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Tavares)
Olha-me p´ra estas crianças de vidro De que cor era o meu cinto de missangas, mãe
cheias de água até às lágrimas feito pelas tuas mãos
enchendo a cidade de estilhaços e fios do teu cabelo
procurando a vida cortado na lua cheia
nos caixotes de lixo. guardado do cacimbo
no cesto trançado das coisas da avó
Olha-me estas crianças
transporte Onde está a panela do provérbio, mãe
animais de cargas sobre os dias a das três pernas
percorrendo a cidade até os bordos e asa partida
carregam a morte sobre os ombros que me deste antes das chuvas grandes
despejam-se sobre o espaço no dia do noivado
enchendo a cidade de estilhaços.
De que cor era a minha voz, mãe
* quando anunciava a manhã junto à cascata
Chegas e descia devagarinho pelos dias
eu digo sede as mãos
fico Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe
bebendo do ar que respiras se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera
a brevidade p'ra lá do cercado
assim as águas
a espera
o cansaço.
(A. P. Tavares) Voz de Sangue
(Agostinho Neto)
Meu corpo é um grande mapa muito antigo
percorrido de desertos, tatuado de acidentes Palpitam-me
habitado por uma floresta inteira os sons do batuque
um coração plantado e os ritmos melancólicos do blue
dentro de um jardim japonês Ó negro esfarrapado do Harlem...
regado por veias finas ó dançarino de Chicago
com um lugar vazio para a alma. ó negro servidor do South
Ó negro de África
negros de todo o mundo
eu junto ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.
Eu vos acompanho
pelas emaranhadas áfricas
do nosso Rumo
Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.
As terras sentidas (Agostinho Neto) Adeus na hora da largada (Agostinho Neto)