Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UNIRIO

Centro de Letras e Artes – CLA


Instituto Villa-Lobos – IVL

Disciplina: HM II

Semestre/Ano: 1 semestre/2022

Aluno: Matheus da Silva Anselmo Rocha

Semanas: 1

Fichamento do texto Nacionalismo Musical

Esse texto de José Wisnik tem como finalidade fazer uma observação sobre
como a música era retratada no contexto histórico do século XX, onde se propagaram as
ideias do Estado Novo por todo o meio cultural e musical.

 NACIONAL POPULAR, VANGUARDA-MERCADO

Em primeira análise, observa-se uma visão um tanto quanto deturpada quando o


autor destaca que os compositores tentavam homenagear o povo brasileiro usando o
folclore e o meio rural, e apontavam como “antimodelo” as massas urbanas, que seria o
povo do carnaval, do dia a dia na rua.

Mas o pouco que se fala é que o povo homenageado e imaginado por


esses músicos, o povo bom-rústico-ingênuo do folclore, difere
drasticamente de um outro que desponta como antimodelo: as massas
urbanas, cuja presença democrático-anárquica no espaço da cidade
(nos carnavais, na greve, no todo-dia a da rua) espalhados pelo
gamafones e rádios através do índice do samba em expansão, provoca
estranheza e desconforto (WINISK, 1982, p. 131).

Esse desconforto se deu pois as elites começaram a perceber que a música


poderia ser usada como meio de questionamentos sociais “A oposição é clara entre a
arte que tem história, elevada e disciplinada, tonificada pelo bom uso do folclore rural
[...]” (WINISK, 1982, p. 133).

Percebe-se que os modernistas não compactuavam com a ideia de expor os problemas


ditos sociais que ocorriam nos centros urbanos, a razão para isso se dava pelo fato de
que desorganizaria a visão centralizada homogênea e paternalista da cultura nacional
(WISNIK, 1982, p. 133).

O uso da música folclórica como forma de doutrinação se faz presente na ideologia de


uma música mais nacionalista, que luta por uma elevação estética-pedagógica do país,
com a implementação do canto orfeônico nas escolas, que tinha como objetivo desperta
o civismo e cidadania, que, naquele momento, apresentavam linhas bem diferentes dos
tempos atuais.

Outro fator importante foi instauração do Estado Novo, que teve um grande
impacto nesse meio, trazendo suas ideias autoritárias para o meio musical. É possível
perceber esse fato na citação que o autor faz, em que diz que o samba era feio,
desarmônico e arrítmico. (WISNIK, 1982, p. 135).

 VILLAMARIO

Ao tentar comparar Villa lobos com Mario de Andrade, percebe-se que, ao


contrário de Mario, que pensava de uma forma mais nacionalista e expressionista, de
forma purista, Villa lobos não era um nacionalista ortodoxo. Suas composições
“bebiam” de todas as fontes, sejam elas músicas de concertos, música popular ou música
folclórica.

Embora sempre propagasse a superioridade do folclore da música


popular, Villa-Lobos deslanchou a sua fulminante trajetória a partir da
convivência íntima do dado erudito da sua formação com o dado
popular urbano, com o que projetou, pela brigolage de diferentes
técnicas e fontes, e noves-fora o seu talento original, um alcance
violentamente mais amplo que o do nacionalismo ortodoxo. (WISNIK,
1982, p. 136).

 Da república musical I
O autor tenta fazer uma comparação entre A república, de Platão com as ideias
modernistas, que tinham como objetivo fazer uma triagem da musical nacional,
justificando que por ter muito sensualismo, erotismo, etc, a música popular era
totalmente indecente, e por conta disso a música folclórica era a que mais se enquadrava
com os ideais modernistas.

A república (no dizer de Adorno), de um modelo, historicamente


recorrente, de reconhecimento e poder da música de uma triagem do
significante, que discrimina a música aceitável (elevada, liberadora de
impulsos éticos-sociais, afirmativos da cidadania e da pertinência à
Polis) e a música inaceitável (vista como rebaixante, liberadora de
impulsos orgiáticos-passionais, individualistas ou populares, isto é,
próprios do excessos virtuosísticos dos músicas profissionais ou dos
excessos festivos de escravo e camponeses (WISNIK, 1982, p. 140).

 Da república musical II

Aqui entende-se de cara o quanto Mario de Andrade estava disposto a fazer uma
triagem e colocava sua intenção nacionalista afim de criar um projeto nacional-
eruditopopular para o Brasil. Esse projeto tinha como objetivo o uso sistemático da
música folclórica como condição sine quanom como ingressão e permanência do artista
no meio musical.

Em 1928 Mario de Andrade, que dava cobertura teórico ideológica aos


compositores, propondo o desenvolvimento de um projeto
nacionalerudito-popular para o Brasil, colocava a intenção nacionalista
e o uso sistemático da música folclórica como condição sine quanom
para o ingresso e permanência do artista na república musical, dizendo
enfaticamente no seu Ensaio sobre a música brasileira que o
compositor que não fizesse música de cunha nacional (bebida na
estilização do popular rústico) funcionaria como um pedregulho na
botinha a ser extirpado (WISNIK, 1982, p. 142).

 Da república musical III


Observa-se que começa a criar um atrito entre a música da repetição (música do
disco e da cidade) com a então música erudita, que pertencia a outros sistema de
produção e reprodução. Isso fez com que os músicos mais ativos se sentissem
em uma posição mais decorativa em relação as músicas “crescente das ruas”,
que tinha como função o lucro.

WISNIK, José Miguel; SQUEFF, Enio. Nacionalismo musical. In: WISNIK, José
Miguel: SQUEFF, Enio. Getúlio e a paixão cearense: (Villa-Lobos e o Estado Novo).
São Paulo: Brasiliense, 1982.p. 131 – 152.

Você também pode gostar