Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Atividade: fichamento 8
A teoria da recepção
Mais recentemente, criaram-se linhas de estudo voltadas à recepção da música –
aceitação ou recolhimento daquilo que ela oferece a quem a ouve; experiência diante do
fenômeno musical – apreciação, percepção, cognição – envolvendo psicologia, sociologia e teoria
da informação. Nestes casos, interessa ao pesquisador o momento em que a música é
interpretada, executada, e os modos de audição. Não interessam, portanto, os processos
composicionais fincados num passado remoto ou mais recente. A obra musical, além de existir
como documento de época, projeta-se e se recria no futuro sempre que é tocada e ouvida. A
relação entre obra, intérprete e ouvinte é, portanto, constitutiva da própria vida e essência da
música – outro paradoxo que aparece. Essa consciência e abordagem da música é evidente na
contemporaneidade mediante a valorização, geralmente exagerada, do intérprete, a abertura ao
aleatório e à participação do ouvinte no ato criativo. O desdém pelos direitos autorais, a livre
manipulação de fonogramas e as versões e interpretações “alternativas” incisivamente criativas
são, hoje, realidades incontestáveis que adicionam mais “problemas” e possibilidades num
cenário cada vez mais complexo.
2
Interpretação e improvisação
A música depende de ser executada, “interpretada”, para poder existir. Dava-se
unicamente assim, até fins do século XIX, mas tal circunstância se mantém até hoje, apesar das
gravações. O intérprete faz a música sempre rebrotar de sua natureza intrinsecamente temporal.
Surge, então, outra dualidade do fenômeno musical: o intérprete “disputa, às vezes, o mérito da
criatividade com o próprio compositor”. Se a música depende de um intérprete para poder existir,
cabe a este não apenas ter habilidades necessárias para decodificar partituras musicais, mas ter
uma personalidade artística e humana apta para tal recriação e ser musicalmente tão ou mais
capaz do que quem compôs. Entra em cena, portanto, e em qualquer execução musical, o ato
criativo aliado a doses variáveis de aleatoriedade e improviso. O intérprete “vive” a música como
se fosse sua e, em certo sentido, ela de fato é sua, já que se trata de fenômeno que brota de um
substrato físico universal pré-existente, não apenas fruto de uma pessoa ou cultura.
Tratando-se de som, a notação musical é sempre precária e aproximativa; incapaz de
representar por meio de símbolos gráficos uma realidade que é sonora. Daí surge a necessidade
de haver um intérprete com habilidade e notoriedade artístico-criativa suficientes para realizar a
tarefa. Com o século XIX, essa preeminência do intérprete se tornou notória. Hoje em dia, mais
do que nunca, o executante ou o cantor está acima do próprio compositor; está, de fato, acima da
própria obra; o intérprete, como meio, se encontra, não raro, acima da própria “mensagem” – não
obstante seu antigo posto de inferioridade na classificação musical.