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VISUAIS
NARRATIVAS
VISUAIS
|
SÃO PAULO 2020
EXPEDIENTE
Diretor-Presidente
Prof. Dr. Paulo Antonio Gomes Cardim
Diretora-Financeira
Profa. Maria Lúcia de Oliveira Gomes Cardim
Diretora-Administrativa
Priscila Gomes Cardim
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
Entidade Mantida
Reitor
Prof. Dr. Paulo Antonio Gomes Cardim
Assessora de Planejamento
Profa. Maria Lúcia de Oliveira Gomes Cardim
Diretora-Geral
Patrícia Gomes Cardim
Superintendente Acadêmica
Profa. Dra. Josiane Maria de Freitas Tonelotto
Pró-Reitoria Administrativa e de Qualidade
Prof. Dr. Francisco Carlos Tadeu Starke Rodrigues
Pró-Reitoria de Ensino
Prof. Dr. Marcelo de Andrade Romero
COORDENAÇÃO DE CURSOS
Superintendente Acadêmica
Profa. Dra. Josiane Maria de Freitas Tonelotto
Coordenadora
Profa. Dra. Leila Rabello de Oliveira
Analista Educacional
Hanna Carolina Brino
Juliana Bernardo Ferreira
Designer Instrucional
Claudio Villa
Revisores de Texto
Gabriel Kwak
Marina de Mello Fontanelli
Tutores
Grace Kelly Marcelino
Lucas Giesteira Camargo
Sandra Febbe Cazarejos
SUMÁRIO Clique nos tópicos para navegação
INTRODUÇÃO DA DISCIPLINA.......................................7
UNIDADE 1.............................................................................8
OBJETO SOCIAL, MÍDIAS E NARRATIVAS
UNIDADE 2...........................................................................54
A NARRATIVA MIDIÁTICA MASSIVA E
PÓS-MASSIVA: FORMATOS, PADRÕES,
GÊNEROS E CARACTERÍSTICAS
UNIDADE 3...........................................................................93
ESTRUTURA NARRATIVA: FUNDAMENTOS
UNIDADE 4.........................................................................122
NARRATIVAS APLICADAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................167
INTRODUÇÃO DA DISCIPLINA
Caro aluno,
Bem-vindo à disciplina Narrativas Visuais Digitais. Será um
prazer percorrer com você as primeiras abordagens e conceitos de
narrativa, aplicados à linguagens visuais.
Nosso caminho está dividido em quatro unidades assim defi-
nidas: (I) Objeto social, mídia e narrativas, (II) A narrativa midiática
massiva e pós-massiva, (III) Estrutura narrativa, fundamentos; e (IV)
Narrativas aplicadas.
Nosso percurso está pautado pela conceituação dos elemen-
tos-chave que definem e compõem uma narrativa. Desde a com-
preensão do que é um objeto social e seu poder de comunicação,
aos elementos estruturais – suas proposições narrativas, storylines,
sinopses e roteiros – até as aplicações finais, em produções midiá-
ticas, massiva e pós-massiva. Vamos conhecer diversos casos clássi-
cos, inovadores, provocadores, que ampliam o poder da narrativa,
junto a sua audiência. Entender o processo analítico, tanto quanto
o processo criativo e produtivo em suas fases diversas, pra estrutu-
rarmos uma narrativa visual. Vamos juntos neste percurso?
NARRATIVAS VISUAIS
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7
UNIDADE
1
OBJETO SOCIAL,
MÍDIAS E NARRATIVAS
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8
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE
APRENDIZAGEM DA UNIDADE
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NARRATIVAS VISUAIS 9
INTRODUÇÃO A UNIDADE
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo à primeira Unidade da disciplina de Narrati-
vas visuais digitais. Aqui, vamos conversar sobre o conceito fun-
damental de uma narrativa. Vamos atentar para seus significados
em relação à construção cultural e social da civilização humana,
a importância do “objeto social”. É a partir do objeto social que
você irá compreender a formação das redes sociais de interesse ou
afinidade, ou seja, como o objeto social mobiliza audiências ao seu
redor, e impulsiona a narrativa em um processo evolutivo.
Em seguida, vamos entender a relação entre o objeto social
da narrativa e as várias mídias que funcionam como suporte, que
materializam a narrativa em produtos midiáticos. Para isso, enten-
der as dimensões midiáticas possíveis a partir dos modos de co-
municação massivo e pós-massivo, é fundamental, uma vez que
a estrutura narrativa se conforma a partir da mídia em que está
registrada. E os regimes de comunicação pós-massivos, a partir das
redes sociais, da mobilidade conectada, sugerem cada vez mais no-
vas formas narrativas pela combinação transmídia possível.
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 10
SEÇÃO 1 – NARRATIVA: DE
SHAKESPEARE A FELIPE
NETO, O CONCEITO E SUA
EVOLUÇÃO.
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NARRATIVAS VISUAIS 11
encorpada e fortalecida por Huizinga (1938),
Jung (1945), Campbell (1949), e mais
recentemente, Vogler (1998).
Propp ao analisar os contos
de fadas, nota uma semelhança
grande, entre as ações dos perso-
nagens de contos diversos. Afirma
que “no estudo do conto, a ques-
tão de saber o que fazem as per-
sonagens é a única coisa que impor-
ta; quem faz e como faz, são questões
acessórias” (PROPP, 1928/1983, p.59). Vieira
(2001), ao analisar o trabalho de Propp com os contos de fada,
alinha quatro teses principais:
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NARRATIVAS VISUAIS 12
“Todas estas funções nem sempre existem quando tomado um
conto particular, mas a ordem em que surgem no desenrolar da
ação é sempre a mesma, (VIEIRA, 2001, p.600)”. Se levarmos em
conta sua sequência proposta, podemos divisar imediatamente, a
estrutura narrativa dos contos de fada infantis que permeiam a cul-
tura ocidental de forma geral:
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NARRATIVAS VISUAIS 13
XVI - O herói e seu agressor confrontam-se em combate.
XVII - O herói recebe uma marca.
XVIII - O agressor é vencido.
XIX - A malfeitoria inicial ou a falta são reparados.
XX - O herói volta.
XXI - O herói é perseguido.
XXII - O herói é socorrido.
XXIII - O herói chega incógnito à sua casa ou a outro país.
XXIV - Um falso herói faz valer pretensões falsas.
XXV - Propõe-se ao herói uma tarefa difícil.
XXVI - A tarefa é cumprida.
XXVII - O herói é reconhecido.
XXVIII - O falso herói ou o agressor, o mau é desmascarado.
XXIX - O herói recebe uma nova aparência.
XXX - O falso herói ou o agressor é punido.
XXXI - O herói casa-se e sobe ao trono.
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NARRATIVAS VISUAIS 14
de ação do mandatário, a esfera de ação do herói, a
esfera de ação do falso herói. As esferas de ação se
repartem entre as personagens do conto segundo três
possibilidades: A esfera de ação corresponde exata-
mente à personagem. Uma única personagem ocupa
várias esferas de ação. Uma só esfera de ação divide-se
entre várias personagens. (PROPP,1928/1983; p.144).
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NARRATIVAS VISUAIS 15
Propp ainda relaciona as outras partes constitutivas do conto,
como elementos de ligação: a motivação da personagem, as formas
de entrar em cena e os elementos acessórios atributivos. Para Pro-
pp, é de grande importância a abordagem funcional dos elementos
do conto. Isto porque, o fato de podermos trabalhar com funções
nos permitirá a construção de uma estrutura do conto. Assim, Pro-
pp será o primeiro a chamar a atenção para a forma estrutural do
enunciado narrativo, embora vinculada apenas ao conto, à partir
da cultura e do folclore. Mais adiante, em 1966, o francês Bremond
irá realizar uma profunda revisão dos trabalhos de Propp, propondo
como modelo para os enunciados narrativos, uma estrutura triádi-
ca. Sua proposta de esquema narrativo não mais se limitará ao con-
to folclórico, podendo ser expandida para as narrativas em geral. A
partir desse momento, falar-se-á de uma estrutura dos enunciados
narrativos.Ao revisar as reflexões de Bremond, Adam afirma que:
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NARRATIVAS VISUAIS 16
processo, a ajuda é recebida, então a melhora
será obtida e a degradação evitada. Por
outro lado, se o processo de ajuda fa-
lha ou não é iniciado, não haverá
melhora e a degradação não será
evitada. Adam (1985), ao revisitar
os trabalhos de Bremond (1966),
salienta que a maior parte das
narrativas repousam sobre a alter-
nância entre as fases de degradação
e melhora, de equilíbrio e de desequilí-
brio. Os trabalhos de Propp e Bremond nos
dão uma primeira visão do que poderíamos chamar de unidade
mínima da narrativa: a proposição narrativa. Adam (1985) define
proposição narrativa como uma combinação de uma ou mais fun-
ções com um ou mais atores.
Tomemos um exemplo do próprio Adam. A seguinte proposi-
ção narrativa: Margarida ameaçou seu marido com um rolo de
massa, implica uma série de predicados qualificativos que marcam
o estado de ser das personagens: - A2 É o marido de A1. - A2 É
um homem. - A1 É uma mulher brava. - A3 É um utensílio utilizado
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 17
Para Adam:
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NARRATIVAS VISUAIS 18
tivo, ao estudar uma grande quantidade de sonhos relatados por
seus pacientes. Jung reparou que a estrutura do sonho se asseme-
lha a estrutura aristotélica do drama. Ao que Jung classificou como
sonho médio, afirmou haver uma estrutura sequencial. Que se dá
a partir de uma situação inicial – ou exposição – indicando o lugar
da ação, as personagens e a situação inicial do drama. Em segui-
da está o desenvolvimento da ação – momento onde a situação
inicial se complica, estabelecendo uma tensão, porque não se sabe
o que vai acontecer. Então, o sonho encaminha-se para a terceira
fase, a Culminação ou Peripécia, na qual acontece alguma coisa
de decisivo, ou a situação muda completamente. A quarta e última
fase é a Lise, Solução ou Resultado. Aqui, o problema ou a falta,
apontada na dramatização onírica, resolve-se. No exemplo de Jung:
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NARRATIVAS VISUAIS 19
A partir dos estudos de Jung, Joseph Campbell escreve em
1949, O herói de mil faces, estruturando a jornada do Herói, a
partir de uma perspectiva junguiana, pela estrutura proposta por
Propp. Seu trabalho sobre a jornada do Herói, se torna ao longo
do século XX, uma referência estrutural de narrativas diversas, em-
pregadas em filmes, series de televisão, videogames, entre outros
produtos culturais que se utilizam da narrativa como formato de
interação e comunicação com a audiência.
Já em Thorndyke (1977), encontraremos uma organização
mais semelhante a de uma estrutura de macroproposições narrati-
vas. Segundo Thorndyke, os componentes requisitados por todas
as estórias são Setting, Tema, Intriga e Resolução. A gramática
de Thorndyke pode ser mais bem explicada na Figura 2 a seguir:
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 20
Concluindo, esta primeira parte de nosso
estudo, devemos salientar que os autores
empenhados em construir o conceito
de estrutura narrativa buscaram o
que poderíamos chamar de esque-
leto do enunciado narrativo. Eles
procuraram reduzir a narrativa a
sua forma mais simples e elemen-
tar, encontrando, assim, uma estru-
tura básica que revela a forma geral
dos enunciados narrativos. Se pudésse-
mos sintetizar os seus estudos, talvez che-
gássemos a dois princípios. Podemos formular que para haver uma
narrativa é preciso que haja 1) uma relação cronológica e lógica
entre os eventos e as ações dos atores; e, 2) que os eventos tenham
uma organização macroproposicional.
Na verdade, este segundo requisito é uma conseqüência do
primeiro, pois a estrutura macroproposicional da narrativa, tal como
vista pelos autores estudados, implica um ordenamento sequencial
dos eventos segundo uma lógica própria do enunciado narrativo.
De qualquer modo, desde a poética aristotélica, empenhada
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 21
Atenção
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NARRATIVAS VISUAIS 22
SEÇÃO 2 – OBJETO SOCIAL:
A IDEIA CENTRAL DA
NARRATIVA.
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NARRATIVAS VISUAIS 23
Aqui estão mais algumas reflexões do autor, sobre o assunto,
sem ordem específica:
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NARRATIVAS VISUAIS 24
9. Os produtos e as ideias que os geram se tornam virais
quando as pessoas podem compartilhá-los como pre-
sentes. Exemplo: convites do Gmail nos primeiros dias;
10. O objeto social pode ser abstrato, digital, molecular etc;
11. O interessante do Objeto Social não é o objeto em si,
mas as conversas que acontecem ao seu redor;
12. Depois que falamos sobre marketing, fica difícil passar
mais de três minutos sem empregar a expressão “Obje-
to Social”;
14. A palavra mais importante na internet não é “Pesqui-
sar”. A palavra mais importante na internet é “Compar-
tilhar”. Compartilhar é o driver. Compartilhar é o DNA.
Usamos Objetos Sociais para nos compartilhar com ou-
tras pessoas. Nós somos primatas. Nós gostamos de nos
arrumar. Está na nossa natureza.
“valerem a pena”.
2. Crie/encontre um propósito: As pessoas frequente-
mente confundem propósito com significado, mas o
propósito está relacionado ao motivo pelo qual você
acorda de manhã e faz o que faz.
3. Criar jogo: humanos gostam de brincar; é a maneira como
começamos a negociar o mundo, por isso, dê às pessoas
um motivo para querer interagir com seu produto.
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NARRATIVAS VISUAIS 25
4. Crie um novo idioma: se você quiser desenvolver sua
narrativa, precisará evoluir no marketing. Você tem que
conversar com as pessoas de uma maneira com as quais
nunca foram conversadas antes.
5. Crie capacidade de compartilhamento: não facilite o
compartilhamento do seu produto pelas pessoas; facili-
te para que eles compartilhem.
6. Empurre os limites do design: o design importa! Tem
a capacidade de diferenciar sua narrativa.
7. Facilite a comunidade: Transforme sua narrativa em
um tema pelo qual as pessoas se reúnam, e não as pes-
soas que elas compram.
8. Crie um novo contexto: permita que as pessoas vejam
sua narrativa sob uma nova luz.
9. Habilite o “Meatspace”: reúna as pessoas para facili-
tar as discussões sobre sua narrativa.
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NARRATIVAS VISUAIS 26
turam a narrativa. A proposição narrativa já considera o contexto
midiático e o suporte cultural onde a audiência irá consumir a nar-
rativa em sua forma final. Uma narrativa antes de sua forma final
como obra – seja livro, revista, jornal, programa de radio ou televi-
são, filme, animação, videogame – não existe para sua audiência.
E por isso, compreender o contexto midiático da narrativa auxilia
a fortalecer seus elementos possíveis de contato com a audiência.
Multimídia
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NARRATIVAS VISUAIS 27
Curiosidade
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NARRATIVAS VISUAIS 28
SEÇÃO 3 – O CONTEXTO
MIDIÁTICO DA NARRATIVA
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NARRATIVAS VISUAIS 29
dos conquistadores, embora se reconheça que foi feito na Inglater-
ra. Segundo Sylvette Lemagnen, conservadora da tapeçaria, em seu
livro de 2005, La Tapisserie de Bayeux:
Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/Bayeux_Tapestry#/media/File:Bayeux_Tapestry_replica_in_Rea-
ding_Museum.jpg
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NARRATIVAS VISUAIS 30
Pode ser visto como um raro exemplo de arte românica secu-
lar. Tapeçarias adornavam igrejas e casas ricas da Europa Ocidental
Medieval, embora a 0,5 por 68,38 metros a Tapeçaria de Bayeux
seja excepcionalmente grande. Somente as figuras e a decoração
são bordadas, sobre um fundo deixado liso, que mostra o assunto
com muita clareza e que era necessário para cobrir grandes áreas.
Embora tenhamos registros históricos na Roma antiga, entre
o séc. VIII a.C. e o séc, V b.C. da publicação de notícias do governo
– Acta Diurna – esculpidas em pedra e metal, expostas em praça
pública para o conhecimento de todos, a condição midiática era
artesanal, com cópias feitas à mão. A partir dos suportes midiáticos
disponíveis a cada tempo histórico, a oralidade se transforma por
formas mais perenes – e midiáticas – de transmissão narrativa. No
século XV, Johannes Gutemberg desenvolve a tecnologia da prensa
de tipos móveis e realiza a primeira impressão mecânica, que per-
mitiu a produção em massa de livros impressos. Como afirma o jor-
nalista Heming Nelson, em matéria no Washington Post: “Nos 50
anos após o início da impressão de Gutenberg, cerca de 500.000
livros estavam em circulação, impressos em cerca de 1.000 impres-
soras em todo o continente. (NELSON, 1998)”
A invenção de Gutenberg foi um
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 31
objeto social, uma relevância além de seu tempo. Se pegarmos os
famosos contos de fada que povoaram as culturas ocidentais, po-
demos recorrer à memória oral para associar as personagens de
Chapeuzinho Vermelho e o Lobo mau, por exemplo. São narrativas
oralizadas, tanto quanto midiatizadas, a partir dos suportes existen-
tes em cada época. Do livro impresso, à versões ilustradas, digitais
e interativas, essa estória é reproduzida, re-estilizada, retrabalhada
ao longo dos séculos e perenizada na versão corrente em forma
oral, enquanto materializadas nas formas midiáticas existentes.
Curiosidade
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NARRATIVAS VISUAIS 32
gentis são de todas as criaturas como as mais perigo-
sas! (PERRAULT)
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg#/media/File:Printer_in_
1568-ce.png
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NARRATIVAS VISUAIS 33
A tecnologia de Gutenberg se populariza, e em 1609, na
cidade de Estrasburgo, se verifica o surgimento do jornal, tal
como o conhecemos: um períodico impresso em preto-e-branco,
de publicação regular e constante, com noticias e informações
para os habitantes da cidade ou região. Que, em menos de 40
anos, se estabelece como padrão midiático, por toda a Europa.
Ao todo, são mais de quatro séculos de existência, onde a mídia
jornal, inclusive, foi a primeira mídia de massa a abrir espaço para
as formas de narrativa visual, a partir da evolucão das técnicas
de impressão. Podemos de fato, afirmar que é através da mídia
impressa jornal, que a linguagem visual se assume como forma
narrativa midiática.
Já no final do século XIX, por volta de 1890, surgem as pri-
meiras impressões de cartoons – ou as primeiras evidências de nar-
rativas visuais na mídia jornal. Em 1894, mais precisamente em 2 de
junho, é publicado na revista de humor Truth – destinada a adultos
– um cartoon intitulado “Feudal Pride in Hogan’s Alley” retratando
o cotidiano das ruas onde os irlandeses residiam, em Nova York no
final do século XIX. Foi a primeira aparição da personagem Yellow
Kid, que seria em poucos anos a primeira estrela de cartoon na his-
tória da mídia impressa. A seguir, a reprodução do primeiro cartoon
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
de Yellow Kid:
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NARRATIVAS VISUAIS 34
Fonte: http://www.neponset.com/yellowkid/history.htm Acesso em 04/07/2020.
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NARRATIVAS VISUAIS 35
De forma que desde
o início do século XX, o
cartoon era impresso, co-
lorido e ganhava destaque
como forma de aumentar
a venda dos jornais – du-
rante a semana, cada per-
sonagem, tinha uma tira
em preto e branco e, aos
domingos, uma página
inteira colorida, com uma
única cena. A tira de qua-
drinhos que iria mudar a
posição dos quadrinhos na
indústria midiática, pelo
formato narrativo, estreou
em 24 de novembro de
1918, com o título Gasoli-
ne Alley. A partir de 2019, Gasoline Alley se torna a tira de quadri-
nhos atual de maior duração nos Estados Unidos.
O Gasoline Alley recebeu elogios críticos por suas inovações
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Gasoline_Alley#/media/File:Gasolinealley31233.jpg
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NARRATIVAS VISUAIS 36
A forma narrativa contínua, de personagens fixos, em uma
sequência de aventuras, logo se tornou padrão narrativo do gê-
nero que viria a ganhar vida própria: a história em quadrinhos. No
momento seguinte, estes personagens passam a ganhar corpo e
espaço midiático. Primeiro nos jornais, com as primeiras persona-
gens criadas para as crianças. Algumas décadas adiante no século
XX, entre 1930 e 1940, as primeiras estórias em quadrinhos forma-
tadas como “comics”: Spirit, por Will Eisner, e Superman, por Jerry
Siegel e Joe Shuster, entre elas – começam a ser publicadas não
mais como tiras, mas como suplementos infantis, até ganharem,
em seguida, a forma final das revistas de história em quadrinhos:
pequenos formatos, recheados de páginas ilustradas – coloridas ou
preto-e-branco – com narrativas inéditas, envolvendo as mesmas
personagens em enredos diferentes.
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/American_comic_book#/media/File:Action_Comics_1.jpg
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NARRATIVAS VISUAIS 37
O século XX nasce em plena modernidade e o rádio se torna a
mídia mais influente e unificadora, ao realizar o que o jornal jamais
conseguirá: transmitir ao vivo, em simultâneo, para todo o país, e
muitas vezes, além mar, para outros continentes. O que inaugura
novos gêneros narrativos, a partir da voz e da locução, dos efei-
tos sonoros, que conduzem a audiência em estórias fantásticas na
forma de novelas patrocinadas por produtos e marcas da época.
Junto a estórias espetaculares e acompanhadas diariamente pela
audiência, as notícias no radio ganham o valor da velocidade: são
comunicadas no ato do evento e ao mesmo tempo, aumentam a
venda dos jornais frente à audiência desejosa por mais detalhes dos
eventos. A musica, da mesma forma, ganhou forte impulso de con-
sumo a partir do radio, e da indústria fonográfica, que começou
praticamente com o radio, a comercializar discos de vinil, e ampliar
as possibilidades de consumo cultural da audiência. O rádio se tor-
na de tal forma a mídia principal da sociedade moderna, que em
1954, o cineasta e radialista Orson Wells resolve noticiar a invasão
da terra por alienígenas, em gênero jornalístico, causando pânico e
pavor nos Estados Unidos. Orson Wells demonstrou a força mobili-
zadora da mídia com essa ficção, mas até que tudo
se esclarecesse e as pessoas se acalmassem,
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 38
nascimento dos primeiros canais de transmissão, quanto dos pri-
meiros aparelhos televisores, grandes móveis de madeira, com mui-
tas válvulas dentro, gerando imagens ainda falhas, mas mágicas:
eram imagens ao vivo, acontecendo em um lugar e ao mesmo tem-
po, sendo vistas por todos os outros lugares possíveis de audiência.
As estruturas narrativas empregadas pela televisão reconfigu-
ram alguns formatos específicos já vigentes no rádio e na mídia im-
pressa, como a novela, o seriado semanal, o jornalismo de estúdio,
a cobertura ao vivo no local, o programa de humor e os conteúdos
para a audiência infantil. Estes se tornam rapidamente padrões mi-
diáticos de grande audiência e sucesso comercial, tanto para os
anunciantes, que desejavam acessar audiência nacional, quanto
para a audiência, que passa a ter um motivo de união familiar em
torno do aparelho televisor, para acompanhar semanalmente seus
programas preferidos.
Perceba que a cada nova mídia que surge ao longo do século
XX as formas narrativas existentes se reconfiguram, adaptando-se
a uma nova realidade de audiência e de formatos midiáticos de
acesso. No entanto, uma das inovações do século XX, que revo-
lucionou a indústria cultural e midiática, foi o
desenvolvimento de formas novas de ar-
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 39
diência por sobre o conteúdo midiático revolucionou as formas de
consumo, fazendo com que o aluguel de filmes, seriados, progra-
mas de video ou televisão se tornasse uma das áreas mais lucrativas
da indústria cultural.
Henry Jenkins em seu livro Cultura da Convergência coloca
em perspectiva as formas narrativas, a partir da sobreposição cul-
tural midiática, de massa e digital. O que consequentemente am-
plia as possibilidades narrativas e a existência de novos produtos
culturais, a partir de novas formas narrativas. Nessa convergência
por entre a cultura de massas, a cultura midiática e a cultura digi-
tal, está justaposta a tecnologia, empregada de formas diversas na
comunicação.
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 40
lidade de jogo, os videogames se desen-
volveram rapidamente, em paralelo
às tecnologias digitais de produção,
exibição e interação de conteúdos
midiáticos. E na segunda década
do século XXI, a indústria do vi-
deogame se torna tão importante
quando a indústria do cinema, en-
tre outras formas de entretenimento.
Neste contexto midiático, a estru-
tura narrativa se reconfigura desde a orali-
dade histórica que a deu origem e voz, até a sofisticação digital de
narrativas virtuais em realidades ampliadas, ou videogames imersi-
vos. Toda forma narrativa se estrutura a partir das mídias emprega-
das em sua materialização.
Peguemos o exemplo de Chapeuzinho Vermelho. De tradição
oral, se torna um clássico desde o século XVII, com seu final trágico
e moral, ate a versão corrente, desde os irmãos Grimm, no século
XIX, onde Chapeuzinho e sua avó são resgatadas pelo cacador, que
extermina o lobo. Perceba que o sentido da estória se torna outro,
mais ameno, menos severo, embora a moral ainda permaneça: não
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
fale com estranhos, não saia do seu caminho original. Pois bem, das
versão escritas em livros-texto, do século XVII e XIX, Chapeuzinho
Vermelho ganhou edições totalmente ilustradas, versões em dese-
nhos animados e animações, versões cinematográficas, versões em
quadrinhos e, por fim, versões digitais, interativas, onde elementos
multimídia passam a figurar na construção narraativa.
Para finalizar, considere que a condição narrativa depende di-
retamente do contexto midiático do momento, na medida em que
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NARRATIVAS VISUAIS 41
é através do suporte midiático que a narrativa é tanto produzida,
quanto acessada pela sua audiência. Nesse sentido, é importante
compreender que, a partir do momento em que a mídia se torna
digital, isto é, toda sua gama de conteúdos – foto, filme, video, ilus-
tração, texto, música, game – se reduz a unidade digital minima do
bit, de forma a ser transportado rapidamente através da internet, e
acessado em dispositivos variados e diversos. Como o videogame,
a smartTV, o smartphone, o computador, o tablet, entre outros dis-
positivos. Na seção seguinte, vamos explorar os conceitos de mídia
massiva e mídia pós-massiva.
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 42
SEÇÃO 4 – A MÍDIA MASSIVA E A
MÍDIA PÓS-MASSIVA
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NARRATIVAS VISUAIS 43
ção e de visualização de seus conteúdos
obedecem condições restritas.
Se considerarmos a internet
como a base das mídias digitais
pós-massivas, podemos com-
preender o fato de que por não
ser massiva, a mídia digital pode
ser tanto produzida quanto con-
sumida por sua audiência de forma
mais independente e livre, individuali-
zada. De forma que podemos ver um canal
do Youtube por exemplo, no momento em que desejarmos, sem
que tenhamos que esperar um horário específico para isso. Outra
característica importante da mídia pós-massiva e digital, é que seu
conteúdo pode ser facilmente copiado, editado e transformado em
outro conteúdo e ser novamente compartilhado pela audiência,
que passa a ter um protagonismo maior sobre o que consome em
termos de narrativa, passando a produzir suas próprias narrativas
digitais a partir de seus smartphones conectados.
Então, a condição de ser uma mídia
massiva ou pós-massiva, implica que a
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 44
mesma que produz as narrativas. Uma condição exclusiva pós-mas-
siva, uma vez que estando conectado à internet, se têm controle
sobre o que se pode consumir, tanto quanto se produzir em termos
de conteúdos e formas narrativas.
No momento em que vivemos, temos atualmente as mídias
massivas e pós-massivas convivendo juntas, em uma sociedade
estruturada a partir da comunicação massiva e pós-massiva como
norteadores sociais e culturais, onde a narrativa – pessoal, do-
cumental, ficção ou realidade – se torna a forma pela qual a so-
ciedade se informa, se influencia e se transforma. Carlos Scolari,
pesquisador espanhol, estabeceu a diferença entre os meios de
comunicação de massa e os pós-massivos, que denominou de co-
municação digital interativa. Como podemos observar no qua-
dro seguinte, em que compara os meios massivos e pós-massivos,
Scolari pontua a tecnologia empregada analógica versus a digital,
as formas de difusão – de um a muitos no massivo ao “muitos a
muitos” no pós-massivo digital, a sequência versus o hipertexto,
a mídia única versus a múltimídia, e por fim, a passividade da au-
diência versus sua interatividade.
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 45
Quadro Comparativo entre os modos de comunicação
massiva e pós-massiva
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NARRATIVAS VISUAIS 46
tiva as características midiáticas do audiovisual e do texto, com as
características interativas de acesso, navegação e interação.
Adicione a essaconectividade digital, a mobilidade e você
poderá consumir e produzir suas narrativas a partir de seu smar-
tphone, onde quer que esteja. Propondo interação e competivi-
dade à sua narrativa, ela se transforma digitalmente em video de
stories ou TikTok, tanto quanto em videogame. E oferece a sua
audiência desde a experiência de jogar sozinho, até fazer parte de
um exército de milhares de soldados em batalhas épicas, recria-
das em ambiências digitais. Nas mídias pós-massivas a linguagem
visual é mandatória, pois opera tanto o dispositivo conectado –
tablet, computador, smartphone em processo de navegação e uso
– quanto o conteúdo narrativo visualizado.
As redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, Snap-
chat, entre outras, popularizaram o conceito de criador e consu-
midor de narrativas na mesma pessoa. Gisela Castro denomina-os
como prossumidores, uma mistura entre produtor e consumidor,
entre a audiência e o criador. O stories, por exemplo, é um formato
de publicação da rede social Instagram que permite que a pessoa
possa publicar uma fotografia, uma animação,
um video com música, rapidamente em seu
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 47
Da mesma forma, o formato de video se popularizou em re-
des como Youtube, onde qualquer pessoa com uma conexão a in-
ternet, pode ter seu próprio canal de vídeos, sem custo financeiro
algum associado.
Assim, é a partir da Revolução Industrial do final do século
XIX – tempo em que também nascem a fotografia, o cinema e a
indústria gráfica moderna – que o suporte midiático inaugurou a
indústria do consumo cultural de entretenimento. E que, com a
tecnologia digital, evoluiu em formas massivas e pós-massivas.
UNIDADE 1 – Objeto Social, Mídias e Narrativas
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NARRATIVAS VISUAIS 48
SEÇÃO 5 – A NARRATIVA
MULTIMÍDIA E A NARRATIVA
TRANSMIDIÁTICA
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NARRATIVAS VISUAIS 49
que dividem um voo comercial. O avião sofre uma queda em uma
ilha, e a partir daí, a trama se inicia, com todos os sobreviventes
desconfiando uns dos outros enquanto sobrevivem dentro da ilha.
Pois bem, na versão de internet, LOST é um website onde a audiên-
cia pode reservar sua passagem aérea, junto com os personagens
do seriado, ou ainda, visitar a página de internet de personagens
da série, e interagir com elas, como se estivessem de fato vivas.
Lost se desenvolve também em outras formas midiáticas, como vi-
deogame, e ainda, como história em quadrinhos. Em cada mídia
um aspecto da narrativa, a visão de um personagem, ou a com-
plementaridade da estória do personagem, ativado no seriado por
exemplo, e reavivado pela página de internet.
Vamos encerrar aqui nossa primeira uni-
dade sobre narrativas visuais digitais, e
vamos prosseguir na próxima unidade,
abordando as formas e estruturas nar-
rativas vigentes.
Multimídia
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NARRATIVAS VISUAIS 50
digitalmente. Havia também a engenhoca de sons, onde apertando
os botões, eram emitidos efeitos sonoros, como aplausos, miados de
gato, e outros efeitos, para tornar a leitura da estória mais interes-
sante. Com o aplicativo Leia para uma criança, o Banco Itaú trouxe
para a literatura infantil, toda a riqueza multimídia de efeitos visuais
e sonoros, além de propiciar aos adultos modificar a estória como
desejarem, quantas vezes quiserem. Vamos voltar a esse exemplo,
quando estivermos estudando a estrutura narrativa interativa.
RECAPITULANDO
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NARRATIVAS VISUAIS 51
QUIZ
formação.
III. é preciso não somente que um mesmo ator as unifique
atravessando-as, mas também que haja uma transfor-
mação.
IV. é preciso não somente que um mesmo ator as unifique
revelando-as, mas também que haja uma transformação.
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NARRATIVAS VISUAIS 52
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I.
b) II.
c) III.
d) IV.
e) Nenhuma alternativa está correta.
Gabarito: C
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NARRATIVAS VISUAIS 53
UNIDADE
2
A NARRATIVA MIDIÁTICA
MASSIVA E
PÓS-MASSIVA: FORMATOS,
PADRÕES, GÊNEROS E
CARACTERÍSTICAS
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54
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE
APRENDIZAGEM DA UNIDADE
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NARRATIVAS VISUAIS 55
INTRODUÇÃO A UNIDADE
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo à segunda Unidade da disciplina de Narrativas
Visuais Digitais. Aqui, vamos operar a partir dos conceitos de mí-
dias massiva e pós-massiva, para elucidarmos as principais formas,
padrões, gêneros e recursos empregados pela mídia ao redor da
narrativa. Identificar e relacionar estas formas e padrões é funda-
mental para você poder estabelecer a relação ideal entre as formas
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 56
SEÇÃO 1 – STORYLINE; A LINHA CONDUTORA
NARRATIVA
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NARRATIVAS VISUAIS 57
desejarmos. Diferente por exemplo, das
mídias massivas como jornal, revista
e televisão, onde a programação e
a pauta definem o que e quando
se consome o conteúdo. Além das
formas de consumo desse con-
teúdo – ler, assistir, ouvir. A Liber-
dade e a autonomia da audiência
em relação ao conteúdo digital, faz
das mídias pós-massivas a possibilida-
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 58
De todo o modo, a forma midiática pós-massiva digital da
internet permite que qualquer pessoa conectada possa consumir
a narrativa que deseja, desde que disponível, ao mesmo tempo
em que pode produzir e disponibilizar a narrativa que desejar, para
acesso público ou privado.
O que nos leva a formas narrativas possíveis, a partir das reali-
dades midiáticas massiva e pós-massiva, referenciando a linha con-
dutora da estória, seu encadeamento de eventos e ações, que a
compõe. Nesse sentido, a linha condutora da narrativa – no termo
original Storyline – assume diversos formatos, norteando toda a
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 59
da, o conto infantil Chapeuzinho Vermelho e à direita, a biografia
do cantor Tim Maia, escrita pelo jornalista Nelson Motta. Nos dois
exemplos, a linha condutora narrativa é linear, e obedece uma se-
quência linear e cronológica de eventos.
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fontes: https://www.extra.com.br/livros/literaturainfantojuvenil/juvenil/livro-chapeuzinho-verme-
lho-conto-ilustrado-1500173652.html
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NARRATIVAS VISUAIS 60
eventos específicos a partir do perfil dos personagens. Mas sem
que haja necessidade de sequência entre os episódios para a com-
preensão da narrativa pela audiência. De forma que cada episódio
apresenta uma linha condutora narrativa circular, na qual ocorrem
os eventos específicos deste episódio.
O seriado Jornada nas Estre-
las, por exemplo, narra a cada epi-
sódio, um novo planeta visitado,
com novos desafios e surpresas. To-
das encerradas durante o episódio,
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
quando termina com a nave Enterprise partindo para mais uma jor-
nada. O seriado policial CSI – Crime Scene Investigation – se passa
na cidade de Las Vegas, e, a cada episódio, retrata o processo da
unidade de investigação de assassinatos e cenas de crime, em bus-
ca da verdade relacionada ao assassinato investigado. O episódio
começa com o evento de um assassinato, e termina com todos na
delegacia, comemorando o êxito da investigação.
A linha condutora circular, da mesma forma, é bastante em-
pregada para desenhos animados, uma vez que as animações apre-
sentam a mesma estrutura narrativa possível, envolvendo persona-
gens, situações e contextos, nos quais ocorrem os eventos e ações
isolados daquele episódio. Por exemplo, a série Simpsons, da Fox
Television, é um seriado em animação, sobre uma família america-
na média, disfuncional, onde, a cada episódio, acontecem eventos
específicos, mas que não se relacionam com os outros episódios.
O modelo de seriado televisivo – SITCOM, no termo america-
no – se ampliou como uma das formas midiáticas de maior sucesso
de narrativas visuais. Séries que retratam por anos uma sequência
narrativa circular, em que as personagens não envelhecem, não al-
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NARRATIVAS VISUAIS 61
teram seus modos de vida, apenas seguem seu curso dentro da nar-
rativa circular. Friends, por exemplo, seriado americano da Warner
Brothers, oferece uma linha condutiva circular, na qual jovens, mo-
radores do mesmo prédio, em dois apartamentos, vivem situações
cotidianas, em torno dos apartamentos e do café que frequentam,
na cidade de Nova Iorque. Você pode escolher qualquer temporada
e episódio, e poderá desfrutar da narrativa da série, uma vez que
um episódio não apresenta uma sequência dependente de outros
episódios, mas pode ser compreendido na sua unidade.
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/The_Simpsons_episode_guides#/media/File:The_Simpsons_A_
Complete_Guide_to_Our_Favorite_Family_cover.jpg Acesso em: 05/07/2020.
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NARRATIVAS VISUAIS 62
1989, e que, em 2019, completou 30 anos seguidos em produção
constante de novos episódios. Uma narrativa que alcança sucesso
em um formato midiático, muitas vezes é a base de outro produto
cultural, em outro formato midiático. Os Simpsons, em 2007, se
tornaram um longa-metragem de animação, exibido nos cinemas,
em uma condução narrativa linear, de começo, meio e fim. Tudo
indica que o seriado chegará a mais de 700 episódios.
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NARRATIVAS VISUAIS 63
que as narrativas originais costumam surgir em uma determinada
mídia, como o cinema, por exemplo, e as sequências ampliam a
franquia da marca da narrativa e personagens, tanto em novos fil-
mes para cinema, quanto para outros formatos, como os filmes de
animação, ou estórias lineares, derivadas da sequencial.
Segundo Covaleski (2015), a saga é “a forma de serialidade
que celebra a passagem do tempo em sua estrutura narrativa. É
quando a questão temporal interage diretamente na condução do
rumo dos personagens e eventos dentro da obra” (2015, p.35-36).
No caso de Guerra nas Estrelas – Star Wars no original – a saga se
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Curiosidade
A adição do Episódio IV
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NARRATIVAS VISUAIS 64
LINHA CONDUTORA ÚNICA
Fonte: https://www.adsoftheworld.com/media/digital/united_nations_world_stay_home?
className=collection-lb&contentid=387464&inline=true#collection-lb-content
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NARRATIVAS VISUAIS 65
Uma das propriedades mais interessantes da narrativa produ-
zida para a mídia digital pós-massiva, é o fato de que a audiência
pode interagir com o produto midiático da narrativa, e se tornar
um coautor da forma final narrativa. Veja este caso, produzido pra
as redes sociais, em Singapura, utilizando o fato do Dia das Mães,
para estimular o isolamento social. Na imagem a seguir, os dois
momentos da narrativa colaborativa:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://www.adsoftheworld.com/media/digital/vmlyr_mumecards
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NARRATIVAS VISUAIS 66
Cada uma das linhas condutoras narrativas – Linear, Circular,
Sequencial e Única – pode ser aplicada a diversas formas midiáticas
massivas e pós-massivas, respeitando as limitações e possibilidades
da experiência oferecida à audiência. A linha condutora narrativa
– ou storyline – é uma parte fundamental do processo de criação e
producão de narrativas visuais digitais, pois auxilia no dimensiona-
mento do projeto criativo; definindo sua duração em tempo – no
caso de mídias eletrônica e digital – bem como os recursos narrati-
vos empregados – imagens, audio, video, ilustração, fotografias etc
– a fim de que os próximos passos no processo produtivo possam
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Atenção
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NARRATIVAS VISUAIS 67
SEÇÃO 2 – ABERTA, FECHADA
OU INTERATIVA: FORMAS DE
INTERAÇÃO NARRATIVA
NARRATIVA ABERTA
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NARRATIVAS VISUAIS 68
ações e eventos mapeadas e estruturadas, de forma que a audiên-
cia possa se decidir a cada ação, por qual direção seguir.
NARRATIVA FECHADA
NARRATIVA INTERATIVA
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NARRATIVAS VISUAIS 69
se dão os eventos, à medida que
a estória se vai desenrolando. Di-
versos vídeos, videogames e até li-
vros se utilizam da forma narrativa
interativa, que depende essencial-
mente da participação da audiên-
cia a cada nova ação ou evento,
envolvendo as personagens. Na
mídia pós-massiva digital das re-
des sociais, a narrativa interativa
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 70
Se desejar conhecer o videocase, com os detalhes, basta clicar
na imagem abaixo:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 71
A narrativa FECHADA, se aplica a
uma maior variedade de mídias – mas-
sivas e pós-massivas – a partir do
momento em que sua linha condu-
tora está totalmente estabelecida
pela obra narrativa original. Livro,
conto, romance, série de televisão,
novela, documentário, jornalismo,
normalmente apresentam uma es-
trutura fechada, onde em muitos dos
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 72
uma narrativa, independente de seus motivadores, pode sempre
se adaptar em formato, estrutura, gênero e sentido narrativo, a
partir de sua finalidade previamente definida.
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 73
SEÇÃO 3 – QUAIS AS
FINALIDADES DA
NARRATIVA?
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NARRATIVAS VISUAIS 74
de segurança do passageiro das Linhas Aéreas Gol, para os aviões
BOEING-737-800:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: http://aircollection.org/part/GLO/B737-800_1/
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NARRATIVAS VISUAIS 75
NARRATIVAS PARA DIVERSÃO:
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Black_Mirror#/media/Ficheiro:Blackmirrorlogo.jpg
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NARRATIVAS VISUAIS 76
sabendo que se trata do futuro próximo na sociedade contemporâ-
nea. A cada episódio, novas personagens se apresentam, desenvol-
vem os eventos e ações no episódio, e não retornam mais à série,
conferindo a linearidade – começo, meio e fim – ao mesmo tempo
que há a autonomia entre os episódios.
Fonte: https://www.fudgeanimation.com/projects/babylon-health/
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NARRATIVAS VISUAIS 77
Agora que você já sabe as finalidades da narrativa – Aprendi-
zado, Diversão e Persuasão – sabe que a constituição da narrativa
pode ser Aberta, Fechada ou Interativa e conhece os principais for-
matos de storyline – Linear, Circular, Sequencial e Único – podemos
observar as principais combinações possíveis e existentes, e percor-
rer alguns casos emblemáticos, que unem essas categorizações da
narrativa em produtos culturais de grande qualidade, visibilidade e
audiência.
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 78
SEÇÃO 4 – A NARRATIVA NA
PRÁTICA: CASOS REAIS
INESQUECÍVEIS
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NARRATIVAS VISUAIS 79
uma das memórias mais profundas do século XX: a situação do Ho-
locausto, a opressão do nazismo e a importância de ter a memória
avivada para que não isso ocorra novamente. Mati e Maya, então,
pesquisaram mais de 30 diários de adolescentes mortos em cam-
pos de concentração, até encontrarem o diário de Eva Heyman, uma
adolescente judia que vive com os avós na cidade de Nagyvarad,
renomeada posteriormente como Oradea, na Romênia, até o local
ser invadido por nazistas. A cidade tinha 100 mil moradores, metade
deles judeus. Eva começou a escrever um diário quando completou
13 anos, onde registava que sonhava se tornar uma repórter foto-
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://juvenil.net/index.php/viver/1013-eva-stories-a-vida-de-uma-jovem-no-holocausto-a-
traves-de-stories
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NARRATIVAS VISUAIS 80
Cerca de 70 vídeos curtos compõem o projeto. Os vídeos fo-
ram filmados na Ucrânia e envolveram o trabalho de uma equipe
formada por 400 pessoas. No total, a produção custou cerca de
cinco milhões de dólares. O perfil de Eva – Eva stories – já passa de
um milhão de seguidores, e de fato, ativou a memória histórica dos
jovens de forma envolvente, ao trazer a narrativa de uma menina
judia, morta nos campos de concentração nazistas, para uma lin-
guagem multimídia, registrada em vídeos que simulam a realidade
da década de 40, com o surgimento do nazismo. Se você quer co-
nhecer, basta acessar seu perfil no Instagram em seu perfil pelo link:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
https://www.instagram.com/eva.stories/?utm_source=ig_embed
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NARRATIVAS VISUAIS 81
simulavam sua presença diária na Tailândia pelas cinco semanas do
projeto. Nas duas imagens a seguir, uma referência do trabalho de
edição feito por Zilla, para sustentar a viagem fictícia:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://byzilla.com/photoshop/fakecation/
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NARRATIVAS VISUAIS 82
Ao final da jornada, Zilla reúne sua família em uma videocha-
mada e conta a verdade a todos, gravando as cenas de compreen-
são, raiva, decepção, que seus familiares externaram, ao saber da
verdade.
Zilla é, desde então, uma designer gráfica que trabalha com
edição e pós-produção fotográfica, pois é especialista em manipu-
lação de imagens, além de fazer com que a reflexão acerca da rea-
lidade das narrativas individuais esteja presente nas redes sociais.
A brincadeira narrativa além de render a Zilla nota suficiente
para se formar, tornou-a conhecida mundialmente, pois sua estória
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 83
português, “não disponível na Appstore”. A frase foi impressa em
quatro tamanhos de adesivo e foi distribuída a quem quisesse com-
prar um kit de adesivos enviados pelo correio ou imprimir seus pró-
prios adesivos, a partir de uma arte A4, disponível para download,
conforme a figura a seguir:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://www.hicaio.com/notonappstore
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NARRATIVAS VISUAIS 84
Nas imagens a seguir, algumas das contribuições recebidas:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://notonappstore.tumblr.com/
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NARRATIVAS VISUAIS 85
Fonte: https://www.hicaio.com/notonappstore
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NARRATIVAS VISUAIS 86
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://www.huffpostbrasil.com/2015/10/22/primeiroassedio-mulheres-compartilham-no-t-
witter-primeira-vez_n_8356762.html?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004&fbclid=IwAR2kH8dfj7DKFH-
-otKYWsFib1jVhAn_9WpjtAY8yHg7YBrwSEyZQy5-kJbo
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NARRATIVAS VISUAIS 87
uma narrativa cujo objeto social, – assédio sexual – está em grande
foco já há alguns anos. A circunstância machista dos comentários
realizados em relação à criança no programa de reality culinário foi
o disparador para a ONG Think Olga convocar as mulheres a fala-
rem. E deu muito certo o resultado, com um nível de envolvimento
muito maior do que o esperado, fazendo com que o tema do assé-
dio fosse então discutido pelas mídias, de forma extensiva.
Ainda, podemos perceber que as narrativas abertas, quando
acionadas através de mídias pós-massivas, têm um poder de al-
cance na audiência bastante alto, estimulando a participação, ao
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
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NARRATIVAS VISUAIS 88
SEÇÃO 5 – A NARRATIVA ALÉM
DO FORMATO: CASOS
DISRUPTIVOS
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NARRATIVAS VISUAIS 89
a narrativa imaginada para os automóveis e a personagem do mo-
torista.. Era a primeira vez que diretores dessa qualidade eram cha-
mados com orçamento cinematográfico, para conceber um projeto
voltado para internet, com mais riscos envolvidos do que certezas
de audiência. Para se ter uma ideia, o download de cada um desses
filmes demorava de 3 a 5 horas em conexão discada – com uma
previsão de 5 milhões de downloads mundiais, a ação toda teve
12 milhões de downloads mundiais em quatro meses e se tornou
assunto por muito tempo entre os fãs de cinema, de automóvel, e
de BMW. Na imagem a seguir, o pôster de lançamento:
UNIDADE 2 – A Narrativa Midiática Massiva e Pós-Massiva: Formatos, Padrões, Gêneros e Características
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Hire#/media/File:Hire_Ambush_(2001).jpg
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NARRATIVAS VISUAIS 90
RECAPITULANDO
QUIZ
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NARRATIVAS VISUAIS 91
I. “Saga é a forma de serialidade que celebra a passage do
tempo em sua estrutura narrativa”.
dentro da obra”.
a) I e IV.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) Nenhuma alternativa está correta.
Gabarito: B
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NARRATIVAS VISUAIS 92
UNIDADE
3
ESTRUTURA NARRATIVA:
FUNDAMENTOS
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93
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE
APRENDIZAGEM DA UNIDADE
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NARRATIVAS VISUAIS 94
INTRODUÇÃO À UNIDADE
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à terceira Unidade da disciplina Narrativas
Visuais Digitais. Aqui, vamos operar a partir dos fundamentos
aplicados da psicologia e da ludologia, para dimensionar os funda-
mentos operados em estruturas narrativas amparadas por suportes
midiáticos massivos e pós-massivos.
Vamos compreender o conceito de círculo mágico de Huizin-
ga, sua importância e a variedade de sentidos operativos. Esse con-
ceito é originário do estudo dos jogos e, especialmente, poderoso
quando associado ao conceito de objeto social para estruturar a
narrativa. Assim, vamos analisar as estruturas do círculo mágico e
suas relações culturais, religiosas, midiáticas, que estabelecem sen-
tido e orientação social ao produto narrativo.
Do círculo mágico, vamos ao trabalho de Carl Gustav Jung
na década de 1940, ao relacionar as estruturas de sonhos, com as
estruturas narrativas, o que originou a pesquisa sobre a jornada
do Herói, de Joseph Campbel, que veio a se tornar o padrão de
referência narrativa de forma geral, para os produtos culturais e
midiáticos. Entenderemos o modo narrativo em primeira e terceira
UNIDADE 3 – Estrutura Narrativa: Fundamentos
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NARRATIVAS VISUAIS 95
SEÇÃO 1 – CÍRCULO MÁGICO: O
CONCEITO IMPRESCINDÍVEL
Johan Huizinga
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johan_Huizinga#/media/Ficheiro:Johan-huizinga1.jpg
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NARRATIVAS VISUAIS 96
o lúdico, a disputa envolvida no jogo e
no esporte, na sociedade e na cultura
humana.
Huizinga acreditava que: “O
jogo deve ser uma atividade livre
e nunca imposta.” (1971,p.3). Ou
seja, o jogo, como atividade lúdi-
ca, voltada ao entretenimento, ao
passatempo, ao lazer, presume uma
participação voluntária daqueles que
estão imersos no ato de jogar. Para o me-
dievalista e historiador, o jogo não deve ser vida “real”, no sentido
de reproduzir a realidade concreta da vida, mas sim uma vida “pa-
ralela”. “Deve ter como premissa, ser um intervalo em nossa vida
cotidiana” (1971, p.11).
Huizinga percebeu que, no ambiente do jogo, as leis e costu-
mes da vida real e cotidiana perdem a validade e deixam de fazer
sentido. Pois, no universo lúdico da fantasia, do jogo, nós “somos
diferentes e fazemos coisas diferentes” (1971, p.15).
O ambiente do jogo é formado de fantasia, de sonhos e ca-
tarse; no universo do jogo – quando assumimos o papel de jo-
UNIDADE 3 – Estrutura Narrativa: Fundamentos
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NARRATIVAS VISUAIS 97
Por exemplo, os jogos de xadrez e de gamão possuem um tabu-
leiro próprio. O jogo de tênis possui uma quadra própria como espaço
de jogo. No jogo de futebol, as partidas duram dois tempos de 45
minutos, com 15 minutos de intervalo. Já no jogo de tênis, as partidas
duram o tempo necessário para que um dos jogadores tenha dois
sets vitoriosos em relação ao adversário, o que faz com que algumas
partidas de grande disputa, possam durar até quatro horas seguidas.
A Fórmula 1, por exemplo, é uma competição de corrida, onde cada
corrida apresenta um número máximo de voltas, ou 2 horas de dura-
ção, finalizando a corrida quando um dos dois fatos ocorrem.
Se você assistir a uma partida de futebol americano sem co-
nhecer direito as regras, vai achar tudo muito
esquisito, sem sentido até. Mas, dentro
do universo de cada jogo, suas regras,
sua disputa e graus de dificuldade
fazem parte daquele universo e
dão sentido às práticas envolvidas
no jogo. Jogadores de truco – um
jogo de cartas – são famosos pela
gritaria em torno da mesa, pois os
gestos e frases em voz alta fazem
UNIDADE 3 – Estrutura Narrativa: Fundamentos
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NARRATIVAS VISUAIS 98
Por mais caótico que seja, o jogo cria ordem através de sua ló-
gica e regras, mesmo que de maneira temporária e limitada (1971,
p.13). Essa ideia nos apresenta a importância de definir as regras e
o “espaço” em que a ação do jogo acontece, como alguns de seus
elementos fundamentais.
Partindo dessas características elementares, Huizinga apre-
senta o conceito de “círculo mágico”, no
qual mostra que, quando se participa
de algum tipo de atividade de entre-
tenimento e jogo, entra-se dentro
deste círculo, deixando para trás
toda a dimensão da realidade, os
problemas, preocupações e afli-
ções do cotidiano. E mergulha-se
em um outro universo, de fantasia
e atemporal, onde, naquele momen-
to, toda a realidade que importa é a do
seu time, do seu jogador, da sua equipe, e
como vencer os outros jogadores na partida.
Para Huizinga:
UNIDADE 3 – Estrutura Narrativa: Fundamentos
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NARRATIVAS VISUAIS 99
peça, a cada nova jogada. No futebol, não eliminamos os jogadores
da equipe adversária, na verdade não os matamos também. No
futebol, nosso objetivo é colocar a bola, dentro de uma Caixa com
rede, marcando um ponto ou gol, durante o tempo da partida.
Adams (2009), inclusive, faz essa mesma analogia quando relacio-
na o futebol e o círculo mágico, como na imagem a seguir:
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Fonte: https://exame.com/marketing/5-propagandas-criativas-para-os-banheiros-de-sao-paulo/
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Fonte: https://exame.com/marketing/5-propagandas-criativas-para-os-banheiros-de-sao-paulo/
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Fonte: https://www.adsoftheworld.com/media/ambient/ikea_ikea_real_life
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II. Para Huizinga, o jogo não deve ser vida real, “Deve ter
como premissa, ser um intervalo em nossa vida cotidia-
na” (1971, p.11).
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a) I e IV.
b) I e II.
c) II e III.
d) II e IV.
e) I, II e III.
Gabarito: B
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4
NARRATIVAS APLICADAS
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122
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE
APRENDIZAGEM DA UNIDADE
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Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à quarta Unidade da disciplina Narrativas
Visuais Digitais. Aqui, vamos operar a partir das três finalidades
narrativas já conceituadas na Unidade 2: Narrativas com a finalida-
de de Aprendizado – desde tutoriais no YouTube, a folhetos expli-
cativos e manuais de instrução; com a finalidade de Diversão – des-
de a animação, até a estrutura de séries e outros produtos digitais
pós-massivos voltados à diversão; e narrativas com a finalidade de
Persuasão – tipicamente, a publicidade, mas não só: aqui falamos
de charges e cartoons, fotografia, animações, e outras estruturas
diversas empregadas para a persuasão.
Por fim, vamos compreender, de Bolter & Grusin, os proces-
sos de remediação cultural, empregados a partir da existência das
mídias digitais pós-massivas. Em especial, a partir da prática de
interação cotidiana através das redes sociais, assumindo estéticas
variadas, de acordo com as propriedades de interação, apropriação
e produção de conteúdo, que cada estrutura de rede social digital
oferece.
Bons estudos!
UNIDADE 4 – Narrativas Aplicadas
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Fonte: https://exame.com/marketing/5-propagandas-criativas-para-os-banheiros-de-sao-paulo/
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As narrativas de Aprendi-
zado possuem o foco específico
de capacitar a audiência a desen-
volver um conhecimento e sua prática.
Quando abordamos o conceito na unidade 2,
utilizamos como exemplo os diagramas de situação de emergência,
disponíveis dentro dos aviões comerciais, para que todos os passa-
geiros saibam como reagir, em caso de emergência. Observe nesse
caso, que essa aprendizagem não se resume ao cartão de infor-
mações disponível, mas é acompanhada de demonstrações antes
da decolagem por vídeo ou ao vivo pelos funcionários de bordo. A
função, neste caso, é precisa: se o avião cair, como fazemos para
colocar uma máscara de oxigênio, para flutuarmos com o assen-
to, para encontrar, inflar e vestir o colete salva-vidas e assim por
diante. Naturalmente, a condição emocional da audiência precisa
ser considerada em dois momentos distintos: antes da decolagem,
quando são transmitidas as instruções – de forma tranquila, didá-
UNIDADE 4 – Narrativas Aplicadas
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os sapatos antes de se
encaminhar as saídas
de emergência;
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As narrativas de persuasão
têm como sentido ampliar ao má-
ximo seu poder de convencimento
sobre a audiência. Desde a escolha do
Objeto social, determinação do enredo e li-
nha condutora, até os personagens e referências culturais que se
juntam, todo o conjunto da narrativa persuasiva é direcionado à
finalidade de convencimento. Nesta finalidade, o discurso narrativo
pode se constituir de diversas retóricas, o que nos remete à uni-
dade 1, quando vimos as estruturas narrativas baseadas na lógica
aristotélica.
Ainda, a persuasão significa que a narrativa deverá se empe-
nhar em convencê-lo de que algo ou alguém apresenta uma supe-
rioridade – retórica ou objetiva – em relação aos outros elementos
de comparação. Normalmente empregada na publicidade, a nar-
rativa com finalidade de persuasão, também mescla as finalidades
de aprendizagem e de diversão, afim de aumentar seu poder de
UNIDADE 4 – Narrativas Aplicadas
atração e envolvimento.
A persuasão pede um tom imperativo e incisivo: “experimen-
te”, “compre”, “use”, “dirija”, “possua”, e outros verbos, tanto
quanto necessários para que a audiência se convença ao menos a
verificar as propriedades daquele produto ou serviço ou causa. E
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Disponível em:
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Disponível em:
da audiência.
Observe a peça a seguir, fazendo referência a um perfume,
mas na verdade, informa – narrativa de aprendizagem a partir da
persuasão da publicidade – as formas de contágio e como se pre-
venir do coronavírus. Na imagem, um grande e bonito vidro de per-
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Multimídia
UNIDADE 4 – Narrativas Aplicadas
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Fonte: https://16bitsdadepressao.blogosfera.uol.com.br/2020/08/28/os-melhores-memes-indagan-
do-bolsonaro-sobre-os-89-mil-reais/
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Disponível em:
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RECAPITULANDO
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Fonte: https://www.bestadsontv.com/ad/1041/Virgin-Digital-Exercise-Your-Music-Muscle-world-o-
f-music
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A) I e II.
B) I e III
C) I e IV
D) II e IV
E) Nenhuma alternativa está correta.
Gabarito: A
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Unidade 1
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Aristóteteles (1992). Poética (E. de Souza, Trad.). São Paulo: Ars Poética. (Original
publicado em torno de 330 a.C.)
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo, Aleph, 2008.
SCOLARI, Carlos. Hipermediaciones: Elementos para una Teoría de lá Comunicación
Digital Interactiva; Gedisa, Barcelona, (2008:44).
COVALESKI, Rogério. Cinema e publicidade: Intertextos e hibridismos. Rio de Janeiro,
Confraria do Vento, 2015.
Unidade 3
Aristóteteles (1992). Poética (E. de Souza, Trad.). São Paulo: Ars Poética. (Original
publicado em torno de 330 a.C.)
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo, Aleph, 2008.
SCOLARI, Carlos. Hipermediaciones: Elementos para una Teoría de la Comunicación
Digital Interactiva. Gedisa, Barcelona, (2008:44).
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo, Pensamento, 1989.
COVALESKI, Rogério. Cinema e publicidade: Intertextos e hibridismos, Rio de Janeiro,
Confraria do Vento, 2015.
HUIZINGA, Johan, HOMO-LUDENS. São Paulo, Perspectiva, 1971.
Unidade 4
Aristóteles (1992). Poética (E. de Souza, Trad.). São Paulo: Ars Poética. (Original
UNIDADE 4 – Narrativas Aplicadas
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