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Abordagensda daeconomia
economiacriativa
criativa
em
emterritórios
territórioshistórico-culturais
histórico-culturais
Carolina Martins
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ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja atribuído
crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.
Martins, Carolina
36 f.
ISBN:
Caro(a) cursista,
Boa leitura!
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... 16
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 16
RESUMO ......................................................................................................................... 21
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 21
RESUMO ......................................................................................................................... 25
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 25
RESUMO ......................................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 32
RESUMO ......................................................................................................................... 39
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 39
Objetivos:
1.1 Introdução
Ela pode ser compreendida como um conjunto de ações e relações socioeconômicas e culturais
voltadas para a produção de renda de indivíduos e/ou grupos sociais organicamente institucionalizados
(associações, cooperativas, ONGs, movimentos sociais, coletivos etc.) ou não. Estas ações podem ser
mobilizadas a partir dos anseios e demandas da sociedade civil de um modo geral, mas também podemos
mencionar experiências de parcerias entre organizações da sociedade civil e iniciativas de políticas
governamentais que juntos podem incrementar, fortalecer e dinamizar este tipo de economia.
O Relatório de Economia Criativa (2010, p. XVI), seguindo a Conferência das Nações Unidas para
o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), estabelece que Indústrias Criativas podem ser definidas como:
[...] ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e
o capital intelectual como principais insumos. Elas compreendem um conjunto de atividades
baseadas no conhecimento que produzem bens tangíveis e intangíveis, intelectuais e artísticos,
com conteúdo criativo e valor econômico [...].1
Embora seja um conceito em construção, como adverte o documento acima, a concepção abarca
uma grande diversidade de iniciativas que envolvem tanto os indivíduos e/ou grupos nas atividades de
produção, bem como o processo de beneficiamento e de comercialização de determinados produtos,
e também no setor de serviços que podem ser inseridos na categoria de Economia Criativa.
No mesmo relatório (2010) encontramos uma importante crítica aos modelos de desenvolvimento
econômico que se restringem às teorias econômicas convencionais, que são não somente incompatíveis
com as novas realidades socioeconômicas e culturais em diferentes contextos, como também são
incapazes de responder às reais demandas das sociedades contemporâneas. Os modelos explicativos,
1
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. Pg. XVI
ATENÇÃO
Essa questão mostra o quanto a economia criativa inerente às comunidades é invisibilizada
em nome de um suposto progresso baseado em teorias econômicas convencionais
coerência das políticas deve ser reforçada com a introdução de políticas multidisciplinares
e multiculturais harmonizadas. No resultado da crise financeira global de 2008 e de suas
consequências econômicas e sociais negativas – em especial, o efeito dominó com o qual a
qualidade de vida se deteriorou para milhões de pessoas – fica ainda mais vital que abordagens
neoliberais sejam revisitadas. O mundo precisa de uma reorientação fundamental dos modelos
econômicos para promover mudanças estruturais nos modos de produção e consumo. O mundo
precisa de melhor governança global, não somente nas políticas financeiras e monetárias,
mas também nas políticas comerciais, tecnológicas e ambientais. É vital reinserir a ética na
economia, ampliar as lições aprendidas e introduzir novas abordagens. Esses passos ajudarão a
restaurar a confiança de investidores e consumidores, assegurar maior coerência nos processos
globalizados e restabelecer um caminho sustentável para o crescimento econômico.3
Figura 1 - Parte do Centro Histórico de São Luís com vista para as áreas de bairros e comunidades
populares ao fundo
Fonte: https://www.google.com/
search?q=centro+historico+sao+luis+ma+e+anjo+da+guarda&rlz=1C1CHBD_pt-PTBR903
BR903&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwi-uYKRvv3yAhV_r5UCHUzTB60Q_
AUoAXoECAEQAw&biw=1366&bih=657#imgrc=82iOmbFmCyXGsM
3
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. p. 37
Importa destacar a dimensão ambiental que a economia criativa agrega, se comparada aos
modelos econômicos predatórios que atingem de forma desigual os diferentes países, culturas,
comunidades, povos e classes sociais. Problemas como a falta de acesso a água e a fragilidade na
soberania alimentar de comunidades em diferentes regiões do mundo, revelam a importância crucial
das formas de economias alternativas, entre elas a economia criativa que pressupõe a produção de
novas percepções na relação com a natureza.
A criatividade tem sido apoiada por políticas públicas e tratada como o principal insumo da
inovação. É a dimensão simbólica da produção humana que passa a ser o elemento fundamental
na definição do valor desses novos bens e serviços. Ao mesmo tempo que produz riqueza,
a economia criativa demonstra tendência para construir solidariedade, reunindo e incluindo
comunidades e indivíduos, coletivos e redes. No caso do Brasil, a temática da economia criativa
surge a partir de 2004, com a realização, durante a XI Conferência da Unctad em São Paulo, de
um painel dedicado exclusivamente à questão das indústrias criativas na perspectiva dos países
em desenvolvimento.4
O caso do Centro Histórico de São Luís ilustra a dinâmica que as iniciativas de economias
criativas ganharam nos últimos anos, com a ascensão da cidade ao receber o título de Patrimônio da
Humanidade da UNESCO. Embora o Centro Histórico tenha atravessado duas crises subsequentes
de 2008, e posteriormente a Pandemia da Covid-19, notam-se inúmeras iniciativas que foram criadas
através de pequenos e médios estabelecimentos de vendas de artesanato, bares, restaurantes (destaque
para a gastronomia local), cafés, lanchonetes, brechós, produção artística, museus, espetáculos,
microempreendimentos criativos.
Há também iniciativas da gestão municipal como a Feira do Mercado das Tulhas e a presença
de grupos de samba e de Tambor de Crioula, as barracas de artesanato e comidas típicas na rua da
Feira da Praia Grande, a Feirinha da Praça Benedito Leite, promovida pela Prefeitura de São Luís e que
ocorre aos domingos contando com atrações musicais.
4
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. Pg. XVI
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2018/03/mercado-das-tulhas-um-mundo-de-historias-e-coisas/
Acesso em: 20 set. 2021.
Há também inúmeras atividades que estão agregadas aos circuitos do Bumba meu boi, os grupos
de Tambor de Crioula, Cacuriá, Festa do Divino, Carnaval e outras manifestações culturais locais que
acontecem anualmente, com objetivo de ocupar a área do Centro Histórico, como é o caso do Projeto
Serenata Histórica, cujo cortejo pelas ruas do Centro apresenta performances, poesias, literatura e música,
contando com grupos de teatro que interpretam personagens da história de São Luís e os eventos de
Reggae, que também acontecem nas ruas do centro e atraem um significativo número de pessoas.
Fonte: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-cultura/2018/12/tambor-de-crioula-para-
comemorar-o-dia-de-santa-luzia/
11
Figura 4 – Cacuriá
Fonte: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-
cultura/2017/06/5-curiosidades-sobre-o-sao-joao-do-
maranhao/
Figura 7 – Reggae
Fonte: https://imirante.com/namira/sao-luis/noticias/2020/05/11/em-sao-luis-dia-nacional-do-reggae-e-
comemorado-por-artistas.shtml
SAIBA MAIS
[...] existe a necessidade de melhor conhecimento das dinâmicas da economia criativa em nosso
mundo globalizado. Uma abordagem mais holística ao desenvolvimento se faz necessária. É
hora de nos distanciarmos do foco global e olharmos mais profundamente por um prisma
local, identificando especificidades e identidades dos países e reconhecendo suas diferenças
culturais e econômicas, de modo a capturar suas reais necessidades e ambiente circundante.
Parece crucial explorar a interligação entre as capacidades criativas, o comércio, o investimento
e a tecnologia, percebendo como ela pode ser traduzida em uma vibrante economia criativa que
seja capaz de contribuir para a prosperidade econômica e a redução da pobreza [...]5
No caso do Centro Histórico de São Luís, vale notar que a cadeia produtiva de alguns produtos
de origem artesanal envolve comunidades e povos tradicionais do continente (comunidades ribeirinhas,
quilombolas, povos indígenas, entre outras) que se inserem no processo de comercialização a partir do
extrativismo vegetal e de outras formas de produção artesanal.
Fonte: https://www.turismo.ma.gov.br/roteiro-sao-luis/
5
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. p.XX.
Fonte: https://www.ma.gov.br/agenciadenoticias/?p=249121
Esta economia tem importância crucial para a geração de renda e para a valorização e o
fortalecimento da cultura maranhense no cenário nacional e internacional. Nas páginas seguintes
iremos explorar melhor esses pontos.
6
https://www.firjan.com.br/EconomiaCriativa/downloads/MapeamentoIndustriaCriativa-Firjan2016.pdf
Vale destacar dois pontos importantes do Relatório de Economia Criativa (2010) entre as Dez
mensagens principais sobre pontos característicos da Economia Criativa, informação referente ao
item V, que diz o seguinte:
Um grande desafio para a moldagem de políticas para a economia criativa está relacionado aos
direitos de propriedade intelectual: como medir o valor da propriedade intelectual, redistribuir
os lucros e regular essas atividades. A evolução da multimídia criou um mercado aberto para
a distribuição e o compartilhamento de conteúdo criativo digitalizado, e o debate acerca da
proteção ou compartilhamento de Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) se tornou altamente
complexo, envolvendo governos, artistas, criadores e empresas. Chegou o momento de
os governos analisarem as limitações dos regimes de DPI atuais e os adaptarem às novas
realidades, assegurando um ambiente competitivo no contexto do discurso multilateral.7
Este aspecto é importante no cenário maranhense, sobretudo na cidade de São Luís, enquanto
cidade patrimônio, porque inexiste uma política consolidada de valorização e de reconhecimento dos
mestres e mestras, assim como dos artesãos e artesãs que de fato dedicam suas vidas à arte popular.
Sobre esse ponto, é importante observar que a cultura se constitui como a menor área com a presença
de trabalhadores formais no Brasil e o Maranhão apresenta um dos menores salários atribuídos a
esses trabalhadores.8
Não são raros os casos de peças artesanais produzidas por artistas que não lhes são dados
os devidos créditos. Observamos que grande parte da produção é divulgada sob a bandeira da
identidade cultural maranhense, seja por empresas, seja por órgãos de governos, porém, a comunidade
artística, artesãos, artesãs, cantadores e compositores, sobretudo de origem popular, permanecem na
invisibilidade.
O mesmo ocorre com as composições de toadas de bois que, embora na atualidade, em alguns
casos tenham ganhado notoriedade quanto ao Direito de Propriedade Intelectual, ainda carecem de
cuidados e respeito aos seus compositores.
Fonte: https://www.google.com/search?q=bordadeiras%20de%20couro%20de%20boi%20no%20
Maranh%C3%A3o&tbm=isch&hl=pt-BR&tbs=rimg:CbkhhqvlhFVEYWO. Acesso em: 12 set..2021.
7
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. p XXIV
8
https://www.firjan.com.br/EconomiaCriativa/downloads/MapeamentoIndustriaCriativa-Firjan2016.pdf
RESUMO
Neste primeiro momento, vimos uma definição acerca da economia criativa e as suas
relações com as atividades desenvolvidas nas comunidades rurais da cidade de São Luís.
Além disso, observamos como determinadas ações promovidas pelo poder público são
importantes para esse tipo de economia, pois promovem, entre outras coisas, geração de renda,
reconhecimento e fortalecimento da cultura local.
REFERÊNCIAS
ALVES, Elio de Jesus Pantoja Alves. Modos de vida, territórios e uma cidade em questão: resistências
políticas de comunidades rurais no município de São Luís – Maranhão, Brasil », L’Ordinaire des
Amériques [En ligne], 221 | 2016, mis en ligne le 18 novembre 2016.
Objetivos:
Foi nessa perspectiva que um grupo de sociólogos e filósofos alemães da chamada Escola
de Frankfurt produziram a crítica à indústria cultural massificada, através dos meios de comunicação
em ascensão nos meados do século XX. O processo de padronização e de massificação se manifestou
em todos os campos da vida social, política e cultural.
Na obra “A indústria cultural: O Iluminismo como mistificação das massas” Theodor Adorno
e Max Horkheimer (2002, p. 8) descrevem o seguinte:
Seguindo o Relatório de Economia Criativa (2010), podemos elencar que diferentes produtos
e serviços culturais compartilham características similares:
• Eles são veículos de mensagens simbólicas para aqueles que os consomem; isto é, eles
são mais do que simplesmente utilitários, na medida em que também servem a um
propósito comunicativo mais amplo;
• Eles contêm, pelo menos potencialmente, alguma propriedade intelectual que possa
ser atribuída ao indivíduo ou grupo que esteja produzindo o produto ou serviço.
Sugestão de Leitura
1
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. p. 4-5
Podemos destacar alguns fatores para o impulsionamento da economia criativa e que são
importantes para o seu crescimento.2
2.1.2 Demanda
2.1.3 Turismo
Uma vez que o turismo envolve uma complexa rede de agentes, tais como governos, atores
locais (artesãos, comerciantes, agências de viagens e de turismo, empreendedores, trabalhadores do
mercado informal de modo geral), bem como a rede hoteleira regional, redes de pousadas alternativas,
restaurantes e serviços em geral, é possível observar nesta cadeia uma rica e diversificada dinâmica
de produção de serviços de entretenimento, produção de eventos, espetáculos, música, arte, feiras
de artesanatos, divulgação de gastronomia, passeios, etc. Este complexo reflete os saberes, as
criatividades e a cultura local engendradas nas experiências cotidianas que, dadas as suas dinâmicas
de funcionalidade, inevitavelmente exige a presença dos governos por meio de políticas públicas
sustentáveis e ecologicamente criativas.
2
ONU. Relatório da Economia Criativa. 2010
No mundo todo, o turismo é um negócio que totaliza $ 3 bilhões por dia, do qual potencialmente
podem usufruir países em todos os níveis de desenvolvimento. Ele é a principal fonte de câmbio
estrangeiro para um terço dos países em desenvolvimento e de metade dos países menos
desenvolvidos, nos quais ele corresponde a até 40% do PIB.36” (Relatório de Economia Criativa,
2010, p. 21).
Nos últimos anos, contudo, tem havido uma mudança na abordagem do turismo cultural.
Temerosa de que as mais belas e importantes áreas culturais estejam sendo prejudicadas
por multidões de visitantes, a Unesco está insistindo com os governos para que estabeleçam
um melhor equilíbrio entre o turismo e a preservação. Organizações internacionais como a
Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas e a Unctad têm promovido ativamente
uma mudança na atitude dos governos em direção à formulação de políticas para o turismo,
focando o conceito de que a política do turismo deve preservar tanto a cultura quanto o meio
ambiente, beneficiando a população local. (Relatório de Economia Criativa, 2010, p. 21)
• Setor privado com fins lucrativos (uma ampla variedade de operações comerciais
em todos os campos da cultura e da produção e distribuição criativas);
Dado o caráter multidimensional das partes interessadas que compõem a complexa rede
de atores envolvidos e respectivos interesses da economia criativa, se faz necessária a presença das
agências governamentais no sentido de contribuir na gestão compartilhada das decisões sobre o
direcionamento das ações empreendedoras e, dessa forma, priorizar uma abordagem integrada e que
fortaleça o espírito de cooperação e de parcerias visando o fortalecimento mútuo das partes.
RESUMO
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Indústria Cultural e Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2002.
ALVES, Elio de Jesus Pantoja Alves. Modos de vida, territórios e uma cidade em questão: resistências
políticas de comunidades rurais no município de São Luís – Maranhão, Brasil. In: L’Ordinaire des
Amériques [En ligne], 221 | 2016, mis en ligne le 18 novembre 2016.
3 AS DIMENSÕES DA ECONOMIA
CRIATIVA
Objetivos:
Com relação aos aspectos econômicos da economia criativa, ela é importante, pois possibilita
a diversificação econômica e, consequentemente, produz receita e movimenta o comércio. A abertura
que ela oferece auxilia na movimentação econômica de áreas urbanas consideradas periféricas, bem
como promove o desenvolvimento de áreas rurais e a preservação dos recursos ambientais e dos
patrimônios culturais.1
Frequentemente, as comunidades que sofrem com tensões sociais e conflitos de vários tipos
podem ser unidas por meio da participação compartilhada em rituais culturais. Iniciativas
como programas artísticos comunitários constroem capital social ao estimular a habilidade e
motivação das pessoas em se envolverem na vida da comunidade e ao incutir habilidades que
podem ser utilmente empregadas nas indústrias criativas locais. Além disso, a atividade criativa
é comprovadamente importante para a saúde e o bem-estar psicológico de um indivíduo.2
Assim, é possível observar que, quanto aos aspectos sociais, há vantagens inclusive para o
bem-estar psicológico dos indivíduos, promovendo a inclusão de artistas marginalizados e a inclusão de
mão de obra feminina, já que parte significativa da produção relacionada a atividades como artesanato
e moda é realizada por mulheres, contribuindo, nesse sentido, para uma equidade de gênero.
1
ONU, Relatório da Economia criativa, 2010. p. 23
2
ONU, Relatório da Economia criativa, 2010. p. 24
ATENÇÃO
Pode-se observar a relação dos aspectos sociais, econômicos e culturais, pois geralmente
essas produções são feitas no interior das comunidades promovendo e fortalecendo os
laços entre os sujeitos envolvidos. Além disso, contribuem para a economia local, já que
demandam a compra de matéria-prima para a confecção das peças artesanais e por fim,
atribuem valor econômico às atividades culturais.
Por outro lado, há o núcleo da Cultura Popular e do Patrimônio Imaterial, que por sua vez
se expande para as atividades ligadas ao corpo e à performance midiática e aos espaços públicos.4
Outro núcleo é o que se refere à Indústria do Entretenimento, que tem interface com os outros núcleos.
Todos estes núcleos, ou subsetores, apresentam pontos de intersecção através dos quais ganham
uma relevância maior e apresentam outros sentidos. A afirmação de Lala Dehazeilin é esclarecedora:
“quanto mais interação houver entre os subsetores originados das artes e indústrias criativas e aqueles
que se originam da vida comunitária e cultura tradicional, mais rica e diferenciada será a produção em
Economia Criativa” (p. 30).
3
REIS, Ana Karla Fonseca; DEHEINZELIN, Lala. Caderno de Economia Criativa: economia criativa e desenvolvimento local. Vitória, ES:
SEBRAE/SECULT, 2008. Pg. 29
4
Reis; DEHEINZZELIN. p. 29
Um exemplo sobre as interfaces entre estes subsetores é o carnaval, que é uma expressão
da cultura popular realizada pelos populares, mas que tem intervenção estatal e empresarial e se
transforma em uma grande performance que impacta as localidades envolvidas tanto a nível cultural
quanto a nível econômico.5
Seguindo estas reflexões, Yúdice destaca os quatro pontos que integram o universo da
economia criativa: o turismo, que tem intrinsecamente um caráter cultural; a vida comunitária, pois a
economia criativa não se restringe somente aos aspectos econômicos, mas também tem um forte apelo
social; a educação não formal, visto que a economia criativa está fortemente baseada nos saberes e
fazeres tradicionais; e por fim, o setor produtivo de ponta, responsável pela criação de novos modelos,
assim como pela distribuição e acesso aos produtos.6
RESUMO
Esta seção teve como objetivo apresentar um panorama mais geral sobre os
diferentes aspectos da economia criativa e como eles se articulam. Além disso, mostramos a
importância da Economia Criativa para o desenvolvimento social dos países subdesenvolvidos.
REFERÊNCIAS
REIS, Ana Karla Fonseca; DEHEINZELIN, Lala. Caderno de Economia Criativa: economia criativa e
desenvolvimento local. Vitória, ES: SEBRAE/SECULT, 2008.
5
ONU, Relatório da Economia criativa, 2010. p. 30
6
ONU, Relatório da Economia criativa, 2010. p. 30
Objetivos:
São Luís do Maranhão foi tombada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO pela
riqueza de seus bens materiais que se expressam no casario colonial repleto de azulejos portugueses
e pedras de cantaria, de valor cultural inestimável. Os bairros situados na região do Centro, e que fazem
parte da região tombada, apresentam uma dinâmica social interessante que reflete bem a presença de
uma economia criativa. Iremos explorar alguns elementos dessa dinâmica a seguir.
O Centro Histórico de São Luís é um espaço repleto de casarões antigos que tem a parte
térrea ocupada por inúmeros comércios, órgãos públicos, bares e restaurantes. Devido ao valor histórico
e cultural do local, todos os anos, as ruas do Centro Histórico atraem turistas de diferentes partes do
país e do mundo que vêm conhecer o conjunto arquitetônico. Nesses passeios, geralmente, os turistas
levam souvenirs para suas casas afim de terem uma lembrança do local onde passaram suas férias.1
Dessa forma, dentro da dinâmica do Centro Histórico, iremos destacar, em primeiro lugar,
a presença das inúmeras lojas situadas no local e que são voltadas para a venda de produtos que
atendem essa demanda turística. A maioria das peças vendidas são produtos artesanais que têm
como matéria-prima recursos renováveis como, por exemplo, peças feitas a partir de cascas de coco,
ou, para dar um caráter mais regional a elas, feitas com cascas de coco babaçu, palmeira abundante
no Maranhão. Essas peças são produzidas, em grande parte, por artesãos e artesãs que trabalham em
cooperativas, ou não, e que se dedicam a suprir esse mercado.
1
Souvenir = lembrança
Entre as peças artesanais produzidas no Maranhão, é importante destacar as que são feitas
a partir da fibra do buriti, palmeira também abundante em terras maranhenses. Este tipo de artesanato
é produzido em grande parte nas cidades do interior, mais especificamente na região dos lençóis
maranhenses. O destaque maior fica para Barreirinhas, onde se observa a presença de inúmeros(as)
artesãos e artesãs que se dedicam à atividade, mulheres em sua maioria.
Fonte: https://barreirinhas.wordpress.com/2012/11/28/artesanato-de-barreirinhas/
Elas dominam a técnica não só de fabricar as peças com a fibra, mas realizam todo o processo
de produzir a matéria-prima, desde a escolha da palmeira, obtenção do olho da palmeira (folha mais
jovem), extração do linho, tratamento, pigmentação e preparação do linho. Só a partir daí é que produzem
inúmeras peças como bolsas, sacolas, chinelos, colares e o que mais a imaginação permitir.
SAIBA MAIS
Assim como as lojas fazem parte do cotidiano do Centro e são espaços importantes
para o desenvolvimento e a consolidação da economia criativa no estado, existem outras iniciativas
igualmente importantes para a compreensão das diferentes dinâmicas que a integram. O espaço
do Centro Histórico tem sido bastante utilizado para a realização de atividades que promovem a
criatividade e a inclusão das pessoas envolvidas. Iremos destacar algumas delas.
A primeira atividade é a Feirinha de São Luís, promovida desde o ano de 2017 pela
Prefeitura da cidade através da Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento em parceria
com o Banco do Nordeste e Governo do Estado.2 A feirinha tem se mostrado como um importante
espaço para a movimentação da economia local, pois disponibiliza mais de 100 barracas através das
quais são comercializados produtos da agricultura familiar, artesanato, vestuário, lanches e comidas
típicas.3 A programação ocorre aos domingos das 07 às 16h e, além da venda de uma diversidade de
produtos, há a apresentação de grupos culturais como, por exemplo, grupos de tambor de crioula,
bumba meu boi e shows de bandas locais.
Figura 15 - Feirantes de São Luís serão qualificados para atuação com foco empreendedor
2
SÃO LUÍS (Município). Prefeitura Municipal. Feirinha de São Luís com atrações. São Luís, 2020. Disponível em: http://agenciasaoluis.
com.br/foto/27144. Acesso em: 10 mar. 2020
3
DOS SANTOS, Karolyne da Luz; DOS SANTOS, Saulo Ribeiro; MARQUES, Ana Rosa. Percepção dos atores sobre a Feirinha São Luís
como espaço de incentivo à economia solidária e ao turismo Ciência Geográfica - Bauru - XXIV - Vol. XXIV - (3): Janeiro/Dezembro - 2020
O Centro Histórico também tem sido palco de outras iniciativas igualmente importantes
nesse sentido. Os encontros de brechós promovidos por donos e donas de brechós constituem-se
como espaços importantes para o fortalecimento da economia criativa na cidade. Segundo Salvalayo
e Ashton (2017), os brechós são lugares que têm como objetivo a venda de peças vestuárias second
hand, ou vendas e trocas realizadas pelos próprios consumidores.5 No passado, predominava uma
imagem negativa com relação aos brechós, vistos como espaços onde se comercializavam produtos
de qualidade inferior, pois eram de segunda mão. Observa-se na atualidade uma mudança de
mentalidade dos consumidores brasileiros, por meio de uma preocupação cada vez maior em se fazer
um consumo da moda de maneira consciente, reutilizando peças que estão em bom estado.6
Em São Luís, pelo menos desde 2017, tem ocorrido o Encontro de Brechós nas praças do
Centro Histórico. Com o retorno das atividades presenciais no contexto da pandemia, os encontros
de brechós têm voltado a acontecer reunindo em média mais de 30 expositores que levam peças de
roupas, calçados, moda praia e alimentação natural para aqueles que prestigiam o evento.
4
Jornal Pequeno. 21/07/2021
5
SALVALAIO, Raquel Denise Salvalaio; ASHTON, Mary Sandra Guerra. “O consumo de moda em brechós no contexto da indústria
criativa”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, ( julio-septiembre 2017). p. 1
6
SALVALAIO; ASHTON. p. 2
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2017/08/encontro-de-brechos-promove-moda-sustentavel-em-sao-
luis/. Acesso em: 07 set. 2021.
Além dos encontros que são organizados nos espaços públicos do Centro, há brechós
instalados nos casarões antigos e que tem dinamizado o setor da moda local. Estes dois exemplos são
importantes para se compreender a dinâmica da economia criativa nas áreas do Centro Histórico de
São Luís, evidenciando assim a importância dos atores sociais envolvidos.
RESUMO
Nesta seção, vimos como a economia criativa esta articulada ao cotidiano do Centro
Histórico, através das lojas onde se comercializam peças produzidas por artistas locais e através
das atividades periódicas como a Feirinha de São Luís e os brechós. A ideia foi pensar as interfaces
entre as ações que têm sido realizadas no Centro Histórico e a produção econômica local.
REFERÊNCIAS
MARTINS, Carolina. Bumba meu boi e festas populares na ilha do Maranhão: entre negociação e
conflito. Tese (Doutorado). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2020.
SALVALAIO, Raquel Denise Salvalaio; ASHTON, Mary Sandra Guerra. O consumo de moda em
brechós no contexto da indústria criativa. In: Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales. Julio-
septiembre 2017.
5 ARTICULANDO O PATRIMÔNIO
IMATERIAL E A ECONOMIA CRIATIVA
NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS
Objetivos:
Esta ampla e complexa herança cultural é o que diferença a economia criativa de qualquer
outro setor da economia. De fato, a atividade cultural não esteve incluída como um componente
da economia durante uma boa parte da história humana. Abrangia aquelas atividades nas quais
as pessoas pensavam quando deixavam de trabalhar, mas não faziam parte da sua vida laboral.1
O Bumba meu boi do Maranhão recebeu o título de Patrimônio Cultural Brasileiro pelo
IPHAN em 2011 e no ano de 2019 o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Na
atualidade, é considerado como a principal expressão da cultura popular maranhense, sendo sua
imagem utilizada pelos órgãos de turismo como maneira de atrair turistas para as festas juninas. A
ideia de tradição, originalidade, autenticidade e exotismo das diferentes expressões do Bumba meu
boi é evidenciada por estes órgãos como o que tornaria o Maranhão peculiar ao restante do país.
Estas quatro características são exaltadas durante as festas de São João pelos arraiais da capital
maranhense, onde inúmeros grupos de Bumba meu boi se apresentam todas as noites, obedecendo a
um calendário organizado pelas secretarias de cultura municipal e estadual e sob o pagamento de um
cachê, recebido pelos grupos após o término da temporada junina. Entre esses espaços destinados
à apresentação dos grupos, destacam-se os que são organizados no interior do Centro Histórico, as
ruas e praças do local.
1
NEWBIGIN, John. A economia criativa: um guia introdutório. British Council, 2010. Pg. 13
Para saber mais sobre o Bumba meu boi, veja o vídeo produzido pelo IPHAN “Bumba
meu boi candidato a Patrimônio da Humanidade”. Disponível em: https://youtu.be/
hP8im981u4MA
Nos meses de junho, o Bumba meu boi se transforma em uma performance midiática
bastante utilizada pelos órgãos de turismo e ganha significativa relevância na Indústria do Entretenimento,
além de movimentar as comunidades ligadas à manifestação com a produção maciça de peças
artesanais a partir da produção das indumentárias. No processo de patrimonialização pelo IPHAN em
2011, o Bumba meu boi foi considerado como “Complexo Cultural” pela notoriedade e compreensão da
riqueza e da variedade nas formas de expressão que esta manifestação abarca, tais como artesanato,
música, dança, religiosidade, teatro, rituais e mitos. Entre esses elementos, interessa-nos o artesanato.
SAIBA MAIS
2
MARTINS, Carolina. Bumba meu boi e festas populares na ilha do Maranhão: entre negociação e conflito. Tese (Doutorado). Niterói:
Universidade Federal Fluminense, 2020.
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/ma/noticias/detalhes/5229/festival-de-bumba-meu-boi-no-maranhao-
homenageia-iphan-em-2019
A produção artesanal do Bumba meu boi envolve, geralmente, grupos e comunidades que
realizam as atividades em conjunto. Grande parte das peças de vestuário que são utilizadas no interior
dos grupos é feita de forma artesanal, como por exemplo, as roupas dos personagens dos vaqueiros,
índias, índios, cazumbás, caboclos de fita e o próprio boi-carcaça. São realizados trabalhos de costura
das indumentárias e também de bordado e montagem de peças, como por exemplo, os chapéus de fita
dos caboclos dos bois denominados de sotaque da baixada. Estes chapéus possuem uma estrutura de
ferro, além de partes costuradas, bordadas e com penas de ema. As peças são produzidas de maneira
separada e juntadas no final do processo. Abaixo, é possível visualizar algumas destas etapas, a partir
da produção do artesão Simião Reis, no barracão do Bumba meu boi de Pindaré.
As peças que exigem um processo mais elaborado são produzidas por artesãos mais
experientes que podem ser do próprio grupo de Bumba boi ou contactados para confeccionar
indumentárias sob encomenda. Outras atividades são feitas por pessoas da própria sede dos grupos,
como por exemplo, os bordados de peças menores, como chapéus e braceletes das indumentárias
dos índios e índias dos bois de sotaque da baixada. Peças maiores, como as batas dos cazumbás e o
couro do boi geralmente exigem a mão de obra de um artesão mais qualificado, dada a complexidade
da elaboração delas. Abaixo, algumas etapas da produção de uma bata de cazumbá produzida pela
artesã Joice Melo, do barracão do Bumba meu boi de Pindaré.
SAIBA MAIS
Para pesquisar mais sobre artesãos que se dedicam à atividade, acesse: https://
www.turismo.ma.gov.br/nosso-artesanato-projeto-mobiliza-artesaos-locais-
produzirem-em-epoca-crise/
A partir de todos esses aspectos ligados aos bumbas do Maranhão, podemos afirmar que
as atividades voltadas para a produção artesanal dos grupos são importantes por diversos fatores.
Entre eles, destacamos a inclusão de minorias socialmente marginalizadas e a geração de rendas para
as pessoas ligadas à manifestação. De acordo com o relatório da ONU:
3
ONU. Relatório da Economia Criativa, 2010. p. 38
RESUMO
REFERÊNCIAS
MARTINS, Carolina. Bumba meu boi e festas populares na ilha do Maranhão: entre negociação e
conflito. Tese (Doutorado). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2020.
SALVALAIO, Raquel Denise Salvalaio; ASHTON, Mary Sandra Guerra. O consumo de moda em
brechós no contexto da indústria criativa. Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales. Julio-
septiembre 2017.