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2018

Março

Inovação
Nº 3 / 2018

Conselho
Presidente: Emilio Carazzai
Vice-presidentes: Ricardo Egydio Setubal e Isabella Saboya
Conselheiros: Alberto Emmanuel Whitaker, Doris Beatriz França Wilhelm, Monika Hufenüssler
Conrads, Richard Blanchet, Robert Juenemann e Vicky Bloch

Diretoria
Alberto Messano, Henri Vahdat e Matheus Rossi

Superintendente geral
Heloisa Belotti Bedicks

Superintendente de Vocalização e Influência


Valéria Café

Superintendente de Desenvolvimento
Adriane de Almeida

Superintendente de Operações e Relacionamento


Reginaldo Ricioli

Produção e coordenação da publicação


Jornalista responsável: Sandra Nagano (MTB 42425/SP)

Projeto gráfico e diagramação


Atelier de Criação (atelierdecriacao.com.br)

Fotos
Divulgação / Arquivo IBGC

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mediante consulta formal e citação de fonte.

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Associados mantenedores

IBGC Análises & Tendências - 3ª edição - Março de 2018


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Sumário

4 Editorial

5 A Governança promove ou emperra a inovação?

10 Inovação no Brasil: por que essa não é


uma tarefa exclusiva do setor produtivo

13 A estratégia da inovação ainda não chegou


à maioria dos conselhos de administração

16 Inovação e competitividade precisam andar juntas

19 Esqueça o mundo VUCA: bem-vindo aos tempos


pós-normais e o dilema “o cateto da hipotenusa”

22 Inovar com criação de valor compartilhado

25 Mindset digital

28 Inteligência Artificial – A nova Fronteira Digital

31 Inovação Global Sustentável

Os artigos desta
publicação, com exceção
dos textos assinados pelos
administradores e equipe do
IBGC, são de responsabilidade
dos autores e não refletem
necessariamente a opinião
do instituto.
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Editorial

A quarta revolução industrial, que chegou com


uma velocidade inimaginável, impõe muitos
desafios à sobrevivência das empresas. Isso
porque estamos vivenciando, em amplitude global,
ciclos de inovações e obsolescências de produtos
e serviços em períodos cada vez mais curtos,
sem intervalos de gerações, tal como ocorria no
passado pré-internet. Diante desse novo contexto,
com grandes impactos no mundo dos negócios, o
instituto inaugura, nesta edição do IBGC Análises
& Tendências, as discussões acerca de sua agenda
anual temática, que explorará a tríade inovação,
disrupção e perenidade das organizações.

Para compor essa publicação, convidamos


especialistas no tema para discorrer sobre o
complexo cenário que se desenha na sociedade e
no ambiente empresarial com os desdobramentos
da transformação digital, a criação de novos
negócios e o surgimento de consumidores mais especialmente, do conselho de administração,
exigentes, conscientes de seus valores e propósitos, para que a cultura da inovação permeie toda a
bem como cientes de seu poder de escolha. organização, de forma a empoderar os times de
trabalho, democratizar os processos decisórios e
Nesta edição, os articulistas revelam dados ampliar o olhar para esta nova sociedade, cada vez
preocupantes sobre o atraso brasileiro em mais consciente e crítica com relação às empresas,
inovação com relação aos outros mercados mais governos e mídia, ciente das limitações do planeta
desenvolvidos e comprometidos com essa agenda. e da necessidade de uma economia sustentável.
O Índice Global de Inovação, por exemplo, indica A cultura de inovação não está restrita às
que o Brasil ocupa a 69ª posição do ranking geral tendências tecnológicas e digitais. Essas tendências
que inclui 128 economias no mundo e 99º lugar no são o meio para facilitar o dia a dia desta nova
quesito eficiência da inovação. sociedade. Este é apenas o começo do debate
sobre o tema, que é inesgotável e possui muita
Atraso este que colabora para a perda de margem para aprofundamentos.
competitividade de nosso setor produtivo em um
contexto internacional. Mas este não é o único É preciso também agradecer o inestimável apoio
fator. Nos artigos a seguir, há uma clara indicação do Grupo de Estudos de Inovação do IBGC para
que o movimento da inovação só se dará pela a realização deste IBGC Análises &Tendências.
conjunção de esforços que incluem incentivos Inclusive, é de sua autoria o artigo que inicia
à academia e engajamento das organizações da esta edição, cujo conteúdo está recheado de
sociedade civil, empresas e governos. pertinentes provocações e análises. Este grupo
de estudos, criado no final de 2017 para suscitar
Dentro do contexto das empresas, os artigos os assuntos correlatos à temática, vem trazendo
advertem que a estrutura corporativa tradicional subsídios relevantes para as discussões que
pode estar com seus dias contados. Afinal, conforme ocorrerão nos eventos, cursos e publicações
o já referenciado estudo da Babson College, em do instituto no decorrer de 2018.
10 anos, quase metade das empresas listadas na
Fortune 500, deixarão de existir pelo simples fato Uma ótima leitura a todos.
de não se adaptarem a essa nova realidade.

Nesse sentido, vale ressaltar o fundamental Valéria Café


envolvimento da liderança organizacional e, Superintendente de Vocalização e Influência

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A governança promove ou emperra


a inovação?
por Grupo de Estudos de Inovação do IBGC

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1010

A inovação tem sido um dos assuntos Essa definição do Manual de Oslo tem sido
mais discutidos atualmente em todos uma das principais referências para as
os ambientes de negócios. Neste cenário, atividades de inovação. Apesar de ser um
usualmente nos deparamos com gestores, conceito abrangente e flexível, é uma definição
sócios e conselheiros estudando teórica a qual precisamos trazer para a prática.
e questionando as estruturas ideais Um exemplo dessa urgência em nosso país
e formais para um ambiente inovador. pode ser visualizado em alguns estudos
relacionados à nossa atividade econômica.
O termo inovação, entretanto, tem sido
utilizado de forma generalizada em Apesar de o Brasil figurar no ranking
nosso cotidiano. Afinal, todos querem das dez maiores economias do mundo,
ser inovadores – desde profissionais liberais sistematicamente desaponta e briga pelas
até as grandes empresas. últimas posições quando o tema é inovação.
No país, apenas 3,8% das empresas
Segundo o Manual de Oslo, principal fonte desenvolveram bens ou serviços “novos para
internacional de diretrizes para coleta e uso o mercado” entre os anos de 2012 a 2014
de dados sobre atividades inovadoras da (IBGE, 2014). A esmagadora maioria das
indústria, que tem o objetivo de orientar inovações no país representa a adoção de
e padronizar conceitos, metodologias e tecnologias já existentes, novidade apenas
construção de estatísticas e indicadores para a própria empresa.
de pesquisa, inovação é: “a implementação de
um bem ou serviço novo ou significativamente O Global Entrepreneurship Monitor 2016
melhorado, ou um processo, ou um novo (GEM 2016) aponta que o Brasil tem apenas
método de marketing, ou um novo método 20,4% dos empreendedores iniciais com
organizacional nas práticas de negócios, na potencial de inovação, metade do potencial da
organização do local de trabalho ou Alemanha e, aproximadamente, um quarto do
nas relações externas” (Manual de OSLO – potencial da China. Em relação à tecnologia,
3ª. Edição). o país amarga a última posição do ranking.

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Isto significa que os empreendedores iniciais Governança corporativa é o sistema pelo


utilizam tecnologias consideradas obsoletas qual as empresas e demais organizações
em outros países, uma clara desvantagem em são dirigidas, monitoradas e incentivadas,
relação à competitividade global. envolvendo os relacionamentos entre sócios,
conselho de administração, diretoria, órgãos
Fato reafirmado pelo recente estudo da de fiscalização e controle e demais partes
Confederação Nacional da Industria (CNI), interessadas. As boas práticas de governança
que cruzou os dados de produtividade, corporativa convertem princípios básicos
exportação e taxa de inovação de 24 setores em recomendações objetivas, alinhando
industriais brasileiros com os mesmos interesses com a finalidade de preservar e
segmentos das 30 maiores economias do otimizar o valor econômico de longo prazo
mundo. O resultado mostrou que 14 setores da organização, facilitando seu acesso a
precisam adotar com urgência estratégias recursos e contribuindo para a qualidade da
de inovação e digitalização para se tornarem gestão da organização, sua longevidade e o
competitivos internacionalmente. bem comum. (Código das Melhores Práticas de
Governança Corporativa – 5ª edição, IBGC).
Mas para encarar esse desafio, algumas
questões essenciais precisam ser feitas Cada vez mais a governança corporativa
e respondidas, tais como: O que é ser vem sendo comumente difundida e aceita
inovador? Ser inovador é montar um centro como necessária para a sustentabilidade
de pesquisa e desenvolvimento (P&D)? e longevidade das empresas. Baseada em
Implementar novas tecnologias? Basta ser princípios como transparência, equidade,
criativo para tornar-se inovador? Criar um prestação de contas e responsabilidade
comitê de inovação resolveria? Como o corporativa, o sistema dá aos investidores
conselheiro pode ser inovador? mais segurança quanto aos seus direitos,
mais qualidade nas informações recebidas,
O que diferencia uma empresa que inova melhor acompanhamento dos riscos e do
de uma empresa que é inovadora é a monitoramento da gestão, permitindo maior
sistematização da inovação. Afinal, não precisão nas especificações das ações.
pode ser algo que acontece de forma
esporádica e segregada aos departamentos Há, inclusive, resultados empíricos no
de inovação, marketing, engenharia, Brasil que indicam que “a qualidade das
produção, produto ou P&D. práticas de governança corporativa de uma
empresa leva a um aumento econômico e
A empresa inovadora é aquela que incorpora significativo de seu valor de mercado ou de
na sua essência a ambição e as competências seu desempenho financeiro”1.
para a sua contínua reinvenção, tocando
os mais diversos aspectos do seu modelo Entretanto, apenas a existência da
operacional e de negócio. Para isso ocorrer estrutura de governança não dá essa
de forma efetiva, é essencial estabelecer uma garantia. Sua correlação com a promoção
visão clara e compartilhada, empoderar as da inovação também não é uma conexão
pessoas com competências, ferramentas e, natural. É necessário que a prática da
especialmente, condições apropriadas, além inovação esteja intrinsecamente inserida
de criar um movimento de contaminação na cultura organizacional da empresa e,
cultural, que atinja a companhia inteira, consequentemente, na sua estrutura
transformando os comportamentos para de governança.
sustentar a inovação abrangente e contínua.
A questão muitas vezes é: o quanto
Agora, diante de todos esses conceitos e estruturas formais de governança podem
cenários, qual seria o papel da governança ou não contribuir para um “caminhar” rumo
corporativa para chegarmos a um nível à cultura de inovação? No livro “Innovation
competitivo de inovação? Ela ajudaria ou Governance (2014)”, de Jean-Philippe
emperraria o processo inovativo? Deschamps e Beebe Nelson, há referências

(1) LEAL, Ricardo Pereira Câmara. ˆA qualidade das praticas de Governança Corporativa afeta o valor da
empresa no Brasilˆ. IBGC, Governança Corporativa e Criação de Valor, 2014, páginas 29-35.

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de que as empresas devem buscar práticas que se tornar mais flexíveis, mais tolerantes
de gestão para inovar. aos erros para incentivar a criatividade do time
e mudar conceito de hierarquia, o que pode
Alguns resultados de pesquisas confirmam requerer mudanças internas de processos
ser mais inovadoras as empresas em que e sistemas. Nessas situações, o papel da
seus presidentes, gestores e até conselheiros governança corporativa será primordial para
de administração compreendem com fomentar uma cultura de inovação no corpo
mais claridade o papel da inovação na executivo para que disseminem e implementem
estratégia corporativa. Outras afirmam uma gestão inovadora dentro da empresa.
serem necessários comitês de inovação e até
mesmo que esses órgãos atuem de forma As organizações ao redor do mundo
independente para que sejam positivos e estão lidando com mudanças disruptivas
alcancem resultados relevantes. nos negócios e na tecnologia, que estão
impactando a economia. Devemos
Ainda do ponto de vista de Deschamps e ter em mente que a inovação está
Nelson, ao pensarmos em governança e associada ao desenvolvimento da
inovação, devemos considerar algumas economia e da humanidade.
práticas para um ambiente inovador:
Uma empresa inovadora requer, por
1. Inovação é uma prioridade estratégica; exemplo, um modelo de gestão com
liderança descentralizada, empoderamento
2. Compreensão da alta direção quanto de times e desafios claros e concretos como
aos desafios do futuro; parte de seu ambiente e de sua cultura
corporativa. Um bom exemplo desse novo
3. Estabelecimento de um comitê modelo de gestão são os Squads como
de gestão da inovação; o do Spotify. Nessas empresas a média
gerência foi extinta e promoveram objetivos
4. Empoderamento dos direitos estratégicos para times independentes,
de tecnologia como elo entre as descentralizados e com poder para tomar
atividades de gestor e P&D; decisão. Cada Squad pode estar direcionado
para um objetivo estratégico (customer
5. Reconhecimento de projetos service, novos produtos, novos serviços,
que são relevantes para inovação; desmonetização, desmaterialização,
transformação digital da empresa, etc). São
6. Adoção de métricas para os resultados. times multidisciplinares estimulados por
desafios, liderados por um project manager
Desta forma, se a inovação estiver no DNA ou PMO, mas com todos os membros
da empresa, dificilmente a governança necessários incluídos para atender o desafio
corporativa irá emperrá-la, pois ela estará (marketing, finanças, TI, Web, Produto etc).
arraigada dentro da estrutura da empresa,
inserida em seus valores, princípios, política, Outro ponto que deve ser considerado é
cultura e na estratégia da organização, a necessidade de estarmos abertos para
permeando todas as decisões do corpo a diversidade, seja ela cultural, de gênero,
diretivo e também dos funcionários. Na visão idade e/ou étnica. Desde as constatações
de Valter Pieracciani, em seu livro Usina de pioneiras de Edith Penrose, na década de
Inovações, “Inovação é antes de tudo um 1950, entende-se que as empresas devem
estado de espírito”. ter diversidade em seus quadros para
fomentar a inovação. Como dizia Robert
Mas nem sempre encontramos empresas Wong, “O sucesso está no equilíbrio”.
com este grau de maturidade de inovação. As Portanto, é imprescindível que o conselho de
organizações com uma estrutura mais sólida, administração seja composto por diversidade,
com processos bem definidos e/ou com uma de acordo com as habilidades necessárias
trajetória longa, podem sentir mais dificuldade para que os objetivos e estratégias sejam
para criarem um ambiente inovador, pois terão atingidos. Olhando por este prisma e

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entendendo que grupos tendem a se resultados esperados de curto prazo, como


identificar com pessoas iguais e não com receita operacional, custos, produtividade, e
os opostos, fica o grande desafio de buscar principalmente competitividade que faça com
integrantes com olhares e aptidões diferentes. que, além de crescimento orgânico, conquiste
o sonhado mercado da concorrência (ganho
Um exemplo de trabalho com inovação de de market share), e se torne a referência do
forma ágil e com impacto real, foi a série de setor que atua (os chamados benchmarks).
hackathons que a IBM promoveu no último
ano, com times multidisciplinares envolvendo Já ao conselho de administração (CA), na figura
não só a comunidade de desenvolvedores, de órgão colegiado, fica a missão de proteger
mas executivos, designers e diversas áreas e valorizar a organização, otimizando o retorno
de conhecimento, trabalhando juntos para do investimento no longo prazo, e buscar
solucionar desafios específicos. o equilíbrio entre os interesses das partes
relacionadas, de modo que cada uma receba
Estruturas de gestão envolvidas com os benefícios apropriados e proporcionais ao
pessoas que possuem visão inovadora, vínculo que possui com a companhia e ao risco a
atentas a essas necessidades, tendem a ter que está exposta. (Caderno de Boas Práticas para
um comportamento voltado para caminhos Reuniões de Conselho de Administração, IBGC).
antes não trilhados. Como todo caminhar
exige uma rota, melhor que essa rota possa A atribuição do CA é de zelar pelos valores
ser sedimentada no sistema de governança e propósitos da organização, além de traçar
corporativa em que, da base ao topo, suas diretrizes estratégicas e certificar que
possamos fazer os órgãos funcionarem sejam implementadas com padrões éticos,
em harmonia, influenciando os sócios, atendendo às expectativas dos “stakeholders”,
o conselho, o CEO e gestores. ao se comunicar de forma transparente,
eficiente e eficaz e o mais importante,
Desta forma, se a governança for composta construir um futuro sustentável e perene.
de pessoas que tenham um espírito inovador,
visão global, além de aceitar erros como Para cumprir este papel, tanto o corpo
forma de aprendizado, promover uma cultura executivo quanto os conselheiros de
em que o medo não prevaleça, aprovar administração precisam estar alinhados e
alocação de orçamento significativo para preparados. Ter a mente aberta à novas
pesquisa e teste, permitir a participação de ideias para mudanças é o primeiro passo.
inovadores fora do ambiente da empresa Para tal, alguns precisarão abandonar
(open source), reconhecer e premiar as novas certos conceitos, tais como o da estrutura
ideias, ela estará promovendo a inovação, organizacional hierárquica, para aceitar
pois imprimirá um tom inovador em todas modelos de gestão por projetos, em que não
decisões, incluindo mudanças de processos importa o cargo, mas sim, a competência.
e sistemas, quando necessárias.
Ambos precisam conhecer a transformação
O mundo está cada vez mais conectado com tecnológica que estamos vivendo nesta era de
uma velocidade cada vez mais intensa. A Indústria 4.0, que se baseia em uma Revolução
única certeza que temos é da incerteza sobre Digital que está trazendo constantes desafios
o quão inovador e disruptivo será o futuro e para as empresas e líderes, além de ter ciência
o quanto esse futuro está próximo ou não. do impacto das mídias sociais sobre o sucesso
Sendo assim, o que precisamos considerar é ou fracasso de uma empresa. Reconhecer que
o quanto da inovação já deve estar dentro das ser um líder de mercado hoje não representa
estruturas de base de gestão das empresas. que a liderança será mantida amanhã.
Segundo levantamento da CB Insights,
Quando falamos de governança precisamos nos últimos 15 anos, cerca de metade das
lembrar o papel do corpo executivo e empresas que compõe o SP500 desapareceu
do conselho de administração. Ao corpo e, da década de 1950 para cá, a duração média
executivo cabe a responsabilidade de gerir das empresas que compõe o índice caiu
a empresa e se certificar que esta atingirá os de 61 para 17 anos, em média.

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Termos que anteriormente eram utilizados O principal antídoto contra estagnação


somente pela área de TI (inteligência artificial, é a inovação contínua. Inovação é o pilar
cloud, blockchain, design thinking, chat bot, fundamental da competitividade das
robótica, marketing digital, dentre outras), companhias e não apenas uma ação isolada.
hoje precisam ser de entendimento de todos. É preciso estar no DNA da empresa. O
Não devemos ter vergonha de procurar baixo grau de inovação reflete diretamente
por especialistas para nos atualizar, os na produtividade e é assunto-chave para a
conselheiros devem ter mente aberta para sobrevivência das companhias. Tema antes
estarem em constante aprendizado. Inovação relegado as pautas de longo prazo deve
envolve quebra de paradigmas e disruptura. ser encarada como assunto prioritário nos
conselhos de administração. De acordo com
Em um momento de transformação tão Mr. Richard Foster - McKinsey/Yale University,
profunda, em que a reinvenção dos negócios “75% das companhias listadas nas 500 Mais
se torna fundamental, os conselhos devem da Standard & Poors serão substituídas por
ter foco em três aspectos: novas organizações na próxima década”.

1. Gestão do risco – a gestão neste caso Os conselhos de administração não podem


é com foco no risco mais fundamental de fechar os olhos a essas questões. Pelo
qualquer empresa: o desaparecimento. contrário, como guardiões da estratégia
Em um mundo em profunda mudança, das organizações, devem levar e defender
o conselho precisa liderar esta agenda, os estandartes da inovação como assunto
especialmente porque as lideranças de essencial a ser discutido e relevado nas
gestão focam nas mudanças incrementais. reuniões. Afinal, se o conselho não assumir
Um processo disruptivo exige transformações essa pauta, corre-se o risco de se emperrar
radicais, que alteram significativamente o o processo inovativo da organização e,
modelo operacional e de negócio. Desta consequentemente, de a empresa ser
forma, não é natural emergir uma agenda engolida em novos ciclos disruptivos.
de disrupção. Ela deve ser ambicionada e
direcionada pelo conselho. Dentro desse cenário, a governança de sua
empresa está preparada para este novo mundo?
2. Pessoas certas – o perfil das pessoas que
lideram transformações radicais é diferente
das pessoas que lideram operações de forma Denis Balaguer
bem-sucedida. Além disto, na transformação Latin American South Director, Innovation
Center, EY
que está ocorrendo, a tecnologia é um
componente fundamental, não apenas como Geovana Donella
um enabler, mas como elemento central. CEO, Dornella & Partners
Isto implica que o conselho deve trazer para
posições de liderança e para a composição do
próprio conselho, pessoas com conhecimento Guilherme M Lima (coordenador)
Founder, Amoveri Group
profundo das tecnologias e que tenha
uma mentalidade de mudança radical, não
incremental e operacional. Hamilton M. Cunha Jr.
Board Member - Digital Transformation
3. Métricas e ritmo certos – seja pela sua
natureza radical, seja pela maneira como Mônica Pires
as tecnologias digitais são desenvolvidas, a CFO & COO, IBM BRASIL RESEARCH LAB
transformação não pode ser medida da mesma
maneira que se medem projetos tradicionais.
O foco na experimentação e agilidade indicam Tarcila Reis Ursini
Board Member
que outras métricas devem ser aplicadas. O
Conselho precisa se adaptar a estes KPIs e
colocar na agenda da liderança esta nova forma Membros do Grupo de Estudos
de executar uma transformação. de Inovação do IBGC

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Inovação no Brasil: por que


essa não é uma tarefa exclusiva
do setor produtivo
Por Rafael Lucchesi

A atividade de inovação é base para o


desenvolvimento econômico e exerce
impactos positivos sobre os níveis
de produção e os indicadores de 1010
competitividade. Ao longo do tempo, os
esforços de inovação têm assumido posição
de crescente destaque para impulsionar o
fortalecimento empresarial, constituindo-se
em importante fonte para o crescimento
sustentável das nações. %

Com base nessa percepção, diversos países 100


têm adotado políticas de ciência, tecnologia 1010
e inovação (CT&I) com foco no apoio a
instituições tecnológicas, no financiamento
a projetos inovadores e no estreitamento
de laços entre o setor produtivo e a
comunidade científica. No Brasil, ao longo
dos últimos anos, diversas alterações no
marco regulatório e nos instrumentos de os investimentos públicos na construção
apoio ao sistema nacional de CT&I buscaram dos mecanismos de suporte à inovação
criar um ambiente favorável à inovação. não foram capazes de alavancar
Essas iniciativas incluem o fomento à proporcionalmente os resultados dos
interação universidade-empresa e a esforços de inovação.
possibilidade de concessão de subvenções
a empresas, por meio da Lei da Inovação; Por compreender a inovação como a
a concessão de incentivos à ampliação dos principal via de acesso à competitividade,
gastos privados em inovação prevista na Lei a Confederação Nacional da Indústria
do Bem; a definição de receitas vinculadas (CNI) lidera, desde 2008, a Mobilização
da União para fomentar atividades de Empresarial pela Inovação (MEI), que
pesquisa, desenvolvimento e inovação conta com a participação de mais de 200
(PD&I) associadas aos Fundos Setoriais lideranças empresariais e autoridades do
de financiamento a projetos de pesquisa, governo. O fórum tem dois propósitos
desenvolvimento e inovação, criados a partir fundamentais: incorporar a pauta da
de 1999; e, por fim, a Emenda Constitucional inovação à estratégia das empresas
nº 85, de 2015, que melhorou a articulação brasileiras e ampliar a efetividade das
entre o Estado e as instituições de pesquisa políticas de apoio à inovação no Brasil. Hoje,
públicas e privadas e ampliou o leque das é um movimento robusto e permanente que
entidades que podem receber apoio do abarca diversos projetos e linhas de ação.
setor público para pesquisas.
A MEI é hoje um exemplo bem-sucedido
Entretanto, há muito a avançar. Embora de interação público-privado por meio da
o Brasil tenha vivido um período de construção conjunta de soluções voltadas
crescimento econômico até recentemente, para ampliar a inovação tecnológica, a

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competitividade e a inserção internacional Desenvolvimento Econômico e Social


das empresas brasileiras. (BNDES) e por investimentos próprios
do Senai, representa um marco para o
A reversão de um quadro como o que sistema de CT&I brasileiro – que agora
temos hoje inclui, necessariamente, conta com infraestrutura laboratorial e
esforços de construção e promoção de de pesquisadores, distribuída em todo
uma pauta de produção de maior valor o território nacional conforme vocações
agregado e maior conteúdo tecnológico. regionais, e que opera em parceria
Para tanto, é fundamental que as políticas com a indústria, startups, e também
de fomento à CT&I sejam efetivas. Não se com universidades e ICTs nacionais e
trata apenas de preservar recursos para internacionais, à luz do modelo bem
atividades de inovação, mas também de sucedido dos Institutos Fraunhofer da
criar mecanismos capazes de assegurar Alemanha. São 25 Institutos de Inovação
retornos sociais e privados. distribuídos em 12 unidades da federação,
que operam desde 2014 e já possuem
Nesse contexto, reforçar a interação uma carteira de 405 projetos de Pesquisa
entre instituições públicas e privadas que Aplicada, totalizando quase R$ 400 milhões.
lideram os processos decisórios nacionais Destaca-se também que, entre os 25
continua sendo atividade da maior Institutos Senai de Inovação, 21 já estão
importância. Ao consolidar-se como esse operacionais, e 11 já foram selecionados
espaço de interlocução, a MEI foi o berço como Unidades Embrapii.
de dois grandes projetos com potencial
de transformação de nossa economia Já os Institutos Senai de Tecnologia são
nos últimos anos: a Empresa Brasileira de 57 unidades ao total, distribuídos entre
Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e 16 unidades da federação, possuem um
a Rede de Institutos Senai de Tecnologia e total de 1.200 especialistas em otimização
Inovação, uma das maiores do mundo na de processos produtivos, testes e
prestação de serviços tecnológicos e de certificações e metrologia, realizaram
pesquisa aplicada. atendimentos a 3.000 empresas através
do programa Brasil mais Produtivo, uma
A exemplo do que se observa em iniciativa do governo federal, lançada em
economias avançadas, atores de diversos 2016, que visa aumentar a produtividade
segmentos associaram-se no esforço de em processos produtivos de empresas
alocar recursos financeiros e técnicos em industriais, com a promoção de melhorias
iniciativas com retorno líquido e certo para rápidas, de baixo custo e alto impacto.
a sociedade. A inovação se concretiza no Ao final do programa, obteve-se um
setor produtivo, mas não sem o apoio aumento médio nacional de 52,09% de
de entes públicos e atores da academia. produtividade de trabalho; uma redução
Para a criação da Embrapii, por exemplo, média de movimentação de 59,19%; e
foi preciso arquitetar uma estrutura uma redução média de retrabalho de
institucional relativamente nova para a 62%. Em outro esforço para aperfeiçoar
realidade brasileira que, por outro lado, o ecossistema de inovação no Brasil,
tirou proveito da ampla rede laboratorial em 2017, a CNI e o Sebrae se tornaram
já consolidada no país. Com um modelo parceiros de conhecimento do Índice
de operação enxuto e desburocratizado, Global de Inovação, elaborado pela
a Embrapii tem demonstrado resultados Organização Mundial de Propriedade
que – resguardadas as proporções de seu Intelectual, pela Universidade de Cornell
ainda tímido orçamento – se assemelham e a escola de negócios Insead. No Índice
às melhores experiências internacionais Global de Inovação (IGI), o Brasil está
de apoio à inovação. estagnado na 69ª posição do ranking
geral de 128 economias inovadoras e cai
A Rede de Institutos Senai de Tecnologia para 99ª lugar no quesito eficiência da
e Inovação, por sua vez, viabilizada por inovação. Para endereçar os desafios de
financiamento do Banco Nacional de perfomance do Brasil, a MEI elaborou

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diversas propostas. Elas podem ser


divididas em quatro vertentes. A primeira
é aprender com a experiência de países
desenvolvidos. A segunda é como reduzir o
gap entre insumos e produtos de inovação
para ampliar a eficiência dos investimentos
feitos no Brasil. A terceira é impulsionar
a inovação interna para a resolução de
problemas nacionais. Por fim, a quarta
vertente diz respeito à internacionalização
das empresas brasileiras, pois a
competição internacional conduz à maior
busca por inovação.

Além do uso da metodologia de um ranking


como o IGI para a ordenação de possíveis
medidas, cabe também destacar que
nosso reposicionamento como país passa
diretamente pela revisão do sistema de
financiamento, por mais adequações ao
marco regulatório de CT&I e pelo apoio
massivo ao pequeno negócio de base
tecnológica. Medidas que viabilizem, de fato,
encomendas tecnológicas, que garantam
a estabilidade de recursos públicos
(especialmente para subvenção econômica),
e que assegurem desonerações de
ordem fiscal e administrativa às pequenas
empresas devem estar na pauta prioritária
de qualquer liderança comprometida
com o desenvolvimento.

Amplamente reconhecidas por sua


natureza transversal, as políticas de CT&I
têm clara associação com outros domínios
econômicos e sociais, em especial por
alavancarem a criação de empregos
de qualidade e a geração de maiores
dividendos para uma nação. Os retornos dos
investimentos em inovação ultrapassam, em
geral, os seus retornos privados, razão pela
qual se reforça aqui a ideia de que essa não
seja tarefa exclusiva do setor produtivo, mas
de toda a sociedade.

Rafael Lucchesi
diretor geral do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai) e diretor
de Educação e Tecnologia da Confederação
Nacional da Indústria (CNI)

IBGC Análises & Tendências - 3ª edição - Março de 2018


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A estratégia da inovação ainda


não chegou à maioria dos conselhos
de administração
Em entrevista ao IBGC Análises & Tendências, Pedro Wongtschowski avalia que os conselhos
estão, gradualmente, começando a se preocupar com a estratégia de inovação, para além das
discussões tradicionais sobre performance, investimentos e riscos

Apesar de a inovação ser um assunto


relativamente novo entre as preocupações
das empresas modernas, ela não é uma
pauta exclusiva de nossos tempos atuais.
De acordo com Pedro Wongtschowski,
pesquisador do Núcleo de Política e Gestão
Tecnológica da USP e membro de conselhos
de administração de empresas como Ultrapar
Participações e Embraer, datam do início do
século passado os primeiros movimentos
inovativos da indústria. Ou seja, bem
antes de ouvirmos falar dos negócios que
ameaçam engolir setores inteiros por meio do
desenvolvimento de imagens digitais, serviços
de streamings, mídias sociais e inteligência
artificial.

“Setores como as indústrias química,


farmacêutica, aeronáutica e eletroeletrônica
sempre tiveram uma postura muito ativa
em termos em inovação, desde o início do
século passado. A diferença é que, à época,
levavam décadas para o desenvolvimento
de novas tecnologias e novos produtos”,
explica Wongtschowski em entrevista ao IBGC
Análises & Tendências. Nesta entrevista, Wongtschowski também
discorre sobre a importância da diversidade
Para o pesquisador, o tema inovação nos conselhos de administração para a
começa a ganhar aos poucos as agendas dos consolidação de uma estratégia de inovação
conselhos de administração das empresas, dentro das organizações, bem como sobre
embora já esteja presente mais fortemente as dificuldades conjunturais para o Brasil se
nas diretorias executivas. “Ainda hoje, a tornar um polo industrial inovativo.
questão da estratégia digital e da inovação,
em grande parte das empresas, é um assunto Leia, a seguir, a íntegra da entrevista.
que o conselho de administração delega para
a administração operacional da companhia. Atualmente, está bastante em evidência
No geral, os conselheiros se satisfazem com falar da importância da inovação nas
os relatórios periódicos produzidos pela empresas. Sabe-se, entretanto, que a
gestão sobre andamento dessas questões. prática de inovar e se reinventar vem
Em muitos poucos casos, os conselhos de anos de atividade humana. Como o
participam do processo de formulação de senhor assiste a esse cenário atual e a
uma estratégia de inovação”, avalia. trajetória da inovação no país?

IBGC Análises & Tendências - 3ª edição - Março de 2018


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Eu acho que essa questão [a necessidade de Está acontecendo uma mudança nos conselhos
inovação] se acentuou a partir de 1950. Antes de administração, que está permitindo ter
dessa época, setores como as indústrias química, outras culturas representadas e uma diversidade
farmacêutica, aeronáutica e eletroeletrônica de experiências dentro desses colegiados. Se
sempre tiveram uma postura muito ativa em você analisar um conselho de administração
termos em inovação. A diferença é que no tradicional de dez anos atrás e de muitas
passado o desenvolvimento de novas tecnologias empresas de hoje, os conselheiros são muito
e novos produtos levava décadas. Ao longo semelhantes entre si, pensam muito parecido, o
do tempo, essa preocupação que era restrita que os deixam muito confortáveis nas reuniões.
a alguns setores industrias mais dinâmicos A valorização da diversidade de experiências, de
foi se generalizando para a sociedade como visões, de preocupações e de foco em conselhos
um todo. Os bens de consumo evoluíram de administração é um processo em andamento
para atender demandas mais específicas. mais recente, mas extremamente positivo.
Os consumidores ficaram mais exigentes ao Ainda hoje, a questão da estratégia digital e
longo do tempo, o que gerou e impulsionou da inovação em grande parte das empresas é
uma série de inovações no setor industrial. um assunto que o conselho de administração
delega para a administração operacional
O senhor também é membro de da companhia. No geral, os conselheiros
conselhos de administração. Em sua se satisfazem com os relatórios periódicos
percepção, como o tema da inovação produzidos pela gestão sobre o andamento
está endereçada dentro dos colegiados dessas questões. Em muitos poucos casos, os
das empresas brasileiras? Há um claro conselhos participam do processo de formulação
entendimento nos conselhos de que a de uma estratégia de inovação.
inovação está alinhada à busca de uma
melhor competitividade nos negócios? Alguns conselhos de administração têm perfis
exclusivamente técnicos e operacionais e outros
Temos um processo em andamento. Eu vejo têm perfis majoritariamente financeiros. Nem
os conselhos ainda concentrados em suas um nem outro é suficiente para assegurar o
missões tradicionais, tais como definir a sucesso da companhia. O conselho diversificado
estratégia, acompanhar a performance deve considerar experiência em segmentos
dos negócios, decidir sobre investimentos, empresariais distintos, alguns profissionais
gerir riscos, atentar para a gestão de pessoas. com visão financeira e outros com ênfase em
Esses assuntos ainda são o foco principal dos tecnologia e mercado.
conselhos de administração. Mas, recentemente,
dependendo do segmento do mercado em O Brasil ainda engatinha quando o
que a empresa atue, questões de tecnologia assunto é inovação se comparado às
e inovação, de marketing e estratégia digital grandes economias mundiais. Qual o
passaram a se introduzir nas agendas dos grande empecilho para avançarmos
colegiados junto a questões de outra natureza, nessa seara? O que devemos fazer para
como a de responsabilidade social, mudanças termos uma indústria inovativa?
climáticas, responsabilidade ambiental,
ética. Mas é um processo em andamento. Há Há diversos fatores que interferem no processo
empresas em que isso se dá de maneira de mais de inovação no país. E a primeira não é
acelerada e, em outras, de forma mais lenta. propriamente a inovação. Temos o reflexo da
Importante frisar que as questões de inovação situação da economia brasileira e das empresas
estão hoje majoritariamente concentradas nas no país. No Brasil, estatisticamente, as empresas
diretorias, junto à gestão, e não nos conselhos ainda investem menos em inovação que os seus
de administração. congêneres de fora. Há uma série de razões
para isso, tal como a dificuldade de operar no
Como a diversidade de perfis dentro dos Brasil. A rentabilidade das empresas no país é
conselhos pode contribuir para que as mais baixa que na maioria das economias mais
discussões sobre a inovação não fiquem desenvolvidas. Rentabilidade mais baixa em um
restritas ao executivo e alavanquem na ambiente operacional mais hostil, mais instável,
pauta dos conselhos de administração? faz com que o foco da administração se concentre

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no curto prazo e na sobrevivência da empresa. inovação empresarial para outro patamar de


Portanto, diante desse cenário, se tem menos relevância. A iniciativa está promovendo uma
foco em questões de inovação. Se comparado mudança de cultura e de posicionamento
aos países desenvolvidos, temos um ambiente nas lideranças empresariais. Outras ações:
institucional diferente, perspectiva de rentabilidade A Anpei [Associação Nacional de Pesquisa e
menor, ambiente operacional bem mais difícil Desenvolvimento das Empresas Inovadoras] tem
e complexo. Por que a empresa brasileira não papel muito importante, especialmente, para
inova? Porque ela não resolveu seu problema empresas de médio porte e startups, trazendo-
de amanhã. A indústria conseguirá pensar no as para a arena de discussões sobre inovação.
depois de amanhã, somente depois de resolvido Outro exemplo é o trabalho da Embrapii
o amanhã. Muitas empresas no país ainda [Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação
estão tentando garantir sua sobrevivência para Industrial], uma organização social que hoje
o ano que vem. Então, genericamente falando, o tem mais de 400 empresas beneficiadas. Então,
ambiente institucional e econômico induz a um estamos vendo uma evolução lenta e silenciosa
comportamento no setor produtivo mais de curto na discussão acerca da inovação empresarial.
prazo, portanto, pouco focado na inovação.
Além disso, estamos vendo a evolução gradual
O senhor está à frente de entidades e da governança corporativa das empresas
fóruns de discussões que fomentam a brasileiras, implicando na maior atenção a
pesquisa e inovação. Quais iniciativas fatores como estratégia de inovação, da própria
nesta seara estão dando certo no país? governança corporativa, estratégia digital,
responsabilidade social e ambiental, ética. É um
Algumas inciativas no Brasil deram muito processo que está andando bem. Cada vez mais,
certo e estão elevando o número de empresas os conselhos de administração fazem reuniões
adeptas a uma atitude mais proativa com em sites diferentes, aumentam seu envolvimento
relação à inovação. Eu posso citar o caso da nos negócios, procuram conhecer mais as
MEI [Mobilização Empresarial pela Inovação], operações, sendo mais proativos e partícipes na
iniciativa da CNI, que trouxe a questão da definição das estratégias das companhias.

Natural de São Paulo, Pedro Wongtschowski é engenheiro químico, mestre e doutor em Engenharia pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo. Foi diretor superintendente da Oxiteno (1992-2006). Entre janeiro de
2007 e dezembro de 2012 foi presidente da Ultrapar Participações. É presidente do Conselho de Administração
da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), presidente do Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e presidente do Conselho Superior da Associação Nacional de Pesquisa,
Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI). É membro do conselho de administração
de diversas empresas, incluindo a Ultrapar Participações e Embraer, e de instituições não-governamentais na
área de tecnologia, empreendedorismo e inovação. É pesquisador associado do Núcleo de Política e Gestão
Tecnológica da USP desde 2012.

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Inovação e competitividade
precisam andar juntas
por João Carlos Brega

Uma empresa líder de mercado enfrenta o


desafio diário de se manter alguns passos
à frente da concorrência, antecipando-se
e atendendo de forma precisa o desejo
e as necessidades de um mercado em
transformação e evolução constantes. E ter
qualidade e a eficiência produtiva já não
basta para conquistar novos consumidores
e ampliar a receita. É preciso planejar e
executar muito bem, tendo a inovação como
parte da sua estratégia para gerar valor
aos clientes e investidores, diferenciação
e vantagem competitiva. Em um cenário
marcado por novidades tecnológicas, é
inquestionável que a inovação contribui
para o desenvolvimento do País e para a
sua inserção em um contexto internacional.
Portanto, inovação precisa ser entendida
como o principal pilar de crescimento.

Nesse sentido, o setor privado precisa


acompanhar de perto o seu planejamento
de inovação no curto, médio e longo
prazos, as questões que impactam a
competitividade e o papel do Estado como
indutor do desenvolvimento, propiciando
condições para a livre iniciativa avançar.

Não podemos olhar passivamente o Brasil, infraestrutura, a insegurança jurídica e


a nona economia do mundo, ocupar a 69ª tantos outros elementos que compõem
posição no Índice Global da Inovação, atrás de o custo Brasil impactam diretamente a
nações de dimensões muito menores, sendo competitividade do setor produtivo.
que, em 2011, o País chegou a estar no 47º
lugar. Os aspectos em que mais precisamos Precisamos construir mais as pontes entre
melhorar são a educação, a infraestrutura Estado e a iniciativa privada. Não falo de
geral e ambiente político e de negócios. protecionismo ou privilégio a setores
específicos, mas sim de criar as condições
Há muito o que evoluir no sentido de adequadas para que o debate sério e
criar um ambiente propício à inovação, ao responsável dos problemas e possíveis
crescimento do Brasil, ao desenvolvimento soluções seja realizado com a mais ativa
da livre iniciativa, do empreendedorismo e participação dos atores - poder público,
da geração de riqueza a partir da atividade setor produtivo e sociedade - permitindo o
produtiva. Vivemos um cenário em que o tão desejado desenvolvimento e crescimento
excesso de burocracia, a complexidade do econômico e social.
sistema tributário - e suas elevadas alíquotas
e distorções como impostos sendo base Trago um exemplo do estado do Arizona
de cálculo para outras taxas -, a deficitária (Estados Unidos), que se tornou o berço

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global dos veículos autônomos, que reviu processos sistematizados de gestão da


a regulamentação e permitiu que as inovação. A Organização Mundial de
empresas pudessem testar seus conceitos Propriedade Intelectual divulgou, no final
no Estado, com baixo custo. O Arizona do ano passado, que de 22 mil pedidos de
assumiu o projeto livre de regras enquanto patente processados no Brasil em 2016,
regulamentadores demoraram para criar cerca de 15 mil – 68% do total – foram
os padrões, e só depois de quase dois retirados ou abandonados pelo solicitante.
anos o governo federal está começando Isso é resultado direto de uma burocracia
a criar a primeira legislação para o tema. que não se sustenta. O Projeto da Agência
É exatamente isso que quero dizer Brasileira de Desenvolvimento Industrial,
quando falo em reduzir burocracias, criar Inpi, e o Programa Patent Prosecution
oportunidades, ter senso de urgência e Highway, para o compartilhamento de
velocidade na tomada de decisões que informações com outros países visando
tragam competitividade. acelerar as análises pode significar algum
avanço. Mas essa e outras iniciativas
Em nosso País, as medidas mais significativas precisam sair do papel para dar espaço à
para o crescimento em diferentes indústrias inovação e a consequente competitividade.
foram realizadas há anos. O grau de
competitividade do Brasil deveria dar o Como CEO da Whirlpool Latin America,
lastro necessário para que a economia se acredito no compromisso de zelar pela
desenvolvesse e as companhias inovadoras cultura de inovação no País. Na nossa
pudessem crescer. Temos uma discussão empresa, o assunto é disseminado no
fundamental hoje: criar condições para que cotidiano dos colaboradores e presente
a nossa nação siga o exemplo de outros sistematicamente em todas as áreas,
países - inclusive da região - e melhore com ferramentas estruturadas tanto em
o ambiente de negócios, adquirindo produtos quanto em processos. Em torno
protagonismo, voltando ao cenário de 23% da receita da companhia, hoje, já
internacional e também nos inserindo vem de produtos inovadores e poderia ser
mundialmente na educação, no processo uma participação ainda maior. Destinamos
industrial e no desenvolvimento tecnológico. anualmente entre 3% e 4% do faturamento
para pesquisa e desenvolvimento,
Essa jornada passa também por criar mantemos 23 laboratórios de tecnologia na
alicerces para o fomento à inovação e região e contamos com um time de mais
competitividade, por exemplo, investir em de 1.000 colaboradores dedicados a inovar
pesquisa e desenvolvimento. No Brasil, o e fomentar constantemente estratégias
índice recorrente desse tipo de aporte tem em parceria com universidades, institutos
sido de cerca de 1,2% do Produto Interno e startups que podem contribuir para a
Bruto, enquanto esse percentual é de 4,4% ampliação das iniciativas.
em Israel, 2,8% nos Estados Unidos e 2,2%
na Alemanha. A Embraco, pertencente à nossa companhia,
é a segunda empresa brasileira que mais
Outro fator importante é assegurar o registra patentes nos Estados Unidos.
nível de investimento necessário no E temos orgulho de estar entre as 500
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações mais inovadoras do mundo, de acordo
e Comunicações (MCTIC), visando também com o ranking de registros de patentes
ao fortalecimento de entidades como o da Organização Mundial de Propriedade
INMETRO, que estimula a concorrência Intelectual (OMPI), além de ser a empresa
justa e a melhoria contínua da qualidade, privada com o maior número de depósitos
o incremento das exportações e de patentes no Instituto Nacional de
a robustez da nossa presença nos Propriedade Industrial (INPI).
mercados interno e externo.
Como resultado dessa cultura, em menos
Adicionalmente, precisamos dar condições de um ano, lançamos uma centena de
para qualificação profissional e ter novos produtos, entre eles uma versão de

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cervejeira 100% conectada a um aplicativo,


com uma tecnologia completa de IoT para
o consumidor. O foco em inovação tem
contribuído para a competitividade da
companhia e sua liderança de marca e de
produto, o que não deixa dúvida de que
este é o caminho.

A virada de página em nosso país requer


uma mudança na postura da sociedade,
mais debates com agentes econômicos
para uma participação ativa na definição
da agenda futura do Brasil. O desafio
de inovação está em estabelecer uma
construção contínua, sólida, com condições
favoráveis à competitividade.

João Carlos Brega


Presidente da Whirlpool Latin America

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Esqueça o mundo Vuca: bem-vindo


aos tempos pós-normais e o dilema
“o cateto da hipotenusa”
por Gil Giardelli

Alguns chamam de mundo Vuca (volátil,


incerto, complexo e ambíguo), tempos de
acontecimentos caóticos e imprevisíveis.

Olhe em volta os movimentos empresarias


complexos, empresas convivem no mesmo
tempo e espaço com Reposicionamento
cultural, transição de liderança, fusão
e aquisição, reestruturação, mudanças
estratégicas, transformação da industria 4.0,
novos mercados, concorrentes e processos,
novo consumidor, diversidade, propósito,
gaps de talentos, novos centros de poder,
fim das fronteiras, do estado nação e as
plataformas blockchain. Ufa.
economia e ecossistema da inovação ou
Nos meus estudos na World Futures Studies economia do conhecimento.
Federation (WFSF), um grupo criado em
1973 e dedicado a aconselhar a Unesco, Nesta revolução, surgem conceitos e palavras
tem por missão estudar o futuro e pensar como inteligência artificial, colonização do
soluções para o planeta. espaço, carros autônomos, humanoides,
energias verdes, DNA perfeito, robôs,
Nós usamos “Tempos pós normal e da internet das coisas, inteligência coletiva,
inovação radical”. Um período marcado machine to machine (M2M), startups unicórnio,
por ventos da revolução que carrega três sharing economy, exploração espacial, drones,
palavras: contradições, complexidade e caos. impressora 4D, trans-humanismo, mobile
first, data tsunami, da transformação digital, e
Voltemos às barricadas da Revolução Francesa, outras tantas tendências exponenciais, dão
cujo mantra era “Numa época de inovação, um novo sentido a humanidade.
tudo o que não é novo é pernicioso”.
Nós, os Tech Otimistas acreditamos em um
Vivemos no século XXI, mas a maioria das mundo fisital (união do mundo digital com
palavras que utilizamos são criadas ou o mundo real e vice versa) com a fusão do
ganharam força entre a Revolução Francesa bio-tech, nano-tech, digital-tech, green-tech e
e a Primeira Revolução Industrial. neuro-tech. e a era dos valores e o universo
do propósito com lucro. Um mundo dos
Eis que hoje, vivemos uma nova revolução, negócios que respeitam a diversidade cultural,
são novas palavras e sentidos, tempos de responsabilidade social, sustentabilidade,
mudança complexas, aceleradas, dinâmicas, propósito social, sai a economia dos átomos e
explosivas, radicais, com uma nova entra a aceleração dos bits.
realidade-virtual, e uma nova economia -
disruptiva. Pode ser chamada de a quarta Alguns, porém, ainda acreditam que
revolução industrial, era dos makers ou construir um tobogã no meio de sua
economia conectada. alguns relatam ser o empresa é suficiente para torná-la inovadora.
capitalismo híbrido, outros o pos capitalismo,

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Não se deram conta de que estamos em um (MIT) lança um desafio e um mantra: “Seja
tempo em que pessoas mudam de emprego, desobediente. Não se pode mudar o mundo
sem mudar de empresa. Ou de que vivemos sendo obediente”. Trata-se de um mundo de
um choque de gerações entre os menos de inovação, de avanço científico e social. Esse
30 anos e os mais de 60 anos, todos co- território, portanto, é dos desobedientes,
criando ou brigando nas empresas. aqueles que desafiam o status quo. Daqueles
que não perguntam se devemos mudar e
São tempos em que lançamos um foguete sim como mudar.
no espaço com a mensagem colocada nas
peças: “feito no planeta Terra, por seres Nesta economia circular, criativa e
humanos”. Ou ainda, uma época em que compartilhada, é preciso repensar o passado,
a tradicional Universidade de Oxford vê se reconsiderar o presente e reimaginar o
destacar em seu campus o “Ghost Club”, futuro. Tudo ao mesmo tempo.
iniciativa que criada no século 8, um grupo
de estudos sobre espíritos e vida após a O economista Joseph Schumpeter, em
morte e que se tornou a grande sensação 1939, estava certo quando criou o termo
entre os estudantes. destruição criativa. “Se você não reiventar o
que você estiver fazendo, alguém fará isso!”
Pelos labirintos corporativos, novas
expressões são sussurradas: quarta Que tempo curioso este, onde a gigante do
revolução industrial, destruição criativa, tabaco Philip Morris cria no Reino Unido a
inovação disruptiva, era cognitiva, era campanha “Um futuro livre de fumaças”, com
dos makers, mundo Vuca, blockchain, o objetivo de ajudar as pessoas a pararem
hackaton, co-criação, computação quântica, de fumar. E ainda afirma: construímos a
exploração espacial e outras tantas empresa de cigarros mais bem-sucedida
tendências exponenciais. do mundo, com as marcas globais mais
populares e icônicas. E explica: tomamos
Brotam para aposentar velhos modelos de uma decisão dramática, agora estamos
negócios, como a “eficiência operacional”, de construindo o futuro do Philip Morris com
Adam Smith, a planta automotiva, de Henri base em produtos sem fumo, que são uma
Ford, o conceito da GM, de Peter Drucker, escolha muito melhor do que o tabagismo.
análise SWOT, cinco forças, de Michael
Porter… Este universo já não cabe na atual Seria um caso isolado? Veja, nesses
fase, da gestão da inovação, gestão da nossos tempos a Nestlé lança na China um
mudança e gestão do futuro. dispositivo com inteligência artificial e que
funciona como assistente para responder na
Vivemos os tempos da humanoide Sophia casa das pessoas perguntas sobre nutrição.
e sua inteligência artificial. Uma criação Tudo de forma personalizada. A gigante
humana que ganha a cidadania da Arábia de alimentos agora é uma empresa de
Saudita com o objetivo de ser a porta-voz tecnologia. Novas competições?
da transição econômica daquela região, que
almeja sair da economia do petróleo e entrar A Coca Cola, mudando uma tradição de
a economia da inovação. 125 anos, resolve embarcar no mercado de
bebidas alcoólicas.
No entanto, nesses nossos tempos pós-
normais, nada é tão simples. A inteligência Mais exemplos? A L’Oréal criou sua internet
artificial de Sophia começa a questionar, das coisas, um sensor projetado para ser
por exemplo, sobre os motivos de na Arábia implantado na unha e permitir aos usuários
Saudita as mulheres não terem direitos rastrear suas exposições ao sol e, desta
iguais aos dos homens. Para horror dos forma, combater os riscos de câncer de
governantes locais. pele. Novos mercados?

E neste pensamento de futuro, o renomado Há ainda um banco europeu que elaborou


Massachusetts Institute of Technology um cartão de crédito que ajuda os mares. Ao

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calcular o impacto do CO2 de cada transação o cateto da hipotenusa que ensinamos ao


bancária é gerado um relatório mensal com pequenos alunos nas escolas tradicionais?
perfil climático e custo do carbono, conforme
definido pelo Banco Mundial, sugestões de E o Brasil? Precisa urgentemente pensar
projetos para uma vida mais equilibrada. qual seu projeto de futuro e de nação
inovadora. Somos o único país entre as 20
Como disse um grande criador do Vale do maiores economias que não tem um núcleo
Silicio, Reid Hoffman: “Esqueça os Unicórnios, apropriado para pensar o futuro da nação,
aprenda a ser um Phoenix. O tipo mais raro algo que é independente de presidente ou
de empresa.” linha política. Para ficar em um exemplo, os
EUA têm tal departamento desde 1929.
Para pensar o futuro, você terá que investir
em valores e propósito, inovação empírica, É impossível fechar a conta de uma nação
o fim da intermediação, data tsunami, inovadora, enquanto estamos em 80º no
educação de alto impacto, igualdade global... ranking de Competitividade Global do Fórum
vá anotando, pois a lista é grande. Econômico Mundial; ou na 98ª posição no
Global Entrepreneurship Index (GEI); em 69º
O paradoxo é que você vai ter que ter lugar em Inovação pela Organização Mundial
tempo. Tempo para, como sabiam os de Propriedade Intelectual; ou antepenúltimo
antigos romanos, pensar em corpo são, em eficiência empresarial e penúltimo em
mente e alma sãs. Eficiência Política pelo IMD Suíço.

Aqui vão algumas dicas. Na livraria da Ou enquanto caímos no ranking da


Universidade de Harvard, os livros em corrupção da Transparência Internacional
destaques e mais vendidos são uma série “O de 69° em 2014, o que, diga-se já era
lado humano da vida profissional” e quatro ruim, para 96° em 2017. No índice de
livros com os títulos “Felicidade”, “Resiliência”, desenvolvimento humano da ONU somos
“Mindfulness” e “Empatia”. 79º. Números que deveriam gerar um
desconforto capaz de fazer a sociedade
Em Nova York, um sucesso recente é o refletir e buscar novos caminhos.
ônibus da meditação, com instrutores
experientes, terapia de aromaterapia, Será que a única batalha que nos restou foi
cromoterapia, 30 minutos de “quebra de lutar pelo futuro?
mente” para profissionais ocupados.
Em tempo pós-normais é urgente o Brasil
Em Stanford, um dos cursos mais tomar decisões de futuro. Bem-vindo ao
procurados é o “Designing your life”, como novo normal. Ou, como disse o futurista
criar mundos e resolver problemas usando William Gibson: “O futuro já está aqui, está
o pensamento de design para construir apenas distribuído desigualmente.”
carreira, vida pessoal criativa e produtiva.

São tempos fabulosos, na minha visão.


Tempos de muito trabalho e de novas Gil Giardelli
Estudioso da Cutura Digital
perguntas. Não podemos nos deixar ser e professor nos cursos de
seduzidos pelo operacional. Pós-Graduação, MBA e do Centro
de Inovação e Criatividade na ESPM,
Inepad-USP e da FIA-LABFIN/Provar.
Precisamos ter tempo para pensar e mudar.
Refletir sobre o que faremos com um mundo
todo construído no período pós-Segunda
Guerra Mundial. A questão é : o que faremos
com instituições como OMS, ONU, OMC, FMI,
Banco Mundial, Basileia? Todas com grandes
dificuldades de responder às demandas
desses novos tempos. O que faremos com

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Inovar com criação de


valor compartilhado
por Regina Magalhães e Tarcila Ursini

A 4a revolução industrial não se limita a


economias mais avançadas e a setores
específicos - trata-se de um fenômeno
global que afeta todas as atividades
econômicas. Tampouco se limita a mudanças
tecnológicas, implica em transformações
institucionais, sociais, comportamentais,
de propósito e de consciência, que irão
transformar nossas vidas e o futuro de
nossas empresas - dimensões que estão
cada vez mais interconectadas.

Foi nesta linha de raciocínio que Larry Fink,


CEO e fundador do BlackRock, considerado
o maior gestor de ativos do mundo,
escreveu sua conhecida “Carta anual aos
CEOs” de 2018 - “... para prosperar no
longo prazo, as empresas devem não só
gerar rentabilidade financeira, mas também
demonstrar como contribuem de forma
positiva para a sociedade”. E destaca o
necessário papel de uma governança mais
ativa, comprometida e diversa para melhor
identificar riscos e oportunidades que de bem-estar social e de sustentabilidade
fomentem o crescimento a longo prazo. ambiental, atingindo gigantescos mercados
Dito de outra forma: a BlackRock dá um antes não atendidos ou operando de
importante passo na introdução de critérios forma ineficiente.
ASG (ambientais, sociais e de governança)
no seu já tradicional ativismo. Por outro lado, as mesmas tecnologias
podem agravar antigos problemas
Neste contexto, a composição atual e a sociais e ainda gerar novos desafios para
maneira como conduzimos a governança a humanidade, como por exemplo, o
em nossas organizações endereça os novos desemprego tecnológico, as desigualdades,
desafios e oportunidades da sociedade e dos a formação de grandes monopólios
investidores de hoje e do futuro? globais, o fim da privacidade, a quebra dos
laços sociais, o isolamento das pessoas
4a Revolução industrial e o valor e a polarização política. São problemas
compartilhado complexos que já estamos vivenciando e são
o resultado da convivência de tecnologias do
As novas tecnologias como a inteligência século XXI com instituições do século XX.
artificial, internet das coisas, blockchain,
automação e biotecnologias podem reduzir Com base neste contexto que a Singularity
custos de alimentos, tratamentos de saúde, University com sede no Vale do Silício, e
moradia, ampliar o acesso à educação de Peter Diamandis , um de seus fundadores,
qualidade e gerar novos negócios. Enfim, foca seu campo principal de atuação,
elas têm o potencial de promover aumento acreditando que as maiores oportunidades

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de negócio estarão nos maiores problemas A Unilever e a Danone estão desenvolvendo


da humanidade, capacitando as pessoas alimentos produzidos de forma sustentável
para criar um futuro abundante por meio da e que buscam melhorar a nutrição. A
aplicação de tecnologias exponenciais. Native, a Korin e a Mãe Terra (esta última
recentemente adquirida pela Unilever)
Ou seja, tecnologias não são capazes de são marcas em forte crescimento que
promover mudanças positivas na sociedade estruturaram seus negócios a partir
se não estiverem integradas a modelos de produtos orgânicos e processos de
de negócios que visem objetivamente a produção regenerativos, ou seja, que não só
solução de problemas sociais reais. E a conservam, mas melhoram as condições dos
modernização da governança das empresas recursos naturais. A Nestlé prepara-se para
é uma das condições mais importantes lançar uma linha de leites orgânicos no Brasil,
para que as tecnologias proporcionem que tem potencial significativo para gerar
desenvolvimento humano e ambiental, e mudanças no mercado de lácteos brasileiro.
prometem ser um bom negócio. A Natura usa a biodiversidade para a criação
Isso já está presente nas estratégias de produtos inovadores que valorizam a sua
de grandes multinacionais e em novas marca a partir dessa identidade única no
empresas. No topo da Change the World List mercado nacional e internacional.
de 2018, o J.P. Morgan Chase está investindo A Schneider Electric desenvolve suas
250 milhões de dólares em pequenos tecnologias com o objetivo de contribuir
negócios para revitalizar a cidade de Detroit. para a solução do dilema energético global –
A EFL , vencedora em 2017 do prêmio da MIT ampliar o uso de energia e ao mesmo tempo
Inclusive Innovation Initiative, é a primeira reduzir as emissões de carbono.
empresa a utilizar psicometria para análise
de risco de crédito de pessoas de baixa Esses novos modelos de negócios se
renda e planeja com isso incluir 1 bilhão de baseiam em vantagens competitivas que
pessoas no mercado de crédito. até agora eram ignoradas, mas que hoje
podem ser parte de uma nova estratégia de
Mas também no Brasil muitas empresas fortalecimento da indústria brasileira.
estão criando negócios lucrativos
desenhados especialmente para gerar O Brasil possui a maior biodiversidade do
benefícios sociais e ambientais. A Duratex planeta, além da maior reserva de água doce
desenvolveu um novo propósito que do mundo e a indústria tem a possibilidade
direciona o seu modelo de negócio para de explorá-la de forma sustentável para
criar soluções inovadoras que melhorem a produzir alimentos, medicamentos e novos
qualidade de vida das pessoas em seus lares materiais para o mercado mundial. Tem
e locais de trabalho, já refletido nas novas ainda uma das melhores insolações do
aquisições em 2017. A Fibria desenvolve mundo , além de um potencial de energia
tecnologias para a produção de polímeros eólica maior que toda a demanda de energia
sofisticados para usos em diversas indústrias do país . O que Carlota Perez chama de
a partir de matéria prima renovável. A economia baseada em recursos naturais -
Braskem tornou-se o maior produtor não são commodities, são produtos únicos
mundial de polímeros oriundos de fontes e de alto valor, baseados em tecnologias de
renováveis, o etanol de cana-de açúcar. ponta e produzidos de forma sustentável.

A HP junto com uma das suas principais O Brasil é também um dos poucos países do
fornecedoras, a Flex, desenvolveu uma das mundo que combinam uma grande estrutura
indústrias de reciclagem de eletrônicos industrial e agrícola localizada próxima a um
mais sofisticadas do mundo, a Synctronics, dos maiores mercados consumidores do
com sede no Estado de São Paulo. A mundo. Esta proximidade é uma condição
Coca Cola anunciou em janeiro de 2018 o que permite estruturar uma economia
investimento bilionário na reciclagem de circular que além de reduzir impactos
embalagens plásticas. ambientais, reduz custos e gera novos
negócios lucrativos.

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Soma-se a isso um amplo capital social: Entretanto, na prática ainda muitos


uma sociedade democrática, diversa, conselhos são engolidos por pressões de
empreendedora, com uma forte e ativa risco, compliance e de resultados de curto
sociedade civil organizada, com a população prazo, com uma dinâmica e engajamento
mais conectada na América Latina. distante do corpo diretivo, do negócio,
da realidade da empresa, do mercado,
Essas empresas estão descobrindo o do contexto do país e do mundo, sem
potencial econômico de negócios orientados expandir as fronteiras formais das reuniões,
para a solução de problemas sociais e sem interação com outras organizações
ambientais. Essas estratégias dependem da sociedade e sem uma composição de
de modernas tecnologias, mas dependem fato com diversidade, seja ela de gênero,
principalmente da capacidade de aplicá-las geracional, de experiências de carreira e de
em um contexto muito complexo. Sem uma formas de pensar, que permita a revisitação
governança moderna isso não seria possível. de estratégias e construção de uma cultura
de inovação com uma visão ampliada,
A inovação está nas pessoas e na forma incluindo mudanças mais profundas e que
como elas se organizam vão além das perspectivas da inovação
tecnológica e digital.
A exploração das vantagens únicas que
permitiriam o desenvolvimento de uma A governança corporativa do século XXI
economia inovadora no Brasil não pode ser deve ser capaz de promover a adaptação
realizada apenas com o uso de tecnologias. das empresas ao ritmo exponencial da
Por que a inovação depende das pessoas, capacidade cognitiva. A governança da era
mais do que das tecnologias? Negócios são digital deve ser competente para tomar
bem-sucedidos apenas se forem desenhados decisões empresariais estratégicas, utilizando
a partir do conhecimento profundo da os princípios que hoje orientam os processos
realidade das pessoas que farão uso dos de inovação, com agilidade, criatividade e
produtos e serviços, além do que, dependem experimentação, conhecendo a fundo a
de pessoas capazes de executar os negócios experiência do usuário e desenvolvendo uma
com alta competência. Essa é uma condição capacidade de aprender com os erros, numa
que depende de interações contínuas entre perspectiva em que todos ganhem.
pessoas capazes de quebrar barreiras
culturais e de conhecimento e adequar as
tecnologias às condições sociais. Regina Magalhães
PhD em Ciência Ambiental, Gerente
E a composição atual e a maneira como Sênior para América do Sul de Inovação e
Sustentabilidade da Schneider Electric
conduzimos a governança em nossas
organizações endereça os novos desafios
e oportunidades da sociedade e dos Tarcila Ursini
investidores de hoje e do futuro? Economista pela USP, advogada pela PUC/
SP e mestre em Desenvolvimento em
Direito pela Universidade de Londres (UK).
O Código das Melhores Práticas de Governança Conselheira de startups e de organizações
Corporativa do IBGC, reconhece a evolução da sociedade civil. Membro independente
dos Comitês de Sustentabilidade da
do ambiente de negócios e da necessária Duratex, do Banco Santander Brasil, do
ampliação do foco da governança. “Cada Grupo Baumgart e do Comitê de Inovação
na Precon Engenharia.
vez mais, desafios sociais e ambientais
globais, regionais e locais fazem parte do
contexto de atuação das organizações,
afetando sua estratégia e cadeia de
valor (...) Tais circunstâncias impõem a
necessidade de uma visão ampliada do papel
das organizações e do impacto delas na
sociedade e no meio ambiente e vice-versa”.

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Mindset digital
por Carlos Piazza

Vivemos tempos diferentes, líquidos, onde o


processo de aceleração tem colocado todos
em alerta geral, uma vez que há profundas
alterações e uma alta exponencialidade,
obrigando as empresas a repensarem como
criar valor quando tudo muda o tempo todo.

Estes tempos de hipermodernidade, que


traz um ambiente que propicia muitas
inovações dentro das mesmas gerações,
tem causado uma avalanche de situações
muito hostis para as estruturas empresariais
da era pré-internet.

Elas adotaram estruturas monolíticas,


muito hierárquicas e muito baseadas nos
modelos do passado, já muito impregnados
por crenças e acostumadas a um padrão de
mudanças mais lento e menos significante
do que se enfrenta hoje.
a menção que vivemos tempos que não têm
A questão da perenidade empresarial tem precedentes históricos, dada a feição das
sido muito olhada desde o célebre estudo da alterações que estão em curso.
Babson, que diz que, em 10 anos, 40% das
empresas listadas na Fortune 500 não mais Nesta escala de mudança, já se considera
existirão por falta total de adaptabilidade. que os meios físico, digital e biológico já são
considerados como uma instância única, ou
O darwinismo digital olha especificamente seja, aspectos não conhecidos até então no
o impacto das tecnologias na sociedade, que diz respeito à chegada da tecnologia
que são importantes, pois além de tudo em ambientes que já trazem a medicina
ainda trazem para si uma realidade difícil digital e a biologia sintética para muito perto
de se lidar. Elas são também resignificantes, dos seres humanos, dando extensões de
mudam relações de percepção da realidade pensamento de que os humanos poderiam
com muita velocidade, ou seja, aportam viver 500 anos em menos de 30.
novas relações de significado, aumentando o
ciclo da obsolescência em seu entorno. Paradoxo ativado, ambiguidade e
complexidade é tudo que os humanos
O grande sociólogo polonês, Sygmunt deverão considerar como base de
Bauman, posicionou no seu best-seller um mundo novo, cheio de incertezas
Modernidade Líquida (1999) que o mundo e desconforto.
é líquido, nada é feito mais para durar. Ele
traz à tona a questão que se enfrenta hoje, O cenário de transformações já é
quando o padrão de aceleração digital impõe muito agudo e precisa ser claramente
à sociedade uma realidade de mudança não compreendido, uma vez que está
reconhecida pelos seres humanos. submetendo as empresas e a vida humana
a um processo de mudança em réguas
Além de tudo, ainda, a 4ª. Revolução de tempo cada vez mais curtas e mais
Industrial, publicada pelo Fórum Econômico significantes, contribuindo com uma alta
Mundial no ano de 2016, traz em seu texto volatilidade das estruturas.

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A questão do tempo é crucial, a percepção no marketing se altera desde os anos 90


do tempo tem sido cada vez mais percebida, com o padrão de convergência, que mudou
quando se percebe o encurtamento dele. hábitos e atitudes e além de tudo ainda
Edgar Morin coloca que o antigo universo alterou a velocidade de demanda.
destilava o tempo, o novo universo é levado
por ele, a questão da hipermodernidade A 4ª. Revolução Industrial ainda pontua que
acentua a visão do autor e ainda nos traz no cenário das empresas, hoje, o uso de
um cenário de que o tempo é algo que está novas ferramentas combinadas refletem
encolhendo, abrindo inclusive possibilidades melhor o que se assiste, combina-se
de que o tempo possa vir a ser negativo em internet das coisas, as novas economias do
determinado ponto. capitalismo consciente, inteligência artificial,
novos drives de energias renováveis,
O cenário que as empresas enfrentam hoje novas plataformas como o blockchain, a
é de volatilidade extrema, porque o padrão realidade aumentada, a realidade virtual
de reação é mais lento e sobre elas, novos e novos materiais, como o grafeno e o
entrantes são capazes de vir de todas as germaneno, criando uma série de mudanças
áreas de negócios, a qualquer tempo com irreconhecíveis na humanidade.
modelos de atuação mortais sobre as
estruturas mais ligadas ao passado. Claro que o ganho de produtividade, muito
afetado pela robótica estabelece um novo
Estas empresas mais ligadas às lógicas vínculo de relações, cria novos padrões
do presente chegam já digitalizadas, para o conceito de emprego e do trabalho,
desmaterializadas, desintermediadas e ainda decididamente instâncias diferentes entre si.
já apresentam um nível de crescimento
disruptivo que deixam as estruturas As estruturas que são mais ineficientes e
existentes em algo completamente obsoleto. são regidas por regras do passado, são
infestadas de pessoas fazendo tarefas
Há ainda altíssima fluidez nos setores repetitivas. Na fronteira da competição
da economia, como se pôde ver no caso entre os humanos e os robôs, claro que
da Amazon, que entrou no segmento há um nítido descompasso no conceito
de alimentos com a compra da Whole Food de emprego. Os robôs serão infinitamente
Markets em um movimento rápido, melhores que os humanos nas tarefas
sobre todas as outras estruturas repetitivas. Martha Gabriel cita sempre, que
estabelecidas há décadas. “não quer seu emprego tomado por um
robô, não tente se parecer com um”.
No que tange aos fatores de mudança, hoje
é necessário compreender que o mundo já Paradoxalmente, o lado da tecnologia ativa
não é o mesmo na questão da forma de se demanda uma expressão humana mais
criar valor. Os drives são mais emocionais, ativada, porque entre os algoritmos e os
porque precisa-se de uma identificação androrítmos, são instâncias paralelas, é claro
maior com as marcas. que há coisas que os robôs não aprenderão
Aquilo que no passado recente apontava a fazer, como a compaixão, a ética,
uma necessidade visceral de obtenção de emoções, criatividade, imaginação, empatia,
market share para sobrevivência, hoje consciência, valores, o mistério, etc
perdeu expressão em prol do cliente share
e os superlativos de ser o melhor – o Deve-se considerar então que todo lado
primeiro, o que chegou antes, o que tech tem uma correlação touch e quanto
descobriu antes – fica completamente mais tecnologia aportada tivermos para
defasado no novo cenário competitivo. fazer frente à avalanche de inovações que
devemos nos relacionar, mais humanos
Com a inversão do vetor de marketing, seremos e quando os robôs fizerem toda a
hoje já é muito próprio se dizer que são tarefa repetitiva no planeta, imagina-se que
as pessoas que compram não são mais as sobrará tempo para o humano viver, algo
empresas que vendem, então, a disrupção desconhecido para ele até os dias de hoje.

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A expressão desta coligação está


explicada nos estudos de tendências de
novos empregos que estão começando
a aparecer, listado pela Universidade
de Oxford, uma delas é a profissão de
nostalgistas, ou seja, gente do futuro,
trabalhando para manutenção das raízes
dos códigos culturais.

O futuro dos relacionamentos está nos


dados em si, quando tivermos todos os
dados chegando da internet de todas as
coisas, imagina-se que eles chegarão muito
brutos, precisaremos também de uma nova
categoria profissional, os especialistas em
Feng Shui de dados, alguém que nos dê
uma visão mais orgânica deles, para que
possamos tirar um padrão de análise em
meio a um oceano de informações.

O futuro já diz que os relacionamentos


estarão pautados pela ciência dos dados,
mas não só, como nos alerta a Capgemini e o
MIT, deveremos também manter um arsenal
impressionante da ciência do comportamento
humano, ou seja, o tech e o touch.

Uma nova era nos espera e o ponto mais


crítico é que em 20 anos, não teremos
apenas mais uma nova geração, mas uma
nova civilização.

Carlos Piazza
Darwinista Digital

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Inteligência artificial –
a nova fronteira digital
por Hamilton M. da Cunha Jr.

Inicio este artigo utilizando de uma


011100110101010110101010101001010101010101001001010101010010
provocação feita no último Congresso
1 01
do IBGC, onde o Sr. Marcelo 101010100101010111101001001000010010101010101110100001010100
Lyra Porto,
0
presidente da IBM Brasil, 00101010101010101001001000010101110010101010010010010100010
exemplificou a
diferença entre inteligência artificial (IA) e 1
01010101010010101010101001001010101001001000000101010101101
0
ferramentas de Big Data, 011100111010100100100001010111001010101001001001010100100100
sugerindo que
fosse feita a seguinte pergunta para o
1
111101011010101010100100100001010111001010101001001001010100
Google: “Me mostre imagens
sejam de maças e elefantes”.
que não
0 0 1
10101001001000010101110010101010010010010101001001000010101
1
101010100101010101010101001001000010101110010101010010010010
Para quem já imagina o que aconteceu ou 1
01010101010010101010101001001010101001001000000101010101101
teve a curiosidade de seguir a sugestão,
constatou que a resposta foi uma série
de imagens de maças, elefantes e a
desconhecida “maça de elefante”.

Estas frustrantes respostas indicam


claramente que, apesar do Google ser uma é responder, de modo rápido e bastante
ferramenta de busca fantástica e muito assertivo, a questões que os homens ainda
útil, ainda não embarca o conhecimento levariam tempo e na maioria das vezes o
suficiente para entender uma solicitação fariam de modo empírico, utilizando de
feita na negativa. experiências e viesses cognitivos pessoais
não comprovados e com risco de caírem em
Falta inteligência armadilhas por excesso de confiança!

E é por esta razão que tanto o Google Estudos indicam que o mundo gera ao redor
quanto outras grandes empresas de de 2,2 Exabytes (2,2 bilhões de Gbytes) de
tecnologia, investem bilhões de dólares informações por dia, proveniente de diversas
desenvolvendo softwares, hardwares e, formas de captação (IoT, celulares, sensores,
principalmente, algoritmos especiais, que câmeras digitais, etc ...) e são estes dados
preencham estas deficiências. É uma corrida o “combustível” que acelera o aprendizado
que envolve capital financeiro, humano e destes computadores equipados com
também tecnologias que ainda estão de certa algoritmos de inteligência artificial.
forma a frente da nossa realidade, como é o
caso dos computadores quânticos. Ou seja, a base está pronta!

Estar na frente da tecnologia de inteligência Atualmente já temos exemplos de sucesso,


artificial, representará uma competitividade como é o caso do Watson (Plataforma
inalcançável no futuro! cognitiva da IBM), que auxiliam médicos em
diagnósticos e tratamentos oncológicos,
A tecnologia recentemente também foi propagado a
informação que a maior gestora de recursos
A Inteligência Artificial, juntamente do mundo, a Blackrock, substituirá humanos
com outras tecnologias inovadoras e por computadores inteligentes1 e quanto
disruptivas carregam a responsabilidade de mais aprendizado acontece, melhor são as
transformar o mundo. Seu maior desafio experiências.

1. Revista Exame, setembro de 2017

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No futuro, estes equipamentos terão Já a Tesla, BMW e Toyota, além de outros


habilidades para conduzir automóveis, gigantes da indústria automobilística, focam
aumentar produtividade, planejar seus esforços em projetos de veículos
manutenções preventivas, executar autônomos utilizando a maioria das
diagnósticos com precisão, além de executar tecnologias anteriormente citadas.
muitas outras atividades que colocariam os
seres humanos em situações de risco. Nos últimos anos, a IBM investiu cerca de
3 BUS$ com o objetivo de transformar o
“Infelizmente, apesar dos avanços nem tudo Watson em uma plataforma de computação
está controlado” cognitiva perfeita e a Baidu (o Google
chinês) já investiu mais de 2 BUS$ em
Se faz importante pontuar que o soluções internas para a melhoria da
aprendizado das máquinas apresenta experiência de seus clientes.
limitações por conta de tempo de
processamentos e ainda estão bastante O setor industrial, também participa desta
suscetíveis a vieses cognitivos. inovação e representado pelas maiores
empresas de B2B como Siemens, ABB,
Se tornou clássico o caso que um Bosch e GE buscam se reinventar e investem
computador equipado com ferramentas fortemente para o desenvolvimento de
de IA foi exposto a um processo de soluções que revolucionem suas áreas de
aprendizado pela internet e após pouco atuação na indústria!
tempo, este havia se tornado uma máquina
homofóbica, racista e discriminatória, o Especialização de mão de obra:
que forçou que o fabricante o retirar do ar,
evitando assim maiores constrangimentos. Outro fator que vez transformando a
indústria da tecnologia, é a necessidade
O Grau de investimento atual: crescente de profissionais especializados
e criativos para o desenvolvimento das
De acordo com o estudo desenvolvido melhores ferramentas de IA. Tal fator faz
pela McKinsey Global Institute, 30 com que as grandes empresas adquiram
bilhões de dólares foram investidos no startups não somente com o objetivo
desenvolvimento de Inteligência artificial de utilizar as plataformas por estes
em 2016, sendo que Machine learning desenvolvidas, mas principalmente, integrar
(Inteligência das máquinas) foi a categoria esta mão de obra especializada e criativa a
que levou a maior parte dos investimentos, seus quadros de funcionários.
por se tratar de um módulo básico para
desenvolvimento de todas as outras A falta de talentos voltados para as novas
plataformas de IA. tecnologias, adicionada aos custos de
contratação, indica que existem mais de
Cerca de 25 bilhões de dólares, ficou por 10.000 novas posições em abertos e mais de
conta das grandes empresas de tecnologias 650 MUS$ planejado para serem utilizados
que buscam o amadurecimento de IA para em salários e pacotes de contratação nos
uso próprio em seus negócios. principais centros de tecnologia do mundo.

90% deste valor foi investido em pesquisa Estas serão as profissões do futuro!
e desenvolvimento e 10% em aquisições
de startups voltado para tecnologia e Outro vetor de desenvolvimento de
inovação em IA. profissionais especializados, tem sido o
investimento de recursos em universidades
A Amazon direciona seus desenvolvimentos e centros de pesquisas fora de suas bases.
para robótica e reconhecimento de voz,
enquanto a SalesForce busca aprimorar os O Facebook inaugurou recentemente um
agentes virtuais e Machine Learning. laboratório de IA em Paris e posteriormente
replicará o modelo para Nova York e Vale

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do Silício, focando recrutamento na Europa está claro onde se obtém as melhores


e EUA. ferramentas e principalmente, como integrá-
las nos diversos segmentos e organizações.
O Google investiu 4,5 MUS$ na universidade
de Montreal - Canadá, com o objetivo de Já é consenso que o sucesso na
aprender mais sobre desenvolvimento de implementação de uma plataforma cognitiva
algoritmos, enquanto a Intel doou 1,5MUS$ inicia de um desejo profundo de transformar
com o objetivo de financiar um centro de do Conselho Administrativo e do corpo de
pesquisa, voltado a Machine Learning e executivos da organização, transferindo este
Segurança Cibernética. desejo para toda a organização.

Escala comercial de IA : Além é claro, de identificar com


profundidade o negócio, estabelecer o
Fora do setor Digital-HighTech, IA ainda ecossistema corretamente, construir ou
se encontra em fase inicial e estágio adquirir a ferramenta correta de IA e adaptar
experimental. seus processos, fluxos e capacitação interna.

De acordo com pesquisa aplicada em mais É definitivamente uma nova fronteira, cheia
de 3 mil executivos (C-Level) - distribuídos de mistérios e descobertas!
em diversas partes do mundo, somente
20% acusam utilizar tecnologia de IA em
seus negócios, sendo que 12% realmente as
aplicam em escala. Hamilton M. da Cunha Jr.
Board Member - Digital Transformation
O fato é que ainda existe muita incerteza & Inovation / Management Consulting /
Professor
sobre os reais benefícios que IA trará para os
negócios e em quanto tempo será possível
amortizar os investimentos. Também não

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Inovação global sustentável


por Ulisses Mello

Existe um consenso entre estudiosos em


economia de que inovação é um elemento
essencial no processo dinamizador da
economia. A inovação cria aumento de
competitividade, tornando-se um fator
fundamental no aumento do bem-estar,
impactando positivamente a qualidade
de vida e o desenvolvimento humano.
Consequentemente, o investimento em
pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I)
tem sido vital para que um país garanta seu
lugar na economia mundial.

Inovação, como um processo criativo, pode


existir em níveis organizacionais distintos
e numa escala com enorme variação –
acontecendo dentro de um departamento de
uma empresa, de uma incubadora, cidades
ou regiões que se tornam cluster de inovação
e até redes de inovação cruzando bordas de uma estratégia mais duradoura que irá
continentais. Portanto, criar um ambiente produzir transformações estruturais.
inovador pode ser complexo e requer um
conjunto de práticas e processos transversais O conceito básico do termo “economia do
para sua estruturação, organização e conhecimento” considera a geração de capital
motivação contínua. Apesar de haver intelectual essencial para que seja possível
inúmeros artigos na área, não há uma fórmula trilhar esse caminho. A posição privilegiada
comprovada para o sucesso quando se e a tradição em inovação tecnológica dos
trata de inovação. Aqui vou focar em alguns países do primeiro mundo, com investimentos
aspectos que acredito serem fundamentais atrelados ao respectivo PIB, podem nos levar
para empresas que querem criar inovação a pensar que somente essas nações possuem
de formas contínua e sustentável capacidade para atuar na revolução do
economicamente, e usando vários aspectos conhecimento, mas não devemos restringir a
da diversidade estratégica. inovação a economias mais desenvolvidas e
estabilizadas, nós devemos tratá-la como um
Nos dias de hoje, para ser competitiva, a fenômeno global que afeta todos os setores.
inovação precisa ser pensada e executada de Países em desenvolvimento têm criado
forma global, sendo assim, torna-se relevante, também boas condições para inovação graças
com potencial socioeconômico transformador aos desafios associados ao desenvolvimento
e o mais importante, torna-se sustentável. que servem com força motriz e motivação
Se a cadeia de valor, ou sistema de inovação para grandes mudanças.
não for o resultado de complexas interações,
como por exemplo, a criação de políticas Algumas vertentes formam um caminho
de inovação dedicadas, num processo bem-sucedido para inovação disruptiva e
colaborativo de pesquisa e parcerias, ela pode impactante. Quando decidimos trilhar essa
se tornar irrelevante e talvez o resultado seja rota, existem passos fundamentais para que a
apenas incremental, com retorno somente a inovação sustentável ocorra.
curto prazo. Essa vertente tende a focar “low
hanging fruit”, de retorno fácil e imediato. Para Primeiro, é preciso ter talento e investir
ser sustentável, essa vertente deve ser parte neles. Estamos falando de pessoas

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com competências necessárias para nos estabelecer como líderes globais em


fazer com que a engrenagem comece uma economia de conhecimento em práticas
a rodar. Pelo fato do Brasil não ser um sustentáveis em agricultura, mineração e
país com tradição em Ciência e Inovação, petróleo aplicando novas tecnologias como
comparado a outras nações, o mercado blockchain e inteligência artificial diretamente
tem uma percepção de inferioridade de a transformação dos processos nessas
descobertas realizadas aqui. Tenho mais indústrias que temos pleno domínio de
de 20 anos de experiência em pesquisa conhecimento.
no exterior e posso afirmar que nossos
pesquisadores têm nível compatível com O mais interessante desse cenário é que
outras nações. É mais uma questão de podemos atacar desafios locais, utilizando e
mudança cultural e desenvolvimento de desenvolvendo tecnologias de menor custo
massa crítica e ecossistema. Não devemos em escala mundial, que funcionam muito
despender nossos esforços apenas para bem no nosso contexto. O Índice Global
trazer o que existe de mais novo lá fora de Inovação de 2017 (GII), resultado da
ou apenas para seguir tendências quando colaboração entre a Universidade Cornell,
o melhor que podemos fazer é olhar os a Insead e a Organização Mundial da
desafios locais que podem ser resolvidos Propriedade Intelectual (OMPI) dedicou a
dentro das nossas circunstâncias e escalá- última edição para discutir a inovação na
los globalmente. O que nos leva para o agricultura e nos sistemas alimentares, e uma
segundo ponto, é preciso ter o talento das conclusões aponta que a produção de
aplicado no ambiente certo. inovações agrícolas inteligentes e digitais e
uma maior adoção de inovações nos países
Países emergentes possuem um ambiente em desenvolvimento podem ajudar a superar
ainda mais propício para inovação por sérios desafios alimentares
apresentarem realidade distinta das
nações mais desenvolvidas e dessa forma Um bom exemplo disso tem sido os avanços
criam oportunidades para as empresas em agricultura tropical e adaptações
desenvolverem novos modelos de negócio genéticas, de solo, e de manejo que
baseados em tecnologias inovadoras. permitiram estados como o do Mato Grosso
Existem dois principais motivos para isso. a se tornar o produtor de 10% da soja no
O primeiro é porque, muitas vezes, não mundo. Há 20 anos, as condições do estado
dispõem dos recursos (financeiros ou eram consideradas inapropriadas para cultivo
técnicos) das economias desenvolvidas. da soja e esses desafios locais levaram a
O segundo é porque encaram condições inovações significativas no setor e no estado.
adversas já superadas por essas mesmas
sociedades. Por essa razão, estão abertos à Descobertas desse tipo se tornam possíveis
criação de soluções nunca antes pensadas graças à formação de um ecossistema de
ou implantadas. Outra questão de extrema inovação que permite parcerias firmadas com
relevância é a atuação da pesquisa vista organizações que investem nessas iniciativas,
como agente de transformação social. Por terceiro ponto fundamental para inovação
focar em problemas de grande importância, sustentável. A Embrapa é um dos melhores
uma descoberta para solucionar desafios exemplos que temos, sendo um centro de
impacta diretamente uma sociedade, com pesquisa de categoria internacional muito
suas deficiências e com os problemas de bem coordenada com o setor privado, sendo
desenvolvimento sustentável e de inclusão a principal responsável por transformar a
financeira, educacional e de saúde que agricultura brasileira.
ela tem de enfrentar, e pode mudar-lhe
profundamente a realidade socioeconômica. No estado de São Paulo, o ecossistema
de inovação é mais robusto e agências
No Brasil, por exemplo, enfrentamos uma de fomento, como a Fapesp, que
redução de demanda de commodities, ou seja, possui recursos aplicados em pesquisa
temos uma oportunidade única de criar novas que somam R$ 1,1 bilhão anual,
soluções nas áreas de recursos naturais e viabilizam parcerias entre empresas e

IBGC Análises & Tendências - 3ª edição - Março de 2018


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universidades, o que é fundamental para que servimos e exportamos. Isso nos daria
a cadeia de inovação, que começa desde uma vantagem competitiva ainda maior em
pesquisa básica até a transferência de agronegócio. Dados os nossos desafios em
tecnologia para o mercado, e nós temos comunicação e infraestrutura, tecnologias e
responsabilidade de criar tecnologias que sistemas desenvolvidos aqui seria muito mais
trarão retorno para a sociedade. apropriado para países emergentes.

Segundo o relatório da CNI, cerca de 57% Há pelo menos 20 anos, atuo com pesquisa
das empresas declaram usar informações em países emergentes com uma rede
provenientes da universidade para definir de cientistas — são 3 mil pesquisadores
seus novos projetos. em seis continentes — que trocam
conhecimento e aprendizado, buscando
Tudo isso traz diversidade de pensamento em soluções para problemas locais que são
um mundo globalizado que possui problemas também aplicáveis ao redor do mundo. A
bem distintos. Um exemplo básico para inovação tem que ser pensada além de
ilustrar esse cenário é pensar nos desafios uma criação de oportunidades de negócio,
que os Estados Unidos enfrentam e fazer quando a companhia pensa em inovação
um paralelo com os desafios que o Quênia sustentável passa a atuar como agente
enfrenta. Não podemos restringir inovação transformador socioeconômico de um
com implementação de tecnologia de ponta. país. O resultado disso? Impacto direto na
Para o Quênia, por exemplo, solucionar um realidade desses locais e, a maior razão desse
problema de água potável tem que ser algo sucesso é a sincronização dos objetivos
de baixo custo, pois implementar tecnologia com as preocupações da população local
de ponta desenvolvida nos EUA seria e a contribuição para o desenvolvimento
economicamente inviável para o país. econômico e social, ou seja, inserindo-a
Quando pensamos em um mundo em uma cadeia de inovação local, mas
globalizado, precisamos tirar o centro das com colaboração global, recuperando assim
grandes potências e começar a pensar que nossa produtividade e avançando nossa
localmente podemos desenvolver algo agenda de competividade.
que terá apelo global.

Um exemplo seria desenvolver técnicas de


rastreamento utilizando computação no edge
em IOT (internet of things: internet das coisas) Ulisses Mello
Diretor do Laboratório de Pesquisa
em conjunto com blockchain que permitiriam da IBM Brasil
criar um sistema para monitorarmos a comida

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