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NIVELAMENTO

DE PORTUGUÊS

EAD
DIRIGENTES FICHA TÉCNICA
| PRESIDÊNCIA | AUTOR
Prof. Dr. Clèmerson Merlin Clève Prof. Dr. Lucas V. de Araujo

| REITORIA | COORDENAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS EAD


Esp. Janaína de Sá Lorusso
Profa. Dra. Lilian Pereira Ferrari

| PROJETO GRÁFICO
| DIRETORIA ACADÊMICA EAD Esp. Janaína de Sá Lorusso
Profa. Me. Daniela Ferreira Correa Esp. Cinthia Durigan

| DIRETORIA ACADÊMICA PRESENCIAL | DIAGRAMAÇÃO


Profa. Me. Márcia Maria Coelho Esp. Cinthia Durigan

| DIRETORIA DE PESQUISA E EXTENSÃO | REVISÃO


Profa. Dra. Liya Regina Mikami Esp. Ísis C. D’Angelis
Esp. Idamara Lobo Dias
| DIRETORIA EXECUTIVA
Profa. Esp. Silmara Marchioretto | PRODUÇÃO AUDIO VISUAL
Eudes Wilter Pitta Paião
| COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DE GRADUAÇÃO EAD Estúdio NEAD (Núcleo de Educação a Distância) -
Prof. Me. João Marcos Roncari Mari UniBrasil

| COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DE PÓS-GRADUAÇÃO EAD | ORGANIZAÇÃO


Prof. Me. Marcus Vinícius Roncari Mari NEAD (Núcleo de Educação a Distância) -
UniBrasil

EAD

EDIÇÃO: JULHO/2020
SUMÁRIO

UNIDADE 01 - COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM..........................................................05
INTRODUÇÃO.......................................................................................06

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1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E OBJETIVOS DA COMUNICAÇÃO NÃO
VERBAL..........................................................................................07
1.1 A comunicação não verbal em um contexto histórico ....................07
1.2 Formas, linguagens e aspectos característicos e distintivos da
comunicação não verbal................................................................09
1.3 A comunicação não verbal como forma de aprimorar a troca de infor-
mações entre pessoas....................................................................13
1.4 Quatro princípios fundamentais....................................................18
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................20

UNIDADE 02 - COMUNICAÇÃO ORAL


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM..........................................................22
INTRODUÇÃO.......................................................................................23
1. A COMUNICAÇÃO ORAL HUMANA.................................................23
1.1 Aspectos históricos da comunicação oral e verbal dos seres humanos...24
2. O QUE É E COMO SE REALIZA A COMUNICAÇÃO ORAL NAS RELAÇÕES
HUMANAS ....................................................................................28
2.1 Enfrentando o medo......................................................................30
3. TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO ORAL – ORATÓRIA ..........................35
3.1 Memória.......................................................................................35
3.2 Humor...........................................................................................37
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................38
SUMÁRIO

UNIDADE 03 - LER E ENTENDER: O TEXTO E O SIGNIFICADO


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM..........................................................39
INTRODUÇÃO.......................................................................................40

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1. TEXTO E SIGNIFICADO.................................................................40
2. A INTERAÇÃO AUTOR-TEXTO-LEITOR..........................................42
3. LEITURA E PRODUÇÃO DE SENTIDO............................................47
3.1 Textos narrativos...........................................................................48
3.2 Textos descritivos..........................................................................49
3.3 Textos dissertativos.......................................................................51
4. FATORES DE COMPREENSÃO DA LEITURA: COERÊNCIA E COESÃO....52
4.1 Coerência......................................................................................53
4.2 Coesão..........................................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................56

UNIDADE 04 - GÊNEROS TEXTUAIS E NORMA LINGUÍSTICA


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM..........................................................58
INTRODUÇÃO.......................................................................................59
1. OS GÊNEROS TEXTUAIS E O DISCURSO.......................................59
1.1 GÊNEROS TEXTUAIS: O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM?...........61
2. NORMA LINGUÍSTICA E ARGUMENTAÇÃO.................................68
2.1 FIGURAS DE LINGUAGEM............................................................70
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................73

REFERÊNCIAS.......................................................................................74
UNIDADE

01
COMUNICAÇÃO
NÃO VERBAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
» Conhecer a comunicação não verbal;
» Situar a comunicação não verbal em contextos diferenciados de linguagem e culturas;
» Ilustrar as diversas facetas da comunicação não verbal;
» Explicar quais as relações da comunicação não verbal com a comunicação verbal (tra-
dicionalmente usada no co�diano);
» Ponderar os aspectos �sicos, psicológicos, econômicos e culturais que interferem na
dinâmica da comunicação não verbal.

VÍDEOS DA UNIDADE

https://qrgo.page.link/gFtRr https://qrgo.page.link/ofZhM https://qrgo.page.link/xkKpt


INTRODUÇÃO
Olá, amigo(a)!
Antes de começarmos, gostaria de falar suscintamente sobre mim e meu trabalho. Meu nome

UNIDADE 01
é Lucas V. de Araujo, sou doutor em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo,
mestre em Letras e graduado em Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Já sou
professor de nível superior desde 2003, quando comecei a dar aulas para cursos de Jornalismo
e Relações Públicas. Atualmente sou docente na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e em
diversos cursos de graduação e pós-graduação pelo Brasil. Também sou palestrante e pesquisador
da área de inovação e novas tecnologias aplicadas à comunicação e educação.

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É uma sa�sfação estar com você nesta disciplina de Nivelamento de Português, do UniBrasil.
Bem, feita minha apresentação, vamos aos nossos estudos!
Quando falamos de comunicação, geralmente queremos dizer "o que dizemos": as palavras que
usamos. No entanto, a comunicação interpessoal é muito mais do que o significado explícito das
palavras e a informação ou mensagem que elas transmitem. Inclui também mensagens implícitas,
intencionais ou não, expressas através de comportamentos não verbais.
A comunicação não verbal inclui expressões faciais, tom da voz, gestos exibidos através da lin-
guagem corporal (cinesiologia) e a distância �sica entre os comunicadores (proxêmica).
Esses sinais não verbais podem fornecer pistas e informações adicionais e significados além
da comunicação falada (verbal). De fato, algumas es�ma�vas sugerem que cerca de 70 a 80% da
nossa comunicação não é verbal!
No entanto, interpretar a comunicação não verbal não é tão simples assim. A exemplo do que
ocorre com a comunicação interpessoal, a comunicação não verbal não é uma linguagem com um
significado fixo. Ela é influenciada e impulsionada pelo contexto em que ocorre. Isso inclui tanto o
local quanto as pessoas envolvidas, bem como a cultura, isto é, os hábitos que influenciam nosso
dia a dia.
Por exemplo, um aceno de cabeça entre colegas em uma reunião de comitê pode significar algo
muito diferente de quando a mesma ação é usada para reconhecer alguém em uma sala lotada ou
quando duas pessoas estão em uma conversa social.
A comunicação não verbal também pode ser consciente e inconsciente. Expressões faciais são
par�cularmente di�ceis de controlar, porque não podemos nos ver para saber o que estamos
fazendo. Podemos, portanto, complicar a comunicação tentando transmi�r uma mensagem cons-
cientemente, enquanto, de fato, transmi�mos inconscientemente outra completamente diferente.
A comunicação interpessoal é ainda mais complicada, porque geralmente não é possível inter-
pretar um gesto ou expressão com precisão por conta própria. A comunicação não verbal consiste
em um pacote completo de expressões, movimentos da mão e dos olhos, posturas e gestos que
devem ser interpretados juntamente com a fala (comunicação verbal).

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Assim, nesta Unidade 1, serão abordados aspectos conceituais e algumas situações do co�dia-
no para você entender a comunicação não verbal. Vamos trabalhar de forma bastante simples,
com uma linguagem descomplicada, mas que traz um conteúdo relevante e técnico. Isso é funda-
mental, porque o obje�vo final é que você aprenda e assimile muito conhecimento sem que isso
provoque enfado ou cansaço excessivo.

UNIDADE 01
Sempre que possível, serão apresentados exemplos para tornar a compreensão o mais clara
possível e também ilustrações, já que a comunicação não verbal está pautada em ações do nosso
corpo, nas mais variadas circunstâncias.

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E OBJETIVOS

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DA COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL
Todos os dias respondemos a milhares de pistas e comportamentos não verbais, incluindo pos-
turas, expressão facial, olhar fixo, gestos e tom de voz. Dos nossos apertos de mão aos nossos pen-
teados, os detalhes não verbais revelam quem somos e afetam a forma como nos relacionamos
com as outras pessoas. Mas, afinal, quais os aspectos mais relevantes da comunicação não verbal?
Como ela se manifesta? Quais as suas caracterís�cas? Tudo isso estudaremos a seguir.
O estudo cien�fico sobre comunicação e comportamento não verbal começou com a publica-
ção, em 1872, de A expressão das emoções no homem e animais, de Charles Darwin. Desde aquela
época, são abundantes as pesquisas sobre �pos, efeitos e expressões de comunicação e comporta-
mento não verbais. Embora esses sinais sejam frequentemente tão su�s a ponto de não estarmos
conscientes deles, os estudos iden�ficaram diversos �pos de comunicação não verbal.
Disso resulta a importância de realizarmos um estudo sistemá�co e categorizado da comuni-
cação não verbal, para que possamos conhecer diversas das suas muitas facetas e caracterís�cas.

1.1 A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL EM UM CONTEXTO HISTÓRICO


Desde que o ser humano vivia nas cavernas, nos valemos de símbolos, compreendidos como
mensagens sinté�cas de significado convencional, para nos comunicarmos com outros seres da
nossa espécie ou até mesmo com animais.
Usamos os símbolos como ferramentas especializadas que a inteligência humana cria e procura
padronizar para facilitar a sua própria tarefa, isto é, a necessidade constante e premente de comu-
nicar algo a alguém e provocar nesse alguém – que pode ser até mesmo de outra espécie – algum
�po de reação.
Um símbolo fundamental no entendimento do corpo humano e da forma como ele é usado
para nos comunicarmos é a esfinge, uma das figuras mais ins�gantes e enigmá�cas do mundo.
Vamos usar como exemplo, já que existem várias esfinges, a Esfinge de Khorsabad, chamada de
Kerub. A Figura 1 apresenta essa esfinge.

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FIGURA 1 - ESFINGE DE KHORSABAD, DO ANTIGO IMPÉRIO ASSÍRIO.

UNIDADE 01
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Fonte: Shu�erstock (2020).

A esfinge, conforme se depreende da figura, é composta por quatro partes, sendo elas:
» Corpo de boi;
» Tórax de leão;
» Asas de águia;
» Cabeça de homem.
De acordo com tradições que remontam à formação dos povos primi�vos, cada uma dessas par-
tes representa uma parte do �sico do homem, assim como a sua correspondência psicológica. Por
incrível que pareça, estudos modernos endossam essas perspec�vas, como já demonstrou Pierre
Weil (1973), na obra Esfinge, estrutura e mistérios do homem. Ainda de acordo com Weil, as corres-
pondências psicológicas descritas pelos povos an�gos não mudaram muito até a psicologia moderna.
No passado, a simbologia era representada da seguinte forma:

QUADRO 1 – REPRESENTAÇÃO PRIMITIVA DO HOMEM


» Boi » Abdômen » Vida ins�n�va e vegeta�va.
» Leão » Tórax » Vida emocional.
» Águia » Cabeça » Vida mental (intelectual e espiritual).
» Homem » Conjunto » Consciência e domínio dos três inconscientes anteriores.

Fonte: Weil (1973).

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Com base nessa esquema�zação, podemos entender um pouco melhor as suas diversas mani-
festações do corpo humano.

1.2 FORMAS, LINGUAGENS E ASPECTOS CARACTERÍSTICOS E


DISTINTIVOS DA COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

UNIDADE 01
Aprendemos que determinadas partes do corpo humano podem ser representadas por ani-
mais, boi, leão e águia, os quais simbolicamente demonstram caracterís�cas das pessoas, tanto
em termos racionais quanto ins�n�vos.
Agora vamos compreender melhor o que cada um desses animais representa e como podemos
notar esses aspectos no modo de agir das pessoas.

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1.2.1 BOI
A melhor maneira de perceber o Boi no comportamento humano traduz-se pela protuberância
abdominal, isto é, pela acentuação daquilo que popularmente chamamos de barriga.

FIGURA 2 – PROTUBERÂNCIA ABDOMINAL

Fonte: Shu�erstock (2020).

Segundo Weil (1997, p. 28) “a pessoa avança o abdômen; isto se encontra em gente que gosta
de boas refeições, que se senta à vontade diante de uma mesa farta de jantar”.
O autor também afirma que existem outras maneiras de evidenciar o lado “Boi” das pessoas.
No caso das mulheres, o ato de mexer de forma acentuada os quadris, isto é, o “rebolado”, é uma
ação ins�n�va feminina que está ligada ao ato sexual.

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FIGURA 3 – “REBOLADO” FEMININO

UNIDADE 01
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Fonte: Shu�erstock (2020).

Da mesma maneira que as mulheres, ao mexerem de forma acentuada o quadril, refletem uma
a�tude ins�n�va ligada à cópula e à fer�lização, o ato do homem colocar a mão na cintura e apon-
tar os dedos para a própria genitália é, segundo Weil (1997), uma ação ins�n�va e primi�va – isto
é, acentua o comportamento “Boi”.

FIGURA 4 – HOMEM COM AS MÃOS NA CINTURA APONTANDO PARA A GENITÁLIA

Fonte: Shu�erstock (2020).

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1.2.2 LEÃO
Por ser mais emocional e menos ins�n�vo, o Leão evidencia-se no comportamento humano por
meio do tórax avantajado, já que no tórax reside o coração, órgão que simboliza os sen�mentos e
as emoções humanas. Vale ressaltar que esses sen�mentos vinculados ao tórax em evidência ge-
ralmente estão ligados a aspectos narcísicos. Confirme Weil (1997, p. 30), “quando há uma postura

UNIDADE 01
de preponderância do tórax, estamos na presença de uma preponderância do EU. São pessoas
vaidosas, egocêntricas e extremamente narcisistas; ou que naquele momento querem se impor”.

FIGURA 5 – TÓRAX AVANTAJADO DEMONSTRANDO VAIDADE OU IMPOSIÇÃO

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Fonte: Shu�erstock (2020).

Da mesma maneira que uma pessoa com o tórax em evidência mostra supremacia, a pessoa
encolhida, com o tórax retraído, geralmente cabisbaixa, indica o contrário, ou seja, esse indivíduo
está com o lado emocional debilitado e triste.

FIGURA 6 – TÓRAX RETRAÍDO

Fonte: Shu�erstock (2020).

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1.2.3 ÁGUIA
A Águia representa os aspectos racionais e espirituais das pessoas. Não por acaso, é represen-
tada pela cabeça, onde fica o cérebro, que controla as a�tudes e ações do ser humano. Quando a
pessoa está com a cabeça em evidência, isto é, acima da linha do equilíbrio, está demonstrando
grande controle mental sobre si.

UNIDADE 01
FIGURA 7 – ÁGUIA EM EVIDÊNCIA

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Fonte: Shu�erstock (2020).

Quando ocorre o contrário, isto é, quando a pessoa está de cabeça baixa, isso indica que existe
sen�mentos abundantes de preocupação e pensamentos ruins que mostram um estado de des-
conforto mental.

FIGURA 8 – PESSOA COM CABEÇA BAIXA E RETRAÍDA

Fonte: Shu�erstock (2020).

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O que diferencia a cabeça baixa, indica�vo da Águia retraída, da pessoa triste, que denota o
Leão magoado por sen�mentos desagradáveis, é o fato de a Águia sempre remeter a um estado
mental, ao passo que o Leão indica questões emocionais. A pessoa de cabeça baixa também pode
estar triste, mas ela muitas vezes mostra que está sendo dominada por sen�mentos externos que
colocam a Águia em segundo plano.

UNIDADE 01
Esse raciocínio reforça a impressão de que é plenamente possível e comum que sen�mentos e
pensamentos estejam conjugados, gerando a�tudes que coadunam com aquilo que se passa em
nossa cabeça e no nosso coração. Todavia, o contrário também ocorre e nem sempre nossas a�tu-
des coincidem com nossos sen�mentos.
É recorrente que nosso corpo demonstre aspectos do nosso inconsciente que não queremos
mostrar ou que buscamos esconder por questões ligadas, por exemplo, a convenções sociais.

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Por mo�vos como esse, a seguir estudaremos o comportamento interpessoal e a forma como
as pessoas interagem entre si. Perceberemos como existem várias dimensões em jogo quando
existem duas ou mais pessoas interagindo nos mais variados lugares.

1.3 A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL COMO FORMA DE


APRIMORAR A TROCA DE INFORMAÇÕES ENTRE PESSOAS
Quando avaliamos a comunicação não verbal em diversos contextos, temos uma visão mais
ampla de como o ser humano age em situações diferentes conforme o ambiente. Vimos até agora
as formas de o nosso corpo se expressar de acordo com nossos pensamentos, emoções ou ins�n-
tos, os quais podem ser mais fortes ou menos intensos conforme o local e a circunstância. Por isso
falamos do “Boi” em evidência ou da “Águia” em posição de submissão, por exemplo.
Nesta parte do nosso estudo, vamos verificar como determinadas partes do nosso corpo po-
dem estar em evidência ou subjugadas em conformidade com a situação na qual está inserido.
Compreender como mudamos as nossas a�tudes de acordo com o ambiente e as pessoas que
estão à nossa volta é crucial para o entendimento amplo da comunicação não verbal.
Darei prioridade aqui às situações de trabalho, porque elas são o foco principal da nossa disci-
plina. É claro que o corpo “fala”, como diz Weil (1997), nas mais variadas circunstâncias, como nas
relações familiares, no campo afe�vo, nas rodas de amigos, mas como esta disciplina é técnica e
voltada ao ambiente de atuação profissional, concentrarei meus esforços em situações �picas do
co�diano corpora�vo, como reuniões e conversas com colegas de trabalho e chefes. Procurarei
elucidar da melhor maneira possível como podemos usar a comunicação não verbal a nosso favor,
já que esse �po de comunicação tem grande relevância nas relações humanas, inclusive no am-
biente organizacional.
Todavia, não se esqueça de uma lição de Weil (1997): não podemos ser radicais em nossas
interpretações sobre a ação humana, já que nós somos seres vivos com caracterís�cas e peculia-
ridades próprias que nos dis�nguem e nos tornam únicos. Dito isso, podemos tentar iden�ficar
comportamentos nas pessoas, mas sempre avaliando com base em um contexto determinado e
com certa margem de erro.

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Ainda de acordo com Weil (1997), é importante lembrar que:
» A simples presença de um observador, isto é, alguém como eu e você, em determinado con-
texto, já modifica o ambiente observado, porque há uma outra pessoa naquele local. Se você é
amigo de quem está sendo observado, por exemplo, o observado poderá mudar as a�tudes e a
linguagem corporal em decorrência disso.

UNIDADE 01
» Em uma situação real, os animais representados de forma caricata para explicar os comporta-
mentos ins�n�vos, emocionais e intelectuais humanos, apresentam outras ações, já que são
animais. O leão urra, sacode a juba e tem cheiro de leão. No material que estamos usando ou na
tela do computador nada disso existe. Cabe a você, caro(a) aluno(a), traduzir a lição simplificada
na plenitude da vida.

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» Por fim, nunca se esqueça de que toda situação deve ser vista em um contexto, o qual varia
muito de acordo com aspectos culturais e geográficos. Em países com forte cultura árabe, por
exemplo, os homens dão beijos no rosto ao se cumprimentarem, enquanto que as mulheres
não se beijam – algo que ocorre em muitos países do Ocidente.
Feitas essas ressalvas, vamos em frente!

SAIBA MAIS
A vida é um fluxo constante de energia e a linguagem do corpo é a linguagem da vida; logo, temos
de conhecer a energia em nós. Tal como a eletricidade da bateria do seu carro, a energia do corpo
é armazenada em forma química. Dentre as três partes do corpo humano representadas por ani-
mais, conforme Weil (1997) mostra, o Boi é o maior consumidor de energia. Isso ocorre em razão
do trabalho constante dos músculos que não estão sujeitos à vontade consciente e até das demais
operações puramente ins�n�vas, como respiração e digestão.

1.3.1 BRAÇOS CRUZADOS


Um dos estudos realizados por Weil (1997) que FIGURA 9 – REUNIÃO DE TRABALHO
mais contribui para o entendimento sobre a comu-
nicação não verbal em ambientes de trabalho é o
gesto extremamente comum de as pessoas cruza-
rem os braços. Nas mais variadas situações, cruza-
mos os braços para nos sen�rmos melhor, para nos
ajeitarmos em uma cadeira ou porque estamos com
Fonte: Shu�erstock (2020).

frio! No entanto, o gesto de cruzar os braços pode


indicar muito mais do que esses exemplos, pois eles
fazem parte de um conjunto de ações humanas que
denotam um estado �sico, mental e social.
Vamos começar com uma �pica imagem de reu-
nião de trabalho (Figura 9):

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Interessante observar que não há pessoas de braços cruzados. Tampouco há pessoas aborre-
cidas, olhando para os lados ou para baixo, e muito menos com expressões vazias. Todos na mesa
estão atentos aos apresentadores, em pé, e ainda há o homem que se dispôs a fazer uma pergun-
ta. Ademais, há muitos sorrisos, indicando uma alegria um tanto quanto a�pica em determinadas
reuniões, sobretudo aquelas que tratam de assuntos desagradáveis, como problemas financeiros

UNIDADE 01
e metas não cumpridas.
Analisar a comunicação não verbal em situações assim é muito simples – dispensando, inclu-
sive, um conhecimento mais aprofundado de comunicação não verbal e do jeito humano de agir.
Todavia, como você sabe, a realidade é bem diferente da retratada na imagem anterior. Caso você
trabalhe, sabe bem que reuniões geralmente são tensas e cansa�vas.
Fora o fato de que a tecnologia vem �rando cada vez mais a atenção das pessoas e tornando

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ainda mais di�cil a comunicação efe�va em situações nas quais é preciso maior par�cipação. Cena
comum hoje em dia são pessoas olhando em seus smartphones enquanto outras falam ou dirigem
a palavra a elas. Esse �po de situação cria cenas inusitadas, como a retratada na Figura 10.

FIGURA 10 – REUNIÃO COM SMARTPHONES

Fonte: Shu�erstock (2020).

Por mais interessante e necessária que seja a tecnologia, ela nos torna menos atentos e reduz
nossa capacidade de entendimento, principalmente quando estamos lidando com assuntos com-
plexos e demasiado di�ceis.
Portanto, se você quer saber como observar melhor a comunicação não verbal presente nas
reuniões, use seu smartphone apenas quando estritamente necessário, para não comprometer
seu rendimento e não prejudicar o bom andamento do trabalho da equipe.

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Quando você voltar sua atenção ao que está ocorrendo à sua volta, observará que os braços
cruzados em geral são usados como uma forma de proteção da pessoa, já que quem cruza os
braços geralmente é quem está ouvindo, isto é, recebendo a informação. Quem fala não o faz de
braços cruzados na maioria das vezes, pois u�liza suas mãos e braços para ajudá-lo na comunica-
ção não verbal – porém, isso não é uma regra.

UNIDADE 01
Segundo Weil (1997), o braço cruzado é uma maneira de a pessoa colocar-se em posição de
defesa diante das colocações da(s) outra(s) pessoa(s) enquanto a(s) escuta. A defesa não ocorre
necessariamente quando o indivíduo discorda do outro. Ela é também uma posição de ouvinte, de
quem ouve e observa o comportamento do outro para analisar seu discurso e posicionamento em
relação ao assunto em questão.
A Figura 11 é um bom exemplo. A mulher, séria, escuta o homem enquanto este fala e ges�cula

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para persuadi-la de suas opiniões. Afinal de contas, ninguém fala algo ao outro se não for com o
propósito de que esse outro acredite naquilo que ele fala.

FIGURA 11 – MULHER DE BRAÇO CRUZADO ESCUTA HOMEM

Fonte: Shu�erstock (2020).

Como é preciso entender o contexto antes de ter um veredito sobre o que está ocorrendo nessa
imagem, é importante observarmos outros aspectos do comportamento da mulher. Comecemos
pela posição da cabeça e a expressão facial, que são dois importantes indica�vos de como a pessoa
está se posicionando. Ela está com o rosto voltado para o homem, o que demonstra interesse pelo
que está sendo dito. Os olhos também estão em direção à pessoa que fala, sem contar que o pró-
prio corpo está levemente voltado ao homem. Portanto, a conversa interessa à mulher. O fato de
estar de braço cruzado, assim, não é uma a�tude de discordância, mas de quem está aguardando
as observações do falante para avaliar até que ponto aquilo pode ser verdadeiro.

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O comportamento do homem é �pico daquelas pessoas que desejam persuadir seus ouvintes.
A expressão facial é de alegria, as mãos, livres, tentam trazer força e expressividade à argumen-
tação. A postura equilibrada, com o tronco levemente à frente, mostra alguém convicto de suas
ideias e confiante na aceitação do ouvinte. Por fim, o olhar dirigido à mulher mostra que ele é
asser�vo em suas colocações.

UNIDADE 01
REFLITA
Qual é o limite do nosso EU?
Sigmund Freud, em Eu e o Id, disse que nossa pele é o limite entre o ego e o mundo exterior (apud
WEIL, 1997).

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Podemos dizer que a territorialidade regula a densidade e expressividade das espécies de seres
vivos – ou seja, a distância ideal entre os seus componentes individuais, para as diversas manifes-
tações da vida em comum.
Isso condiz perfeitamente com o que já estudamos e que é básico para compreendermos a lingua-
gem de nosso corpo. Só podemos estar livres de elevados níveis de estresse quando cada a�tude
psíquica nossa é acompanhada da sua correspondente a�tude �sica ideal.
A distância social oscila bastante, não só pelo grau variável do estado emocional que modifica
a reserva, mas também conforme a tradição cultural na qual cada sociedade fixou seus hábitos
de comportamento em grupo. Caso você observe uma fila no Brasil e outra nos Estados Unidos,
perceberá que os indivíduos tendem a ficar mais distantes na América do Norte, onde as pessoas
são socialmente mais reservadas, portanto, mais distantes.

1.3.2 PERNAS CRUZADAS


Pierre Weil (1997) vai além dos braços cruzados e de expressões faciais no que diz respeito à
comunicação não verbal. Ele trata também da postura corporal como um todo, incluindo pernas,
pés, braços e mãos. Em relação às pernas e aos pés, o autor afirma que elas podem demonstrar
diversas sensações e emoções que aparentemente não representam.
Vejamos a Figura 12:

FIGURA 12 – INDIVÍDUOS SENTADOS EM REUNIÃO DE TRABALHO


Fonte: Shu�erstock (2020).

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A figura representa uma �pica situação de trabalho, na qual homens e mulheres tratam de as-
suntos profissionais. O fato de estarem sentados e sem uma mesa entre eles muda bastante a co-
municação não verbal, porque se tornam mais evidentes suas sensações e emoções, notadamente
em relação às pernas, que tradicionalmente ficam “escondidas” debaixo de uma mesa.
De acordo com Weil (1997), o fato de uma pessoa cruzar a perna diz muito sobre o que ela pensa

UNIDADE 01
e sente. Contudo, ao contrário dos braços, que em princípio denotam uma preocupação em defen-
der-se, as pernas cruzadas demonstram certo grau de conforto com a situação. Isso porque as pernas
nessa posição demonstrariam que a pessoa se sente bem naquele ambiente e está à vontade.
Importante lembrarmos também que as pernas cruzadas nem sempre são apropriadas para
determinados ambientes e situações. Geralmente templos sagrados não recomendam que os fiéis
cruzem as pernas diante de imagens e retratos, por exemplo. E isso porque a postura deve ser de

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respeito, o que pode ser comprome�do pela perna cruzada.
Portanto, se o funcionário está diante do chefe em uma reunião tensa, seria melhor deixar as
pernas sem dobrar. Assim como também não é recomendado es�car demasiadamente a perna a
ponto de o corpo ficar muito relaxado e soltar as costas do encosto da cadeira. Esse �po de postura
não contribui para demonstrar seriedade e respeito.

1.4 QUATRO PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS


Os quatro princípios de Weil (1997) permitem um entendimento mais completo da linguagem
do corpo humano, de forma a sedimentar alguns conhecimentos já trabalhados nesta Unidade e
acrescentar outros aspectos relevantes sobre o assunto.

VÍDEO
Para entender ainda melhor a linguagem corporal e seus significados, assista a um vídeo bem
interessante no canal Superleituras, no YouTube. Nele há uma síntese bastante clara e obje�va de
vários aspectos teóricos que estudamos, além de bons exemplos ilustra�vos de pessoas e situa-
ções que nos ajudam a entender a comunicação não verbal.
LINGUAGEM corporal lição #1 – O corpo fala. Superleituras, 2018. Disponível em:
h�ps://bit.ly/3fA7vct. Acesso em: 20 set. 2019.
Fonte: Shu�erstock (2020).

18
1.4.1 OS PRINCÍPIOS DA TEORIA DE INFORMAÇÃO E PERCEPÇÃO CINÉSICA

FIGURA 13 – PRINCÍPIO 1

1.

UNIDADE 01
OS COMPONENTES SIMULTÂNEOS DAS MENSAGENS
EM LINGUAGEM DO CORPO HUMANO

SEMPRE

OU

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CONCORDAM DISCORDAM
ENTRE SI ENTRE SI

Fonte: Weil (1997).

FIGURA 14 – PRINCÍPIO 2

2.

É POSSÍVEL DISCERNIR ENTRE

ATITUDE ATITUDE CONSCIENTE


CONSCIENTEMENTE OU INCONSCIENTE-
EXTERIORIZADA MENTE OCULTA

Fonte: Weil (1997).

FIGURA 15 – PRINCÍPIO 3

3.

A PERCEPÇÃO E/OU A REAÇÃO

DO RECEPTOR DAS MENSAGENS PODEM SER DE MODO

CONSCIENTE E/OU INCONSCIENTE

Fonte: Weil (1997).

19
FIGURA 16 – PRINCÍPIO 4

4.

NA PERCEPÇÃO CONSCIENTE DE

UNIDADE 01
MENSAGENS CORRETAMENTE AVALIADAS

O ACORDO DOS COMPONENTES: O DESACORDO DOS COMPONENTES:

CONFIRMA A VERDADE REVELA OPOSIÇÃO


DA INTENÇÃO REPRIMIDA À INTENÇÃO
CONVECIONALMENTE CONVENCIONALMENTE

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EXTERIORIZADA EXTERIORIZADA

Fonte: Weil (1997).

Esses quatro princípios são fundamentais para o correto entendimento do assunto, assim como
dos tópicos mais importantes sobre os diversos aspectos teóricos que abordamos.
Nunca deixe de vislumbrar que os quatro princípios elencados por Weil mostram que:
» O ponto de vista do observador precisa ser rela�vo em determinadas circunstâncias, porque ele
interfere na forma como o(s) observado(os) reage(m) naquela situação;
» O contexto é um dos pontos mais importantes em termos de comunicação não verbal, já que
os aspectos culturais interferem diretamente na maneira como entendemos as situações.
Caso esses aspectos estejam suficientemente claros, você não terá dificuldades para conduzir
bem esta disciplina. Se for necessário, leia e releia diversas vezes para fixar o conteúdo, que será
fundamental para realizar as a�vidades desta Unidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, nesta Unidade I, que a comunicação não verbal tem um papel fundamental na comu-
nicação humana desde os primórdios da humanidade. Aliás, essa comunicação começou quando
ainda não usávamos linguagem em forma de palavras, muito menos um alfabeto. Assim, desde
quando o homem habitava as cavernas, a comunicação ocorria por meio de gestos, expressões e
sons que emi�a quando desejava comunicar alguma coisa.
Com o passar do tempo e a evolução, a comunicação se aperfeiçoou e se tornou mais elabo-
rada, com palavras, um alfabeto, texto escrito, enfim, tudo aquilo que é essencial para formas de
comunicação que vão além dos gestos e expressões �picas do período mais an�go. O alfabeto e
a linguagem escrita possibilitaram uma mudança radical na vida humana, pois permi�u a criação
de cidades, do dinheiro e das ins�tuições que são a base da vida em sociedade, como os países e
territórios, além do desenvolvimento das tecnologias.

20
O momento atual nos leva a um distanciamento da comunicação não verbal, porque acredita-
mos que tudo pode ser explicado de forma clara e precisa por meio de textos, voz e, mais recen-
temente, emojis. Todavia, quem pensa dessa forma esquece que somos humanos e que nossa
natureza, isto é, nossos ins�ntos estão presentes em nossa vida e têm uma importância enorme
em nosso comportamento. Disso resulta uma das razões pelas quais dedicamos esta Unidade de

UNIDADE 01
nossa disciplina a estudar alguns aspectos relevantes das técnicas e caracterís�cas da comunica-
ção não verbal, que, por ser bastante ampla, demandaria muito mais tempo se desejássemos nos
aprofundar no assunto.
De todo modo, as lições aprendidas poderão ajudá-lo(a) a ter uma visão mais ampla e mais clara
da comunicação não verbal, sobretudo no que diz respeito ao ambiente corpora�vo – isto é, a em-
presa na qual você atua (ou atuará). O estudo da comunicação permite que você entenda melhor o

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comportamento alheio e saiba lidar até com certas situações mais complexas, como as de conflitos.
Obrigado pela companhia, e até a Unidade 2!

ANOTAÇÕES

21
UNIDADE

02
COMUNICAÇÃO
ORAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
» Compreender o desenvolvimento da comunicação oral no processo de evolu-
ção humana;
» Entender os aspectos inerentes à comunicação oral;
» Iden�ficar caracterís�cas similares e não similares entre os diversos �pos de
comunicação;
» Aprender técnicas adequadas de comunicação oral em diversos contextos do
co�diano.

VÍDEOS DA UNIDADE

https://qrgo.page.link/wXDsQ https://qrgo.page.link/EP84N https://qrgo.page.link/NvU47


INTRODUÇÃO
Olá, amigo(a)!
Chegamos à Unidade 2, a segunda de quatro etapas que percorreremos. Na Unidade anterior,

UNIDADE 02
aprendemos muito sobre comunicação não verbal, um �po de comunicação geralmente negligen-
ciado, mas que tem grande importância para as pessoas, seja na vida pessoal, seja na profissional.
Agora vamos falar de um �po de comunicação que é bastante valorizado, a comunicação oral.
É importante ressaltar que essa é uma das formas mais an�gas de comunicação, juntamente com
a comunicação não verbal, já que ambas são mais primi�vas que o texto escrito. Não por acaso,
aprendemos a falar antes de escrever, pois nosso cérebro assimila a linguagem oral muito antes de

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codificá-la em forma de letras, palavras e frases.
Nesta Unidade vamos começar tratando de aspectos históricos para que você perceba como foi
o desenrolar da comunicação oral e o quanto ela foi essencial para o desenvolvimento dos seres
humanos. Você terá a possibilidade de constatar, por exemplo, que a comunicação verbal foi indis-
pensável para que evoluíssemos mais do que outras espécies.
Também serão dadas explicações sobre aspectos conceituais da comunicação oral, já que você
precisa entender em profundidade o que ela é e como se realiza. Ainda, teremos a oportunidade
de trabalhar diversas aplicações dessa comunicação em ambientes profissionais, inclusive apre-
sentando pesquisas de grandes estudiosos da área de comunicação do Brasil e do mundo, para
que sua formação seja a melhor possível.
Inclusive, faremos um estudo sobre técnicas de oratória, já que essa é uma habilidade que qual-
quer profissional precisa ter neste século XXI. Embora a tecnologia esteja cada vez mais presente
na vida das pessoas, ela não subs�tui a capacidade humana de expressar-se em público, seja em
grupos pequenos, seja para grandes plateias. Não nos aprofundaremos nas técnicas necessárias
para um bom orador, mas você terá uma visão bastante completa do tema oratória, que, inclusive,
não diz respeito apenas a falar para mul�dões ou discursos oficiais.
Assim sendo, você estará capacitado(a) a compreender uma ampla gama de informações ne-
cessárias para se comunicar adequadamente, com diversos �pos de pessoas, nas mais variadas
situações.
Sem mais assuntos introdutórios, vamos aos estudos!

1. A COMUNICAÇÃO ORAL HUMANA


A comunicação oral é uma das melhores maneiras de expressar algo a alguém. Pelo uso diário e
recorrente, não paramos para perceber o quanto ela nos faz ajuda em nosso dia a dia. Como tudo
aquilo que é ubíquo – ou seja, presente em quase todos os lugares e em todos os momentos –, só
percebemos o quanto a comunicação oral é importante quando ela não está disponível.

23
Dada essa importância, a comunicação oral é também uma manifestação única, já que não exis-
tem dois indivíduos que se manifestam oralmente de forma absolutamente igual em um período
de tempo mais extenso. Por conta disso, algumas pessoas comparam a comunicação oral a uma
forma de expressão ar�s�ca:

UNIDADE 02
A ORATÓRIA É A MAIS TÍPICA E A MAIS GRÁFICA MANIFESTAÇÃO DA ARTE
PORQUE É A ARTE DA PALAVRA – DA PALAVRA QUE É A VESTIDURA DO PEN-
SAMENTO, DA PALAVRA QUE É A FORMA DA IDEIA, DA PALAVRA QUE É A NÍ-
TIDA VOZ DA NATUREZA E DO ESPÍRITO, DA PALAVRA QUE É TRANSPARENTE
COMO A GAZE E TÃO SONORA QUANTO O BRONZE, DA PALAVRA QUE CICIA
COMO A AURA E TROA COMO O CANHÃO, QUE MURMURA COMO O ARROIE

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RUGE COMO A TORMENTA, QUE PRENDE COMO O IMÃ E FULMINA COMO O
RAIO, QUE CORTA COMO A ESPADA E CONTUNDE COMO A CLAVA, QUE FOTO-
GRAFA COMO O SOL E ACADINHA COMO O FOGO; DA PALAVRA QUE OSTENTA
A MAJESTADE DA ARQUITETURA, O RELEVO DA ESCULTURA, O MATIZ DA
PINTURA, A MELODIA DA MÚSICA, O RITMO DA POESIA, E QUE, POR SEUS
RENDILHADOS E RIQUEZAS, POR SUAS GRAÇAS E OPULÊNCIAS, ACLAMA A
ORATÓRIA, RAINHA DAS ARTES, E O ORADOR – REI DOS ARTISTAS!
(MENDES, 2006, p. 19)

FIGURA 1 – A COMUNICAÇÃO ORAL É ESSENCIAL PARA O SER HUMANO.

Fonte: Shu�erstock (2020).

1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA COMUNICAÇÃO ORAL E VERBAL


DOS SERES HUMANOS
É comum pensarmos na história com base em períodos de tempo nos quais ocorreram mudanças
mais significa�vas no comportamento humano. Arqueólogos e outros estudiosos costumam dividir
a história humana em diferentes períodos, como Paleolí�co, Mesolí�co e Neolí�co. Cada uma delas

24
é marcada por caracterís�cas fundamentais para a evolução do homem, como a confecção de fer-
ramentas e de tecnologias. No entanto, nessas divisões muitas vezes não é explicado um aspecto
fundamental: o quanto a capacidade humana de comunicar-se foi determinante para a evolução.
Para DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 22), foram justamente as capacidades de trocar, registrar
e difundir informações que “habilitaram a sucessão de formas hominídeas, surgidas durante eras

UNIDADE 02
de evolução, a cada vez mais meditar, inventar, acumular e transmi�r aos demais soluções originais
para o problema de viver”. Ainda de acordo com os autores:

OS SIGNIFICATIVOS E CADA VEZ MAIS ACELERADOS AVANÇOS DA CIVILIZAÇÃO


ALCANÇADOS PELO HOMO SAPIENS SAPIENS DURANTE OS ÚLTIMOS 40 MIL ANOS

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DEPENDERAM MAIS DE SEUS DOMÍNIOS DOS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO DO
QUE DOS MATERIAIS COM QUE FABRICARAM FERRAMENTAS. [...] FOI A CRESCENTE
CAPACIDADE PARA COMUNICAR-SE CABAL E PERFEITAMENTE QUE LEVOU AO
DESENVOLVIMENTO CRESCENTE DE COMPLETA TECNOLOGIA, E A MITOS, LENDAS
EXPLICAÇÕES, LÓGICA, HÁBITOS, E A REGRAS COMPLEXAS PARA O COMPORTAMEN-
TO QUE POSSIBILITARAM A CIVILIZAÇÃO. A HISTÓRIA DA EXISTÊNCIA HUMANA, POIS,
DEVE SER MAIS ADEQUADAMENTE EXPLICADA POR UMA TEORIA DE TRANSIÇÕES
– ISTO É, EXPLICADA EM FUNÇÃO DE ETAPAS DISTINTAS NO DESENVOLVIMENTO DA
COMUNICAÇÃO HUMANA, CADA UMA DAS QUAIS TEVE PROFUNDAS CONSEQUÊN-
CIAS TANTO PARA A VIDA INDIVIDUAL QUANTO PARA A COLETIVA E SOCIAL.
(DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 22)

FIGURA 2 – A COMUNICAÇÃO ORAL NA PRÉ-HISTÓRIA POSSIBILITOU A EVOLUÇÃO HUMANA.

Fonte: Shu�erstock (2020).

25
As afirmações de DeFleur e Ball-Rokeach alçam a comunicação a um novo patamar na história
da humanidade, porque a elevam a uma condição indispensável para o estabelecimento da civi-
lização. Ademais, os autores sugerem que a história humana seja dividida em Eras ou Idades, nas
quais as mudanças nas formas de comunicação determinaram o avanço da civilização.
Desse modo, DeFleur e Ball-Rokeach (1993) começam com a Era dos Símbolos e Sinais, a mais

UNIDADE 02
an�ga de todas. Ela remonta ao período dos nossos ancestrais mais primi�vos, que sequer anda-
vam eretos. A princípio, esses seres pré-humanos se comunicavam como o fazem outros mamífe-
ros. À medida que a capacidade do cérebro humano foi aumentando, houve uma lenta progressão
nas manifestações de comunicação. Todavia, salientam os autores, passaram-se milhões de anos
até ser possível “adotar pelo menos alguns gestos, sons e outros �pos de sinais padronizados – isto
é, aprendidos e compar�lhados – que pudessem ser u�lizados por gerações sucessivas para se de-

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dicarem às trocas básicas necessárias a uma vida social” (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 23).
Essas manifestações, no entanto, não podem ser caracterizadas como fala, já que não havia
uma expressão similar à que realizamos atualmente como comunicação oral. Exis�am naquele
período grunhidos, berros e posturas corporais que indicavam determinados elementos de sobre-
vivência, como comida, predadores e caçadas, mas ainda de forma incipiente e primi�va.
Com o passar dos anos e as mudanças fisiológicas no corpo, iniciou-se a Idade da Fala e da Lingua-
gem, em torno de 90 a 40 mil anos atrás, com o aparecimento do Cro-Magnon, uma nova forma de
Homo sapiens (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). A ciência ainda não tem evidências claras do que
possibilitou o surgimento do Cro-Magnon, tampouco de como a fala tornou-se comum nesse grupo.
O fato é que após esse momento o ritmo da evolução mudou dras�camente, a ponto de possibilitar
o surgimento da Era da Escrita, há aproximadamente 5 mil anos. Isso ocorreu em diversas partes do
mundo e de forma independente, isto é, sem que houvesse um local onde tudo começou.
Sabe-se que os chineses e os maias criaram formas de escrita que estão entre as mais an�gas
do mundo. Porém, as mais an�gas transcrições ocorreram entre os sumérios e os egípcios, que
viviam na região atualmente conhecida como Oriente Médio, mais especificamente, na Turquia,
no Iraque, Irã e Egito.

FIGURA 3 – OS HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS ESTÃO ENTRE AS FORMAS MAIS PRIMITIVAS DE COMUNICAÇÃO ESCRITA.

Fonte: Shu�erstock (2020).

26
Depois que a escrita se tornou parte do processo de comunicação dos seres humanos, houve
outro longo caminho até a Idade da Imprensa, quando foi impresso o primeiro livro por uma má-
quina no mundo. Em 1455, na cidade alemã de Mainz, Johannes Gutenberg usou uma prensa com
�pos móveis para realizar a primeira impressão da Bíblia e, com isso, revolucionou a humanidade.
Dessa forma, a comunicação escrita tornou-se parte integrante da vida das pessoas e as mudan-

UNIDADE 02
ças ocorreram na mesma velocidade na qual as informações transitavam. De milênios passaram-se
para séculos; de séculos para décadas; e, atualmente, vemos novas formas de comunicação serem
criadas em intervalos menores que um ano.
DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 23-24), porém, fazem uma ressalva:

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A HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO HUMANA TEM SIDO DE
COMBINAÇÃO DE SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO ANTES DO
QUE SIMPLES PASSAGEM DE UM PARA OUTRO. [...] TODAS
AS PESSOAS VIVEM ATUALMENTE EM UMA SOCIEDADE
ORAL, MAS A MAIORIA ULTRAPASSOU AS LIMITAÇÕES
DESSA ETAPA AO ACRESCENTAR ESCRITA, IMPRENSA, E OS
VEÍCULOS MODERNOS DE MÍDIA. [...] ASSIM, UM PRINCÍPIO
IMPORTANTE DE SE COMPREENDER É QUE A NATUREZA DOS
PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO DE UMA SOCIEDADE ESTÁ
SIGNIFICATIVAMENTE RELACIONADA COM PRATICAMENTE
TODOS OS ASPECTOS DA VIDA DIÁRIA DE SUA GENTE.

Desse modo, podemos inferir que a comunicação oral é uma entre diversas outras formas de
comunicação, as quais nos possibilitaram a evolução em termos de espécie e, ainda, a formação de
uma civilização. Podemos inferir, também, que tudo o que somos atualmente é fruto da comunica-
ção que realizamos em nosso dia a dia, sem a qual não poderíamos representar nosso raciocínio,
nossa visão de mundo, nossos sen�mentos.
Somos fruto direto da comunicação, notadamente da comunicação oral, que deu origem à es-
crita e nos possibilitou termos história, pois “pessoas desprovidas de fala teriam uma séria limi-
tação da capacidade de transmi�r e receber conjuntos extensos e complicados de significados, a
par�r das quais se formam lendas, mitos, instruções e interpretações do mundo �sico” (DEFLEUR;
BALL-ROKEACH, 1993, p. 28).
Por fim, para compreendermos de forma mais profunda as etapas da evolução humana e a
relevância da comunicação, sobretudo a oral, nesse contexto de transição, podemos dizer que a
própria a�tude de pensar, sem a qual seríamos ainda seres pré-históricos, está in�mamente rela-
cionada com a comunicação oral: “as técnicas que empregamos para nos comunicar com os outros
são as mesmas com que nos comunicamos conosco, in�mamente. Por outras palavras, as regras
de pensamento correspondem às regras de conversação. Pensamento e raciocínio são manipula-
ções internas da linguagem” (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 29).

27
FIGURA 4 – A EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE HUMANA ATÉ A COMUNICAÇÃO MAIS RECENTE, POR MEIO DE MÁQUINAS.

UNIDADE 02
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Fonte: Shu�erstock (2020).

SAIBA MAIS
O Cro-Magnon, um �po de Homo sapiens, �nha a estrutura craniana, assim como da língua e
da laringe, exatamente como a que temos hoje em dia. Evidentemente, esses indivíduos �nham
capacidade para falar e hoje resta pouca dúvida de que o fizeram. Assim, a fala e a linguagem
parecem ter se originado entre 35 e 40 mil anos atrás, entre pessoas que fisicamente se pareciam
com os seres humanos de hoje.

2. O QUE É E COMO SE REALIZA A


COMUNICAÇÃO ORAL NAS
RELAÇÕES HUMANAS
Comunicação oral é o processo de expressar informações ou ideias por meio da expressão da
linguagem falada (EUNSON, 2018). De acordo com manual da Secretaria da Educação do Ceará,
“u�liza-se a linguagem oral ou escrita para o estabelecimento do contato. Costuma ser o instru-
mento preferido de comunicação. Envolve ritmo, tom, entonação da voz” (CEARÁ, 2017). No ho-
mem, a expressão oral faz parte do uso de uma faculdade inata que o capacita para ar�cular os
sons de modo sistemá�co e comunicar-se.
Comunicar-se adequadamente por meio da fala é uma das capacidades mais importantes do
ser humano, nas mais variadas circunstâncias. Por meio da comunicação oral, as pessoas podem
falar a verdade, emi�r opinião, convencer alguém, ensinar alguém, sugerir mudanças, enfim, as-
pectos posi�vos da vida social. Todavia, também pode-se usar da linguagem falada para men�r,
ludibriar, enganar, associar-se de forma maliciosa, trair, enganar, falsear, corromper.

28
Apesar dessa grande relevância, existem muitas pessoas que apresentam dificuldades na comu-
nicação oral. Medo, insegurança e sen�mento de incapacidade são algumas das sensações mais
recorrentes. Isso ocorre por várias razões, como traumas ou apenas por falta de treino. Alguns
indivíduos, inclusive, acreditam que não conseguirão nunca falar bem em público, simplesmente
porque não tem o dom... Isso mesmo! Pensam que lhes falta uma habilidade atávica, isto é, natu-

UNIDADE 02
ral, de algumas pessoas que nasceram predispostas a se comunicar bem de forma oral. Se esse for
o seu caso, não se preocupe: não é nada disso!
Polito (2006) defende que falar em público é uma habilidade passível de aprendizado, ou seja,
é possível superarmos nossas dificuldades para nos expressarmos adequadamente em público,
da mesma maneira como podemos aprender a andar de bicicleta. Para tanto, conforme Polito, é
preciso técnica, determinação e perseverança e jamais acreditarmos que somos incapazes.

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Eu costumo comparar a técnica de falar bem em público a ser empreendedor. Assim como ocor-
re com a oratória, muitos pensam que o empreendedorismo é algo ina�ngível aos “meros mortais”
e que os empreendedores bem-sucedidos são como deuses ou super-heróis, que nasceram pre-
des�nados ao sucesso. Nada a ver esse pensamento!
Homens e mulheres que marcaram seu nome na história como empreendedores de sucesso
também passaram por muitos problemas, sen�ram medo e insegurança, falharam e depois se
reergueram, mas jamais pensaram que eram incapazes de realizar determinadas tarefas. Uma
dessas pessoas foi Steve Jobs, o criador da Apple, empresa mais valiosa do mundo.

FIGURA 5 – QUEM CONHECE A HISTÓRIA DA APPLE SABE


COMO FOI DIFÍCIL TRANSFORMÁ-LA NO QUE ELA É HOJE.

Fonte: Shu�erstock (2020).

29
REFLITA
Você tem medo?
Se o medo é uma caracterís�ca humana, portanto, inerente à nossa condição, precisamos saber

UNIDADE 02
lidar com ele.
Sendo assim, procure pensar que há formas de vencer esse receio que, às vezes, paralisa as pesso-
as. Procure se espelhar em pessoas que já venceram esse desafio e observe a maneira como elas
fizeram. Isso vai lhe trazer ânimo e também indicar um caminho a seguir.

2.1 ENFRENTANDO O MEDO

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Caso você ainda esteja inseguro, acreditando que não é capaz de se tornar um bom orador, ou
acredita que ainda não está totalmente pronto para vencer seus desafios, recomendo a primeira
lição: vença seu medo! Antes, porém, de tratarmos de técnicas, pense que o medo dificilmente
será totalmente superado.
Você deve estar pensando: “Como assim, professor? Você diz que preciso vencer o medo e
depois fala que nem sempre ele será totalmente superado! O que está acontecendo?”. Calma.
Acompanhe meu raciocínio.
O medo é algo inato ao ser humano desde que nos conhecemos por gente. Aliás, ele nos acom-
panha desde a Pré-História. O medo é necessário na nossa vida, pois sem ele já teríamos morrido
atropelados, por exemplo, porque atravessaríamos a rua de modo totalmente inconsequente e
sem julgar os riscos. Compete a nós controlarmos o medo, buscarmos formas de minimizá-lo, so-
bretudo quando o momento nos obriga a isso, como em uma apresentação oral no trabalho ou em
um curso, em que precisamos apresentar resultados de um estudo.
Eu sou professor há muito tempo. Comecei dando aulas com apenas 18 anos. Já dei aula desde
a alfabe�zação de adultos até em curso de mestrado e doutorado. Sou jornalista e trabalhei por
19 anos em emissoras de TV. Fui repórter em nível FIGURA 6 – VENCER O MEDO É A PRIMEIRA
nacional e apresentei inúmeros telejornais ao vivo. ETAPA PARA FALAR BEM EM PÚBLICO.
Mas mesmo depois de tudo isso, ainda sinto medo!
“Sério, professor?!”, você pode estar pensando. Pois
é... Sinto medo, por exemplo, quando vou dar aula
e não conheço ninguém da turma. Ou, ainda, quan-
do vejo muitos alunos me olhando com feição de
Fonte: Shu�erstock (2020).

descontentamento e receio: “Quem é esse cara que


veio dar aula para a gente?”, muitos pensam. O que
faço? Bem, eu me controlo, faço minhas orações
(geralmente quando dou palestras para centenas de
pessoas ou em transmissões ao vivo pela televisão
e pela internet) em silêncio, e enfrento meu medo!

30
Se não é possível acabar com o medo, e sim controlá-lo, precisamos nos dotar de determinadas
ferramentas e informações. De acordo com Polito (2006), é importante seguir cinco recomenda-
ções, expostas a seguir.
1. Conheça o assunto em profundidade.

UNIDADE 02
A primeira sugestão do autor é obter conhecimento o máximo possível sobre o assunto do qual
irá tratar:

SAIBA MAIS DO QUE DEVERÁ EXPOR – SE PRECISAR FALAR DURANTE UMA


HORA, PREPARE PELO MENOS UMA HORA E MEIA OU ATÉ DUAS HORAS DE FALA
A RESPEITO DAQUELE ASSUNTO. É PRECISO CONHECIMENTO SOBRE O ASSUNTO

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PARA QUE VOCÊ TENHA TRANQUILIDADE E FALE COM CONFIANÇA.

SAIBA TAMBÉM ORGANIZAR A SEQUÊNCIA DA APRESENTAÇÃO. DIVIDA SUA EXPO-


SIÇÃO EM QUATRO OU CINCO ETAPAS E TENHA CONSCIÊNCIA DAS INFORMAÇÕES
QUE DEVERÃO COMPOR CADA UMA DELAS. CONHECER E DOMINAR A SEQUÊNCIA
DA APRESENTAÇÃO DÁ MAIS CONFIANÇA E AJUDA A DOMINAR O MEDO.
(POLITO, 2006, p. 37)

Acrescento um comentário que frequentemente ouço dos meus alunos: “Professor, eu me pre-
paro bem para as apresentações, como nos seminários, mas na hora alguma coisa sempre dá
errado: eu gaguejo, alguém faz uma pergunta, ou o professor da disciplina me olha com cara feia”.
Minha recomendação é taxa�va:
» Gaguejou? Peça desculpas e con�nue sua fala.
» Alguém perguntou algo que você não sabe? Fale a verdade e diga que não tem resposta para
aquela pergunta em específico, porém, não deixe a pessoa completamente sem informação e
procure exemplificar algo parecido. Por exemplo, se você está falando sobre redes sociais e al-
guém quer saber de uma ferramenta nova, fale que ainda não conheceu essa nova ferramenta,
mas explique como funciona outra ferramenta recente de que você tem conhecimento.
Se você não faz nem ideia do que a pessoa está perguntando, diga que desconhece aquele
assunto, mas que ele pode ser interessante em determinado contexto. Por exemplo, se você está
dando uma aula sobre cinema e alguém lhe pergunta de um filme do qual nunca ouviu falar, diga
que o filme citado pode ser interessante e dê outro exemplo de filme que seja bom. O importante
é que a plateia perceba que você não está “perdido” no assunto. Seus ouvintes estão conscien-
tes de que o orador não é obrigado a saber tudo sobre o assunto. Ademais, algumas pessoas
vão lhe fazer perguntas apenas para deixá-lo em uma “saia-justa”, isto é, uma situação delicada,
embaraçosa. Isso acontece muito em situações nas quais alguém da plateia não se iden�fica com
o orador e quer desmoralizá-lo em público. Embora não seja nada agradável, isso já aconteceu
comigo e fatalmente poderá ocorrer com você, em algum momento da sua vida em que fizer uma
apresentação oral. Pode ser um colega de sala que não gosta de você e vai tentar desestabilizá-lo

31
na frente da sala, um aluno que não gosta do professor, um colega de trabalho que quer mostrar
conhecimento ao chefe prejudicando o outro, e até em cultos religiosos, nos momentos de refle-
xão em conjunto. O mais importante é sempre manter a calma e seguir em frente com paciência e
serenidade. Não se deixe abater.

UNIDADE 02
FIGURA 7 – AS PERGUNTAS MUITAS VEZES SÃO DELICADAS E EXIGEM JOGO DE CINTURA DO ORADOR.

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Fonte: Shu�erstock (2020).

» Alguém da plateia olhou com desconfiança para você? Encare isso com naturalidade e tranquili-
dade. É natural que fiquemos preocupados, mas tente não externar isso à plateia, porque pode
gerar novas situações nega�vas para você, orador.
Eu u�lizo duas técnicas que são muito boas nessas circunstâncias. A primeira é você simples-
mente não olhar para essa pessoa. Se forem poucas pessoas e não for possível desviar o olhar, olhe
para ela com firmeza e convicção, mostrando que você tem confiança naquilo que está dizendo.
A segunda exige um pouco mais de coragem: eu uso aquela pessoa como exemplo para algo que
esteja dizendo em sala. Por exemplo: estou falando sobre é�ca no trabalho e me refiro a essa pes-
soa que olhou com cara feia para mim, dizendo: “Você deve ser um profissional muito correto em
seu trabalho, não é mesmo?”. Ele(a) provavelmente responderá: “Com certeza!”. Então afirmo:
“Ó�mo, então não se esqueça de que a é�ca...”. Eu uso a pessoa dele como uma forma de ressaltar
aquilo que é correto e justo, o que todos buscam. Assim, o indivíduo perceberá que estou do lado
dele e não contra ele; logo, provavelmente, deixará de me olhar com olhar de reprovação e passará
a acenar posi�vamente com a cabeça a cada fala minha.

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FIGURA 8 – É PRECISO ESTAR PREPARADO PARA LIDAR COM
SITUAÇÕES ADVERSAS EM APRESENTAÇÕES ORAIS.

UNIDADE 02
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Fonte: Shu�erstock (2020).

2. Pratique o máximo que puder, para adquirir experiência.


Segundo Polito (2006), a prá�ca é fundamental para vencer o medo, já que, ao passar por va-
riadas situações, a pessoa vai adquirindo confiança em suas ações. O autor sugere que o futuro
orador aproveite oportunidades como reuniões na igreja, na escola ou até em família, para pra�car
a habilidade de falar em público.
3. Identifique suas qualidades.
Polito (2006) assevera que todos nós temos virtudes e também defeitos. No entanto, tendemos
a acentuar nossos defeitos, dando mais importância a eles do que àquilo que fazemos bem. Assim,
o autor mostra que é importante percebermos aquilo que já fazemos bem, para poder potenciali-
zar essas virtudes. Por exemplo, se você tem boa memória e a plateia não é tão extensa, pergunte
o nome dos par�cipantes e procure referir-se a eles pelo nome no momento da sua explanação.
Isso tem um efeito “mágico” para muitas pessoas, porque dá a sensação de proximidade e relevân-
cia (“Olha, ele sabe meu nome!”, muitos pensarão).
4. Encare o medo e controle seu nervosismo.
A melhor maneira de controlar o medo é tentando. Não existe uma forma eficaz se você não
der o primeiro passo. É a �pica situação na qual palavras ajudam, mas não resolvem a situação.
Daí a razão pela qual Polito (2006) recomenda que você pra�que o máximo que puder, nas mais
variadas circunstâncias.
Outro jeito de vencer o medo sem necessariamente falar em público é falando diante do espelho
em voz alta, ou gravando sua fala com o auxílio de uma câmera ou um smartphone e, depois, assis-

33
�ndo para iden�ficar suas falhas. Eu recomendo muito esse método de gravar sua apresentação,
porque ele é melhor do que o espelho. Diante do espelho não é possível que o orador observe todos
os gestos e trejeitos que realiza e, ao mesmo tempo, fazer uma boa apresentação. Só por meio da
gravação é que a pessoa poderá voltar diversas vezes e observar com cautela tudo o que ela fez.

UNIDADE 02
FIGURA 9 – PRATICAR A ORATÓRIA NA FRENTE DO ESPELHO PODE AJUDÁ-LO A PERDER O MEDO.

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Fonte: Shu�erstock (2020).

5. Adote uma atitude positiva e sem vícios.


Essa recomendação lembra muito o que vimos na Unidade 1 desta disciplina, sobre a comunica-
ção não verbal. Polito (2006) sugere que o orador busque sempre ter uma a�tude posi�va diante
da plateia, posicionando-se adequadamente e sempre se preocupando com a comunicação que se
realiza por meio de gestos, expressões e ações do nosso corpo.
Como já tratamos bastante sobre esses aspectos relacionados à comunicação não verbal, vou
me ater ao outro fator que o autor sugere: não ter vícios. Esses vícios seriam a�tudes e posturas
equivocadas que criam uma imagem nega�va do orador. Por exemplo, permanecer por longos
períodos com a mão no bolso ou olhando para o teto. Geralmente são sintomas do nosso nervo-
sismo e que precisam ser comba�dos de qualquer maneira, pois eles prejudicam demasiadamente
a exposição do orador.
A melhor maneira de evitar os vícios é repelindo-os, isto é, observando, controlando e afas-
tando essas a�tudes. Como elas são persistentes e geralmente inconscientes, será preciso muita
perseverança para o orador iden�ficar esses problemas e controlá-los no tempo certo e da forma
apropriada. Mais um mo�vo para você gravar suas apresentações e assis�-las posteriormente, ob-
servando todos os aspectos nega�vos e procurando saná-los o mais brevemente possível.

34
3. TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO ORAL –
ORATÓRIA

UNIDADE 02
Agora que você já venceu ou reduziu seus medos, está na hora de assimilar algumas técnicas
essenciais de comunicação oral.

3.1 MEMÓRIA
Uma boa memória tem grande importância para um orador, pois:

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PRECISARÁ RECORRER A ELA A FIM DE RECORDAR AS IDEIAS E ORDENÁ-LAS
ENQUANTO FALA; LEMBRAR-SE DAS PALAVRAS PRÓPRIAS PARA TRADUZIR E
DAR FORMAS AO PENSAMENTO; REPRODUZIR AS IMAGENS OBSERVADAS AO
LONGO DA VIDA E TÃO PRECIOSAS NA COMPOSIÇÃO DOS DISCURSOS; TRAZER
À LEMBRANÇA NÚMEROS, DATAS, ESTATÍSTICAS E POSIÇÕES MATEMÁTICAS
QUE PROVARÃO OU TORNARÃO CLARAS SUAS AFIRMAÇÕES.
(POLITO, 2006, p. 49)

Em suma, a memória é essencial para realizarmos boas apresentações orais. Contudo, não po-
demos confiar totalmente no poder da memória, pois, às vezes, ela falha, sobretudo quando esta-
mos nervosos e mais precisamos dela. Esse é o famoso “branco”, que nada mais é do que o ner-
vosismo aliado a estresse, medo e outras sensações ruins que nos impedem de lembrar de fatos
e palavras importantes. Fora o fato de que algumas pessoas têm memória melhor do que outras,
e, caso estejamos nesse grupo dos menos privilegiados em termos de capacidade de recordação,
não podemos fazer nada a respeito.
Se você está entre aqueles que têm di- FIGURA 10 – É INDISPENSÁVEL TER UM MEIO IMPRESSO
ficuldade para memorizar as coisas e ainda OU AUDIOVISUAL DE APOIO NA APRESENTAÇÃO.
padece do famoso “branco”, existem solu-
ções. Uma delas é se preparar fazendo um
roteiro, o qual muitas vezes dá lugar a uma
apresentação, por exemplo, em PowerPoint
(ppt). Caso não seja possível fazer a apre-
sentação nesse formato, faça um roteiro
impresso em um papel. Não há problema
algum. O que você não pode é prescindir
totalmente de um meio para ajudá-lo a se
lembrar dos pontos mais importantes da
sua exposição. Fonte: Shu�erstock (2020).

35
3.1.1 ELABORAÇÃO DE ROTEIRO
As apresentações, de modo geral, seguem uma lógica cronológica representada por início, meio
e fim. É uma estrutura bastante u�lizada desde quando aprendemos a escrever os primeiros textos
disserta�vos, no Ensino Fundamental, pois apresenta uma sequência clara dos fatos que possibilita o
entendimento por parte do público de forma rápida e geralmente sem atropelos. Acompanhe a seguir.

UNIDADE 02
1. Introdução
Apresente uma ou duas frases bastante sinté�cas sobre o assunto que será trabalhado ao
longo da sua fala. Caso faça uma apresentação usando PowerPoint ou programa similar, não
se esqueça de colocar seu nome e sua função.

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2. Preparação
Apresente os tópicos principais da sua fala de forma bastante sinté�ca. Nunca escreva pa-
rágrafos inteiros em sua apresentação, exceto se for um discurso ou pronunciamento oficial.
Caso contrário, faça esse roteiro sempre em forma de tópicos, já que o obje�vo é lembrar
dos fatos, e não realizar uma leitura em voz alta para os outros.
3. Assunto central
Como o próprio nome diz, é a parte central da sua fala, o momento em que você expõe
seus argumentos sobre determinado assunto. Por ser a parte mais elaborada, é também a
mais longa, já que é necessário ampla argumentação. Caso fosse uma redação, seria a parte
do desenvolvimento do raciocínio. Aliás, na comunicação oral também há o desenvolvimen-
to do assunto, no qual são divididos os tópicos mais relevantes a serem apresentados.
Nesse momento o orador cita diversos exemplos e u�liza seu conhecimento para expla-
nar e apresentar suas ideias à plateia. Embora não percebamos, fazemos isso o tempo todo,
todos os dias, quando precisamos explicar algo a alguém, principalmente no trabalho, onde
realizamos tarefas coordenadas e planejadas.
4. Conclusão
Nesse momento o orador, geralmente, faz uma síntese do que explanou ao longo da sua
fala e/ou apresenta um caminho, uma solução, para determinado problema apresentado. É
recomendável que o orador se posicione e informe à plateia o ponto de vista dele, ainda que
o assunto seja polêmico e possa causar certo desgaste de sua imagem.
Muitos alunos me perguntam em meus cursos de comunicação oral se é adequado o
orador se posicionar mesmo em temas altamente delicados, como eutanásia, religião, abor-
to e polí�ca. Posso assegurar a vocês que sim. Já ouvi em diversas palestras que faço pelo
país pessoas comentando comigo que não gostam quando um palestrante “fica em cima do
muro”. Elas argumentam que foram até lá para ouvir o que o palestrante tem a dizer, logo,
querem sabe o que ele pensa, independentemente de concordarem ou não!

36
VÍDEO

Reinaldo Polito é um grande especialista em comunicação oral no Brasil. Caso você queira ver
um material sinté�co e interessante sobre o assunto, assista ao vídeo em que Polito apresenta

UNIDADE 02
algumas dicas para ajudá-lo(a) a melhorar a sua comunicação interpessoal. Vale a pena conferir!
DICAS para conversar bem e ser agradável – Reinaldo Polito. TV Uol, 22 maio 2018. Disponível em:
h�ps://bit.ly/3je5hlc. Acesso em: 18 set. 2019.

3.2 HUMOR

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Por mais di�cil que as coisas estejam, ninguém gosta de pessoas pessimistas e mal-humoradas.
Às vezes, estamos preocupados e sem disposição para rir, mas também não queremos interagir
com pessoas que apenas enxergam sombras. Pense no seguinte diálogo: Você diz: “Nossa, olha
que dia bonito!”. Seu colega afirma: “Tá bonito, mas logo, logo, vai ficar feio...”. Desanimador, não
é mesmo?
Por outro lado, há uma linha tênue entre bom-humor e bobagem sem sen�do ou, pior, agressão aos
outros. Como a linha que separa esses aspectos são altamente mutáveis e desconhecidas em muitas
circunstâncias, recomendo que você meça muito bem suas palavras caso queira fazer uma brincadeira
em público. Aquilo que para você é engraçado, pode ser uma grande ofensa a outra pessoa!

FIGURA 11 – A FRONTEIRA ENTRE O CONTENTAMENTO E O DESCONTENTAMENTO É MUITO ESTREITA.

Fonte: Shu�erstock (2020).

37
Em decorrência dessas dificuldades, o humor é uma das habilidades mais preciosas e di�ceis
de se encontrar nos oradores. Não por acaso, você ri ou não gosta de determinada brincadeira. É
di�cil haver meio-termo quando se trata de humor.
O melhor mesmo é fazer um teste com sua plateia. Faça um comentário e veja como as pessoas
reagem. Se elas sorrirem, ainda que seja �midamente, há espaço para o humor. Caso as pessoas

UNIDADE 02
fiquem o tempo todo sérias, independentemente do que você diga, mantenha a seriedade também.
Uma técnica que eu uso para “testar” a plateia é a seguinte: faço um comentário deprecia�vo
sobre mim mesmo quando digo determinada bobagem durante a apresentação. Por exemplo:
se pronuncio “lalanja” em vez de “laranja”, logo digo: “Estou parecendo o Cebolinha da Turma
da Mônica”. Se as pessoas acharem diver�do é porque gostam da Turma da Mônica, como eu, e
consideraram bacana meu comentário. Caso não se iden�fiquem, não falo mais nada a respeito e

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sigo minha apresentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade 2, tratamos de conteúdos relevantes sobre a comunicação oral. Vimos, inicial-
mente, alguns aspectos históricos, e você pôde perceber o quanto a comunicação sempre foi fun-
damental para o ser humano, sobretudo a comunicação feita verbalmente, que nos possibilitou
realizar a�vidades mais complexas, como a criação de tecnologias, e ainda nos trouxe a chance de
termos uma história!
Também fizemos um estudo aprofundado sobre conceitos, obje�vos e caracterís�cas da comuni-
cação oral. Vimos como realizar uma boa apresentação oral e estudamos técnicas de oratória, que
é um dos elementos mais revelantes na comunicação oral. Apesar da importância da tecnologia em
nossas vidas, a comunicação interpessoal de forma oralizada con�nua exercendo um papel fulcral.
Outro aspecto que desejo destacar é a importância de você pra�car os exercícios que fazem
parte desta Unidade e, ainda, procurar, sempre que possível, usar as técnicas de oratória para falar
em público. Não se esqueça de que falar bem em público não é uma habilidade restrita àqueles
que têm “dom” e que qualquer pessoa pode aprender técnicas úteis para sua oratória. Perseve-
rança e coragem são habilidades imprescindíveis para o bom orador, que, acima de tudo, acredita
em si mesmo e no seu potencial.
Em breve, começaremos a tratar da comunicação escrita, mas isso é outro assunto.
Obrigado pela companhia, e até a próxima Unidade!

ANOTAÇÕES

38
UNIDADE

03
LER E ENTENDER:
O TEXTO E O
SIGNIFICADO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

» Entender como ocorre a interação autor-texto-leitor;


» Vislumbrar os mecanismos de produção de sen�do por meio da leitura;
» Compreender a importância da contextualização para o autor e o leitor;
» Constatar os fatores que mais interferem na compreensão da leitura.

VÍDEOS DA UNIDADE

https://qrgo.page.link/CWCXX https://qrgo.page.link/inbXS https://qrgo.page.link/ERPs5


INTRODUÇÃO
Olá, amigo(a)!
Chegamos à Unidade 3 da nossa gloriosa disciplina de Nivelamento de Português, que busca

UNIDADE 03
ajudá-lo(a) a se expressar melhor, tanto por meio dos seus gestos e expressões involuntárias – co-
municação não verbal – quanto pela elaboração de textos mais complexos e até eruditos.
Aliás, nesta Unidade vamos começar a trabalhar uma das formas de comunicação mais bem
elaboradas do ser humano e também a mais desafiadora para muitos alunos: o texto escrito.
Você viu anteriormente que a comunicação por escrito é a mais “jovem que existe”. Primeiro

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nossos ancestrais aprenderam a sussurrar, emi�r ruídos e sons aparentemente desconexos, como
fazem os animais, por exemplo, os macacos. Depois vimos que, por razões ainda um tanto desco-
nhecidas, o Homo sapiens começou a falar e a se expressar de forma mais refinada, o que lhe per-
mi�u grandes saltos evolu�vos, a ponto de, nos dias atuais, compormos uma sociedade complexa
e civilizada.
Por fim, surgiu a comunicação escrita, quando desenvolvemos um alfabeto, com letras que,
unidas, significam palavras, as quais formam frases, que, por sua vez, possibilitam a composição
de parágrafos e textos diversos. Isso capacitou o ser humano para a criação da ciência, com a qual
atualmente realizamos grandes feitos e criamos uma civilização, cuja caraterís�ca marcante é a
comunicação rápida e instantânea, por meio de máquinas computacionais.
Assim, nesta Unidade vamos iniciar discorrendo sobre como nós humanos reagimos àquilo que
chamamos de textos, isto é, um conjunto de letras, palavras, frases, parágrafos, que trazem uma
quan�dade razoável de informações e nos possibilitam reflexões muito além do que era possível
aos nossos ancestrais das cavernas.
Falaremos muito também sobre produção de sen�do, já que um texto é escrito para trazer
sen�do a alguém ou algumas pessoas. Aliás, o sen�do do texto é um dos aspectos mais relevantes
para nós, visto que é capaz de formar opinião.
Todavia, proporcionar sen�do é um desafio, porque o significado está relacionado também com
cada leitor e seu histórico, isto é, as pessoas tendem a interpretar o texto de formas dis�ntas, de
acordo com sua visão de mundo. Um dos aspectos que veremos aqui é como isso ocorre e o que
podemos fazer para, ao menos, atenuar os efeitos nefastos que um texto possa trazer.
Então, vamos aos estudos!

1. TEXTO E SIGNIFICADO
A compreensão de leitura é a capacidade de processar o texto, entender seu significado e in-
tegrar-se com o que o leitor já sabe (GRABE, 2009). Para en�dades governamentais de educação

40
vinculadas ao processo de ensino e leitura, como o Comitê de Ciências da Aprendizagem do Conse-
lho Nacional de Pesquisa norte-americano (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2012), as habilidades
fundamentais exigidas na compreensão eficiente da leitura são:
» O conhecimento do significado das palavras;

UNIDADE 03
» A capacidade de entender o significado de uma palavra com base no contexto do discurso;
» A capacidade de seguir a organização de um trecho do texto e iden�ficar antecedentes e refe-
rências nele;
» A capacidade de extrair inferências de um trecho do texto sobre seu conteúdo;
» A capacidade de iden�ficar o pensamento principal de um trecho do texto;

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» A capacidade de responder perguntas a respeito de um trecho do texto;
» A capacidade de reconhecer os disposi�vos literários ou estruturas proposicionais usadas em
um trecho do texto e determinar seu tom, para entender o humor situacional (agentes, obje-
tos, localização temporal e espacial, pontos de referência, inflexões casuais e intencionais etc.)
transmi�do em afirmações, ques�onamentos, ordens, abstenções, entre outros; e
» A capacidade de determinar o obje�vo, a intenção e o ponto de vista do escritor e fazer inferên-
cias sobre esse escritor (semân�ca do discurso).

FIGURA 1 – LER É UM PROCESSO COMPLEXO DE APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO.

Fonte: Shu�erstock (2020).

41
2. A INTERAÇÃO AUTOR-TEXTO-LEITOR
Vimos que a capacidade de compreender um texto é influenciada pelas habilidades do leitor
e sua capacidade de processar informações. Se o reconhecimento de palavras é di�cil, os alunos-

UNIDADE 03
-leitores usam muito de sua capacidade de processamento para ler palavras individuais, o que
interfere na capacidade de compreender o que é lido.
Existem muitas estratégias para melhorar a compreensão e as inferências de leitura, incluindo o
vocabulário, a análise crí�ca de texto (intertextualidade, eventos reais versus narração de eventos
etc.) e a prá�ca de leitura profunda (WOLF; GOTTWALD, 2016).
Para Koch e Elias (2014, p. 13),

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NO TEXTO ESCRITO, A COPRODUÇÃO SE RESUME À CONSIDE-
RAÇÃO DAQUELE PARA QUEM SE ESCREVE, NÃO HAVENDO
PARTICIPAÇÃO DIRETA E ATIVA DESTE NA ELABORAÇÃO
LINGUÍSTICA DO TEXTO, EM FUNÇÃO DO DISTANCIAMENTO
ENTRE ESCRITOR E LEITOR. NELE, A DIALOGICIDADE CONSTI-
TUI-SE NUMA RELAÇÃO “IDEAL”, EM QUE O ESCRITOR LEVA
EM CONTA A PERSPECTIVA DO LEITOR, OU SEJA, DIALOGA
COM DETERMINADO (TIPO DE) LEITOR, CUJAS RESPOSTAS E
REAÇÕES ELE PREVÊ. DESSA FORMA, AO CONTRÁRIO DO QUE
ACONTECE COM O TEXTO FALADO, CONTEXTO DE PRODUÇÃO
E CONTEXTO DE RECEPÇÃO, DE MANEIRA GERAL, NÃO COIN-
CIDEM NEM EM TERMOS DE TEMPO, NEM DE ESPAÇO, JÁ QUE
ESCRITOR E LEITOR NORMALMENTE NÃO SE ENCONTRAM
COPRESENTES. POR ISSO, O PRODUTOR DO TEXTO TEM MAIS
TEMPO PARA O PLANEJAMENTO, A EXECUÇÃO MAIS CUIDA-
DOSA DO TEXTO E A REVISÃO.

Percebemos, com base nessas ponderações, que o texto escrito não pode ser comparado com
a linguagem oral (chamada de texto falado por alguns autores, mas vamos considerar aqui o termo
linguagem oral, para não haver confusão com o texto escrito), já que esta diferencia-se, sobretu-
do, em termos de tempo e espaço, pois a comunicação oral geralmente ocorre de forma simultâ-
nea e com pessoas próximas.
Essas premissas estão passando por mudanças, por conta da evolução da Tecnologia da Infor-
mação e da Comunicação (TIC), notadamente os smartphones e os aplica�vos. Um exemplo é o
WhatsApp, amplamente usado em todo o mundo, sobretudo no Brasil, onde o aplica�vo é sucesso
absoluto. O WhatsApp e tecnologias semelhantes rompem com a premissa do espaço, já que não
há copresença, isto é, as pessoas não precisam estar no mesmo espaço-tempo para se comunicar.
No entanto, atualmente é comum, principalmente nas gerações mais jovens, as pessoas se comu-
nicarem por texto, mesmo estando próximas fisicamente umas das outras, já que passam muito
tempo do seu dia conectadas.

42
SAIBA MAIS
Hoje as redes sociais e os aplica�vos de mensagens (como o WhatsApp) estão entre os principais
canais de comunicação e também de marke�ng, já que as empresas vem tentando aproveitar

UNIDADE 03
a ampla popularidade dessas ferramentas para aumentar suas vendas. Uma das técnicas mais
usadas é o chamado marketing de conteúdo, que consiste em criar e disponibilizar informações
úteis às pessoas e também às organizações, de modo a atrair e reter clientes. No Brasil, já existem
empresas especializadas em oferecer esse �po de serviço, nesse amplo mercado que só cresce.

FIGURA 2 – O WHATSAPP É UM DOS APLICATIVOS DE MENSAGENS MAIS USADOS NO MUNDO.

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Fonte: Shu�erstock (2020).

É importante salientar, no entanto, outro aspecto tratado por Wolf e Go�wald (2016): os con-
textos em que se encontram o leitor e o escritor. Sobretudo por parte do leitor, que vai procurar
depreender algo da leitura levando em consideração aspectos subentendidos do texto, o contexto
é crucial para a interpretação das informações.
Assim, para que a comunicação se concre�ze sem ruídos, isto é, sem interferências, é o contex-
to que irá determinar o grau de entendimento do texto. Embora possa parecer que essa reflexão
se aplique a palavras conota�vas, ou seja, as mais ambíguas e figura�vas, a questão também está
vinculada a palavras denota�vas, que tratam do sen�do literal das palavras. Vejamos um exemplo
bem simples. Uma pessoa escreve: “Molhei a manga da minha camisa”. Já outra afirma: “A manga
está doce”. O leitor compreenderá que o termo manga refere-se tanto à fruta como à parte de uma

43
peça de vestuário, caso tenha aprendido anteriormente essa dis�nção. Logo, o contexto é de um
leitor ciente dessas diferenças.
O mesmo se aplica a outro exemplo: “Tenho um abacaxi no trabalho” ou “O abacaxi está ma-
duro”. Mais uma vez, há uma palavra com sen�dos diferentes. Um deles denota�vo: abacaxi é
uma fruta, logo, pode estar madura. O outro, conota�vo: abacaxi pode representar um problema,

UNIDADE 03
portanto, a pessoa afirma que tem um problema no trabalho. Portanto, o contexto interfere muito,
porque ele dá significado a palavras e expressões que isoladas podem representar algo bem dife-
rente daquilo que o escritor ou falante tentou dizer.
Ressalte-se que o entendimento do contexto no texto depende do �po de texto e da forma como
ele foi elaborado. Por exemplo, se a pessoa escreveu que tem um abacaxi no trabalho, parte-se do
princípio de que o texto trata de relações trabalhistas, de co�diano no trabalho, dos afazeres do dia

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a dia. Não há sen�do dizer que há um abacaxi no trabalho se o assunto é, por exemplo, futebol. Por
mais que o leitor saiba que o termo abacaxi pode significar problema em dadas situações, não há
uma relação aparente entre futebol e problemas no trabalho. A não ser que a pessoa que escreveu
sobre o abacaxi no trabalho seja um jogador de futebol ou árbitro, que vivem nesse contexto.
Ainda sobre o contexto, há diferentes pontos de vista por parte de alguns autores. Fiorin e Sa-
violi (2006, p. 12) afirmam: “entende-se por contexto uma unidade linguís�ca maior onde se encai-
xa uma unidade linguís�ca menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo
encaixa-se no contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no contexto da obra toda”. Já Brézillon
(1999) é cé�co. Para ele, as definições (e interpretações) não são claras porque dizem respeito a
aspectos difusos, como crenças, lista de atributos ou uma interpretação pessoal.

SAIBA MAIS

O contexto, desde há muito tempo, desempenha um papel importante em vários domínios.


Isso é especialmente verdadeiro para a�vidades que lidam com previsões e com máquinas que,
dotadas de inteligência ar�ficial, podem realizar diversas tarefas antes feitas apenas por huma-
nos. No entanto, para fazer isso, a inteligência ar�ficial precisa de um contexto, já que ela aprende
com a interação com pessoas ou outras máquinas a resolver e lidar com problemas. O problema é
transmi�r contexto para uma máquina, já que nós, seres humanos, adquirimos contexto ao longo
da vida, mas a máquina é dotada de uma limitação de informações acumuladas.
Algumas empresas estão buscando resolver essa situação melhorando o senso de contexto nos
sistemas de conversação das máquinas. Nesse sen�do, o contexto envolve muitas camadas in-
terconectadas de conhecimento acumulado que os humanos adquirem e aplicam em conversas
com pouco esforço, mas que os computadores ainda não conseguem acumular. Por exemplo: o
obje�vo de uma conversação, em que a pessoa com quem você está conversando provavelmente
já esteve ou onde está agora; as aprendizagens de interações anteriores com pessoas que �nham
o mesmo obje�vo; as informações gerais sobre o mundo relacionado a esse obje�vo; o que foi
dito anteriormente no decorrer das conversas atuais e passadas com essas pessoas; e muito mais.
Desse modo, as empresas buscam responder à seguinte pergunta para dotar as máquinas de con-
texto: “Como você realmente carrega o contexto ao longo de um diálogo?”.

44
FIGURA 3 – DAR CONTEXTO À INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É UM DESAFIO PARA COMPANHIAS DE TIC.

UNIDADE 03
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Fontes: Shu�erstock (2020).

Podemos notar, portanto, que o contexto faz parte da relação autor-texto-leitor. Todavia, é im-
portante salientar que o texto, por ser um �po de comunicação mais obje�vo, pragmá�co, pla-
nejado e calculado, deve evitar o máximo possível par�r do conhecimento prévio do leitor para
transmi�r certa informação. Isto é, o autor deve compor um texto que seja autoexplica�vo e que
não dependa de um conhecimento específico do leitor para ser compreendido.
Um exemplo é o que estou fazendo neste momento. Independentemente de conhecimentos
prévios que você tenha sobre texto, estou escrevendo um texto para que você entenda o que é,

45
como se faz e quais as caracterís�cas determinantes de um texto. Pode ser que para você essas
informações sejam básicas demais. Já para outros, podem ser complicadas. Tudo depende do con-
texto de cada um. O que importa para mim, como professor, é que todos os alunos terminem a
disciplina entendendo um conjunto mínimo de informações sem que seja necessário eu explicar
de outra forma. Por isso o texto tem de ser autoexplica�vo, já que não terei a possibilidade de

UNIDADE 03
conversar com cada aluno para sanar eventuais dúvidas.
Em relação à importância da contextualização para o entendimento de um texto escrito, Koch
e Elias (2014, p. 20) afirmam:

HÁ PISTAS LINGUÍSTICAS E EXTRALINGUÍSTICAS QUE SE ENCONTRAM NO CENÁRIO E

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NO CONHECIMENTO QUE OS PARTICIPANTES TÊM SOBRE O QUE ACONTECEU ANTES DA
INTERAÇÃO. DAÍ O USO DE FORMAS REFERENCIAIS CUJOS REFERENTES SÃO DEPREEN-
DIDOS DA SITUAÇÃO COMUNICATIVA. [...] POR ISSO, NO TEXTO ESCRITO DAQUELES QUE
ESTÃO INICIANDO NA PRÁTICA ESCRITA, QUANDO DO EMPREGO DE ELEMENTOS ANA-
FÓRICOS (AQUELES QUE REMETEM A OUTROS ELEMENTOS DO TEXTO) E DÊITICOS (OS
QUE APONTAM PARA ELEMENTOS DO CONTEXTO), É COMUM A AUSÊNCIA DE REFERENTE
TEXTUAL, BEM COMO O USO AMBÍGUO DE FORMAS ANAFÓRICAS COMO ELE, ELA.

Se você observar cuidadosamente a maneira como uma criança escreve (ou mesmo nós adul-
tos, quando estamos aprendendo uma língua estrangeira) perceberá que ela comete enganos tais
como os apontados pelas autoras. Por exemplo, se desejamos dizer que moramos em uma casa
bonita e que a casa é da cor verde, escrevemos: “Moro em uma casa bonita e verde”. Mas a criança
tende a escrever: “Moro em uma casa. A casa é bonita e verde”.
Repe�mos palavras com maior frequência quando falamos porque a linguagem oral é repe��va por
natureza, já que precisamos disso para memorizar a informação. No texto escrito, no entanto, basta
lermos o início da frase (ou a frase anterior) novamente para nos lembrarmos. Por isso unimos infor-
mações ou usamos pronomes, como ele ou ela, naquele ou naquela, cujo ou cuja, ao longo do texto.
Tendo isso em vista, os professores geralmente recomendam aos alunos que leiam sempre, de
preferência, bons textos, para que percebam como se estrutura um bom texto e, assim, possam
u�lizar tal estrutura ao elaborar o próprio texto. Perceba que a leitura de textos e expressões em
redes sociais e em aplica�vos como o WhatsApp dificilmente irá ajudá-lo a escrever melhor, já que
as pessoas geralmente escrevem como falam e não se preocupam com gramá�ca, com o uso de
expressões chulas e outras caracterís�cas da linguagem oral.

FIGURA 4 – PARA ESCREVER BEM, É PRECISO LER BONS TEXTOS.


Fonte: Shu�erstock (2020).

46
VÍDEO

A relação autor-texto-leitor é bastante densa e há muitos livros de importantes autores sobre o

UNIDADE 03
assunto. Eu cito alguns deles neste material, incluindo Ingedore Koch e Vanda Elias, duas profes-
sores com ampla experiência, conhecimento e vivência na produção de textos.
Por isso quero agora sugerir que você assista a um vídeo com o depoimento dessas duas autoras.
Nesse vídeo elas falam de obras interessantes que escreveram e também opinam sobre o traba-
lho de ensinar e aprender a escrever, trazendo informações valiosas a educadores e alunos. Vale
a pena assis�r.
INGEDORE Koch e Vanda Elias – Autores na escola. Disponível em: h�ps://bit.ly/2ODc2Pq. Acesso

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em: 9 out. 2019.

3. LEITURA E PRODUÇÃO DE SENTIDO


Compreensão de leitura é o ato de entender a mensagem, o tema, a lição de um texto. Esse en-
tendimento vem da interação entre as palavras escritas e como elas desencadeiam conhecimento
fora do texto. A compreensão é um processo cria�vo e mul�facetado, que depende de algumas
dimensões linguís�cas: fonologia, morfologia, sintaxe, semân�ca e pragmá�ca (TOMPKINS, 2014).
A compreensão dos textos e o vocabulário estão indissociavelmente ligados. A capacidade de
decodificar ou iden�ficar e pronunciar palavras é evidentemente importante, mas saber o que as
palavras significam tem um efeito principal e direto em entender o que qualquer passagem espe-
cífica significa em um material de leitura. Um estudo da professora Diane Nielsen, da Universidade
do Kansas, demonstrou que os alunos com um vocabulário menor do que os outros alunos com-
preendem menos o que leem (UNIVERSITY OF KANSAS, 2013). Várias outras pesquisas também já
comprovaram que a leitura é uma boa prá�ca para melhorar a compreensão, melhorar os grupos
de palavras, vocabulários complexos, como homônimos ou palavras com múl�plos significados, e
aqueles com significados figura�vos, como expressões idiomá�cas, símiles, colocações e metáfo-
ras (CHARTIER, 1998).
Existem fatores que, uma vez discernidos, tornam mais fácil para o leitor entender o texto escri-
to. Um deles é o gênero, como contos, ficção histórica, biografias ou poesia. Cada gênero tem suas
caracterís�cas próprias de estrutura do texto, que, uma vez entendidas, ajudam o leitor a compre-
endê-lo. Uma fábula é composta de um enredo, personagens, cenário, ponto de vista e tema. Os
livros didá�cos fornecem conhecimento do mundo real para os alunos e apresentam recursos ex-
clusivos, como: �tulos, mapas, vocabulário e índice. Os poemas são escritos em diferentes formas,
como versos rimados e versos livres (CHARTIER, 2002).
Além dos gêneros, temos também os �pos de texto. Para facilitar o entendimento, vamos divi-
dir e classificar os textos de acordo com a sugestão de Fiorin e Savioli (2006): descri�vos, narra�vos

47
e disserta�vos. Embora os próprios autores ressaltem que é muito raro encontrar um texto em
“estado puro”, isto é, totalmente disserta�vo, narra�vo ou descri�vo, há caracterís�cas mais acen-
tuadas em cada um desses �pos, o que facilita a divisão e compreensão deles.

3.1 TEXTOS NARRATIVOS

UNIDADE 03
Segundo Fiorin e Savioli (2006, p. 289), o texto narra�vo é aquele que:

RETRATA AS MUDANÇAS PROGRESSIVAS DE ESTADO QUE VÃO OCORRENDO


COM AS PESSOAS E AS COISAS ATRAVÉS DO TEMPO. NESSE TIPO DE TEXTO,
OS EPISÓDIOS E OS RELATOS ESTÃO ORGANIZADOS NUMA DISPOSIÇÃO TAL

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QUE ENTRE ELES EXISTE SEMPRE UMA RELAÇÃO DE ANTERIORIDADE OU DE
POSTERIORIDADE. ESSA RELAÇÃO DE ANTERIORIDADE OU POSTERIDADE É
SEMPRE PERTINENTE NUM TEXTO NARRATIVO, MESMO QUANDO ELA VENHA
ALTERADA NA SUA SEQUÊNCIA LINEAR POR UMA RAZÃO OU OUTRA.

Os autores exemplificam esse �po de texto da seguinte forma: “F. e P. nasceram do mesmo pai
e da mesma mãe. A fortuna, porém, não os assis�u com a mesma equidade: F. foi adotado e criado
por família ilustre; P. deixou-se ficar com os pobres pais. F. �rou �tulo de doutor; P. morreu aos
18 anos num �roteio com a polícia” (FIORIN; SAVIOLI, 2006, p. 289). Nesse trecho ficam claras as
mudanças progressivas de estado quando o leitor obtém informações sobre o que ocorreu com os
personagens F. e P. ao longo do tempo.
Aliás, a existência de personagens, ou seja, pessoas que vivem determinadas situações em de-
terminado lugar e tempo, também é uma das caracterís�cas marcantes da narra�va, já que esta
significa narrar uma ação. Quem faz algo é sempre um personagem, que pode ser o protagonista
ou um coadjuvante.
Importante salientar que a relação de anterioridade e posterioridade está vinculada à noção de
passado, presente e futuro, o que se percebe pelas mudanças no estado da vida dos personagens
– que em determinado momento fizeram ou fazem certa coisa e depois aquela situação muda.
Quando é possível ao leitor perceber essas alterações, significa que há uma narração de um fato.

FIGURA 4 – A NARRAÇÃO FOI UM ESTILO AMPLAMENTE USADO PELO ESCRITOR MACHADO DE ASSIS.
Fonte: Shu�erstock (2020).

48
Os mesmos Fiorin e Savioli (2006, p. 290), contudo, ressaltam que um determinado texto pode
trazer mudança de estado e não ser uma narra�va, como no seguinte trecho:

NO MUNDO MEDIEVAL, O HOMEM ERA CAPAZ DE ADMINISTRAR COM COMPE-

UNIDADE 03
TÊNCIA QUASE TODO O ESPAÇO QUE O RODEAVA E NÃO TINHA NECESSIDADE DA
ESPECIALIZAÇÃO. ELE ERA CAPAZ DE PLANTAR O TRIGO E DE MOER O GRÃO, DE
FABRICAR O AZEITE E A LAMPARINA. HOJE UM HOMEM DA CIDADE MORRE DE
FOME SE O AGRICULTOR NÃO LHE FORNECER O GRÃO JÁ MOÍDO E FICA NA ES-
CURIDÃO SE O ELETRICISTA NÃO O SOCORRE COM SUA ASSISTÊNCIA. NO MUNDO
MEDIEVAL, A PRODUÇÃO ERA MENOS DIVERSIFICADA QUE NO MUNDO MODERNO
E OS BENS DE CONSUMO EXISTIAM EM MENOR QUANTIDADE.

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Observe que não há personagens que realizam determinada ação, tampouco existem mudan-
ças de estado com relação a essas pessoas. Além de constatar esses elementos, é salutar atentar-
-se para textos que são um híbrido de narração e descrição, outra categoria textual. Perceba neste
excerto de Quincas Borba, do mestre Machado de Assis:

PALHA ATRAVESSOU UMA PERNA SOBRE A OUTRA E COMEÇOU A RUFAR NO


SAPATO. DURANTE ALGUNS SEGUNDOS FICARAM CALADOS. PALHA CUIDAVA NA
PROPOSTA DE ACABAR COM AS RELAÇÕES, NÃO QUE QUISESSE ACEITÁ-LA, MAS
NÃO SABIA COMO RESPONDER À MULHER, QUE MOSTRAVA TANTO RESSENTI-
MENTO, E SE PORTAVA COM TAL DIGNIDADE. ERA PRECISO NEM DESAPROVÁ-LA,
NEM ACEITAR A PROPOSTA, E NÃO LHE ACUDIU NADA. LEVANTOU-SE, METEU
AS MÃOS NAS ALGIBEIRAS DAS CALÇAS, E DEPOIS DE ALGUNS PASSOS, PAROU
DEFRONTE DE SOFIA.
(ASSIS, 1998)

Importante notar que há uma narração, em conformidade com o que vimos sobre as caracte-
rís�cas desse �po de texto, mas também há outros elementos que não são narra�vos. Um deles é
a descrição, na qual o autor descreve uma determinada cena, situação e até mesmo pensamentos
de uma pessoa. Esse é o nosso próximo tópico a ser estudado.

3.2 TEXTOS DESCRITIVOS


A descrição, conforme explicam Fiorin e Savioli (2006, p. 297-298),

É O TIPO DE TEXTO EM QUE SE RELATAM AS CARACTERÍSTICAS DE UMA PESSOA,


DE UM OBJETO OU DE UMA SITUAÇÃO QUALQUER, INSCRITOS NEM CERTO
MOMENTO ESTÁTICO DE TEMPO. O TEXTO DESCRITIVO NÃO RELATA, COMO O

Continua >
49
Continuação >

NARRATIVO, AS TRANSFORMAÇÕES DE ESTADO QUE VÃO OCORRENDO PROGRES-


SIVAMENTE COM PESSOAS OU COISAS, MAS AS PROPRIEDADES E ASPECTOS
DESSES ELEMENTOS NUM CERTO ESTADO, CONSIDERANDO COMO SE ESTIVESSE
PARADO NO TEMPO. COMO OS FATOS REPRODUZIDOS NUMA DESCRIÇÃO SÃO

UNIDADE 03
TODOS SIMULTÂNEOS, NESSE TIPO DE TEXTO NÃO EXISTE OBVIAMENTE RELAÇÃO
DE ANTERIORIDADE OU POSTERIDADE ENTRE OS ENUNCIADOS. [...] O FUNDA-
MENTAL NA DESCRIÇÃO É QUE NÃO HAJA PROGRESSÃO TEMPORAL, ISTO É, QUE
NÃO SE SAIA DA RELAÇÃO DE SIMULTANEIDADE E QUE NÃO SE POSSA, PORTAN-
TO, CONSIDERAR UM ENUNCIADO ANTERIOR AO OUTRO.

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Desse modo, o texto descri�vo apresenta personagens, assim como o narra�vo, mas não há
necessariamente mudança de estado, pois o que importa é o momento presente. É muito comum
na literatura a mistura de texto descri�vo com narra�vo, como vimos no excerto de Quincas Borba
e também podemos notar em outra obra clássica brasileira: Paulo Honório, de Graciliano Ramos:

O VENTO FRIO DA SERRA ENTRAVA PELA JANELA, MORDIA-ME AS ORELHAS, E EU


SENTIA CALOR. A PORTA GEMIA, DE QUANDO EM QUANDO DAVA NO BATENTE PAN-
CADAS COLÉRICAS, DEPOIS CONTINUAVA A GEMER. AQUILO ME IRRITAVA, MAS NÃO
ME VEIO A IDEIA DE FECHÁ-LA. MADALENA ESTAVA COMO SE NÃO OUVISSE NADA. E
EU, DIRIGINDO-ME A ELA E A UMA LITOGRAFIA PENDURADA À PAREDE:

– CUIDAM QUE ISTO VAI FICAR ASSIM?


(RAMOS, 1997)

Além da literatura, o texto descri�vo é bastante u�lizado no mercado de trabalho para a des-
crição de tarefas, por exemplo, quando é preciso explicar em detalhes de que forma o trabalhador
deve agir em situações específicas.

FIGURA 5 – A DESCRIÇÃO É UMA FORMA TEXTUAL MUITO USADA NO MERCADO DE TRABALHO.

Fonte: Shu�erstock (2020).

50
3.3 TEXTOS DISSERTATIVOS
Dissertação é um �po de texto muito mais próximo da sua realidade atual, já que você vai ter
de redigir textos disserta�vos ao longo de seu curso superior. Isso porque a dissertação “é o �po
de texto que analisa e interpreta dados da realidade por meio de conceitos abstratos” (FIORIN;

UNIDADE 03
SAVIOLI, 2006, p. 298).
Não confunda conceito abstrato com aspectos difusos. U�liza-se o termo abstrato porque se re-
fere a algo não �sico, não palpável. Por exemplo, sua faculdade pode ter pedido para você escrever
um texto disserta�vo sobre justiça social. São duas palavras abstratas, porque justiça não é uma
pessoa, mas uma “qualidade ou caráter do que é justo e direito” (MICHAELIS, 2019). Se jus�ça é
uma qualidade, logo, não é �sica, palpável. O mesmo pode-se dizer de social, algo rela�vo a pes-

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soas, em um sen�do cole�vo abstrato.
Observe este parágrafo de um ar�go cien�fico que escrevi e perceba a estrutura de um texto
disserta�vo:

DESDE QUE CASTELLS (2000) E OUTROS ESTUDIOSOS TRATARAM NO INÍCIO DO


SÉCULO XXI DA SOCIEDADE EM REDE, DAS CONSEQUÊNCIAS DO AVANÇO DA INTER-
NET SOBRE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E DE OUTROS ASSUNTOS RELACIONADOS
ÀS MUDANÇAS RECENTES NAS INTERAÇÕES HUMANAS, QUESTIONA-SE QUAL SERÁ
O FUTURO DO JORNALISMO A PARTIR DESSE CONTEXTO. MUITOS QUESTIONAMEN-
TOS DIZEM RESPEITO À UBIQUIDADE, CONVERGÊNCIA E MUDANÇAS NA AUDIÊNCIA
PROVOCADAS PELAS NOVAS MÍDIAS (SERRA; SÁ; SOUZA FILHO, 2015). OUTROS
AUTORES APROFUNDARAM-SE NO DEBATE EM TORNO DAS MANEIRAS DE PRODU-
ZIR, DISTRIBUIR E CONSUMIR INFORMAÇÕES A PARTIR DA INTEGRAÇÃO DE NOVAS
TELAS E DO HIBRIDISMO DAS PRODUÇÕES MIDIÁTICAS.
(ARAUJO, 2016, p. 103)

Veja que o trecho trata de um tema abstrato: o futuro do jornalismo. Não há personagens,
não há progressão do tempo nem mudança de estado, embora o texto trate das mudanças no
jornalismo ao longo dos anos. O texto faz uma argumentação sobre o tema em questão lançando
mão das contribuições de outros autores, como é comum nos textos acadêmicos. Caso você esteja
pensando: “Então todo texto acadêmico deve ser disserta�vo”, seu raciocínio está cer�ssimo! Um
dos textos disserta�vos mais comuns é o acadêmico, iden�ficado em ar�gos, dissertações, teses,
monografias e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC).
Agora leia o trecho de uma matéria jornalís�ca:

MANCHAS DE ÓLEO APARECERAM NESTA MANHÃ NA PRAIA DE PIATÃ, EM SALVA-


DOR. FOI O SÉTIMO MUNICÍPIO COM APARECIMENTO DE MATERIAL NA BAHIA, O
ÚLTIMO ESTADO ONDE O ÓLEO APARECEU. POR CONTA DO MOVIMENTO DAS MARÉS

Continua >
51
Continuação >

E DOS VENTOS, AS MANCHAS ESTÃO APARECENDO CADA VEZ MAIS AO SUL. ONTEM,
O REGISTRO MAIS AO SUL QUE HAVIA ERA EM CAMAÇARI, QUE FICA 47 KM AO NOR-
TE DE SALVADOR. SEGUNDO BALANÇO DIVULGADO ONTEM À NOITE PELO IBAMA,
CHEGOU A 150 O NÚMERO DE PRAIAS COM REGISTRO DE ÓLEO EM 68 MUNICÍPIOS

UNIDADE 03
DO NORDESTE. SALVADOR, NO CASO, AINDA NÃO ESTÁ NESSA LISTA. A MARINHA
INFORMOU QUE ESTÁ NOTIFICANDO 30 NAVIOS-TANQUE DE 10 DIFERENTES PAÍSES
A PRESTAREM ESCLARECIMENTOS SOBRE A SUSPEITA DE VAZAMENTO DE ÓLEO
QUE CONTAMINOU A COSTA DO NORDESTE. A DECISÃO VEIO APÓS UMA TRIAGEM
COM BASE EM INFORMAÇÕES DO TRÁFEGO MERCANTE NA REGIÃO
(MADEIRO, 2019).

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FIGURA 6 – O TEXTO JORNALÍSTICO É UM EXEMPLO DE TEXTO DISSERTATIVO.

Fonte: Shu�erstock (2020).

O texto jornalís�co tem as caracterís�cas de texto disserta�vo, mas difere-se do acadêmico em


diversos aspectos. Um deles diz respeito às referências bibliográficas, que no texto acadêmico são
comuns mas não no texto jornalís�co, em que as fontes são diferentes. Para nosso estudo, que
analisa as diferentes formas de composição textual, é importante que você perceba as diferentes
intenções ao se elaborar um texto: “enquanto a finalidade principal da narração é o relato das
transformações, o obje�vo principal da dissertação é a análise e a interpretação das transforma-
ções relatadas” (FIORIN; SAVIOLI, 2006, p. 300).

4. FATORES DE COMPREENSÃO DA
LEITURA: COERÊNCIA E COESÃO
Para entender um pouco melhor os mecanismos que interferem na produção textual, vamos estu-
dar dois aspectos com nomes parecidos e que muitas vezes provocam dúvidas: a coerência e a coesão.

52
4.1 COERÊNCIA
Fiorin e Savioli (2006, p. 261) apresentam um ó�mo exemplo de texto incoerente:

UNIDADE 03
HAVIA UM MENINO MUITO MAGRO QUE VENDIA AMENDOINS NUMA ESQUINA
DE UMA DAS AVENIDAS EM SÃO PAULO. ELE ERA TÃO FRAQUINHO QUE MAL
PODIA CARREGAR A CESTA EM QUE ESTAVAM OS PACOTES DE AMENDOIM.
UM DIA, NA ESQUINA EM QUE FICAVA, UM MOTORISTA QUE VINHA EM ALTA
VELOCIDADE PERDEU A DIREÇÃO. O CARRO CAPOTOU E FICOU DE RODAS
PARA O AR. O MENINO NÃO PENSOU DUAS VEZES. CORREU PARA O CARRO E
TIROU DE LÁ O MOTORISTA, QUE ERA UM HOMEM CORPULENTO.

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O suposto gesto heroico do menino tem uma grande incoerência: como um menino muito ma-
gro teve força suficiente para mover um homem grande e pesado? A incoerência ocorre porque
ela é incompa�vel com a realidade apresentada. As pessoas com ciência do que é um homem
corpulento e um menino magro e com certa vivência do que é mover algo pesado têm consciência
de que é absolutamente impensável a a�tude do menino. Assim como já tratamos anteriormente,
é o contexto do leitor do texto que traz a noção de que a narra�va é incoerente.
Embora a a�tude do menino seja possível do ponto de vista ficcional, isto é, em um texto de his-
tória em quadrinhos, por exemplo, que relate a vida de um menino com superpoderes, sabemos
que, fora da ficção, essa narração é absurda. Como não estamos lidando com ficção neste momen-
to, a coerência é sempre avaliada com base no mundo real e �sico, respeitando as limitações da
natureza e da ciência.
A coerência, é claro, não ocorre apenas em textos narra�vos. Ela também está presente em
textos disserta�vos, nos quais a incoerência é mais di�cil de ser percebida porque trata de infor-
mações desconhecidas do leitor. Por exemplo: um estrangeiro está fazendo turismo no Brasil e per-
gunta para um brasileiro que sempre viveu no país: “Há violência aqui?”; e o brasileiro responde:
“Nunca ouvi falar de casos de violência, como roubos e assaltos, mesmo nas grandes cidades”. A
resposta do brasileiro é incoerente com a realidade do país, que infelizmente convive diariamente
com casos de violência. O fato de ser um diálogo e não um texto escrito não muda a incoerência
dessas palavras.
Coerência, portanto, “deve ser entendida como unidade do texto. Um texto coerente é um
conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo
que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo” (FIORIN; SAVIOLI,
2006, p. 261).
Existem vários �pos de incoerência nos textos. Nesta Unidade de ensino, o que mais no interes-
sa é a coerência argumenta�va, a qual diz respeito aos argumentos de que determinado autor se
u�liza para defender seu ponto de vista. Esse �po de texto, que geralmente pode ser caracterizado
como disserta�vo, é o mais importante para você, porque será usado nos trabalhos acadêmicos

53
ao longo de seu curso e também em provas, concursos públicos e outras avaliações que você terá
de realizar ao longo de sua vida profissional. Sem contar que você precisa ter acesso a no�cias de
qualidade no dia a dia e, para isso, a coerência nos argumentos apresentados é ponto crucial.
Para Fiorin e Savioli (2006, p. 264),

UNIDADE 03
NUM ESQUEMA DE ARGUMENTAÇÃO, JOGA-SE COM CERTOS PRESSUPOSTOS OU
CERTOS DADOS E DELES SE FAZEM INFERÊNCIAS OU SE TIRAM CONCLUSÕES
QUE ESTEJAM VERDADEIRAMENTE IMPLICADOS NOS ELEMENTOS LANÇADOS
COMO BASE DO RACIOCÍNIO QUE SE QUER MONTAR. SE OS PRESSUPOSTOS
OU OS DADOS DE BASE NÃO PERMITEM TIRAR AS CONCLUSÕES QUE FORAM
TIRADAS, COMETE-SE A INCOERÊNCIA DE NÍVEL ARGUMENTATIVO.

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Vamos trabalhar alguns exemplos dos mesmos Fiorin e Savioli para compreender melhor seus
argumentos. Primeiro exemplo: quando se defende o ponto de vista de que um indivíduo deve
buscar o amor e a amizade, não se pode dizer em seguida que não se deve confiar em ninguém e
que por isso é melhor viver isolado. Segundo exemplo: se um texto parte da premissa de que todos
são iguais perante a lei, cairá em incoerência se defender posteriormente o privilégio de algumas
categorias profissionais não serem obrigadas a pagar imposto de renda.

FIGURA 7 – A COERÊNCIA DAS IDEIAS É CRUCIAL NOS AMBIENTES CORPORATIVOS.

Fonte: Shu�erstock (2020).

54
Perceba, assim, que a coerência em um texto se dá à medida que são analisados aspectos como
o sen�do das palavras e o significado das ideias para o entendimento do texto como um todo. É
algo mais complexo que a coesão, que veremos a seguir.

4.2 COESÃO

UNIDADE 03
A coesão ocorre por meio de palavras específicas, as quais trazem a noção de unidade do texto.
Consoante Fiorin e Savioli (2006, p. 271),

A COESÃO DE UM TEXTO, ISTO É, A CONEXÃO ENTRE OS VÁRIOS ENUNCIADOS OB-


VIAMENTE NÃO É FRUTO DO ACASO, MAS DAS RELAÇÕES DE SENTIDO QUE EXISTEM

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ENTRE ELES. ESSAS RELAÇÕES DE SENTIDO SÃO MANIFESTADAS SOBRETUDO
POR CERTA CATEGORIA DE PALAVRAS, AS QUAIS SÃO CHAMADAS CONECTIVOS OU
ELEMENTOS DE COESÃO. SUA FUNÇÃO NO TEXTO É EXATAMENTE A DE PÔR EM EVI-
DÊNCIA AS VÁRIAS RELAÇÕES DE SENTIDO QUE EXISTEM ENTRE OS ENUNCIADOS.

Para notarmos melhor esses aspectos, vamos avaliar o seguinte texto:

É SABIDO QUE O SISTEMA DO IMPÉRIO ROMANO DEPENDIA DA ESCRAVIDÃO, SOBRE-


TUDO PARA A PRODUÇÃO AGRÍCOLA. É SABIDO AINDA QUE A POPULAÇÃO ESCRAVA
ERA RECRUTADA PRINCIPALMENTE ENTRE PRISIONEIROS DE GUERRA.

EM VISTA DISSO, A PACIFICAÇÃO DAS FRONTEIRAS FEZ DIMINUIR CONSIDERAVEL-


MENTE A POPULAÇÃO ESCRAVA.

COMO O SISTEMA NÃO PODIA PRESCINDIR DA MÃO DE OBRA ESCRAVA, FOI NECES-
SÁRIO ENCONTRAR OUTRA FORMA DE MANTER INALTERADA ESSA POPULAÇÃO.
(FIORIN; SAVIOLI, 2006. p. 271)

As palavras que trazem coesão no texto citado são aquelas que remetem a partes anteriores, como
“em vista disso” e “ainda”. A palavra ainda dá con�nuidade ao que foi dito anteriormente em relação ao
sistema do Império Romano, enquanto em vista disso parte dos conhecimentos do primeiro parágrafo
para acrescentar informações ao segundo parágrafo. O termo como também se refere às colocações
anteriores sobre os escravos, para salientar que o Império Romano dependia deles.
Lembre-se de que, entre as diversas dis�nções do texto escrito, está a obje�vidade, algo que
se conquista quando não é preciso repe�r tantas palavras e expressões. A coesão preocupa-se
também com isso, já que evita a repe�ção do que foi dito anteriormente e ao mesmo tempo esta-
belece relações entre as partes do texto.
Veja, a seguir, algumas sugestões de palavras que assumem a função de conec�vos e que con-
tribuem para a coesão de um texto:

55
» Preposições: a, de, para, com, por;
» Conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou;
» Pronomes: ele, ela, seu, sua, esse, este, aquele, aquela, o qual, a qual;
» Advérbios: aqui, aí, lá, assim.

UNIDADE 03
Os conec�vos também ajudam a exprimir diferentes ideias. Observe o Quadro 1.

QUADRO 1: CONECTIVOS USADOS PARA DIFERENTES SITUAÇÕES


PRINCIPAIS CONECTIVOS

Em primeiro lugar, antes de tudo, em princípio, primeiramente, principalmente,

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Prioridade e relevância
sobretudo, a priori, primordialmente.

Então, enfim, logo depois, imediatamente, logo após, no momento em que,


Tempo pouco antes, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, ago-
ra, atualmente, hoje.

Igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente,


Semelhança, comparação,
analogamente, por analogia, de maneira idêntica, em conformidade com, tal
conformidade
qual, tanto quanto.

Condições, hipótese Se, caso, eventualmente.

Além disso, ademais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado,
Adição, con�nuação
também, e, mas também, como também, bem como, com.

Dúvida Talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, se é que.


Certeza, ênfase De certo, por certo, certamente, indubitavelmente, inegavelmente, sem dúvida.

Fonte: Elaborado com base em Garcia (2015).

Portanto, esses termos podem auxiliá-lo a escrever um texto mais adequado e coeso, tornando
melhor e mais eficaz sua comunicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade 3, avançamos bastante em termos de saber como ler e construir um texto.
Aprendemos inicialmente sobre a relação autor-texto-leitor, algo fundamental para entender
como ocorre o processo de comunicação por meio das palavras escritas.
Estudamos elementos importan�ssimos como o contexto e o sen�do das palavras. Por serem
habilidades que usamos em nosso co�diano, não nos damos conta de como o contexto e a semân-
�ca (significado das palavras) precisam ser melhor trabalhos no texto para reduzirmos a ambigui-
dade, a redundância e a incompreensão de certas palavras em condições específicas.

56
Se não nos atentarmos a isso, não teremos a coerência e a coesão necessárias, que nos ajudam
a escrever bons textos e a melhor nos comunicarmos. Por isso mesmo, ensinei a você como usar
algumas técnicas úteis e observar certas inconsistências.
Espero que você tenha gostado.

UNIDADE 03
Abraço, e até a Unidade 4!

ANOTAÇÕES

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57
UNIDADE

04
GÊNEROS
TEXTUAIS E NORMA
LINGUÍSTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

» Compreender como se formam os gêneros textuais;


» Classificar os gêneros textuais;
» Constatar a diversidade de gêneros textuais com base nas várias facetas que os
formam;
» Entender a aplicabilidade da norma linguís�ca na elaboração de textos.

VÍDEOS DA UNIDADE

https://qrgo.page.link/JEBf9 https://qrgo.page.link/myguE https://qrgo.page.link/jmcLU


INTRODUÇÃO
Olá! Tudo bem com você?
Finalmente chegamos à nossa úl�ma Unidade! Nem parece que pouco tempo atrás eu estava

UNIDADE 04
explicando como seria esta disciplina, qual seria nosso ritmo de estudo... Agora já começo a me
despedir. De qualquer maneira, tenho certeza de que esta Unidade 4 vai ser bacana, assim como
foram as anteriores.
Na Unidade anterior, estudamos como são os textos escritos, quais as caracterís�cas mais mar-
cantes, de que forma o texto adquire sen�do ao leitor e quais as relações que se estabelecem
entre autor-texto-leitor. Este úl�mo aspecto mereceu uma atenção especial nossa, porque existem

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inúmeros pontos que precisam ser observados, e um dos mais relevantes é o contexto.
Como vimos, é por meio do contexto que compreendemos o significado das palavras além
daquilo que elas representam em termos grama�cais. Também pelo contexto são gerados novos
conhecimentos, pois, à medida que o leitor soma as informações que já �nha àquilo que ele leu,
pode mudar sua forma de pensar e encarar o mundo que está à sua volta.
Também compreendemos na Unidade 3 o que é e por que precisamos buscar sempre a coesão
e a coerência para escrevermos bons textos. Com base nisso, você vai acrescentar ao seu estudo
as lições grama�cais e de gênero textual que vamos trabalhar nesta Unidade 4.
Com o conhecimento dos gêneros textuais você irá compreender melhor os diversos �pos de
texto, suas aplicações, suas inconsistências e padrões, os quais podem nos ajudar a definir formas
de composição. Desse modo, você poderá elaborar textos cria�vos, sinté�cos, coesos e coerentes.
Para finalizarmos bem nossa disciplina, vamos aprender um pouco mais de gramá�ca. Se você
fez cara feia, não se preocupe! O obje�vo não é repe�r todo aquele conjunto de regras que você
aprendeu ao longo de anos na escola. Pelo contrário, nós faremos um estudo dirigido às dificulda-
des mais comuns dos alunos em relação ao uso correto da Língua Portuguesa, para que você possa
aplicar a gramá�ca no dia a dia, melhorando sua comunicação escrita e oral.
Pode ter certeza de que, ao fim da disciplina, você terá aprendido conteúdos extremante rele-
vantes para sua vida profissional de uma forma simples e agradável, com muitos exemplos prá�cos.
Vamos juntos?
Então, firmes, seguimos em frente.
Bons estudos!

1. OS GÊNEROS TEXTUAIS E O DISCURSO


Um gênero de texto é um �po de discurso escrito ou falado. Em decorrência disso, o gênero
pode ser classificado com base na intenção do comunicador (LARSON, 1984).

59
Para Koch e Elias (2014, p. 55):

TODAS AS NOSSAS PRODUÇÕES, QUER ORAIS, QUER ESCRITAS, SE BASEIAM


EM FORMAS-PADRÃO RELATIVAMENTE ESTÁVEIS DE ESTRUTURAÇÃO DE

UNIDADE 04
UM TODO A QUE DENOMINADOS GÊNEROS. LONGE DE SEREM NATURAIS OU
RESULTADO DA AÇÃO DE UM INDIVÍDUO, ESSAS PRÁTICAS COMUNICATIVAS
SÃO MODELADAS/REMODELADAS EM PROCESSOS INTERACIONAIS DOS QUAIS
PARTICIPAM OS SUJEITOS DE UMA DETERMINADA CULTURA.

Importante salientar isso porque não estamos tratando apenas de textos escritos, mas também

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daquilo que falamos, já que também dizemos algo a alguém com determinada intenção.
Observe o Quadro 1 e veja a relação entre os diferentes �pos de gênero e suas múl�plas intenções.

QUADRO 1 – GÊNEROS TEXTUAIS E SUA INTENÇÃO


GÊNERO DE TEXTO A INTENÇÃO DO COMUNICADOR É...
Narra�vo Contar sobre uma sequência de eventos em cadeia.
Procedimento Dar instruções sobre como fazer algo em determinada situação.
Exposi�vo Explicar alguma coisa a uma ou mais pessoas envolvidas.
Incen�var uma ou mais pessoas envolvidas a fazer alguma coisa que o falante
Exortatório
ou escritor deseja.
Descri�vo Listar ou descrever as caracterís�cas de algo a uma ou mais pessoas envolvidas.

Fonte: Larson (1984).

FIGURA 1 – UM LIVRO DE REGRAS PARA JOGOS É UM EXEMPLO DE TEXTO PROCEDIMENTO.

Fonte: Shu�erstock (2020).

60
1.1 GÊNEROS TEXTUAIS: O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM?
Segundo Koch e Elias (2014, p. 54):

UNIDADE 04
TODOS NÓS, FALANTES/OUVINTES, ESCRITORES/LEITORES, CONSTRUÍMOS AO LON-
GO DE NOSSA EXISTÊNCIA, UMA COMPETÊNCIA METAGENÉRICA, QUE DIZ RESPEITO
AO CONHECIMENTO DE GÊNEROS TEXTUAIS, SUA CARACTERIZAÇÃO E FUNÇÃO. É
ESSA COMPETÊNCIA QUE NOS PROPICIA A ESCOLHA ADEQUADA DO QUE PRODUZIR
TEXTUALMENTE NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS DE QUE PARTICIPAMOS. POR ISSO
NÃO CONTAMOS PIADA EM VELÓRIO, NEM CANTAMOS HINO DO NOSSO TIME DE
FUTEBOL EM UMA CONFERÊNCIA ACADÊMICA, NEM FAZEMOS PRELEÇÕES EM UMA
MESA DE BAR. AINDA, É ESSA COMPETÊNCIA QUE POSSIBILITA AOS SUJEITOS DE

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UMA INTERAÇÃO NÃO SÓ DIFERENCIAR OS DIVERSOS GÊNEROS, ISTO É, SABER SE
ESTÃO DIANTE DE UM HORÓSCOPO, UM BILHETE, UM DIÁRIO, OU DE UMA ANEDOTA,
UM POEMA, UMA AULA, UMA CONVERSA TELEFÔNICA, ETC., COMO TAMBÉM IDENTI-
FICAR AS PRÁTICAS SOCIAIS QUE OS SOLICITAM.

Tendo em vista que aprendemos a iden�ficar gêneros por meio de suas caracterís�cas e ainda
temos a possibilidade de saber em que condições os aplicar a par�r da competência metagenérica,
é salutar pra�camos um pouco dessa habilidade. Vamos abordar a seguir alguns textos, procuran-
do selecioná-los em conformidade com o que vimos no Quadro 1, assim como com nosso conhe-
cimento adquirido sobre texto escrito e linguagem falada.

SAIBA MAIS

O estudioso que deu origem à pesquisa sobre gêneros textuais foi o russo Mikhail Bakh�n. Nascido
em 1895 e falecido em 1975, Bakh�n foi um filósofo, crí�co literário e pesquisador que trabalhou
na teoria literária, na é�ca e na filosofia da linguagem. Seus escritos, sobre uma variedade de as-
suntos, inspiraram estudiosos de várias tradições diferentes (marxismo, semió�ca, estruturalismo,
crí�ca religiosa etc.) e disciplinas tão diversas quanto crí�ca literária, história, filosofia, sociologia,
antropologia e psicologia. Embora Bakh�n tenha par�cipado a�vamente dos debates sobre esté�ca
e literatura que ocorreram na União Sovié�ca na década de 1920, sua posição dis�nta não se tornou
conhecida até que ele fosse redescoberto por estudiosos russos na década de 1960.

1.1.1 GÊNERO TEXTUAL NARRATIVO


Vimos, na Unidade 3, diversas caracterís�cas, aspectos relevantes e os pontos mais importantes
do texto narra�vo. Inclusive, estudamos textos de autores brasileiros renomados na nossa histó-
ria, como Machado de Assis. Gostaria de relembrar aqui, em relação a esse �po de texto, que ele
envolve a par�cipação de personagens que vivenciam uma determinada ação. Por essa razão, uma
das caracterís�cas mais marcantes da narração é a progressão temporal.

61
Lembre-se desse ponto, porque ele é substancial para que você compreenda o conhecimento
sobre narração.

1.1.2 GÊNERO TEXTUAL PROCEDIMENTO OU PROCEDIMENTAL


O obje�vo de um texto Procedimento ou Procedimental é dizer ao leitor como fazer ou proce-

UNIDADE 04
der para realizar determinada tarefa. As informações são apresentadas em uma sequência lógica
de eventos, que é dividida em pequenas etapas sequenciadas. O exemplo mais comum de um
texto processual é uma receita para fazer determinado alimento.
No entanto, existem vários outros �pos de textos procedimentais, que instruem como realizar
uma a�vidade específica, como, por exemplo:
» Regras para jogos; » Regras de segurança no trânsito;

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» Normas para experimentos cien�ficos; » Manual de instruções para operar certo disposi�vo.
Um texto em forma de Procedimento geralmente apresenta três componentes básicos: i) Obje�-
vo: indica o que deve ser feito; ii) Materiais: ingredientes ou equipamentos listados em ordem de uso,
que incluem itens necessários para completar as etapas de funcionamento da máquina/disposi�vo;
iii) Avaliação ou conclusão: como o sucesso do procedimento pode ser testado (LONGACRE, 1983).
O obje�vo do texto procedimental é explicar ao leitor como fazer ou operar algo de forma que
ele a�nja um resultado, por meio de uma sequência de ações ou etapas. Essas etapas também são
explicadas ao longo do texto, a fim de que tudo transcorra da melhor maneira possível. Para isso
é preciso indicar materiais ou funções, caso seja um equipamento eletrônico, por exemplo, que
executa determinada tarefa. Assim que todas as etapas es�verem concluídas, será possível colocar
para funcionar o disposi�vo, equipamento ou aquilo que se estava elaborando, para constatar se
houve algum problema na realização das etapas.
Parece complexo, mas é algo extremamente intui�vo quando estamos lidando com máquinas
do nosso co�diano, por exemplo. Perceba que raramente lemos um manual de instruções para usar
um aplica�vo. Isso ocorre porque muitas
máquinas atualmente são dotadas de inte- FIGURA 2 – PARA COZINHAR BEM,
SEGUIR UMA RECEITA É IMPORTANTE.
ligência ar�ficial, aprendizado de máquina
e outras capacidades antes restritas aos
humanos. Essas habilidades permi�ram às
máquinas entender nosso comportamen-
to e raciocínio de forma a executar tarefas
de maneira semelhante à nossa.
Fonte: Shu�erstock (2020).

Por outro lado, muitos textos Procedi-


mentais con�nuam extremamente rele-
vantes, como uma receita para fazer um
delicioso bolo de chocolate, uma pizza de
primeira ou, ainda, aquele churrasco do
fim de semana.

62
Não por acaso, uma receita, assim como outros exemplos de textos procedimentais, apresenta
caracterís�cas específicas em termos textuais, tais como:
» Uso de advérbios em de sequência por meio de conjunção temporal (por exemplo: primeiro,
segundo, terceiro, último);

UNIDADE 04
» Uso de sentenças de comando no modo verbal Impera�vo (por exemplo: “Coloque o macarrão
no...”, “Corte a cebola...”, “Lave o tomate...”);
» Uso de advérbios para expressar detalhes, como hora, local, maneira exata (por exemplo: “Dei-
xe o molho cozinhar por cinco minutos”);
» Uso de verbos de ação (por exemplo: fazer, tirar, ferver, cozinhar);
» Uso do tempo presente para indicar ação.

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Observe essas caracterís�cas textuais nessa receita de bolo simples (VOVÓ PALMIRINHA, 2016):

INGREDIENTES
• 2 XÍCARAS (CHÁ) DE FARINHA DE TRIGO
• 2 XÍCARAS (CHÁ) DE AÇÚCAR
• 1 XÍCARA (CHÁ) DE LEITE
• 2 OVOS
• 4 COLHERES (SOPA) DE ÓLEO
• 1 PITADA DE SAL
• 1 COLHER (SOPA) DE FERMENTO EM PÓ
• ESSÊNCIA DE BAUNILHA A GOSTO (OPCIONAL)

Fonte: Shu�erstock (2020).


MODO DE PREPARO
• SEPARE O FERMENTO.
• NA BATEDEIRA, BATA OS DEMAIS INGREDIENTES POR APROXIMADAMENTE 5 MINUTOS.
• RETIRE A TIGELA DA BATEDEIRA, JUNTE O FERMENTO E MISTURE CUIDADOSAMENTE COM UMA CO-
LHER.
• DESPEJE A MASSA DO BOLO EM UMA FORMA DE CONE UNTADA E ENFARINHADA.
• LEVE AO FORNO PREAQUECIDO A 180ºC POR APROXIMADAMENTE 35 MINUTOS, OU ATÉ QUE AO ESPE-
TAR UM PALITO ELE SAIA LIMPO.

Koch e Elias (2014) chamam esse gênero de Injuntivo. Isso é relevante porque diferentes auto-
res costumam se referir ao mesmo fato ou caracterís�ca com nomes dis�ntos, o que pode provo-
car certa dúvida.

63
SAIBA MAIS
Os algoritmos de aprendizado de máquina inspirados no cérebro, combinados com Big Data, al-
cançaram recentemente resultados espetaculares, derrotando os humanos em tarefas específicas

UNIDADE 04
de alto nível (por exemplo, em jogos como xadrez). No entanto, ainda existem muitos domínios
em que até os bebês superam as máquinas: aprendizado não supervisionado de regras e lingua-
gem, raciocínio de senso comum e flexibilidade cogni�va (a capacidade de transferir rapidamente
a competência de um domínio para outro).
O obje�vo de alguns cien�stas que trabalham com ciência cogni�va pelo mundo é fazer engenharia
reversa de tais habilidades humanas, ou seja: construir algoritmos eficazes e escalonáveis que te-
nham um desempenho tão bom quanto (ou melhor) os humanos quando forem fornecidos dados

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semelhantes, estudar suas propriedades matemá�cas e algorítmicas e, ainda, testar suas proprie-
dades empíricas. Assim, os pesquisadores esperam criar um algoritmo de aprendizado de máquina
mais adaptável e autônomo para tarefas complexas e modelos quan�ta�vos de processos cogni�vos
que podem ser usados para prever o desenvolvimento humano e o processamento de dados.
A maior parte do trabalho está focada na fala, na linguagem e no raciocínio de senso comum. Isso
pode ser perigoso se os cien�stas não �verem cuidado ao elaborar algoritmos tão poderosos.
Podem ser criadas máquinas que prejudiquem os humanos, por exemplo, sendo preconceituosas
em suas avaliações.

1.1.3 GÊNERO TEXTUAL EXPOSITIVO


Nos textos exposi�vos, “tem-se a análise ou síntese de representações conceituais numa or-
denação lógica. Os tempos verbais são os do mundo comentado e os conectores, predominante-
mente do �po lógico” (KOCH; ELIAS, 2014, p. 67). Esse �po de texto é usado muitas vezes na pu-
blicidade, quando o anunciante explica determinadas caracterís�cas do produto de forma lógica,
para convencer o consumidor.

FIGURA 3 – TEXTO DE ANÚNCIO COM LINGUAGEM EXPOSITIVA

Estudo confirma preferência feminina pelo rosa


A GENTE JÁ SABIA.
Agora está confirmado: mulheres preferem rosa. Segundo uma pesquisa realizada pelo Ins�tuto
de Neurociência da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, este traço �picamente feminino
indicaria uma caracterís�ca evolu�va a par�r de milhares de anos coletando frutos avermelhados. Confie no rosa,
Para chegar a esta conclusão, os neurocien�stas Anya Hurlbert e Yazhu Ling reuniram 171 britâ-
nicos e 38 imigrantes da Ásia, todos com idades entre 20 e 26 anos. Os voluntários foram coloca- esqueça as manchas.
dos em frente a uma tela de computador para que escolhessem sua cor preferida.
Segundo os especialistas, os seres humanos determinam as cores a par�r de duas escalas: ver-
melho-verde e azul-amarelo. Em função disso, Anya e Ling escolheram as cores da experiência a
par�r desses parâmetros e compararam as preferências de cada sexo.
Os resultados, que estão publicados na revista Current Biology, indicaram que, para a escala
azul-amarelo, homens e mulheres preferiram o azul. No entanto, na hora de escolher entre as
cores da outra escala, as mulheres ficaram com tons avermelhados, e os homens, com o verde.
De acordo com os pesquisadores, ao optar pelo azul e também pela parte mais avermelhada
do espectro de cores próximo do azul, o sexo feminino mostra uma forte inclinação pelos tons de
rosa e lilás. Com isso, a par�r da cor escolhida por um voluntário, Anya e Ling conseguiam calibrar
a probabilidade de iden�ficação de seu sexo.
“Nós pensamos que esta é a primeira grande prova a respeito da diferença entre os sexos na
hora de escolher as cores”, disse Anya. Ela e seu colega especulam que tal diferença determine um
aspecto da evolução, pois as mulheres passaram milhares de anos aperfeiçoando sua capacidade
de coletar frutos avermelhados no meio de locais em que a cor verde era predominante.

Fonte: Folha de S.Paulo (2007 apud Koch; Elias, 2014, p. 68).

64
1.1.4 GÊNERO TEXTUAL EXORTATÓRIO
O texto do gênero exortatório representa uma tenta�va por parte do interlocutor de fazer com
que o des�natário faça alguma coisa ou aja de certa maneira (LONGACRE, 1983). Assemelha-se
muito ao texto exposi�vo, já que pode incen�var o leitor a fazer algo a par�r de uma argumen-
tação. Alguns autores, como Koch e Elias (2014), chamam o texto do gênero exortatório de argu-

UNIDADE 04
mentativo, já que busca convencer o leitor de algo em que o autor acredite.

VÍDEO
Tendo em vista que as diferenças entre textos do gênero exposi�vo e exortatório (ou argumenta-

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�vo) são muito su�s, indico a você um vídeo no qual há uma explicação mais aprofundada sobre
os elementos contrastantes e semelhantes entre ambos. Esse vídeo detalha aspectos como o fato
de que o texto argumenta�vo exige que o autor se posicione de forma mais clara sobre o assunto
em questão, ou seja, o autor precisa afirmar abertamente se endossa ou não determinado ponto
de vista. Isso faz grande diferença na elaboração de um texto como uma dissertação, que já estu-
damos na Unidade 3.
Aproveite as dicas do vídeo para aprimorar suas técnicas de redação, que serão fundamentais
durante seu curso de nível superior.
DIFERENÇA entre texto exposi�vo e argumenta�vo – dicas com Fernanda Pessoa. 2017. Disponí-
vel em: h�ps://bit.ly/39dh3bg. Acesso em: 21 out. 2019.

O que precisamos salientar é que o texto exortatório tem algumas caracterís�cas bem marcan-
tes. Uma delas é a defesa dos pontos de vista que o autor considera relevantes e fundamentais
para convencer o leitor. Geralmente essa linguagem aparece em ar�gos de opinião, muito comuns
em jornais impressos e revistas, assim como em blogs, nos quais o autor dá sua opinião e tenta
convencer os leitores de que sua visão é a correta.
Observe este texto re�rado de um blog, no qual se comenta sobre os conflitos que repercu�-
ram em mortes entre manifestantes e a polícia no Chile, em outubro de 2019.

NÃO PARECE TER SIDO UMA CONDENAÇÃO DO MODELO ECONÔMICO LIBERAL, IMPLAN-
TADO NA DITADURA MILITAR E MANTIDO PELO CHILE MESMO DEPOIS DA REDEMOCRATI-
ZAÇÃO, HÁ QUASE 30 ANOS, A RAZÃO PRINCIPAL PARA O ESTRONDO COM QUE A PANELA
DE PRESSÃO SOCIAL CHILENA DESTAMPOU NA SEMANA PASSADA. BARREIRAS À CON-
TINUIDADE DE ASCENSÃO SOCIOECONÔMICA, ACESSO DESIGUAL A SERVIÇO PÚBLICOS
DE QUALIDADE E FRACO SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL ESTÃO NA BASE DA REVOLTA
QUE TOMOU AS RUAS DA CAPITAL SANTIAGO E SE ALASTROU, NO FIM DE SEMANA, POR
OUTRAS CIDADES IMPORTANTES DO PAÍS.

PESQUISAS RECENTES APONTAM QUE OS CHILENOS QUEREM DO GOVERNO AÇÕES PARA


ASSEGURAR UMA COMBINAÇÃO DE MELHORES SERVIÇOS PÚBLICOS E MERCADOS MAIS
COMPETITIVOS. NÃO SE TRATARIA DE UMA REIVINDICAÇÃO PELA SUBSTITUIÇÃO DA

Continua >
65
Continuação >

ECONOMIA LIBERAL QUE PROSPEROU, DEPOIS DA DITADURA DO GENERAL AUGUSTO PI-


NOCHET, COM A ALTERNÂNCIA DO PODER ENTRE CENTRO-ESQUERDA E CENTRO-DIREITA.

OS VIOLENTOS CONFLITOS DE RUA DOS ÚLTIMOS DIAS NO CHILE NÃO REFLETEM O

UNIDADE 04
RELATIVO BOM MOMENTO ECONÔMICO — E MESMO SOCIAL — VIVIDO PELO PAÍS. A
POBREZA RECUOU, EM TRÊS DÉCADAS, DE 40% PARA 10% DA POPULAÇÃO, E ECONOMIA,
AINDA QUE COM SINAIS NA DESCENDENTE, DEVE CRESCER 2,5% ESTE ANO, MAIOR ALTA
NA AMÉRICA LATINA. A INFLAÇÃO É BAIXA E O DESEMPREGO MANTÉM-SE ESTÁVEL,
APESAR DE O PAÍS TER ABSORVIDO, MAIS RECENTEMENTE, UM MILHÃO DE IMIGRANTES,
NA MAIORIA VENEZUELANOS — O QUE É MUITO PARA UMA POPULAÇÃO DE APENAS 17
MILHÕES DE PESSOAS.

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(KUPFER, 2019)

Perceba que o autor já inicia o texto exprimindo uma opinião sobre as manifestações ocorridas
no Chile. Em seguida, ele começa a jus�ficar o porquê da opinião dele por meio de argumentos
que endossam sua perspec�va. Assim que apresenta seus argumentos, também cita dados e infor-
mações oficiais que reforçam o que acabou de afirmar, demonstrando que sua argumentação não
está baseada apenas em suas convicções, mas em fatos empíricos que podem ser comprovados.
Inclusive, por essa razão, ele se u�liza de números, os quais são menos ques�onáveis do que opi-
niões sem fundamento.
Além de ar�gos nos quais determinada pessoa defende um ponto de vista, a área acadêmica
também se u�liza muito dos textos exorta�vos ou argumenta�vos, porque o pesquisador, profes-
sor ou estudante que elabora um texto acadêmico precisa defender seu ponto de vista diante de
determinado assunto.
Sem dúvida que em uma tese de doutorado a defesa de um ponto de vista é mais ampla do
que em um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), já que a tese é justamente o ponto de vista do
futuro doutor sobre uma problemá�ca, uma teoria, uma pesquisa aplicada na qual ele coletou
dados e está defendendo seus estudos. Veja como exemplo este trecho do meu livro, em que trato
de inovação na área de comunicação no Brasil, cujo conteúdo foi elaborado com base nas minhas
pesquisas realizadas no doutorado:

AS EMPRESAS BRASILEIRAS TÊM BUSCADO INOVAR, MAS AINDA ESTÃO MUITO DISTAN-
TES DAS PRINCIPAIS CORPORAÇÕES DE MÍDIA DO PLANETA. A DIFERENÇA NÃO RESIDE
APENAS EM FATURAMENTO, ATÉ PORQUE AS ORGANIZAÇÕES GLOBO FIGURAM ENTRE AS
MAIORES DO MUNDO, MAS NO QUE OS VEÍCULOS DE MÍDIA BRASILEIROS ESTÃO FAZEN-
DO PARA INOVAR E AUMENTAR A COMPETITIVIDADE. NENHUMA EMPRESA BRASILEIRA
DE MÍDIA DESENVOLVEU UMA INOVAÇÃO RADICAL OU DISRUPTIVA NA HISTÓRIA. ATÉ
ESSE PONTO SERIA DE SE ESPERAR, JÁ QUE ESSES TIPOS DE INOVAÇÃO SÃO RAROS E
NENHUMA EMPRESA SE SUSTENTA APENAS DELAS. UM PONTO COMPLICADOR É QUE
ALÉM DE NÃO DESENVOLVER INOVAÇÕES ASSIM, OS VEÍCULOS NÃO ESTÃO SE DIRIGINDO

Continua >
66
Continuação >

PARA ESSE FIM. O DESENVOLVIMENTO DE PROPOSTAS INOVADORAS TEM SIDO REATIVO,


EM CONFORMIDADE COM O QUE VEM SENDO FEITO NO MERCADO INTERNACIONAL E A
PARTIR DE TECNOLOGIAS CRIADAS FORA DO PAÍS. QUANDO DESTOAM DO CENÁRIO EX-
TERNO, ACRESCENTAM POUCO ÀS PROPOSTAS DE VALOR DAS EMPRESAS, QUE TENTAM

UNIDADE 04
SOBREVIVER EM MEIO A UM MERCADO ALTAMENTE VOLÁTIL EM CONSTANTE MUDANÇA.
(ARAUJO, 2018)

Observe que a estrutura do texto é semelhante ao ar�go de opinião que relatei há pouco, em
que o autor defende um determinado ponto de vista logo no começo, argumenta em seguida por

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que pensa daquela forma e, logo depois, mostra com dados ou fatos empíricos como sua opinião
está muito bem fundamentada – logo, merece ser considerada.

FIGURA 4 – NA TESE DE DOUTORADO, O AUTOR DEFENDE UMA PESQUISA TEÓRICA E/OU PRÁTICA QUE REALIZOU.

Fonte: Shu�erstock (2020).

Koch e Elias (2014, p. 73) ressalvam que os gêneros e �pos textuais são bastante flexíveis e não
estão isolados em um texto:

CADA GÊNERO VAI ELEGER UMA OU, O QUE MAIS COMUM, ALGUMAS DESSAS
SEQUÊNCIAS OU TIPO DE GÊNERO PARA A SUA CONSTITUIÇÃO. ASSIM, POR EXEM-
PLO, EM UM CONTO OU ROMANCE, VAMOS ENCONTRAR, A PAR DAS SEQUÊNCIAS
NARRATIVAS, RESPONSÁVEIS PELA AÇÃO PROPRIAMENTE DITA (ENREDO, TRAMA),
SEQUÊNCIAS DESCRITIVAS (DESCRIÇÕES DE SITUAÇÕES, AMBIENTES, PERSONA-
GENS) E EXPOSITIVAS (INTROMISSÕES DO NARRADOR); PEÇAS JURÍDICAS COMO A
PETIÇÃO INICIAL OU A CONTESTAÇÃO VÃO CONTER, NORMALMENTE, SEQUÊNCIAS

Continua >
67
Continuação >

NARRATIVAS, DESCRITIVAS, EXPOSITIVAS E ARGUMENTATIVAS; NUM MANUAL DE


INSTRUÇÕES ENCONTRAR-SE-ÃO, PELO MENOS, SEQUÊNCIAS INJUNTIVAS E DES-
CRITIVAS, E ASSIM POR DIANTE.

UNIDADE 04
Constatamos, assim, que as normas teóricas de classificação e separação entre os gêneros são
uma forma de estudá-los para compreendermos melhor o assunto, mas isso não significa que são
formas estanques. Essas regras devem ser consideradas com a percepção de que a linguagem é
sempre dinâmica e mutável e, portanto, precisamos vislumbrar essa variabilidade para a enten-
dermos em plenitude.

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2. NORMA LINGUÍSTICA E ARGUMENTAÇÃO
Fiorin e Savioli (2006) salientam que a linguagem formal, essa que usamos em nosso co�diano
para escrever um texto ou até mesmo para nos comunicarmos oralmente com pessoas de posição
social mais elevada, exige que o autor respeite padrões de normas cultas da Língua Portuguesa.
Sendo assim, é salutar que o autor tenha um conhecimento mínimo das regras elementares da
língua culta para não incorrer em erros graves. Não é sempre possível corrigir tudo, mas o essen-
cial precisa ser levado em consideração: “obviamente, não é possível descrever corretamente cada
um dos desvios da norma culta que podem ocorrer num texto. Mas é possível, e também ú�l, ela-
borar uma classificação que descreve, em linhas gerais, os �pos mais comuns de erros come�dos
na prá�ca da escrita” (FIORIN; SAVIOLI, 2006, p. 231).
Nesse aspecto reside este item da nossa Unidade 4: aprender a detectar elementos comuns ao pro-
duzir um texto que podem levar a erros. Vamos começar tratando dos significados das palavras. Tecni-
camente, o nome para isso é semântica. Esse conteúdo é essencial porque “o significado das palavras é
um dos fatores essenciais para o domínio da língua, pois só assim o falante ou o escritor será capaz de
selecionar a palavra adequada para elaborar sua mensagem” (PASCHOALIN, 1996, p. 347).
» Sinonímia
Segundo Paschoalin (1996), sinonímia é o fato de duas ou mais palavras possuírem significados
iguais ou semelhantes. São chamadas de palavras sinônimas.

EXEMPLOS:
A casa está cheia de pessoas.
A casa está repleta de pessoas.
» Antonímia
É o oposto da sinonímia. Se nesta as palavras têm significado igual, na antonímia elas têm signi-
ficado diferente. São as palavras antônimas.

68
EXEMPLOS:
A geladeira está bastante quente.
A geladeira está bastante fria.
» Homonímia

UNIDADE 04
Quando duas ou mais palavras têm significados diferentes, mas são iguais no som e/ou na for-
ma de escrever, elas são chamadas de homônimas.

EXEMPLOS:
Eu acordei cedo hoje (cedo como advérbio do verbo acordar).
Eu cedo meu lugar no ônibus sempre que necessário (cedo do verbo ceder).

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» Homógrafos
São palavras homônimas que possuem a mesma grafia, mas têm sons diferentes.

EXEMPLOS:
O começo da história agradou aos telespectadores (começo pronunciado com som fechado na sílaba me).
Eu começo a entender essa matéria (começo pronunciado com som aberto na sílaba me) (PAS-
CHOALIN, 1996, p. 348).
» Homófonos
Também são palavras homônimas, mas a semelhança está no som, não na grafia.

EXEMPLOS:
O acento de saída é na letra “i”.
O assento do ônibus está sempre cheio.
» Homônimos perfeitos
São palavras iguais tanto no som quanto na forma de escrever. Apenas por meio do significado
podemos saber a diferença entre elas, o qual será trazido pelo contexto da frase.

EXEMPLOS:
A manga da camisa está suja (manga como parte do vestuário).
A manga está verde no pé (manga como fruta).
Ele está são após dias no hospital (são no sen�do de saudável).
Eles são sempre alegres (são do verbo ser).

FIGURA 5 – MANGA PODE SER FRUTA E TAMBÉM PEÇA DO


VESTUÁRIO; É O CONTEXTO QUE DETERMINARÁ O SIGNIFICADO.
Fontes: Shu�erstock (2020).

69
» Paronímia
São palavras que têm um som muito parecido, mas são diferentes no significado e na grafia. São
chamadas de palavras parônimas.

EXEMPLOS:

UNIDADE 04
Ele emigrou para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor (mudou-se para outro lugar).
Meu amigo imigrou para o Brasil depois que sua cidade foi devastada pela guerra (entrou em
um país diferente para sobreviver).
» Polissemia
Segundo Paschoalin (1996, p. 350), polissemia “é o fato de uma mesma palavra poder apresen-

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tar significados diferentes que se explicam dentro de um contexto”.

EXEMPLOS:
Eu estava com a mão machucada após mexer com água quente (mão como parte do corpo).
A rua em que moro é de mão dupla (mão como o sen�do para veículo transitar).
Nenhuma pessoa deve abrir mão de seus direitos (mão com o significado de deixar de lado ou
desis�r de algo).

2.1 FIGURAS DE LINGUAGEM


Dando prosseguimento ao nosso estudo no campo da semân�ca, vamos tratar agora sobre figu-
ras de linguagem: “quando se u�liza de maneira não convencional a linguagem, explorando-se os
aspectos conota�vos das palavras e novas maneiras de construir as frases, estão sendo criadas as
figuras de linguagem, também chamadas de figuras de es�lo” (PASCHOALIN, 1996, p. 354).
Isso significa que as figuras de linguagem são muito comuns sobretudo na linguagem oral, que
usamos no dia a dia para nos comunicarmos, já que a linguagem figurada é uma forma de dar ênfa-
se ao que está sendo dito. No entanto, elas não são exclusivas da oralidade, pois também ocorrem
na linguagem escrita, dependendo muito das circunstâncias.
Não farei aqui uma listagem completa das figuras de linguagem, porque elas são muitas e não é
preciso conhecer em profundidade cada uma delas. Prefiro elencar as mais comuns para que você
possa iden�ficá-las no seu co�diano e, assim, melhorar sua comunicação.
Em trabalhos acadêmicos, por exemplo, a regra geral é evitar o máximo possível as figuras de
es�lo. No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em um ar�go cien�fico, em uma monografia, ou
quando você es�ver mais avançado e fizer uma dissertação de mestrado, as figuras de linguagem,
exceto em casos específicos, não deverão ser u�lizadas. Todavia, é possível usá-las em uma crôni-
ca, em uma narração ou em um texto mais autoral, como um ar�go de opinião, caso o professor
peça esse �po de tarefa. Cursos da área de humanidades geralmente pedem textos assim, então
as figuras de linguagem podem fazer parte dos seus textos escritos.

70
FIGURA 6 – AS FIGURAS DE LINGUAGEM SÃO USADAS SOBRETUDO NA LINGUAGEM ORAL.

UNIDADE 04
Fonte: Shu�erstock (2020).

Vejamos alguns dos exemplos de figuras de es�lo mais comuns e que são mais relevantes para

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nosso estudo.
» Metáfora
De acordo com Paschoalin (1996, p. 355), metáfora é “o emprego de um termo com significado
de outro em vista de uma relação de semelhança entre ambos. É uma comparação subentendida”.
É uma das figuras de linguagem mais comuns do dia a dia, recorrente na maneira como falamos,
já que queremos geralmente enfa�zar nossas palavras para conferir mais relevância a elas.

EXEMPLOS:
A prova de hoje foi o bicho (muito complexa; di�cil; estranha).
Ele carrega o mundo nas costas (muitos problemas; todos os problemas que existem estão
sobre ele).
» Prosopopeia
Muito parecida com a metáfora, a prosopopeia ocorre quando se atribui caracterís�cas hu-
manas a outros seres. Essa figura de linguagem também pode ser chamada de personificação ou
animismo.

EXEMPLOS:
Com a passagem da nuvem, a lua se tranquiliza.
Essa cidade tem ruas falantes.
» Catacrese
Apesar do nome um pouco estranho, essa figura de es�lo é bastante usada no dia a dia, inclu-
sive na linguagem escrita. Assim como a prosopopeia, a catacrese se assemelha à metáfora. A di-
ferença está no fato de que a catacrese “é o emprego figurado por falta de um termo próprio para
designar determinadas coisas. Trata-se de uma metáfora necessária, que, desgastada pelo uso, já
não representa recurso expressivo da língua” (PASCHOALIN, 1996, p. 356).

EXEMPLOS:
A orelha do livro está suja.

71
A asa da xícara foi quebrada pelo gato.
» Metonímia
Também muito comum no co�diano, a metonímia ocorre quando subs�tuímos determinada
palavra por outra, sendo que há uma relação lógica entre ambas. Pode ser usada, por exemplo,

UNIDADE 04
para subs�tuir:
• O autor pela obra

EXEMPLO:
Ouço Legião Urbana todos os dias (a música da banda Legião Urbana).
• O con�nente (o que contém) pelo conteúdo (o que está con�do)

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EXEMPLO:
Ele estava com tanta fome que comeu todo o prato de carne (con�nente: todo o prato; conte-
údo: a carne).
• A parte pelo todo

EXEMPLO:
Toda família precisa de um teto para viver (teto = casa).
• O efeito pela causa

EXEMPLO:
Com muito suor o operário construiu sua casa (suor = trabalho).
As empresas despejam a morte nos rios (morte = poluição).
» Eufemismo
Conforme Paschoalin (1996, p. 358), o eufemismo é “figura que consiste no abrandamento de
uma expressão de sen�do desagradável”. Geralmente é empregado na linguagem escrita quando
o autor precisa ser mais su�l nas palavras e menos incisivo, ou quando não quer se comprometer
com algo de que não tem absoluta certeza. Na imprensa também há diversos exemplos de eufe-
mismo para evitar dissabores, como problemas com a jus�ça.

EXEMPLOS:
O prefeito apropriou-se de dinheiro público (apropriar-se = roubar).
O médica foi convidada a retirar-se da festa (convidar a se retirar = expulsar).
» Hipérbole
Uma das figuras de linguagem mais usadas co�dianamente, a hipérbole consiste no exagero de
uma expressão para tornar mais expressiva a ideia.

EXEMPLOS:
Eu morro de medo de ser assaltado à noite.

72
Ele comeu feito um condenado.
» Ironia
A ironia também é empregada largamente em nosso dia a dia. Consiste, basicamente, em al-
guém dizer o contrário do que realmente queria dizer, para ridicularizar a situação e enfa�zar suas

UNIDADE 04
palavras.

EXEMPLOS:
Quem foi o inteligente que preencheu o formulário com tantos erros?
Que bonito o prefeito roubar todo o dinheiro do povo!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nem parece, mas chegamos ao fim da nossa empreitada. Fico ao mesmo tempo feliz e triste.
Feliz porque terminamos bem nossa disciplina; estudamos muitas coisas interessantes, fizemos
exercícios, aprendemos conteúdos novos. Mas triste por ter de me despedir.
Tenho grande esperança de que esta disciplina tenha sido tão bacana para você como foi para
mim. Embora eu seja professor há anos, toda turma, toda aula, todo conteúdo é um momento de
aprendizado para mim. Aliás, uma das coisas mais legais de ser professor é justamente essa possi-
bilidade de aprender com você, aluno, no meu dia a dia.
Dizem que o ensino a distância é “frio”, mas eu penso que não. Você já me viu nas videoaulas e já
pôde me conhecer. Eu não �ve essa mesma oportunidade, mas tenho certeza de que ficarei na sua
memória. E isso é o mais importante. Eu tenho na memória muitos professores que passaram pela
minha vida e um grande carinho e afeto por eles, porque me ensinaram mais do que somente palavras
diferentes. Espero que eu também tenha sido relevante para você, neste momento e na sua vida.
Forte abraço!
Prof. Lucas V. de Araujo

ANOTAÇÕES

73
REFERÊNCIAS

ARAUJO, Lucas Vieira de. Inovação em comunicação no Brasil. São Bernardo do Campo: Metodis-
ta, 2018.
ARAUJO, Lucas Vieira de. Inovação no jornalismo: um estudo de crowdfunding. Estudos em Jorna-
lismo e Mídia, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 103-114, jan./jul. 2016.
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Á�ca, 1998.
BRÉZILLON, Patrick. Context in Ar�ficial Intelligence: A survey of the literature. Computers and
Artificial Intelligence, v. 18, p. 321-340, 1999.

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CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Ed. Unesp, 1998.
CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.
DEFLEUR, Melvin; ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1993.
MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Justiça. Disponível em: h�p://michaelis.
uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=jus�%C3%A7a. Acesso em: 11 out. 2019.
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