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Marieta de Moraes Ferreira


Margarida Maria Dias de OlivE;ira
[coordenação] .,

'''-FGV EDITORA
teses, discussão, questionamento, avaliação, pesquisa em outras fontes como
bibliotecas, arquivos, cartórios, instituições, jornais, entrevistas, com o ob­
jetivo de desenvolvimento das capacidades de análise e julgamento crítico,
EDUCAÇÃO P A T R IM O N IA L interpretação das evidências e significados; d) Apropriação: por fim, nessa
última etapa poderão ser feitas recriação, releitura, dramatização, interpreta­
A tm ir O liu e ir a ção em diferentes meios de expressão como pintura, escultura, drama, dança,
música, poesia, texto, filme e video, com o objetivo de envolvimento afetivo,
intemalização, desenvolvimento da capacidade de expressão, apropriação,
participação criativa, valorização do bem cultural.
O GUIA BÁSICO de Educação Patrimonial publicado pelo Instituto de Patri­ As autoras descrevem uma série de atividades e exemplos de como pôr
mônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informa-nos que, por meio da em prática essa metodologia, incluindo aí a possibilidade de multiplicação
prática de atividades de Educação Patrimonial, o patrimônio cultural pode e da aplicabilidade da técnica por meio das chamadas Oficinas de Educação
deve ser utilizado por todos que compõem nossa sociedade, sejam na condi­ Patrimonial a serem ministradas com professores das redes de ensino e
ção de crianças, jovens ou adultos, como fonte para o conhecimento, tanto interessados na temática.
individual quanto coletivo, sobre o nosso passado, sobre nossas tradições, Nos mais de 30 anos que nos separam destas definições muita coisa mu­
capacitando-nos para que possamos ser capazes de usufruir e valorizar nossa dou. Por exemplo, no ano de 2000 foi promulgado o Decreto-Lei n2 3.551
herança cultural, bem como mediante processos de criação cultural, quando cujo objetivo era o de instituir o Registro de Bens Culturais de Natureza
necessário, estejamos capacitados a atos de ressignificação, incorporando-a Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, criar o Programa
a nossa vida cotidiana, ao nosso dia a dia. Nacional do Patrimônio Imaterial, além de dar outras providências rela­
A origem da metodologia é datada nos trabalhos desenvolvidos na In­ cionadas com essa temática garantindo assim a oficialização do chamado
glaterra a partir da chamada heritage education e suas primeiras aplicações patrimônio imaterial brasileiro.
no Brasil a partir do i B Seminário de Educação Patrimonial realizado no Além dessa importante mudança, verificou-se ainda uma ampliação bas­
Museu Imperial, em Petrópolis, no ano de 1983. tante significativa das ações educativas que tinham a educação patrimonial
As etapas de desenvolvimento dessa ação educativa foram consolidadas como metodologia norteadora da relação ensino-aprendizagem por meio
como: a) Observação: nessa primeira etapa da metodologia, poderão ser rea­ do patrimônio cultural. Essa metodologia, para além do uso nos setores
lizados exercícios de percepção visual/sensorial, por meio de perguntas, educativos dos museus, passou a ser usada em outros locais, incluindo-se
manipulações, experimentação, medição, anotações, comparação, dedução, aí as salas de aula nos diversos níveis de ensino. Passou a ser comum sua

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jogos de detetive, com o objetivo de identificação do objeto, a função e o aplicação com o intuito de reconhecimento do patrimônio, como também da
significado deste, facilitando o desenvolvimento da percepção visual e sim­ possibilidade de ela poder vir a florescer e fortalecer um sentimento de per-
bólica; b) Registros: nessa segunda etapa, poderão ser feitos desenhos, des­ tencimento e de identidade nos membros participantes das comunidades,
crição verbal ou escrita, construção de gráficos, podem-se tirar fotografias, principalmente nos locais onde sejam realizadas essas atividades, condições
haver confecção de maquetes, de mapas e de plantas baixas, com o objetivo alimentadas a partir das discussões em relação ao patrimônio (material ou
de fixação do conhecimento percebido, aprofundamento da observação e imaterial), em relação à memória (individual ou coletiva) e em relação ao
análise crítica e desenvolvimento da memória, pensamento lógico, intuitivo próprio ensino de história.
e operacional; c) Exploração: nessa terceira etapa, os alunos, em conjunto Nessa perspectiva podemos incluir o próprio ensino superior, demons­
98 com o professor, poderão fazer análise do problema, levantamento de hipó­ trando sua força e praticidade quando o assunto era o uso do patrimônio 99
100 como objeto intermediador na relação ensino-aprendizagem. Decorrente
uma sensibilização patrimonial que garanta sentidos de preservação e
disso, o que se pode notar foi uma ampliação de trabalhos acadêmicos e das
de pertencimento desse patrimônio em relação à comunidade da qual
publicações, livros, artigos em revistas, anais de eventos em diversas áreas
D IC IO N Á R IO DE E N S IN O DE H IS TÓ R IA
ele faz parte.
(incluindo aí a história), monografias de finais de curso e especializações,
Para além da bibliografia sugerida ao final do dicionário, é possível
dissertações de mestrado e teses de doutorado tratando do assunto.
encontrar material sobre a temática, tanto conceituai como de orientação
As mudanças ocorridas, a consolidação da metodologia, verificada atra­
prática na página do Iphan no seguinte endereço eletrônico: <http://portal.
vés do seu crescente uso e a ampliação da produção sobre a temática, ao lon­
iphan.gov.br/pagina/detalhes/343>. Gostaríamos de apresentar também
go desses anos, nos colocam ante uma questão importante: pode-se pensar
alguns exemplos que podem ser consultados de projetos que têm a educa­
em um potencial caráter educativo para o patrimônio cultural?
ção patrimonial e/ou o uso do patrimônio cultural, em sala de aula, como
A nosso ver, sim, principalmente pelo fato de esse caráter ter sua inte­
referência: 1: - Educação patrimonial por meio das oficinas de Arte, desen­
ligibilidade e sua materialização no papel de documento histórico, docu­
volvido por Maria Cristina Pastore - bolsista Pibid da Universidade Federal
mento como marcas deixadas pelo passado no nosso presente, que o pa­
de Rio Grande em um subprojeto de artes visuais; 2 - Educação patrimonial
trimônio pode assumir, papel esse que pode ser explorado nas atividades,
e memória: projeto de integração regional da Quarta Colônia, desenvolvido
nas ações educativas realizadas por meio da prática da educação patrimo­
por Elaine Binotto Fagan que é licenciada em filosofia e história pela Uni­
nial, quando esse é usado para demonstrar as relações de permanências
versidade Federal de Santa Maria (UFSM)/RS, vem desenvolvendo pesqui­
e mudanças ou de semelhanças e diferenças entre sociedades localizadas
sa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultural,
em tempos diversos/diferentes, bem como em múltiplos espaços, quanto
Mestrado Profissional, pela mesma Universidade e é professora da Escola
à forma de pensar, de agir, de produção de um saber, de construir, de ha­
Estadual de Educação Básica João XXIII de São João do Polêsine (RS); 3 -
bitar, de alimentar, de vestir etc.
Conhecer para pertencer: o patrimônio cultural como caminho para uma
Relações desveladas e desmistificadas que podem possibilitar novas for­
maior percepção da história para 2- série do primeiro ciclo, desenvolvido
mas de enxergar as antigas construções, as produções e as manifestações
como projeto de pesquisa pelos alunos do 4° ano do curso de história da
culturais singulares, retirando-lhes qualquer véu mistificador. Produções
FHDSS/Unesp/Franca, Cleber Sberni Jr. e Flávio Henrique Simão Saraiva,
culturais que surgem das atividades cotidianas desses grupos e que não
com orientação da professora doutora Vânia de Fátima Martino do Depar­
ficam nada a dever a supostas produções culturais mais “elaboradas”, aju­
tamento de Educação, Ciências Sociais e Política Internacional da FHDSS/
dando a preservar a memória social e o direito a ela.
Unesp/Franca; 4 - Educação patrimonial e a interdisciplinaridade em sala
Esse aspecto pode ser um dos garantidores da construção de uma ci­
de aula: um estudo de caso, desenvolvido pelo professor André Luis Ramos
dadania plena, que não se restrinja simplesmente à posse de documentos
Soares do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Educação
ou ao ato singular de participar de eleições. Mas que faça com que esses

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da UFSM e pelo professor Sergio Célio Klamt do Departamento de Mate­
grupos possam, com as próprias mãos, guiar seus destinos como cidadãos
mática da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc); 5 - Educação patrimo­
comprometidos com seu passado. Nessa perspectiva é que podemos falar
nial nas escolas: aprendendo a resgatar o patrimônio cultural, desenvolvido
da utilização do patrimônio cultural, intermediado pela metodologia da
por Allana Pessanha de Moraes, aluna do curso de ciência da educação da
educação patrimonial na sala de aula de história, geografia, matemática,
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como projeto
português, pois, para além desse seu potencial educativo, outra carac­
de pesquisa, além de uma série de outros trabalhos desenvolvidos pelo país.
terística da m etodologia é sua utilização de forma interdisciplinar, de
forma compartilhada de saberes a serem usufruídos, proporcionando uma
educação dos sentidos, do olhar, do sentir, do ouvir, permitindo assim
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