob um
veremos a seguir. certo ponto de vista ele nada mais faz
do que reescrever a sociologia da músi-
PRESSUPOSTOS DA SOCIOLOGIA DA ca weberiana, inserindo aquilo que era
MÚSICA EM ADORNO
para Weber somente processo de racio-
nalização em um contexto mais amplo:
A estética adorniana sempre privilegiou na dialética da Aufklãrung (Waizbort,
a análise da música, por aí vislumbrar uma 1991, p. 7).
preciosa expressão empírico-paradígmâtica de
sua concepção de mediação no domínio da É a partir de sua estada em Viena, nos
arte e da cultura, como veremos, bem como anos 20, para estudar música com Alban Berg,
um valioso terreno onde radicou suas severas que Adorno, ao participar da vanguarda
escaramuças contra a cultura burguesa con- vienense sob a liderança de Arnold Schonberg,
temporânea. Graças à complexa constelação inicia seus estudos sobre a expressão musical,
dos elementos mediadores presentes na or- explorando todas as suas possibilidades analí-
ganização interna da forma musical, compo- ticas: história da composição clássica, a músi-
sição, execução, instrumentos, reprodução ca de vanguarda, a reprodução e a escuta das
técnica, material musical, audição e consumo, formas musicais e a função, sob um ponto de

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vista psicológico, da música popular, adotan- epifenômeno de condições objetivas, Adorno
do uma perspectiva praticamente inédita na vê a mediação subjetiva criadora (a ação do
tradição temática da Sociologia da cultura e da artista) como a responsável pelo adensamento
arte.' Adorno já considerava a cultura como de todos os atravessamentos possibilita dores
uma espécie de linguagem codificada que nos da configuração da obra de arte. A relação
fala dos processos que se desenvolvem na so- entre forma e conteúdo não seria um mero
ciedade, que deve ser decifrada por meio de reflexo especular entre arte e sociedade, nem
uma análise crítica. o produto de um fazer artístico totalmente au-
No ensaio Sobre a Situação Social da tônomo, mas relação mediada, que envolve
Música publicado em duas partes, nas duas um processo implicador de muito tempo e tra-
primeiras edições de 1932 da Zeitschrijt, (re- balho. O percurso crítico de um cientista soci-
vista do Instituto de Pesquisa Social) Adorno al que se debruça sobre uma forma estética
demarcava suas diferenças com a musicologia deve, portanto, estabelecer as mediações que
tradicional, explicitando claramente os pressu- sustentam a remissão de um aspecto a outro:
postos subjacentes de sua abordagem sobre o no caso, entre a complexidade do social e sua
tema. Para o autor, conforme uma formulação interpretação fixada na obra de arte.
posterior já prefigurada no ensaio menciona- Subjaz ao mesmo tempo, a tal entendi-
do, a arte deve ser tomada "como objeto de mento que o material sobre o qual uma deter-
uma investigação que nela desvende uma in- minada arte trabalha não é algo informe, mas
consciente historiografia da sociedade" (Ador- já traz em si, algum sentido e forma: a obra
no, 1973, p.105). Assim, a música deve ser de arte é trans-figuração suprassumida, en-
vista enquanto formalização estética que ins- quanto alteridade negativa, (conceito bastan-
creve a complexidade social, efetivada por uma te caro a Adorno, a ser visto a seguir), desse
subjetividade criadora. Portanto, o olhar soci- conteúdo original de sentido e forma, ou seja,
ológico deveria vislumbrar, na fixação de um o artista é doador de um novo sentido e de
gênero musical, a inscrição do próprio social uma nova forma a um sentido e forma pré-
na nova forma e esta, na verdade, apresentar- existentes (Cfr. ]ameson, 1985).
se-ia como a articulação estético-sensível de É por isso que Adorno confere ao con-
um conteúdo transfigurado por uma subjetivi- ceito de mediação uma marcante centralidade.
dade inventiva, portador de um tempo histó-
rico-social do qual emerge.' o que eu, na Introdução à Socio-
No desdobramento dos seus pressu- logia da Música chamei de 'mediação'
postos básicos, Adorno refere-se à música não é (...) o mesmo que 'comunicação '.
como uma forma artística que contém, na sua De acordo com [o sentido hegeliano do
própria estrutura interna, as contradições so- conceito;' a mediação está na própria
ciais da realidade exterior, mesmo conside- coisa [grifo nosso;' não sendo algo que
rando a relação conflituosa que, por ventura, seja acrescido entre a coisa e aquelas
o artista poderia ter com esta mesma reali- às quais ela é aproximada ... algo que
dade social. Adorno releva justamente o que não se limita a perguntar como a arte
ele dizia ser desprezado pela Sociologia da se situa na sociedade, como nela atua,
arte de sua época, ou seja, considera o mais mas que queira reconhecer como a so-
essencial na obra, o que a configura como ciedade se objetiva nas obras de arte
tal, o momento da pulsão criadora do artista, (Adorno, 1986, p.114).
consubstanciado em algo sensível, mediação
subjetiva no interior da tensão crispada entre Na introdução do livro da coletânea
a forma e o conteúdo. Grandes Cientistas Sociais dedicado a Ador-
Portanto, nesse jogo dialético de for- no, Gabriel Cohn (in: Introdução a Adorno,
ma/conteúdo, recusando qualquer concepção 1986, p.20) reafirma a centralidade do concei-
reificada, pela qual o objeto de arte seria um to de mediação para o autor. "Há mediação da

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sociedade na obra de arte. Vale dizer, compo- res", quando se descola do mundo fático, con-
nentes fundamentais do processo histórico- siderando como o seu outro, e manifestando
social no interior do qual a obra é produzida que o mero existente deveria ser de outra
estão incorporados nela, na forma da obra' . forma, uma sociedade "outra", realizando as-
Na TeoriaEstética, Adorno (1988, p.16) sim sua utopia estética de promesse de
é bastante enfático: bonheur, encontramos o verdadeiro sentido
social da arte. 4
Os antagonismos não resolvidos "A arte é a antítese social da sociedade,
da realidade retornam às obras de arte e não deve imediatamente deduzir-se desta"
como os problemas imanentes da sua (Adorno, 1988, p.19). A arte põe, enquanto
forma. É isto, e não a trama dos mo- momento sensível (dimensão de sua positivi-
mentos objetivos, que define a relação da da de) e expõe a realidade, ao mesmo tempo,
arte à sociedade. As relações de tensão a nega pela transfiguração recriadora do real.
nas obras de arte cristalizam-se unica- Condicionada pelo seu tempo, e por ser sua
mente nestas e através da sua emanci- forma sensível de expressão, objetivada em
pação a respeito da fachada fática do obra artística, a arte internaliza as contradições
exterior, atingem a essência real. sociais externas, negando e rompendo os limi-
tes que a constrangem.
Esta é, a nosso ver, a chave mestra para A concepção de arte de Herbert Marcuse
a compreensão do núcleo central da estética guarda estreita afinidade com a estética nega-
adorniana e de sua crítica cultural. Adorno es- tiva adorniana:
tabelece urna relação mediata entre a arte e a
realidade histórico-social onde foi engendra- Podemos tentar definir a for-
da. Como forma sensível particular, a arte ma estética' como o resultado da trans-
autêntica e autônoma não é mero reflexo formação de um dado conteúdo (fato
reiterativo das condições extra-estéticas inscri- atual ou histórico, pessoal ou social)
tas na realidade social que a possibilitou. En- num todo independente: um poema,
quanto forma particular, diferencia-se do peça, romance, etc. A obra é assim 'ex-
todo, para negá-lo. Não negação formal, mas traída' do processo constante da reali-
determinada (Adorno, 1988, p.Sl.). dade e assume um significado e uma
A alteridade negativa da obra de arte verdade autônoma. (. ..) A obra de arte
se caracteriza pela sua figuração como objeto re-presenta assim a realidade, ao mes-
sensível que, para ser percebido esteticamen- mo tempo que a denuncia ... A forma
te, tem que negar uma realidade anterior. Essa estética constitui a autonomia da arte
alteridade também caracteriza a obra de arte relativamente ao 'dado' ... Forma esté-
no processo histórico de sua constituição e de tica, autonomia e verdade encontram-
sua apreciação, na medida em que, ao superar se interligadas. Constituem fenômenos
os limites da expectativa de urna tradição, ela sócio-históricos, transcendendo cada
rompe com as normas sociais existentes. A arte, um a arena sociohistórica. Embora esta
segundo Adorno, na sua trajetória rumo à auto- última limite a autonomia da arte, fá-
nomia, tomou parte do processo de eman- 10 sem invalidar as verdades trans-his-
cipação social, configurado pela sua tóricas expressas na obra. A verdade da
negatividade, sob um duplo ponto de vista: arte reside no seu poder de cindir o mo-
tanto em relação à sua realidade social que a nopólio da realidade estabelecida (i. é,
condiciona, como em relação à sua origem, dos que a estabeleceram para definir o
que a tradição histórica lhe atribui. Somente que é real). Nesta ruptura, que é a rea-
quando a arte renuncia a todo servilismo, lização da forma estética, o mundo fic-
quando entra em conflito com o poder social tício da arte aparece como a verdadeira
e seu prolongamento na cultura e nos "mo- realidade ( Marcuse, 1986, p.21s).5

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Em síntese, nessa concepção, a arte Em outra linha de análise de sua Socio-
parece provocar um processo de irueruersão, logia da Música, Adorno enfatiza as principais
onde, a realidade fática que aparenta ser ver- tendências do panorama da chamada música
dadeira, é falsa; a arte que a nega, é a verda- erudita, colocando em oposição, a obra de dois
deira realidade. compositores, paradigmas polares para seus
Reside aqui, a distinção fundamental propósitos analíticos: a música de Arnold
entre a lógica interna da obra de arte- a medi- Schonberg (1874-1951) e a de Igor Stravinsky
ação da negatividade constituidora da arte au- (1882-1971). Estudados como personaede cer-
tônoma - e a lógica interna da indústria tos princípios estéticos, os dois compositores
cultural, totalmente subsumida à lógica exter- serão tematizados em outra obra posterior, a
na do sistema social que a engendra. Os produ- Filosofia da Nova Música, de 1949.
tos da indústria cultural possuem uma relação Em Schônberg, o desenvolvimento das
imediata e de dependência com suas condi- possibilidades da atonalidade explicita a re-
ções de produção e as exigências da lógica do cusa de qualquer espécie de compromisso com
mercado. Ao duplicar seu conteúdo social ime- as dissonâncias não resolvidas da sociedade
diato, torna-se pura ideologia. Na obra de arte, administrada pela racionalidade instrumental.
existe mediação negadora; na indústria cultu- Já na primeira fase do período expressionista,
ral, não. Tal imediaticidade presentifica uma a música de Schõnberg se afastava de qual-
espécie de saturação do social nos produtos quer tipo de reconciliação com a sociedade
culturais, hiper-reificando-os. "...as injunções burguesa. Como verdadeiro artista, ele permi-
sociais ... estão presentes demais, aderidos a tia que suas pulsões criadoras se manifestas-
ela (indústria cultural] diretamente, sem passa- sem com todas as suas contradições. A
rem pelo trabalho de sua conversão para a for- harmonia e a tonalidade clássicas são negadas
ma da obra" (Cohn, 1986, p. 20). pela atonalidade livre que, por sua vez, cede
A imediaticidade da indústria cultural é lugar para o dodecafonismo livre. Esta nova
o império da positividade. Nada é negado. ordem "escalar" veda a repetição de uma nota
Tudo é reiterado. O cinema, com sua técnica da escala cromática de doze sons, enquanto
apurada de imediaticidade, duplica os objetos os outros onze não tivessem sido ainda
empíricos, para melhor iludir o espectador. utlizados. Por essa via, Schonberg soube
Como veremos adiante, no mesmo re- objetivar suas pulsões subjetivas, instaurando
gistro crítico é vista a música popular de con- uma nova racionalidade, o dodecafonismo, do
sumo (y cornpris o jazz), espécie de ícone fático mesmo modo como realizou]. S. Bach, com a
do fetiche da indústria cultural. Adorno já racionalidade do temperamento igual, o que o
alertava para um tema central das suas preo- faz se aproximar, num certo sentido, da tradi-
cupações - o significado das mercadorias que ção clássica.?
substituem, em grande parte, a autonomia da A instauração dessa nova ordem é sín-
obra artística. Para ele, a música da época já tese dialética de sua música precedente, e não
apresentava, em sua maioria, as características uma ordem ditada por uma estética arbitrária
de uma mercadoria, onde o que conta é o seu estranha aos processos sociais vigentes e ao
valor de troca. A verdadeira distinção que se código interno da arte musical. A criatividade
deve fazer, para contrapor a música séria à de Schonberg permite estabelecer um critério
música "ligeira" não deve se basear em crité- qualitativo, pelo qual pode-se aferir a nova
rios tradicionais mas, de preferência aquele ordem burguesa. Para Adorno, a experiência
que distingue a música produzida para o mer- de Schonberg tornou-se um caso exemplar de
cado ou não. Um dos traços mais marcantes como uma formalização estética é capaz de
da música popular para atender as exigências adensar, através da ruptura com a harmonia e
do mercado, e que serão analisados mais tarde tonalidade clássicas, as contradições do capi-
no ensaio Sobre Música Popular, de 1941, é o talismo da época. Em síntese, a crise do capi-
da estandardização. talismo expressa na crise da razão tonal, e

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superada pela proposta da atonalidade e do zonas de subjetividade na sociedade liberal.
dodecafonismo. Em compensação, no século XX, com a che-
No pólo oposto, Stravisnky é visto gada do capitalismo monopolista, os execu-
como lídimo representante do objetivismo tantes tornam-se verdadeiros reféns da tirania
neoclássico que ignorava a alienação e as da partitura.
contradições da sociedade moderna, buscan- Na sociedade contemporânea, subor-
do uma falsa conciliação através de formas dinada à racionalidade de uma administração
tonais pré-burquesas, como a dança. Dife- totalitária - denominada por Adorno de mun-
rentemente dos românticos do século XIX, do administrado - o consumidor permanece
que se utilizavam do passado, vendo-o idili- seduzido pela "alma inspirada" do artista de
camente, para negar o presente, os objeti- outrora. O orgânico é superior ao mecânico,
vistas se colocam no mesmo terreno dos louva-se a personalidade em oposição ao ano-
criadores de um tipo de cultura, que ado- nimato, a interioridade em oposição ao va-
tam, não dialeticamente, velhas formas para zio. O objetivismo neoclássico tenta recuperar
necessidades contemporâneas. Portanto, esse tais valores para fixá-los na estrutura interna
tipo de música é portadora de uma ideolo- de sua composição, mas sem sucesso, pois,
gia reacionária. segundo Adorno, trata-se mais de atributos
Para Adorno, uma certa música prole- da reprodução e não da esfera da criação.
tária, assim como outras artes de viés realis- Assim, todos os esforços para alterar esse
ta socialista, é quase tão reacionária quanto quadro redundam em fracasso: o maestro "ins-
o objetivismo neoclássico. São duas verten- pirado", com sua direção majestosa, estilo
tes contemporâneas que constroem harmo- Toscanini, é um miserável ersatz da esponta-
nias prematuras, deixando de lado as neidade autêntica. Na verdade, o regente im-
contradições sociais, o que Schonberg evita perial representa o equivalente musical do
fazer. Resulta daí um gênero de música utili- ditador autoritário.
tária, que valoriza a racionalidade preocu- Adorno analisa a questão da popu-
pada em esclarecer do que divertir. Esse laridade de algumas formas musicais e de seu
defeito Adorno não encontra na música de significado num determinado contexto histó-
Kurt Weill, parceiro de Bertold Brecht, onde rico. A ópera, por exemplo, perdeu seu charme
vislumbra uma certa tendência crítica. Ador- para a burguesia, mesmo que a pequena bur-
no identifica na montagem e no estilo frag- guesia ainda seja atraída pelos seus elemen-
mentado de Weill, que utiliza os choques tos repressivos subjacentes. Em seu lugar, a
tanto quanto ou mais que Stravinsky, a mú- burguesia prefere cada vez mais, os concer-
sica popular mais progressista e mais crítica tos que proporcionam uma falsa sensação de
de sua época. interioridade. No entanto, a consecução da
Na segunda parte do ensaio, ainda experiência estética mais contemplativa de um
em 1932, Adorno desloca sua análise, antes interioridade autêntica não é mais possível na
centrada na composição, para a história da sociedade moderna.
reprodução, a mediação entre os produtores A música ligeira, outrora utilizada para
e os consumidores. Ele faz uma distinção en- fustigar a aristocracia, é agora utilizada para
tre a música pré-capitalista, onde existe uma reconciliar o homem com o seu destino.
continuidade entre produção, reprodução e Adorno finaliza o artigo, enfatizando a fun-
improvisação e a música da era capitalista ção ideológica de diversas formas de música
onde tal continuidade não teria mais curso. popular, antecipando análises que iria assi-
Aqui, a composição é comparável a uma mer- nalar em escritos posteriores, sobretudo no
cadoria separada do executante, cuja mar- ensaio intitulado Sobre a Música Popular,
gem de interpretação é bastante restrita. No publicado em 1941, no qual nos deteremos
século passado, havia intérpretes, cujo indi- mais adiante, contrapontuando nossas prin-
vidualismo correspondia à persistência de cipais divergências.

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MÚSICA DE CONSUMO: O JAZZ E A tentes e que, por sua auto-supressão, é inte-
7 grado no coletivo" (Adorno, 1980, p.244);8
INDÚSTRIA CULTURAL
• articulada a essa figuração do palha-
Situam-se em dois ensaios escritos no ço com o "sujeito do jazz", encontra-se a fi-
final dos anos 30, algumas de suas análises gura da síncope (uma das figuras musicais mais
mais ricas e expressivas, neles revelando, como característica do gênero), como estabelecimento
já vimos, seu caráter antecipatório e que serão universal da resignação do próprio tropeço,
posteriormente retomadas e aprofundadas na pois essa falsa transgressão do tempo zomba
Dialética do Esclarecimento. São eles Sobre o dos tropeços mas, ao mesmo tempo, os
jazz (1936/37) e Sobre o Fetichismo na Música institucionaliza enquanto norma;
e a Regressão da Audição (1938). • a relevância da unidade sintética do
Para além da análise demolidora dos esquematismo kantiano, também para a expe-
pressu postos musicais do jaez, várias críticas riência estética, articulando a multiplicidade
prefigurativas de suas mais fecundas reflexões sensível pela razão transcendental do sujeito
da Dialética do Esclarecimento já estão pre- autônomo, através da percepção apriórica da
sentes no primeiro ensaio Überjazz (Sobre o noção de tempo e espaço, como um momento
jazz) escrito na Inglaterra em 1936, sob o pseu- constitutivo fundamental da subjetividade, ago-
dônimo de Hektor Rottweiler, para driblar a ra minado de forma deliberada pela indústria
censura nazista. cultural, a cargo de uma equipe de produção.
Poderemos destacar alguns tópicos que Adorno começa seu artigo recusando
iriam comparecer mais tarde na famosa obra desenvolver qualquer tipo de análise de cará-
sobre a Au.fklãrung: ter puramente estético, em favor de uma críti-
• o caráter ambivalente dos produtos ca de natureza psicossocial.? O jazz "não
da indústria cultural, ao mesmo tempo pudico supera a alienação, ele a reforça. Trata-se de
e despudorado, uma vez que promete mas não uma mercadoria no sentido mais estrito do ter-
cumpre, ao ostentar o erótico, no limite, o mo" (apud jay, 1977, p.218). Todas as suas
pornográfico, com uma conotação repressiva, pretensões em expressar a liberação, Adorno
ao contrário da dialética da libido numa obra as rejeita com desprezo. Sua função social prin-
de arte autêntica, vista como promesse de cipal é a de reduzir a distância entre o indiví-
bonheur conforme a expressão do escritor duo alienado e a cultura afirmativa," mas
Stendhal, adotada pelos frankfurteanos; através do estilo repressivo subjacente a um
• a figura circense do palhaço, origi- tipo de ideologia que se utiliza de velhas for-
nária das feiras, simbolizando a resistência mas culturais pseudo-populares para atender
rude daquele que, através de uma imedia- a novas demandas (Võlkisch). Num outro tre-
ticidade anárquica e arcaica, se recusa a se cho do artigo de 1955, a crítica de natureza
submeter à vida burguesa reificada, aponta- psicossocial irrompe de forma inequívoca:
da como ponto de partida para a constitui- "Contudo, por indubitável que seja a presença
ção do "sujeito do ja z z" ou do tipo de elementos africanos no jazz, é igualmente
"excêntrico" - síntese de impotência, rancor, fora de dúvida não apenas o fato de que tudo
subserviência e ressentimento numa socie- o que nele se havia irrefreado, adaptou-se des-
dade totalmente adrrúnistrada. "... uma ima- de o primeiro instante a um esquema estrito,
gem do eu que se apresenta, em geral, como também o fato de que - ao gesto de
naquele tipo de música; o jazz seria uma rebelião - associou-se sempre no jazz a dis-
realização simbólica, em que este sujeito do posição a uma cega obediência, similar àquela
jaez fracassa ante exigências coletivas, re- que (segundo a psicologia analítica) ocorre no
presentadas pelo ritmo fundamental, trope- tipo sado-masoquista: este se subleva contra a
çando, 'caindo fora', porém como algo que figura paterna, mas a continua admirando
cai fora revelando-se numa espécie de ritu- secretamente gostaria de imitá-la e sofre ainda
al, como algo igual a todos os outros irnpo- em última instância a odiada submissão" (Ador-

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no, 1968, p.186). Aliás, o jazzexerce uma fun- "Em vista da pletora de possibilidades
ção ideológica confirmada pelo mito de suas de descobrir e tratar material musical ... - o
origens negras. Afirma Adorno: "a pele do jazz revela sua absoluta pobreza. Sua maneira
Negro, assim como a explosão do saxofone, de aplicar as técnicas musicais à disposição é
nada mais é do que uma astúcia de um bom totalmente arbitrária ... Não menos pesadas são
colorista" (apud jay, 1977, p.219). as restrições de natureza métrica, harmõnica e
O jaez também proporciona uma falsa formal. A monotonia do jazznão repousa, vis-
sensação de volta à natureza, quando, de fato, ta em seu conjunto, numa básica organização
não é mais do que um puro produto social do material na qual, como em qualquer língua
artificial. Alem disso, ele é pseudo-individua- articulada, a fantasia pudesse se mover livre-
lista, pois todas as suas pretendidas improvisa- mente e sem inibições, mas na entronização
ções não são mais do que a repetição de certos exclusiva de alguns truques, fórmulas e clichês
motivos de base. Também esse ataque é reite- bem definidos".
rado em 1955: Seu pulso sincopado deriva da marcha
militar, onde Adorno vislumbra uma relação
aquilo que se apresenta em público com o autoritarismo. As tentativas para
como improvisação, e nos conjuntos reintroduzir elementos de uma autêntica es-
inconformistas ou de oposição que ain- pontaneidade são rapidamente recuperadas em
da hoje a cultivam por prazer, o mate- seu sistema reificado, em consonância com o
rial único é a trivial canção comercial mundo administrado. O que é mais significati-
e de sucesso. Por isso, as chamadas im- vo para Adorno, é que o jazz tende mais a
provisações se reduzem a paráfrase mais espacializar do que temporalizar o movimento
ou menos pobres das fórmulas básicas, musical. Adorno identifica no jazz uma das
sob cuja máscara percebe-se permanen- características da cultura de massa, tal como
temente o esquema. As próprias impro- outros membros da Escola de Frankfurt a en-
visações estão amplamente reguladas e tendia: a substituição da temporalidade histó-
repetem-se constantemente (Adorno, rica pela repetição rnítica. "O jazz é uma música
1968, p.187). que ... compõe em princípio o decurso musi-
cal com síncopes perturbadoras, sem alterar
Mais adiante, retomaremos esta questão, jamais a monótona unidade do ritmo básico,
por ocasião da análise do ensaio Sobre a Músi- dos tempos sempre idênticos".
ca Popular, explicitando uma posição contrária Para os frankfurtianos, o declínio da
à de Adorno. Como vimos anteriormente, se- temporalidade está intimamente ligado à dis-
gundo Adorno, o jazz cumpre o papel desem- solução da subjetividade autônoma. Como vi-
penhado pelos produtos da indústria cultural, mos, a percepção do desenvolvimento
ao reca1car a libido exibida na excitação rítmi- temporal, na perspectiva kantiana, é um atri-
ca, ao contrário da sublimação presente na arte buto essencial da razão transcendental da in-
autêntica. Mesmo nas variedades bot" repre- dividualidade. Adorno evoca um testemunho
senta apenas uma liberação sexual ilusória. Se adicional da destruição do sujeito individual
existe uma significação sexual do jazz, é de no jazz, quando se refere à sua função utilitá-
preferência na castração simbólica que se deve ria mais freqüente como música de dança ou
buscar, pois ele mistura a promessa de emanci- música de fundo, do que para a audição pura
pação com sua negação quase que ascética. e simples. Isso significa que, para apreendê-
Ao deslocar sua análise para um ponto 10, não é necessária a unidade sintética da
de vista puramente musical, a crítica perma- apercepção kantiana. Ao contrário do que ocor-
nece impiedosa. Para Adorno (1968, p.188), o re com o engajamento, numa espécie de práxis,
jazz como música, é um fracasso completo. requerido pela música atonal de Schonberg, o
Vejamos como essa perspectiva se expressa no ouvinte de jazz é reduzido a um estado de
ensaio Moda sem Tempo: passividade masoquista.

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As antecipações mencionadas no cor- bém estandardizada, na busca daquilo que se
po do texto de 1936 (Über jazz) , acrescidas poderia denominar pejorativamente de "emo-
posteriormente em outros trechos reiterativos, ções baratas" das massas, tal tipo de resposta
e que iriam ser retomadas na Dialética do Es- representa uma violência ao ideal de individu-
clarecimento, são apresentadas por Adorno, alidade numa sociedade livre e liberal, inscrito
de forma específica, à medida em que o de- no projeto civilizatório do Esclarecimento. O
senvolvimento da temática exigia. Em com- conhecimento de esquemas já padronizados e
pensação, no outro ensaio mencionado - familiares, na verdade, é o reconhecimento da
Sobre o Fetichismo na Música e a Regressão "fórmula que substitui a forma", princípio bá-
da Audição - Adorno trabalha em patamares sico da indústria cultural, (da fôrma que subs-
mais generalizantes, aproximando-o assim, titui a forma, segundo Edgar Morin). E o
ainda mais das idéias centrais da obra escrita reconhecimento do familiar é a essência da
com Horkheimer. Para ficar apenas num escuta de massa, um efeito em si mesmo. Uma
exemplo, poderíamos mencionar a importân- vez o sucesso de uma fórmula assegurada, a
cia atribuída à dialética das categorias univer- indústria cultural se encarrega de promovê-Ia
sal/particular, tanto num plano puramente sem cessar.
estético (a supressão desse par dialético - tão
essencial na arte autônoma - na indústria cul- No jazz, o ouvinte amador é ca-
rural), quanto na análise da situação do indi- paz de substituir complicadas fórmu-
víduo na sociedade administrada, onde o las rítmicas ou harmônicas pelas
universal predomina absolutamente sobre os esquemáticas que aquelas representam
momentos particulares, quebrando a harmo- e ainda sugerem, por mais ousadas que
nia dialética, bem como dissolvendo a pró- possam parecer. O ouvido enfrenta as
pria noção de sujeito autônomo, conforme a dificuldades do hit encontrando subs-
Ilustração a concebeu. tituições superficiais, derivadas do co-
Outro ensaio dedicado à análise da nhecimento dos modelos padronizados.
música de consumo, Sobre Música Popular, foi O ouvinte, quando se defronta com o
escrito em 1941. Mantendo sua apreciação hostil complicado, ouve, de fato, apenas o
ao jazz; paradigma da música popular ameri- simples que ele representa, percebendo
cana, Adorno aponta a estandardização e a o complicado somente como uma paro-
pseudo-individuação como suas características dística distorção do simples (Adorno,
mais marcantes. 1986, p.120).

Os próprios detalhes não são Mas existe uma ambivalência na estan-


menos padronizados do que a forma; e dardização, que precisa ser resolvida, caso
há toda uma terminologia para eles contrário a indústria cultural corre sérios riscos.
lhitsl, como break, blue chords, dirty
notes. A estandardização deles é, no A estilização da sempre idêntica
entanto, algo diferente da estrutura ge- estrutura básica é apenas um aspecto da
ral. Não é aberta como essa última, mas estandardização. Concentração e con-
escamoteada atrás de uma fachada de trole, em nossa cultura, escondem-se em
'efeitos' individuais, cujas prescrições sua própria manifestação. Não camu-
são manipuladas como um segredo de flados, elesprovocariam resistências. Por
especialista, por mais que esse segredo isso,precisa ser mantida a ilusão e, em
esteja aberto aos músicos em geral certa medida, até a realidade de uma
(Adorno, 1986, p.117). realização individual (idem: p.123).

Uma vez que a estandardização cornpo- Os resíduos do ideal individualista ain-


sicional é manipulada para uma escuta tarn- da estão presentes no interior da cultura de

MlAANDA, DILMAR SANTOS DE. A MÚSICA DE CONSUMO... P. 90 A 104 97


massa, sob formas ideológicas da estética do na verdade, "uma linguagem que serve como
gosto e de uma pseudo livre-escolha. Uma um receptáculo para os seus desejos institu-
estandardízação unívoca correria riscos. Daí a cionalizados" (idem, p.138). Enquanto a músi-
distinção, cum grano salis, que faz Adorno ao ca séria da fase do capitalismo liberal possuía
utilizar o termo indústria aplicável, de modo uma linguagem sui generis, preservando, com
mais apropriado, na esfera da racionalização isso, sua autonomia, a música popular burgue-
das técnicas de distribuição do que estritamente sa-tardia se institucionaliza como receptáculo,
no domínio da criação. exercendo urna função meramente sociopsi-
Elementos artes anais são mantidos na cológica. A música torna-se uma espécie de
produção da música popular, conferindo-lhe cimento social, cujos meios são a distração, a
um caráter de individualidade, ou melhor, de evasão e a pseudo-satisfação dos desejos e o
pseudo-individuação. Por essa categoria, Ador- desenvolvimento da passividade.
no entende "o envolvimento da produção cul- Um tipo sociopsicológico, encontrado
tural de massa com a auréola da livre-escolha na jovem geração do rádio, é extremamente
ou do mercado aberto, na base da própria susceptível a um processo masoquista de ajus-
estandardização" (idem, p.123). Para Adorno, tamento coletivista autoritário. Tal tipo se ma-
o caso exemplar mais radical da estan- nifesta na esfera rítmica, na obediência ao beat,
dardização com presumíveis traços de indivi- a batida rnarcante quaternária, característica do
dualidade é encontrado nos chamados jazz, unidade rítmica enfatizadora e irredutível.
"improvisos" do jazz, para promover artificial- Para esse tipo, a experiência musical é
mente, o mito do artesanato dos seus tempos vivenciada na levada rítmica, a despeito das
heróicos. Na verdade, os momentos desses pseudo-individuações, tais como as síncopes
improvisos já se encontram prescritos na es- ou outros contratempos, preservando-se a ba-
trutura estandardizada. Assim, a improvisação tida fundamental. O modelo do ser musical
constitui seus cânones, é "normatizada", tor- consubstancia-se no ser capaz de seguir as
nando-se, portanto, pseudo-ímprovísação, ou batidas rítmicas dadas, sem grandes perturba-
seja, em pseudo-indivíduação.". ções "individualizadoras", ajustando inclusive
Por intermédio desse procedimento, a as síncopes no interior do tempo básico. De-
improvisação encontra-se subordinada à corre daí a explicitação do desejo à obediên-
estandardização. Com isso, o apreciador do cia individualizada a um rito coletivo. "No
jazz se sente sempre pisando em terreno co- entanto, como o compasso padronizado da
nhecido. O eterno retorno ao sempre igual lhe música para dança e marcha sugere os bata-
proporciona uma sensação de segurança. Por lhões bem ordenados de uma coletividade
outro lado, algumas figuras esquemáticas da mecânica, a obediência a esse ritmo pela su-
improvisação, a exemplo das blue notes, de- peração da individualidade capaz de dar res-
sempenham o papel de ornamento, estetizando postas, leva-os a conceberem a si mesmos
o improviso. "É um fato bem conhecido que, como aglutinizados com os incontáveis milhões
em arranjos mais ousados para jazz, notas de submissos que precisam ser superados de
perturbadoras, tons 'sujos' em outras palavras, modo similar" (idem, p.139).
notas falsas, desempenham um papel conspí- Adorno articula sua análise do segun-
cuo. São percebidas como estímulos excitan- do tipo, o de caráter "emocional", a um tipo
tes só porque são corrigidas pelo ouvido para de espectador de cinema. Hollywood e Tin Pan
a nota correta" (idem, p.124). Alley são entidades do mesmo sistema de pro-
Com isso, Adorno conclui que a músi- dução cultural, das fábricas de sonhos.
ca popular, inclusive o jazz; prescreve os seus
próprios cânones e hábitos de escuta. A sua Quando num filme sentimental
linguagem padronizada é resultado de pro- ou numa música de mesmo tipo, a au-
cessos objetivos inscritos na realidade social diência toma consciência da avas-
exterior, e que os ouvintes pensam ser deles, saladora possibilidade defelicidade, eles

98 REVISTA DE Clt=NCIAS SOCIAIS v. 28 N.1/2 1997


ousam confessar a si mesmos o que toda doce mania ... Na verdade, eu era na época,
a ordem da vida contemporânea comu- mortalmente sério, o que, para um artista
mente lhes proíbe de admitir, ou seja, amadurecido, devia certamente dar nos ner-
que eles não têm efetiva participação na vos". A sua estada em Viena foi fundamental
felicidade (idem, p.140). para consolidar sua personalidade séria e exi-
gente com os critérios de concepção e apreci-
Assistir a uma trama de amor sentimen- ação daquilo que ele denomina na sua obra
tal, por mais que pareça, não satisfaz o desejo de arte autônoma - a autêntica obra de arte.
de sua realização, mas não nega ao expectador Nessa ocasião, Adorno, além das aulas recebi-
a consciência de que não é feliz, mas poderia das de Berg, de participar do círculo da músi-
sê-lo. Por isso, chora de emoção. A verdadeira ca de vanguarda vienense, sob a liderança de
função da música sentimental contemporânea Schonberg, tinha presença assídua nas confe-
consiste em proporcionar a uma audiência rências de Karl Kraus, um entusiasta defensor
emotiva, através da sensação de "emoções ba- da qualidade no mundo das artes e da cultura.
ratas", uma liberação fugaz dada à consciência "De fato, Adorno jamais abandonou, durante
pelo reconhecimento de seu próprio fracasso. toda a sua vida, sua concepção 'elitista' da cul-
tura" (Jay, 1977, p.40).
É catarse para as massas, mas Credita-se a um certo elitismo
uma catarse que os mantém todos ain- eurocêntrico, do qual seria portador, a razão
da mais firmemente na linha. Quem das críticas por ele deferidas, contra os
chora não resiste mais do que quem aportes de elementos africanos ao jazz. Um
marcha. Uma música que permita a exemplo disso seria a identificação da rebe-
seus ouvintes a confissão de sua infeli- lião anti-escravista nos Estados Unidos, por
cidade reconcilia-os com a sua depen- parte de músicos negros, como uma espécie
dência social por meio dessa 'liberação' de submissão meio-rancorosa, meio-cúmpli-
(idem, p.141). ce, bastante próxima do tipo sadomasoquista
descrito pela psicanálise. Com o risco de
CONTRAPONTOS ÀS CRíTICAS DE ADORNO cairmos numa excessiva generalização, afir-
maríamos que seria difícil para uma alma
Gostaríamos de propor dois níveis de apolínea como a de Adorno, compreender a
questionamento às críticas de Adorno relativas explosão dionisíaca expressa na música afro-
ao jazz aqui apresentadas. Um nível mais ge- americana, que é o jazz.
ral, cujo detalhamento extrapolaria as inten- No tocante à sua concepção de arte,
ções e os limites deste ensaio, refere-se à sua são bem conhecidas as divergências no interi-
concepção de arte. Contraditá-la, exige um ní- or da Escola de Frankfurt. A mais célebre ficou
vel de desenvolvimento analítico cuja realiza- por conta da polêmica travada com Walter
ção demandaria um outro trabalho. O outro Benjamim, quando este escreveu o famoso
seria relativo à sua análise mais específica so- ensaio sobre A Obra de Arte na Época de sua
bre o jazz. Reprodutibilidade Técnica, em 1936, imedia-
Sumariamente, poderíamos pontuar tamente contestada por Adorno, no ensaio So-
aspectos da gênese e expressão de sua con- bre o Fetichismo na Música e a Regressão da
cepção sobre arte e cultura. Segundo estudio- Audição, em 1938. No ensaio de Benjamim,
sos da sua vida e obra, como Martin]ay, Adorno percebe-se uma inflexão em sua concepção de
sempre se caracterizou por uma personalida- arte, rumo a uma aceitação mais matizada das
de cultivada e refinada e intelectualmente in- possibilidades estéticas, em produtos advindos
transigente. O próprio Adorno Capud]ay, 1977, de meios técnicos de reprodução, portanto uma
p.40) deveria reconhecer mais tarde que "Berg concepção de arte desauratizada, a exemplo
[seu mestre Alban Berg] não via, às vezes, na do cinema. Por via de conseqüência, com a
minha bagagem filosófica, mais do que uma expllcitação das características redefinidoras do

MiRANDA, DILMAR SANTOS DE. A MÚSICA DE CONSUMO... P. 90 A 104 99


que seria arte na contemporaneidade e que Além disso, a riqueza estilística e as
vieram à tona, na famosa polêmica, seria legí- múltiplas possibilidades estéticas, em poucas
timo indagarmos se estaríamos assistindo ao décadas de existência, configuram o jazz como
declínio da arte autêntica ou à morte de uma um gênero musical específico, conferindo atri-
certa concepção de arte. Fica apenas o butos bem diferentes daqueles da música co-
questionamento, pois, como já dissemos, sua mercial, situando-o talvez mais próximo daquilo
resposta ultrapassa os propósitos deste artigo. que Adorno denominava de música séria, ape-
Marcuse, mesmo possuindo certas afi- sar dessa designação ser repudiada por certos
nidades com a visão de arte adorniana - o que jazzmen, precisamente por negar-lhe sua iden-
foi visto no cotejo de sua obra A Dimensão tidade estético-musical.
Estética com vários postulados consolidados É preciso ter em conta que muitas das
na Teoria Estética de Adorno - dela se afasta análises que Adorno desenvolveu, têm sua ra-
na apreciação sobre a música popular afro- zão de ser, se considerarmos o jazz da era do
americana. Em Sobre a Liberação, Marcuse swing, que vai da metade dos anos 20 até os
enxergava no blues e no jazz elementos de anos 40. Esse estilo caracterizou-se pelas gran-
uma "nova sensibilidade", portadora de certa des orquestras formadas por seções de naipes
característica negadora do mundo administra- (as big bands compostas com até 18 músicos).
do, a qual representaria uma crítica da cultura No início, essas bandas, formadas só por mú-
afirmativa dominante. (Cf. Jay, 1977, p. 369s, sicos negros, tocavam nos clubes noturnos para
nota 63). a sociedade branca dançar e se divertir. O que
O segundo nível de questionamento se tocava era jaez, (os mais radicais afirmam
situa-se na contestação contrapontuada de que o estilo swing é onde o jaez é menos
certas passagens, onde Adorno desqualifica jazz) com a ressalva de que as melodias eram
principalmente, do ponto de vista musical, filtradas e diluídas por um certo padrão
as figuras mais expressivas e os traços mais édulcoré para atender o gosto daquela socie-
característicos do jaze, sobretudo, a sínco- dade. Muitas dessas melodias eram promovi-
pe e a improvisação." Vimos que, desde o das comercialmente na Tin Pan Alley, região
ensaio Überjazzde 1936, Adorno vê no jaze novaiorquina onde se encontravam as gran-
um modelo de produto da indústria cultu- des editoras musicais q~e, aliadas às grandes
ral, que obedece à racionalidade técnica e gravadoras, procuravam ditar o gosto musical
mercantil do mundo administrado. Sua do público da época. Nas big bands, o espaço
fórmula é a estandardização, a pseudo- para a improvisação era raro, no máximo, uns
individuação camuflada em falsos improvi- oito compassos para o brilho fugaz de um
sos, a síncope como falsa transgressão do músico virtuose."
tempo, o ritmo marcial. Sem partilhar da Será, precisamente, este constrangimen-
visão apocalíptica de Adorno acerca da in- to à qualidade mais apreciada pelo negro que
dústria cultural, vendo nela possibilidades irá provocar a rebeldia contra a domesticação
ambivalentes de função ideológica, bem de sua arte, através da revolução do bebop,
como de esclarecimento e de democratiza- onde, o que passará a ser mais valorizado, será
ção, a nosso ver, muitas de suas análises a improvisação dos pequenos conjuntos."
são justas, principalmente as pertinentes ao
processo de criação da música popular co- Foi essa situação que levou ao
mercial, mas são equivocadas quando apli- primeiro grito consciente de revolta do
cadas de forma unívoca na crítica ao jazz. jazz negro: a criação do bebop, no co-
Em outras palavras, trata-se de uma teoria, meço da década de 1940. Charlie
em princípio, correta para um exemplo in- Parker, Dizzy Gillespie, Thelonius
correto. Seríamos tentados a dizer que Ador- Monk, Charlie Mingus rejeitam o mo-
no parece acertar no diagnóstico e errar o delo Pai Tomás que tipifica a música
paciente. de jazz tradicional - a imagem do

100 REVISTADE OtNCIAS SOClAlS v. 28 N.1/2 1 997


'bom crioulo' sintetizada pelo riso ale- to momento sensível da pulsão criadora e ex-
gre epelos olhos esbugalhados de Louis pressão da cultura negra, não representa o
Armstrong. Noplano musical, eles com- bappy end de um processo idílico de fusão de
batem os clichés do swing que torna- culturas e práticas musicais de diferentes etnias.
ram o jazz tão fácil de ser imitado, tão
vulnerável (Muggiatti, 1981, p. 32s). Não houve cruzamento nem
mistura, mas luta das influências, da
o resgate da improvisação realizado dominante e da dominada - esta só
pelo estilo bebop, foi posteriormente radica- resistiu àquela enfatizando mais e
lizado pelo estilo do free jazz, no início dos mais suas diferenças. O free jazz cons-
anos 60. Seus cultores adotam a atonalidade titui a retomada e radicalização -
livre, a dissolução da pulsação métrica, a in- musical, cultural e politica - do con-
corporação de elementos de culturas musicais junto dessas diferenças (Carles e
não-ocidentais além das já presentes desde o Comolli, s/d, p.47).
jaez arcaico, o "culto da intensidade" instru-
mental, o ruído como som, incorporando a Ao contrário da visão univocamente
estética modernista dos anos vinte. hostil de Adorno, desqualificando o jazzcomo
A história do jazz e de sua riquíssima um todo, não são poucos, os autores que o
transformação estilística, a cada década, por vêem como expressão de resistência à domi-
mais que possa aparentar, não obedece a um nação da sociedade burguesa branca.
progresso linear. Pelo contrário, deve ser en-
tendida como uma história de lutas, de con- O jazz de vanguarda [free jazzl
flitos e tensões inscrita na forma musical e dos anos 60 era consciente epoliticamen-
internalizada na própria estrutura das op- te negro, como nenhuma outra geração
ções estilísticas e estéticas de cada época. A de músicos de jazz o tinha sido, embora
mediação que Adorno tanto preconiza para a História Social do ]azz já tivesse nota-
analisar as implicações das contradições ex- do algumas ligações entre as novas ex-
tra-musicais no interior da forma musical, periências em jazz e a conscientização
parece ser negada pelo próprio, quando se negra. Como Wl?itney Balliett disse nos
ocupa do jaze. anos 70: 'o free-jazz é realmente o jazz
Sem nos afastarmos dos seus pressu- mais negro que há '. Negro e radical po-
postos, poderíamos afirmar que as criações liticamente' (Hobsbawm, 1990, p.19)'
negras, como o jazz, e seus diferentes estilos,
se inscrevem, desde suas origens heróicas do Do blues da proto-história do jazz ao
Deep South, nos temas e tramas da sociedade atual acid jaze (fusão do jaez com o que
burguesa americana, quer realizem, quer reite- tem de mais radical na presente música ne-
rem ou expressem-nos, quer tentem negá-los. gra americana, o rap), passando pelo bebop,
A nosso ver, o equívoco de Adorno consiste free jaze, third stream, revival do jaez acús-
em ter sido incapaz de ver no jazz suas possi- tico, este amplo arco representa um quadro
bilidades de negação da cultura dominante de opções estilísticas constituidoras do caráter
burguesa, tomando seus momentos de de resistência, de uma "nova sensibilidade"
domesticação e recuperação pela racionalidade de que falava Marcuse. São precisamente
instrumental, como elementos estruturais ine- estes momentos que conferem à música afro-
quívocos da sua organização composicional. americana aquela alteridade negativa, plei-
O terreno do jazz é o das contradições da teada pelas concepções estéticas dos
sociedade que o possibilitou, não só porque frankfurtianos, na configuração do que cha-
carrega suas marcas, mas porque tem sido, no mavam de arte autêntica, se é que podemos
curso de sua história, uma de suas forças de nos manter fiéis a elas, na "era da reprodu-
negação. A síntese precária do jazz; enquan- ção mecânica da obra de arte".

MlRANDA, DILMAR SANTOS DE. A MÚSICA DE CONSUMO ... P. 90 A 104 101


NOTAS Schónberg, do seu romance Doutor
Faustus, escrito durante o exílio america-
1 A obra foi escrita por Theodor Adorno e no. Sua trama nos remete a um novo pacto
Max Horkheimer em 1947, ainda no exílio entre o artista (compositor) e o diabo, para
americano. estabelecer a racionalidade de uma nova
2 Waizbort 0991, p.12) registra já no início dos
ordem escalar, expressa pelo dode-
anos 20, com a ressalva de um "se não me cafonismo, nova via possibilitadora para
engano", a publicação do primeiro texto so- superar os impasses da crise da racio-
bre música de Adorno, um artigo sobre uma nalidade tonal vigente durante séculos, no
ópera de seu professor, Bernhard Sekles, universo musical eurocêntrico. O próprio
intitulada Die Hochziet des Faun (As Núpcias Adorno é homenageado no romance, atra-
de Fauno). vés da personagem Wisengrund, sobreno-
3 Roberto Schwarz 0997, p.141), no ensaio me da linha paterna abandonado pelo
sobre a Dialética da Malandragem de An- próprio autor.
tônio Cândido, ao tratar da forma do ro- 7 As pesquisas da obra adorniana, feitas por
mance (reflexão que podemos estender à Martin jay, Rodrigo Duarte e Leopoldo
música, resguardada a especificidade de Waizbort, nos autorizam a concluir que
cada arte), na melhor filiação adorniana, não existe um jovem e um velho Adorno,
afirma: "Assim, a junção de romance e so- no sentido de apontar descontinuidades
ciedade se faz através da forma. Esta é en- ou rupturas, ao longo de sua vida, pelo
tendida como um princípio mediador que menos no que se refere à sua Sociologia
organiza em profundidade os dados da fic- da música. Categorias e análises das obras
ção e do real, sendo parte dos dois pla- centrais de sua teoria crítica encontram-
nos. Sem descartar o aspecto inventivo, se muitas vezes antecipadas em artigos
que existe, há aqui uma presença da reali- com anos de antecedência. Tematizações
dade em sentido forte ... Noutras palavras, anteriores são retomadas sem rupturas de
antes de intuída e objetivada pelo roman- concepção. Na análise da indústria cultu-
cista, a forma que o crítico estuda foi pro- ral e da música, esse fato parece ser mui-
duzida pelo processo social, mesmo que to claro. Isso justifica o uso que fizemos
ninguém saiba dela. Trata-se de uma teo- de citações secundárias, sobretudo dos
ria enfática do realismo social enquanto três pesquisadores citados, bem como de
formada ... a forma dominante do roman- referências e paráfrases do próprio Ador-
ce comporta, entre outros elementos, a no, para contornar a impossibilidade de
incorporação de uma forma de vida real, acesso a obras que ainda só são encon-
que será acionada no campo da imagina- tradas no original alemão, a exemplo do
ção. Por outro lado, não se trata de um primeiro ensaio sobre o jaez, de 1936 (V.
realismo espelhista, pois uma forma não é notas 8 e 9).
toda realidade, além do que ela pode se 8 A citação acima, na verdade, foi retirada de
combinar com elementos historicamente um escrito bem posterior ao ÜberJazz, mas
incaracterísticos ... " se trata de uma análise onde o próprio Ador-
4 É na obra póstuma Teoria Estética, publicada
no faz alusão ao que havia escrito no ensaio
em 1970, onde o conceito de negatividade e de 1936.
sua importância ganham sua mais decidida 9 Em artigo escrito em 1955, portanto qua-
expressão no interior da obra adorniana. se 20 anos depois, intitulado Moda sem
5 Os grifos são do próprio Marcuse. Tempo: sobre o [az z, Adorno reitera seu
6 O escritor Thomas Mann valeu-se da in-
vere dito francamente desfavorável ao
tensa colaboração de Adorno para a cons- gênero.
trução da personagem central, intimamente 10 "Por cultura afirmativa entende-se aquela
calcada na experiência estética de cultura que pertence à época burguesa e que,

102 REVISTADE Oi::NCIAS SOCIAIS v. 28 N.1/2 1997


ao longo do seu próprio desenvolvimento, __ O Fetichismo na Música e a Regressão
o

conduziu à separação do mundo anímico-es- da Audição, in: Os Pensadores, São Paulo:


piritual, como independente reino dos valo- Abril Cultural. 1980.
res, da civilização, colocando aquele numa __ Introdução à Controvérsia sobre o
o

posição superior à desta" (Marcuse, 1970,p.57). Positivismo na Sociologia Alemã, in: Os Pen-
11 Estilo "quente" característico do estilo de New sadores, São Paulo: Abril Cultural, 1980.
Orleans, do início deste século, preservado __ Filosofia da nova música. São Paulo:
o

durante a revolução do bebop dos anos 40, Ed. Perspectiva, 1989.


e que será posteriormente contraposto ao __ Moda sem Tempo: sobre o jazz. Revista
o

estilo cool, às vezes quase minimalista, do da Civilização Brasileira, n 18,março/abril, Q

jazz da costa oeste americana. Rio de Janeiro, 1968.


12 Como podemos concluir, em nenhum mo- __ Sociologia da Arte e da Música. Temas
o

mento Adorno flexibiliza sua hostilidade re- Básicos da Sociologia, São Paulo: EDUSP/
lativa à característica mais específica do jazz, Ed. Cultrix, 1973.
no caso, a improvisação. Em diversas passa- __ e HORKHEIMER, Max. Dialética do Es-
gens de diferentes épocas, ele mantém o clarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
núcleo duro de suas apreciações. Editor, 1991.
13 Cabe assinalar que o jaez criticado por Ador- __ . Teoria Estética. São Paulo: Martins Fon-
no é um jazz datado, da época das big bands tes, 1983.
Cerado sunng), e das edições comercializadas BENJAMIM, Walter. A obra de arte na época
da Tin Pan Alley. de suas técnicas de reprodução, in: O. Ma-
14 Cumpre dizer que, par outro lado, algumas tos (org.) Os Pensadores, São Paulo: Abril
big bands, como a de Duke Ellington, come- Cultural, 1980.
çaram a executar certas experimentações BERENDT, Joachim. O jazz - do rag ao rock.
coletivas em termos de harmonia e perfor- São Paulo: Perspectiva, 1987.
mance que foram posteriormente incorpora- COHN, Gabriel. Introdução a Adorno in: Cohn
das pelo estilo da década seguinte. Corg.) Grandes Cientistas Sociais, São Pau-
15 A apreciação de Hobsbawm 0990, p.45) lo: Ática, 1986.
sobre o jazz vai justamente no sentido opos- CARLES, P. e COMOLLI J.L. (s/d) Free jazz -
to: "não há duas execuções exatamente iguais Black power. Abre Alas, nQ l.
de uma mesma música por duas bandas di- DUARTE, Rodrigo. (992), Da Filosofia da
ferentes. E se duas execuções de uma mes- Música à Música da Filosofia: uma interpre-
ma música por duas bandas diferentes tação do itinerário filosófico de T. W. Ador-
soarem idênticas ..., então uma delas estará no. Kriterion, Belo Horizonte, UFMG.
deliberadamente imitando a outra". Podería- HOBSBAWN, Eric. História social do jazz. R.
mos acrescentar que, cada conjunto tem o de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
seu som, porque cada músico que o com- JAY,Martin. L 'irnagination dialectique - L'école
põe, tem o seu. de Francfort 0923-1950). Paris: Éditions
Payot, 1977.
JAUS,Hans Robert. (986), Experiencia estética
BIBLIOGRAFIA y hermeneutica literaria. Madrid: Taurus
Ediciones, 1986.
MARCUSE,Herbert. Sobre o caráter afirmativo
ADORNO, Theodor. Teses sobre sociologia da cultura. Cultura e Sociedade, Lisboa, Edi-
da arte, in: Cohn Corg.), Grandes Cientistas torial Presença, 1970.
Sociais, S.Paulo: Editora Ática, 1986. __ A Dimensão estética. São Paulo: Martins
o

___ Sobre música popular, in: Cohn (org.),


o

Fontes, 1986.
Grandes Cientistas Sociais, São Paulo: Edi- MUGGIATI, Roberto. Rock - o Grito e o Mito.
tora Ática, 1986. Petrópolis: Vozes, 1981.

MiRANDA, DILMAR SANTOS DE. A MÚSICA DE CONSUMO ... P. 90 A 104 103


BH/UFC

SCHWARTZ, Roberto. Pressupostos, salvo enga- ___ o Aujklãrung Musical- Considerações so-
no, da Dialética da Malandragem. Que horas bre a Sociologia da Arte em Tb. W Adorno.
são?São Paulo: Companhia das Letras. , 1997. Dissertação de Mestrado. FFLCH/USP.
WAIZBORT, Leopoldo. Sacrifício e liquidação (rnimeo.), 1991.
do sujeito. Notas sobre a sociologia da mú- WEBER, Max. Fundamentos racionais e So-
sica de Adorno. Tempo Social, n 2, FFLCH/
Q
ciológicos da Música. São Paulo:
USP. São Paulo, 1990. EDUSP, 1995.

104 REVISTA DE CI~NCIAS SOCIAIS v. 28 N.1 /2 1 997

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