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É atribuída a Bach a inovação da passagem do polegar por baixo dos outros dedos, mas foi o
pianista e professor Carl Czerny que estabeleceu as primeiras regras de dedilhado, algumas
válidas até hoje:
– Utilizar o polegar (dedo 1) como único pivô para a mão;
– Utilizar um dedo por tecla e não repetir o mesmo dedo em teclas consecutivas;
– Não utilizar o polegar (dedo 1) e o dedo mínimo (dedo 5) em teclas pretas;
– Usar dedos diferentes em notas repetidas;
– Utilizar substituições de dedos para obter um bom legato.
No fim do século 19, o dedilhado da escala de Dó Maior foi padronizado e sua aplicação foi
estendida a todas as outras escalas. Se tornou novamente comum cruzar os dedos 3 e 4 tocar
repetidamente uma tecla com o mesmo dedo, prática comum na obra de Brahms.
Debussy não escreveu muitos dedilhados em suas obras, mesmo nos estudos, exceção feita,
obviamente, ao Estudo de Oito Dedos, para o qual se recomenda não utilizar o polegar. Ravel, por
sua vez, mesmo não sendo um grande pianista, deixou alguns dedilhados muito acertados em
suas obras.
A escala de Dó Maior não é apenas modelo para a construção das escalas maiores, mas
também para o dedilhado utilizado na execução delas. A fórmula 1-2-3-1-2-3-4 (mão direita)
utilizada na escala natural (aquela sem sustenidos ou bemóis) pode – e deve – ser
transposta para as outras tonalidades, de forma a facilitar a compreensão e o domínio
delas.
Note que é possível utilizar a fórmula 1-2-3-1-2-3-4 na escala de Sol Maior, tanto na mão
direita quanto na esquerda.
Tendo em vista que o pianista domine as escalas de Dó maior, Sol maior, Ré maior, Lá maior e
Mi, as escalas com sustenidos remanescentes – Si maior, Fá# maior e Dó# maior – se tornam
fáceis de executar por conta de um simples artifício.
Ao iniciar a escala de Si maior, note que o dedo 1 da mão direita se posiciona na nota Si e os
dedos 2 e 3 repousam sobre duas teclas pretas (Dó# e Ré#).
Na sequência, há a passagem do polegar por baixo dos outros dedos para tocar a nota Mi, e,
como consequência, os dedos 2, 3 e 4 repousam sobre o outro conjunto de teclas pretas (Fá#,
Sol# e Lá#).
Para a mão esquerda, o movimento contrário é o mais apropriado para verificar a mesma
facilidade em posicionar a mão. Ao iniciar a escala, o dedo 1 se posiciona sobre a nota Si e os
dedos 2, 3 e 4 sobre as teclas pretas abaixo dela (Lá#, Sol# e Fá#).
Após a passagem do polegar por baixo dos outros dedos, tocando a nota Mi, os dedos 2 e 3
repousam sobre as notas Ré# e Dó#, o que permite finalizar a escala na nota Si com o dedo 4 ou
executar mais uma oitava, passando o polegar por baixo deles.
Esse dedilhado, tão simples de memorizar e muito confortável para a mão do pianista, é a base
para a execução de outras escalas, apenas alterando os acidentes conforme a armadura de clave e
a nota de início.
Estude as mãos separadamente para dominar o dedilhado e, depois, toque as duas juntas, em
movimento contrário, analisando que o polegar sempre irá passar por baixo dos outros dedos
para tocar a teclas branca.
Vale lembrar que as escalas de Dób maior, Solb maior e Réb maior são enarmônicas das escalas
de Si maior, Fá# maior e Dó# maior, respectivamente. Isso quer dizer, que embora a escrita seja
diferente, a sonoridade é a mesma, e também o dedilhado.
No piano popular, há muitas maneiras de distribuir as notas de um acorde entre as duas mãos o
que, frequentemente, produz uma sonoridade mais rica e equilibrada, muito apropriada para
estilos como jazz e música instrumental brasileira. Usar as duas mãos para tocar um acorde,
distribuindo as notas por várias oitavas, cria uma faixa sonora mais ampla e, dessa maneira, um
som mais “aberto” e encorpado, sofisticando o desenvolvimento harmônico.
Esses padrões, chamados “voicings”, são, muitas vezes, “marcas registradas” de alguns pianistas,
reconhecíveis com a audição de poucos compassos, mas os músicos experientes costumam usar
uma combinação de várias técnicas e estilos de piano ao tocar uma música,
Uma das maneiras mais simples de criar uma harmonia aberta é dividir um acorde de quatro sons
em duas partes. A mão esquerda pode tocar a fundamental e a terça e a mão direita, a quinta e a
sétima.
Para iniciar, o pianista pode estudar as seguintes aberturas em todos os tons, nas três principais
categorias de acordes, que correspondem à progressão II-V-I nas tonalidades maiores: Xm7-X7-
XMaj7.
As aberturas acima são úteis como uma abordagem fundamental para dividir as notas de acordes
entre cada mão, mantendo a melodia como a nota mais alta no piano. Desta forma, extensões e
alterações frequentemente usadas no jazz podem ser adicionadas como expressão, mantendo a
simetria harmônica.
Mas os saltos na mão esquerda tornam o movimento muito rígido, trazendo incômodo para os
ouvintes por conta da repetição e do encaminhamento do baixo. Para evitar esse problema, as
notas da mão esquerda podem ser encadeadas de modo a tornar o movimento mais suave e
resolver dissonâncias.
Uma opção é alternar terças e sétimas na esquerda, de acordo com a formação do acorde e as
notas da melodia, de forma a produzir saltos menores e sonoridade mais suave.
Para comparação, o pianista pode executar o tema “Over The Rainbow”, de Harold Arlen, de duas
diferentes formas para perceber as diferenças entre os voicings utilizados.
Uma boa abertura consegue tanto destacar as dissonâncias e o encaminhamento de vozes quanto
preencher espaços harmônicos de modo a criar uma base confortável para um solista. Além disso,
o pianista pode usar a técnica em uma peça solo e, nesses terá que tocar os acordes e a melodia,
ou até mesmo improvisar.