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INOVAÇÃO
GESTÃO
INOVAÇÃO Sartori
Sartori
Vinícius
dada
Vinícius
Rodrigo
Rodrigo
GESTÃOdda INOVAÇÃO Rodrigo Vinícius Sartori
GESTÃOdda INOVAÇÃO Rodrigo Vinícius Sartori
Gestão da Inovação
IESDE BRASIL
2022
© 2022 – IESDE BRASIL S/A.
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Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: David Arts/Shutterstock - Macrovector/Shutterstock -
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3 Inovação aberta 60
3.1 Inovação aberta x inovação fechada 60
3.2 Ecossistemas de inovação 66
3.3 Hackathons 70
3.4 Diversidade e inovação 73
3.5 Platform business 75
4 Fomento à inovação 84
4.1 A lógica do capital de risco 84
4.2 Corporate venture capital 90
4.3 Fusões e aquisições 92
4.4 Agências públicas de fomento 97
4.5 Incentivos fiscais 103
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• compreender os fundamentos inerentes à inovação;
• entender a perspectiva de empreendedorismo de alto impacto propor-
cionado pela inovação;
• distinguir as várias facetas da inovação tecnológica;
• ponderar sobre a importância da inovação de valor para a sustentabi-
lidade dos negócios;
• identificar os aspectos-chave da inovação na perspectiva do Marketing 5.0.
Fundamentos da inovação 9
por mais que esse tema seja objeto de estudo de cursos de graduação
e pós-graduação, em várias disciplinas correlacionadas, além de pau-
ta praticamente obrigatória na agenda corporativa das empresas em
geral, existe ainda profissionais (e muitos até em posição executiva de
alto escalão) que titubeiam quando lhes é solicitado que apresentem
sua visão a respeito de inovação.
10 Gestão da Inovação
apenas uma única – de apresentar um produto ou serviço inovador. De
fato, o que mais observamos é que a maioria das tentativas de intro-
duzir produtos e serviços criativos em algum quesito no mercado falha
miseravelmente. Portanto, são invenções – e apenas isso. Mas nunca
inovações.
Fundamentos da inovação 11
Há ainda quem diga (e muitas pessoas com formação em nível
superior repetem isso) que “inovação é melhorar algo que já existe,
enquanto invenção é criar algo ‘do zero’”, entre outras ideias afins. Tal
declaração não poderia estar mais equivocada. Independentemente se
algo já existe ou não: criar é tomado, aqui, pelo fazer diferente. Uma
cafeteira elétrica que dê “bom dia” à primeira pessoa que ligá-la à toma-
da é uma invenção. Um seguro de vida que inclua entre seus benefícios
o funeral para animais de estimação também é invenção. Um computa-
dor que estime o tempo de ociosidade e reduza automaticamente seu
consumo de energia também é bastante inventivo, assim como uma
sopa de morcego (sim, essa é uma iguaria nas Ilhas Palau, na Oceania)
pode ser acusada de qualquer coisa, menos de não ser algo criativo.
Uma ONG ou qualquer outra instituição que não visa ao lucro pode
perfeitamente inovar. Organizações sem fins lucrativos atendem um
mercado de clientes ávidos por seus produtos e serviços (no sentido
de instâncias que absorvem, usam, adotam determinado produto/
serviço), que envolvem iniciativas filantrópicas, de voluntariado, entre
outras. E, se algo diferente é feito e aumenta essa demanda, é, com
toda legitimidade, uma inovação. Pagar ou não por algo que se oferta é
meramente uma questão de modelo de negócio.
12 Gestão da Inovação
• Inovação de processo: nesse caso, o produto ou serviço que uma
empresa produz pode até ser o mesmo que o da concorrência,
mas, se a forma de fazê-lo (processo produtivo) for diferente, e
isso se refletir em maior aceitação, há uma inovação em processo
(por exemplo, tornando-o mais seguro, mais rápido, mais econô-
mico, ambientalmente mais adequado, mais socialmente respon-
sável etc.).
• Inovação em marketing: teoricamente, qualquer perturbação na
ordem estabelecida dos clássicos “4 Ps” do marketing (preço, pra-
ça, produto e promoção) que resulte em maior demanda é, defi-
nitivamente, uma inovação.
• Inovação em estrutura organizacional: não deixando de ser uma
perspectiva de inovação de processo, mas no sentido estrutural/
organizacional, o rearranjo de uma empresa que reflete maiores
resultados é uma inovação (por exemplo, espaços de coworking,
Podcast
uma vice-presidência dedicada à inovação e aos novos negócios,
empreitadas em consórcio com outras empresas em contratos O episódio Inovação e
disrupção, do podcast
de inovação aberta etc.). Hipsters Ponto Tech,
apresenta o que é ser dis-
As inovações podem ser incrementais – a maioria delas –, nas ruptivo e discute se ape-
quais há modificações singelas em relação àquilo que é convencional, nas inovar é o suficiente
para se obter sucesso.
e radicais, que são aquelas que redefinem por completo, por exem-
plo, o conceito de um produto ou serviço. A disrupção, aliás, é o tipo Disponível em: https://www.
hipsters.tech/inovacao-e-
de inovação que muda completamente os hábitos de consumo e a disrupcao-hipsters-167/. Acesso
cultura de seus consumidores (como ocorreu com os filmes e as mú- em: 26 maio 2022.
sicas por streaming).
Fundamentos da inovação 13
Inovações podem ter até mesmo uma relativização geográfica. Nes-
se sentido, elas podem ser: absolutas (com ineditismo em escala glo-
bal); nacionais ou regionais (como aquilo que já existe em algum lugar e
é trazido por uma empresa para atender seu mercado local); e, no limi-
te do conceito, até mesmo empresariais (como algo que todo mundo já
faz, mas aquela empresa ainda não, e, para começar a fazê-lo, em sua
perspectiva, é uma inovação se isso lhe trouxer resultados superiores –
por mais modestos que sejam em relação ao mercado).
14 Gestão da Inovação
cial, são distintos dos meros criadores de novas firmas, aqueles que Importante
simplesmente replicam modelos de milhares de outros estabelecimen- Negócios de maior risco
precisam, claro, conviver
tos. Enfim, são os empreendedores que fogem do “mais do mesmo”. com os de maior segu-
rança. Certamente, os
De fato, podemos distinguir dois amplos tipos de atividades em- empreendedores consi-
preendedoras. Primeiramente, temos aquilo que podemos chamar de derados mais replicativos
podem ter sua grande
empreendedorismo de rotina, que é, de todo modo, um tipo de gestão importância social refle-
empresarial que tem seu valor (embora mais modesto). Contudo, temos tida no grande volume
de postos de trabalho
também o que denominamos de empreendedorismo schumpeteriano que essas organizações
ou novo tipo de empreendedorismo, em que o aspecto de risco é mui- mantêm. No entanto,
empreendedores inova-
to maior. Afinal, de um lado há as tradicionais atividades envolvidas dores – focos de atenção
na coordenação e execução de uma empresa bem estabelecida, em deste nosso estudo
– garantem a utilização
que as partes da função de produção em uso (e prováveis alternativas efetiva da invenção,
ao uso atual) são conhecidas e operam em mercados bem estabeleci- contribuem para o au-
mento da produtividade
dos e claramente definidos. Por outro lado, nessa ousada perspectiva e facilitam e impulsionam
do empreendedorismo de alto impacto, é preciso lidar com atividades magistralmente o cresci-
mento econômico.
necessárias para criar ou conduzir uma empresa onde nem todos os
mercados estão bem estabelecidos ou definidos e/ou onde as partes
relevantes da função de produção não são completamente conhecidas,
como assinala Acs (2008).
Fundamentos da inovação 15
pobreza e atendam às populações em progressivo crescimento e en-
velhecimento. Diante desse cenário, somente aqueles indivíduos que
apresentam as habilidades necessárias para perceber oportunidades
empreendedoras, realizar as atividades de preenchimento de lacunas
de insumos necessários e ser completadores desses insumos podem
ser reais empreendedores.
alphaspirit.it/Shutterstock
16 Gestão da Inovação
domínio notavelmente distinto: é um campo em que é preciso harmo-
nizar inovação, escolha ocupacional, capital humano, capital de risco,
crescimento endógeno, transbordamento de conhecimento, mercados
de capitais, receitas empresariais e, até mesmo, algumas peças do em-
preendedorismo tradicional. Em suma, o objetivo do empreendedoris-
mo de alto impacto é muito mais do que crescimento e mudança. Ele
é diferente de outros domínios, principalmente, porque opera com a
alavancagem como resultado.
Fundamentos da inovação 17
A oportunidade é objetiva, mas o reconhecimento da oportu-
nidade é bastante subjetivo. É preciso um mínimo de competência
visionária, entre outros atributos, para conseguir detectar potenciais
novos empreendimentos onde outras pessoas não enxergam. A startup
alavancada, enfim, é uma nova organização, fundada por um empreen-
dedor que identificou uma oportunidade e decidiu agir sobre ela, por-
que sabe que, fazendo o que tem de ser feito, o sucesso é inevitável.
18 Gestão da Inovação
Mais uma vez, a convivência com o risco é inevitável – na reali-
dade, desejável. Afinal, essa constante experimentação de mercado
proporciona informações que favorecem as empresas ao tomarem
decisões com melhor embasamento acerca de quais tecnologias e ino-
vações cabe adotar e quais podem ser ignoradas, quais plataformas
e produtos são realmente promissores e no que, enfim, vale apostar.
Contudo, também ajuda a estimular uma benéfica mentalidade de
“arte do possível” – entendida em termos de onde e como tal ou qual
novidade pode beneficiar a empresa na prática –, reinventando a clien-
tela e planejando de maneira proativa. O desafio, desse modo, não é a
velocidade com que a tecnologia muda, mas o fato de que as organiza-
ções precisam compreender a tecnologia de modo apropriado e mais
agilmente, para poderem aproveitá-la. Não por acaso, os mais bem-
-sucedidos processos de planejamento estratégico nas organizações
competitivas incluem, obrigatoriamente, um módulo de planejamento
tecnológico.
Fundamentos da inovação 19
das redes sociais das marcas comerciais. Indo além, a experimentação
de novas tecnologias serve não só para atender às necessidades do
mercado, mas, em alguns casos, também para melhoria da experiência
dos próprios funcionários da empresa nas suas rotinas de trabalho.
Um exemplo disso é o aumento da capacidade de atuação das equipes
via web ou com aplicativos de produtividade.
20 Gestão da Inovação
tatística, espera-se que ao menos uma delas tenha grande adesão às
particularidades de um modelo de negócio específico. De posse des-
sas possibilidades, cabe, portanto, algum esforço de planejamento de
inovação tecnológica que redefina o valor do negócio.
Fundamentos da inovação 21
afinal, a inovação demanda tempo para ser incubada. Desse modo, é
necessário nutrirmos permanentemente e o quanto antes uma organi-
zação com um fluxo constante de novas ideias. Esse processo pode sim
ser demorado, mas será ainda pior se sequer for começado.
22 Gestão da Inovação
base de clientes em disputa etc.). Se o mercado é comparado a um
oceano, esses concorrentes são os tubarões, e, diante de realidades
drásticas de negócio, quem tem mais poder financeiro – os “grandes
tubarões” – acaba engolindo os pequenos, em um cenário de embate
permanente.
Nessa linha de direção dos oceanos azuis, a chave para nos apro-
ximarmos cada vez mais dessa tentadora condição é justamente o
Fundamentos da inovação 23
conceito de inovação de valor, que citamos no início desta seção. Ele
permite uma profunda mudança na orientação de empreendedores,
que deixam de tentar jogar o jogo da competição pelas regras impos-
tas pelo setor tradicional em que atuam para tentar criar um mercado
próprio, em que a própria empresa possa, na medida do possível, ditar
as regras.
Figura 1
As quatro ações e questões do modelo de Kim e Mauborgne
Reduzir Elevar
PixMarket/Shutterstock
Eliminar Criar
Quais são os atributos Quais são os atributos nunca
considerados indispensáveis oferecidos pelo setor que
pelo setor de atuação da devem ser criados?
empresa que devem ser
sumariamente eliminados?
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim; Mauborgne, 2019.
24 Gestão da Inovação
As respostas mais assertivas a essas quatro ações
têm o forte potencial de reposicionar uma empresa, an-
tes imersa nas águas vermelhas do mercado tradicional,
nas praticamente translúcidas águas dos oceanos azuis.
Fundamentos da inovação 25
1.5
Vídeo
Inovação em tempos de Marketing 5.0
É tiro e queda: de tempos em tempos, quando alguma área do conhe-
cimento precisa de uma repaginação, é muito comum que se proponha
que “agora, é a vez das pessoas!”. Isso já ocorreu com escolas de pensa-
mento, movimentos culturais, disciplinas de gestão como Recursos Huma-
nos, Engenharia, Design, Finanças, Administração etc. Assim, foi inevitável
que essa visão abarcasse também as frentes de inovação e de marketing.
É com essa perspectiva que iniciamos a análise do recente movimento de-
nominado Marketing 5.0 – que tem sim méritos propositivos, e não são
poucos. Nesse sentido, o mote de valorizar as pessoas tem alguma funda-
mentação, que vai além da mera narrativa politicamente correta.
26 Gestão da Inovação
2.0, orientado para o cliente e, depois, para o 3.0, o marketing centrado
no ser humano – sim, essa ideia já tinha sido levantada! Com efeito, no
Marketing 3.0, os clientes desejam não apenas ser satisfeitos do ponto de
vista funcional e emocional, mas atingirem a mais plena realização com as
marcas escolhidas – por sinal, esse é o motivo pelo qual Kotler, Kartajaya
e Setiawan (2021) chegam até mesmo a denominar esse patamar de rea-
lização espiritual. É a perspectiva de que as empresas se diferenciam com
base em seus valores: seus produtos e suas operações destinam-se não
apenas à lucratividade, mas também à proposição de soluções para as
demandas sociais e ambientais mais significativas do mundo.
Fundamentos da inovação 27
Vídeo Porém, o contexto da pandemia de Covid-19 apressou a ampla
O vídeo Como a pandemia digitalização das empresas das mais diferentes áreas e portes. To-
nos transformou, do canal
TEDx Talks, apresenta que das elas, de algum modo, acabaram embarcando no digital – mesmo
a inovação disruptiva não que muitas sequer soubessem o que realmente estava acontecendo.
é causada exclusivamente
por novas tecnologias. Com as políticas de lockdown e de distanciamento físico que foram
Em meio ao grande impostas mundo afora, tanto os mercados quanto os profissionais de
impulso de transformação
digital que a sociedade todas as vertentes foram compelidos a se adaptarem rapidamente às
atravessava nas primeiras novas realidades digitais – por exemplo, a perspectiva de passarmos
décadas do novo milênio,
a pandemia de Covid-19, todos a viver em um mundo sem contato (touchless).
um evento inesperado de
dimensões globais, redefi-
Enfim, indo um passo além, chegou, então, a era do Marketing 5.0. Para
niu por completo as regras compreendermos sua proposta, precisamos iniciar pelo reconhecimento
de convivência, cenário em
que as tecnologias digitais
de que a experiência do cliente (CX – customer experience), em toda a exten-
acabariam por salvar são de seus 5As (assimilação, atração, arguição, ação e apologia), é potencia-
negócios e ajudar na
transição para uma nova
lizada com as conveniências oferecidas pelas inovadoras tecnologias digitais
realidade que se impôs. empregadas pelo mais avançado marketing que hoje temos à disposição.
Processamento de
linguagem natural
Tecnologia de sensores
Robótica
Realidade aumentada
e realidade virtual
28 Gestão da Inovação
Porém, precisamos deixar bastante claro: o aparato tecnológico não
é um fim em si mesmo; ele deve ser aproveitado para o bem da huma-
nidade. Tendo isso em vista, em suma, o Marketing 5.0 se caracteriza
pelos elementos da centralização humana do Marketing 3.0 e da capa-
citação tecnológica do Marketing 4.0.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo compreendido os fundamentos da inovação, podemos dar início ao
estudo dos processos de gestão possíveis de serem implementados e manti-
dos. Afinal, o trabalho de gestão da inovação só produz resultados concretos
caso haja, sobretudo, clareza em relação àquilo que se propõe a realizar.
Infelizmente, o termo inovação ainda é frequentemente mal empre-
gado em muitas situações do nosso cotidiano. Isso leva muitas empresas
a ficarem apenas no discurso sobre a necessidade de serem uma orga-
nização inovadora, pois, quando as pessoas responsáveis por conduzir a
inovação se reúnem para tomar alguma ação efetiva, não conseguem pro-
porcionar resultados efetivos. Por isso a importância de nos certificarmos
de que há suficiente compreensão sobre os fundamentos da inovação,
antes de prosseguirmos na jornada em busca da capacitação de sua ges-
tão. A boa notícia é que esse primeiro passo já foi dado!
ATIVIDADES
Atividade 1
No que tange à inovação, por qual motivo uma ideia que “se ven-
de” não é necessariamente uma ideia que se comercializa?
Fundamentos da inovação 29
Atividade 2
Por qual motivo ocorre a tendência de os concorrentes mais
relevantes de grandes companhias não serem outros grandes
conglomerados empresariais tradicionais, mas sim startups?
Atividade 3
O que pode ser considerado como a pedra angular da criação de
novos mercados?
REFERÊNCIAS
ACS, Z. Foundations of high impact entrepreneurship. Jena Economic Research Papers, v.
60, n. 1, 2008.
BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo: administração. Porto Alegre:
Bookman, 2019.
BEZERRA, C. A máquina da inovação: mentes e organizações na luta por diferenciação.
Porto Alegre: Bookman, 2011.
KIM, W. C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e
tornar a concorrência irrelevante. 2. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 5.0: technology for humanity. Hoboken:
John Wiley & Sons, 2021.
REIS, D. Gestão da inovação tecnológica. 2. ed. Barueri: Manole, 2008.
SCHUMPETER, J. Capitalism, socialism and democracy. New York: Hamper Brother, 1942.
Sertis. Marketing 5.0 Technology for Humanity. Sertis, 2022. Disponível em: https://
sertiscorp.medium.com/marketing-5-0-technology-for-humanity-4eb0cd58ca0b. Acesso
em: 18 jul. 2022 .
30 Gestão da Inovação
2
Inovação como processo
organizacional
No âmbito empresarial, só podemos gerir aquilo que é estabelecido
como um processo. Isso se dá com as áreas clássicas de competência or-
ganizacional, como finanças, marketing e produção, e, naturalmente, não
poderia ser diferente com a inovação. Quando as mais distintas (e de fato
inúmeras) atividades que abrangem ações inovadoras são devidamente
orquestradas é que começa a fazer sentido evocar uma gestão da inova-
ção. Esse será o foco deste nosso capítulo.
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• assimilar formas de desenvolver a cultura da inovação nas organiza-
ções empresariais;
• entender o processo da inovação pela perspectiva do efeito funil.
• assimilar as diferentes estratégias que podem ser empreendidas para
fins de inovação;
• apontar os mais relevantes indicadores-chave de desempenho (KPI)
da inovação;
• compreender a proposta da gestão ágil de empresas e de metodolo-
gias correlatas (Scrum, XP, Kanban, FDD, Design Sprint).
Inovação ≠ Criatividade
32 Gestão da Inovação
a totalidade dos projetos de consultoria em inovação é iniciada pelo Vídeo
ajuste da cultura da inovação. Em sua palestra no TED
Talks, 5 maneiras de liderar
As ações em prol da cultura da inovação envolvem necessariamente em uma era de constante
mudança, Jim Hemerling,
o gerenciamento de mudança. Sem mudança de pensamentos, com- especialista em mudança
portamentos e atitudes, a inovação não floresce. Mais uma vez, signi- organizacional, defende
que a mudança nas
fica trabalhar aquele tênue equilíbrio entre o “aqui, nós toleramos o empresas não precisa
erro!”, de um lado, e o “mas uma hora você tem que acertar!”, de outro. ser necessariamente
difícil. Sua tese é que o
Provavelmente, um dos grandes segredos das organizações mais trabalho de adaptação dos
negócios no mundo em
inovadoras (e, consequentemente, que mantêm culturas organizacio- constante evolução dos
nais voltadas a esse propósito) é sua capacidade de embutir a execução dias de hoje pode ser mais
revigorante que exaustivo.
na estratégia que formulam. Nesse sentido, precisamos reconhecer Para isso, ele elenca cinco
que muitos planejamentos falham justamente nesse aspecto: são de- imperativos, centrados
em colocar as pessoas em
senhados com perfeição, mas não são levados adiante. E no centro do primeiro lugar.
que é necessário para conduzirmos a execução da estratégia para ino-
Disponível em: https://www.ted.com/
var, está o instigante conceito de processo justo.
talks/jim_hemerling_5_ways_to_
Para compreendê-lo, tomaremos como base aqui as ideias de Kim lead_in_an_era_of_constant_
change/transcript#t-786995. Acesso
e Mauborgne (2019), em sua obra A estratégia do oceano azul. Primei- em: 30 maio 2022.
ramente, precisamos entender que uma organização empresarial
não se resume à alta administração e à gerência intermediária: todos
contribuem para os resultados, do mais alto escalão hierárquico às
linhas de frente, passando pelo CEO, pelos conselheiros, até o pessoal
operacional. Ao reconhecermos que uma empresa se sobressai entre
seus competidores por sua capacidade de conseguir executar a estra-
tégia, a inevitável questão que surge é: mas, afinal, como fazer isso?
Ora, isso ocorre apenas quando toda a equipe está alinhada com a
estratégia de inovação e continuamente disposta a apoiá-la em qual-
quer circunstância.
SFIO CRACHO/Shutterstock
34 Gestão da Inovação
Quem se preocupa em instaurar a melhor cultura da inovação pre-
cisa, antes de tudo, compreender o poder do processo justo. Como
explicam Kim e Mauborgne (2019), foram dois cientistas sociais que lan-
çaram a base teórica do processo justo: John Thibaut e Laurens Walker.
Na década de 1970, ambos combinaram seu interesse de pesquisa no
campo da psicologia da justiça com o estudo do processo, elaboran-
do, assim, a expressão justiça procedimental. De fato, o processo justo
corresponde, na área de gestão, à teoria da justiça procedimental, que
desenvolve nas pessoas uma maior disposição para comprar a ideia de
mudança. Isso resulta em um cenário em que os indivíduos dedicam
esforços e tomam iniciativas, indo além de seus deveres, procurando
darem o melhor de si e chegando até a sacrificarem seus interesses
pessoais para garantirem a efetiva execução da estratégia.
36 Gestão da Inovação
mento até os mais discretos escritórios de advocacia, a mais modesta
cooperativa agrícola até as mais diferenciadas instituições de ensino.
Entrevistas
Dizem
AS
CO
Pensam Explícito
SO
NH
ES
Observações Observável
SP
Fazem
EC
IM
EA
Usam
Sessão Tácito
EN
QU
generativa
TO
Sabem
O Sentem Latente
Sonham
PROFUNDIDADE
De todo modo, no geral, o que importa é nutrir uma boa e ampla rede
de relacionamentos profissionais (networking), pois dela vêm as melho-
res ideias inovadoras. Isso pode envolver ações como: acompanhar
38 Gestão da Inovação
Podcast
canais inspiradores em redes sociais (com destaque ao infindável
conteúdo de alta utilidade disponibilizado no YouTube) e participar O episódio Inovação
motivada por tendências,
mais ativamente de eventos, congressos, feiras, exposições e afins, do podcast ResumoCast
tanto em ambiente acadêmico como industrial. / Livros para Empreende-
dores, apresenta o livro
Indo além, um aspecto que não pode ser ignorado é a literatura: Trend driven innovation
(cuja tradução livre reme-
não por acaso, grandes empreendedores são vorazes leitores. Suas te ao título em português
leituras (e o tempo dedicado a elas) não ficam restritas apenas a do episódio), escrito por
David Mattin e Henry
tecnologias e negócios ligados à área de atuação principal e tra- Mason. Nessa obra, os
dicional de suas empresas. Pelo contrário, esses empresários de autores defendem a ideia
de que, para encontrar a
sucesso costumam ler acerca dos mais variados temas, justamente resposta sobre qual será
para poderem renovar seu potencial criativo, que muitas vezes é a próxima tendência de
um mercado, é necessário
canalizado para novas frentes de atuação de suas empresas. deslocar o olhar do que
as pessoas querem para o
Independentemente de quantas forem as fontes consultadas (é que as empresas querem.
sempre bom que sejam as mais amplas possíveis), na sequência é
Disponível em: https://
preciso realizar alguma triagem das ideias. É evidente que, quanto
open.spotify.com/
mais ideias forem reunidas, maiores serão as chances de êxito da episode/6KCKSJf7R7XfX4BbT1jb5E.
Acesso em: 2 jun. 2022.
empresa em seus negócios, por conta das inúmeras possibilidades
que podem ser exploradas. Contudo, na prática, nem toda ideia
será efetivamente desenvolvida. Pelos mais diversos (e compreen-
síveis) motivos, é comum que, para cada opção apresentada, mui-
tas outras sejam preteridas – pode ser em uma proporção de 1
para 30, 1 para 300 ou muito além disso. Por esse motivo é que, já
Wisiel/Shutterstock
há muito tempo, prevalece no mundo corporativo a alegoria de um
funil para tratar das escolhas que devem ser tomadas, como mos-
tramos na Figura 2, que ilustra um funil de projetos.
Fase 3:
Fase 2: desenvolvimento
análise das melhores dos projetos
ideias para decidir se aprovados
Fase 1: continuam ou não
geração de ideias (go/no-go decision)
40 Gestão da Inovação
Dessa forma, sucessivos filtros vão se aplicando à medida que a
ideia é lapidada, ganhando maturidade para que possa ser finalmente
transposta em um projeto formal. Porém, um fracasso em algum dos
filtros não necessariamente é tomado como definitivo. Por exemplo,
uma ideia pode ser descartada, em determinado momento, pelo fato
de que, apesar de ser atrativa e potencialmente inovadora, a empre-
sa não dispõe de recursos necessários ou de suficiente abertura de
mercado para seu lançamento. Esse potencial projeto pode ficar, por-
tanto, na fila (em stand-by
3
ou condição similar) para uma nova apre- 3
ciação em outra oportunidade. Standy-by pode ser traduzi-
do como algo que está em
Convém que os critérios para aplicação de filtros, conforme o con- espera ou de prontidão.
Grau de inovação
Atratividade
1 2 3 4 5 6
1 0 1 1 2 2 3
Receita 2 1 2 3 3 4 5
estimada 3 1 3 4 5 6 8
4 2 3 5 7 8 10
Facilidade de Tecnologia
implementação 1 2 3 4
1 1 1 2 3
4 CAPEX
4 2 1 3 4 5
42 Gestão da Inovação
Existem infindáveis critérios adicionais que podem ser usados e com-
binados para criar os filtros de escolha de ideias em cada organização
empresarial. Uma dessas possibilidades é aplicar um balanceamento
entre os horizontes de inovação do modelo de McKinsey, conforme
descrito por Markopoulos, Aggarwal e Vanharanta (2019).
Figura 3
Horizontes de inovação
alto
Horizonte 3
VALOR PARA O CLIENTE
Criando negócios
genuinamente novos
Horizonte 2
Cultivando negócios
emergentes
Horizonte 1
Manutenção dos
principais negócios
baixo
44 Gestão da Inovação
quarto grupo estão as empresas inovadoras patrocinadas pelo poder Livro
público, as quais têm mais garantias de êxito por conta da condição de Escrito por Silvio
Popadiuk, Exploração,
segurança de não assumirem sozinhas os riscos associados. explotação e ambidestria
versa sobre o fenômeno
No sistema de patentes,
rias como subproduto de suas iniciativas. Em geral, elas costumam ter
quem é titular (proprietá- elevada capacidade de engenharia e de desenho de produção. É bem
rio) da patente tem o direi-
to de bloquear a ação de
típico que essas empresas busquem custos reduzidos de produção ou
terceiros – sem o seu con- alguma forma de vantagem organizacional. Nesse contexto, a informa-
sentimento – de produzir,
colocar à venda, usar e
ção vale ouro e é fundamental para decidir o que deve ser imitado e
importar produto objeto quais as fontes para adquirir know-how (o saber fazer).
da patente ou processo ou
produto obtido direta- Por sua vez, na estratégia dependente, o mais corriqueiro é que
mente por processo que
as empresas sejam subcontratadas, respondendo às flutuações de
seja patenteado. Assim,
terceiros podem fazer uso demanda que impactam as organizações de maior porte (que são
da invenção somente com
seus grandes clientes corporativos). Geralmente são empresas roti-
a permissão do titular.
Portanto, a aquisição de neiras e conservadoras.
patente secundária (que
corresponde aos direitos Há ainda a estratégia tradicional, que se diferencia da estratégia
de aplicação adicional
dependente unicamente quanto à natureza do seu produto. Nesse
ou complementar de um
invento principal) pode ser caso, nem o mercado e nem a concorrência conseguem fazer com que
parte de uma atividade
as empresas mudem seu consagrado produto ou serviço.
empresarial visando ao de-
senvolvimento de produto
Por fim, a estratégia oportunista é adotada pelas empresas atuan-
ou serviço próprio de uma
empresa – mesmo que tes em espaços de mercado bastante específicos e particulares, voltan-
com tecnologia externa.
do-se completamente para esses nichos.
46 Gestão da Inovação
2.3.2 Formas de acesso às tecnologias para inovação
Como pontua Reis (2008), em sua obra Gestão da inovação tecnológi-
ca, em termos de estratégia de inovação, as formas de acesso à tecno-
logia importam – e muito! Nesse sentido, precisamos considerar o grau
de apropriação dessas tecnologias e o nível de exclusividade desejado.
Disso resulta a predominância ou a combinação de um ou mais desses
meios de acesso à inovação, com diferentes possibilidades, que envol-
vem: compra; importação explícita de tecnologia; vigilância tecnológica;
cópia; ser uma empresa subcontratada; pesquisa cooperativa; forma-
ção de pessoal próprio; licenciamento; pesquisa por encomenda (por
contrato); contratação de especialistas; associações e alianças estraté-
gicas; e desenvolvimento interno de P&D.
Um caso particular de
sultado – e maior desvantagem desse método – é o fato de a empresa
vigilância tecnológica é o acabar vigiando tecnologias já existentes e conhecidas, e, como conse-
benchmarking, em que tal
vigilância ocorre especifica-
quência, obviamente não terá exclusividade sobre a tecnologia.
mente em relação ao líder
Já a cópia, que resulta da vigilância tecnológica, envolve adaptações
de mercado. Por meio de
um processo contínuo de criativas, em que a melhoria tecnológica do produto/serviço copiado é
medidas e comparações,
fator preponderante. Para que a cópia seja bem-sucedida, é necessá-
as empresas que vigiam
procuram conseguir o rio, entre outras medidas, ter um excelente senso de timing, ou seja,
máximo possível de infor-
saber o momento certo de entrada do produto no mercado. A empresa
mações que as ajudem
a melhorar seu nível de copiadora, por certo, já está atrasada; assim, ela não deve entrar no
desempenho no mercado.
mercado se o produto que pretende copiar está na fase de declínio
no ciclo de vida – quando suas vendas começam definitivamente a ser
menores à medida que o tempo passa. Por definição, se é uma cópia
melhorada de algo já existente, nunca ocorrerá uma verdadeira ruptu-
ra tecnológica, como um novo e revolucionário produto.
48 Gestão da Inovação
Quanto à formação de pessoal próprio, significa um conjunto de
iniciativas para que os profissionais da equipe sejam permanentemente
treinados, aprimorados e reúnam cada vez mais conhecimento. Assim,
conforme Reis (2008, p. 92), é preciso “investir mais na formação das
pessoas do que na compra de equipamentos, pois o maior sucesso de
uma empresa está rigorosamente associado ao desempenho de seus
membros, em todos os momentos, quando agem ou tomam decisões”.
50 Gestão da Inovação
explorá-la em seus próprios negócios ou, então, vendê-la a tercei-
ros. Tudo sempre tem seu custo, e, especificamente nessa forma de
aquisição de tecnologia, ele é sem dúvida o mais elevado, além de
seus resultados não serem imediatos (tampouco garantidos).
Disponível em: https:// Para Putz (2018), quatro indicadores de inovação podem ser con-
open.spotify.com/ siderados como key (indicadores-chave), tendo, entre seus muitos
episode/6xjzYsNLQn80xa1Je9YA8L.
Acesso em: 2 maio 2022. méritos, a aplicação empírica em diversas empresas. Vejamos, a se-
guir, quais são eles.
Essa não é uma medida propriamente dita, mas sim uma análise
exata da gama de produtos. O que a empresa procura aferir são ques-
tões como: qual é a idade dos produtos? Quanto cada um deles con-
tribui para o resultado geral da empresa? Essa avaliação pode sinalizar
exatamente quais e quantos produtos ela precisa desenvolver para de-
fender ou expandir sua posição no mercado.
52 Gestão da Inovação
Fica, então, o desafio gerencial de definir as variáveis com a maior
exatidão possível. A aplicação prática desses indicadores, como já co-
mentamos, não é fácil, pois as variáveis envolvidas requerem definição
exata e conclusiva para que as fórmulas também comuniquem núme-
ros que façam sentido para os gestores. De todo modo, a gestão da ino-
vação é mais consistente quando dá a devida atenção a esses quatro
KPI da inovação.
Uma metodologia ágil pode ser definida como uma abordagem pas-
so a passo que minimiza os riscos relacionados à inovação. Diante de
uma ideia potencialmente inovadora (por exemplo, o emprego de uma
nova tecnologia em um produto ou serviço), tudo começa com um teste
de viabilidade e, em seguida, passa pela prova de valor, integração, pro-
dução, refinamento e, finalmente, termina na revisão. Dividir essa jor-
nada em partes menores é de fato crucial, pois permite reavaliar o valor
Good_Stock/Shutterstock
54 Gestão da Inovação
Então, o objetivo do Scrum é desenvolver inovações de alta quali-
dade da forma mais rápida e eficiente possível. Em um curto período,
produtos tangíveis são desenvolvidos na forma de protótipos, para re-
ceberem o feedback de clientes. Não há especificações formais de re-
quisitos, mas sim uma visão que define o que deve ser alcançado com
o projeto de inovação, servindo de orientação.
Elnur/Shutterstock
Em
Atrasadas A fazer andamento Em teste Feitas
56 Gestão da Inovação
O FDD envolve, essencialmente: desenvolver um modelo geral; criar
uma lista de recursos; planejar por recurso; fazer o design/modelagem
por recurso; e construir por recurso.
Figura 5
Exemplo de Design Sprint
CALENDÁRIO SEMANAL
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gestão da inovação em uma empresa pode ser tão requintada ou
tão objetiva quanto a própria complexidade das operações do negócio.
Mesmo em empresas de pequeno porte, ela exige uma série de cuidados
que não podem ser ignorados, para que não haja comprometimento do
resultado final – que é a inovação de fato. Isso envolve estabelecer uma
adequada cultura de inovação, praticar corretamente o funil da inovação,
decidir seguir a mais pertinente estratégia da inovação, medir (de alguma
forma) os resultados objetivos da inovação expressos nos KPI, além de
ATIVIDADES
Atividade 1
Por qual motivo quantidade é qualidade na perspectiva do funil
da inovação?
Atividade 2
O que explica a contratação de especialistas como algo para aces-
sar novas tecnologias?
Atividade 3
Qual é a deficiência de um modelo de gestão da inovação
pautado exclusivamente nas mensurações quantitativas dos
indicadores de desempenho?
REFERÊNCIAS
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tornar a concorrência irrelevante. 2. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
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VIANNA, M. et al. Design thinking: inovação em negócios. Rio de Janeiro: MJV Press, 2012.
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• contrastar os paradigmas de inovação aberta e de inovação fechada;
• entender o conceito e o papel dos diferentes participantes de um
ecossistema de inovação;
• reconhecer a iniciativa dos hackathons como prática de gestão de ino-
vação aberta;
• entender a importância da diversidade humana no âmbito da gestão
da inovação;
• assimilar a proposta dos negócios como plataformas.
60 Gestão da Inovação
Embora seja um tema teorizado recentemente, ele se materializa
na prática das organizações empresariais há várias décadas. Pesqui-
sador vanguardista na área, Chesbrough (2003a; 2003b) descreve que
o processo de inovação industrial sofreu uma mudança significativa
nas últimas quatro ou cinco décadas. Antes disso, o que prevalecia
era o chamado modelo fechado, segundo o qual as corporações indus-
triais seriam capazes de inovar apenas realizando atividades de pes-
quisa básica internamente e levando os resultados dessas pesquisas
ao mercado. E é bem verdade que essa abordagem provou ser válida
em uma variedade de empreendimentos durante a transição do sécu-
lo XX para o século XXI.
Base
tecnológica
Internalização de tecnologia externa
externa
Inovação aberta 61
Em termos de gestão da inovação, o efeito funil, no contexto da
inovação aberta, resulta em um sem-número de novas possibilidades.
Começando pela boca do funil, que deixa de ficar restrita apenas às
ideias geradas internamente na empresa: o processo possibilita tam-
bém coletar contribuições de fora da organização, originadas de tercei-
ros. De fato, a estratégia aberta é o que melhor equilibra a criação de
valor (fontes internas) com a captura de valor (fontes externas).
A empresa pode fornecer estrutura física, recursos e até mesmo mentoria para que projetos de
Aceleração terceiros consigam ser desenvolvidos e atinjam o mercado de maneira mais rápida e consistente.
Empresas de terceiros com ativos e competências de interesse podem ser adquiridas, preferen-
Aquisição cialmente, em seu estágio inicial, como no caso de startups, para passarem a compor a estrutura
da empresa.
A empresa pode unir esforços temporariamente com uma ou mais organizações para o aprovei-
Joint-venture tamento de uma oportunidade que gere benefício a todas elas.
A empresa pode mesclar sua estrutura organizacional, de modo permanente, com outra(s) organi-
Fusão zação(ões) – inclusive concorrentes.
Uma tecnologia criada externamente (por exemplo, por instituições de pesquisa, universidades, la-
Internalização
boratórios, inventores independentes ou aliados tecnológicos) pode ser incorporada ao desenvolvi-
de tecnologia mento interno da empresa para lançamento de novos produtos e serviços.
Tecnologias e negócios que sejam desenvolvidos internamente, mas que, por algum motivo, não
Licenciamento sejam pertinentes de serem comercializados pela empresa, podem ser negociados com terceiros
(parceiros de negócios).
A empresa pode fornecer o conhecimento especializado de seus executivos e gestores para orien-
Mentoria tar teses de negócios de outras empresas e de inovadores independentes.
62 Gestão da Inovação
Em linhas gerais, nas composições de inovação aberta, prevalece a
ideia de que terceiros possam ajudar a empresa a atingir melhores re-
sultados (em termos financeiros, de exposição de marca, de aquisição
de conhecimento etc.), da mesma forma que a empresa pode ajudar
outras organizações a atingirem os melhores resultados por elas dese-
jados. Para todos os efeitos, é uma relação ganha-ganha.
Inovação aberta 63
único caminho para as empresas é dispor de um processo robusto (in-
clusive com os requintes tecnológicos que se mostrarem necessários,
como big data e tecnologias afins).
FauzyStore/Shutterstock
Área
interna de
manufatura
Área interna
de pesquisa e Processo eficaz Área interna
desenvolvi- de inovação de finanças
mento (P&D)
Área interna
de marketing
64 Gestão da Inovação
Há também os desafios legais da inovação aberta. Ignorarmos essa Saiba mais
questão pode causar obstáculos desnecessários já no início de um pro-
Jorm S/Shutterstock
jeto dessa natureza. Esses aspectos não são de difícil resolução, mas,
se os riscos e possíveis impactos negativos não forem considerados e
tratados de maneira profissional logo no início, eles não só afetarão o
projeto de inovação aberta, como também poderão prejudicar a ima-
gem da marca e da empresa. Portanto, é preciso dar especial atenção a Mentalidade é a chave:
devemos evitar atitudes
elementos, como propriedade intelectual e termos e condições gerais
negativas em relação
entre os participantes desse tipo de arranjo. à inovação aberta. Às
vezes, uma questão que
Finalmente, o último (mas provavelmente o mais crítico) desafio da limita a cultura aberta
inovação aberta é a falta de cultura corporativa colaborativa e multifun- e inovadora pode ser
uma reação negativa em
cional. Frequentemente, os funcionários podem ter uma mentalidade relação a algo que não foi
fixa, por exemplo, “é assim que as coisas são feitas aqui”. Esse tipo de inventado internamente.
Muitas vezes, as pessoas
cultura pode ser problemática se as pessoas não estiverem compro- que são contra a inovação
metidas com a execução de ideias que venham de fora da organização. aberta e a colaboração
têm medo de questões
Aliás, esse ceticismo, até mesmo em relação às grandes ideias, pode de qualidade. Embora
levar a uma situação em que tais ideias não tenham chance alguma esse tipo de preocupação
seja compreensível, não é
de florescer, começando pelo veto quanto à destinação de qualquer tão relevante para o que
recurso para o desenvolvimento delas. se tenta alcançar com a
inovação aberta – então,
Por outro lado, um equívoco geral, quando tratamos de inovação é preciso, sim, ser um
pouco mais visionário
aberta, é admitir somente boas ideias. Ora, embora ninguém proponha nesse sentido!
más ideias propositalmente, o objetivo da inovação aberta não é tentar
controlar a qualidade das ideias. Em vez disso, o objetivo é obter no-
vas ideias das pessoas e alavancar esse conhecimento. Além do mais, Vídeo
no início, é quase impossível sabermos quais ideias são boas e quais No vídeo Colaboração
não são. Portanto, é importante prevenirmos a negatividade exacerba- e inovação aberta: uma
estratégia para enfrentar
da, porque, do contrário, isso pode resultar em inflexibilidade, o que é crises, do TEDx Talks, a
completamente oposto a toda ideologia que prega a inovação aberta. executiva Yara Senger
faz sua análise de como
Na prática, observamos que, por vezes, o receio em relação à inova- iniciativas de colaboração
e de inovação aberta
ção aberta também pode vir da incerteza. Talvez a equipe interna sinta
servem como excelente
que sua posição esteja ameaçada ou simplesmente não esteja realmente estratégia para enfrentar
crises, inclusive contando
ciente dos reais benefícios do exercício de cocriação. Assim, uma maneira
experiências vividas ao
de tentarmos contornar esse tipo de situação é dar exemplos positivos de longo de sua própria
carreira profissional.
inovação aberta. Afinal, as pessoas consideram as histórias de sucesso da
vida real inspiradoras e, se for possível provar que uma empresa seme- Disponível em: https://www.youtube.
lhante teve sucesso com esforços de inovação aberta, as chances de con- com/watch?v=eVRQQGKRGckxxx.
Acesso em: 1 jun. 2022.
vencer os funcionários a também tentarem algo nesse sentido aumentam.
Inovação aberta 65
Enfim, em vez de se sentirem ameaçadas pelo novo conhecimen-
to e pela variedade de perspectivas, as pessoas precisam encontrar
maneiras de abraçar a cultura da empresa aberta em todos os níveis
da organização.
66 Gestão da Inovação
Vídeo
Aliás, nesse contexto, será que podemos admitir simbolicamente o
A analogia entre o
ápice da cadeia alimentar como o grau mais avançado de vantagem
mundo dos negócios e
competitiva? Talvez uma empresa verdadeiramente responsável pela a natureza é explicada
no vídeo Ecossistema de
criação e manutenção de um ecossistema de inovação (o que significa
inovação, do Sebrae, que
uma espécie de microambiente de negócios para seus próprios fins) destaca a importância
desse arranjo, especial-
possa, sim, ser considerada o verdadeiro topo da cadeia alimentar (a
mente na perspectiva dos
supremacia estratégica) nesse tipo de ambiente, de acordo com a linha pequenos negócios.
de pensamento que prevalece na gestão empresarial, especialmente
Disponível em: https://www.youtube.
no atual mundo hipercompetitivo. De todo modo, para além de mera (e com/watch?v=7I57ix2zCXA. Acesso
inevitável) competição, ecossistemas de inovação são fortemente em- em: 1 jun. 2022.
basados em cooperação.
Inovação aberta 67
efetivamente para maximizar o impacto econômico e o potencial de
suas pesquisas e inovações.
68 Gestão da Inovação
ilustra a Figura 2) e ninguém efetivamente comandar de modo abso-
luto o fluxo geral dos negócios que neles efervescem, por outro, algu-
mas empresas podem, sim, conceber estratégias para aumentar o grau
de importância de sua participação nesses ecossistemas. Na prática, a
empresa pode fazer com que, de uma forma ou de outra, as iniciativas
dos demais participantes orbitem em torno de seus próprios produtos
e serviços – uma forma tênue de dispor de um ecossistema privado de
inovação (SARTORI, 2018).
Figura 2
Interação de uma empresa com o próprio ecossistema de inovação
Inovação aberta 69
A perspectiva é de que, ao longo dos próximos anos, muitas boas
práticas de gestão de ecossistemas de inovação serão cristalizadas e
mais bem difundidas como processos de extensão da gestão da inova-
ção nas empresas. Aliás, com base na crescente importância desse tipo
de ecossistema no meio corporativo, e até com base no sufixo em inglês
ing, da expressão marketing (gerúndio que se traduz no processo contí-
nuo de desenvolvimento de mercados), não seria nada surpreendente
se, em um futuro bem próximo, uma nova competência organizacional
irrompesse como um ecosysteming – um processo sistematizado e con-
tínuo de desenvolvimento de ecossistemas de inovação aberta.
3.3 Hackathons
Vídeo A palavra hack, no contexto do termo original em inglês life hack,
pode ser interpretada como truques da vida – aquelas formas mais rá-
pidas e simplificadas de realizar tarefas diárias. Assim, é o ato de traba-
lhar de modo mais inteligente, e não mais difícil – por exemplo, quando
uma pessoa sabe explorar os cashbacks dos bancos digitais e as milhas
de cartões de crédito para produzir renda extra de maneira contínua.
70 Gestão da Inovação
Hackathons competitivos costumam reunir dezenas (e, às vezes, até Saiba mais
milhares) de programadores debruçados sobre laptops para uma ma- A Fortune 500 é uma
tradicional listagem
ratona de codificação. Essas pessoas trabalham sozinhas ou em equi- anual, publicada pela
pes para resolver um desafio definido ou criar um produto. Ao longo de revista Fortune, das 500
maiores corporações
sua duração típica de 24 a 48 horas, prêmios em dinheiro, empregos e dos EUA em termos de
estágios altamente competitivos estão em jogo – além de o direito de receita total por ano
fiscal. Esse ranking reúne
se gabar por vencer uma competição dessa natureza. tanto empresas de capital
aberto quanto empresas
No caso dos hackathons patrocinados, universidades, empre- privadas cujos dados de
sas (inclusive as mais robustas corporações globais, a exemplo das faturamento estejam dis-
poníveis publicamente.
listadas em rankings como a Fortune 500) e até mesmo organiza-
ções sem fins lucrativos costumam hospedar esses eventos para re-
crutar os melhores talentos, resolver problemas (dos grandes aos
pequenos), expandir negócios ou simplesmente reunir mentes se-
melhantes para projetos de codificação.
Inovação aberta 71
Os hackathons estão enraizados no fato de que a tecnologia defi-
ne o mundo contemporâneo. A realidade digital está irreversivelmente
estabelecida; portanto, a linguagem global para mudança e inovação é
frequentemente escrita em linhas de código.
72 Gestão da Inovação
3.4 Diversidade e inovação
Vídeo Diversidade importa para a inovação? Evidências empíricas apon-
tam que sim, a diversidade importa. Mas qual diversidade? Muito mais
do que meramente atendermos a um ditame politicamente correto,
precisamos fazer um exame aprofundado dessa questão.
Inovação aberta 73
forma de U invertido entre a diversidade religiosa e o desempenho das
equipes. Conforme mostramos no Gráfico 1, a diversidade moderada foi
associada a um desempenho superior, enquanto as equipes homogêneas
e as altamente heterogêneas apresentaram desempenho inferior.
Gráfico 1
Relação entre desempenho e diversidade religiosa
-2
-4
Desempenho
-6
-8
-10
-12
-14
-2 -1 0 1 2
Diversidade religiosa
74 Gestão da Inovação
criar produtos melhores demandam a mais alta variedade de ideias e
perspectivas; por outro, considerando que o trabalho de execução é
mais bem gerido com base em um maior alinhamento sobre como pro-
ceder. Enfim, é o teste empírico da hipótese de que a diversidade cog-
nitiva é saudável para criar novidades e soluções criativas a problemas,
embora não necessariamente o seja para uma coordenação eficiente.
Inovação aberta 75
Em termos de gestão da inovação, esse é um dos mais recentes cam-
pos de estudo: afinal, somente a partir de 2010 os conceitos de plata-
formas e ecossistemas passaram a ocupar o centro da discussão sobre
a transformação dos negócios e da sociedade em geral. São profundas
as implicações de uma propagação tecnológica cada vez maior e da
explosão do potencial relacionado à inovação. A indústria agora está
mais sensível a como essas tendências pressionam a sociedade para
ressignificar o próprio conceito do que é uma organização e de como
ela funciona. Isso envolve repensar instituições que abraçam a causa
da abertura da inovação, descobrir como cada indivíduo precisa se
comportar para encontrar novas oportunidades e responder a desafios
cada vez maiores de crescimento e transformação, em um mundo ca-
racterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
3
Microsserviços são um Assim, as plataformas negociais fornecem uma arquitetura para com-
formato de arquitetura binar inovações internas e externas de modo a criar valor em toda a ca-
de software, consistindo
em construir aplicações deia de suas atividades, fornecendo tecnologia útil ao mercado. Uma das
com base no desmem- principais características das atuais plataformas de negócios é o fato de
bramento em serviços
independentes. Mais serem majoritariamente digitalizadas – um efeito da Indústria 4.0. Estudos
recentemente, o conceito da Accenture (2022) sustentam que o poder do ecossistema de inovação
passou a abarcar também
negócios, dada a profu- é uma das principais tendências para moldar o futuro dos negócios: há
são de transformação empresas que estão cada vez mais integrando suas principais funcionali-
digital na atualidade. Por
exemplo, é quando o dades de negócios com terceiros e suas respectivas plataformas, indican-
recurso de leitura em voz do também que cada vez mais relacionamentos precisam ser alavancados
alta de texto digitado em
uma ferramenta como o para construir um novo papel para as organizações na interação com seus
Google Tradutor passa ecossistemas. Com efeito, a criação de valor é vital para a adoção da ar-
a ser empregado como
recurso em outros sites, quitetura por terceiros e clientes. Isso significa que as empresas do século
inclusive de outras marcas XXI devem saber desenhar suas estratégias de ecossistema, que incluem
em nada relacionadas ao 3
Google, e como recurso expedientes como API, microsserviços e articulações de plataforma (in-
de produtos e serviços cubadoras de negócios alheios, como o Wayra da Telefônica e o Cubo do
em geral das empresas.
Itaú, são alguns exemplos desse tipo de articulação).
DGLimages/Shutterstock
76 Gestão da Inovação
Para Cicero (2017a), as experiências de plataforma levam a uma de-
sobediência saudável do ecossistema, colocando em prática a crença
de que ninguém consegue inovar sendo estritamente obediente. Afinal,
em um mercado em que o potencial esbarra em limites de crescimen-
to, o papel de uma organização não pode mais ser definido sob uma
perspectiva isolada (a mentalidade do tipo “eu produzo e você, cliente,
consome”): estratégia geral, visão e roadmap 4 de projetos devem ser 4
adaptativos e desenvolvidos em conjunto com o ecossistema de que a Roadmap é um documento
empresa participa, em interações permanentes. essencial para a organiza-
ção das tarefas e definição
Assim, para redefinir seu papel na complexa realidade atual, as or- dos caminhos a serem se-
guidos desde o desenvol-
ganizações devem deixar de se agarrar a ideias preconcebidas e passar vimento inicial do produto
a verdadeiramente fornecer soluções, pensando mais sobre como po- até o relacionamento com
o cliente após a entre-
dem levantar as questões certas, criar os convites certos para interagir, ga final, guiando ações
explorar e criar o novo – por sinal, um paradigma de pura cocriação. conjuntas e direcionando
tomadas de decisões.
Embora qualquer organização que esteja concebendo uma estratégia
de plataforma deva ter como objetivo, em primeiro lugar, projetar ex-
periências de plataforma harmonizadas e integradas, em longo prazo
as estratégias de plataforma acabarão exigindo que se deixe em aberto
possibilidades de coevolução, remixagem (que é a recombinação de
premissas e recursos para adequar propósitos) e reinterpretação.
Inovação aberta 77
– entendida como direito de divergir e recombinar elementos – é neces-
sário para evoluirmos para algo novo, com maior valor, para apontar
um novo rumo nessa realidade em constante mudança.
78 Gestão da Inovação
como os modelos organizacionais atuais não estão mais à altura
desse desafio: afinal, como alcançar todo o potencial das platafor-
mas com organizações limitadas pela mentalidade industrial e buro-
crática? Isso simplesmente não é possível.
Inovação aberta 79
Figura 3
Contextos de platform business
Mo
on
sho
oti
ng
Escala na
cadeia de valor
Valor
80 Gestão da Inovação
capital (como máquinas, equipamentos e instalações industriais) e, em
vez disso, alavancar ativos e competências distribuídas no ecossistema.
Isso resulta em uma capacidade muito mais rápida de atingir o merca-
do: os efeitos de rede podem crescer rápida e exponencialmente, uma
vez que uma série de condições sejam atendidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática da inovação aberta é, antes de tudo, um exercício de hu-
mildade. Afinal, com ela, as organizações passam a reconhecer que, por
mais competências e qualificações que consigam reunir internamente em
suas equipes de trabalho, nada se compara ao potencial fantástico do
conhecimento que existe fora da empresa. Além disso, é uma questão de
sensatez (até do ponto de vista financeiro): de que adianta tentar adquirir
todo o novo conhecimento necessário como ativo exclusivo da empresa,
se as oportunidades de mercado vão e vêm em uma velocidade impossí-
vel de acompanhar quando se atua sozinho? Assim, as diversas práticas
Inovação aberta 81
de inovação aberta vão, pouco a pouco, redefinindo a própria forma de
trabalhar nas organizações empresariais atuais – valendo-se da premissa
de que é possível, sim, estabelecer relações do tipo ganha-ganha com os
parceiros de um ecossistema de inovação.
ATIVIDADES
Atividade 1
Como funciona a prática de mentoria em um modelo de trabalho
de inovação aberta?
Atividade 2
Qual é a vantagem de uma pequena organização atuar em um
ecossistema de negócios liderado por uma grande corporação?
Atividade 3
Qual é o motivo de o moonshooting em platform business ser
atraente do ponto de vista financeiro?
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Inovação aberta 83
4
Fomento à inovação
Apoiar a inovação não é uma tarefa estritamente motivacional: na prática,
projetos inovadores consomem muito dinheiro. Também não costuma ser
uma movimentação financeira tranquila, porque grande parte das iniciativas
de inovação simplesmente fracassa (e, consequentemente, não traz retorno
financeiro positivo para o investidor). Mesmo assim, boa parte dos movimen-
tos observados em um ecossistema de inovação diz respeito aos inúmeros
fluxos financeiros impelidos com os seus participantes, porque ser coroado
com uma vitória nessa empreitada pode, muitas vezes, compensar vários
fracassos. Dessa forma, costuma-se valer de diversas possibilidades, como
capital de risco, corporate venture capital (CVC), fusões e aquisições, editais e
chamadas de agências públicas e incentivos governamentais.
Objetivos de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• compreender a lógica que envolve o capital de risco;
84 Gestão da Inovação
inovação tecnológica. Por sinal, uma das maneiras pelas quais os mer-
cados financeiros desempenham esse papel é disponibilizando capital
para empresas com maior potencial de implementar novos processos
e comercializar novas tecnologias. A ideia de mercado financeiro indi-
cando vencedores (projetos mais promissores) pode ser rastreada pelo
menos até a noção de destruição criativa de Schumpeter (1942).
Desse modo, um dos canais que podem ser usados pelos mercados
financeiros para impactar o desenvolvimento tecnológico e a inovação
é o financiamento da própria inovação. Nesse sentido, é inevitável exa-
minarmos a relação entre capital e risco: afinal, a incerteza é a caracte-
rística inerente ao processo de inovação. O risco surge da incerteza, não
apenas por causa das probabilidades associadas aos resultados (e não
mais que probabilidades), o que pode envolver até mesmo as formas de
resultados potenciais esperadas. Do ponto de vista de quem financia, é
difícil avaliar objetivamente projetos de inovação que precisam de finan-
ciamento – especialmente pelo fato de que a única maneira de descobrir
o potencial de uma inovação é investindo nela. Além disso, os retornos
da realização de um investimento e a forma como ele é estruturado (por
exemplo, dívida versus patrimônio) podem ter efeitos importantes sobre
as decisões de investimento, bem como sobre a forma e a direção das
políticas de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Fomento à inovação 85
Diante de tanta nebulosidade, será que faz sentido para um in-
vestidor financiar a inovação, por exemplo, apostando em startups?
Definitivamente, sim! Considerando a ideia schumpeteriana de des-
truição criativa, podemos afirmar que a inovação – e, nesse caso, vale
enfatizarmos as inovações mais disruptivas ou revolucionárias, que
são fundamentadas em uma nova ordem trazida por uma empresa –
está intimamente ligada à formação de pequenas e jovens empresas.
Startups estabelecidas com base em uma nova patente, uma nova
ideia e um novo produto costumam impulsionar as inovações mais
radicais para a economia.
86 Gestão da Inovação
de que os juros desse empréstimo devem ser pagos a partir do mo-
mento em que o crédito é concedido – o que não costuma combinar
com expectativas de sucesso comercial apenas em longo prazo.
Fomento à inovação 87
Por sua vez, as operações de equity – ou participação societá-
ria – envolvem amplas possibilidades, oferecidas por aceleradoras,
investidores-anjos, venture capital/private equity e, ainda, a abertura
de capital (IPO).
Figura 1
Vantagens e desvantagens de operações de debt e equity
INDz/Shutterstock
enciktepstudio/Shutterstock
VANTAGEM VANTAGEM
Não abre participação societária, Evita dispêndio de recursos com
preservando a autonomia original juros e amortizações, trazendo,
da empresa. ainda, capital intelectual.
DESVANTAGEM DESVANTAGEM
Há custo financeiro direto, que Operação normalmente mais
costuma ser mais elevado no morosa que o debt.
curto prazo.
88 Gestão da Inovação
em obter fontes mais tradicionais de obtenção de capital. Na prática,
muitos produtos e serviços inovadores apoiados por capital de risco
têm ciclos de desenvolvimento bastante longos, no sentido do tempo
em que a ideia inovadora precisa para se transformar efetivamente
em produto e chegar ao mercado. E isso não é atraente para investi-
dores que buscam retornos mais rápidos sobre seus investimentos.
Vyacheslavikus/Shuttersock
O estágio inicial é o financiamento
antes de o empreendimento iniciar
a fabricação e a venda comercial –
portanto, antes de produzir lucro. O financiamento de expansão
Isso inclui financiamentos dos tipos dos negócios apoia o crescimento
seed (semente) e startup. O primeiro e a expansão da capacidade
é fornecido para pesquisar, avaliar de fabricação e vendas de uma
e desenvolver um conceito inicial, empresa para gerar lucros.
ao passo que o segundo visa apoiar
o desenvolvimento do produto e o
marketing inicial.
Fomento à inovação 89
atividade empresarial sempre são os mais arriscados. Assim, os chama-
dos venture capitalists (VC) ou investidores de capital de risco são aqueles
investidores com mais apetite ao risco: podem perder muito caso o ne-
gócio fracasse, mas, por outro lado, podem ganhar muito mais do que
qualquer outra aplicação financeira convencional caso ele prospere. Na
prática, os VC mantêm seus investimentos em um número variado de
empreendimentos e – por mais seletos que sejam no momento de ava-
liar um empreendimento para apoiar – sabem que, de acordo com as
estatísticas, simplesmente perderão dinheiro na maioria de suas apli-
cações. Mesmo assim, eles vão em frente e fazem os investimentos: afi-
nal, por vezes, um único caso de sucesso é suficientemente expressivo
a ponto de pagar o prejuízo de todos os outros investimentos malfada-
dos – e ainda sobrar um bom lucro.
90 Gestão da Inovação
presa maior em uma empresa menor, até as mais variadas formas de
composição de investimento corporativo.
Fomento à inovação 91
Mais uma vez, precisamos compreender a lógica desse tipo de es-
tratégia. Afinal, o que realmente leva empresas robustas e estáveis a
optarem por investirem seu dinheiro em empreendimentos inques-
tionavelmente arriscados? Ora, o CVC disciplina a prática de grandes
empresas investirem em startups inovadoras. De maneira análoga aos
1 grupos de investidores-anjos
1
e aos fundos de VC, as empresas prati-
A curiosa designa- cantes de CVC investem em startups, podendo fazer isso em todas as
ção angel investor (ou
investidor-anjo) é dada a etapas do ciclo de desenvolvimento destas.
pessoas físicas, usualmen-
te profissionais ou em- Não há nada de errado com filantropia, mas definitivamente não se
presários bem-sucedidos, trata disso. O fato é que, ao adquirir participações acionárias nessas
que investem em empre-
sas iniciantes, fornecen- startups, os fundos CVC fazem com que a grande empresa possa obter
do não apenas capital vantagem competitiva e acessar novas ideias, novos mercados e novas
financeiro, mas também
intelectual, apoiando es- tecnologias. Por sinal, as iniciativas de CVC podem ser motivadas por
ses empreendedores por objetivos estratégicos e financeiros.
meio de sua experiência
e seu conhecimento, que Como movimento estratégico, a prática de CVC leva a grande em-
são tanto técnicos (o que
se sabe) quanto relacio-
presa a investir em startups para dispor de um atalho, no sentido de
nais (quem se conhece acesso facilitado a novas tecnologias, além de possibilitar identificar al-
no mercado). Por isso,
essa forma de investi-
vos de aquisição antecipadamente. Em um mundo em que os mais pe-
mento ficou conhecida na rigosos competidores de uma grande empresa não são mais as outras
prática como smart money
(dinheiro inteligente).
grandes marcas tradicionais do mercado, mas sim as startups (que às
vezes ainda estão em fase de esboço), vale a mentalidade “compre-os
antes que eles cresçam!”. De todo modo, como reconhecem Bessant e
Tidd (2019), fica evidente que ações de CVC criam valor tanto para as
grandes corporações quanto para as startups apoiadas.
92 Gestão da Inovação
financeiras, que abrangem fusões, aquisições, consolidações, ofertas
públicas de aquisição, compras de ativos e aquisições de gestão. Além
disso, essa sigla costuma ser adotada para fazer referência às mesas de
operação das instituições financeiras que se ocupam desse tipo de ativi-
dade. Em linhas gerais, o que justifica um processo de M&A é o princípio
da sinergia: a ideia de que, de modo simbólico, 2+2=5.
Fomento à inovação 93
Quadro 1
Principais formas de transações do tipo M&A
Tipo Cenário
Os conselhos de administração de duas organizações aprovam a
combinação de seus negócios e buscam anuência dos acionistas.
Fusão
Após a fusão, as marcas anteriores deixam de existir de maneira
isolada, passando a existir uma nova marca resultante da união.
Em uma aquisição do tipo simples, a organização adquirente pas-
Aquisição sa a deter participação majoritária na empresa adquirida, embora
não altere o nome e a estrutura legal desta.
Nesse caso, surge necessariamente uma nova empresa. Acionis-
tas de ambas as empresas precisam aprovar o ato da consolida-
Consolidação
ção. Após tal anuência, a eles são distribuídas ações ordinárias do
novo empreendimento.
Uma empresa oferta a compra das ações circulantes de outro
empreendimento sob determinado preço. A empresa comprado-
ra faz a comunicação da oferta de maneira direta aos acionistas
Oferta pública
da outra organização, sem que haja interferência do corpo gestor
e do conselho de administração da empresa-alvo (nisso reside o
caráter público dessa oferta).
Uma empresa faz a aquisição dos ativos de outra organização.
A empresa detentora dos ativos que estão sendo adquiridos
precisa obter aprovação dos seus acionistas. Comprar ativos é
Aquisição
expediente comum durante processos de falência, situação em
de ativos
que outras empresas competem por diversos ativos da empresa
falida, com posterior liquidação logo após a transferência final de
ativos para as organizações compradoras.
Nessa modalidade, também denominada de management-led
buyout (MBO), a aquisição da empresa é feita por seus próprios
gestores ou administradores. Tal operação pode ocorrer de varia-
das maneiras – a mais comum delas é uma combinação de dívida
Aquisição
mais dinheiro à vista ou ativos dessa organização. Na prática, por
da gestão
se tratar de operação que envolve elevados valores, os gestores
usualmente não têm condições de assumir sozinhos esses custos,
sendo bem comum que eles se juntem para adquirir o controle
daquela empresa como seus novos sócios.
Fonte: Elaborado pelo autor.
94 Gestão da Inovação
por exemplo, quando os fabricantes de automóveis Daimler-Benz e
Chrysler deixaram de existir separadamente em 1998, com a fusão
de ambas, para que uma nova empresa, a Daimler Chrysler™, fosse
criada – união que perdurou até 2007. Tecnicamente, uma compra
também pode ser denominada fusão quando os dois CEO envolvidos
entram em acordo quanto à possibilidade de a união ser o melhor
interesse de ambas as empresas.
Estrutura Descrição
Duas empresas que estão em concorrência direta e compar-
Fusão horizontal
tilham as mesmas linhas de produto e mercados de atuação.
Ocorre entre cliente e empresa ou fornecedor e empresa. Caso,
Fusão vertical por exemplo, um fornecedor de casquinhas de sorvete unir o
negócio com uma sorveteria por ele atendida.
Duas empresas que atendem à mesma base de consumidores
Fusões congenéri-
de maneiras diferentes, como no caso de um fabricante de
cas ou circulares
televisores e uma empresa de TV por assinatura.
Fusão de exten- Duas empresas que vendem os mesmos produtos em diferen-
são de mercado tes mercados.
Fusão de exten- Duas empresas que vendem produtos diferentes, mas de al-
são de produto gum modo relacionados, no mesmo mercado.
Duas empresas que não têm nenhuma área de negócios em
Conglomeração
comum.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Fomento à inovação 95
ferença entre o valor contábil e o preço de compra desses ativos pode
contar com depreciação anual, o que, na prática, reduz os impostos a
pagar por parte da empresa adquirente. O segundo método é denomi-
nado fusão de consolidação, nesse arranjo, o resultado é a formação de
uma nova empresa por meio de duas empresas adquiridas e combina-
das como nova entidade. Nesse caso, os termos fiscais aplicáveis são os
mesmos de uma operação de fusão de compras.
96 Gestão da Inovação
um período razoavelmente curto. Esse tipo de fusão ocorre quando
uma empresa privada que tem fortes perspectivas e deseja conseguir
financiamento compra uma empresa concha de capital aberto – por-
tanto, desprovida de operações comerciais e com ativos limitados.
Nessa composição, a empresa privada reverte a fusão para a empresa
pública, para que, juntas, tornem-se uma empresa de capital aberto
totalmente nova, com ações negociáveis.
Por sua vez, uma linha mais desenvolvimentista defende que o Es-
tado precisa atuar como elemento corretivo e ativo, com toda legiti-
midade para proporcionar e amparar o desenvolvimento do mercado.
Assim, o desenvolvimento do Estado acabaria por liderar o mercado,
tomando sempre a iniciativa das ações estruturantes e mobilizando os
instrumentos que se mostrarem necessários (CIRANI et al., 2016).
Fomento à inovação 97
como um processo dinâmico: por essa perspectiva, o mercado é o local
das interações estratégicas e da rivalidade entre as organizações que
investem em competências para tentar ganhar e/ou manter nele deter-
minada posição (CIRANI et al., 2016).
Borshch Filipp/Shutterstock
vação, a Finep é uma empresa pública brasileira, sediada no Rio de Janeiro,
98 Gestão da Inovação
que tem o propósito de fomentar a inovação em empresas, universidades,
institutos tecnológicos e demais instituições públicas ou privadas. Ela foi
fundada em 1967, originalmente com o nome Fundo de Financiamento de
Estudos de Projetos e Programas, substituindo e ampliando o papel até en-
tão exercido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Desde então, a Finep direciona esforços e iniciativas para equali-
zar os permanentes desafios que a área de inovação enfrenta na realida-
de brasileira. Seus direcionadores são (FINEP, 2017, p. 4):
• Dotar a economia brasileira de capacidade de inovação para o
enfrentamento de desafios nacionais e globais;
• Estimular a implantação de atividades contínuas de Pesquisa e
Desenvolvimento – P&D – nas empresas;
• Apoiar a inserção de empresas inovadoras nos mercados nacio-
nal e global;
• Elevar a competitividade das empresas e instituições brasileiras;
• Reverter a vulnerabilidade externa das empresas e instituições
nacionais nos segmentos intensivos em tecnologia;
• Estimular a participação do capital privado em inovação; e
• Apoiar inovações que promovam a sustentabilidade.
Fomento à inovação 99
do quadro de funcionários, além de rigorosa e permanente prestação
de contas ao longo do desenvolvimento do projeto.
Posição expressiva
Negócio ganha tração em seu mercado
Validação do Receitas crescentes Lucros crescentes
Primeiras vendas e
desenvolvimento
Salty View/Shutterstock
Em nível regional, instituições locais também cumprem um impor-
tante papel para a comunidade empresarial a que são voltadas. Pode-
mos citar, a título de exemplo: a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), instituição vinculada à Secretaria de De-
senvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do governo
do Estado de São Paulo; a Fundação Araucária de Apoio ao Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná, vinculada à Se-
cretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná;
a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj);
entre muitas outras instituições semelhantes nas demais unidades da
federação. Por vezes, esses órgãos dispõem de orçamento exclusiva-
mente local, mas também é comum que seus respectivos programas,
editais e chamadas envolvam algum nível de parceria e suporte finan-
ceiro da Finep. Comparativamente, a Fapesp acaba se mostrando a
mais proeminente agência regional em termos de volume de recursos
e iniciativas conduzidas, o que é natural, dada a representatividade do
estado de São Paulo em termos de força industrial no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nem só de talentos técnicos vive um ecossistema de inovação. De fato,
muitos são seus participantes, e cada um deles tem o papel primordial de
fomentar a inovação entre indivíduos e empresas que lideram projetos
de novos produtos, serviços e negócios mediante um ingrediente indis-
pensável: dinheiro. Especificamente no caso de projetos inovadores, esse
tipo de capital é classificado como de risco, em função da maior incerteza
quanto ao retorno sobre o investimento. Apesar disso, o ganho é propor-
cional ao risco, e toda uma indústria financeira e de investidores se movi-
menta, com participantes do setor público e do setor privado, no sentido
de viabilizar inovações de alto impacto.
Atividade 2
Trace um comparativo entre as possibilidades de debt e equity para
fomentar a inovação nas empresas.
Atividade 3
Cite algumas tributações que podem ser reduzidas ou até mesmo
eliminadas com incentivos fiscais praticados no Brasil.
REFERÊNCIAS
BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo: administração. Porto Alegre: Bookman, 2019.
BRASIL. Decreto-Lei n. 288, de 28 de fevereiro de 1967. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 28 fev. 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del0288.htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
BRASIL. Lei n. 8.248, de 23 de outubro de 1991. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 24 out. 1991a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8248.
htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
BRASIL. Lei n. 8.387, de 30 de dezembro 1991. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
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htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
BRASIL. Lei n. 10.176, de 11 de janeiro 2001. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 12 jan. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
leis_2001/l10176.htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
BRASIL. Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 22 nov. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11196.htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
CIRANI, C. et al. The role of public institutions for innovation support in Brazil. Brazilian
Business Review, v. 13, n. 6, p. 210-230, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bbr/a/
HnhrWdkZJDZJMH8nnXzHNLC/?lang=en. Acesso em: 21 jul. 2022.
DANA, L. World Encyclopedia of Entrepreneurship. 2. ed. Cheltenham: Edward Elgar
Atendimento à
necessidade sem
desperdício
Geração de poder
de compra
Bhatti (2018) adverte, porém, que não devemos confundir frugal com
barato. Como demonstra a figura a seguir, em comparação com produtos
e serviços convencionais de baixo custo e baixo desempenho, o frugal se
distingue precisamente por oferecer baixo custo com alto desempenho.
Alto
desempenho FRUGAL PADRÃO
DESEMPENHO Suficientemente
bom
Qualidade
BARATO
inferior
CUSTO
dajingjing/Shutterstock
minar a capacidade de inovações mais radicais, restringindo a organi- Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=xEEcA5M-
zação a voos mais seguros de inovações incrementais. Essa é precisa- 6do. Acesso em: 14 jul. 2022.
mente a razão pela qual equipes de inovação e de PMO corporativo não
mantêm laços muito amigáveis dentro da empresa: os recursos (costu-
meiramente escassos) são disputados entre várias frentes concorren-
tes – de um lado, um portfólio de projetos de viés mais conservador e,
de outro, um mais radical de projetos inovadores. O PMO acaba tendo
papel decisivo, com os executivos, ao recomendar a autorização de
alguns projetos em detrimento de outros. Frequentemente, o choque
entre dois projetos disputando recursos não chega nem mesmo a se
tornar um dilema: entre decidir aumentar as receitas em curto prazo,
de maneira mais segura, com um projeto voltado a produtos e serviços
convencionais ou apostar em uma possível (porém mais incerta) nova
fonte de receita de mais longo prazo como novos produtos, serviços
e negócios, a tendência é ater-se ao que é líquido e certo. Em última
instância, diversos profissionais zelam pela manutenção dos próprios
empregos, que é mais provável em caso de estabilidade dos negócios
da empresa – ignorando que, em médio ou longo prazo, é a falta de
inovação que pode levar a empresa à sua derrocada no mercado.
5.5.2 Usuários de IA
Stone et al. (2020) defendem que os usuários de IA no âmbito corpo-
rativo estão enquadrados em três grupos, que são:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inovar é uma tarefa árdua, mas compensada pelo fato de ser, ao mes-
mo tempo, inegavelmente empolgante: dificilmente algo supera, hoje, a
inovação no quesito motivacional para os profissionais.
Ser um bom gestor nessa área exige uma capacitação contínua, um
espírito de permanente abertura ao novo e, claro, assumir riscos que nor-
malmente não seriam toleráveis ou não fariam sentido pela perspectiva
tradicional. O profissional precisa considerar desde as oportunidades de
inovação frugal, passando pela educação para a inovação, o relaciona-
mento por vezes indigesto (mas necessário) com demais áreas (como o
PMO), a decisão sobre ter ou não uma área dedicada à inovação até a
aplicação das incríveis (mas completamente factíveis) tecnologias de inte-
ligência artificial e suas promessas para o futuro.
Gestão da inovação é uma disciplina que pode ser rebuscada e apri-
morada virtualmente sem limites. Todavia, para que todas essas possi-
bilidades façam sentido, jamais podemos nos esquecer do mantra da
inovação: a inovação é a invenção bem-sucedida.
ATIVIDADES
Atividade 1
Geralmente, quando uma pessoa passa em um concurso público,
as pessoas próximas a ela comemoram empolgadamente, mas
não vemos o mesmo quando alguém decide abrir um negócio
próprio. Por quê?
Atividade 2
Qual é o potencial benefício de dispor de um PMO específico para
a inovação corporativa?
REFERÊNCIAS
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2019.
BHATTI, Y. Frugal innovation: new models of innovation and theoretical development.
In: 7º FRUGAL INNOVATION WORKSHOP, 9 abr. 2018, Leicester, UK. Anais […] Leicester:
Leicester University, 2018. Disponível em: https://www.slideshare.net/yasserbhatti/frugal-
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Acesso em: 13 jul. 2022.
BHATTI, Y.; VENTRESCA, M. How can ‘Frugal Innovation’ be conceptualized? SSRN Electronic
Journal, 19 jan. 2013. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_
id=2203552. Acesso em: 13 jul. 2022.
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research agenda. The Bottom Line, v. 33, n. 2, p. 183-200, 2020. Disponível em: https://
www.researchgate.net/publication/340826055_Artificial_intelligence_AI_in_strategic_
marketing_decision-making_a_research_agenda. Acesso em: 13 jul. 2022.
3 Inovação aberta
1. Como funciona a prática de mentoria em um modelo de trabalho
de inovação aberta?
Uma organização pode colocar o conhecimento especializado de seus
executivos e gestores à disposição de seus parceiros no ecossistema
de inovação, de maneira a melhor orientar as teses de negócio de
outras empresas e de inovadores independentes.
4 Fomento à inovação
1. Qual é a razão de os investimentos em projetos inovadores serem
de alto risco?
Se investimentos em projetos convencionais já trazem seu próprio
risco inerente, dadas as sempre presentes incertezas associadas ao
lançamento de produtos, serviços e negócios, os projetos inovadores
potencializam ao máximo tais riscos. Isso porque as incertezas são
substancialmente maiores, por exemplo, quanto ao desempenho em
longo termo de novas tecnologias, à reação inesperada do mercado
consumidor, à competência ainda incipiente para a novidade com que
se lida, à estabilidade da solução concebida etc.
Permite que os custos e benefícios gerais de diferentes Analisar dados para identificar
estratégias sejam medidos e analisados mais rapidamen- riscos, recompensas e resulta-
Gestão de recursos
te, a fim de ajustar os recursos (ou seja, é utilizado para dos/possíveis cenários de plane-
períodos de pico de demanda). jamento.
Anexos 133
Área de Exemplos de como a IA pode
Mudanças trazidas pelo marketing digital
marketing ser usada na área
A venda pessoal hoje tem um suporte de informações
muito mais robusto. Sistemas de gestão de vendas Fornecer resposta personalizada
aprimorados, às vezes integrados aos sistemas de aos indivíduos; analisar resultados;
Venda pessoal
gestão de resposta, permitem o direcionamento, a recomendar maneiras diferentes de
prospecção e o gerenciamento de clientes atuais e personalização.
potenciais muito mais eficazes.
O “boca a boca eletrônico” está substituindo a exposi-
ção na mídia convencional, não apenas com as redes
sociais, mas em todos os aspectos da web e do diá-
logo móvel – na maioria das vezes se desenvolvendo
Identificar padrões de “boca a
rapidamente e em tempo real. Em alguns setores, as
Relações públicas boca”, suas razões, ações sugeridas
análises on-line se tornaram críticas para determinar
e sentimentos subjacentes.
se um produto será vendido, enquanto os influencia-
dores sociais se tornaram uma parte muito impor-
tante do marketing em setores como viagens, moda,
cosméticos e automotivo.
(Continua)
Anexo 3
Implementação de IA na gestão de marketing
(Continua)
Anexos 135
Mudanças trazidas pelo Exemplos de como a IA pode ser
Área de marketing
marketing digital usada na área
A pesquisa de mercado é feita cada vez mais
on-line. Ao mesmo tempo, a obtenção das infor-
Obter e analisar conjuntos maiores
mações do feedback do cliente e da análise de
de dados; analisar os resultados da
Pesquisa de mercado sentimento (com as permissões apropriadas) está
pesquisa, especialmente quando
fornecendo uma nova fonte de informações aos
combinados com diferentes estudos.
profissionais de marketing sobre como seus clien-
tes atuais e potenciais pensam, sentem e agem.
Devido à sua crescente complexidade, a seg-
mentação de mercado está se tornando cada
Fazer um direcionamento mais pre-
Segmentação de vez mais automatizada. Os resultados das mu-
ciso, permitindo inclusive mudanças
mercado danças recentes nas metas e implementação de
de estratégia em tempo real.
elementos do mix de marketing produzem taxas
de resposta e vendas adequadas.
Os processos de marketing podem ser migrados
para sistemas que cada vez mais são hospedados
na “nuvem”, permitindo que uma equipe mais
ampla colabore e aumente sua eficácia e veloci-
dade de processos, como fluxo de trabalho e ge-
renciamento de projetos. Os sistemas permitem
um acesso muito melhor aos dados necessários
para tomada de decisão quanto a diferentes as-
pectos – desde clientes individuais até decisões
estratégicas – e, então, para medição, revisão e
cálculo do retorno sobre o investimento. Perso-
Identificar oportunidades para me-
nalização e marketing baseados em localização
lhorar o retorno da implementação
hoje fazem parte do expediente usual para as
de sistemas; identificar novas manei-
equipes de marketing mais eficazes. No entanto,
Dados e sistemas ras de acelerar o fluxo de trabalho,
eles representam riscos de privacidade significa-
assim como a colaboração para pro-
tivos, uma vez que os requisitos de proteção de
porcionar velocidade ao mercado e
dados se tornaram um foco central para o geren-
maior conformidade legal.
ciamento de marketing. Enquanto isso, os requi-
sitos para integrar dados de diferentes fontes de
forma a maximizar a eficácia do marketing, parti-
cularmente a integração de suas plataformas de
gerenciamento de dados (sistemas centralizados
para coletar e analisar grandes conjuntos de da-
dos de fontes distintas) com suas plataformas de
demanda (sistemas que permitem aos comprado-
res de publicidade digital coordenar sua atividade,
incluindo licitações), são essenciais para acompa-
nhar os concorrentes.
A automação de marketing permite que os pro-
Otimizar o gerenciamento de recur-
cessos da área sejam gerenciados de forma
sos, o que é algo fundamental, pois
Administração de mais eficaz, na medida em que o retorno sobre
os negócios estão mais limitados do
recursos de marketing o investimento das diferentes despesas de mar-
que nunca por um mercado hiper-
keting pode ser calculado e previsto com mais
competitivo.
precisão do que nos canais tradicionais.
(Continua)
Anexos 137
GESTÃOdda INOVAÇÃO
GESTÃOdda INOVAÇÃO
Rodrigo Vinícius Sartori
Rodrigo Vinícius Sartori
Código Logístico
Código Logístico
I000686 I000686
ISBN 978-65-5821-168-6
ISBN 978-65-5821-168-6