Você está na página 1de 64

REALIZAÇÃO:

PATROCÍNIO:

FEVEREIRO 2020
REALIZAÇÃO:

PATROCÍNIO:

APOIO:

2
ÍNDICE
Editorial …………………………………………………….………………………….. 04
A Liga Ventures ………………………………..….………………………….... 05
Metodologia …………………………………………….……………….……….... 07
Entrevistados ………………………………………….….............................. 08
Espaço Inovativa Brasil …………….…………………………….……..... 11
Entrevista - Bruno Jorge [ABDI] …………….…………....….…. 12
Introdução - Indústria 4.0 ……………...……..………………..……... 13
A preparação para uma indústria digitalizada e
os primeiros passos rumo à conectividade …..……… 17
Entrevista - Rosely Chaolen [BAT] ……………………..….…... 23
As aplicações do IoT industrial e oportunidades
de mercado ………………………………………………………..………..…….. 24
Entrevista - Ricardo Gonçalves [Pollux] ………………….. 29
O futuro do IIoT ……………………………………………………………...…... 30
Entrevista - Marcos Bicudo [Vedacit] ………………………. 37
Um primeiro olhar para o futuro da
indústria 4.0 no Brasil …………………………………………………..….. 38
Entrevista - Klaus Gutierrez [Vedacit-Baumgart] …. 42
Um terreno de desafios e oportunidades:
IA e a construção de um novo modelo industrial.... 43
Um amanhã customizado: da manufatura
aditiva à "plataformização" da indústria ………………….. 47
Entrevista - Antonio Carlos Cesco [BRF] …………………. 53
Ajustando o foco da inovação:
realidade aumentada e virtual na indústria ………….. 54
Entrevista - Luciano Cunha [Ministério da Economia] ... 59
Referências …………………………………………………………………………… 62

3
EDITORIAL
A transição para 4.0 da
indústria não é só uma questão
de processos

Powered by:

A indústria 4.0 é um tópico que tem


sido discutido nas frentes de inovação e na
mídia, seja por meio de estudos especializados
ou em planos estratégicos das empresas e do
governo, se tornando um dos termos mais
correntes do ambiente de negócios brasileiro e
global. Mas, pensando na realidade do nosso
país, qual o nível de maturidade deste
conceito? Temos, de fato, caminhos e
realizações das tendências industriais 4.0 no
Brasil?

Levando em conta nosso contato


próximo com startups e grandes organizações Raphael Augusto, Head do Liga Insights
que atuam em diversas áreas deste
ecossistema, geralmente por meio da
aproximação de tais elos do mercado para a geração de novos negócios e oportunidades, resolvemos
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
tratar o tema nesta edição, a partir de entrevistas com players do segmento industrial brasileiro e do
aaaaaaaaaaaaaaaaa
estudo de fontes relevantes, analisar o que de concreto vem sendo realizado no Brasil, em termos da
aplicação de novas tecnologias para a indústria nacional.

De início, foi possível perceber, por exemplo, que por mais que o setor industrial seja um dos
principais pilares da economia brasileira, ele ainda se mantém fundamentado a processos tradicionais,
os quais, por sua vez, podem significar uma variável importante na competitividade da indústria
brasileira em comparação com outras grandes nações. Dentro deste contexto, uma transformação
cultural das lideranças deste mercado é o primeiro passo para que o conceito de indústria 4.0 ganhe,
de fato, corpo e realidade no país, ao longo dos próximos anos.

Por outro lado, o barateamento no custo de sensores e de soluções de IoT, além do próprio
aumento dos investimentos em startups do segmento industrial, representam uma verdadeira
oportunidade dentro do processo de integração de soluções, geração de dados e abertura de espaço
para que outras novas tecnologias se difundam no ambiente de negócios da indústria brasileira.

O copo ‘meio-cheio’ é uma boa notícia (e perspectiva), visto que já existem iniciativas
interessantes de startups ao redor do país que tem buscado transformar a indústria nacional.
Seguindo tendências que vão da modularização a inteligência artificial, passando por realidade
aumentada, visão computacional e impressão 3D; novas empresas têm surgido com uma mentalidade
mais ágil e potencial de disrupção.

No entanto, para que as tendências que movem a indústria 4.0 ao redor do mundo se tornem,
realmente, a constante do ambiente industrial brasileiro, e não um conjunto de iniciativas isoladas, é
fundamental que todo o ecossistema se una (de pesquisadores a aceleradoras, de startups a grandes
empresas e poderes públicos) em prol da construção de aplicações capazes de melhorar o
posicionamento do país nos rankings de inovação neste setor.

4
A LIGA
VENTURES
A Aceleradora
e o Liga Insights
Por meio de programas de aceleração em
diferentes verticais de mercado, eventos e inteligência
setorial, a Liga Ventures é a primeira aceleradora do
Brasil totalmente focada em conectar startups e
grandes corporações, gerando inovação e
oportunidades de negócios para ambos os lados.

Mais de 30 grandes corporações já estão com


a Liga Ventures, fazendo da inovação aberta uma
realidade, entre elas, a Unilever, Porto Seguro
(Oxigênio Aceleradora), BNDES, Colgate-Palmolive,
AES Tietê, EMBRAER, Bauducco, TIVIT, Mercedes-Benz,
Continental, Grupo Comporte, Leroy Merlin, Brink’s,
GPA, Edenred, Unimed, entre outras.

Por que conectar empresas com startups?

EMPRESAS STARTUPS
Inovar mais rápido e barato Oportunidades de negócios
Testar novos mercados Canais de distribuição
Novos modelos de negócio Networking
Atrair talentos Marca e Credibilidade
Cultura intraempreendedora Crescimento sustentável

Já são mais de 150 startups aceleradas e mais


de 300 projetos gerados entre elas e as corporações
parceiras, reforçando as possibilidades de inovações
conjuntas, codesenvolvimentos, cocriações, parcerias e
investimentos. Assim, as startups conseguem maior
alcance no mercado, mais recursos e aumentam sua
rede de contatos. Do outro lado, as corporações
inovam mais rápido, acessam novas tecnologias e
se aproximam da cultura empreendedora das
startups.

Quer conhecer mais sobre como se conectar com


startups em seu mercado?
contato@liga.ventures

5
PROGRAMAS:

NOSSOS EVENTOS:

6
Metodologia
O estudo tem como objetivo compreender o panorama atual
e futuro da indústria 4.0 no Brasil e de que forma as startups que
apresentam soluções para esse mercado estão sendo desenvolvidas
e aplicadas no país. Após entendimento do mercado e dos temas
que envolvem a área, foi iniciada uma pesquisa para determinar
quais são as inovações tecnológicas disponíveis atualmente e de que
forma elas podem impactar os processos e o atual cenário do
segmento. Aqui foram considerados relatórios, estudos e
informações de fontes como, CB Insights, PwC, Venture Scanner, IDC,
EXAME, Ernst & Young, Forbes, Deloitte, Harvard Business Review,
Portal da Indústria, Convergência Digital, GQ, A Voz da Indústria,
Industry Week, Valor Econômico, McKinsey, PR Newswire,
TechCrunch, Capgemini, Market & Markets, Revista TI Insights,
CanalTech, ABDI e outros.

Para entendermos melhor o cenário e importância das


inovações do segmento de indústria 4.0, tanto no mercado brasileiro
quanto internacionalmente, entrevistamos mais de 30
empreendedores, profissionais e pesquisadores da área, em
empresas como BRF, Schneider Electric, Raízen, ArcelorMittal,
Vedacit, SENAI, 3M, Suvinil, ABB e ABIMAQ. Entre outras questões,
buscamos entender como eles interpretam as startups que
apresentam soluções e produtos para o setor, as oportunidades
geradas, de que forma estão afetando a área e os principais desafios
para o futuro.

Para complementar o conteúdo deste e de outros estudos,


recomendamos aos leitores a conhecerem as demais publicações do
Liga Insights, sendo elas pesquisas, estudos e mapeamentos de
startups brasileiras. Estes mapeamentos foram realizados a partir de
diversas fontes, como inscrições para os programas de aceleração e
eventos da Liga Ventures, a plataforma DisruptBox, recomendações,
notícias em portais de negócios, bases abertas e busca ativa de
startups. Por se tratar de um mercado com mudanças constantes,
estes estudos são dinâmicos e terão atualizações periódicas para
contemplar esses movimentos e expor novas startups que não
apareceram nesta versão.

CADASTRE SUA STARTUP

7
ENTREVISTADOS

Abraham Cazes Alexandre Winck Ramos Ana Paula Ciscato Camillo André Abrami
Diretor de P&D do Centro Diretor Executivo da Allexo Supervisora de Projetos de CEO e cofundador da
Global de Tecnologia Brasil Indústria 4.0 na Saint-Gobain Automni
da Colgate-Palmolive

Anne Priscila Trein Litaiff Antonio Carlos Cesco Bruno Belanda Bruno Bichels
Coordenadora do MBI (Master in Business Diretor Global de Tecnologia Fundador da Intelup CEO - Lógica E
Innovation) em indústria avançada e da Informação da BRF
especialista em inovação da FIESC

Bruno Gellert Bruno Jorge Carlos Paiola Carlos Santos


Fundador/CEO da Peerdustry Coordenador de Indústria Sócio Diretor Comercial na External Communication
e Coordenador do Grupo de 4.0 e Inovação na ABDI Aquarius Software e Professor Lead na ABB
do Curso de Indústria 4.0 -
Trabalho em Manufatura
Conceito, Método e Aplicação
Avançada da ABIMAQ Prática na Fundação Vanzolini

Cassio Souza Edlen Silva Ribeiro Fernando Velloso Guilherme Dal Lago
Head of Operational Desenvolvedor de Inovação & Diretor Comercial da MVISIA Head de Open Innovation
Excellence da Schneider Planejamento Estratégico e da Raízen e gestor do
Electric South America fundador da Solid Strategy Co Pulse

João Renato Martins Julio Targueta Klaus Gutierrez De Carli


Supervisor Sênior de Fábrica: Gerente de Produção na 3M Head de Operações
Produção e Manutenção na Industriais na
SFA (South America Filters) Vedacit-Baumgart

8
ENTREVISTADOS

Lucas Penna Luciano Cunha


Marcio Mariano Marcos Bicudo
CTO da ArcelorMittal Coordenador-geral de Tecnologias
Engagement Director da CEO da Vedacit
Brasil Inovadoras e Propriedade
Forsee
Intelectual do Ministério da
Economia

Pablo Valle Renato Pacheco Ricardo Gazmenga


Mauricio Finotti Diretor de Operações na
CEO e fundador da MOB Professor e Coordenador da CEO da Aimirim
Suvinil-BASF
Pós-Graduação em Engenharia
Industrial 4.0 na Universidade
Federal do Paraná

Rodrigo Krug Rosely Chaolen


Ricardo Gonçalves Rodrigo Baronio
Fundador e CEO da Cliever Head of Information and
Diretor de Marketing e Diretor da Upgrade
Digital Technology – Brazil na
Vendas da Pollux BAT (British American
Tobacco)

Sergio Soares Silvia Takey Vitor Tosseto Wellington Moscon


Diretor do Instituto SENAI de Diretora Executiva da Dev CEO da Pix Force Cofundador e CEO da GoEPIK
Inovação para Tecnologias da
Informação e Comunicação

9
Quer
falar de
inovação
na sua
empresa
?

EVENTOS, TENDÊNCIAS, CASES E INSIGHTS.

Entre aqui em contato!


https://insights.liga.ventures/contato/

10
INDÚSTRIA 4.0 ESTIMULA O DESENVOLVIMENTO DO
EMPREENDEDORISMO

Powered by:

Com o surgimento de novas tecnologias, o mundo está mudando e iniciando a Quarta


Revolução Industrial. Batizada de Indústria 4.0, essa nova era está intimamente ligada com a
automação dos processos industriais com a utilização da Internet das Coisas (Internet of Things – IoT),
Big Data Analytics, Inteligência Artificial e Computação em Nuvem.

Com a transformação, o mercado tem se tornado mais exigente. Com espaço para
profissionais que atuam com essas tecnologias e são capazes de se adaptar às novas demandas, a
Indústria 4.0 chegou para ajudar os empreendedores. Sabendo disso, aceleradoras de startups foram
criadas para atender ao mercado e ajudar empreendedores que querem adentrar neste universo.

A Spin, por exemplo, parceira do InovAtiva Brasil, é a primeira e a maior rede de Aceleradoras
Startup+Indústria do Brasil (hardware e software), a maior Aceleradora de Santa Catarina
(Distrito/KPMG) e uma das dez melhores aceleradoras do país (Startup Awards 2018 e 2019). Com
unidades estabelecidas nas cidades de São Paulo, Curitiba, Joinville, Blumenau e Jaraguá do Sul, a Spin
é parceira oficial do Stanford Research Institute para todo o território nacional e tem como objetivo
colocar frente a frente startups inovadoras, indústrias em transformação e investidores interessados
em criar negócios exponenciais.

Com o auxílio de programas de aceleração, como da Spin e do InovAtiva Brasil, startups têm se
desenvolvido e contribuído para o cenário industrial. Esse é o caso da Polen, empresa especializada na
valoração de resíduos sólidos que atua conectando instituições que querem vender com aquelas que
precisam comprar esses resíduos para utilizarem como matéria-prima.

Uma grande dificuldade que as indústrias sofriam, era encontrar um meio de descartar ou
comprar esses materiais, pois era preciso reunir e cotar diferentes empresas e seus serviços
separadamente. Pensando nisso, a Polen reuniu em sua plataforma todos os serviços que uma
indústria precisa para colocar esse processo em prática, como gerenciamento, assessoria ambiental,
logística dos resíduos, entre outras facilidades que esse tipo de tecnologia pode oferecer.

Outra startup que contou com o InovAtiva Brasil para se aprimorar e oferecer serviços de
Indústria 4.0 é a Prodfy, uma solução focada nos segmentos florestais, biofábricas e siderúrgicas.
Trata-se de um sistema online para monitoramento ativo da produção que permite que as máquinas
se conversem, gerando dados sobre todo o funcionamento do processo produtivo. Com ele é possível
rastrear o andamento da produção, visualizando quais etapas e quais lotes estão prontos,
possibilitando a coleta de dados com apenas um aplicativo móvel.

Assim, podemos dizer que este cenário é positivo para a abertura de novos negócios, seja na
indústria alimentícia, de bens de consumo, construção civil, de equipamentos, têxtil ou qualquer outra.
Para tanto, a tendência é que os processos se tornem mais ágeis e efetivos, melhorando o controle e
gerenciamento da produção.

11
ENTRE_
VISTA
Como a ABDI tem fomentado o conceito de
Indústria 4.0 no Brasil?
A ABDI tem um conjunto de programas que
buscam estruturar ações dentro das empresas,
possibilitando a transformação das indústrias. Não
se trata apenas de uma questão de adoção
tecnológica, mas de uma transformação ampla da
empresa suportada por tecnologias digitais. Temos Bruno Jorge, Coordenador de Indústria 4.0 e
uma agenda para a Indústria 4.0 e, dentro desta Inovação na ABDI
estratégia, lançamos uma plataforma. Na Qual a sua percepção sobre as tecnologias de
ferramenta, a empresa realiza uma autoavaliação de realidade aumentada e suas aplicações na I4.0?
maturidade, recebe um diagnóstico e um roadmap O melhor caso de uso para a RA é na manutenção
tecnológico para estabelecer novos padrões industrial. Com ela, é possível levantar todas as
produtivos e de negócio. A partir desse informações necessárias a respeito de uma
posicionamento, será possível desenvolver um máquina sem a necessidade de consultar manuais
plano de investimentos e realizar testes de em papel, por exemplo. Outra aplicação é nas
aderência das soluções por meio de simulações ou atividades de treinamento de pessoal. A realidade
de pilotos no chão de fábrica. aumentada pode produzir um envolvimento maior
das pessoas e difundir rotinas que serão mais
Quais as principais tendências tecnológicas que facilmente implementadas nas empresas.
podem se fortalecer na indústria brasileira?
Para o momento atual das empresas industriais Quais os principais desafios para uma empresa
brasileiras, acredito que o uso de IoT, captura e que deseja se adequar a indústria 4.0?
análise de dados em grande volume (big data, Em junho deste ano, a ABDI concluiu uma
analytics e inteligência artificial) para suporte ao pesquisa a respeito da maturidade das indústrias
planejamento, tomada de decisão e o uso de brasileiras em relação ao paradigma industrial 4.0.
ferramentas digitais de gerenciamento são as De um modo geral, há um longo caminho para a
principais tendências que podem se fortalecer no maioria das empresas brasileiras atingirem a
nosso ambiente produtivo. maturidade necessária para implantação deste
paradigma. A organização de processos e pessoas
Como avaliam o mercado de startups atuantes na deve ser requisito para as empresas brasileiras se
indústria brasileira? aventurarem a implantar os princípios e
Os investimentos em startups crescem no Brasil, tecnologias da Indústria 4.0. Ainda há a questão
mesmo com o baixo crescimento econômico. Esse relativa à capacitação. A formação de recursos
novo jeito de trabalhar com mais agilidade e de humanos e a geração de conhecimento são
forma colaborativa contribui exponencialmente condições necessárias para capacitar a empresa
para a difusão tecnológica e impulsiona o brasileira a inovar. O Brasil já conta com arcabouço
desenvolvimento do setor produtivo. Outro aspecto institucional e com os principais instrumentos para
muito relevante do mercado de startups é a promover a inovação. No entanto, é preciso que a
oportunidade de inserir o Brasil em cadeias globais indústria utilize melhor estes mecanismos de
de valor. fomento.

12
Indústria 4.0
A importância da sensorização e IoT no
segmento industrial

Em um cenário em que a digitalização é cada vez mais


presente em diferentes mercados, torna-se difícil imaginar a
indústria descolada dessa realidade. De maneira geral, tecnologias
relacionadas a dados, analytics e inteligência artificial já se
apresentam bastante relevantes em setores como o Varejo, Saúde,
Imobiliário, Logístico, entre outros; contudo, sua adoção ainda é
incipiente no segmento industrial. E, apesar de tal mercado ainda
estar em um processo de iniciação, movimentações interessantes já
começam a ocorrer, em uma área de vastas oportunidades.

As oportunidades são enormes justamente por ser um


segmento ainda pouco digital, cujos processos se mantêm
tradicionais e manuais. De acordo com informações da CNI
Apenas 1,6%
(Confederação Nacional da Indústria) publicadas no portal EXAME,
apenas 1,6% das companhias do setor têm seus processos das companhias do setor
produtivos digitalizados; a estimativa é que esse número chegue a industrial têm seus
21,8% nos próximos dez anos. processos produtivos
digitalizados, ou seja a
Além disso, apenas 22,2% das indústrias atribuem
maioria de seus processos
automatização à sua produção; na próxima década, a expectativa é
de que esse número mais que dobre, um cenário em que 55% delas se mantém tradicionais e
devem ter suas áreas de produção automatizadas. Ainda de acordo manuais
com a publicação, para as empresas que estão se iniciando na
transformação digital industrial, recomenda-se a utilização de
sensorização, big data e cloud computing como um primeiro passo,
com o objetivo de entregar um panorama do que acontece no chão
de fábrica.

Dentro desse contexto, ganha importância, além da


tecnologia de sensores, o IoT industrial (IIoT). Como uma
subcategoria de Internet of Things, o IIoT se trata da conexão de
máquinas e equipamentos físicos à Internet, de maneira que se
capture dados de diferentes tipos relacionados à linha de produção
fabril. Tais dados, mediante análise realizada por plataformas de Apenas 22,2% das
analytics e inteligência artificial, podem basear tomadas de decisão, indústrias atribuem
que passam a ser mais objetivas e assertivas, conferindo mais automatização à sua
produtividade e eficiência ao processo. produção. Mas a projeção é
que esse número seja
Além dos benefícios conhecidos e esperados por meio da
utilização de sensorização combinada a IoT, outro motivo que pode 2x maior, chegando à
contribuir para o aumento de aplicação de sensores conectados na 55%, na próxima década
indústria é a acessibilidade de preços, que, ano a ano, têm
registrado queda. Conforme um estudo realizado pela Microsoft,
quinze anos atrás, em 2004, um sensor IoT custava, em média,
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

13
US$1.30; em 2018, tal valor já havia chegado a US$0.44 e, para 2020, espera-se que chegue a
US$0.38, preço aproximadamente 200% mais barato em comparação àquele registrado no início do
milênio.

De acordo com Sérgio Soares, Diretor do Instituto SENAI de Inovação para TICs (Tecnologias
da Informação e Comunicação), aliar a tecnologia propiciada por sensores ao conceito de Internet
das Coisas é o pontapé de entrada para o mundo 4.0, representando, também, um modelo
acessível, que visa a transformação.

“Para empresas que ainda não estão preparadas ou precisam salvar o negócio, sensores IoT
são o primeiro passo. São fundamentais como soluções de baixo custo e escaláveis. Em um nível
básico da discussão, são tecnologias democráticas, que variam entre um estágio inicial, como a
contagem de produtos, até algo mais sofisticado, como a comunicação entre máquinas,
reconfiguração em tempo real de uma planta”, afirma Soares.

Para 2019, as estimativas são de que os gastos em âmbito global com Internet das Coisas
alcance US$745 bilhões, valor 15,4% superior ao registrado em 2018 (US$646 bilhões), segundo
dados da IDC (International Data Corporation). Ainda, a previsão é de que o aumento de gastos se
mantenha na casa dos dois dígitos anualmente até 2022, quando pode ultrapassar US$1 trilhão.
Dentro da indústria, os segmentos que mais devem investir em IoT são a da manufatura discreta
(US$119 bilhões), manufatura de processos (US$78 bilhões), transportes (US$71 bilhões) e serviços
(US$ 61 bilhões). Conforme análise da IDC, os gastos na indústria de manufatura serão bastante
focados em soluções que suportem operações e gerenciamento de ativos de produção.

As estimativas são de que Os segmentos que mais


1 tri os gastos em âmbito global devem investir em IoT
745 bi com Internet das Coisas são a da manufatura
646 bi discreta (US$119
tenham alcançado US$745
bilhões, em 2019 (15,4% a bilhões), manufatura de
mais que em 2018). processos (US$78
A previsão é que esse bilhões), transportes
número ultrapasse 1 (US$71 bilhões) e
2018 2019 2022
trilhão em 2022 serviços (US$ 61
*valores em dólares bilhões)
O mercado de startups com soluções de IoT também tem registrado crescimento em anos
recentes. De acordo com uma publicação da Forbes, mais de 26 mil startups estão adotando
Internet das Coisas como sua principal tecnologia para alavancar novos produtos e serviços e
também para suportar modelos de negócio baseados em plataforma – as informações são do
Crunchbase.

Além disso, investimentos em startups do segmento atingiram US$16.7 bi no quarto


trimestre de 2018, tornando o valor total de aportes (aproximadamente US$ 26 bi) 94% maior em
relação a 2017 (aproximadamente US$13.5 bi), segundo informações da Venture Scanner. Em 2019,
até o fim do terceiro trimestre, o valor de investimentos registrado foi de US$15 bi. É difícil mensurar
precisamente, no entanto, o montante investido especificamente em startups com foco em IoT
industrial.

No Brasil, de acordo com um estudo realizado em 2017 pelo Liga Insights sobre Tecnologias
Emergentes, existiam, naquele ano, 48 startups do segmento de IoT, que representavam 25% do
total (193 startups de categorias consideradas tecnologias emergentes) mapeado. Uma das
empresas mapeadas nesse levantamento foi a Dev, cujo modelo de negócio e soluções podem ser
um indício de um interesse crescente do mercado tanto em Internet das Coisas de maneira geral,
quanto especificamente em IIoT.

14
Atualmente, a Dev oferece duas principais categorias de serviço para o mercado. Uma
delas, por meio da Dev Tecnologia, uma Design House focada em IoT, que atende empresas
interessadas em desenvolver plataformas de Internet das Coisas para o próprio portfólio. Nessa
modalidade, a startup oferece ao cliente um time de Pesquisa & Desenvolvimento especializado
para o desenvolvimento do produto. Dentro dessa categoria, já realizou mais de 100 projetos e
atendeu clientes da área de eletrônica, como Intelbras e Samsung.

De acordo com Silvia Takey, Diretora Executiva da startup, a Dev também conta com a
unidade DEVTec.io, que se posiciona para fornecer soluções de IoT, principalmente de localização e
sensoriamento remoto, já prontas para o mercado. “Atualmente, nós oferecemos uma tag
bluetooth que, conectada a uma máquina, realiza monitoramento de produção e temperatura. A
informação captada é encaminhada para um leitor e posteriormente é enviada para uma
plataforma, que conta tanto com uma visualização direta de uma aplicação, como também pode
ser conectada a outro software que a empresa utilize”, conta Takey.

As soluções oferecidas pela Dev – apesar de contemplarem tanto hardware quanto


software – são apenas algumas das possíveis aplicações decorrentes da utilização de sensorização e
Internet das Coisas industrial.

De acordo com a Hewlett Packard Enterprise (braço de soluções de software e produtos


para empresas da HP), existem três principais exemplos de aplicação decorrentes de IIoT: produção
(utilização do conceito para monitoramento e predição automática de possíveis problemas, o que
resulta em maior produtividade, maior eficiência e menos paralisações no processo); cadeia de
suprimentos (a partir de um inventário sensorizado, o IIoT pode automatizar encomendas de
suprimentos antes mesmo que os estoques esvaziem, resultando em menos desperdícios e
possibilitando que os funcionários realizem outras atividades e tarefas mais importantes);
gerenciamento de instalações (a utilização do IoT industrial, nesse caso, pode conferir mais
simplicidade e segurança, a partir do monitoramento de clima via sensores, por exemplo, e pela
resposta rápida a potenciais ameaças, aumentando a segurança das instalações). Outras aplicações
como monitoramento de gasto de energia também são importantes, em busca de um sistema
produtivo mais sustentável.

De forma que tais exemplos virem realidade amplamente no Brasil, iniciativas por parte do
governo já têm sido criadas, com o objetivo de alavancar a Indústria 4.0 e tecnologias relacionadas
no País. Em novembro de 2017, por exemplo, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), divulgou o “Relatório do plano de ação – Iniciativas e Projetos
Mobilizadores”, um dos produtos integrantes de um estudo maior, entitulado "Internet das Coisas:
um plano de ação para o Brasil".

O principal objetivo do estudo foi propor um plano de ações estratégico para o Brasil sobre
o conceito de IoT, e foi dividido em quatro etapas: diagnóstico, seleção de verticais e horizontais,
aprofundamento e elaboração de um plano de ação (para o período entre 2018 e 2022) e suporte à
implementação do planejamento. No documento, discorre-se sobre oportunidades no ambiente
brasileiro, tal como as definições que guiariam as iniciativas relativas ao plano.

Uma das possíveis aplicações do IIoT é na


cadeia de suprimentos (a partir de um
inventário sensorizado, o IIoT pode
automatizar encomendas de suprimentos
antes mesmo que os estoques esvaziem,
resultando em menos desperdícios e
possibilitando que os funcionários realizem
outras atividades e tarefas mais importantes)

15 15
Outra iniciativa criada foi a Agenda Brasileira para a Indústria 4.0, lançada pelo Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), tendo a Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI) como parceira. Conforme comunicado publicado no portal do MDIC, trata-se de
um “conjunto de medidas para auxiliar o setor produtivo, em especial as pequenas e médias
indústrias, em direção ao futuro da produção industrial.” De acordo com um depoimento do
presidente da ABDI presente no comunicado, “[...]o futuro da economia brasileira necessariamente
passa por essa nova Revolução Industrial. A sociedade e todas as esferas do poder público também
precisam estar preparadas para esse novo tempo. Precisamos de um esforço conjunto, que
posicione o Brasil estrategicamente nesse contexto global.”

Segundo Luciano Cunha, coordenador-Geral de Tecnologias Inovadoras e Propriedade


Intelectual do Ministério da Economia, o papel do órgão dentro do segmento industrial é trabalhar
com políticas de incentivo, regulamentação de iniciativas e atuar em projetos específicos. “Hoje nós
contamos com projetos de fomento à inovação, como o InovAtiva Brasil, um programa de
aceleração pública para startups, e o Brasil Mais Produtivo, para apoio e aumento de produtividade
de PMEs. No projeto específico de Indústria 4.0, nós convocamos atores governamentais, empresas
e associações para a discussão de possíveis ações e busca de sinergia, objetivando potencializar o
resultado”, declara ele.

Como será apresentado nesse estudo – e pôde ser observado minimamente a partir das
informações apresentadas até aqui –, a digitalização no segmento industrial brasileiro ainda é
inicial, dando seus primeiros passos em direção à transformação.

Para construir esse material, entrevistamos 20 profissionais de mercado, tanto executivos


de grandes empresas quanto empreendedores, representantes de órgãos governamentais e de
instituições de ensino. O objetivo principal se resumiu em entender a visão das empresas a respeito
da aplicação de sensores e IoT industrial no Brasil e também, claro, a importância de soluções
oferecidas por startups para alavancar a evolução de tecnologias.

Em um primeiro momento, analisamos a importância da sensorização e do IIoT como um


primeiro passo a ser dado pelas empresas, em um cenário ainda pouco evoluído e maduro para a
introdução da digitalização. Ainda, apresentamos informações acerca da necessidade de pequenas
e médias empresas também se prepararem para a disrupção e como as aplicações, apesar de
parecerem “assustadoras” em alguns aspectos, também pode ser realidade para o segmento em
que estão inseridas. Além disso, também nesse momento de preparação, buscamos compreender
e apresentar desafios inerentes à implementação dessa tecnologia e do conceito de Internet das
Coisas industrial, que esbarram em questões de mindset, infraestrutura e preparação das empresas
para essa transição do tradicional, físico e manual para o digital.

Posteriormente, no segundo capítulo do estudo, apresentamos algumas aplicações já


existentes no mercado, contando com cases de corporações mais maduras – inclusive, o de uma
pequena empresa de embalagens –, que já atribuem conectividade e inteligência a seus processos
de produção na fábrica; ademais, analisamos também as oportunidades que toda essa realidade de
conexão e digitalização podem representar às organizações que se movimentarem para adotá-las.

Por fim, entregamos um panorama do que o IoT industrial pode representar em um futuro
próximo, e como a integração de tecnologias pode alterar totalmente o jogo no segmento
industrial, não apenas no Brasil, mas em âmbito mundial, incorrendo também em novos desafios
relacionados a cibersegurança e competência dos profissionais, de forma que consigam lidar com
toda a transformação esperada.

16
Aprofundamento
A preparação para uma indústria
digitalizada e os primeiros passos
rumo à conectividade
A discussão sobre transformação digital nas empresas –
presente nos mais diferentes segmentos e setores da economia em
âmbito global – aos poucos deixa de ser uma novidade no mercado,
para se tornar, de fato, uma obrigação. É comum, portanto, imaginar
o setor industrial, com todos os seus processos produtivos, como
aquele que mais possui espaço para a introdução de inovações
tecnológicas.

Apesar de ser verdade (considerando que grande parte


desses processos ainda são feitos de forma manual), a utilização de
tecnologias de automação – pertencentes à era 3.0 –, por exemplo,
ainda é incipiente no Brasil, fato que dificulta uma inserção efetiva na
Indústria 4.0. Na era dos dados, são eles que ditam a mudança, se
Em 2017, somente 1,6%
das aproximadamente 750
tratados de forma conveniente e alinhada à estratégia de negócios
companhias brasileiras
das empresas. O caminho é longo, mas não percorrê-lo parece uma
respondentes de uma
saída pouco inteligente para as companhias.
pesquisa se encontravam,
na quarta geração de
Utilizar-se de IoT (Internet of Things, ou, traduzindo, Internet digitalização (G4), o
das Coisas) pode ser considerado como um pontapé inicial para a estágio mais avançado,
digitalização dentro da indústria. A captura de dados provenientes de com sistemas integrados,
processos de produção torna possível a evolução de tarefas em fábricas conectadas e
direção à automação, além de possibilitar também um mapeamento inteligentes
de produtividade, eficiência e de riscos envolvidos na produção. E,
claro, basear e tornar mais efetiva a tomada de decisão por parte dos
gestores.

No entanto, como em qualquer processo de transformação, é


necessário que o mercado se adeque àquilo que está por vir,
entendendo as oportunidades, mas principalmente os desafios
inerentes às novidades e inovações que se apresentam, de forma que
faça sentido para o momento atual do negócio e para a estratégia em
curso.

Em um segmento ainda pouco tecnológico e digitalizado, o


conceito de indústria 4.0 ainda parece um pouco distante no Brasil,
apesar de, aos poucos, começar a ser temas de discussão
internamente nas empresas e publicamente pelo mercado como um 75%
todo. Os desafios, no entanto, inegavelmente existem e demandam dessas empresas declararam
dos atores certa adaptação, de forma que incorra em uma real estar em níveis básicos, nas
transformação digital. primeira (G1) e segunda (G2)
gerações de digitalização.
O Indústria 2027 é uma iniciativa da CNI (Confederação Apesar disso,
Nacional da Indústria) em parceria com a IEL (Instituto Euvaldo Lodi) 60%
e em conjunto com pesquisadores da UFRJ e UNICAMP, que nasceu espera alcançar, até 2027, o
G3 ou G4.

17
com o objetivo de avaliar como oito grupos de tecnologia vão impactar dez setores produtivos da
economia brasileira nos próximos cinco e dez anos.

O projeto foi dividido em três etapas, nas quais foram realizadas, em um primeiro momento
“análises das tendências e potenciais impactos das tecnologias sobre sistemas produtivos”,
seguidas de uma “avaliação dos efeitos das tecnologias nos sistemas produtivos, nos focos setoriais
e na competitividade empresarial”, e, por fim, realizou-se uma “reflexão sobre estratégias públicas e
privadas”.

De acordo com os resultados de um dos estudos feitos, somente 1,6% das


aproximadamente 750 companhias respondentes se encontravam, em 2017, na quarta geração de
digitalização (G4), o estágio mais avançado, com sistemas integrados, fábricas conectadas e
inteligentes. A grande maioria delas (75%) declararam estar em níveis básicos, nas primeira (G1) e
segunda (G2) gerações de digitalização. Apesar disso, 60% espera alcançar, até 2027, o G3 ou G4.

Iniciativas governamentais para alavancar a indústria 4.0 têm surgido em períodos


recentes. Criada em 2019, a Câmara Brasileira da Indústria 4.0, que é comandada pelo ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Economia (ME), desenvolveu um
planejamento colocado em vigor até 2022, que conta com a parceria de mais de 30 instituições
governamentais, iniciativa privada e academia.

Segundo publicação no portal gov, o plano busca “alavancar o uso de conceitos e práticas
relacionados à indústria 4.0 no Brasil e, com isso, aumentar a competitividade e a produtividade
das empresas nacionais”. Além disso, também tem como objetivo “melhorar a inserção do país nas
cadeias globais de valor e introduzir o uso de tecnologias da manufatura avançada nas pequenas e
médias empresas.”

No Brasil, os pequenos negócios representam 98,5% das empresas no Brasil, totalizando


12,4 milhões de MEIs, micro e pequenas empresas; conforme dados do SEBRAE, até 2022 eles serão
cerca de 17,7 milhões, número 43% superior ao atual. Apesar de tamanha representatividade, ainda
é comum associar tal segmento à falta de tecnologia, o que não é, necessariamente, verdade. Pelo
contrário, algumas iniciativas têm facilitado o acesso do setor às inovações, apesar de os desafios
ainda existirem.

De acordo com Sérgio Soares, Diretor do Instituto SENAI de Inovação para TICs (Tecnologias
da Informação e Comunicação), a instituição tem desenvolvido projetos de IoT para pequenas
empresas, que podem usufruir e colher os benefícios consequentes, mas ainda veem a inovação
tecnológica como algo distante.

“No Instituto SENAI, nós desenvolvemos um produto internamente, uma plataforma para
monitoramento de linha de produção, uma solução básica de IoT. É um produto de entrada para as
pequenas indústrias, que têm menos recursos e condições técnicas para implementar alguma
tecnologia do tipo. Quando se fala sobre indústria 4.0 para esse segmento, as empresas menores se
assustam e, por conta disso, a gente acompanha a implementação com consultorias”, conta Soares.

Ainda de acordo com ele, intervenções simples podem representar um ganho interessante
de produtividade, e os resultados são claros para as companhias de menor porte. Tais ganhos, no
entanto, ainda são um primeiro passo em direção a um próximo nível e não representam, de fato, o
desejado estágio 4.0.

“Entendemos isso que estamos fazendo como o primeiro passo para habilitação e
preparação para as evoluções que estão chegando. A discussão ainda é sobre conectividade. A
oportunidade está em soluções simples, de baixo custo, que trazem resultados, informações
relevantes. Nesse momento, as empresas precisam de pouquíssima coisa, qualquer ganho é
relevante. Tecnologias simples, habilitadas por IoT são necessárias e suficientes”, completa.

18
Desafios para a implementação

Ao mesmo tempo, desafios de infraestrutura, mindset e cultura existem de forma geral no


setor industrial, e não apenas no segmento de PMEs. E, apesar de o conceito de IoT industrial
(também conhecido como IIoT) parecer óbvio – basicamente, sendo a digitalização do ambiente e
coisas físicas dentro de processos da indústria –, os desafios que carrega consigo são complexos.

De acordo com João Emílio Gonçalves, gerente-executivo de Política Industrial da CNI, em


entrevista à PEGN, os principais desafios para o avanço em direção à indústria 4.0 estão
relacionados à adaptação das empresas para isso: modernização produtiva, adoção de novas
tecnologias, qualificação de recursos humanos e infraestrutura de telecomunicações.

Ou seja, não se pode tratar tal conceito e tecnologias relacionadas simplesmente como
algo plug-and-play. Não se trata da simples instalação de sensores que captem informações e
joguem isso para uma central de forma desordenada, sem que esses dados venham a ter um
tratamento conveniente posteriormente. Tudo isso demanda uma preparação, um alinhamento de
expectativas e, como dito anteriormente, uma conciliação com a estratégia de negócios da
companhia.

Apesar dos já conhecidos benefícios consequentes do IIoT e do senso de urgência existente


para que as empresas inovem o quanto antes, realizar essa adoção de forma desordenada pode
trazer resultados indesejados. Conforme resultados de uma pesquisa realizada pela Cisco, em 2017,
apenas 26% das empresas entrevistadas obtiveram sucesso em suas iniciativas com Internet das
Coisas. Tais empresas elencaram três práticas-chave para um resultado positivo: colaboração entre
as áreas de TI e Negócios, expertise e know-how na prática (parcerias internas e externas) e uma
cultura organizacional focada em tecnologia.

Em convergência a isso, segundo Anne Priscila Trein Litaiff, autora do índice de maturidade
em indústria 4.0 do SENAI, coordenadora do MBI (Master in Business Innovation) em indústria
avançada e especialista em inovação da FIESC, tecnologias relacionadas à Internet das Coisas
Industrial já existem e estão prontas para serem utilizadas, mas a adoção delas não é viável se a
empresa não estiver preparada para isso, com processos padronizados e otimizados.

“As tecnologias foram desenvolvidas, existem muitas empresas na área de sensores, por
exemplo. Em contrapartida, se as indústrias não souberem realmente focar seus esforços e se
estruturar, não vão conseguir aplicar tecnologia de modo inteligente. Primeiro, é preciso construir
uma base cultural, de conhecimento e de definição estratégica, um plano de fundo que possibilite
a transformação digital – além disso, muitas vezes os diferentes sistemas da empresa não se
conversam, o que gera outro desafio no processo de integração e criação de uma única fonte de
dados sobre o que ocorre nos processos da empresa”, afirma Litaiff.

prazo de execução expertise interna

custos excessivos
Os cinco principais
obstáculos que
retardam o progresso
do IoT: qualidade dos dados integração de sistemas

19
Ainda de acordo com a pesquisa da Cisco, existem cinco principais obstáculos que
retardam o progresso do IoT: prazo de execução, qualidade dos dados, expertise interna, integração
de sistemas e custos excessivos. Além disso, 60% dos respondentes acreditam que iniciativas
relacionadas à Internet das Coisas são diferentes na teoria e na prática, sendo, na realidade, muito
mais complexas do que parecem, e justamente por isso demandam a preparação em termos de
estratégia, infraestrutura e conhecimento sobre dados. Ao mesmo tempo, 64% concordam que o
aprendizado em relação a iniciativas malogradas ajudaram a acelerar os investimentos em IoT.

A Colgate-Palmolive, por exemplo, é uma empresa que ainda não adotou o conceito de
Internet das Coisas em seus processos industriais, mas se prepara para a implementação em um
futuro próximo. Segundo Abraham Cazes, Diretor de P&D do Centro Global de Tecnologia Brasil da
companhia, apesar de a organização enxergar benefícios nessa digitalização, existe um processo de
preparação para que a adoção seja feita de forma coerente e estratégica.

“Acho que existe uma parte do mercado que olha para IoT por simples modismo, outras por
curiosidade. Nós estamos aprendendo, observando, procurando exemplos do que tem sido feito
para entender como podemos aplicar. Há uma grande oportunidade de tornar as respostas e
decisões mais ágeis, e ter uma comunicação mais direta, em tempo real. É a possibilidade,
também, de basear mais essas decisões, deixar o campo da subjetividade. Em um momento
posterior, a ideia é alcançar a predição de resultados e simplificação de trabalhos que são realizados
manualmente”, conta Cazes.

Conforme Cazes, os principais obstáculos estão ligados ao entendimento sobre o conceito –


de forma que seja possível visualizar os outputs e quais retornos isso pode trazer – e ao mindset, já
que os processos sempre foram feitos da mesma maneira por décadas e funcionaram, mas podem
ser ainda melhores a partir de novas tecnologias e inovação.

Uma análise publicada pelo portal Computerworld vai exatamente ao encontro do que foi
dito por Cazes. Segundo a publicação, que tem como autora a Líder de IoT para América Latina da
Softline Brasil, Vivian Heinrichs, existe um obstáculo relacionado à integração de máquinas mais
antigas a novas tecnologias e sistemas para rastreamento de dados. Sendo assim, antes de
entender quando, de fato, a indústria brasileira irá entrar em um nível 4.0, é preciso entender como
isso será feito.

Outro desafio está relacionado à força de trabalho: hoje, quem resolve os problemas
existentes nos processos industriais são os funcionários do chão de fábrica, detentores do
conhecimento técnico, que não está estruturado, mas está ligado a práticas há muito tempo
utilizadas no mercado. De acordo com Heinrichs, “conectividade significa deter a informação
estratégica também e antecipar-se às necessidades de infraestrutura, reduzindo recursos no que
tange à manutenção e tempo de parada, além de ter um processo estruturado de gestão do
parque fabril”.

Dentro desse contexto de adaptação, startups focadas em IoT industrial surgem como boas
opções para o mercado, visto que têm potencial – e podem representar um passo importante –
para agilizar implementações e os processos existentes a partir de suas soluções. De acordo com
Guilherme Dal Lago, Head de Open Innovation da Raízen e gestor do Pulse, a empresa se utiliza de
serviços oferecidos por startups, e as soluções desenvolvidas por essas empresas apresentam
custos mais baixos, podendo trazer impactos relevantes para as companhias clientes.

“Existe um desafio de proporcionar um ambiente que seja acolhedor, além de estimular


parcerias em formatos ganha-ganha em um modelo de inovação aberta. As startups nos auxiliam
no processo de nos tornarmos uma organização que vem transformando sua cultura para ter uma
abordagem mais digital, com processos mais ágeis e uma forma de trabalho mais colaborativa, em
que parceiros externos cada vez mais irão desempenhar um papel de protagonismo ao lado de
nossos colaboradores na cocriação de soluções”, afirma.

20
A MOB é uma startup de São Paulo, fundada em 2013, que oferece uma solução de IoT
industrial baseada em hardware + SaaS (HaaS - Hardware as a Service), por meio da qual possibilita
a captura de dados no chão de fábrica e uma posterior análise sobre eles. Segundo Mauricio Finotti,
CEO e fundador da MOB, o modelo de negócio da startup permite a adaptação da solução
conforme as necessidades e orçamento do cliente. Apesar do foco em PMEs, também atende
grandes corporações.

“Nossa solução, focada em IoT, tem como grande objetivo a melhoria de produtividade na
indústria. Isso envolve, primeiramente a melhoria no processo de coleta de dados ou até mesmo
iniciar essa captura, que às vezes é inexistente. Com sistemas de coleta de dados implementados,
atuamos em duas frentes distintas: o monitoramento de atividades logísticas dentro da empresa,
no qual é possível analisar o perfil de utilização dos ativos e comportamento de equipamentos, em
que estabelecemos critérios para manutenção preditiva, de forma a identificar uma possível falha
que uma máquina possa ter em um futuro próximo. O setor industrial ainda se utiliza muito pouco
de dados, já que, em meio a processos manuais, eles acabam sendo perdidos ou mal gerenciados”,
afirma Finotti.

Ainda de acordo com ele, a utilização de analytics simples permite a identificação de


padrões relacionados à ociosidade e super utilização de equipamentos. O hardware desenvolvido
conta com sensores capazes de captar, por exemplo, informações de temperatura, umidade,
vibração, campo magnético e outros, que são enviados para a nuvem e entregues em um
dashboard. Hoje a MOB conta com mais de 50 clientes ativos, sendo 25% deles grandes empresas e
75% deles compostos por pequenas e médias corporações.

Conforme um estudo realizado pela PwC – e como foi discutido neste capítulo –, aos poucos
as empresas do setor industrial têm buscado tornar seus processos mais conectados e integrados,
um passo vital, mas que representa o início da jornada de digitalização, não o fim. É necessário que
os próximos passos sejam focados em tornar essa disrupção em oportunidades para criação de
valor e de vantagens competitivas, de maneira que as companhias usufruam de todos os benefícios
(ou de grande parte deles) propiciados pelo IIoT.

Fundada em 2011, em Recife (PE), a Senfio é uma startup com soluções de


IoT, focadas principalmente em monitoramento de temperatura e
umidade para câmaras frias, data centers, estoques, freezers e geladeiras.
Atua em ambientes como hospitais, farmácias, centros de distribuição,
indústria e outros.
A Ubivis é uma startup paranaense, fundada em 2014, que oferece
soluções de IoT industrial, para otimização de processos por meio de
analytics e sistemas inteligentes. Desenvolveram, como principais
produtos, um controle remoto operacional, robôs para automação de
máquinas e realidade aumentada para manutenção preditiva.
A Konux é uma startup alemã, com sede em Munique, que integra
sensores inteligentes a analytics baseados em inteligência artificial para
entregar insights de ativos de fábrica de ponta a ponta, em tempo real e
otimizar planejamentos de manutenção. Fundada em 2014, já captou
US$51.6 milhões em investimentos.
Fundada em Pisa, na Itália, a Alleantia é uma startup de software voltada
para Internet das Coisas Industrial. A solução possibilita a conexão de
qualquer máquina, ativo ou dispositivo de automação à internet, sistemas
da companhia e outras aplicações. Atende, principalmente, integradores
de sistema e fabricantes de máquinas.

21
CASES

A utilização de IoT e sensorização se mostra importante para


aumentar o volume de informações que temos nas mãos para análises e
decisões mais assertivas.

Em casos mais avançados da indústria, temos também o uso de


inteligência artificial para otimização de processos, como o caso da Aimirim.

A Aimirim começou sua atuação implantando uma solução de


Guilherme Dal Lago,
Head de Open Innovation da operador virtual, que nos auxilia a aumentar a eficiência de nossas caldeiras.
Raízen e gestor do Pulse Inicialmente o projeto foi instalado em Santa Helena, que alcançou
resultados expressivos em apenas 33 dias de projeto. Primeiro, a
implantação ocorreu em duas unidades, depois avançou para outras quatro
usinas, totalizando seis unidades que já contam com a solução de
inteligência artificial desenvolvida. Registramos melhoria do processo com
otimização da queima de bagaço nas caldeiras, linearizando o processo com
uma economia considerável de volume de bagaço com o mesmo poder de
queima, porém de forma mais sustentável e com mais estabilidade na
entrega da bioenergia para as distribuidoras.

Nós desenvolvemos algoritmos para controle e automação de


processos industriais. Em empresas tradicionais, operadores exercem
algumas atividades e funções, e nós tentamos reproduzir esse
comportamento, mas baseados em algoritmos numéricos, não apenas em
experiência. A experiência da operação é usada para poder ajustar o
algoritmo.

Oferecemos, hoje, dois principais tipos de produtos: o Opper, um robô


Renato Pacheco,
CEO da Aimirim industrial, que conta com inteligência artificial e que pode conferir maior
eficiência em processos e reduzir custos de operação; e o ASTI, um software
que integra automação e simulação para plantas industriais.

Com a Raízen, nós conseguimos realizar o comissionamento em uma


das maiores usinas do mundo, que é a Usina da Barra, com um grau de
complexidade muito alto. É uma planta industrial muito antiga, com um set de
tecnologias antigas e fornecedores diferentes, equipamentos que foram
modificados ao longo do tempo e informações que se perderam. Foi um
desafio técnico muito grande.

22
ENTRE_
VISTA
Por que assuntos como Agricultura 4.0 e
Biotecnologia – ligados a IoT e sensorização – são
importantes para vocês?
A Souza Cruz é uma empresa presente em todas as
etapas da cadeia produtiva, com processos que
envolvem desde a compra do tabaco até a entrega
do produto no varejo. Nesses mais de cem anos de
história, nos mantivemos fiéis ao
Rosely Chaolen, Head of Information and
empreendedorismo e inovação. Enxergamos na Digital Technology Brazil na BAT (British
exportação de tabaco – um pilar muito forte do American Tobacco)
nosso país – uma oportunidade para aplicar ainda Você vê o IoT industrial como um primeiro passo
mais tecnologia. Com o objetivo de melhorar a em direção à Indústria 4.0?
qualidade da safra, em um segmento com muitos Sem dúvida nenhuma, IoT é fundamental para a
concorrentes, é necessário fazer com que a modernização de qualquer indústria e não é
produção atinja níveis elevados de qualidade ano diferente na indústria de tabaco. Iniciamos a
após ano. A tecnologia aplicada ao meio rural nos aplicação de IoT para atingir a excelência
leva a uma agricultura de maior precisão, que nos operacional, mas também identificamos
ajuda a atingir resultados melhores. oportunidades em IoT em outras áreas da
companhia, visando realmente fazer uma
Por que você acha que é importante disrupção no mercado. Hoje, a Souza Cruz atende
implementar essas tecnologias e conceitos nos mais de 200 mil varejos e boa parte deles já estão
processos de manufatura da companhia? usando nossos canais digitais para realizar a
Entendemos que implementar tecnologias em toda compra dos nossos produtos, ganhando agilidade.
a cadeia agilizaria o processo de transformação pelo Há inúmeras oportunidades do uso de IoT nas
qual a nossa indústria está passando. Na área áreas de logística, pré-separação e, por que não, no
industrial, nosso primeiro foco foi na excelência próprio varejo.
operacional, em reduzir os custos operacionais da
companhia. Entendemos que era necessário Qual você acha que é a importância das startups
otimizar o consumo de energia nas caldeiras e nesse cenário de popularização dessas
melhorar a performance, com menor custo de tecnologias de IoT e sensores?
manutenção. O mesmo vale para máquinas e É um excelente parceiro, que traz um expertise em
equipamentos: precisávamos identificar o tecnologias de IoT específicas para determinados
comportamento de produção e identificar ações fins, uma nova perspectiva sobre nossas dores,
preventivas que reduzissem as paradas para uma forma mais ágil de trabalhar e uma cultura de
manutenção. Atualmente, os dados gerados pelos inovação. As startups trazem uma ousadia e
sensores contidos nestes equipamentos são agilidade que desafiam nossos talentos a
analisados em modelos de Data Analytics e buscarem pensar cada vez mais fora da caixa. Este
Machine Learning, que conseguem identificar é o momento certo da indústria para juntar nossos
paradas futuras dos equipamentos e como 100 anos de solidez e vanguardismo com a
operá-los de forma mais otimizada. inovação das startups.

23
Aprofundamento
As aplicações do IoT industrial e
oportunidades de mercado
Apenas por sua função mais básica – a coleta e digitalização
de dados, ainda em grande parte feita de forma manual pela
indústria –, o IIoT já justifica toda a discussão em cima de sua
aplicação em diferentes mercados e segmentos da economia.
Claramente, como discutido no capítulo anterior, aliar o conceito à
estratégia da empresa e a uma necessária adaptação organizacional
para sua adoção pode resultar em frutos bastante interessantes para
as companhias. Apesar da ainda pouca maturidade do mercado para
a introdução de tal conceito e de tecnologias relacionadas, algumas
empresas já têm obtido sucesso em sua implementação. A exploração preditiva de
ativos na indústria –
As oportunidades para otimização e automação de processos também possibilitada pela
são enormes, e os benefícios obtidos por meio do IoT industrial coleta de dados e posterior
podem ser igualmente relevantes. De acordo com um estudo da IDC, análise e interpretação das
cujas informações e estimativas foram publicadas em post do portal informações capturadas
Proxxima, empresas que apostarem em automação e flexibilização de pode trazer vantagens
técnicas de produção em processos de fabricação podem aumentar importantes como:
sua produtividade em até 30%.
12%
de economia em reparos
A exploração preditiva de ativos – também possibilitada pela programados
coleta de dados e posterior análise e interpretação das informações
capturadas – pode resultar em uma economia de aproximadamente
12% em reparos programados, redução de 30% em custos gerais de 30%
de redução em custos gerais
manutenção e eliminar falhas de produção em até 70%. Tais
de manutenção
benefícios justificam as estimativas de que o investimento em IIoT
alcançará, globalmente, a cifra de US$500 bilhões até 2020. No Brasil,
a expectativa é que esse mercado movimente R$200 bilhões. 70%
de falhas de produção
Em geral, independentemente de uma efetiva eliminadas
implementação ou não do conceito, o interesse por parte das
empresas existe – e é bastante expressivo. E tal expressividade possui
justificativas coerentes. Segundo uma publicação da Pollux, o IoT na
indústria representa um universo de aplicações inúmeras, como:
aprimoramento de diagnósticos de produção, controle e otimização
de máquinas, monitoramento de consumo de energia, controle de
estoque, monitoramento de movimento e velocidade de
equipamentos industriais, aperfeiçoamento de soluções de
segurança do trabalho, entre outros. Ainda, em questão de números,
de acordo com um estudo realizado pela McKinsey – no qual a
Produtos conectados tem o
consultoria analisou a transformação digital na indústria e as
potencial de entregar de
oportunidades que isso representa –, produtos conectados poderiam
US$ 34 bilhões a
entregar de US$ 34 bilhões a US$ 95 bilhões incrementais no
US$ 95 bilhões
crescimento de receita da indústria.
incrementais no crescimento de
receita da indústria

24
No Brasil, a ArcelorMittal, grupo siderúrgico multinacional, tem realizado esforços no
caminho em direção à digitalização da empresa em processos industriais. De acordo com Lucas
Penna, CTO da companhia, introduzir o conceito de Indústria 4.0 pode significar uma melhora de
performance do grupo dentro de um segmento cujas margens são cada vez menores.

“A digitalização representa uma revolução, e não podemos estar distantes disso. A


ArcelorMittal Brasil tem performance benchmark no grupo, e percebemos que o uso de métodos
até então tradicionais não são mais suficientes. Existe uma necessidade muito grande de tornar
ganhos incrementais em saltos. O uso de sensores e IoT foi se tornando mais barato ao longo do
tempo, o que influencia positivamente na balança de custo-benefício. O cenário atual demanda
que tais conceitos e tecnologias sejam utilizadas”, declara Penna.

Segundo ele, a companhia já há algum tempo se utiliza de sensoriamento nos ativos da


empresa, e tem buscado atribuir mais inteligência ao processo, de forma a fazer correlações de
informações para uma tomada de decisão mais embasada e assertiva. “Atualmente, nós temos o
objetivo de entender melhor as informações captadas e transformar isso em predição. Saber, por
exemplo, quando um equipamento pode vir a quebrar e me planejar para realizar uma
manutenção ou troca a tempo. É sobre poder identificar um comportamento e tomar decisões
preventivas a respeito disso. Ganha-se muita produtividade porque já sabemos como atuar de
forma mais assertiva, com fatos e dados à nossa disposição”.

Em agosto de 2017, a Bsquare – empresa provedora de soluções de IIoT – realizou uma


pesquisa com o objetivo de explorar e entender como empresas de manufatura, transportes, óleo e
gás estavam adotando o conceito de Internet das Coisas industrial em seus processos. De acordo
com os resultados do levantamento (que contou com mais de 300 entrevistados de empresas com
receita anual superior a US$250 milhões), 86% das organizações já estavam adotando soluções de
IoT na indústria e 84% acreditavam que essas soluções eram muito ou extremamente eficientes.
Além disso, 95% enxergavam que o IoT resulta em um impacto significativo ou enorme na indústria.

No entanto, a pesquisa também mostrou que grande parte dos investimentos ainda eram
focados em conectividade (78%) e visualização de dados (83%), enquanto que apenas 48%
atribuíam práticas de analytics avançados nas informações coletadas e 28% estavam
automatizando aplicações. Segundo Kevin Walsh, vice-presidente de Marketing da Bsquare, o
motivo principal para o uso do IoT industrial, conforme as descobertas do levantamento, é a
redução de custos. “Estágios mais maduros do IIoT, como analytics e computação avançada
tendem a representar o maior ROI do conceito”, analisou Walsh.

A Raízen é uma empresa que tem olhado para e adotado aplicações de IoT industrial e
sensorização em seus processos, tanto na parte agrícola quanto na industrial. De acordo com
Guilherme Dal Lago, Head de Open Innovation da Raízen e gestor do Pulse, apesar de desafios
relacionados à conectividade e mindset da corporação, a companhia já vem realizando
monitoramentos importantes para aumento de eficiência, produtividade e automação.

“Na Raízen nós possuímos diversos parâmetros monitorados, como, por exemplo, as
estações meteorológicas, além de utilizarmos sensores e computadores de bordo em máquinas
agrícolas, como colhedoras, tratores e caminhões canavieiros, para monitoramento online da sua
atividade e estado atual, buscando eficiência nas operações, reduzindo o tempo ocioso de motor e
consumo de combustível. Também utilizamos o piloto automático nas colhedoras para garantir
precisão na sua localização – já tendo se mostrado mais preciso que aparelhos de GPS –, além de
diminuir a perda de cana esmagada pelo pisoteio da máquina”, conta Dal Lago.

Segundo ele, apesar do desafio representado pelo grande volume de dados gerados a
partir da digitalização e sensorização, a análise e racionalização das informações pode permitir uma
equalização de processos e tomada de ações preditivas e assertivas.

25
De modo a avançar as discussões sobre Indústria 4.0 no País e agilizar o processo de
implementação de conceitos e tecnologias relacionadas, espera-se, para o primeiro semestre de
2020, a inauguração do primeiro centro para a 4ª Revolução Industrial, afiliado ao Fórum
Econômico Mundial (FEM). A iniciativa é uma parceria entre o Fórum e o Governo do Estado de São
Paulo. Em um primeiro momento, o centro deve atuar com foco em políticas de dados, Internet das
Coisas, Smart Cities e blockchain.

De acordo com publicação no site do Ministério da Economia, “o centro vai reunir uma
equipe multidisciplinar formada por funcionários das próprias empresas apoiadoras do projeto,
acelerando a troca de experiências e a adoção de novas tecnologias. Segundo Carlos da Costa,
secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia
(Sepec/ME), o mercado brasileiro ainda é imaturo em relação o assunto, em um cenário em que
apenas 7,5% das empresas se utilizam da Indústria 4.0 com excelência e apenas 2% das companhias
brasileiras estão no estágio mais avançado do conceito, fato que atribui mais importância à
iniciativa.

As PMEs também estão inclusas no projeto, para quem serão direcionadas ações
específicas. Em 2020, 130 PMEs do segmento de manufatura serão as primeiras a testarem a
proposta de desenvolvimento criada pelo Fórum Econômico Mundial, Ministério da Economia e
Estado de São Paulo. Espera-se que, até 2021, duas mil pequenas e médias empresas sejam
atingidas pela iniciativa, dentro do programa Brasil Mais Produtivo. Em um cenário de mercado em
que 98,5% das empresas são pequenas ou médias, é necessário que esse segmento participe da
discussão e entenda de forma clara e aprofundada como pode se beneficiar e ser mais eficiente a
partir da Indústria 4.0.

A Valpri é uma empresa pequena de embalagens flexíveis, localizada em Campinas (SP),


cuja aplicação de conceitos e tecnologias 4.0 é um case para o mercado brasileiro. Segundo
depoimento de Ivo Yoshida, diretor da companhia, em roadshow da VDI-Brasil (Associação de
Engenheiros Brasil-Alemanha), as bases da transformação se guiaram em dois pontos: atualização
tecnológica e gestão de pessoas, objetivando mudanças na cultura organizacional.

De acordo com Edlen Ribeiro, Desenvolvedor de Inovação e de Planejamento Estratégico e


fundador da Solid Strategy Co, consultoria que presta serviços para a Valpri desde o início da
transformação, tecnologias de sensorização foram o primeiro passo rumo ao nível 4.0, e
possibilitaram ganhos de produtividade, apesar da falta de recursos, comum em pequenas
empresas.

“Nós tínhamos o desafio de chegar à Indústria 4.0 saindo de um nível 2.0. A sensorização
facilitou bastante esse caminho para a empresa. Os dispositivos de RFID (Radio Frequency
Identification, ou, no português-brasileiro, Identificação por Radiofrequência) fazem o trabalho
operacional de mapeamento e controle de produção, que resultam em um ganho espetacular de
produtividade. Realiza levantamento de de eficiência, ocupação da máquina, tempo de parada,
ciclo de produção. Assim, mantivemos uma visão holística sobre a produção e aumentamos a
produtividade em 25% dos equipamentos e reduzimos em 50% o tempo de ociosidade”, conta
Ribeiro.

Ainda segundo ele, tal transformação foi importante também em outros dois aspectos:
primeiro, poder ganhar maior eficácia e performance sem a necessidade da compra de novas
máquinas, evitando custos com equipamentos mais modernos, mas de valor inacessível, além de
poder tomar decisões baseadas em dados, possibilitando maior assertividade; segundo, por criar
dentro da organização um entusiasmo em relação a evolução dos processos industriais e novas
tecnologias 4.0.

26
Soluções para coleta de dados e analytics para uma
evolução do mercado e consequente digitalização

No artigo acadêmico Internet das Coisas na Indústria: Estudo dos resultados obtidos e
dificuldades enfrentadas pela empresa na adoção desta tecnologia, os autores Hercilio Aristides
Garcia e Edson Ewald têm como objetivo geral “identificar se o uso dessa tecnologia tem sido
empregado na indústria e também qual é seu estágio atual de implementação”.

Segundo o estudo, que também se utiliza de trabalho de outros autores, a criação de valor
em um produto IoT passa por cinco camadas, e cada uma delas atribui um valor diferente ao
produto. A quarta camada, de análise – após a devida sensorização e atribuição de conectividade –,
mostra-se extremamente importante, visto que, conforme os autores, “a conectividade por si só não
agrega valor ao produto. Na camada 4, os dados dos sensores são coletados, armazenados,
analisados e classificados. Os resultados obtidos a partir de outros dispositivos conectados são
integrados aos resultados do dispositivo existente e definidos padrões de ação para os atuadores”.

As etapas anteriores, de sensorização e conectividade, não são apenas importantes, como


claramente necessárias. Visando isso, algumas startups brasileiras oferecem soluções de captação
de dados, de forma a dar início à digitalização das informações.

Uma delas é a Logica-E, que oferece diferentes soluções de IIoT para o mercado. Uma delas
é a CIANOVE – que conta com sistemas de automação customizáveis –, voltada especificamente
para a construção civil. A outra solução, o LEsense, possui aplicabilidade mais ampla, um hardware
que permite integração com softwares variados. Além disso, é também uma Design House,
oferecendo serviços de desenvolvimento de produtos eletrônicos sob demanda.

“A CIANOVE conta com sistemas de automação para elevador de obra, esse é o foco
principal; fazemos monitoramento de máquinas e equipamentos da construção civil. Coletamos os
dados pelo hardware, que é um LEsense, e enviamos para um software na nuvem, que pode
acompanhar o que está acontecendo com o equipamento, sob diferentes variáveis e aspectos. O
LEsense, por sua vez, é uma plataforma de IoT, um hardware que se conecta a qualquer tipo de
sensor para a coleta de dados e informações. Os clientes dessa solução são empresas de software
ou corporações que já tenham uma plataforma e precisam adquirir os dados do chão de fábrica”,
conta Bruno Bichels, CEO da Lógica-E.
Por esse motivo, será inaugurado
Apenas 7,5% o primeiro centro para a 4ª
Revolução Industrial, afiliado ao
das empresas brasileiras
Fórum Econômico Mundial
se utilizam da Indústria
(FEM). A iniciativa é uma parceria
4.0 com excelência e
entre o Fórum e o Governo do
apenas 2% delas estão Estado de São Paulo. O centro
no estágio mais deve atuar com foco em
avançado do conceito políticas de dados, Internet das
Coisas, Smart Cities e
blockchain
Outra startup do segmento de IoT industrial, mas focada especificamente em uma
plataforma de analytics, é a Intelup. De acordo com Bruno Belanda, fundador da startup, a empresa
nasceu após uma percepção de que a penetração de tecnologias da informação ainda é baixa no
chão de fábrica, tornando possível entregar uma visão de sistemas de TI dentro do universo da
automação industrial.

27
“Desenvolvemos uma plataforma de software que recebe os dados diretamente da linha de
produção, por meio de conectores homologados que extrai informações de máquinas e
equipamentos. A solução também possibilita uma integração com sistemas de backoffice, de
gestão da produção, de qualidade e manutenção. Na rotina da indústria 3.0, isso ainda é feito no
papel, para depois ser registrado em um sistema, um processo totalmente manual. Atualmente, a
plataforma possui diversos módulos, para atender demandas específicas e planos cujos preços
variam. Por conta disso, conseguimos atender tanto o integrador da indústria quanto empresas de
maior porte”, afirma Belanda.

A solução desenvolvida pela Intelup permite a identificação de ineficiências da operação,


como uma configuração incorreta de um equipamento, a adoção de um procedimento errado por
parte do operador ou tendências de desvio de padrão (que podem representar, no futuro, a quebra
de uma máquina, por exemplo). Hoje a startup conta com aproximadamente 70 fábricas que
contam com a solução instalada.

Sendo assim, pode-se perceber a importância da união entre criação, coleta e análise de
dados de processos industriais, sendo as primeiras etapas obviamente indispensáveis para a
realização desta última. Como apresentado, tanto gigantes do segmento quando PMEs já têm
atribuído inteligência às suas fábricas e colhido resultados interessantes, que podem ser ainda mais
expressivos a partir da evolução de conceitos de Indústria 4.0 e IoT industrial.

Com soluções voltadas para o chão de fábrica, a Novidá desenvolveu


soluções de sensores IoT, que podem ser conectados a tags, crachás e
smart devices, possibilitando a geolocalização precisa de equipamentos e
pessoas na operação. Por meio de IA e algoritmos, possibilita aumento de
produtividade, qualidade do trabalho e segurança na fábrica.

Com sede no Brasil e nos EUA, a i-IoT Solutions é uma startup de IoT
focada na indústria, em segmentos como o de mineração, energia, óleo &
gás, manufatura e construção. Oferece soluções de sensorização
conectada, analytics, machine learning, monitoramento de obras,
automação de produção, entre outras.

A Securithings oferece uma plataforma IoT de cibersegurança que se


integra facilmente a fabricantes de dispositivos IoT e outras plataformas,
possibilitando o monitoramento de atividades em tempo real e
fornecendo uma visão holística de possíveis ameaças aos dispositivos.
Fundada em Israel, já captou mais de US$2 milhões em investimentos.

A Altizon é uma startup indiana que oferece soluções para manufatura


inteligente (integração de dados de múltiplas origens), plataforma IoT para
análise de dados captados, aumento de performance e edge intelligence,
rastreabilidade e manutenção preditiva. Fundada em 2013, captou US$11
milhões em aportes.

28
ENTRE_
VISTA
Como você enxerga a maturidade da indústria
4.0 no Brasil?
O grau atual de modernização de nossas fábricas é
extremamente heterogêneo. Temos diversas
fábricas ultramodernas operando no país, que
inclusive são referências mundiais em indústria 4.0
para as unidades dos outros países, com suas
tecnologias de robótica, linhas flexíveis e produtos
customizáveis, por exemplo. Ao mesmo tempo, Ricardo Gonçalves, Diretor de Marketing e
Vendas da Pollux
temos também ambientes de manufatura
completamente defasados. A boa notícia é que o essa tecnologia atrelada aos sistemas de visão para
Brasil já possui no mercado todas as tecnologias e possibilitar inspeções e controles de qualidade que
conhecimentos necessários para a virada antes não eram possíveis. Um exemplo é a inspeção
tecnológica da indústria 4.0. Muitas empresas, de conjuntos soldados, que não possuem padrão, e
inclusive, já iniciaram essa transformação e estão sempre foram um desafio para a indústria
colhendo os benefícios. metal-mecânica e para a indústria automotiva.

Há alguns segmentos que você considera em Quais as principais iniciativas da Pollux no


estágio tecnológico mais avançado no Brasil, âmbito da indústria 4.0 e quais benefícios?
quando pensamos na indústria 4.0? Se sim, quais A Pollux é uma integradora de tecnologias que
e porquê? torna possível a virada tecnológica para a indústria
As montadoras do setor automotivo foram as 4.0. Nós temos o domínio das mais avançadas
primeiras a aderir a essa transformação, por ser um tecnologias e entregamos soluções turnkey para os
mercado extremamente competitivo e com foco nossos clientes a fim de garantir inovação,
em redução de custos. E como a indústria 4.0 vem competitividade e redução de custos. Neste sentido,
em cadeia, logo o setor de autopeças continuou trabalhamos com soluções de linhas de montagem,
nesse caminho de transformação tecnológica. máquinas especiais, robótica, veículos móveis
Atualmente, já vemos iniciativas muito relevantes autônomos, sistemas de visão e software industrial.
também no setor de bens de consumo, bem como, Dessa forma, estamos conduzindo os principais
no de bebidas e alimentos. As demandas do projetos de transformação tecnológica 4.0 do Brasil,
consumidor 4.0, que exigem customização e América Latina e, mais recentemente, iniciamos
personalização, ajudaram a puxar essa nossas operações no Canadá. Além disso, a Pollux
transformação. Muitas das indústrias já entenderam também é cofundadora da ABII (Associação
que precisam entregar um novo patamar de Brasileira de Internet Industrial), que tem como
experiência, inovação e qualidade para o objetivo expandir o acesso às tecnologias da
consumidor final. Internet Industrial no nosso país. Já os benefícios
envolvem um aumento de eficiência,
Como vê o mercado de inteligência artificial e competitividade, redução de custos, segurança e
suas possíveis aplicações na indústria brasileira? controle de qualidade. A indústria 4.0 é uma
A inteligência artificial pode ser uma grande aliada questão de sobrevivência para as empresas que
da indústria. Aqui na Pollux, já estamos utilizando pretendem se manter relevantes no mercado.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
29
Aprofundamento
O futuro do IIoT

Tendo em vista o estágio atual da capilaridade e utilização de


IIoT no mercado brasileiro, analisar e imaginar o futuro de suas
aplicações se apresentam como um desafio. Cabe, portanto,
entender como essa evolução pode acontecer de maneira geral e
como essa progressão abre portas para tecnologias e discussões mais
complexas do que as atuais.

Um próximo passo para a grande maioria – que já tem sido


adotado em parte, mas ainda de forma incipiente – das empresas
que já possuem seus processos e equipamentos minimamente
conectados e digitalizados é a atribuição de mais inteligência àquilo
que foi iniciado. Com o esperado crescimento expressivo de IoT
globalmente, é viável esperar que sistemas e plataformas que
atribuam inteligência à análise também registrem crescimento.
US$ 14,2
Segundo o estudo Future of IoT, realizado pela EY (Ernst & trilhões
Young) em 2019, espera-se que o mercado de Internet das Coisas devem ser injetados à
cresça de forma robusta ao passo que bilhões de dispositivos, serviços economia global por meio
e sistemas se tornam mais conectados, resultado da diminuição de do IIoT (Industrial Internet
custos de sensores que transformam dados físicos em conteúdo of things) em 2030
digital. Em relação a tamanho de mercado, de acordo com um
levantamento realizado pela IDC, é esperado que gastos com IoT
podem alcançar US$ 1,1 trilhão em 2023. A estimativa é que os
segmentos de manufatura discreta, manufatura por processos e
transportes sejam os maiores contribuidores desse crescimento,
responsáveis por um terço do valor gasto em âmbito global.

Em termos de expressividade de mercado, existem


estimativas que projetam números ainda mais impressionantes.
Conforme dados da Accenture presentes em um post do Medium,
espera-se que o IIoT possa injetar US$ 14,2 trilhões à economia global
em 2030. Além disso, em relação à geração de dados, espera-se que
dispositivos IoT gerem, ainda de acordo com a EY, 90 zettabytes
(90.000.000.000.000 GB) de dados em 2025, números que
demandam sistemas robustos para análises de parte dessas
informações.

Unir inteligência artificial à Internet das Coisas industrial


90 zettabytes
(90.000.000.000.000 GB)
representa um passo importante, necessário e pode ser um
de dados devem ser gerados
diferencial vantajoso em termos de competição. Como discutido em
por meio de dispositivos de
um post da Forbes, a grande quantidade de dados – informações que IoT já em 2025
mudam constantemente – que tem sido gerada a partir de
sensorização de IoT não são suportados por sistemas tradicionais de
analytics ou BI (Business Intelligence). Nesse contexto entra a
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

30
importância da I.A e machine learning, que podem, de forma assertiva, identificar padrões e alertar
sobre condições anormais de sistemas e equipamentos.

A Schneider Electric, multinacional francesa que oferece produtos e serviços para gestão de
energia e automação, com presença no Brasil, tem implementadas em suas fábricas e centros de
distribuição iniciativas avançadas de IIoT, que permitem o monitoramento de diferentes variáveis,
otimização significativa de processos e automação. Para isso, a companhia se utiliza principalmente
de uma solução própria de IIoT, chamada EcoStruxure, uma arquitetura de sistema aberta,
interoperável e desenvolvida para segmentos como o industrial, de infraestrutura, data center e
edifícios.

“Um ponto muito importante da aplicação de IIoT para nós é a eficiência do consumo de
energia, possível a partir de um monitoramento inteligente, que nos mostra como podemos
otimizar processos e como melhorar a utilização de recursos. Na área industrial, implementamos
sensoriamento de equipamentos e softwares, que nos traz transparência por meio de dados e
permite melhor gestão de eficiência dos processos. Dependendo da aplicação, os dados são
gerenciados on premise ou em nuvem, de maneira que possamos medir performance, qualidade,
eficiência energética e outros parâmetros do sistema produtivo”, conta Cássio Souza, Head of
Operational Excellence da Schneider Electric South America.

De acordo com ele, a análise e tratamento dos dados captados podem, potencialmente,
resultar em automação de sistemas e maior valor para todo um ecossistema industrial envolvido
em uma cadeia de abastecimento, já que a integração de dados de diferentes fontes eliminam silos
e permitem maior previsibilidade sobre desvios, alavancando oportunidades muitas vezes não
exploradas.

Além disso, a Schneider Electric também tem unido Internet das Coisas a outras
tecnologias em ascensão no mercado, o que tem contribuído efetivamente na produtividade e
eficiência da empresa. “Hoje nós utilizamos Realidade Aumentada, por exemplo, para fazer leitura
de parâmetros de performance em processos e para otimizar procedimentos de manutenção de
equipamento. É possível ter acesso a informações de chão de fábrica em dispositivos portáteis,
como um tablet, e em ambiente de realidade mista, executar ações em equipamentos sem precisar
acessá-los fisicamente, o que proporciona eficiência e segurança na execução de tarefas de
manutenção”, afirma Souza.

internet das
big data coisas impressão 3D

As tecnologias
que definem o inteligência realidade digital
artificial mista twin
mundo 4.0 na
indústria são:

Como analisado em um artigo acadêmico, por mais que possam ser adotadas
separadamente, é exatamente a combinação de diferentes tecnologias que definem o mundo 4.0
na indústria, sendo elas: Big Data, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Realidade Mista
(acesso a informações por meio de devices como óculos inteligentes e smartphones), Manufatura
Aditiva (Impressão 3D) e Digital Twin (representação virtual de um objeto físico ou sistema,
utilizando-se de dados em tempo real para análise e compreensão).

Conforme os autores do estudo, “A fusão destas tecnologias em um único ecossistema é


altamente complexa, e exigirá além de pessoal qualificado e investimentos, que a indústria já
tenha alcançado certo nível de integração. De nada adianta uma empresa, cujos processos são
completamente manuais, querer adotar tecnologias da quarta revolução industrial
instantaneamente”.

31
Em convergência a isso, de acordo com uma publicação da Forbes, o ápice do IoT industrial
é representado justamente pela combinação de Inteligência Artificial, software e robótica,
alavancando a indústria a um nível de automação total.

A Forsee é uma startup brasileira que une hardware e software para entregar uma solução
de IIoT para o mercado, por meio de uma rede autônoma entre sensores e um gateway para
transferir os dados coletados para a nuvem, que posteriormente são analisados e apresentados em
um dashboard, com recomendações em tempo real.

Segundo Marcio Mariano, Engagement Director da empresa, a Forsee nasceu para ajudar
tanto a indústria quanto o varejo, que compartilham do problema de gestão de estoques de forma
muito semelhante: na primeira, em relação à matéria prima, e, no segundo, em relação a produtos
para o comércio. “Basicamente, a solução captura e concentra informações que já estão na cadeia
de produção, e posteriormente aplicamos analytics e inteligência artifical sobre as informações e
devolvemos prescrições. O IoT é associado diretamente às máquinas de contagem, para
entendimento da produção, com sensores de predição de falhas e acionamento dos times de
manutenção, para evitar surpresas durante o processo”, diz Mariano. De acordo com ele, a solução
tem entregado um salto de performance de dois dígitos em indicadores como redução de estoque,
aumento de produtividade e lucro a empresas de diversos setores e portes.

Focada em automação e robótica, a Automni desenvolveu uma solução voltada para


plantas industriais, centros de distribuição e portos e aeroportos. O Rhino, principal produto
oferecido pela startup, é um robô que transforma empilhadeiras tradicionais em autônomas, com
um modelo de RaaS (Robot as a Service).

“Hoje o que nós temos como visão principal na Automni é o centro de distribuição
totalmente automatizado, que resulta em vantagens não só de produtividade, mas de
escalabilidade. A partir de uma logística mais flexível e acessível, que pode ser alcançada por meio
de robôs, isso representa uma mudança significativa dentro desses processos. O Rhino
basicamente é o motorista da empilhadeira e conta com um sistema de hardware e software,
instalado em veículos homologados. Hoje, as empresas não têm mapeado o fluxo de materiais que
ocorre dentro da fábrica. Pensando na logística disso, torna-se possível mapear esse fluxo e,
posteriormente, reprojetá-lo, otimizando-o”, conta André Abrami, CEO e cofundador da empresa.

Além disso, a Automni está, no momento atual, desenvolvendo um equipamento para


inventário automático, para leitura de etiqueta de produtos, relacionando isso ao estoque. A partir
dessa tecnologia, segundo Abrami, é possível a identificação automática de produtos e sua
localização e a quantidade de produtos que passa por um corredor de fábrica, por exemplo. Isso
porque, por meio de IoT, o Rhino disponibiliza o que está transportando, onde e com qual
velocidade.

“Em um processo manual, profissionais alocados em centros de distribuição perder muito


tempo realizando a contagem de produtos. Se houver um sistema que leia a entrada de saída
desses produtos, reduz-se o custo da operação. Com os dados de uma operação logística
registrados, uma base histórica disso é criada, tornando possível fazer projeções sobre esses dados,
o que pode ter um valor significativo para as empresas”, completa Abrami.

32
Desafios relacionados à cibersegurança e habilitação de
profissionais

Por se tratar de um conceito diretamente ligado à criação e captura de dados, o IoT


industrial carrega consigo desafios comuns a qualquer discussão que envolva a transferência
dessas informações e análise sobre elas. Inicialmente, dois deles podem ser vistos como principais:
a cibersegurança e privacidade desses dados e a existência de profissionais com know-how para
tratá-los de maneira conveniente e estratégica.

Conforme informações presentes em um estudo da Deloitte, em 2013, um grupo de


hackers invadiu os sistemas conectados de aquecimento, ventilação e ar-condicionado da gigante
varejista americana Target para roubar números e informações de 40 milhões de cartões de crédito
cadastrados. Em 2016, um ataque da Mirai (botnet com foco em dispositivos IoT, que os ataca ao
identificar falhas de software e configurações) tornou a internet inacessível em parte da Europa e
Estados Unidos, causando um prejuízo estimado de US$ 110 milhões.

De acordo com um estudo realizado em 2017 pela Forbes Insights em parceria com a
Hitachi, as empresas estão, de certa forma, conscientes sobre os riscos ligados ao IoT de forma geral.
Entre as empresas com iniciativas bem sucedidas em Internet das Coisas, 37% delas acreditam que
esta demanda mais atenção e segurança em relação a outras iniciativas de TI; 39% concordam que
a violação de sistemas IoT pode ter consequências maiores em comparação a outras tecnologias.

Tendo isso em vista, 70% afirmaram possuir padrões de segurança mais elevados voltados
para isso. Por conta desse preparo, 93% dessas companhias afirmam estar confiantes na
manutenção dessa segurança em sistemas IoT. Com a estimativa para os próximos anos de um
crescimento vultoso de sensores e dispositivos conectados, cada um deles representa um ponto de
vulnerabilidade, que por sua vez representam novos pontos de atenção para a indústria.

Em 2013, um grupo de hackers invadiu Em 2016, um ataque da Mirai (botnet


os sistemas conectados de com foco em dispositivos IoT, que os
aquecimento, ventilação e ataca ao identificar falhas de software e
ar-condicionado da gigante varejista configurações) tornou a internet
americana Target para roubar números inacessível em parte da Europa e EUA,
e informações de 40 milhões de causando um prejuízo estimado de
cartões de crédito cadastrados US$ 110 milhões

Como decorrência desse crescimento expressivo, espera-se, também, uma preparação por
parte dos profissionais para o desenvolvimento de novas habilidades, de forma que possuam
competências para lidar com toda a transformação esperada. Isso, de forma direta, também
envolve mudanças de cultura organizacional. Segundo o estudo da Forbes, entre os maiores
desafios na construção de capacidades em iniciativas IoT nas empresas bem-sucedidas com o
conceito estão a cooperação entre departamentos (35%) e a disponibilidade de equipes preparadas
(31%). Entre as empresas que obtiveram menos sucesso, o maior desafio é a falta de cooperação
entre os colaboradores (48%). Relacionando essa preparação à cibersegurança, conforme
informações de um levantamento da PwC, 35% dos respondentes viam já em 2016 a necessidade de
treinamento dos funcionários no assunto.

Pensando nisso, em 2019, a ArcelorMittal Brasil lançou um programa de atração de talentos,


em busca de profissionais que pudessem ajudar a alavancar conceitos de Indústria 4.0 na empresa.
De acordo com Lucas Penna, CTO da companhia, não é possível dar passos rumo à transformação e
inovação sem uma equipe de pessoas capacitadas. “Nós temos trabalhado muito internamente
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

33
com os colaboradores para inserir uma mentalidade mais digital em novos funcionários, visto que a
Arcelor é uma empresa mais tradicional. E existe a necessidade de trazer para a organização
pessoas que já possuam esse mindset, porque é uma maneira de acelerar a transformação,
oxigenar internamente a empresa”, conta ele.

Em convergência a isso, segundo Cássio Souza, Head of Operational Excellence da


Schneider Electric South America, pensar na transformação digital e indústria 4.0 incorre na
questão de liderança e como os colaboradores podem ser maiores protagonistas por conta da
adoção de tecnologias. “A partir do momento em que existe um processo de transição, de
transformação em curso, isso altera não só os processos internos de adoção, mas também como
você aborda o mercado. Assim, também se torna necessário trazer a discussão para dentro de casa
e promover o entendimento sobre o comportamento seguro que devemos adotar para proteger as
operações e clientes contra desvios e danos causados por ciberataques Quando se começa a
trabalhar mais com dados, as pessoas precisam entender como elas lidam com isso e quais são as
tecnologias decorrentes, em todos os níveis da organização. A preparação e empoderamento dos
funcionários é importante justamente por essas novas tecnologias atribuírem maior protagonismo
aos profissionais dentro de uma empresa”, declara Souza.

Como analisado no artigo anteriormente citado, estima-se que, a depender da velocidade


de adoção de novas tecnologias no mercado, entre 75 e 375 milhões de profissionais podem mudar
de função e devem desenvolver novas habilidades. Além disso, “gestores devem trabalhar
promovendo a agilidade organizacional dentro de um mundo de constantes mudanças. Eles
devem se planejar para os efeitos do aumento da automação nos processos, resultante de
tecnologias como a robótica, inteligência artificial, IoT, entre outros”.

Projetar a evolução do conceito e de iniciativas IoT na indústria não apenas surge como um
desafio, mas também como algo minimamente arriscado, visto que variáveis e recursos
inimagináveis podem ser desenvolvidos nos próximos anos. No entanto, sensores, Internet das
Coisas e conectividade são os primeiros passos rumo à utilização de tecnologias mais robustas
como inteligência artificial, robótica, manufatura aditiva e realidade aumentada e virtual, que
surgem, sem dúvidas, para mudar completamente o cenário do segmento industrial.

A Livetrack é uma startup brasileira que oferece dispositivos IoT e uma


plataforma de monitoramento inteligente de ativos e processos que
geram informação em tempo real e oferecem insights para a tomada de
decisão, em busca de maior eficiência operacional. Atualmente, possui
foco em logística, cargas, frotas e ativos industriais.

Fundada em 2015, em São Paulo, a ROBBIOT oferece soluções de IoT


focadas em segurança do trabalho, para verticais como mineração, óleo e
gás e siderurgia. As soluções compreendem wearables, tecnologia
LoRaWAN e inteligência artificial para predição de falhas e riscos no
ambiente de trabalho.

A Sensire oferece soluções de monitoramento de temperatura para a


cadeia logística e ambientes industriais, por meio de sensorização sem fio.
A startup, fundada na Finlândia, disponibiliza dados de temperatura em
tempo real e já captou mais de US$6 milhões em uma rodada de
investimentos em 2019.

A Samsara une hardware, software e computação em nuvem para oferecer


visibilidade em tempo real, analytics e inteligência artificial sobre
operações na indústria, trazendo como resultados aumento de eficiência,
segurança em processos e sustentabilidade à produção. Fundada em 2015,
na Califórnia, a startup já captou US$530 milhões em investimentos.

34
CASES

Desde 2015, quando iniciamos o processo de desenvolvimento e


aprimoramento dos nossos produtos atuais – fechaduras para controle de
acesso inteligente –, passamos a usar IoT em todos eles, acompanhando as
tendências e demandas do mercado.

Em 2018, surgiu a necessidade de um novo software para a gestão


dos nossos dispositivos. Para isso, juntamos esforços com a Allexo, unindo
nossas tecnologias de controle de acesso com o conhecimento e a
Rodrigo Baronio,
Diretor da Upgrade integração de softwares propostos pela Allexo. Geramos, assim, uma
redução significativa nos chamados de suporte técnico do cliente; em função
da plataforma, pudemos ampliar os serviços que oferecemos.

O tempo médio para o cadastro e liberação de um acesso que na


plataforma antiga chegava a 20 minutos, agora é de 10 minutos; ou seja,
além de automatizar os processos de liberação, também otimizamos o
tempo no processo. Entender as demandas do cliente é essencial e as
soluções oferecidas pela Allexo possibilitam isso, com produtos
complementares aos nossos.

A Allexo oferece uma plataforma IoT interoperável para


gerenciamento de ativos da indústria. Aplicamos algoritmos de inteligência
artificial e machine learning sobre dados históricos coletados, de forma a
entender como máquinas, equipamentos e pessoas se comportam. Por meio
disso, torna-se possível gerar informações sobre tendências e padrões de
funcionamento, prevenção de problemas que podem vir a acontecer em
máquinas e processos produtivos e, também, propor uma reestruturação
desses processos visando uma maior produtividade e eficiência. Além disso,
Alexandre Ramos,
Diretor Executivo da Allexo também possibilita a gestão de gasto de energia, água e gás. A plataforma foi
construída com o conceito de ser um grande centro de gestão de controle.

Para esse controle, oferecemos para o cliente um aplicativo mobile de


forma que ele receba informações sobre máquinas e equipamentos e consiga,
assim, monitorar em tempo real esses dados para o auxílio na tomada de
decisão de forma precisa e rápida, podendo inclusive, realizar telecomandos
para o processo.

35
break
A INDÚSTRIA DO
FUTURO

REALIZAÇÃO:

36
ENTRE_
VISTA
Qual importância vocês atribuem ao conceito de
IoT, unido à tecnologia de sensorização?
Hoje a Vedacit ainda é uma empresa de produto. No
aspecto de tecnologia e servitização, vemos a
necessidade de também passar a oferecer soluções,
e IoT e sensores nos facilitariam essa evolução, de
poder oferecer uma solução tanto com uma
abordagem preventiva, como de pós-venda. Como
lidamos com impermeabilização e vendemos Marcos Bicudo, CEO da Vedacit
produto para isso, seria muito interessante vender
um serviço de monitoramento, por exemplo, de Como a Vedacit tem se preparado para esse
estrutura de telhados, coberturas. Por meio de movimento de Indústria 4.0?
sensorização, vemos como possibilidade um serviço Toda essa evolução tecnológica exige uma cultura
de pós-venda e de manutenção de toda essa parte organizacional aberta à inovação, e as pessoas
de cobertura, para oferecer não apenas os produtos, precisam ser receptivas, abertas ao novo. Até mais
mas monitoramento preventivo de um possível importante que a tecnologia em si é o perfil de
problema de umidade e infiltração. A Vedacit vê IoT pessoas e o perfil de organização preparada para
como uma possibilidade de ampliar a proposta de receber qualquer tipo de inovação, de forma que
valor, oferecendo serviços adjacentes à proposta de busquem o estímulo de inovar, da melhoria
valor original e, com isso, se diferenciar em relação à contínua, de atuar como donos do negócio, de
concorrência, satisfazendo melhor as necessidades propor novas soluções. IoT, inteligência artificial,
do usuário. realidade aumentada, já existem. É necessária a
visão de alcançar mais pessoas, maximizar as horas
Como o IoT poderia resolver dores na indústria? treinadas, com investimentos mais baixos.
Tanto na indústria da construção civil quanto no
canteiro de obras, é possível se utilizar de tecnologia Hoje a Vedacit trabalha com tecnologias
para transformar o negócio. Na indústria, por consideradas 4.0?
exemplo, é a verificação de armazéns, a Ainda é uma atuação incipiente. Estamos no
movimentação de produtos, o comportamento da processo para nos tornarmos mais ágeis, mais
mão de obra e de equipamentos. São muitas abertos, mais inovadores, não só em questão de
aplicações possíveis para melhorar a eficiência modelo de negócio, mas em todos os processos.
produtiva, o uso de recursos, que é algo que até Desde capturar um pedido junto ao cliente, até o
então a gente sequer imaginava. Trata-se de uma fulfillment do pedido, entregar e coletar; tudo isso
aplicação que também pode trazer eficiência para o sempre foi muito manual. É uma evolução geral
canteiro de obra, até mais do que na indústria da em processos internos, trazendo muita tecnologia.
construção civil. Hoje o canteiro de obras é muito Em toda a parte de eficiência de processo, de
ineficiente, gera muitos resíduos, um mundo ainda automação, de informatização, a Vedacit está
muito analógico. O conceito de Internet das Coisas avançando muito. Ainda é uma fase de
é uma das principais verticais na nossa matriz de modelagem para essa nova etapa de servitização,
inovação. Inovação. Os dados são o novo petróleo. embora estejamos avançando muito rápido. Para
Quem não tiver dado, não tem futuro. nós, é quase higiênico, modo de sobrevivência.

37
Indústria do futuro
Um primeiro olhar para o futuro da indústria
4.0 no Brasil

Discutir o futuro da indústria no Brasil e quais portas serão


abertas pelo mercado para o avanço de novas tecnologias no
parque industrial brasileiro é especialmente desafiante quando
pensamos, por exemplo, que muito ainda precisa ser feito em prol
da digitalização da indústria nacional e para um melhor
entendimento do conceito de indústria 4.0.

Ao longo das entrevistas realizadas com especialistas para a


construção desta etapa de nossa pesquisa, foi possível constatar,
dentre outras questões, que em determinados segmentos, a
indústria ainda dá os primeiros passos em matéria de adoção de
processos mais inovadores, e os líderes empresariais ainda têm
Diante de uma variedade
dificuldades em efetivar planos de ação para uma implementação cada vez maior de novas
efetiva da indústria 4.0. Em relação a este segundo aspecto, vale tecnologias, os líderes
reforçar, o Brasil não parece muito atrás do restante do mundo. reconhecem que têm
muitas opções para
Conforme revela um levantamento de 2019 da Harvard
escolher e, em alguns casos,
Business Review, sobre a também chamada 4ª revolução industrial
"os executivos estão lutando para desenvolver estratégias eficazes carecem da visão
nos mercados em rápida mudança de hoje. Diante de uma estratégica para orientar
variedade cada vez maior de novas tecnologias, os líderes seus esforços
reconhecem que têm muitas opções para escolher e, em alguns
casos, carecem da visão estratégica para orientar seus esforços". O
estudo contou com a participação de executivos de 19 países e
apontou ainda que apenas 47% dos líderes empresariais acreditam
que seus esforços são suficientes para uma implementação efetiva
da indústria 4.0 em seus negócios.

Dentro deste contexto, na visão de Anne Priscila Litaiff,


autora do índice de maturidade em indústria 4.0 do SENAI,
coordenadora do MBI (Master in Business Innovation) em indústria
avançada e especialista em inovação da FIESC, para que os líderes Apenas 47%
da indústria brasileira abram caminhos para as novas tecnologias e
para a construção do futuro da indústria 4.0 no país, é preciso que dos líderes empresariais
haja tanto um esforço para a padronização e otimização dos acreditam que seus
processos, dos dados e a interoperabilidade entre sistemas, como esforços são suficientes
um movimento de conscientização e formação educacional por para uma implementação
parte dos gestores.
efetiva da indústria 4.0 em
seus negócios
"O conceito de Indústria 4.0 tem como grande objetivo a
tomada de decisão baseada em dados para que as empresas se
tornem mais ágeis e assertivas, só que, falando da manufatura das
empresas, se você não tiver processos padronizados, você não vai
conseguir entender o que precisará digitalizar e medir, porque você

38
não tem histórico. Então, antes de mais nada, precisamos de sistemas padronizados baseados nos
modelos internacionais. Além disso, os gestores têm de se empoderar dos métodos de otimização,
das novas tecnologias, e entender o quanto isso é importante e pode gerar melhores resultados
dentro das fábricas, seja por meio de cursos, consultoria, inclusive, o próprio SENAI oferece
programas como o Indústria mais produtiva, que disponibiliza o apoio de consultores para a
implantação de ferramentas de Manufatura Enxuta, com objetivo de otimizar o processo produtivo
e aumentar a produtividade das empresas, bem como de cursos de formação especializados na
indústria 4.0", explica Litaiff.

A formação educacional dos gestores, aliás, é um grande ponto a ser superado dentro deste
cenário de mudança da indústria brasileira e global. Segundo um estudo da Deloitte com
executivos do país e de outras 18 nações, apenas 28% dos líderes da indústria nacional acreditam
que o sistema educacional brasileiro prepara os profissionais de modo satisfatório para atuarem no
novo ambiente industrial que se está construindo.

Mesmo diante deste inegável desafio educacional, o fato é que os investimentos em novas
tecnologias têm crescido na indústria brasileira. De acordo com uma pesquisa da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), do início de 2016 até o início de 2018, o montante de
investimentos em tecnologias digitais na indústria cresceu 10 pontos percentuais, passando de 63%
para 73%, sendo que os principais focos desses investimentos estavam relacionados com processos
produtivos e, em segundo lugar, desenvolvimento de novos produtos. Além disso, já em 2018, 48%
das grandes empresas assumiram a intenção de investir em soluções 4.0.

Tais investimentos podem ser um reflexo de que, apesar dos obstáculos educacionais e
culturais, há um caminho sendo traçado no Brasil para o desenvolvimento da indústria 4.0 no país e
mesmo um olhar para as tecnologias que irão construir o futuro de nosso parque industrial. Carlos
Paiola, sócio e diretor comercial na Aquarius Software e professor do curso de Indústria 4.0:
Conceito, Método e Aplicação Prática na Fundação Vanzolini, expõe uma visão que vai ao encontro
desta perspectiva, ressaltando que o Brasil está construindo uma identidade industrial coerente
com nossa realidade.

"Apesar da iniciativa regional brasileira ter começado com cerca de 2 anos de atraso com
relação à alemã Industrie 4.0, acredito que conseguimos obter um bom nível de maturidade.
Aprendemos bastante com os acertos – e também com os erros – das iniciativas de outros países
que começaram antes de nós, como os EUA e a própria Alemanha. Já temos muitas indústrias com
projetos e implantações reais de Indústria 4.0 no país, fazendo uso de seus resultados há meses ou
até mesmo anos. Creio também que o Brasil conseguiu encontrar a sua “identidade industrial”,
dando um direcionamento adequado aos seus esforços e acelerando a obtenção de resultados em
alguns segmentos chave, como o agroindustrial, por exemplo", comenta Paiola.

Pensando no desenvolvimento da indústria 4.0 no país, merece destaque, por exemplo, a


movimentação de grandes empresas como a Suvinil-BASF. Ricardo Gazmenga, diretor de
operações da companhia no Brasil, explica alguns dos desafios e o processo de transformação
iniciado pela Suvinil-BASF nos últimos anos.

"A indústria 4.0 é um caminho sem retorno e as empresas têm de se adequar a este novo
cenário. Estamos falando, verdadeiramente, de uma nova etapa da revolução industrial. Neste
sentido, tenho visto que há um movimento, por parte da indústria brasileira, em busca de se
adaptar a este novo contexto, e a BASF é uma das empresas que está inserida – sobretudo nos
últimos anos – neste movimento de transformação de uma forma bastante forte. No final do ano
passado (2018), por exemplo, quando foi revista toda a estratégia global da empresa, a digitalização
se tornou um dos pilares centrais da estratégia e foi criada uma estrutura global que nos fornece
toda a parte de suporte para a implementação de novas tecnologias, além de estar focada em fazer
conexões com empresas de tecnologia e startups, para que todas as fábricas e plantas tenham um

39
desenvolvimento efetivo em direção a indústria 4.0. Quando olhamos para nossa fábrica, temos
visto também uma mudança cultural, e o acompanhamento e implementação de soluções de
realidade virtual, aumentada, customização de processos e integração de dados", analisa
Gazmenga.

Levando em conta este cenário de transformação, analisar as tecnologias que poderão se


fortalecer, de modo mais efetivo, na realidade da indústria brasileira, é uma questão importante e,
para tanto, destacamos três eixos tecnológicos principais, com base na discussão com especialistas
do mercado e análise de outros materiais especializados do Brasil e do mundo. São eles: a
inteligência artificial e suas diversas aplicações na indústria; os avanços nas tecnologias de
customização; além das possibilidades apresentadas pelas soluções de Realidade Virtual e
Realidade Aumentada.

No âmbito da Inteligência Artificial, é interessante observar que, segundo o report Industry


4.0: Challenges and solutions for the digital transformation and use of exponential technologies
(Indústria 4.0: Desafios e soluções para a transformação digital e o uso de tecnologias
exponenciais), da Deloitte, a Inteligência Artificial (em conjunto com outras tecnologias como os
sensores e uma manufatura robotizada) tem "o potencial de aumentar a autonomia, acelerar a
individualização" na indústria, ao passo que o estudo considera a IA como uma das tecnologias
capazes de "mudar radicalmente os processos industriais, os tornando mais rápidos e flexíveis".

Não à toa, em um levantamento da PwC lançado em 2019, 58% dos executivos consultados
no estudo apontam que a integração de analytics com inteligência artificial é uma de suas três
principais prioridades, tendo em vista a obtenção de insights de negócio, ao passo que 36% já estão
integrando dados advindos de soluções IoT com sistemas de inteligência artificial em suas
empresas.

Para Anne Priscila Trein Litaiff, do SENAI de Santa Catarina, "a inteligência artificial está em
plena expansão, ainda mais com a computação quântica se desenvolvendo a passos largos. A
inteligência artificial vai transformar os sistemas de produção e, muitas vezes, ela mesma vai tomar
decisões a partir da análise de um grande volume de dados, e tornando essa decisão mais precisa e
mais ágil". No entanto, Litaiff frisa que, para extrair todo o potencial de novas tecnologias como as
soluções de IA, é preciso um planejamento estratégico para extração de dados fabris.

"As indústrias precisam, neste sentido, criar os dados, conectá-los de alguma forma. Como
você consegue dados das fábricas? Por meio de sensores, mas não adianta espalhar sensores pela
fábrica inteira, você precisa saber o que está buscando medir, de modo estratégico, organizado e
inteligente. Quanto mais rápido e mais organizados esse dados chegam para o tomador de decisão,
maior é o valor agregado para a indústria", aponta a coordenadora do MBI em indústria avançada
do SENAI/SC.

Por sua vez, no capítulo do estudo destinado para as tecnologias de customização,


abriremos espaço para a análise de startups brasileiras com projetos consolidados no setor, bem
como, para uma visão objetiva sobre os desafios deste mercado ao longo dos próximos anos.

O investimento em tecnologias
digitais na indústria cresceu 10
pontos percentuais, passando de
63% para 73% 48%
entre 2016 e 2018 das grandes empresas
brasileiras entrevistadas em
Os principais focos desses um estudo assumiram a
investimentos foram processos intenção de investir em
produtivos e, desenvolvimento de soluções 4.0
novos produtos

40
Para entendimento inicial, vale citar que, as principais aplicações para as impressoras 3D na
indústria global, atualmente, envolvem a prototipagem (55%), produção (43%) e provas de conceito
(41%), segundo dados divulgados pela Forbes. Entretanto, como veremos mais a frente, o potencial
deste mercado pode ter impactos em segmentos que vão da construção civil até a indústria
médica.

O Professor e Coordenador da Pós-Graduação em Engenharia Industrial 4.0 na


Universidade Federal do Paraná, Pablo Valle, ressalta a importância da pesquisa para que o
mercado de impressão 3D se consolide, de fato, no Brasil. "As expectativas por parte das indústrias
do que essas novas tecnologias podem proporcionar são enormes. Por exemplo, pode-se dizer que
a manufatura aditiva ou impressão 3D está para a área industrial assim como o carro autônomo
está para as cidades inteligentes. Ou seja: sabemos que é o horizonte a ser perseguido e, por
conseguinte, temos uma jornada intensa e importante nessa direção. Investimento em pesquisa
básica e, sobretudo, aplicada é a chave para acelerar essa transição", explica Valle, reforçando que, o
grande desafio para a inserção das novas tecnologias na indústria brasileira envolve,
fundamentalmente, "uma transformação da cultura da organização, do modo de pensar dos
gestores e um maior entendimento por parte da própria geração de profissionais que hoje ocupam
cargos importantes do propósito que almejamos. Quer dizer, no fundo, a grande revolução é
geracional e nos costumes".

Por fim, analisaremos o avanço das tecnologias de realidade aumentada e virtual na


indústria que, como veremos mais a frente, pode, por exemplo, auxiliar gestores nos processos de
treinamento e capacitação de novos profissionais.

Mas o potencial das tecnologias de RA e RV na indústria vai além. Em um report sobre as


fábricas do futuro, o CB Insights elenca algumas das capacidades da realidade aumentada e virtual
para o setor industrial, incluindo uma participação mais efetiva "nos processos de fabricação
futuros", nos quais, RA e RV irão desempenhar "um papel maior em P&D e efetivamente abstrair o
PC de mesa para designers industriais, possivelmente eliminando a necessidade de modelos físicos
impressos", além de serem tecnologias capazes de "aumentar as habilidades do trabalhador", por
meio da comunicação de indicadores de desempenho, atribuição de trabalho e uso da visão
computacional para "mapear as peças de uma máquina, como um manual visual em tempo real".

Não à toa, a realidade aumentada e virtual tem aberto oportunidades para startups no
ambiente industrial país. Ricardo Gazmenga explica algumas das áreas que a BASF tem observado
com mais atenção, ressaltando, no entanto, que a geração de valor é crucial para que os
investimentos sejam realizados com assertividade.

"Aqui na BASF, acreditamos que uma área com muitas oportunidades de inovação é a de
engenharia, manutenção corretiva, preventiva e preditiva, interligando soluções de RA e RV com
IoT; a área de segurança e meio ambiente também oferece oportunidades, assim como a própria
linha de produção. Mas, vale salientar que temos o cuidado de não seguir uma tendência de
inovação apenas porque é moda. Adotamos sempre uma visão crítica para perceber as soluções
que, de fato, podem gerar valor para nossas operações", conclui o diretor de operações da
Suvinil-BASF no Brasil.

Durante a análise do futuro da indústria 4.0 no Brasil e das novas tecnologias que podem
consolidar a competitividade do país nesse cenário, veremos que, ao mesmo tempo em que os
desafios de maturidade existem e precisam ser superados, novas oportunidades surgem, para
startups e empresas atentas aos ventos da inovação, que podem, com isso, conquistar importantes
diferenciais neste momento de retomada da indústria brasileira. "Naturalmente o Brasil tem muito
por fazer em termos de desenvolvimento tecnológico, o acervo de máquinas do nosso parque fabril
tem em média 2 décadas e a indústria passa por tempos de transformação acelerada. Contudo, os
profissionais brasileiros são altamente engajados e têm conseguido superar os obstáculos com
trabalho árduo e competente”, conclui Valle.

41
ENTRE_
VISTA
Na sua visão, quais as principais tendências
tecnológicas da indústria 4.0 que podem se
fortalecer no Brasil ao longo dos próximos anos?
Enxergo algumas tendências principais na
indústria, incluindo, por exemplo: o monitoramento
online de equipamentos utilizando principalmente
Internet das Coisas; a análise preditiva de falhas de
equipamentos online; soluções de inteligência
artificial; ferramentas de gestão online das linhas de Klaus Gutierrez De Carli, Head de Operações
Industriais na Vedacit-Baumgart
produção (andons com posição de estoques,
kanbans, sequenciamento de produção, setups,
OEE e manutenções); inventários em tempo real tradicionais. O campo é vasto para essa exploração
dos armazéns e WIP (Work in Progress); setores e estamos atrasados por não termos o payback dos
produtivos sem intervenção humana; manutenção investimentos. Além disso, no campo de aplicação,
remota no cliente; substituição de mão de obra ainda são tímidas as novidades e não se enxerga
humana por robôs e sistemas de medição online. um interesse agudo por parte da indústria. De
nossa parte, o foco é contribuir mostrando as
Quais as iniciativas da Vedacit no âmbito da melhorias advindas de se investir em metodologias
indústria 4.0? modernas e conceitos inovadores dentro do
Nossas iniciativas industriais envolvem desde o uso contexto da indústria.
de sistemas informatizados via tablet para
manutenções com informação em tempo real até o Como é possível, na sua visão, facilitar a entrada
controle de alguns equipamentos por de novas tecnologias na indústria brasileira?
monitoramento online do nível de tanques e células Através de workshops e feiras de tecnologia
de carga, por exemplo. voltadas para a indústria brasileira. Startups
podem apontar um caminho e eventos mais
Quais as oportunidades de inovação e de estruturados também. Hoje, no geral, as feiras de
parcerias com startups dentro da Vedacit? tecnologia estão bem descentralizadas e vazias no
Pensando em oportunidades dentro da Vedacit, Brasil. Precisamos também de uma melhor
startups poderão atuar no aperfeiçoamento dos competitividade nos preços dos projetos e
nossos controles de gestão, com ênfase em soluções por parte dos fornecedores.
gerenciamento de linhas de produção e gestão de
estoques. Além disso, no futuro, estamos estudando Acredita que a crise econômica que afetou a
abrir possibilidades para possíveis automações nos indústria brasileira nos últimos anos atrasou o
âmbitos de fabricação e embalagem. processo de adesão do Brasil à indústria 4.0?
Sim, atrasou muito, sobretudo porque diversos
Qual a sua análise sobre a difusão da inovação no investimentos em tecnologia, que tem payback
mercado de construção civil brasileiro? longo, foram postergados devido à crise. É possível
O mercado de construção civil, em sua maior parte, reverter este cenário com tecnologias de baixo
ainda não passou pela revolução dos conceitos de custo que oferecem retorno rápido, do ponto de
indústria 4.0 e atua com métodos industriais vista financeiro e de produtividade.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
42
Aprofundamento
Um terreno de desafios e
oportunidades: IA e a construção de
um novo modelo industrial no Brasil
Quando acompanhamos o cenário macro das tendências
tecnológicas, não é difícil perceber o quanto a inteligência artificial
tem sido uma força propulsora de soluções em diferentes segmentos
econômicos.

Pensando em termos de valor de mercado, o mercado de


inteligência artificial deve alcançar um crescimento médio, até 2025,
superior a 36%, partindo de US$ 16 bilhões em 2017 para US$ 190,6
bilhões ao fim do período. Os números são de estudo da consultoria US$ 190,6 bilhões
Markets and Markets e indicam, sobretudo, o quanto esta tecnologia deve ser o valor investido
ainda pode evoluir e se consolidar no ambiente de negócios mundialmente no mercado de
contemporâneo. inteligência artificial até 2025,
representando um crescimento
Tendo em vista o potencial deste mercado, é interessante de 36% em relação à 2017
observar quais os segmentos que mais têm direcionado esforços para
a aplicação de soluções de IA. Em relatório divulgado em 2019 pela
IDC, a liderança dos investimentos em inteligência artificial é do
varejo, seguido dos bancos, indústria e dos provedores de saúde. Por
sua vez, um levantamento da Allied Market Research destaca as
indústrias automotiva, de transportes, de healthcare e de agro (em
conjunto com outras verticais como varejo, marketing e TI), como os
principais eixos de investimentos do mercado de inteligência artificial
no mundo dentro do período de 2018 a 2025.

Diante deste contexto, em que o segmento industrial, em


suas mais diversas verticais, aparece como um dos líderes na jornada
de investimentos em inteligência artificial no mundo, é fundamental
analisarmos até que ponto esta tendência pode vir a se fortalecer no
Brasil e a se tornar uma das principais bases do modelo de indústria
4.0 nacional. A liderança dos investimentos
em inteligência artificial é do
Para o sócio e diretor comercial na Aquarius Software e varejo, seguido dos bancos,
professor do curso de Indústria 4.0 na Fundação Vanzolini, Carlos indústria e dos provedores de
Paiola, a inteligência artificial deve assumir um papel decisivo no saúde
desenvolvimento industrial ao longo dos próximos anos e na própria
consolidação dos conceitos de indústria 4.0 no Brasil.
Os principais eixos de
investimentos do mercado
"O mercado de IA é chave para o desenvolvimento industrial
de inteligência artificial no
ao longo dos próximos anos. Algumas pessoas podem argumentar mundo dentro do período de
que a inteligência artificial vem da década de 50, que não é algo 2018 a 2025 devem ser as
novo. Eles têm razão. O que não estão levando em conta, no entanto, indústrias automotiva, de
é a incrível evolução computacional que tivemos nos últimos anos, transportes, de healthcare e
com hardwares cada vez menores, mais potentes e de menor custo, de agro (em conjunto com
aliados ao IoT e à gigantesca quantidade de dados disponíveis que, outras verticais como varejo,
aaaaaaaaaaaa marketing e TI)

43
até pouco tempo atrás, era inviável de ser coletada, processada e armazenada no volume
necessário para trazer resultados confiáveis e rápidos na aplicação de algoritmos de IA. Esse é o
ponto: a IA e as demandas industriais para sua utilização sempre existiram, mas, finalmente,
atingimos um nível tecnológico que nos permite a aplicação a partir de dados confiáveis,
amostrados na frequência necessária e em quantidades que garantem um resultado fidedigno e
rápido", explica Paiola.

E o ambiente de negócios brasileiro começa a dar alguns sinais positivos na direção dos
investimentos em inteligência artificial. Segundo dados do Sebrae divulgados pela ABDI (Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial), foram projetados gastos de US$ 182 milhões em soluções
de IA só em 2018, além disso, apenas para efeito de contextualização, o Brasil é o segundo país que
mais utiliza o Watson, plataforma de inteligência artificial e serviços cognitivos da IBM, de acordo
com reportagem da própria IBM divulgada no Canaltech e a própria IBM anunciou investimentos
de R$ 20 milhões no Brasil para a criação de um centro de inteligência artificial, em conjunto com a
FAPESP (Fundação de amparo à pesquisa do estado de São Paulo).

Apesar disso, ainda há muito espaço para expansão das soluções de IA na indústria
brasileira. Uma pesquisa da CNI divulgada no portal Investimentos & Notícias revelou, por exemplo,
que 42% das empresas desconhece o potencial para o aumento de sua competitividade, ao passo
que, no momento, somente 17% dos entrevistados declarou ter como prioridade os investimentos
em sistemas inteligentes de gestão e inteligência artificial. Um dos possíveis fatores para este
cenário, como já frisado por especialistas ao longo deste estudo, consiste na necessidade de
formação e de um aprofundamento, por parte dos gestores de fábricas e dos líderes atuantes na
indústria nacional, nas novas demandas da indústria 4.0.

US$ 182 milhões 42%


foram investidos em das empresas desconhece o
inteligência artificial no potencial do uso de IA para o
Brasil, em 2018 aumento de sua competitividade

Além disso, Brasil é o Somente 17% dos entrevistados


segundo país que mais declarou ter como prioridade os
utiliza o Watson, plataforma investimentos em sistemas
de inteligência artificial e inteligentes de gestão e
serviços cognitivos da IBM inteligência artificial

Neste sentido, é importante esclarecermos, dentre outros pontos, quais as possíveis


aplicações de IA e os respectivos benefícios que tais tecnologias podem trazer para o segmento
industrial e para o fortalecimento da indústria 4.0 no Brasil. O próprio artigo do portal
Investimentos & Notícias, citado no parágrafo anterior, destaca aplicações de IA na manutenção
preditiva – fornecendo, por exemplo, avisos automatizados para os gestores antes da quebra de
uma máquina –, na integração com o trabalho humano e na otimização de rotas e agendamento
de serviços técnicos. Já a TOTVS, em artigo para o seu blog corporativo, destaca como a inteligência
artificial pode ser utilizada em processos de simulação, por meio de integrações com IoT, além de
ser fundamental na robotização, aprendizado de máquinas e na já citada manutenção preditiva.

Carlos Paiola reforça a utilização da inteligência artificial no âmbito da manutenção


preditiva de plantas industriais. "Um ótimo exemplo de aplicação industrial de IA é o uso de
machine learning para a manutenção preditiva dos principais ativos de uma planta. Baseado em
dados históricos de processo, o algoritmo permite a criação de um modelo virtual – uma espécie de
gêmeo digital (Digital Twin) – do equipamento, que é comparado em tempo real com as
informações obtidas diretamente dos sensores instalados nele. Quando há a verificação de uma
tendência ou “assinatura” que leve a uma futura falha prevista pelo modelo, o sistema gera um
alarme que leva a equipe de manutenção de maneira antecipada à correção do desvio", conclui o
sócio e diretor comercial na Aquarius Software e professor da Fundação Vanzolini.

44
Sobre os processos de robotização, aliás, merece destaque o fato de que o Brasil conta com
nove robôs para cada 10 mil trabalhadores nas fábricas, segundo dados da Federação Internacional
de Robótica (IFR - na sigla internacional). Embora o número ainda seja pequeno quando
comparado com outras grandes economias (a Coreia do Sul, líder desse ranking, conta com 437
robôs para cada 10 mil trabalhadores), o movimento de robotização vem aumentando no país.
Ainda segundo a pesquisa, em 2019, o Brasil deve fechar o ano com mais 3,5 mil robôs industriais –
mais que o dobro dos 1,4 mil adquiridos em 2015, por exemplo.

Diante deste cenário e da evolução tecnológica do mercado, há uma preocupação natural


dos trabalhadores quanto a substituição da mão de obra humana por soluções de IA e máquinas
mais eficientes. Todavia, estudos recentes indicam que, na verdade, o que está em curso é uma
nova dinâmica do mercado de trabalho impulsionada pela inteligência artificial que exige
adaptações, mas abre, também, novas oportunidades.

Para a Gartner, por exemplo, ao passo que postos de trabalho mais operacionais vão ser
substituídos, outras funções vão ser criadas e exigirão do trabalhador do futuro habilidades de
interpretação, análise e os chamados soft skills. De acordo com dados recentes da consultoria,
enquanto 1,8 milhão de vagas devem ser substituídas por IA e novas tecnologias a partir de 2020,
outras 2,3 milhões serão criadas graças, justamente, ao movimento de transformação do ambiente
de negócios global.

E os benefícios que podem ser extraídos da inteligência artificial, na percepção de


lideranças do mercado, são significativos. Uma pesquisa da Cognizant com empresas dos Estados
Unidos e da Europa aponta, por exemplo, que 45% das organizações com crescimento acima da
média em seus segmentos ligam a inteligência artificial, diretamente, ao sucesso de seus negócios,
enquanto 33% preveem maior eficiência e redução de custos graças a IA. Uma matéria da Forbes
de 2017, por sua vez, aponta que 84% dos entrevistados acredita que a inteligência artificial pode
trazer ou fortalecer diferenciais competitivos em relação a concorrência, enquanto um
levantamento da Business Wire indica que, para 80% dos gestores e líderes de tecnologia, a IA vai
contribuir para um aumento de produtividade e para a criação de novos empregos.

Tendo em vista esta percepção do mercado, muitas oportunidades se abrem para startups
que trabalham com IA. No Brasil, a MVISIA utiliza inteligência artificial para desenvolver câmeras
inteligentes focadas no controle de processos industriais.

"Inteligência Artificial, IoT e data analytics fazem parte de nossa infraestrutura tecnológica.
De modo simplificado, a gente desenvolveu uma câmera com um computador acoplado que roda
algoritmos de inteligência artificial para que a câmera possa aprender a controlar um determinado
processo na indústria. Ela funciona como um inspetor robótico que acompanha a linha de
produção. Caso haja algum problema, a câmera se comunica com o controlador central, podendo
travar a esteira ou emitir um alerta sonoro, dando, enfim, um indicativo do problema. IoT faz parte
de nossa infraestrutura porque nossa câmera pode se comunicar com outros equipamentos. IA,
porque trabalhamos com algoritmos em visão computacional. E data analytics, porque analisamos
todos os dados de produção para gerar valor para o cliente", comenta Fernando Velloso, diretor
comercial da MVISIA. Fundada em 2012, a MVISIA conta com clientes como Unilever, Suzano, JBT,
IPEN, Nexa, Saint-Gobain e van Kampen.

Dentro deste cenário de oportunidades geradas pela indústria 4.0, no entanto, as startups
precisam ficar atentas a alguns desafios que envolvem desde o processo de transformação pelo
qual o setor industrial está passando até o desafio de imersão tecnológica das lideranças, que já
frisamos anteriormente. Além disso, um artigo da Grove Ventures, venture capital de Israel focada
em negócios de tecnologia em fase inicial, aponta algumas questões importantes para as startups
que desejam se fortalecer dentro da janela de oportunidades gerada pela indústria 4.0, como a
capacidade de focar nos problemas de um segmento específico, além da necessidade de se
preparar para longos ciclos de vendas.

45
Outro ponto importante para o qual as startups têm de se atentar é a capacidade de
atender aos níveis de segurança da informação exigidos pelas grandes empresas. Segundo uma
pesquisa da Accenture, por exemplo, 80% das organizações têm investidos em inovações digitais
para se prevenir de ataques cibernéticos, ao passo que, para 68% dos líderes empresariais
consultados no levantamento, o risco de tais ataques está crescendo ao longo dos últimos anos.
Neste sentido, entrevistados consultados para o presente estudo, apontaram que, graças a este
cenário, grandes empresas têm níveis de segurança muito elevados, e, nem sempre, as startups
conseguem se adequar a este contexto de cybersecurity.

Fernando Velloso, por sua vez, aponta a necessidade de um maior entendimento, por parte
das startups, da realidade da indústria brasileira e seus desafios de digitalização, sobretudo para
que estas empresas sejam capazes de lidar com um ambiente de inovação que, muitas vezes, se
encontra em estágio inicial. "Neste sentido, em muitos casos, essas startups esbarram em
problemas muito simples que ainda nem sempre estão sanados na indústria do país - problemas
de conectividade, acesso à rede, acesso a dados, intercomunicação entre máquinas, padrões de
comunicação, dentre outros desafios", analisa o diretor comercial da MVISIA.

Finalmente, sobre a questão dos ciclos de venda destacado pela Grove Ventures mais
acima, Vitor Tosetto, CEO da Pix Force, startup que fornece soluções de interpretação de imagens
baseadas em visão computacional, IA e machine learning, ressalta que "um grande desafio para as
startups é suportar o tempo dos processos de contratação de grandes indústrias. Normalmente
nosso ciclo de venda tem em torno de 3 meses. Todo este ciclo é sacrificante para o fluxo de caixa
de qualquer startup. Na minha opinião, para lidar com startups, as empresas precisam ser mais
ágeis durante o processo de contratação, pelo menos para as POCs (provas de conceito)”.

Apesar de todos os desafios listados aqui, Tosetto acredita que a indústria brasileira está
passando por um processo, cada vez maior, de abertura para a inovação. "É nítida a evolução da
indústria brasileira em busca de novas tecnologias. O indicador claro desta tendência é a
quantidade de startups e novas oportunidades que vimos surgir ao longo deste ano. As grandes
empresas estão cada vez mais abertas a escutar o que temos para oferecer e este movimento gera
um ciclo de oportunidades importante para o país", aponta Tosetto.

A Hekima é uma startup que une mineração de dados, computação


cognitiva e inteligência artificial para melhorar a tomada de decisões nas
empresas. Atua em diferentes indústrias e conta com clientes como
Gerdau, Vallourec e Saint-Gobain. Recentemente, foi adquirida pelo iFood.

Em sua infraestrutura tecnológica, a Autaza combina inteligência artificial


e visão computacional para processos de inspeção de qualidade na
indústria. Em maio de 2019, recebeu investimentos do Fundo Primatec e
conta com clientes como GM, Embraer e Opel.

Fundada em 2018, a Curiosity é uma startup alemã especializada em


auxiliar indústrias, por meio de inteligência artificial, a transformar
documentos não-estruturados em informação relevante para os seus
processos de manufatura. Participa do Programa Insurtech Europe
Program da Plug & Play.

A startup sueca fundada em 2016, Sentian, utiliza AI e machine learning


para detectar falhas em equipamentos e realizar manutenções preditivas
em grandes indústrias. A startup é uma das finalistas do Nordic Startup
Awards de 2019, nas categorias "Melhor Startup do Ano" e "Melhor Startup
de AI".

46
Aprofundamento
Um amanhã customizado: da manufatura
aditiva à "plataformização" da indústria

A busca por personalização é um dos fatores que,


inegavelmente, movimentam o ambiente de negócios
contemporâneo e que faz parte de um novo perfil de consumidor, o
qual anseia tanto por experiências de compra mais individualizadas
quanto por produtos desenvolvidos de modo customizado. Uma
pesquisa da Deloitte aponta, por exemplo, 36% dos consumidores
tem expresso interesse em comprar produtos e serviços
personalizados, enquanto 48% dos entrevistados estaria disposto a
aguardar um prazo de entrega mais longo em troca de um item
personalizado de acordo com suas demandas.

Como bem observa o levantamento da Deloitte, tal busca do


consumidor impulsiona, por consequência, um movimento, de
customização em massa capaz de gerar frutos extremamente 36%
positivos, uma vez que 1 em cada 5 consumidores estaria disposto a dos consumidores tem
pagar até 20% a mais por um produto personalizado, ao passo que expresso interesse em
22% dos mesmos consumidores concordaria em dividir seus dados comprar produtos e
em troca deste objetivo. serviços personalizados.

A discussão sobre customização em massa, a bem da


verdade, não é particularmente nova na indústria. Já no início da
década de 1990, publicações especializadas e livros como Mass
Customization: The New Frontier in Business Competition, do
pesquisador Joseph Pine, tratavam sobre o início das mudanças nos
modelos de produção em prol de uma maior satisfação das
necessidades e anseios de clientes. Todavia, com a escalada global
dos processos de digitalização industrial e o avanço de novas
tecnologias, o fato é que a customização em massa se torna, cada vez
mais, uma meta concretizável e, propriamente, um dos motores da
47 48%
dos consumidores estaria
indústria 4.0.
disposto a aguardar um prazo
de entrega mais longo em troca
Apenas para efeito de esclarecimento, o conceito de de um item personalizado com
customização em massa envolve, conforme explicado pelo professor suas demandas
Vitor Nardelli, pesquisador chefe do Instituto SENAI de Inovação em
Metalmecânica, para o portal A voz da indústria, "customização em
massa é a capacidade de ofertar produtos ou serviços personalizados,
que atendam às demandas individuais dos consumidores, mas que
podem ser produzidos e entregues com a eficiência da produção em
massa".

Pensando na realidade brasileira, Ricardo Gonçalves, diretor 1 em cada 5


de marketing e vendas da Pollux, multinacional brasileira de
estaria disposto a pagar
tecnologia industrial e referência em indústria 4.0, acredita que
alguns segmentos já estão mais avançados na tendência de
até 20% a mais por um
customização.
produto personalizado
"O desafio da indústria em relação a customização é produzir em larga escala os pedidos
personalizados. Dentro desse contexto, já existem exemplos de linhas de montagem e de
preparação de kits que recebem os pedidos dos clientes – nos sites das empresas – e preparam
exatamente conforme o desejo. Essa já é uma realidade tanto no setor automotivo como no setor
de alimentos. Este é um tipo de negócio que já está em crescimento acelerado, devido ao avanço
dos e-commerces", comenta o executivo.

Pensando no comércio virtual como um driver dos processos de customização, um artigo


recente do portal e-commerce Brasil destaca, dentre outros pontos, que os avanços tecnológicos na
indústria permitem que hoje, o mercado de personalização, antes restrito às camadas da população
de maior poder aquisitivo, fique mais próximo da realidade de grande parte dos consumidores.

Seguindo este enfoque de entendimento do perfil de consumo da indústria de


customização, uma pesquisa da YouGov divulgada em reportagem do portal especializado
IndustryWeek aponta que os maiores consumidores de produtos personalizados são os millennials,
que correspondem a cerca de 40% daqueles que têm interesse em adquirir produtos
personalizados. Ainda de acordo com a matéria, a mudança cultural, por parte da indústria, é um
dos principais desafios para que as companhias possam abraçar este conceito.

Por sua vez, é interessante analisarmos, do ponto de vista da inovação, quais as soluções e a
infraestrutura tecnológica que, no contexto da indústria 4.0, vem impulsionando a busca por
produtos customizados. Em matéria do portal Indústria 4.0, veículo especializado na difusão de
novas tecnologias industriais e produzido em conjunto pelo CIMM (Centro de Informação Metal
Mecânica) a Vertical Manufatura ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) e a ABII (Associação
Brasileira de Internet Industrial), é destacado que, a partir do uso de tecnologias habilitadoras
como, IoT (Internet industrial das coisas), Cloud Computing, Big Data, Realidade Aumentada,
Inteligência Artificial, algumas empresas do país já possuem os recursos necessários para a
produção customizada em série e que este novo momento da indústria permite que "o cliente seja
inserido na cadeia de produção de qualquer item que deseje personalizar". Já, a reportagem do
portal IndustryWeek, citada no parágrafo anterior, destaca o papel das impressoras 3D neste
contexto, destacando, em tradução livre, que o uso de impressão 3D, em conjunto ou não com
processos convencionais de manufatura, permite que os prazos de entrega nas indústrias sejam
reduzidos em até 80%.

US$ 42,9
bilhões
O uso de impressão 3D, em conjunto O mercado global das
ou não com processos convencionais impressoras 3D deve
de manufatura, permite que os atingir um valor de US$
prazos de entrega nas indústrias 42,9 bilhões, com
sejam reduzidos em até
23,3% crescimento médio de
80% 23,3% entre 2018-2025
2018-2025

Pensando, especificamente, no mercado de impressão 3D, é interessante analisarmos


alguns dados para que possamos dimensionar o papel desta tecnologia dentro da busca pela
customização em massa, bem como, outras possíveis aplicações das impressoras 3D dentro do
contexto industrial brasileiro.

Neste sentido, um levantamento da consultoria Markets and Markets aponta que, até 2025,
o mercado global das impressoras 3D deve atingir um valor de US$ 42,9 bilhões, com crescimento
médio de 23,3% (2018-2025). A consultoria indica ainda que, em 2018, este segmento atingiu US$ 9,9
bilhões de valor de mercado em 2018 e que, as principais tendências de aplicação desta tecnologia
envolvem o design e produção customizados, a sinterização a laser (processo de formação de
materiais sólidos) e a prototipação; com destaque para as possibilidades de aplicação nas indústrias
automotiva, eletrônica, de healthcare, energia e aeroespacial.

48
Por sua vez, o CB Insights destaca em um artigo que, o potencial de eficiência e o alto grau
de customização que as impressoras 3D trazem para a indústria fazem com que a tecnologia seja
aplicável dentro de uma ampla variedade de segmentos econômicos, como arquitetura e
construção; indústria alimentícia; indústria farmacêutica; setor automotivo e até mercados menos
conectados com a realidade industrial, como educação ou arte.

Já um estudo de 2016 da PwC focado no ambiente industrial dos Estados Unidos aponta
que mais de 71% das manufaturas americanas já utilizam impressoras 3D, majoritariamente nos
processos de prototipagem (31,4%), mas também na produção de produtos-finais (6,6%), além da
utilização para a construção de produtos que não podem ser produzidos por métodos industriais
tradicionais (2,5%). É curioso observar, ainda, que 17,4% das manufaturas estudadas se encontram
em etapa de estudo da tecnologia de impressão 3D, para determinar qual o melhor uso destes
equipamentos em suas realidades.

Levando em conta, especificamente, a realidade industrial brasileira, uma reportagem


recente da TOTVS publicada no portal A Voz da Indústria analisa que, embora a tendência de
impressão 3D ainda represente uma fatia modesta do mercado global (cerca de 2%), a expectativa é
de que cada vez mais empresas passem a utilizar esta tecnologia. A matéria cita, por exemplo, os
cases da fabricante de caminhões MAN, que reduziu de dois meses para algumas horas seu
processo de prototipagem por meio das impressoras 3D; e o caso da ThyssenKrupp, que produz
elevadores e utiliza a impressão 3D para a fabricação de peças sobressalentes.

Rodrigo Krug, CEO da Cliever, startup gaúcha fundada em 2012 que está presente em mais
de 2 mil indústrias do país de diversos portes e segmentos, destaca o papel das impressoras 3D na
tendência de modularização da indústria e a possibilidade de redução de custos e geração de valor
graças a esta tecnologia. "A customização, acredito, é o caminho que as tecnologias de impressão
3D irão seguir. Hoje, para você desenvolver um produto, o ferramental é tão caro, que se você não
tiver uma assertividade muito grande no produto, ele não se sustenta, não gera retornos. Neste
sentido, vejo, cada vez mais, os produtos sendo modularizados – teremos um produto base que, a
partir dele, será possível construir outros diferentes produtos e, na camada final, você consegue
aplicar a impressão 3D para adequar a demanda do cliente, tornando-os o mais sob medida
possível, tudo isso em menos tempo e com a possibilidade de produção de tiragens menores por
um custo competitivo. Afinal de contas, o grande desafio da indústria, no final do dia, é custo. E o
custo, muitas vezes, está ligado a tiragem dos produtos que, muitas vezes, não são viabilizados
porque a tiragem de venda vai ser baixa; então, a impressão 3D entra como uma tecnologia
agregadora neste contexto", explica Krug.

Sobre a questão da redução de custos em produções de menor tiragem, o gerente para o


Brasil da fabricante americana de impressoras 3D Stratasys destaca, em matéria da revista
Pesquisa, da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que os ganhos
podem ser significativos em produções inferiores a 2 mil peças. Neste patamar, segundo o
executivo, a redução de custos pode chegar a 60%. A matéria analisa ainda um case da GE Aviation,
que utilizou a tecnologia de impressão 3D para a produção de peças de motores de helicóptero,
conseguindo ganhos na redução de tempo, peso da peças, tudo isso obtendo um corte de custos
de 60% na produção.

Outro benefício da tendência de customização impulsionada pelas impressoras 3D e pela


própria expansão da indústria 4.0 envolve um melhor aproveitamento do uso de máquinas.
Segundo dados divulgados por reportagem da agência Aberdeen, por exemplo, empresas que
implementaram alguma forma de personalização obtiveram economia de 62% relacionada ao corte
no tempo de inatividade de produção.

Rodrigo Krug destaca ainda uma maior flexibilidade gerada pela manufatura aditiva
(processo de manufatura no qual se inserem as impressoras 3D e que, de modo simplificado,
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

49
consiste na sobreposição de materiais para a produção de objetos, tendo como base arquivos
digitais), ressaltando, entretanto, o desafio de fazer com que as pequenas e médias indústrias
possam usufruir dos benefícios desta tecnologia.

"A grande sacada da manufatura aditiva é a possibilidade de criar designs sem limitações
de acordo com os materiais, formas, etc. Além disso, estamos falando de um processo digital. Ou
seja: seu projeto é um arquivo digital que circula na nuvem, então você pode fazer a impressão dele
em qualquer lugar, tendo maior flexibilidade e dinamismo em sua produção. O grande desafio para
o nosso mercado é fazer com que a pequena e média indústria seja capaz de aplicar a impressão
3D nos seus processos, em seu dia a dia, ou até mesmo, na criação de peças únicas", conclui Krug.
Desde o fim de 2018 sediada em Belo Horizonte, a Cliever recebeu investimentos de R$ 3 milhões
da Confrapar, gestora de fundos que tem movimentado o mercado de manufatura aditiva no Brasil,
já tendo investido, por exemplo, na Compass 3D, especializada no desenvolvimento de soluções
tecnológicas para o mercado de odontologia.

Bruno Gellert, Fundador & CEO da Peerdustry e Coordenador do Grupo de Trabalho em


Manufatura Avançada da ABIMAQ, concorda que um dos desafios do ambiente industrial brasileiro
é a inserção das pequenas e médias manufaturas no contexto 4.0. Para tanto, Gellert ressalta, por
exemplo, os esforços da ABIMAQ que incluem desde um caráter mais educacional até a inserção do
tema no debate público brasileiro.

"Na ABIMAQ, começamos a ver o tema da indústria 4.0 com mais atenção em 2014, quando
criamos o grupo de trabalho em manufatura avançada visando reunir os players desse mercado e
começar a discutir como implementar a indústria 4.0 no Brasil. Uma vez estruturado, levamos o
conceito em câmaras setoriais da ABIMAQ e trouxemos empresas que estavam desenvolvendo
uma metodologia de implementação da indústria 4.0 para compartilhar o roadmap delas com
associados. É um aprendizado estratégico conjunto. Além disso, toda presença da ABIMAQ defende
muito essa bandeira, conseguimos voz para interagir, apoiamos a frente parlamentar de máquinas
e equipamentos, discutimos com outras entidades. Nossa função é levantar o tema, buscar o
consenso e apoiar as indústrias em seu movimento de abertura para as novas tecnologias", sintetiza
Gellert.
71% das manufaturas americanas
já utilizam impressoras 3D, 17,4%
majoritariamente nos processos de
das manufaturas se
prototipagem (31,4%), mas também
encontram em etapa de
na produção de produtos-finais
estudo do uso de
(6,6%), além da utilização para a
equipamentos de
construção de produtos que não
impressão 3D em suas
podem ser produzidos por
realidades
métodos industriais tradicionais
(2,5%)

Com uma análise macro do mercado de manufatura aditiva, Gellert aponta que todos os
ganhos propiciados pela impressão 3D estão inseridos em um contexto de digitalização da
indústria global que começa a gerar efeitos no Brasil.

"Eu acredito que a impressora 3D vai, ao longo dos próximos anos, impulsionar os processos
de fabricação no Brasil, tornando-os mais rápidos e mais baratos. O que já vemos são setores de
manutenção com impressoras 3D que estão começando a produzir peças para que não haja a
necessidade de se parar uma linha de produção. Isso já está acontecendo na maioria das grandes
empresas. Quando falamos em impressoras 3D, estamos entrando na digitalização da manufatura,
na qual você desenha, prototipa, imprime e fábrica por meio de arquivos digitais. A usinagem, que é
a manufatura subtrativa – ela retira material – e a impressão 3D, que é a manufatura aditiva, todas
juntas, de forma digital, vão ser as principais máquinas de manufatura do futuro e, depois disso, as
máquinas de manipulação, que são máquinas para a montagem de produtos, irão propiciar um
ambiente industrial mais flexível", comenta Gellert.

50
Seguindo esta tendência de flexibilização e digitalização da indústria, uma das premissas
da Peerdustry é a ideia de manufatura compartilhada e "plataformização" da indústria. Por meio de
um marketplace, a startup une fábricas com máquinas ociosas a empresas que necessitam de
maquinário para produção. Com isso, a Peerdustry reduz a necessidade de investimentos em
parques industriais, sobretudo para produções específicas ou em pequenas tiragens, além de
otimizar o processo orçamentário das empresas.

Fundada em 2016, a Peerdustry já conta com mais de 350 fornecedores homologados em


sua plataforma e mais de 2 mil máquinas de usinagem prontas para produção em sua base. A
startup foi acelerada pelo programa Liga Autotech conduzido pela Liga Ventures, em parceria com
o Grupo Comporte, Grupo Continental e Mercedes-Benz.

A InovaHouse3D desenvolveu uma impressora 3D capaz de imprimir


materiais cimentícios, visando a atuação na construção civil. A startup de
Brasília, fundada em 2015, também trabalha com impressões em plástico e
conta com o apoio do SENAI e da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção.

A Wishbox é uma startup catarinense de manufatura aditiva que


desenvolve, comercializa, oferece suporte e consultoria para impressoras
3D, especialmente para o segmento médico, industrial e de educação.
Conta com clientes como Electrolux, Intelbras, LG, Motorola, FIAT e Vale.

A Fabric8Labs é uma startup americana que desenvolveu uma impressora


3D especializada em impressões em metal, focada em velocidade, redução
de custos e sustentabilidade. Fundada em 2015, já recebeu US$ 4 milhões
em investimentos.

A Arculus é uma startup alemã que desenvolveu um sistema para


possibilitar a produção modular nas indústrias. Através da ferramenta, é
possível controlar fábricas e depósitos, com visualização em tempo real. A
startup, fundada em 2016, já recebeu US$ 3,5 milhões em investimentos.

51
CASES

Nós utilizamos a plataforma da Peerdustry na compra de peças de


manutenção. Fazemos tijolo e argamassa refratária e nosso material é muito
abrasivo, acabamos tendo uma troca ferramental constante. A Peerdustry
distribui nossas requisições para uma base de fornecedores de usinagem e,
nesta etapa, ninguém sabe qual a empresa que está solicitando. Só com este
anonimato, já percebemos uma redução de custos relevante.

Além disso, quando pedimos muitas peças, eles separam qual o


Ana Paula Ciscato,
Supervisora de Projetos de fornecedor tem as características necessárias para cada item. Antes, não
Indústria 4.0 na Saint-Gobain analisávamos esse processo de compras indiretas de modo detalhado e, com
isso, acabávamos tendo custos mais altos.

A Peerdustry entendeu nossas dificuldades, buscou nos apoiar e,


hoje, temos uma redução de custos média de 10% a 15%. Outra vantagem é
que estamos falando de risco zero. Se a cotação, eventualmente, não for
mais barata, não temos obrigação de investir, o que nos dá muita
flexibilidade.

“Nos encaixamos no movimento global de economia sob demanda,


seguindo a tendência de 'on demand manufacturing' com foco em usinagem.

Atuamos no ramo de peças usinadas sob demanda a partir de


desenhos para uso em plantas de manufatura, atendendo carteiras de
compras chamadas de MRO ou indiretos. Através de nossa plataforma,
grandes empresas agora conseguem usufruir de uma vasta rede de máquinas
pertencentes a fornecedores com diversas especialidades.
Bruno Gellert,
Fundador e CEO da
Peerdustry A longo prazo, enxergamos que a manufatura mundial será
plataformizada. Plataformas como a Peerdustry irão coordenar a oferta e a
demanda de uma manufatura cada vez mais flexível, pulverizada perto de
mercados consumidores e digitalizada, de acordo com os princípios da
indústria 4.0. Com isso, a indústria vai ser mais competitiva graças ao uso
dos ativos instalados e da digitalização das interfaces entre as cadeias
produtivas. Propomos um novo modelo de manufatura com um salto de
produtividade, mais foco e menos ociosidade de equipamentos.”

52
ENTRE_
VISTA
Em 2019, a BRF foi vencedora do prêmio As 100+
Inovadoras no Uso de TI. O que foi necessário
para a companhia alcançar esse nível de
inovação dentro da indústria?
A inovação faz parte da estratégia da BRF,
abrangendo e integrando a transformação dos
processos e das áreas de negócios, com diversas
iniciativas que vão além de simples automações de Antonio Carlos Cesco, Diretor Global de
Tecnologia da Informação da BRF
máquinas ou aquisições de softwares de mercado.
Hoje temos iniciativas operando e produzindo competitivo de inovação, aumentando a precisão
resultados no modelo de Labs e Squads, e temos do processo de rastreabilidade. Com a aplicação do
também o portal BRFHUB, com o conceito de conceito de Fábricas Inteligentes, englobamos
inovação aberta, um dos nossos canais de conexão dentro da transformação digital desde tecnologias
com as startups. Temos como meta que a inovação para automação, criação de soluções proprietárias
represente 10% da receita da empresa até 2023 e, que permitem a troca de dados, até a utilizando de
olhando para a área de TI, atuaremos tanto no conceitos de sistemas integrados com Internet das
modelo de solução de desafios no negócio, como Coisas e Computação em Nuvem (Cloud).
também na proposição de soluções, aproveitando
as tecnologias disponíveis e incentivando novas. O que vocês enxergam de evolução na utilização
Desta forma, estamos viabilizando a transformação dessas tecnologias em um curto-médio prazo?
digital da companhia, na qual projetos como Especificamente sobre o projeto Indústria 4.0, a
Indústria 4.0 e o Agro 4.0 irão conectar toda a nossa BRF tem uma iniciativa importante e cada vez
cadeia produtiva e proporcionar a melhoria dos mais presente que nos permite um diferencial
nossos processos. competitivo de inovação e aumento da precisão do
processo de rastreabilidade. Neste momento
O projeto de indústria 4.0 dA BRF contempla as criamos a arquitetura mestre para aplicação dos
tecnologias de IoT e sensorização. Como essas conceitos, por meio da aquisição e configuração
tecnologias já têm ajudado a companhia na do sistema que gerencia os equipamentos (MES),
otimização de processos? conectando o chão da fábrica ao nosso software de
A partir da disponibilização de informações, gestão (sistema ERP), permitindo o fluxo de dados
automação e arquitetura de dados é possível dos equipamentos e alimentando os controles de
agilizar a tomada de decisões, permitindo um processo referentes à qualidade de produto, dados
ganho de eficiência e elevando os nossos de produção e eficiência. A solução desenhada
patamares de gestão e dos nossos processos está apta para conectarmos todas as nossas
industriais. Atualmente em nosso data lake temos plantas, tanto no Brasil como em outros países e,
mais de 6 TB de dados, e a digitalização nos permite assim, habilita a utilização de outras tecnologias
agilidade na construção e análises de cenários, como Inteligência Artificial, Blockchain e Advanced
gerar correlações e modelos preditivos, por Analytics, viabilizando a jornada digital da
exemplo. A BRF acompanha de perto novas companhia, em que o Projeto Indústria 4.0 está
tecnologias para apoiar o negócio e o projeto englobado por meio da inovação no nosso
Indústria 4.0 nos permite um diferencial processo industrial.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
53
Aprofundamento
Ajustando o foco da inovação: realidade
aumentada e virtual na indústria

O mercado de realidade virtual e realidade aumentada tem


um potencial de aplicabilidade que abarca diversos segmentos da
economia global e, possivelmente, esse é um dos motivadores
centrais para as grandes expectativas de crescimento em torno
dessas tecnologias. Apenas para efeito de conceituação, enquanto a
realidade virtual, literalmente, cria um conteúdo 100% virtual que
pode ser acessado, por exemplo, por capacetes ou óculos de imersão,
a realidade aumentada projeta informações e conteúdo no mundo
físico.
42,2%
E de acordo com dados da Fortune Business Insights deve ser o crescimento médio
divulgados pela PR Newswire em 2019, as soluções de RA e RV das soluções de RA e RV nos
podem alcançar um crescimento médio expressivo de 42,2% nos próximos anos, partindo de um
próximos anos, partindo de um valor de mercado de US$ 7,3 bilhões valor de mercado de
registrado em 2018 para cerca de US$ 120,5 bilhões em 2026. USS$ 7,3 bilhões,
em 2018, para
Segundo o relatório, o interesse de gigantes como o US$ 120,5 bilhões
Facebook, Apple e Google no uso de soluções de RA e RV para a em 2026
melhoria da experiência do usuário também pode alavancar suas
tendências de crescimento. A consultoria destaca ainda as
possibilidades de aplicação das tecnologias em segmentos tão
distintos como educação, healthcare, indústria automotiva e 46% das organizações
manufatureira. entrevistadas irão priorizar
essas tecnologias até 2021
Dentro deste contexto, é importante ressaltar que as
tecnologias de realidade virtual e aumentada estão entre os pilares
da digitalização e implementação da indústria 4.0. Uma ampla
pesquisa global da Capgemini, por exemplo, aponta que a
implementação de RA e RV, pode contribuir em diferentes frentes
industriais, como o desenvolvimento do design de produtos sem a
necessidade de prototipagem física, a colaboração remota, reparos e
manutenções, além de vistorias técnicas virtuais. Não à toa, o report
indica que, até 2021, RA e RV serão prioridades para 46% das
organizações entrevistadas.

Pensando no ambiente industrial brasileiro, um artigo da


TOTVS para o portal A Voz da Indústria analisou os cases e resultados
de grandes empresas a partir da utilização de soluções de realidade RA e RV, podem ter diversas
virtual e aumentada. aplicações na indústria, como:
o desenvolvimento do design
Foi o caso da White Martins, multinacional brasileira que atua de produtos sem a
com a produção de gases industriais e medicinais e que utiliza, desde necessidade de prototipagem
2017, uma solução de RV para realizar avaliações de segurança, física, a colaboração remota,
obtendo redução de custos na casa de 70% com a tecnologia. A reparos e manutenções, além
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa de vistorias técnicas virtuais

54
matéria destaca ainda o uso destas soluções em processos de prototipagem na indústria
automotiva e treinamentos de colaboradores. O eixo dos treinamentos, vale frisar, foi o mais citado
pelos entrevistados consultados para a construção deste estudo, para o uso das realidades virtual e
aumentada dentro da realidade da indústria nacional.

Para Wellington Moscon, CEO e cofundador da GoEPIK – startup paranaense fundada em


2017 que desenvolveu uma plataforma que permite às empresas testar e escalar as várias
tecnologias que envolvem a Indústria 4.0 como a própria realidade aumentada, IoT, machine
learning, workflows, reconhecimento de voz e outras 10 verticais tecnológicas – a capacidade de
crescimento da adesão das soluções de RA e RV é significativo no mercado brasileiro.

"As soluções de realidade aumentada e realidade virtual tem muita capacidade de


crescimento na indústria e é, de fato, o que já vem acontecendo à medida que o custo de hardware
cai gradativamente. A realidade aumentada tem um potencial enorme para, por exemplo, exibir
informações durante a execução de cada processo industrial, acelerando o aprendizado, evitando
erros de execução e aumentando a confiabilidade. Já a realidade virtual tem a capacidade de
simular as mais diversas situações e medir se, dentre outras questões, um operador está apto a
atuar em uma determinada linha de trabalho", explica Moscon.

O cenário descrito abre, por sua vez, um leque de oportunidades para as startups do Brasil
e do mundo que atuam com tais soluções. Um relatório da TechCrunch divulgado no segundo
semestre de 2018, aliás, revela que o segmento de startups de realidade virtual e realidade
aumentada atingiu um valor de mercado US$ 45 bilhões até o período do levantamento.
Entretanto, um dos principais desafios deste segmento é a alta concentração das captações, uma
vez que apenas 18 startups são responsáveis por cerca de metade dos investimentos levantados
globalmente.

Pensar nos desafios que o mercado de startups de RA e RV pode encontrar no caminho de


adesão destas soluções é um primeiro passo para que estes obstáculos possam ser superados e isso
também vale, naturalmente, para as startups atuantes no segmento industrial. Neste sentido,
dados da GlobalWebIndex divulgados pela TechJury indicam, por exemplo, que o custo de
hardware ainda é o maior entrave para uma maior difusão das soluções de realidade virtual e
aumentada entre os usuários.

Por sua vez, um relatório da McKinsey aponta que, além dos desafios técnicos que
envolvem desde a duração de baterias até o tamanho de dispositivos, um obstáculo importante
para o crescimento das tecnologias da realidade virtual no mercado inclui a falta de profissionais
com habilidades e conhecimentos para trabalhar com estas soluções. O levantamento ressalta que,
uma medida adotada pelas empresas nos Estados Unidos para superar este desafio tem sido a
busca por profissionais freelancers com experiência em dispositivos de RV.

O entrave da falta de conhecimento em novas tecnologias no meio industrial, como vimos


em outros momentos deste estudo, deve ser encarado como uma prioridade a ser sanada pelos
gestores que desejam efetivar um processo de digitalização maduro nas manufaturas do país. É o
que observa Carlos Santos, External Communication Lead na ABB, uma das líderes globais no
desenvolvimento de tecnologias digitais para a indústria.

"É preciso criar condições para quem está investindo e desenvolvendo esse ecossistema de
tecnologia e inovação no Brasil. Investir em inovação e em educação é uma das principais formas
de reverter o atual cenário brasileiro, até mesmo para aumentar o entendimento do que é
digitalização. Neste sentido, é necessário um esforço conjunto de múltiplos players, como
empresas, entidades setoriais, governo e escolas técnicas/universidades para formação de
mão-de-obra especializada. Resolver algumas questões macroeconômicas importantes também
faz parte desse processo, para que haja um cenário político mais claro e as empresas consigam
voltar a investir com segurança", analisa Santos.

55
Sobre estes desafios, vale apontar ainda que, segundo matéria do portal Mundo Digital,
mais de 50% dos jovens brasileiros podem ficar fora do mercado devido a falta de qualificação em
habilidades digitais. O artigo ressalta, no entanto, que este não é um problema exclusivo do Brasil e
sua resolução tem motivado empresas como o Facebook, Oi Futuro e Cisco a criar programas de
capacitação voltados para a juventude.

A partir do momento que estes desafios forem superados em larga escala no Brasil e no
mundo, os benefícios advindos de tecnologias, como as soluções de RA e RV, poderão ser melhor
absorvidos pelo ambiente industrial. E os ganhos são muitos. Segundo relatório de 2019 da Perkin
Coie, por exemplo, eles envolvem, dentre outros:

● Acesso à informação em tempo real;


● Treinamento facilitado, inclusive para trabalhadores remotos;
● Aumento da criatividade no desenvolvimento e design de produtos;
● Possibilidade de trabalho colaborativo entre funcionários em localidades distintas;
● Captura de dados comportamentais de usuários.

Para elucidar este cenário, um case interessante é o da Boeing com a empresa de


tecnologia que desenvolve soluções vestíveis e de realidade aumentada, Upskill. A partir do uso de
óculos inteligentes da Upskill, técnicos de eletrônica da Boeing a reduzir o tempo de produção nas
aeronaves em 25%, cortando também as possibilidades de erro dentro de seus processos.

Atenta a este contexto, a ABB tem investido no desenvolvimento de pacotes de soluções de


RA para o mercado. "A tecnologia de realidade aumentada anuncia uma nova era para a
manutenção em campo de qualquer produto ou solução da ABB, como instrumentação de
medição e componentes do sistema de automação. Neste sentido, possuímos uma plataforma de
realidade aumentada disponível para o Brasil, projetada para acelerar os tempos de resposta,
estender o ciclo de vida dos ativos e auxiliar no desempenho da produção. O ABB Ability Remote
Insights permite que um técnico de serviço de campo compartilhe sua visão de uma situação
usando a câmera do dispositivo e receba orientação diretamente de um especialista por meio de
anotações na tela, bate-papo e compartilhamento de documentos", explica Carlos Santos.

A superação de desafios relacionados à mão de obra especializada, questões técnicas e o


custo de hardware – que já vem se barateando ao longo dos últimos anos – deve gerar ainda mais
oportunidades, na indústria e em outros segmentos econômicos, para startups e empresas que
trabalham com tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada. Tal fator, por sua vez, pode
contribuir para o fortalecimento da indústria 4.0 no ambiente de negócios nacional.

A GoEPIK, por exemplo, já vem colhendo resultados positivos a partir de seu trabalho para a
escalagem de novas tecnologias. Segundo Wellington Moscon, CEO e cofundador da startup, a
empresa irá fechar 2019 com crescimento 3 vezes superior ao alcançado em 2018, conquistando
clientes como Saint-Gobain, Eaton, Grupo Boticário, Braskem e Renault. Moscon explica, aliás, como
a própria solução pode contribuir no processo de formação de colaboradores.

"Um conceito que vem sendo globalmente divulgado e é fortemente trabalhado pela
Plataforma GoEPIK é o "Learning in The Flow of Work" que, como o nome já diz, permite que
colaboradores responsáveis por executar uma determinada tarefa ou processo recebam instruções
durante a execução e até mesmo em tempo real. Os benefícios dessa abordagem são inúmeros e
alguns deles incluem a confiabilidade dos dados, garantia de execução, eliminação da necessidade
de treinamento prévio e, em indústrias com alto turnover, essa abordagem atua como capacitador
e gestor do conhecimento da empresa", conclui Moscon.

A 3M é outra grande empresa que tem observado com atenção o mercado de realidade
aumentada e virtual. "Temos um projeto específico lidando com realidade aumentada. Ainda em
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

56
fase de implementação, o foco do projeto consiste em agilizar o tempo de resposta envolvendo
várias pessoas do time em partes remotas para tomadas de decisões envolvendo um processo de
manufatura", explica Julio Targueta, gerente de produção da 3M no Brasil, acrescentando que a
empresa iniciou sua aproximação com startups da indústria, para, dentre outras atividades,
otimizar o controle de processos logísticos em manufaturas.

Uma das ações da 3M focada em realidade virtual foi a criação, por meio de parceria com a
startup VRGlass – empresa que desenvolve dispositivos de RA e RV – de um aplicativo para visitas
virtuais ao Centro Técnico para Clientes (CTC), sediado no município de Sumaré, interior de São
Paulo e que permite a visualização em 360º de todo o espaço.

Com negócios e diversas tecnologias em variadas indústrias, o Grupo 3M contabiliza mais


de 55 mil produtos em seu portfólio e escritórios em mais de 60 países. Inserida no contexto da
indústria 4.0, a empresa tem buscado implementar, em conjunto com soluções de RA/RV, outras
novas tecnologias capazes de aumentar o processo de decisão dos gestores e os índices de
produtividade.

"Na área de manufatura & supply chain, temos duas grandes vertentes quanto a indústria
4.0: a primeira envolve a automação de máquinas e processos, a partir do uso de tecnologias como
sistemas de visão, robôs e instrumentações que acelerem o processo de tomada de decisão e
aumentem a produtividade. A segunda vertente diz respeito a automação de dados – temos um
departamento dedicado a este tópico atuando há 10 anos, no qual usamos conceitos de M.E.S.
(sistemas de execução de manufaturas) para integrar desde o PLC das máquinas até o ERP da
empresa, visando, através destes dados, suportar outras iniciativas como Lean Manufacturing de
aumento de eficiência operacional", conclui Targueta.

A adesão de grandes empresas às novas tecnologias que impulsionam a indústria 4.0 no


Brasil e no mundo é mais um reflexo do potencial destas soluções para o ambiente manufatureiro
global e, especificamente sobre a realidade virtual e aumentada, vale reforçar, por fim, um dado da
Capgemini, o qual aponta que, para 82% das companhias que implementaram soluções de RA/RV,
os benefícios cumprem ou mesmo superam as expectativas das organizações.

A VRMonkey é uma startup brasileira de RA e RV que desenvolve soluções


personalizadas com foco em engajamento. A empresa atua em diferentes
segmentos, incluindo o de treinamento industrial, contando com clientes
como Intel, Gerdau, Samsung e Chevrolet.

A Imersys é uma startup de Curitiba que desenvolve conteúdo em


realidade aumentada e virtual para estruturar treinamentos, simulações,
visitas virtuais e programas educativos. A startup foi fundada em 2017 e
conta com grandes clientes como Volvo, Itaipu Binacional e CIBiogas.

A VirtualSpaces utiliza a realidade virtual por meio de dispositivos mobile


para permitir a visualização de ambientes, casas e prédios que ainda não
foram construídos. A startup americana fundada em 2018, tem como foco
a indústria imobiliária e de construção, e já recebeu aporte de US$ 50 mil.

O foco da Varjo, startup finlandesa fundada em 2016, é criar ambientes de


realidade virtual imersiva para treinamentos, pesquisas e projetos criativos
em diferentes cenários de complexidade. A startup atua em diversas
indústria e já recebeu US$ 45,9 milhões em investimentos.

57
CASES

Estamos utilizando a solução Pix Counting da Pix Force, um sistema


de contagem por meio de fotos. Nossas máquinas produzem um volume
médio de 4 mil e 800 filtros de cigarro a cada 90s. O método de contagem era
realizado manualmente. Além de ser um processo lento, a frequência não era
significativa em relação ao volume total da produção.

Para sanar o desafio, instalamos uma câmera que tira a foto de todas
as caixas produzidas. Após um segundo, temos o número de filtros com
João Renato Menezes Martins,
Supervisor Sênior de Fábrica: precisão de 99,9%. Instalamos também um sistema de leitura de código de
Produção e Manutenção da SFA barras para registrar um histórico de produção. Com isso, conseguimos
(South America Filters)
controlar a contagem e se preparar para ações imediatas caso ocorram
desvios fora do esperado.

Outro benefício foi a comunicação clara com a Pix Force e a


qualidade do serviço prestado. Estamos satisfeitos com os resultados,
sobretudo por podermos contar com a empresa para melhorias futuras.

Atualmente, trabalhamos com imagens de diferentes tipos, por isso,


contamos com câmeras RGB de alta resolução, 360º, térmicas,
multiespectrais e estéreo. Também utilizamos drones para a captura de
imagens aéreas necessárias para soluções dedicadas ao setor de
infraestrutura.

A visão computacional é uma tecnologia bastante versátil. Pensando


na indústria 4.0, podemos utilizá-la, por exemplo, para inspecionar a qualidade
Vitor Tosetto,
CEO da Pix Force de produtos no final da linha de produção; contagem de itens/materiais; em
inventários e auditorias; além do monitoramento de colaboradores em
situações de risco ou do ponto de vista ergonômico.

Estamos vivendo a era da digitalização e acredito que a visão


computacional é uma das ferramentas mais poderosas para este momento.
Muitas empresas estão descobrindo o potencial desta tecnologia e
implementando soluções que realmente aceleram, barateiam, aumentam a
precisão dos processos e a capacidade produtiva de uma indústria.

58
ENTRE_
VISTA
É possível dizer que o setor industrial aberto à
inovação à tecnologia?
O Brasil é um país muito grande, com realidades
muito diversas. Em média, a adoção de conceitos e
soluções tecnológicas é baixa e há, inclusive, uma
falta de conhecimento sobre o potencial das novas
tecnologias. Ao mesmo tempo, existem grupos de Luciano Cunha, Coordenador-geral de
empresas muito avançadas, que estão competitivas Tecnologias Inovadoras e Propriedade
Intelectual do Ministério da Economia
mundialmente, e que têm uma característica de ter
rapidez e intensidade na adoção de tecnologia. No meio do programa Brasil Mais Produtivo, e pela
entanto, representam um número pequeno em parceria com o Estado de SP para apoiar empresas
relação à média do País. nesse processo. É um conjunto grande de iniciativas
que passam desde melhorar a regulamentação para
Qual a importância de sensorização e Internet simplificar, até financiamentos a custos mais
das Coisas no contexto de Indústria 4.0? acessíveis. Por fim, existe uma questão sobre a
São essenciais. A Indústria 4.0 demanda a própria divulgação da tecnologia e dos potenciais
necessidade da sensorização para a coleta de que ela traz e do conhecimento de que nem sempre
dados, para tratá-los, analisá-los e tomar, a partir essas tecnologias são caras e inacessíveis. A partir do
disso, decisões de forma automatizada. A diálogo com PMEs, a percepção é a de que empresas
sensorização já existente nos equipamentos ou que pequenas acreditam que novas tecnologias estão
venha a ser implementada é um passo básico nesse fora do escopo, fora da possibilidade delas. Um dos
processo. empecilhos é comunicar e mostrar que essas
tecnologias têm, sim, possibilidade de serem
Como fazer com que essas tecnologias e adotadas em escala menor e como algo positivo.
inovação em geral cheguem nas PMEs?
Existe um conjunto de ações que são necessárias. Quais são os grandes desafios para fomentar
Recentemente, trabalhamos junto ao MCTIC inovação no setor da indústria?
(Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e É uma soma de fatores. Existe, por exemplo, desafios
Comunicações), para conseguir aprovar o projeto de de infraestrutura, regiões com cobertura de sinal de
lei que alterava a Lei Geral de Telecomunicações; celular, internet e redes específicas para IoT bastante
um dos propósitos era reduzir o custo para razoáveis, e outras com cobertura ínfima. Existe
equipamentos de IoT, já que algumas das taxas também um desafio relacionado ao nível
cobradas inviabilizam sistemas de mais baixo custo. educacional dos gestores de empresas menores.
Além disso, em uma reunião com a FUNTTEL Muitos profissionais não têm ainda capacitação para
(Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das compreender novas tecnologias. Nesse piloto com o
Telecomunicações), aprovamos recursos tanto para Estado de São Paulo, um trabalho em conjunto
o BNDES quanto para a FINEP para financiamento também com o Fórum Econômico Mundial,
de projetos a juros mais competitivos para IoT e identificamos entre os principais problemas a
para Indústria 4.0, como uma tentativa para facilitar questão da gestão da empresa e a falta de pessoas
essa adoção. Também temos realizado trabalhos com tempo dedicado a adotar e estudar novas
mais diretos com as pequenas empresas, como por tecnologias.

59
FEVEREIRO 2020

INFORMAÇÕES PARA O USO


E REPRODUÇÃO DESTE MATERIAL

A Liga Insights produz estudos que têm por objetivo


aprofundar, explorar e divulgar as formas como as
startups brasileiras estão se desenvolvendo e rela-
cionando em suas áreas de atuação.

Todas as informações dispostas neste material são de


propriedade dos seus autores e envolvidos, podendo
ser usadas e reproduzidas, desde que sempre tenha
sua fonte citada.

Não é permitido o seu uso comercial sem autorização.

EQUIPE E CONTATOS

ROGÉRIO TAMASSIA MARÍA EDUARDA NADAL MARCELE ROCHA


Co-founder da Liga Ventures Liga Insights Community Manager
rogerio@liga.ventures maria.eduarda@liga.ventures marcele@liga.ventures
+55 11 2393.8513

GABRIELA JARDIM
RAPHAEL AUGUSTO
Marketing
Liga Insights | Startup hunter
gabriela.jardim@liga.ventures
raphael.augusto@liga.ventures
+55 11 2393.8513
EDUARDO KENJI MISAWA ASSESSORIA DE IMPRENSA
JOÃO BARROS
Direção de Arte
Edição e Redação
kenji@liga.ventures Agência noAr
joao.barros@liga.ventures
agencianoar.com.br
THOMAS AOKI LETICIA ALMEIDA Mariah Freitas
Edição e Redação Direção de Arte mariah@agencianoar.com.br
thomas@liga.ventures leticia@liga.ventures +55 11 3170.3094

60
REALIZAÇÃO:

PATROCÍNIO:

APOIO:

61
REFERÊNCIAS
Introdução
https://exame.abril.com.br/geral/industria-4-0-transforma-operacoes-fabris/
https://info.microsoft.com/rs/157-GQE-382/images/EN-US-CNTNT-Report-2019-Manufacturing-Trends.p
df
https://www.idc.com/getdoc.jsp?containerId=prUS44596319
https://www.forbes.com/sites/louiscolumbus/2019/02/03/top-25-iot-startups-to-watch-in-2019/#7770b3
473cc0
https://www.venturescanner.com/2019/11/05/internet-of-things-report-highlights-q3-2019/
https://insights.liga.ventures/estudos-completos/etx-emergentes-2017/
https://devtecnologia.com.br/
https://www.hpe.com/br/pt/what-is/industrial-iot.html
https://www.bndes.gov.br/wps/wcm/connect/site/269bc780-8cdb-4b9b-a297-53955103d4c5/relatorio-fi
nal-plano-de-acao-produto-8-alterado.pdf?MOD=AJPERES&CVID=m0jDUok&CVID=lXysvoX&CVID=lXys
voX&CVID=lXysvoX&CVID=lXysvoX&CVID=lXysvoX&CVID=lXysvoX
http://www.industria40.gov.br/
http://www.mdic.gov.br/index.php/ultimas-noticias/3133-mdic-e-abdi-lancam-agenda-brasileira-para-a
-industria-4-0-no-forum-economico-mundial
https://www.inovativabrasil.com.br/
http://www.brasilmaisprodutivo.gov.br/home.aspx
https://hbr.org/sponsored/2019/03/how-leaders-are-navigating-the-fourth-industrial-revolution
https://tiinside.com.br/tiinside/24/04/2019/lideres-sao-fundamentais-no-desenvolvimento-da-industria-
4-0-no-brasil-diz-pesquisa/
https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/inovacao-e-tecnologia/48-das-grandes-empresas-pre
tendem-investir-em-tecnologias-40-em-2018/
https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/ch/Documents/manufacturing/ch-en-manufacturin
g-industry-4-0-24102014.pdf
https://higherlogicdownload.s3.amazonaws.com/ISACA/48571bdb-b7b6-40fc-9307-539e75f23cf3/Uploa
dedImages/AGM_2019_Presentations/Rayn_Martin_-_Responsible_AI.pdf
https://www.forbes.com/sites/louiscolumbus/2018/05/30/the-state-of-3d-printing-2018/#a8067c37b0a8
https://www.cbinsights.com/research/future-factory-manufacturing-tech-trends/#labor

A preparação para uma indústria digitalizada e os primeiros passos rumo à conectividade


http://www.portaldaindustria.com.br/cni/canais/industria-2027/o-projeto/
https://bucket-gw-cni-static-cms-si.s3.amazonaws.com/media/filer_public/8c/13/8c13f007-35c7-4fa2-89
e9-3550bca42a16/sintese_dos_resultados.pdf
http://www.economia.gov.br/noticias/2019/09/governo-federal-lanca-plano-para-alavancar-industria-4.0
https://www.sebrae.com.br/sites/asn/uf/NA/em-cinco-anos-numero-de-pequenos-negocios-crescera-4
3,608b10f0fc10f510VgnVCM1000004c00210aRCRD
https://revistapegn.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/10/brasil-se-insere-na-industria-40-mas-e-precis
o-acelerar-o-passo.html
https://www.slideshare.net/CiscoBusinessInsights/journey-to-iot-value-76163389
https://computerworld.com.br/2019/01/15/internet-das-coisas-e-desafio-para-industria-brasileira/
https://www.mob.eng.br/
https://www.pwc.com.br/pt/publicacoes/setores-atividade/assets/tmt/2016/pwc-industrial-internet-of-t
hings.pdf

62
REFERÊNCIAS
As aplicações do IoT industrial e oportunidades de mercado
https://www.proxxima.com.br/home/proxxima/how-to/2018/06/26/industria-4-0-tambem-e-realidade-
para-as-pmes.html
https://www.pollux.com.br/blog/iot-na-industria-por-que-utilizar-e-o-que-pode-ser-feito/
https://www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/Business%20Functions/McKinsey%20Digital/Our%20Ins
ights/Tech%20enabled%20transformation/Tech-enabled-transformation-The-trillion-dollar-opportunit
y-for-industrials.ashx
https://www.worldoil.com/news/2017/11/8/new-research-shows-growing-interest-in-industrial-iot-adopt
ion-companies-in-early-stages
http://www.economia.gov.br/noticias/2019/11/brasil-tera-primeiro-centro-afiliado-ao-forum-economico-
mundial-focado-na-industria-4.0
http://www.brasilmaisprodutivo.gov.br/home.aspx
http://www.vdibrasil.com/roadshow-da-vdi-brasil-apresenta-cases-de-industria-4-0/
https://e5a5e21295859d53b15f-83f0bd7793a5a4b61ea12de988b1f44d.ssl.cf2.rackcdn.com/uploads/cimm
/publicacao/arquivo/488/INTERNET_DAS_COISAS_NA_IND_STRIA_-_ESTUDO_DOS_RESULTADOS_OBTI
DOS_E_DIFICULDADES_ENFRENTADAS_PELAS_EMPRESAS_NA_ADO__O_DESTA_TECNOLOGIA.pdf
https://www.logicae.com.br/
https://www.intelup.com.br/

O futuro do IIoT
https://www.ey.com/Publication/vwLUAssets/EY_-_Future_of_IoT/$FILE/EY-future-of-lot.pdf
https://telecoms.com/497922/iot-spending-to-top-1-1-trillion-in-2023-idc/
https://medium.com/data-tech/future-of-iiot-three-predictions-and-trends-for-the-years-ahead-aa84b
4ab6844
http://www.kylesconverter.com/data-storage/zettabytes-to-gigabytes
https://www.forbes.com/sites/cognitiveworld/2019/10/01/making-the-internet-of-things-iot-more-intelli
gent-with-ai/#c3be853fd9b9
https://www.forbes.com/sites/insights-hitachi/2017/12/18/the-future-of-industrial-iot-qa-with-rich-roger
s-svp-hitachi-vantara/#27fdf1162bf6
https://www.manufaturaavancada.com/
https://www.automni.com.br/
https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/de/Documents/Innovation/Internet-of-Things-Innova
tion-Report-2018-Deloitte.pdf
https://www.forbes.com/forbes-insights/our-work/internet-of-things/
https://www.pwc.com/gx/en/issues/assets/pwc-GSISS-2017-uncovering-the-potential-of-iot.pdf
https://bhaz.com.br/2019/04/11/arcelormittal-belgo-programa-atracao-talentos/

Aprofundamento - Inteligência Artificial

https://www.marketsandmarkets.com/Market-Reports/artificial-intelligence-market-74851580.html?gc
lid=Cj0KCQiA2vjuBRCqARIsAJL5a-IR3Syuc4vPvOQuEsGXh9eJXU6IXUqadKfQAVDcFCDUhuzKjNLPt1Q
aAtMeEALw_wcB
https://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=site&infoid=
50201&sid=97
https://www.alliedmarketresearch.com/artificial-intelligence-market
https://www.abdi.com.br/postagem/inteligencia-artificial-deve-movimentar-us-180-milhoes-no-brasil
https://canaltech.com.br/inteligencia-artificial/inteligencia-artificial-deve-movimentar-r-730-mi-no-bra
sil-em-2018-123922/

63
REFERÊNCIAS
https://gq.globo.com/Prazeres/Tecnologia/noticia/2019/02/ibm-anuncia-investimento-de-r-20-milhoes-
em-inteligencia-artificial-no-brasil.html
http://www.investimentosenoticias.com.br/noticias/artigos-especiais/o-impacto-da-inteligencia-artifici
al-na-industria-brasileira
https://www.totvs.com/blog/inteligencia-artificial-na-industria-2/
https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/competitividade/robotizacao-e-saida-para-aumento-
de-produtividade/
https://administradores.com.br/artigos/inteligencia-artificial-ira-gerar-mais-empregos-do-que-eliminar
https://tiinside.com.br/tiinside/14/10/2019/pesquisa-entre-executivos-aponta-beneficios-da-inteligencia
-artificial/
https://www.forbes.com/sites/louiscolumbus/2017/09/10/how-artificial-intelligence-is-revolutionizing-b
usiness-in-2017/#2001ca465463
https://www.businesswire.com/news/home/20150611005252/en/80-Percent-Business-Tech-Leaders-Arti
ficial-Intelligence
https://medium.com/groveventures/5-tips-for-industry-4-0-startup-entrepreneurs-cd06bd005ff3

Aprofundamento - Impressão 3D
https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/ch/Documents/consumer-business/ch-en-consumer
-business-made-to-order-consumer-review.pdf
https://sps.columbia.edu/faculty/b-joseph-pine-ii
https://avozdaindustria.com.br/ind-stria-40-totvs/customiza-o-em-massa-na-ind-stria-40-produ-o-flex-
vel-e-de-baixo-custo
https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/personalizacao-de-produtos-e-commerce/
https://www.industryweek.com/technology-and-iiot/five-expert-insights-digital-manufacturing-and-m
ass-customization
https://www.industria40.ind.br/noticias/16608-industria-chega-a-era-da-customizacao-de-produtos-e
m-serie
https://www.marketsandmarkets.com/PressReleases/3d-printing.asp
https://www.cbinsights.com/research/report/3d-printing-technology-disrupting-industries/
https://www.pwc.com/us/en/industrial-products/publications/assets/pwc-next-manufacturing-3d-print
ing-comes-of-age.pdf
https://avozdaindustria.com.br/ind-stria-40-totvs/uso-de-impress-o-3d-na-ind-stria
https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/02/11/o-avanco-da-impressao-3d/
https://www.aberdeen.com/featured/blog-mass-customization-trends/
https://valor.globo.com/empresas/coluna/gestora-de-fundos-leva-impressao-3d-a-minas-gerais.ghtml

Aprofundamento - Realidade Virtual e Aumentada


https://www.prnewswire.com/news-releases/virtual-reality-market-to-exhibit-a-remarkable-42-2-cagr-moves-by-fac
ebook-google-and-apple-to-offer-an-advanced-user-experience-to-boost-growth-fortune-business-insights-300917
042.html
https://www.capgemini.com/wp-content/uploads/2018/09/AR-VR-in-Operations.pdf
https://avozdaindustria.com.br/ind-stria-40-totvs/realidade-virtual-reduz-custos-da-ind-stria
https://techcrunch.com/2019/10/18/vr-ar-startup-valuations-reach-45-billion-on-paper/
https://techjury.net/stats-about/virtual-reality/#gref
https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-insights/augmented-and-vi
rtual-reality-the-promise-and-peril-of-immersive-technologies
http://www.mundodigital.net.br/index.php/noticias/telecomunicacoes/11621-mao-de-obra-desqualificada-preocupa
https://www.perkinscoie.com/images/content/2/1/v4/218679/2019-VR-AR-Survey-Digital-v1.pdf
https://upskill.io/landing/case-study-boeing-penton/
http://www.vrglass.com/home/portfolio/3m/
https://www.forbes.com/sites/forbesbusinessdevelopmentcouncil/2019/11/27/the-impact-of-vr-ai-and-ar-in-the-work
place/#31dc0903132e

64

Você também pode gostar