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empreendedorismo

Administração de empresas

Empreendedorismo
e desenvolvimento
econômico
Artigo em foco:

Estágios de desenvolvimento econômico e


políticas públicas de empreendedorismo e de
micro, pequenas e médias empresas (mpmes)
em perspectiva comparada: os casos do Brasil,
do Canadá, do Chile, da Irlanda e da Itália.
Gilberto Sarfati

E nquanto nos países desenvolvidos, as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs)


representam cerca de 50% no Produto Interno Bruto (PIB) e são responsáveis por 60%
da força de trabalho, em países emergentes o peso é bem menor, com uma participa-
ção de pouco mais de 10% do PIB e de 30% dos empregos. Para Gilberto Sarfati, as
diferenças evidenciam a importância da atividade empreendedora no desenvolvimento econômico e
o desafio para qualquer país é estimular este tipo de atividade.
No artigo “Estágios de desenvolvimento econômico e políticas públicas de empreendedorismo e
de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) em perspectiva comparada: os casos do Brasil, do
Canadá, do Chile, da Irlanda e da Itália”, Sarfati apresenta os resultados de uma pesquisa realizada
em cinco países baseada em dados de fontes oficiais (governamentais e multilaterais) e em resulta-
dos de pesquisas realizadas por instituições independentes. Também foram conduzidas 40 entrevis-
tas com autoridades e acadêmicos de cada país.
O estudo comparativo permitiu avaliar quais são os pontos fortes e fracos das políticas públicas
de cada país, que foram selecionados conforme seu peso regional, tamanho da economia e está-
gio de desenvolvimento da atividade empreendedora.
Antes de mapear as políticas públicas dos países, Sarfati discute o referencial teórico por meio

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de duas questões fundamentais. A primeira é saber qual o impacto do empreendedorismo sobre o
desenvolvimento econômico. Muitas pesquisas que abordaram o tema chegaram a conclusões di-
ferentes. Provavelmente porque ser um empreendedor de alto impacto, um empreendedor gazela,
não é a mesma coisa que ser um trabalhador por conta própria, ou empreendedor por estilo de vida.
Enquanto o empreendedor estilo de vida possui uma empresa para satisfazer suas necessidades mí-
nimas, e até gera empregos, o empreendedor gazela está em uma atividade de crescimento acelera-
do, que gera postos de trabalho e agrega mais valor econômico.
A segunda questão refere-se à necessidade e ao escopo de políticas públicas de fomento ao
empreendedorismo, quando é preciso diferenciar os instrumentos de incentivo das MPMEs daque-
les voltados para empreendedorismo. As políticas públicas para as MPMEs são as “[...] que apoiam
o empreendedor estilo de vida, o que pode ser justificado por diversas razões como efeitos macro-
econômicos positivos de criação de empregos ou mesmo compensação por efeitos microeconô-
micos colaterais de economias de escala.” Já o fomento ao empreendedorismo é voltado para os
indivíduos altamente inovadores, cuja expansão dos negócios tem impacto sobre o crescimento da
economia, e leva a produtos e serviços com maior valor agregado.
Para estabelecer a relação entre visões de políticas públicas com as etapas de desenvolvimento,
Sarfati incorpora a sugestão de classificação dos estágios de uma economia de Michael Porter em The
Competitive Advantage of Nations. O primeiro é o estágio de fatores, marcado por uma economia
agrícola e empreendedores estilo de vida. O segundo é o estágio de eficiência, no qual o país tem que
explorar economias de escala, o que favorece a concentração industrial. O último é o estágio movido
a inovação, no qual a economia passa a ser caracterizada por atividades intensivas em conhecimento.
No mapeamento de cada país, as políticas que afetam o empreendedorismo e as MPMEs foram
classificadas como políticas regulatórias (regras de entrada e saída de negócios, regras trabalhistas
e sociais, regras de propriedade, regras tributárias, regras de propriedade intelectual, regras de
falência e regras que afetem a liquidez e disponibilidade de capital) e políticas de estímulo (pro-
moção de cultura e educação empreendedora, incentivos à inovação e programas de fomento à
internacionalização).
Sarfati conclui que as políticas públicas são compatíveis com o estágio de desenvolvimento eco-
nômico em quatro países. A exceção foi a Itália, o que levou o pesquisador a questionar: “[...]seria no
caso da Itália ou talvez outros países, irrelevante a necessidade de políticas públicas de promoção
ao empreendedorismo e às MPMEs? Ou por outro lado, será que a ausência destas políticas pode a
médio e longo prazo levar a Itália a regredir no estágio de desenvolvimento econômico?”
A pesquisa também apurou que na Irlanda e no Canadá a ideia do empreendedor gazela está
presente no discurso público. Em relação ao Chile, o artigo destaca que o país não possui política
de empreendedorismo, mesmo que seja um país na transição do estágio de eficiência para inova-
ção. “Assim como no caso da Itália, caberia perguntar: seria possível transitar para uma economia
de inovação sem uma política de empreendedorismo?”
Sobre o Brasil, uma das conclusões do autor é que a opção do governo pelos Arranjos Produtivos
Locais (APLs) parece não “[...] carregar em si empreendedores gazelas. Portanto, cabe ainda pergun-
tar: seria a escolha de apoio a todas os APLs incompatível com uma política de empreendedorismo?”

Fale com o autor: gilberto.sarfati@fgv.br

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