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Inovando

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Centro
centro Histórico
históricoda
daIlha
ilha
Raquel Noronha e
Nathalia Rodrigues Pinheiro
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Daniela Miwa

Pinheiro, Nathalia Rodrigues

Inovando no centro-histórico da ilha [livro eletrônico]./


Nathalia Rodrigues Pinheiro, Raquel Noronha. – São Luís:
UEMAnet, 2021.

39 f.

ISBN:

1. Inovação Social. 2. Patrimônio Histórico e Cultural. 3.


Sociabilidade. 4. Comunidades Criativas. I. Norona, Raquel.
II. Título.
CDU: 727.3 (812.1)
APRESENTAÇÃO

Caro(a) cursista,

Um dos princípios básicos da preservação e conservação patrimonial é o conhecimento


sobre os valores e a importância de tal acervo, seja ele material ou imaterial para a comunidade local,
considerando a própria cidade para o país e para o mundo.

A cidade de São Luís foi inscrita em 1997 como patrimônio da humanidade. De lá para
cá, já são mais de duas décadas de muitos desafios para a manutenção da estrutura física de
aproximadamente 4.000 imóveis e, além disso, a necessidade de se manter também a sociabilidade
nesse espaço, de tamanha importância para a história e memória de todos nós.

Pensar o Centro Histórico de São Luís nos dias de hoje, é bastante diferente de pensá-lo na
época em que foi construído. Os usos do espaço, meios de transportes utilizados, as práticas culturais
e sociais que acontecem nos bzairros do centro mudaram bastante desde então. E então? Como
adequar o Centro às necessidades de uma cidade que cresce em quantidade de pessoas, em ofertas
de serviços e comércio, para atender à vida cotidiana de quem mora, trabalha ou visita o lugar?

Este módulo apresenta conceitos e iniciativas que promovem o diálogo e potencializam


as relações entre a história e memória de espaços como o Centro Histórico de São Luís e a vida
contemporânea, com sua aceleração característica, com o convívio das diferentes “tribos urbanas”,
com a criatividade das pessoas que fazem do Centro Histórico, não apenas um lugar de passado,
mas um lugar dinâmico e cheio de vida, promovendo o convívio de diferentes formas de expressões
artísticas e culturais, com ênfase na diversidade cultural e em busca de um desenvolvimento
sustentável. Inicialmente, apresentaremos conceitos ligados à inovação em centros históricos, às
práticas colaborativas, à inovação social e então ofereceremos uma série de exemplos com links,
referências em livros e sites para enriquecer esta jornada.

Desejamos um ótimo estudo e que em breve você perceba que promover a inovação
social no Centro de São Luís pode ser bem mais fácil do que parece.
SUMÁRIO

1 O CONCEITO DE INOVAÇÃO ......................................................................................... 7

1.1 O que é inovação social? .................................................................................................... 8

RESUMO ......................................................................................................................... 13

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 13

2 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O PATRIMÔNIO .................... 15

2.1 Desenvolvimento Sustentável ............................................................................................. 15

RESUMO ......................................................................................................................... 20

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 21

3 INOVANDO EM CENTROS HISTÓRICOS DO MUNDO .................................................. 23

3.1 Living Lab no Parque Cilento .............................................................................................. 25

3.2 Skopje Urban Living Lab (SkULL) ....................................................................................... 27

RESUMO ......................................................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 29

4 POTENCIALIZANDO O CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS COM INOVAÇÃO SOCIAL ..... 31

4.1 O poder público na dianteira da inovação social .................................................................. 31

4.2 Empreendedorismo e ancestralidade .................................................................................. 34

4.3 Arte e ativismo .................................................................................................................. 36

4.4 Pesquisa e identidade cultural ............................................................................................ 37

RESUMO ......................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 43
Éguas: inovando no Centro Histórico da Ilha!
Módulo 4

1 O CONCEITO DE INOVAÇÃO

Objetivos:

Identificar os conceitos de inovação e inovação social;

Reconhecer e identificar os documentos que regem a inovação;

Identificar as características da inovação social.

Quando ouvimos a palavra inovação, geralmente a associamos à ideia de algo bastante


tecnológico, algo novo que vem para trazer soluções inusitadas às atividades que já realizamos ou para
suprir algo que nem imaginamos. Contudo, há definições oficiais para aquilo que se chama inovação.
Há uma instituição intergovernamental formada por países altamente desenvolvidos e
ricos, a OCDE – Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento - que estabeleceu, em
1990, as diretrizes para se entender o conceito de inovação e mensurar os processos de inovações em
países industrializados.
Este conhecimento ficou organizado no conhecido Manual de Oslo, em alusão à cidade
onde aconteceu o encontro. De tempos em tempos, a OCDE se reúne para atualizar as diretrizes sobre
inovação e hoje o manual de Oslo está em sua terceira edição.
Além dos países desenvolvidos que integraram a primeira edição, de 1990 para cá, muitos
países do sul global, que envolve a América do Sul, a África e a Ásia, já apresentam dados e casos
de inovação. Na atual versão do Manual de Oslo, é possível identificar novos conceitos que vão além
de uma abordagem mais relacionada com o conceito de P&D (pesquisa e desenvolvimento), que
impulsiona a inovação em indústrias de ponta.
Inicialmente, os conceitos de inovação dirigiam-se aos produtos e processos desenvolvidos
pelas indústrias de transformação, que podem ser identificadas como aquelas que transformam a
matéria-prima primária em um produto tangível, final ou parcial. Os produtos finais serão diretamente
entregues ao mercado e os parciais serão entregues a outras indústrias de transformação, para serem
incorporados a produtos mais complexos.
Ao longo do tempo, e com a presença de países menos industrializados, mas também
comprometidos com os processos inovativos, outras abordagens de inovação foram necessárias para
se pensar as pequenas indústrias, os serviços e os pequenos negócios, incluindo ainda o conceito de
regionalidade, trazendo as múltiplas visões de um mundo caracterizado pela diversidade.
Assim, apresentamos uma linha do tempo (Figura 1) que resume os principais conceitos de
inovação e sua evolução ao longo do tempo, considerando a flecha que vai de uma inovação pautada
na produção industrial às abordagens que consideram os serviços e o marketing como espaços para
que a inovação aconteça.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


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Figura 1 - Linha do tempo dos conceitos de inovação
2ª Edição do Manual de Oslo
(traduzida em 2004 para o português)
A segunda edição ainda mantém o conceito de
inovação para além da indústria de transformação, e
chega até o setor dos serviços, o chamado setor
terciário. “A inovação em setores voltados para
serviços difere substancialmente da inovação em
muitos setores de transformação. A inovação em
serviços é organizada de forma menos formal, possui
1990 natureza mais incremental e é menos tecnológica.”
(Manual de Oslo, 2006, p.17).
2005

1ª Edição do Manual de Oslo 3ª Edição do Manual de Oslo


(traduzida em 2004 para o português)
1997 (traduzida em 2006 para o português)

Abordagem da inovação: Considera-se o conceito TPP, que é a Consolida a abordagem de inovação não-tecnológica, incluindo a inovação de
inovação tecnológica em produto e processo, na indústria de marketing e a inovação organizacional. A inovação de marketing aborda a
transformação. Segundo o Manual de Oslo (2006, p.57), a inovação implementação de um novo método de diálogo com os consumidores, é mais
de produto envolve melhorias nos materiais utilizados, nos voltado para a interação com o público, seja uma nova embalagem, uma nova
softwares integrados aos produtos, na facilitação do uso, melho- interface de promoção, divulgação, fixação de preço, entre outros. Busca o
rias nas especificações técnicas… ou seja, envolvem melhorias e aumento das vendas, e a inovação pode ter sido desenvolvida pela própria
facilidades no próprio produto ofertado pela indústria. A inovação empresa ou por um prestador se serviços. Uma inovação organizacional é a
em processos é descrita na página 58 como a implementação de implementação de novos métodos nas práticas de gestão e negócios da
um método de produção ou distribuição novo ou significativamen- empresa, seja no local de trabalho ou externa. Visam a otimização dos
te melhorado. Inclui a busca por processos mais sustentáveis, que processos de operação, redução de custos administrativos, e tratam de
sejam menos impactantes à natureza, mais baratos e eficazes. políticas e ações, indo para uma abordagem mais imaterial de inovação.

Fonte: elaborada pelas autoras com base no Manual de Oslo (2006).

SUGESTÃO DE LEITURA

A tradução brasileira da terceira edição do Manual de Oslo foi feita pela


FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos – e encontra-se disponível no
link a seguir: http://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/
manualoslo.pdf

Com este panorama, é possível perceber um direcionamento do conceito de inovação


como algo mais próximo de nós e não como algo muito tecnológico e ao alcance apenas de quem tem
muitos recursos para investir. Esta terceira edição do Manual de Oslo traz a dimensão do serviço e da
relação com o consumidor para o cerne do processo de inovação. E isso nos leva aos próximos temas:
a inovação social e como isso acontece no Centro Histórico de São Luís.

1.1 O que é inovação social?

Diante da flexibilização e expansão do conceito de inovação, antes prioritariamente ligado


aos processos tecnológicos na indústria e que agora abrange as áreas de serviço e marketing, trazemos
uma abordagem muito interessante da inovação: a inovação social.
Inovação social não é um conceito recente, pois vem sendo utilizado por pesquisadores
desde a década de 1960. Conforme Echeverría (2008), o conceito de inovação social não foi reconhecido
pelo Manual de Oslo até a sua última edição, em 2005. De natureza multidisciplinar, os estudos sobre
inovação social possuem muitas definições e delas podemos depreender que são mudanças coletivas,
compartilhadas e de baixo teor tecnológico, buscando a melhoria e o bem-estar nos âmbitos da saúde,
lazer, alimentação, moradia e todo tipo de necessidade percebida como algo comum a um grupo.

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Figura 2 - Diante das dificuldades como a seca, por exemplo, as pessoas recorrem à ideias que
solucionem as suas necessidades de forma prática

Fonte: Agnes Guerra, 2021

Ezio Manzini (2008; 2017), autor do campo do Design, coloca a inovação social como
algo fomentado a partir de comunidades − pessoas que se agregam por possuírem um interesse
comum, em meio às suas diferenças − e a partir da articulação de suas práticas, habilidade e
interesses, constituem-se como comunidades criativas, é o que apontam os autores Costa, Dorion
e Olea (2016, p.3):

[...] à inovação social é atribuída uma natureza não mercantil, de caráter coletivo e intencional
que gera e visa transformações nas relações sociais. Implica sempre uma iniciativa que foge à
ordem estabelecida, uma nova forma de pensar ou fazer algo, uma mudança social qualitativa,
uma alternativa ou até mesmo uma ruptura, face aos processos tradicionais.

Para que a inovação social aconteça, é necessário que o próprio grupo que deseja a
transformação social se mobilize como protagonista da ação: é a isso que nomeamos também de
inovação bottom-up, aquela que vem de baixo para cima, que não é imposta, que floresce a partir de
um desejo de mobilizar e mudar os espaços, as práticas, e a própria cultura.
Contudo, isso não significa que a inovação social seja um processo fácil e harmonioso.
Requer a conciliação de diversos pontos de vista, a aceitação das diferenças e a dissolução de
hierarquias. Os papéis de cada um no processo de inovação social devem ser determinados, deve
haver o compartilhamento de atividades e o interesse individual nunca deve se opor ao interesse
comum. Isso deve ser bem difícil, já que as pessoas estão acostumadas a defender os seus desejos e
pontos de vista, porém, isso não é impossível. Vejamos a um exemplo.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


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Apresentamos aqui a Desis Network − uma rede mundial de pesquisas e ações em inovação
social e sustentabilidade − surgida a partir de congressos e eventos entre 2006 e 2008.
De acordo com a definição da própria rede, a inovação social pode ser vista como um
processo de mudança emergente da recombinação criativa de ativos existentes (capital social,
patrimônio histórico, artesanato tradicional e tecnologia avançada acessível) que visa atingir objetivos
socialmente reconhecidos de novas maneiras. Um tipo de inovação impulsionada por demandas
sociais e não pelo mercado e/ou pesquisa técnico-científica autônoma, gerada mais pelos atores
envolvidos do que por especialistas. (Fonte: https://www.desisnetwork.org/our-vision/).
No site, é possível acessarmos muitos casos de inovação social. Escolhemos dois casos
bem interessantes para observarmos a inovação social na prática:

Caso 1 - Auguri: flores trazem felicidade

Neste caso, fomentado pela Universidade Federal do Paraná, no Núcleo de pesquisas em


Design e Sustentabilidade - NDS, um grupo de pessoas se mobilizou para levar flores às pessoas
idosas que vivem em asilos. Essas flores, que seriam descartadas após uso em decorações de festas de
casamentos nos buffets da cidade de Curitiba, ganham uma extensão de vida útil, sendo organizadas
em buquês e levadas para os asilos da cidade. Uma ação simples que gera empatia e leva alegria
a pessoas muitas vezes esquecidas e que carecem de socialização. O esquema abaixo (Figura 3),
disponibilizado no histórico do projeto, mostra a operação de inovação social em ação.

Figura 3 - Storrytelling e visualização do projeto Auguri

Fonte: http://www.desisnetwork.org/wp-content/uploads/2017/04/UFPR-NDS-PrjFormat.pdf

Observamos como uma ação aparentemente simples, que não envolve muito investimento,
além de tempo e mobilização de um grupo disponível, pode ser considerada inovação social.

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Assim, é possível conjecturar que inovar em centros históricos muitas vezes pode se
relacionar muito mais com investimentos de criatividade, recursos humanos e tempo do que com
investimentos financeiros.

Caso 2 - Projeto Ajishima: regeneração comunitária após o terremoto que atingiu o Leste do Japão
em 2011
Esta ação, desenvolvida pela Tokyo Zokei University, TZU DESIS Lab, no Japão, fez uso
de jogos e ferramentas de criatividade, criando imagens e usando a imaginação para pensar o futuro
da comunidade que havia sido devastada pelo terremoto. Com a escuta atencional da comunidade,
chegou-se à ideia de promover as atividades profissionais tradicionais da comunidade como a pesca
e a agricultura artesanais com os turistas que buscam aquela área do Japão pelo clima mais quente. A
ação de envolvimento da comunidade, com participação parcial do poder público, estimulou o turismo
na comunidade (Figura 4).

SAIBA MAIS

Você pode conhecer mais sobre o projeto clicando no link disponível a seguir:
http://www.desisnetwork.org/wp-content/uploads/2016/05/TZU-DESIS-
Lab-Ishinomaki-project_low.pdf

Figura 4 - Interações sociais e relações no projeto Projeto Ajishima

Social Interactions and Relations

Cycling in community
Coversation with locals

The project will enhance social interactions between the locals and visitors.

Fonte: http://www.desisnetwork.org/wp-content/uploads/2016/05/TZU-DESIS-Lab-Ishinomaki-project_low.pdf

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Este exemplo, trazido do outro lado do planeta, também se baseou em poucos recursos
financeiros, maior investimento de tempo, mobilização social e pautou-se nos conhecimentos locais.
Para finalizarmos este item, trazemos um esquema elaborado pelos pesquisadores Freire e
Oliveira sobre como as inovações sociais acontecem.

Figura 5 - Processo de inovação social

Fonte: Freire e Oliveira, 2017, p.116.

SUGESTÃO DE LEITURA

Acesse o link a seguir, leia o texto na íntegra e veja outros esquemas disponíveis:
https://openaccess.blucher.com.br/article-details/06-20516

Podemos concluir que os processos de inovação social nascem de necessidades muito


práticas e conectadas às realidades sociais locais. São ações aparentemente simples e que demandam
bastante envolvimento e tempo, dependem da vontade coletiva de resolver um problema ou dar
sentido à vida, aos desejos e aspirações das pessoas envolvidas, com alto potencial de mudança no
modo de ver e vivenciar o cotidiano.

SUGESTÃO DE LEITURA

Veja os casos analisados na íntegra e outros exemplos de inovação social


interessantes acessando o link disponível em: https://www.desisnetwork.org/
the-desis-map/

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RESUMO

Nesta Unidade, tratamos dos conceitos de inovação e inovação social. Observamos


como a inovação pode estar associada a novidades, invenções ou a modificações e
melhorias em algo existente. Antes, o conceito de inovação privilegiava aquilo que seria
produzido industrialmente. Hoje, a abordagem válida nos diz que, para algo ser inovador, não
necessariamente precisa estar ligado à tecnologia de ponta. Práticas criativas para solucionar
problemas encontrados no dia a dia das pessoas podem ser consideradas um tipo específico
de inovação: a social, que envolve a mobilização de pessoas em torno de um objetivo comum
e requer dedicação e tempo das pessoas de quem se associa em torno de um bem comum.

REFERÊNCIAS

COSTA, L; DORION, E. C. H; OLEA, P. Produção Acadêmica sobre Inovação Social em Programas


de Mestrado e Doutorado. Anais da XVI Mostra de Iniciação Científica - Programa de
Pós-graduação em Administração UCS. 2016, p.1-14. Disponível em http://www.ucs.br/etc/
conferencias/index.php/mostraucsppga/xvimostrappga/paper/viewFile/4771/1638. Acesso em: 19
set. 2021.

ECHEVERRÍA, Javier. El Manual de Oslo y la Innovación Social. ARBOR Ciência, Pensamiento y


Cultura. CLXXXIV 732, p. 609-618, jul/ago. 2008.

MANZINI, Ezio. Design: quando todos fazem design: uma introdução ao design para a inovação
social. Editora Unisinos: São Leopoldo, 2017.

______. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações


colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. Disponível em: https://
instrumentosprojetuais.files.wordpress.com/2019/02/design-para-inovaccca7acc83o-e-
sustentabilidade_manzini.pdf. Acesso em: 14 set. 2021.

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2 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL E O PATRIMÔNIO
Objetivos:

Reconhecer os benefícios do desenvolvimento sustentável e seus objetivos;

Identificar a importância da preservação e conservação do patrimônio cultural associada ao


desenvolvimento sustentável.

Nesta Unidade, iremos conhecer um pouco sobre história e os caminhos que levaram à
construção do conceito do que entendemos hoje por desenvolvimento sustentável. Neste percurso,
será possível entender como as iniciativas de inovação social se comunicam com os ODS (objetivos
de desenvolvimento sustentável) e suas consequências e benefícios quando voltadas para o ambiente
do patrimônio cultural, em cidades patrimônio da humanidade.

2.1 Desenvolvimento Sustentável

Quando se pensa em desenvolvimento, é muito comum fazer uma associação com


grandes tecnologias de primeiro mundo, automação de processos, atividades e consequentemente
urbanização de cidades, aspectos que não estão errados quanto à definição. Como apresenta o
dicionário Michaelis1: é o crescimento econômico de um país ou região, acompanhado por alterações
na estrutura política e social, que resulta em melhoria do padrão de vida da população.

No entanto, a preocupação com a velocidade dos processos de urbanização, a modernização


das cidades e suas consequências ecológicas e biológicas para o meio ambiente e a qualidade de vida
das pessoas despertaram as primeiras movimentações sociais, influenciando debates internacionais
que culminaram na conferência de Estocolmo em 1972.

Em meados da década de 80, o conceito de sustentabilidade foi associado também ao


conceito de desenvolvimento, preocupação exposta pela primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland,
em nome da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, sendo apresentado
no documento chamado Nosso Futuro Comum como um aspecto que “atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias
necessidades” (ZANCHETI, 2002, p. 3).

1
Dicionário disponível na versão virtual em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/
desenvolvimento/

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Podemos dizer então que o conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS) seria, portanto,
um tipo de compromisso não apenas relacionado com o crescimento econômico e sua distribuição, mas
também com a preservação da natureza (BURNETT, 2008) de maneira que, atrelada ao crescimento
urbano, não haja degradação constante do meio ambiente ou que esta seja minimizada ao longo do
tempo, com o objetivo de garantir um legado ambiental para o futuro, conservando ao mesmo tempo
natureza e qualidade de vida humana. Com o advento das preocupações ambientais, as conferências
internacionais começaram a ganhar força e espaço para promoção de uma conscientização mundial
sobre a preservação do meio ambiente, diante dessa realidade, uma série de encontros foram
realizados ao longo dos anos, para a determinação de novas atitudes sociais coletivas que deveriam
ser incentivadas em busca do que viria a ser um pacto mundial, oficialmente estabelecido após a
última conferência em 2015.

A cronologia do acontecimento dos encontros pode ser observada por meio do miniguia
das conferências de meio ambiente e desenvolvimento sustentável ilustrado na imagem a seguir.

Figura 6 - Encontros e conferências sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável ao longo do tempo

Fonte: elaborada pelas autoras, com base em https://sustainabledevelopment.un.org/conferences.

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Sugestão de Sites

Você pode consultar um guia para todas as conferências já ocorridas em: https://
sustainabledevelopment.un.org/conferences.

A última conferência culminou em uma Agenda de desenvolvimento sustentável, com


prazo para o ano de 2030, no entanto, os trabalhos de publicidade e pesquisa dos ODS foram iniciados
imediatamente após o encontro.

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A Agenda 2030 consiste em mais uma declaração, representada também graficamente


por meio de um quadro que ilustra os 17 ODS e suas 169 metas, com seções que informam sobre sua
implementação, estratégias de parcerias globais, além de roteiros de acompanhamento e revisão.

Resumidamente, os ODS são o grande núcleo da Agenda 2030 e devem ser alcançados
até o ano de 2030. A síntese gráfica da declaração está ilustrada na figura a seguir.

Figura 7 - Resumo esquemático da Agenda de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: http://www.agenda2030.org.br/sobre/

O desenvolvimento sustentável possui ainda 5 dimensões (econômica, política, social,


ambiental e cultural), segundo o urbanista Burnett (2008). No entanto, a Agenda 2030 dá maior
destaque às dimensões: econômica, social e ambiental. Os 17 objetivos são integrados e buscam
mesclar as dimensões, apresentando uma lista de metas e tarefas que devem ser cumpridas por
órgãos governamentais e administração pública, mas também pelo setor privado e todos os cidadãos,
na expectativa de um futuro ambientalmente preservado e mais sustentável para se viver.

SUGESTÃO DE VÍDEO

Para entender melhor, a ONU Brasil oferece um vídeo de apresentação sobre os ODS.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=u2K0Ff6bzZ4

SAIBA MAIS

Enquanto este material didático estava em elaboração, aconteceu em novembro de 2021, em Glasgow, na
Escócia, a COP26 – Conferência da ONU sobre Mudança Climática. A COP26 surge como um momento de
debates e ações concretas para evitar uma série de catástrofes. O evento reuniu quase 200 países para acelerar
a ação em direção aos objetivos do Acordo de Paris e da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima.

Para maiores informações, acesse: https://brasil.un.org/pt-br/156377-guia-para-cop26-o-que-e-preciso-saber-


sobre-o-maior-evento-climatico-do-mundo

Inovando no Centro Histórico da Ilha


Nathalia Rodrigues Pinheiro / Raquel Noronha 17
A partir deste breve apanhado histórico conseguimos perceber que o conceito de Inovação
Social se aproxima dos ODS, complementando as expectativas sociais deste documento, que visa
promover a participação dos cidadãos nas questões ambientais. Percebemos que por meio de
iniciativas, debates, reflexões, intervenções e propostas de inovação realizadas com apoio da própria
comunidade habitante, existe uma maior possibilidade de aceitação, manutenção e consequentemente
de preservação e conservação pela sociedade, o que inclui, de forma especial, as áreas de preservação
histórica e patrimonial.

Figura 8 - Acessibilidade, segurança e resiliência são direitos humanos assegurados e há metas nos
17 ODS na Agenda 2030.

Fonte: Agnes Guerra, 2021

Dessa forma, dentre os 17 ODS definidos na Agenda 2030, que tratam desde a erradicação
da pobreza à igualdade de gênero e promoção de energia acessível e limpa, destacamos o objetivo
de número 11, que se destina a tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis, e mais especificamente o item 11.4 deste objetivo, que incentiva a: Fortalecer
esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo.

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18 Nathalia Rodrigues Pinheiro / Raquel Noronha
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Módulo 4

SUGESTÃO DE LEITURA

Para conhecer mais detalhadamente todos os 17 ODS, clique na imagem a seguir


e você será redirecionado para o site oficial.

Figura 9 - Os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável

Fonte: http://www.agenda2030.org.br/

Enfatizamos o item 11.4 neste tópico porque o patrimônio cultural tem um espaço de
acolhimento e atenção, no qual é determinado um total da despesa (pública e privada) per capita
gasta na preservação, proteção e conservação de todo o patrimônio cultural e natural.

A importância desse objetivo revela uma preocupação também com a preservação cultural
da humanidade, uma vez que não se pode falar em desenvolvimento sustentável e desconsiderar o
valor dos elementos históricos de valor simbólico e afetivo para as cidades que constroem a história
dos locais a serem preservados. Um local sem história não possui identidade, como poderíamos então
incentivar a sua preservação e conservação?

Nesse contexto, os incentivos governamentais para preservação do patrimônio a partir dos


ODS, oferecem também melhores condições, inclusive econômicas, e novas oportunidades para que
iniciativas sociais de inovação sejam incentivadas e estruturadas em ambientes urbanos e patrimoniais,
que desde a década de 80 deixaram de ser associadas apenas aos monumentos físicos:

Pode-se afirmar, portanto, que na atualidade a preservação do patrimônio cultural não é


apenas mais abrangente, ela reflete com maior intensidade a diversidade, as várias identidades
formadoras das nações, povos e etnias. Especialmente aquelas que por estarem vinculadas
a agrupamentos sociais restritos, muitas vezes marginalizados e de limitada expressão
demográfica e econômica, apresentam riscos elevados de desaparecimento (IPHAN, 2012)2.

2
­Trecho de Texto produzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, por ocasião da Reunião de Especialistas
a respeito do tema “Patrimônio Mundial e Desenvolvimento Sustentável”, organizado em parceria com o Centro do Patrimônio Mundial
da Unesco, em fevereiro de 2012.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


Nathalia Rodrigues Pinheiro / Raquel Noronha 19
SUGESTÃO DE LEITURA

Leia o documento produzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


– IPHAN, por ocasião da Reunião de Especialistas a respeito do tema “Patrimônio
Mundial e Desenvolvimento Sustentável” acessando o link: http://portal.iphan.gov.br//
uploads/publicacao/Anais3_ForumPatrimonioCulteDesSustentavel_m.pdf

Dessa forma, com a ampliação do conceito de patrimônio, que passa a abranger, além do
monumento histórico, os seres humanos, o cidadão histórico e seus valores culturais, as questões sobre
a diversidade cultural passaram a se entrelaçar entre as pesquisas e iniciativas de cunho patrimonial,
pois a partir de então começamos a reconhecer que além da necessidade de preservar os bens
patrimoniais materiais edificados, como os casarões coloniais e monumentos, é necessário preservar
os símbolos, valores e conhecimentos que mantêm vivo o verdadeiro sentido de patrimônio.

RESUMO

Nesta Unidade, conhecemos os conceitos de desenvolvimento sustentável e por


meio de um breve panorama histórico também estudamos as conferências realizadas com
objetivo de refletir sobre as questões ambientais, chegando até o programa que compreende
o pacto global e que constitui hoje a Agenda 2030 e seus objetivos. Demos destaque ao
objetivo 11, que apresenta metas para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural
do mundo até o ano de 2030, o que nos levou a refletir sobre o espaço oferecido para
valorização da diversidade cultural no ambiente patrimonial.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


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Éguas: inovando no Centro Histórico da Ilha!
Módulo 4

REFERÊNCIAS

A ONU e o meio ambiente. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91223-onu-e-o-meio-ambiente.


Acesso em: 2 set. 2021.

BRUNETT, Carlos Frederico. Urbanização e desenvolvimento sustentável: a sustentabilidade dos


tipos de urbanização na cidade de São Luís do Maranhão - São Luís-MA, Ed. UEMA, 2008.

INDICADORES Brasileiros para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:


https://odsbrasil.gov.br/. Acesso em: 2 set. 2021.

IPHAN, Anais do Encontro de Especialistas em Patrimônio Mundial e Desenvolvimento Sustentável


OURO PRETO - MG, Brasil, Fevereiro, 2012. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br//uploads/
publicacao/Anais3_ForumPatrimonioCulteDesSustentavel_m.pdf. Acesso em: 20 ago. 2021.

ODS BRASIL, 11.4. Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/objetivo/objetivo?n=11 . Acesso em: 2 set.


2021.

PACTO GLOBAL. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/ods. Acesso em: 2 set. 2021.

PLATAFORMA AGENDA 2030. Disponível em: http://www.agenda2030.org.br/ods/11/ Acesso em: 2


set. 2021.

ZANCHETTI, Sílvio M. O desenvolvimento sustentável urbano. In: Gestão do Patrimônio Cultural


Integrado, CECI - Editora da Universidade de Pernambuco, Recife, 2002. p. 79-83.

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Módulo 4

3 INOVANDO EM CENTROS HISTÓRICOS


DO MUNDO

Objetivos:

Entender o que é Living Lab, ou laboratório vivo;

Perceber a importância do engajamento social para a proposição de intervenções criativas.

Nesta Unidade, faremos um breve panorama sobre iniciativas internacionais de inovação


que permitiram o reconhecimento da importância da participação social para a produção de
instrumentos, proposição de reflexões, questionamentos e principalmente para a produção de soluções
criativas voltadas para o patrimônio cultural, uma vez que estes primeiros “experimentos sociais” foram
fundamentais para a construção do repertório teórico que permite a adaptação na realidade nacional.

Entre as diversas metodologias inspiradas no processo de aberturas de design ou cenários


de diálogo criativos (MANZINI, 2017) no ambiente urbano, a iniciativa dos Living Labs tem ganhado
espaço considerável em áreas que compreendem o patrimônio cultural.

O termo Living Lab foi introduzido por volta do ano de 2003, pelo professor da universidade
americana Massachusetts Institute of Technology (MIT), Willian Mitchell. O conceito remete a um
ecossistema de inovação aberta, que beneficia tanto empresas privadas quanto o setor público e
indivíduos participantes que cooperam com a criação (MAZZUCO e TEIXEIRA, 2017). Ou seja, é um
laboratório vivo em que todos os envolvidos são importantes no processo de construção de alternativas
para uma localidade específica. A proposta dos Living Labs é atuar em busca de novas soluções,
serviços ou novos modelos de negócio, gerando assim inovação social.

A iniciativa dos Living Labs, assim como o design participativo, pode ser visto como uma
metodologia ou abordagem de pesquisa. No entanto, as atividades realizadas em Living Labs são
popularmente conhecidas por seu caráter social urbano com proposições tecnológicas. Por isso, essa
iniciativa tem ganhado espaços de investimentos em startups de diversas áreas de conhecimento.

GLOSSÁRIO

Você sabe o que é uma startup? A etimologia da palavra, sempre foi sinônimo de iniciar
algo e colocar em funcionamento. Atualmente, o termo é utilizado para definição de
um modelo de negócio a se desenvolver em um cenário de incertezas, em que haja a
possibilidade de repetição e escalonamento do processo de forma rápida e econômica,
muito visado por empresas investidoras em tecnologias de inovação.

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Com a intenção de organizar, catalogar e compartilhar informações sobre pesquisas deste
tipo, foi criado o European Network of Living Labs (EnoLL) em 2006, uma federação que mapeia
mundialmente os Living Labs e suas formas de atuação. Hoje, existem 170 laboratórios associados à
rede e 406 reconhecidos ao longo dos 10 anos de existência, entre esses, apenas 12 estão associados
ao Brasil e apenas um está representado como membro ativo na rede EnoLL (MAZZUCO e TEIXEIRA,
2017).

Resumidamente, a abordagem dos Living Labs baseia-se nos princípios: cocriação (1),
cenário da vida real (2), métodos múltiplos de pesquisa (3), múltipla participação das partes interessadas
(4) e envolvimento ativo do usuário local (5), como sintetizado na Figura 10, a seguir.

Figura 10 - Princípios dos Living Labs

Fonte: Adaptado de https://enoll.org/ e elaborada pelas autoras.

A partir dessa perspectiva, para uma compreensão geral sobre a iniciativa e aplicação dos
Living Labs, trazemos a apresentação de dois estudos de caso bem-sucedidos que foram realizados
em cidades localizadas em regiões de interesse histórico e cultural, O caso do Living Lab do Parque
Cilento e o Living Lab SkuLL.

ïï ï

Sugestão de Sites

Para conhecer o site oficial que apresenta conceitos, objetivos e projetos cadastrados
internacionalmente, acesse o link: https://enoll.org/about-us/

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3.1 Living Lab no Parque Cilento

Cilento é uma região italiana da Campânia, localizada na parte central e sul da província
de Salerno, considerada uma importante área turística do sul da Itália. A proposta de implementação
partiu do Living Lab do Laboratório de Manutenção e Recuperação do DIARC, na Universidade de
Nápoles Federico II, na cidade de Cilento, em um trabalho de pesquisa que durou 18 meses no período
entre os anos de 2013 a 2015.

O projeto visou reunir múltiplos níveis de atores sociais, com o objetivo de ressignificar a
relação dos grupos de assentamento existentes e seu material cultural original, integrando por meio
da participação as dimensões da criatividade e recuperação (ou reabilitação urbana), proporcionando
aos habitantes da cidade uma nova perspectiva sobre os usos, hábitos e formas de engajamento com
a área.

A cidade já passa há muitos anos por um trabalho de continuação e reunificação das


comunidades, buscando associar os valores culturais entre os elementos edificados e a obra da
natureza que circunda a cidade, sendo instituída patrimônio mundial pela UNESCO.

Pontos focais do projeto:

Contribuir com a construção da identidade local;

Fortalecer o papel das comunidades na preservação e conservação da paisagem


histórico-urbana para as outras gerações;

Reconectar as comunidades com a cultura material;

Propor interações criativas respeitando valores tradicionais e protegendo a biodiversidade


existente.

O principal método utilizado nos Living Labs foram os fóruns e workshops criativos
(Figura 11) que reuniram desde stakeholders, cidadãos, companhias de construção de pequeno e
médio porte, representantes de órgãos públicos e autoridades locais, para que juntos construíssem
o contexto social da cidade, com o objetivo de desenvolver parcerias e responsabilidades
compartilhadas.

GLOSSÁRIO

Você sabe quem são stakeholders? O termo surgiu na década de 80 para designar
as “partes interessadas” nas iniciativas de uma organização. Dessa forma, a expressão
pode incluir investidores particulares (ou privados), e até mesmo investidores de
organizações públicas.

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Figura 11 - Workshop criativo no Living Lab parque de Cilento

Fonte: Pinto e Viola, 2016.

Dessa maneira, foram desenvolvidos exercícios de reconhecimento de ações que


transformaram a paisagem urbana em Cilento, além de atividades de reconhecimento sobre a qualidade
dos materiais da paisagem urbana por meio da análise de imagens e questionários específicos, para que
assim fosse possível desenvolver uma proposta de intervenção e manutenção dinâmica, analisando
os elementos construídos, necessidades da comunidade e possibilidades de atuação e transformação.

Ao final dos dois anos de experiências compartilhadas, foi possível elencar os problemas
da comunidade que levavam à degradação da paisagem e dos recursos naturais locais, propondo
adaptações e intervenções no turismo verde local, incentivando novos projetos de acessibilidade e
circulação de pessoas. Além do aspecto principal da abordagem, que foi de transformar o olhar dos
participantes em relação às questões sociais e sua responsabilidade sobre a preservação, conservação
e manutenção da paisagem urbana.

A partir de um olhar sobre as iniciativas realizadas no parque Cilento, e a forma espontânea


com que os participantes se envolveram, fica mais fácil imaginar como poderiam ser adaptadas
em nossa cidade esse tipo de iniciativa, não fica? O objetivo das nossas reflexões é construir um
repertório de referências para discutir sobre as possibilidades de promoção e de desenvolvimento
local sustentável também em nossa cidade.

O projeto de Living Lab realizado em Skopje, na Macedônia, também inspira novos


percursos que podemos seguir, vamos conhecer?

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3.2 Skopje Urban Living Lab (SkULL)

Este projeto foi estabelecido como parte do projeto ROCK (Regeneração e Otimização do
Patrimônio Cultural e do Conhecimento em Cidades Criativas). Implementado pela União Europeia do
Arizona em 2020. O projeto se destina à área histórica do centro da cidade de Skopje (ou Escópia),
capital da Macedônia e integra a área do bazar antigo (Old Bazaar), as fortalezas medievais e regiões
de imediações próximas.

O objetivo do projeto não difere das expectativas das iniciativas de inovação social
participativas, como vimos nos capítulos anteriores. De forma que o ponto chave do projeto foi buscar
envolver os cidadãos, empresas e outros entes interessados na construção de propostas de reabilitação
e reutilização do patrimônio cultural, por meio da participação ativa em um ambiente criativo de diálogo.

A região de Skopje é uma das mais antigas, mas ainda é uma ativa zona comercial e de
mercado da cidade. Apesar de sua importância histórica, para muitos cidadãos, a região perdeu seu
atrativo cultural devido aos fenômenos de marginalização e degradação das edificações. Diante disso,
o verdadeiro desafio do SkULL era propor uma variedade de ações que trariam benefícios e mudanças
imediatas, no entanto, seriam necessárias também ações de longo prazo, para impedir a decadência
da área histórica, essas medidas foram alcançadas por meio das atividades de incentivo à visitação no
tradicional comércio central, promovendo várias atividades, dentre elas um evento chamado “Shops
with history” (Figura 12), incentivando os artesãos do bairro e empresas locais a unirem seus trabalhos
em uma espécie de feira pelos casarões antigos, conforme pode ser visto na figura a seguir.

Figura 12 - Evento “Shops with history” no Living Lab Skull

Fonte: Siljanoska, 2020.

O SkULL teve êxito em promover várias atividades e iniciativas em prol de uma reabilitação
conduzida por um processo responsivo, possibilitando a inclusão e o engajamento de uma ampla faixa
de participantes na cocriação e tomada de decisão conjunta. O Lab conseguiu contribuir para uma
mudança importante no que diz respeito à compreensão da necessidade do engajamento civil, no
processo de tomada de decisão, preservação, conservação e manutenção de forma criativa.

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O processo de reabilitação também alcançou indústrias tecnológicas e criativas e já começou
a demonstrar resultados por meio da implementação de novas plataformas digitais (Siljanoska, 2020)
e como dados urbanos coletados por sensores e ferramentas ITC introduzidas. O SkULL ajudou com
o avanço de processos participativos e começou a utilizar o local, conhecimento e infraestrutura ITC
na área do “Old Bazaar”, e é esperado que continue a funcionar como um laboratório de inovações
culturais, sociais e econômicas e um centro de apoio para empreendimentos inovadores e atividades
de desenvolvimento sustentável.

O legado da SkULL deve continuar através do “Skopje Urban Lab”, que já foi estabelecido
ao lado da cidade de Skopje. Uma grande quantidade de atividades subsequentes já foi desenvolvida,
mas os conhecimentos obtidos pelos resultados da SkULL serão fundamentais nos processos de
design de atividades futuras.

A partir das conceituações que fizemos nos capítulos anteriores, conectando as áreas de
inovação social, do desenvolvimento sustentável para valorização da cultura patrimonial de forma
participativa, inclusive em iniciativas internacionais, não é possível notar a possibilidade de atuação e
adaptação também no nosso Centro Histórico de São Luís? A partir desses conhecimentos, podemos
agora reconhecer a riqueza de trabalhos realizados em nossa própria cidade, que envolveram diversos
atores sociais e o ambiente acadêmico que serão apresentados a seguir.

RESUMO

Nesta Unidade, entendemos como as iniciativas de pesquisas e trabalhos voltados


para inovação social aconteceram em outros países, especialmente em áreas de preservação
histórica e cultural, através do estudo de caso de dois projetos implementados por meio
de metodologias que contemplam a participação social no ambiente urbano, utilizando a
abordagem de campo dos Living Labs.

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REFERÊNCIAS

MANZINI, Ezio. Design: quando todos fazem design: uma introdução ao design para a inovação
social. Editora Unisinos: São Leopoldo, 2017.

MAZZUCO, Eduardo; TEIXEIRA, Clarissa Stefani. LIVING LABS: INTERMEDIÁRIOS DA


INOVAÇÃO. In: Revista científica do Alto do Vale do Itajaí - REAVI, [s. l.], v. 6, ed. 9, p. 87-97, 2017.
DOI10.5965/2316419006092017087. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/reavi/
article/download/2316419006092017087/7207/36311. Acesso em: 2 set. 2021.

PINTO, Rita Maria; VIOLA, Serena. Cultura materiale e impegno progettuale per il recupero: Living
Lab nel Parco del Cilento. RICERCA E SPERIMENTAZIONE/ RESEARCH AND EXPERIMENTATION.
In: Firenze University Press, p. 223-229, 2016. DOI 10.13128/Techne-19356. Disponível em: https://
www.iris.unina.it/retrieve/handle/11588/656130/418375/228571498.pdf. Acesso em: 2 set. 2021.

SILJANOSKA, Jasmina. URBAN LIVING LABS FOR SENSITIVE CITY CULTURAL HERITAGE
REGENERATION. 7TH INTERNATIONAL ACADEMIC CONFERENCE: PLACES AND
TECHNOLOGIES 2020, Proceedings, University of Belgrade, v. 7, p. 165-172, 2020.DOI:10.18485/
arh_pt.2020.7.ch19. Disponível em: http://doi.fil.bg.ac.rs/volume.php?l=en&pt=eb_ser&issue=arh_pt-
2020-7&i=0. Acesso em: 2 set. 2021.

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Éguas: inovando no Centro Histórico da Ilha!
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4 POTENCIALIZANDO O CENTRO
HISTÓRICO DE SÃO LUÍS COM
INOVAÇÃO SOCIAL
Objetivos:

Reconhecer e identificar as iniciativas de inovações sociais;

Identificar as características e elementos que constituem as inovações sociais;

Valorizar a identidade cultural local.

Chegando na reta final deste módulo sobre inovações e patrimônio, vamos nos aproximar
mais da nossa ilha de São Luís. A partir de exemplos de eventos e iniciativas locais, que tratam
de diversidade cultural, pertencimento, desenvolvimento sustentável, apresentaremos casos que
envolvem inovação social no nosso Centro Histórico. Ao final do percurso, oferecemos um mapa
acessível que possibilitará que as iniciativas sejam acessadas e que possamos nos engajar em cada
um desses acontecimentos.

4.1 O poder público na dianteira da inovação social

O primeiro evento é fruto da iniciativa do poder público, que reuniu dois valores
importantíssimos para a cultura ludovicense: o patrimônio histórico e a alegria. A Feirinha São
Luís (Figuras 13 e 14) reúne, por meio da organização da gestão municipal, microempreendedores
da gastronomia, artesanato, agroecologia, lazer, e serviços de diversas naturezas na histórica praça
Benedito Leite.

Nesse evento, os produtos culturais são convertidos em produtos e serviços que são
acionados requalificando o espaço do Centro de São Luís que, aos domingos, ficava vazio pela ausência
de atrações. A busca pelo espaço foi tão grande que em 2021, após o processo de revitalização dos
espaços físicos e arrefecimento da pandemia na cidade, devido à vacinação em massa, a Feirinha se
espalhou para a Praça João Lisboa e Rua do Egito.

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Figura 13 - Palco e decoração da Feirinha São Luís

Fonte: https://www.ma10.com.br/2020/10/20/prefeito-de-sao-luis-anuncia-retorno-a-partir-deste-domingo-da-feirinha-sao-luis/

Figura 14 - Panorama da área dos empreendimentos gastronômicos e artesanais da Feirinha São Luís

Fonte: https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2021/03/24/prefeitura-mantem-suspensao-da-feirinha-sao-luis-ate-
o-fim-de-abril.ghtml

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Com a ocupação de espaços públicos, a segurança aumenta, novos negócios surgem e


a economia começa a girar naquele espaço antes inseguro e desocupado. As pessoas se deslocam
de outras áreas da cidade para o Centro Histórico, há o fomento do uso de bicicletas para acessar
o Centro da cidade, com a disponibilização de vias exclusivas para os ciclistas. Quando um ponto é
revitalizado, muitos outros são afetados positivamente.

Os depoimentos de frequentadores, coletados para esta Unidade, mostram a importância


da Feirinha São Luís: “É um lugar lindo e que há um tempo atrás eu tinha medo, achava abandonado,
não tinha o que fazer, o que comer por aqui. Hoje é festa, é espetáculo, é bonito demais”, afirma uma
senhora de 57 anos que vive no bairro da Cohama, na cidade de São Luís.

A Feirinha acontece todo domingo e, além dos turistas, atrai o cidadão e a cidadã
ludovicense. Esse vínculo que se estabelece entre os moradores e a cidade é um dos vieses da
preservação patrimonial: ninguém preserva aquilo que não conhece, nos diz a pesquisadora sobre
patrimônio, Maria Cecília Londres Fonseca (2005).

No bojo da movimentação causada pela Feirinha, as cadeias produtivas do turismo, dos


artesanatos e da gastronomia recebem um incentivo para novos investimentos privados, gerando
novos empregos e renda. Além de promover um espaço constante para as manifestações culturais
tradicionais da cidade, como os blocos de Carnaval, grupos de Bumba meu Boi e Tambores de Crioula,
esses movimentos acabam encontrando, neste palco constante, algo além da sazonalidade do carnaval
e das festas juninas. É impressionante o caráter multiplicador de uma mobilização de inovação social
como esta.

Figura 15 - Esquema do impacto da Feirinha de São Luís

Fonte: elaborada pelas autoras

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O poder público, seja estadual, federal e até internacional, é mobilizado e mobiliza ao mesmo
tempo esse tipo de ação. É uma via de mão dupla. Por ser considerada uma cidade patrimônio cultural
da humanidade, São Luís tem acesso a programas internacionais de manutenção e incremento de
espaços públicos e privados no Centro Histórico.

Na medida em que essas obras de requalificação são feitas, fica mais fácil para a prefeitura
e o governo do estado ocuparem os espaços com atividades de turismo, lazer e usos cotidianos,
como por exemplo o projeto Nosso Centro. No decreto de implantação do projeto pelo Governo do
Estado do Maranhão, “fica instituído o Programa Nosso Centro que tem por objetivo tornar o Centro da
cidade de São Luís e dos demais municípios maranhenses referência em inovação e desenvolvimento
sustentável, bem como preservar seus valores histórico e cultural” (MARANHÃO, decreto 34.959, de
26 de junho de 2019).

A qualificação dos espaços públicos fomenta a sua ocupação, com programas de aluguéis
nestas áreas que são frequentemente ocupadas por comércios e repartições públicas. Com as pessoas
morando nessas áreas, novos serviços do cotidiano como padarias, farmácias, lojas e consultórios vão
surgindo e trazendo vida ao espaço público. A violência diminui, o policiamento aumenta, e o ciclo do
desenvolvimento sustentável gera renda e bem viver.

ïï ï

Sugestão de Sites

Para conhecer mais as ações do projeto Nosso Centro, acesse o link: https://www.ma.gov.br/
agenciadenoticias/?tag=nosso-centro&paged=2

4.2 Empreendedorismo e ancestralidade

Outra forma de promover a inovação social é o investimento privado e o empreendedorismo.


Como exemplo de sucesso, trazemos aqui o caso da Cozinha Ancestral. Este negócio surgiu a partir da
associação de um produtor cultural com uma culinarista, ambos iniciados no Candomblé. A relação,
portanto, vai além do negócio e transcende pela religiosidade e a valorização das culturas negras e
indígenas que constituem a identidade amazônica, entremeada com a cultura dos povos de terreiros.
“Muito mais que um negócio, é uma experiência cultural”, afirma André Lobão, coautor da iniciativa, em
uma entrevista a um jornal local.

SUGESTÃO DE LEITURA

Acesse e leia a entrevista completa pelo link a seguir: https://oimparcial.com.br/


gastronomia/2017/11/cozinha-ancestral-comida-indigena-e-de-terreiro/).

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A dupla, formada por André e Leila Oliveira, começou a ser convidada para participar com
seus pratos em eventos culturais e daí não pararam mais. Ocuparam um espaço cultural denominado
Chão SLZ e com o aumento da demanda foram para um imóvel localizado na Avenida Beira-Mar, com
espaço para de fato promover a experiência cultural e sensorial promovida pelas combinações de
sabores atlânticos e dos sertões em criações inusitadas e criativas.

SUGESTÃO DE VÍDEO

Conheça mais sobre o que é a culinária ancestral neste vídeo: https://www.youtube.


com/watch?v=EuYJ3B1mhQQ

A ambientação, as cores, os materiais, tudo nos leva à territorialidade e ao imaginário


ancestral sem, contudo, perder a contemporaneidade das misturas e a ressemantização dos pratos
(Figuras 16 e 17). Recentemente, o espaço da Cozinha Ancestral passou a abrigar uma outra empresa,
a Doc Brown, que oferece uma experiência contemporânea no consumo de cafés especiais. Uma forma
de fortalecimento coletivo, compartilhamento de espaços que otimizam os custos devido à ocupação
em horários específicos do dia, além de trazer complementaridade entre os negócios do lugar.

Figuras 16 e 17 – Cardápio e prato da Cozinha Ancestral

Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g673267-d19857961-Reviews-Cozinha_Ancestral-Sao_Luis_
State_of_Maranhao.html#photos;aggregationId=101&albumid=101&filter=7&ff=501030297

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o ambiente da Cozinha Ancestral acessando o link: https://www.tripadvisor.
com.br/Restaurant_Review-g673267-d19857961-Reviews-Cozinha_Ancestral-Sao_Luis_
State_of_Maranhao.html#photos;aggregationId=101&albumid=101&filter=7&ff=501030297

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4.3 Arte e ativismo

Mais um exemplo de inovação social, desta vez pautada na arte e na mobilização de moradores
e artistas no Centro Histórico de São Luís, é o movimento Ocupa Barrocas. Idealizado em 2020 pelos artistas
Walter Cunha e João Almeida, o movimento encontra-se em sua segunda edição em 2021. A proposta
é pautada na revitalização de uma rua do Centro Histórico, ocupando os muros e espaços da rua com
intervenções artísticas − murais, lambe-lambes, grafites − tudo isso na rua Isaac Martins de Barrocas. Os
artistas lançaram uma convocatória para que artistas enviem projetos para serem aplicados na rua.

SUGESTÃO DE VÍDEO
Assista ao vídeo do convite para a convocatória realizada pelos organizadores da
ocupação, clicando no link que está disponível em: https://www.instagram.com/tv/
CSJ9dE3Ahmq/?utm_medium=copy_link

Este tipo de mobilização social pode ser considerado como ativismo. Compreende-se que o ativista
está inserido num contexto coletivo, no qual a colaboração é uma ferramenta necessária para se chegar aos
objetivos comuns e a ideia de associativismo segue espontânea e às vezes até virtual. Nesse contexto, artistas
se encontram para além de produtores e difusores de informações, passam a abordar a necessidade de dar
atenção para causas sociais e históricas − neste caso, a ocupação de espaços públicos com arte.

Neste sentido, apresentamos abaixo as postagens de mobilização e divulgação do


movimento Ocupa Barrocas (Figuras 16, 17, 18 e 19), que é identificado no perfil do Instagram @vortex114
e outras redes sociais sob a hashtag #ocupacaobarrocasslz

Figuras 18 e 19 - Prints do Instagram @vortex114, com a divulgação e resultados da Ocupação


Barrocas 2021

Fonte: Ocupação Barrocas, 2021.

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Figuras 20 e 21 - Prints do Instagram @vortex114, com a divulgação e resultados da Ocupação


Barrocas 2021

Fonte: Ocupação Barrocas, 2021.

Assim, por meio de postagens e chamadas públicas, o trabalho vem sendo realizado com
o engajamento voluntário de artistas locais e nacionais. A rua está cheia de cores e imagens que
provocam reflexões e fruições por meio da arte.

4.4 Pesquisa e identidade cultural

O último exemplo que trazemos é de natureza acadêmica e é uma iniciativa que acontece
desde 2009. O projeto Iconografias do Maranhão, que busca tornar tangível o imaginário da cultura
maranhense na forma de ícones e produtos com identidade cultural. A ação extensionista é promovida
pelo Departamento de Desenho e Tecnologia da UFMA e coordenada pela Profa. Raquel Noronha.
Para esta décima edição, em vigor durante o ano de 2021, propõe-se o mapeamento iconográfico e o
desenvolvimento de souvenirs a partir de uma ação colaborativa na Cafua da Mercês, importante casa
histórica vinculada à memória africana no Maranhão, também conhecida como Museu do Negro. A
Cafua das Mercês funciona num pequeno sobrado construído em meados do século XVIII, lugar que
abrigou um mercado de pessoas escravizadas no período colonial.

Mapear iconografias consiste em um processo de construção e afirmação de identidades.


Por iconografia, entendemos o processo de identificação, descrição, classificação e interpretação dos
significados simbólicos dos fazeres, saberes e histórias de determinado grupo ou cultura e ainda a sua
forma tangível, os seus produtos, objetos, arquitetura e imagens que também são chamados de cultura
material. A iconografia é vista também como o conjunto de signos e códigos pictóricos encontrados
nas artes, arquitetura, nos artefatos, na fauna, flora, na paisagem, nas práticas cotidianas e nas tradições
culturais.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


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Essas definições deixam claro o potencial versátil da iconografia como forma de registro. O
ato de iconografar, portanto, diz respeito à tangibilização gráfica de um imaginário que muitas vezes
aparece de forma pulverizada na vida diária das pessoas.

SAIBA MAIS
Para conhecer mais sobre as etapas anteriores do Projeto Iconografias do Maranhão, acesse os
seguintes links:

https://www.researchgate.net/publication/341832167_A_cultura_afro_maranhense_
atraves_de_imagens

https://www.researchgate.net/publication/341831906_Identidade_e_valor_as_cadeias_
produtivas_do_artesanato_de_Alcantara_-_MA

https://www.researchgate.net/publication/341798922_No_coracao_da_Praia_Grande_
representacoes_sobre_a_nocao_de_patrimonio_na_Feira_da_Praia_Grande_-_Sao_
Luis_-_Maranhao

O processo de inovação empreendido nesta edição consiste em trazer narrativas sobre a


história da escravidão que foram ocultadas pela história oficial, a história dos vencedores, nesse caso,
dos detentores do poder no regime colonial. Como mote, a ação se inspirou na premissa de Walter
Benjamin (1987), de que devemos analisar a história a contrapelo. Isso consiste em pôr em destaque
e revelar aquilo que foi ocultado, pelas relações de poder. De se dar oportunidade a outras narrativas
que não foram privilegiadas.

Com a ação extensionista, os alunos do curso de Design da UFMA se lançaram em


campo (Figuras 22), coletando informações e histórias com as equipes da Cafua das Mercês e Museu
Histórico e Artístico do Maranhão, levantando documentos, memórias, escritos e material de pesquisas
elaborados por historiadores. As atividades se basearam na metodologia do codesign, visando formas
de colaboração e compartilhamento de ações, já que existe um processo subjacente de hierarquia
de saberes que condiciona práticas e discursos que valorizam aquilo que está superficialmente
comunicado, sem trazer as memórias e histórias mais profundas do lugar.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


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Éguas: inovando no Centro Histórico da Ilha!
Módulo 4

Figuras 22 - Alunos do curso de Design da UFMA e o gestor da Cafua das Mercês, Wender Pinheiro,
durante pesquisa no museu

Fonte: elaborada pelas autoras

Em se tratando de um espaço que abriga não só artefatos, mas também documentos do


tempo da chegada dos africanos ao Brasil como escravos, a estratégia foi trazer o imaginário dos
pesquisadores, dos gestores e funcionários. Ao final do trabalho, uma série de postagens para redes
sociais foram produzidas, com o intuito de levar ao público essas narrativas.

Mais uma vez é acionado o conceito de ativismo, só que desta vez impulsionado pelo
design. O vínculo entre o design e as movimentações sociais como uma força geradora de saberes é
uma oportunidade de promover novas práticas no interior do movimento e propor novas formas de ver
e fazer design (SERPA et al, 2019).

Como exemplo, apresentamos um conjunto de postagens do Instagram (Figura 23) que


narram o episódio do dia 17 de novembro de 1889 em São Luís. Você conhece esse capítulo da história
da abolição da escravatura? Não? Pois este é um episódio bem pouco divulgado e que mostra a
resistência negra. Ao depararem-se com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, os
negros libertos pela Lei Áurea no ano anterior temeram um possível retorno ao modelo da escravidão,
por consequência da queda da monarquia. Assim, organizaram-se e rebelaram-se contra os novos
detentores do poder, os militares. Assim, as imagens abaixo contam essa história por meio de imagens,
acompanhadas de legendas que contam os detalhes.

Inovando no Centro Histórico da Ilha


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Figura 23 - Painel com as seis postagens sobre o episódio de 17 de novembro

Fonte: elaborada pelos estudantes do curso de Design da UFMA, 2020.

As postagens foram produzidas pelos estudantes do curso de Design da UFMA: Gabriel


Victor Oliveira Barrozo; Vitória Caroline Ribeiro Ferreira; Ana Caroline Melo Lopes; Gleycinara Santos
Silva e Lucas Fernando Strasser Battisti.

SAIBA MAIS
No perfil do Instagram do NIDA - Núcleo de Pesquisas em Inovação, Design e Antropologia, é
possível acessar todas as postagens e legendas produzidas pelos alunos do curso de Design em
ação extensionista na Cafua das Mercês. Acesse: https://instagram.com/nidaufma?utm_
medium=copy_link

SUGESTÃO DE LEITURA

Para conhecer mais sobre o episódio de 17 de novembro, acesse o texto do historiador


Matheus Gato. Disponível em: http://novosestudos.com.br/o-massacre-de-
17-de-novembro-sobre-raca-e-a-republica-no-brasil/#:~:text=Naquele%20
dia%2C%20uma%20grande%20multid%C3%A3o,sobre%20a%20proclama%-
C3%A7%C3%A3o%20da%20rep%C3%BAblica.

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Éguas: inovando no Centro Histórico da Ilha!
Módulo 4

Assim, chegamos ao final deste percurso pelos processos de inovação social em centros
históricos e vimos ações de inovação na Ilha. Para sedimentar esses conhecimentos e tantas
informações, resumimos este módulo em um gráfico abaixo (Figura 24), trazendo os quatro tipos
de ações que apresentamos. Reforçamos que nenhum tipo é autônomo, e todas essas ações são
interconectadas, pois adicionam ingredientes diferentes no caldeirão da inovação social.

Figura 24 - Elementos da inovação social em ambiente patrimonial

Fonte: elaborada pelas autoras

A participação, o engajamento e a visão de futuro para os espaços patrimoniais como


geradores de trabalho e renda, e como fonte de cultura e fortalecimento identitário da diversidade
cultural são as forças motrizes da inovação social, como foi possível constatar nos exemplos trazidos
neste módulo.

Finalizamos nosso percurso com um mapa (Figura 23), no qual localizamos os casos
apresentados aqui. Isso não quer dizer que sejam os únicos. Basta um passeio em nosso Centro
Histórico para ver que as ações, as participações e o empreendedorismo estão se multiplicando.
Criando um Centro Histórico vivo e pulsante, cheio de energia a ser compartilhada.

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Figura 25 - Localização dos casos de inovação apresentados no Centro Histórico de São Luís

Fonte: elaborado pelas autoras - ilustração de Agnes Guerra, 2021

RESUMO

Nesta Unidade, apresentamos alguns exemplos de inovação social no Centro


Histórico de São Luís, no Maranhão. O poder público, a iniciativa privada, os movimentos
locais, de ativistas, a participação da academia, todos esses atores sociais fazem a diferença e
constroem a participação e o engajamento necessários para fazer a inovação social acontecer.
As formas de mobilização mais acionadas são as redes sociais e a participação e ocupação
de espaços. Em um ciclo virtuoso, quanto mais os centros históricos são ocupados, mais
atraem investimentos e isso gera mais investimentos e segurança, atraindo novos visitantes,
moradores e investidores. Assim, a vida pulsa e o patrimônio vivenciado se preserva e é
preservado.

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Éguas: inovando no Centro Histórico da Ilha!
Módulo 4

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. In:
Obras escolhidas. v. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222-232.

FONSECA, Maria Cecília L. O patrimônio em processo. Trajetória da política federal de


preservação no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/MinC-IPHAN, 2005.

JULIER, G. From Design Culture to Design Activism. Design and Culture, n.5, v.2, p. 215–236, 2013.

MARANHÃO. Diário Oficial do Estado: decreto 34.959, de 26 de junho de 2019. Disponível em:
https://stc.ma.gov.br/legisla-documento/?id=5546. Acesso em: 17 out. 2021.

MIYASHIRO, Rafael Tadashi. Com design, além do design: o design gráfico com preocupações
sociais. In Anais do P&D Design 2006. Curitiba: UFPR, 2006.

SERPA, Bibiana; JULIANO, Clara; ANASTASSAKIS, Zoy; Design Anthropology e Design


Ativismo: investigando métodos situados, p. 1580-1596. In: Anais do 13º Congresso Pesquisa e
Desenvolvimento em Design (2018). São Paulo: Blucher, 2019.

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