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DEDILHADO (DIGITAÇÃO)

É atribuída a Bach a inovação da passagem do polegar por baixo dos outros dedos, mas foi o
pianista e professor Carl Czerny que estabeleceu as primeiras regras de dedilhado, algumas
válidas até hoje:
– Utilizar o polegar (dedo 1) como único pivô para a mão;
– Utilizar um dedo por tecla e não repetir o mesmo dedo em teclas consecutivas;
– Não utilizar o polegar (dedo 1) e o dedo mínimo (dedo 5) em teclas pretas;
– Usar dedos diferentes em notas repetidas;
– Utilizar substituições de dedos para obter um bom legato.

Beethoven considerou o dedilhado como um meio de transmitir sua intenção de expressão, no


entanto, seus dedilhados originais são muitas vezes desconfortáveis e, não raro, foram
substituídos pelos editores de suas obras.

Durante o Romantismo, com o desenvolvimento da virtuosidade como a conhecemos hoje,


Chopin e Liszt extrapolaram os limites sobre o uso de todos os cinco dedos e adotaram o uso do
polegar e do dedo mínimo também em teclas pretas.

No fim do século 19, o dedilhado da escala de Dó Maior foi padronizado e sua aplicação foi
estendida a todas as outras escalas. Se tornou novamente comum cruzar os dedos 3 e 4 tocar
repetidamente uma tecla com o mesmo dedo, prática comum na obra de Brahms.

Debussy não escreveu muitos dedilhados em suas obras, mesmo nos estudos, exceção feita,
obviamente, ao Estudo de Oito Dedos, para o qual se recomenda não utilizar o polegar. Ravel, por
sua vez, mesmo não sendo um grande pianista, deixou alguns dedilhados muito acertados em
suas obras.

De modo geral, no entanto, deve-se respeitar os dedilhados originais do compositor,


especialmente se ele foi um bom pianista, como é o caso de Prokofiev, Rachmaninov e Bartók.

A escala de Dó Maior não é apenas modelo para a construção das escalas maiores, mas
também para o dedilhado utilizado na execução delas. A fórmula 1-2-3-1-2-3-4 (mão direita)
utilizada na escala natural (aquela sem sustenidos ou bemóis) pode – e deve – ser
transposta para as outras tonalidades, de forma a facilitar a compreensão e o domínio
delas.

Note que é possível utilizar a fórmula 1-2-3-1-2-3-4 na escala de Sol Maior, tanto na mão
direita quanto na esquerda.

As escalas de Ré Maior, Lá Maior e Mi Maior seguem o mesmo dedilhado.


Escalas e o uso das teclas pretas
Os estudantes – e mesmo os pianistas iniciantes – têm uma grande dificuldade em tocar melodias
com muitas alterações na armadura de clave. As peças em tonalidades com mais de três ou
quatro sustenidos ou bemóis parecem inóspitas e, via de regra, afastam o músico de seu estudo.
No entanto, todo esse temor pode desaparecer ao empreender uma simples análise das escalas
dessas tonalidades e seus dedilhados, que, ao contrário do que se imagina, são muito mais
ergonômicos e fáceis de memorizar.

Tendo em vista que o pianista domine as escalas de Dó maior, Sol maior, Ré maior, Lá maior e

Mi, as escalas com sustenidos remanescentes – Si maior, Fá# maior e Dó# maior – se tornam
fáceis de executar por conta de um simples artifício.

Ao iniciar a escala de Si maior, note que o dedo 1 da mão direita se posiciona na nota Si e os
dedos 2 e 3 repousam sobre duas teclas pretas (Dó# e Ré#).

Na sequência, há a passagem do polegar por baixo dos outros dedos para tocar a nota Mi, e,
como consequência, os dedos 2, 3 e 4 repousam sobre o outro conjunto de teclas pretas (Fá#,
Sol# e Lá#).
Para a mão esquerda, o movimento contrário é o mais apropriado para verificar a mesma
facilidade em posicionar a mão. Ao iniciar a escala, o dedo 1 se posiciona sobre a nota Si e os
dedos 2, 3 e 4 sobre as teclas pretas abaixo dela (Lá#, Sol# e Fá#).

Após a passagem do polegar por baixo dos outros dedos, tocando a nota Mi, os dedos 2 e 3
repousam sobre as notas Ré# e Dó#, o que permite finalizar a escala na nota Si com o dedo 4 ou
executar mais uma oitava, passando o polegar por baixo deles.

Esse dedilhado, tão simples de memorizar e muito confortável para a mão do pianista, é a base
para a execução de outras escalas, apenas alterando os acidentes conforme a armadura de clave e
a nota de início.
Estude as mãos separadamente para dominar o dedilhado e, depois, toque as duas juntas, em
movimento contrário, analisando que o polegar sempre irá passar por baixo dos outros dedos
para tocar a teclas branca.

Vale lembrar que as escalas de Dób maior, Solb maior e Réb maior são enarmônicas das escalas
de Si maior, Fá# maior e Dó# maior, respectivamente. Isso quer dizer, que embora a escrita seja
diferente, a sonoridade é a mesma, e também o dedilhado.

Encadeamentos da mão esquerda no piano popular

No piano popular, há muitas maneiras de distribuir as notas de um acorde entre as duas mãos o
que, frequentemente, produz uma sonoridade mais rica e equilibrada, muito apropriada para
estilos como jazz e música instrumental brasileira. Usar as duas mãos para tocar um acorde,
distribuindo as notas por várias oitavas, cria uma faixa sonora mais ampla e, dessa maneira, um
som mais “aberto” e encorpado, sofisticando o desenvolvimento harmônico.
Esses padrões, chamados “voicings”, são, muitas vezes, “marcas registradas” de alguns pianistas,
reconhecíveis com a audição de poucos compassos, mas os músicos experientes costumam usar
uma combinação de várias técnicas e estilos de piano ao tocar uma música,

Uma das maneiras mais simples de criar uma harmonia aberta é dividir um acorde de quatro sons
em duas partes. A mão esquerda pode tocar a fundamental e a terça e a mão direita, a quinta e a
sétima.
Para iniciar, o pianista pode estudar as seguintes aberturas em todos os tons, nas três principais
categorias de acordes, que correspondem à progressão II-V-I nas tonalidades maiores: Xm7-X7-
XMaj7.

As aberturas acima são úteis como uma abordagem fundamental para dividir as notas de acordes
entre cada mão, mantendo a melodia como a nota mais alta no piano. Desta forma, extensões e
alterações frequentemente usadas no jazz podem ser adicionadas como expressão, mantendo a
simetria harmônica.

Mas os saltos na mão esquerda tornam o movimento muito rígido, trazendo incômodo para os
ouvintes por conta da repetição e do encaminhamento do baixo. Para evitar esse problema, as
notas da mão esquerda podem ser encadeadas de modo a tornar o movimento mais suave e
resolver dissonâncias.

Uma opção é alternar terças e sétimas na esquerda, de acordo com a formação do acorde e as
notas da melodia, de forma a produzir saltos menores e sonoridade mais suave.

Para comparação, o pianista pode executar o tema “Over The Rainbow”, de Harold Arlen, de duas
diferentes formas para perceber as diferenças entre os voicings utilizados.
Uma boa abertura consegue tanto destacar as dissonâncias e o encaminhamento de vozes quanto
preencher espaços harmônicos de modo a criar uma base confortável para um solista. Além disso,
o pianista pode usar a técnica em uma peça solo e, nesses terá que tocar os acordes e a melodia,
ou até mesmo improvisar.

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