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FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 2

NOME: _________________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: ________

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.

Se estas são mágoas de uma pessoa, a Portugal, como um todo, não faltam alegrias. Agora se festeja-
ram duas datas, a primeira que foi do aparecimento do professor António de Oliveira Salazar na vida pública,
há oito anos, parece que ainda foi ontem, como o tempo passa, para salvar o seu e o nosso país do abismo,
para o restaurar, para lhe impor uma nova doutrina, fé, entusiasmo e confiança no futuro; são palavras do
5 periódico, e a outra data que também diz respeito ao mesmo senhor professor, sucesso de mais íntima
alegria, sua e nossa, que foi ter completado, logo no dia a seguir, quarenta e sete anos de idade, nasceu no
ano em que Hitler veio ao mundo e com pouca diferença de dias, vejam lá o que são coincidências, dois
importantes homens públicos. E vamos ter a Festa Nacional do Trabalho, com um desfile de milhares de
trabalhadores em Barcelos, todos de braço estendido, à romana, ficou-lhes o gesto dos tempos em que
10 Braga se chamava Bracara Augusta, e um cento de carros ornamentados mostrando cenas da labuta cam-
pestre, ele as vindimas, ele a pisa, ele a sacha, ele a escamisada, ele a debulha, e a olaria a fazer galos e apitos,
a bordadeira com os bilros, o pescador com a rede e o remo, o moleiro com o burro e o saco da farinha, a
fiandeira com o fuso e a roca, com esta faz dez carros e ainda hão de passar noventa, muito se esforça o
povo português por ser bom e trabalhador, enfim, vai-no conseguindo, mas em compensação não lhe
15 faltam divertimentos, os concertos das bandas filarmónicas, as iluminações, os ranchos, os fogos de artifício,
as batalhas de flores, os bodos, uma contínua festa. Ora, diante da magnífica alegria, bem podemos procla-
mar, é mesmo nosso dever, que as comemorações do Primeiro de Maio perderam por toda a parte o seu
sentido clássico, não temos culpa que em Madrid o festejem nas ruas a cantar a Internacional e a dar vivas
à Revolução, são excessos que não estão autorizados na nossa pátria […].
20 E terminou a guerra da Etiópia. Disse-o Mussolini do alto da varanda do palácio, Anuncio ao povo ita-
liano e ao mundo que acabou a guerra, e a esta voz poderosa as multidões de Roma, de Milão, de Nápoles ,
da Itália inteira, milhões de bocas, todos gritaram o nome de Duce, os camponeses abandonaram os
cam-pos, os operários as fábricas, em patriótico delírio dançando e cantando nas ruas, é bem verdade o
que proclamou Benito, que a Itália tem alma imperial […].

JOSÉ SARAMAGO, O ano da morte de Ricardo Reis, Lisboa, Caminho, 2016.


NOTAS

Festa Nacional do Trabalho (linha 8) — festa que se realizou, em Barcelos, de 1 a 3 de maio de 1936.
(linhas 17 e 18) — em Portugal, só após o 25 de Abril foi possível comemorar livremente o Primeiro de Maio, ou Dia do
Trabalhador, com origem na reivindicação da redução do dia de trabalho para oito horas. (O sindicalismo livre fora proibido pelo
Estatuto do Trabalho Nacional, de 1933.)
a Internacional (linha 18) — hino revolucionário dos trabalhadores socialistas.

1. Explicite os motivos das «alegrias» (linha 1) que, segundo o narrador, não faltavam a Portugal
naqueles dias.

2. Demonstre de que forma o excerto aponta para a consolidação de regimes nacionalistas e fascistas na
Europa, em 1936.

3. Identifique os recursos expressivos presentes nas passagens seguintes, comentando o efeito


produzido:

a) «Se estas são mágoas de uma pessoa, a Portugal, como um todo, não faltam alegrias.» (linha 1);

b) «e a esta voz poderosa as multidões de Roma, de Milão, de Nápoles, da Itália inteira, milhões de bocas,
todos gritaram o nome de Duce» (linhas 21 e 22).

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B

Leia as seguintes estâncias, do Canto I d’Os Lusíadas. Em caso de necessidade, consulte as notas apresentadas.

6 E, vós, ó bem nascida segurança


Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande;

7 Vós, tenro e novo ramo florecente


De ũa árvore, de Cristo mais amada
Que nenhũa nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera si na Cruz tomou);

8 Vós, poderoso Rei, cujo alto Império


O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando dece o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio:
[…]
LUÍS DE CAMÕES, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa,
Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto Camões, 2003.
NOTAS

E, vós, ó bem nascida segurança (est. 6, v. 1) — Vós (D. Sebastião), figura de alta estirpe («bem nascida») e garantia
(«segurança»).
liberdade (est. 6, v. 2) — independência.
Maura lança (est. 6, v. 5) — exército dos mouros.
Maravilha fatal (est. 6, v. 6) — pessoa extraordinária («maravilha») enviada pelo destino (fado).
árvore (est. 7, v. 2) — árvore genealógica, linhagem.
Cesárea ou Cristianíssima chamada (est. 7, v. 4) — Cristo ama mais a linhagem dos reis portugueses do que as dinastias dos
imperadores alemães «Cesárea» e dos reis franceses («Cristianíssima»).
Vede-o no vosso escudo, que presente / Vos amostra a vitória já passada, / Na qual vos deu por armas e deixou / As que Ele
pera si na Cruz tomou) (est. 7, vv. 5-8) — a prova do amor de Cristo está no facto de, segundo a lenda, as cinco quinas
representarem as chagas do Messias, que apareceu a D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, assegurando-lhe a vitória.
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, / Vê-o também no meio do Hemisfério, / E quando dece o deixa derradeiro (est. 8, vv. 2-4) —
o Sol «vê» o Império português quando nasce (no Oriente), no zénite («meio do Hemisfério») e quando se põe (sobre o
continente Americano).
jugo e vitupério (est. 8, v. 5) — humilhação, vergonha.
torpe Ismaelita (est. 8, v. 6) — os Árabes, que descendem de Ismael.
Gentio (est. 8, v. 7) — Gentios são povos não cristãos.
santo Rio (est. 8, v. 8) — o Ganges é um grande rio indiano, que os hindus veem como sagrado.

4. Explicite os elogios que o Poeta faz ao rei D. Sebastião, justificando com elementos textuais.

5. Demonstre a importância da anáfora na construção dos elogios dirigidos ao rei.

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GRUPO II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.


Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Leia o texto.

Por experiência própria, tenho observado que, no seu trato com autores a quem a fortuna, o destino
ou a má-sorte não permitiram a graça de um título académico, mas que, não obstante, foram capazes de
produzir obra digna de algum estudo, a atitude das universidades costuma ser de benévola e sorridente
tolerância, muito parecida com a que costumam usar as pessoas sensíveis na sua relação com as crianças e
5 os velhos, uns porque ainda não sabem, outros porque já esqueceram. É graças a tão generoso procedi-
mento que os professores de Literatura, em geral, e os de Teoria da Literatura, em particular, têm acolhido
com simpática condescendência — mas sem que se deixem abalar nas suas convicções científicas — a
minha ousada declaração de que a figura do narrador não existe e de que só o autor exerce função narrativa
real na obra de ficção, qualquer que ela seja, romance, conto ou teatro. E quando, indo procurar auxílio a
10 uma duvidosa ou, pelo menos, problemática correspondência das artes, argumento que entre um quadro
e a pessoa que o contempla não há outra mediação que não seja a do respetivo autor, e portanto não é
possível identificar ou sequer imaginar, por exemplo, a figura de um narrador na Gioconda ou na
Parábola dos cegos, o que se me responde é que, sendo as artes diferentes, diferentes teriam igualmente
de ser as regras que as traduzem e as leis que as governam. Esta perentória resposta parece querer ignorar
15 o facto, fundamental no meu entender, de que não há, objetivamente, nenhuma diferença essencial entre
a mão que guia o pincel ou o vaporizador sobre a tela, e a mão que desenha as letras sobre o papel ou as
faz aparecer no ecrã do computador, que ambas são, com adestramento e eficácia similares,
prolongamentos de um cérebro, ambas instrumentos mecânicos e sensitivos capazes de composições e
ordenações sem mais barreiras ou intermediários que os da fisiologia e da psicologia.
20 Nesta contestação, claro está, não vou ao ponto de negar que a figura do que denominamos narrador
possa ser demonstrada no texto, ao menos, com o devido respeito, segundo uma lógica bastante similar à
das provas definitivas da existência de Deus formuladas por Santo Anselmo… Aceito, até, a probabilidade
de variantes ou desdobramentos de um narrador central, com o encargo de expressarem uma pluralidade
de pontos de vista e de juízos considerada útil à dialética dos conflitos. A pergunta que me faço é se a
25 obsessiva atenção dada pelos analistas de texto a tão escorregadias entidades, propiciadora, sem dúvida,
de suculentas e gratificantes especulações teóricas, não estará a contribuir para a redução do autor e do seu
pensamento a um papel de perigosa secundariedade na compreensão complexiva da obra.
Quando falo de pensamento, estou a incluir nele os sentimentos e as sensações, as ideias e os sonhos,
as vidências do mundo exterior e do mundo interior sem as quais o pensamento se tornaria puro pensar
30 inoperante. Abandonando qualquer precaução retórica, o que aqui estou assumindo, afinal, são as minhas
próprias dúvidas e perplexidades sobre a identidade real da voz narradora que veicula, nos livros que tenho
escrito e em todos quantos li até agora, aquilo que derradeiramente creio ser, caso por caso e quaisquer que
sejam as técnicas empregadas, o pensamento do autor, seu próprio e exclusivo (até onde é possível sê-lo)
ou deliberadamente tomado de empréstimo, de acordo com os interesses da narração. E também me
35 pergunto se a resignação ou indiferença com que os autores de hoje parecem aceitar a «usurpação», pelo
narrador, da matéria, da circunstância e do espaço narrativos que antes lhe eram pessoal e inapelavelmente
imputados não será, no fim de contas, a expressão mais ou menos consciente de um certo grau de abdica-
ção, e não apenas literária, das suas responsabilidades próprias.

JOSÉ SARAMAGO, «O autor como narrador», in Ler,


Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 (com adaptações).

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1. Neste texto, Saramago defende a ideia de que, numa obra narrativa,

(A) há um narrador central e narradores secundários.


(B) não é possível demonstrar a existência da figura do narrador.
(C) a voz do narrador nem sempre veicula o pensamento do autor.
(D) a voz do narrador veicula o pensamento do autor.

2. Quando se refere a «uns» e «outros» (linha 5), o autor alude

(A) a «pessoas sensíveis» (linha 4).


(B) a «velhos» (linha 5) e «crianças» (linha 4), respetivamente.
(C) a «crianças» (linha 4) e «velhos» (linha 5), respetivamente.
(D) a autores «que ainda não sabem» e a autores «que já esqueceram».

3. A referência a outras artes e a menção à Gioconda e à Parábola dos cegos (linhas 10 a 13) funcionam
como

(A) argumentos.
(B) exemplos.
(C) um argumento e um exemplo, respetivamente.
(D) um exemplo e um argumento, respetivamente.

4. O texto apresenta características específicas

(A) do diário.
(B) da exposição.
(C) da apreciação crítica.
(D) do artigo de opinião.

5. Na expressão «escorregadias entidades» (linha 25), está presente

(A) a ironia.
(B) uma hipérbole.
(C) uma metáfora.
(D) uma hipálage.

6. O uso da palavra «lhe» (linha 36) contribui para a coesão

(A) referencial.
(B) lexical.
(C) temporal.
(D) interfrásica.

7. O constituinte «a expressão mais ou menos consciente de um certo grau de abdicação, e não apenas
literária, das suas responsabilidades próprias» (linhas 37 e 38) desempenha a função sintática de

(A) sujeito.
(B) predicativo do sujeito.
(C) complemento direto.
(D) predicativo do complemento direto.

8. Identifique o valor aspetual do complexo verbal «costuma ser» (linha 3).

9. Classifique a oração «que a figura do que denominamos narrador possa ser demonstrada no texto»
(linhas 20 e 21).

10. Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte «Quando falo de pensamento» (linha
28).

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GRUPO III

«Há uma linha fina que separa a censura do bom gosto e da responsabilidade moral.»

STEVEN SPIELBERG

Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras,
em que defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia exposta na citação.

Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —, há que atender ao
seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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